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Fundamentos de Filosofia Aula 5

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Prévia do material em texto

CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 
 
 
1 
 
 
 
 
 
Fundamentos de Filosofia 
 
Aula 5 
Prof. Rui Valese 
 
 
 
 
CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 
 
 
2 
CONVERSA INICIAL 
Olá! Sejam bem-vindos a mais uma rota de aprendizagem de 
Fundamentos de Filosofia. 
Nesta aula, nosso principal objetivo é compreender algumas das 
principais correntes filosóficas do século XIX e XX e suas relações com o 
campo da Sociologia. São perspectivas teóricas de investigação da realidade 
e, algumas delas, traduzir-se-ão em tentativas de modificação política, 
econômica, educacional, cultural do real a partir de seus fundamentos. 
As três primeiras correntes de pensamento surgiram no século XIX, 
sendo que a terceira, o Pragmatismo, surge na virada para o século XX. O 
Positivismo surge a partir da ideia de que é possível aplicar os mesmos 
princípios de investigação dos fenômenos físico-químicos e biológicos no 
campo das humanidades. Já o Estruturalismo e o Existencialismo, ainda que 
tenham raízes também no século XIX, consolidar-se-ão mesmo no século XX. 
No século XIX, com a segunda fase da Revolução Industrial, o 
Capitalismo torna-se neocolonialista e imperialista. As potências econômicas 
europeias lançam-se em uma nova fase de exploração de outras áreas do 
globo terrestre, em busca de matérias primas para suas indústrias e de novos 
mercados consumidores de seus produtos manufaturados. 
Como decorrência dessa nova etapa, as potências econômicas, na 
disputa por áreas de influências, estabelecerão acordos políticos e 
econômicos, como, por exemplo, o realizado na Conferência de Berlim, sobre 
a partilha do continente africano. Uma das causas da Primeira Grande Guerra, 
inclusive, pode ter suas causas encontradas nesses conflitos geopolíticos, 
assim como os problemas de formação de territórios no próprio continente 
europeu. 
 
 
 
CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 
 
 
3 
Já o século XX, do ponto de vista político e econômico, será marcado 
pelas revoluções (Soviética, Chinesa e Cubana, por exemplo), pelos conflitos 
militares de larga escala (Primeira e Segunda Grande Guerra), pela Guerra 
Fria (URSS versus EUA) e pelas guerras de descolonização nos continentes 
africano e asiático, principalmente. Da mesma forma, pela eminente ameaça 
de uma guerra nuclear. Assim, o que intentaremos é compreender essas 
perspectivas teóricas a partir do real. Pois, como afirma Hegel: o real é 
racional e o racional é real. 
E o voo da coruja se faz ao entardecer. Isto é, como filha de seu tempo, 
a Filosofia está ligada umbilicalmente ao seu tempo. 
Vamos à videoaula na qual o professor Rui irá explicar os assuntos que 
discutiremos nesta aula! Acesse o material on-line! 
 
 
 
 
CONTEXTUALIZANDO 
Enquanto para Marx ideