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Diplomacia Bizantina e a Dinastia Comnena

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Aula 8 - A Diplomacia Bizantina e os Comnenos
Bizâncio do final dos Séculos XI ao XIII
Conforme estudamos, o século XI foi muito importante para a história bizantina, sobretudo, no que se relaciona a questões religiosas. O ano de 1054 celebra a ruptura definitiva entre as visões clericais ocidentais e as orientais. Depois de séculos de divergência, a Igreja Católica é dividida em duas: a Igreja Católica Romana e a Igreja Ortodoxa. Em termos de política externa, a situação não estava melhor. Velhos e novos opositores rondam as fronteiras bizantinas. Seus domínios na Península Itálica foram assediados pelos Normandos, ao mesmo tempo que os Turcos Seldjúcidas cercam suas possessões na Ásia Menor.
O anteriormente poderoso Império Bizantino não se encontrava em posição de defesa. Com o passar dos séculos, sua economia havia se deteriorado e o custo com a defesa aumentando significativamente. (Há muito eles empregavam os exércitos mercenários, o que gerava uma despesa altíssima.). Para completar o caos reinante, imperadores (um após o outro) eram investidos, sem que solucionassem satisfatoriamente as contendas internas e externas. O ápice dessa situação ocorreu no ano de 1081 quando os turcos seldjúcidas chegaram às portas de Constantinopla. Ao fundar a capital de seu reino em Niceia, eles estabeleceram o centro de seu poder a menos de 100Km da capital bizantina. Bem, essa não é uma distância muito segura.
Ao final do século XI, um breve momento de esperança se instaura. Assume o poder Aleixo I (1081-1118) que inaugura a Dinastia Comnena (tecnicamente ele foi o segundo imperador dessa família, mas, na prática, o que estabeleceu a continuidade deles no poder). Logo no inicio de seu governo, por habilidade e sorte, ele conteve os Normandos e os Seljúcidas. No caso dos primeiros, porque seu líder morrera, enfraquecendo o ímpeto dos comandados. No caso dos turcos, mais uma morte, a do sultão, resultou em disputas internas de poder, o que culminou em momentânea desarticulação militar. De qualquer forma, essa efêmera paz externa permitiu que ele voltasse suas preocupações para os problemas econômicos do Império e ainda, para a manutenção de suas fronteiras. Constatando a fraqueza de seus limites, Aleixo I enviou uma comitiva para o Concílio de Piacenza, em 1095.
Cruzadas é um nome bastante conhecido. Observe que virou mesmo adjetivo, pois quando temos que cumprir uma missão muito difícil, dizemos que temos que fazer uma “cruzada”. A mídia fala em uma “cruzada” contra a corrupção. Precisamos de uma aula de história para entender (começo lembrando-me de uma história contada por Tom Holland em seu livro, Fogo Persa. Diz o autor que um amigo seu fora convidado para ser reitor de uma universidade americana buscando, em especial, modernizá-la. O novo reitor quis inovar, manter a tradição, mas buscar um novo tema. Algo que instigasse, que provocasse uma pesquisa maior. Foram a conselho, várias ideias surgiram e então ele apresentou a sua: Cruzadas – Movimento do século XI – XII que pôs em sangrento diálogo o mundo islâmico e o cristão. Seus colegas refutaram, afirmaram que não tinha cabimento aquilo, estudar uma coisa tão velha, tão sem sentido como as cruzadas. Que não havia sentido discutir, às portas do século XXI, um passado morto e enterrado como aquele.
Infelizmente a Historia mostra que seus elementos, suas disputas não são tão facilmente esquecidas. Na manhã de 11 de setembro de 2001, 2996 pessoas foram mortas quando as Torres Gêmeas, um dos grandes símbolos do poder do capitalismo americano, foram atingidas por aviões tripulados por membros do grupo extremista islâmico, Al Qaeda. Seu líder, Osama Bin Laden, em um dos seus primeiros pronunciamentos, diz que está devolvendo os ataques ocidentais que há mil anos assolam o Islão. Um dos principais líderes ocidentais, o então presidente americano George W. Bush, em suas ações para mediar e preparar o contragolpe dos EUA, foi a uma importante mesquita, e lá proferiu o discurso em que afirmava que o Islã não era o culpado pelos ataques, mas que naquele momento a América fazia “Uma Cruzada contra os Terroristas”. Alguém que conhece um pouco de história certamente evitaria utilizar uma analogia como essa. 
As Cruzadas foram um movimento dos mais interessantes, pois mesmo tanto tempo depois ainda notamos a presença de duas linhas historiográficas. A primeira, que busca abordar a ação europeia (ação que foi nomeada de Cruzada); e uma linha islâmica, que trata da agressão europeia executada naquele momento. Nosso desafio nessas aulas é fazer o trabalho do historiador, notando que temos discursos diferentes em meio a organização sobre o que é um dos mais longos conflitos entre o mundo islâmico e a Europa Cristã. Sendo assim, vamos apresentar duas visões sobre o momento que vai da Primeira Cruzada, organizada em 1095, até o deflagrar da Terceira Cruzada. Para não nos perdemos, contaremos duas vezes a mesma história e, ao final, dialogaremos sobre as duas visões tão díspares.
Vamos ler agora o discurso de Urbano II no Concílio de Clermont. Sua fala é considerada pela historiografia tradicional o marco inicial das cruzadas: “Meus queridos irmãos, ungido pela necessidade, eu, Urbano, com a permissão de Deus, o bispo chefe e prelado de todo o mundo, vim até esse lugar na qualidade de embaixador, trazendo uma mensagem divina a todos os servos de Deus. (...) Posto que vossos irmãos que vivem no Oriente requerem urgentemente as vossas ajudas, e vós deveis esmerar para prestar-lhes a assistência que a eles vem sendo prometida faz tanto tempo. Aí que, como sabeis todos, os Turcos e os árabes, os tens atacado e estão conquistando vastos territórios da terra de România (Império Bizantino), tanto no Oeste como na costa do Mediterrâneo e em Helesponto, que é chamado o braço de São Jorge. Estão ocupando cada vez mais e mais os territórios cristãos, e já venceram sete batalhas. Estão matando e capturando muitos, e destruindo as igrejas e devastando o império. Se vós, impuramente, permitireis que isso continue acontecendo, os fiéis de Deus seguirão sendo atacados, cada vez com mais dureza. Em vista disso, eu, e não bastante, Deus, os designa como herdeiros de Cristo para anunciar em todas as partes e para convencer as pessoas de todas as gamas, os infantes e cavaleiros, para socorrer prontamente aqueles cristãos e destruir a essa raça vil que ocupa as terras dos nossos irmãos. Digo isto para os presentes, mas também se aplica a aqueles ausentes. Mais ainda, Cristo mesmo os ordena. Todos aqueles que morrerem pelo caminho, seja por mar ou por terra, em batalha contra os pagãos, serão absolvidos de todos os seus pecados. Isso lhe é garantido por meio do poder com que Deus me investiu. Oh terrível desgraça se uma raça tão cruel e baixa, que adora demônios, conquistar a um povo que possui a fé de Deus onipotente e tem sido glorificado em nome de Cristo! Com quantas reprovações nos oprimiria o Senhor se não ajudarmos a aqueles, que como nós, professam a fé de Cristo! Façamos que aqueles que estão promovendo a guerra entre fieis marchem agora a combater contra os infiéis e conclua em vitória uma guerra que deveria ter se iniciado há muito tempo. Que aqueles que por muito tempo tem sido foragidos, que agora sejam cavaleiros. Que aqueles que estão pelejando com seus irmãos e parentes, que agora lutem de maneira apropriada contra os bárbaros. Que aqueles que estão servindo de mercenários por pequena quantia, ganhem agora a recompensa eternar. Que aqueles que hoje se malograram em corpo tanto como em alma, se dispunha a lutar por uma honra em dobro. Vejam! Neste lado estarão os que lamentam e os pobres, e neste outro, os ricos; neste lado, os inimigos do Senhor, e em outro, seus amigos. Que aqueles que decidam ir não adiem e viajem senão que produzam em suas terras e reúnam dinheiro para os gastos; e que, uma vez concluído o inverno e chegada à primavera, se ponham em marcha com Deus como guia.”.
O discurso inegavelmente é forte, mas precisamos refletir um pouco.Em primeiro lugar, foi um discurso escrito a posteriori, ou seja, não é o registro do que se passou de fato em reunião conciliar. Foi resultado de uma discussão, em um momento que busca exaltar as palavras do clérigo como aquele que insuflou e guiou os Cristãos às Cruzadas. Será que podemos imaginar isso sem um mínimo de cuidado? Urbano II vivia um momento de tentativa de consolidação do papado. As tensões entre a Igreja e os principais poderes europeus eram uma constante. As disputas de poder em todo o mundo Cristão ocidental também eram intensas, fossem pelo estabelecimento recente dos Normandos, pelas disputas dos Capetíngios na construção do Reino de Francia, ou ainda, pela imposição, muitas vezes questionada, do Sacro-Império Romano Germânico. O discurso de Urbano tem elementos ricos a serem observados: perdão de dívidas e pecados, a ascensão política dos turcos como uma ameaça; o pedido de socorro de Bizâncio; crise das peregrinações. Enfim, um quadro que oferece uma nova possibilidade de enriquecimento, afinal, é uma terra que brota leite e mel, mesmo sendo um deserto.
As Primeiras Frentes Europeias
Se dirigiram ao Oriente não eram nada organizadas; foram grupos de peregrinos, fanáticos e mendigos, que causaram horror por onde passavam, atacando judeus e bizantinos, considerando ambos, em muitos momentos, como traidores da fé cristã. 
A Ação Política de Urbano II
A grande questão que se dá, não aparece bem descrita na documentação. Fruto de um acordo escuso que previa terras nas conquistas e recompensas em dinheiro, ele envia grupos de normandos recém-convertidos ao cristianismo com força de ataque para as cruzadas.
Possibilidade de Recuperar Antigos Territórios
Com a chegada desse grupo, Alexis Conmeno, imperador bizantino, vê a possibilidade de recuperar antigos territórios que estavam perdidos para os turcos Seldjúcidas. É firmado então um acordo entre o Boemondo, primeiro líder cruzado e os bizantinos. Territorios na atual Turquia seriam bizantinos e o restante das conquistas divididas.
Muitas Batalhas Sangrentas Foram Vencidas
Com apoio bizantino e os contingentes normandos, as primeiras vitorias não tardam a acontecer. Em pouco tempo, todo o sultanato de Kalij Arslan, príncipe turco, havia sido vencido. Muitas batalhas sangrentas foram vencidas e a ótima dos cruzados era não perdoar os infiéis (o discurso religioso está presente). Com isso, judeus e mulçumanos eram algo de constantes massacres.
As notícias sobre as conquistas no Oriente e o enriquecimento com as novas terras chegaram rapidamente à Europa e neste momento é iniciado um intenso movimento em direção a essa região, constituindo-se dessa forma, a Primeira Cruzada. Em menos de quatro anos do seu início os cruzados já haviam vencido em algumas das cidades mais importantes de oriente mediterrânico e, principalmente, haviam conquistado o grande símbolo da batalha, a cidade sagrada de Jerusalém. Dessa forma, o que seria o objetivo primordial das Cruzadas, ou seja, retomar a Terra Santa do domínio infiel, estava bem-sucedido. A vitória na Terra Santa foi o ponto alto das cruzadas. Fragilizados e enfraquecidos, os reinos islâmicos viram surgir no Oriente uma série de novos reinos cristãos, que reproduziam o modelo europeu, com juramentos de fidelidade, de características militares e com distribuição de terras. A Igreja, para dar garantias à organização cristã no Oriente, cria, neste momento, uma de suas mais famosas ordens: Os Templários. 
Precisamos entender neste ponto um traço fundamental: ninguém conquista um território para destruí-lo (existem raras exceções na História). Com as Cruzadas não foi diferente. Encerrado o primeiro ímpeto, os europeus e mulçumanos buscaram uma coexistência pacífica no Oriente, ainda que as disputas e animosidades não cessassem. Temos, por exemplo, as cidades de Alepo e Damasco, onde existiam negociações comerciais entre os dois lados. Esse fato é, aliás, bem retratado no filme A Cruzada. Na primeira metade do século XI, João II (1118-1143), assume o poder no lugar de seu pai. Em virtude de abusos cometidos, o imperador não renova um acordo comercial que existia com os venezianos (Os cruzados saiam, em geral, do porto de Veneza). A atitude de João gerou retaliação dos mercadores venezianos, o que fez com que ele voltasse atrás. Mas, por que estamos citando esse pormenor? Porque veremos que em alguns momentos os reais interesses de muitos participantes das Cruzadas se evidenciam. Por vezes, cristãos, atacaram cristãos quando seus interesses econômicos estavam em jogo.
Os cruzados acabam perdendo o apoio dos bizantinos, em especial depois do ataque do cavaleiro cristão, Renaud de Chatillôn, à Ilha de Chipre. Vale destacar que não é o primeiro alvo cristão dos cruzados que antes haviam tomado a cidade Armênia de Edessa, região cristã. Em suma, os bizantinos se ressentiriam do chamado “fogo amigo” – ataque de cristãos a cristãos. Inicia-se, partindo do Oriente, uma série de movimentos de resistência. Zinki Atabeg (líder militar) toma a cidade Edessa e é convocada uma nova cruzada, que é vitoriosa em seu primeiro empreendimento, mas acaba por desequilibrar as forças no Oriente, uma vez que rompe acordos que vinham garantindo paz. Viram então uma nova liderança militar surgir, Saladino. Ele consegue reunir grupos antagônicos do mundo islâmico como Fatímidas e Seldjúcidas. Sobre sua liderança, o Cairo e Trípoli são reconquistadas e também assume a liderança das cidades de Alepo e Damasco. 
Os cristãos tentam uma reação, mas não são frente para as tropas de Saladino. Perdem Jerusalém em 1187 e, neste momento, parecia que os reinos cristãos estavam inteiramente condenados no Oriente. O discurso cruzadista, no entendo, ainda era forte e, desta vez, os principais reais da Europa tomam a frente na chamada Cruzadas dos Reis. Liderados por Ricardo Coração de Leão, rei Inglês, conseguem vencer as adversidades, como a morte de Frederico Barba Ruiva, imperador do Sacro-Império e a resistência de Felipe Augusto da França, e conseguem novas conquistas cristãs. O maior prêmio, porém, permanece nas mãos do Islão – Jerusalém não é retomada.
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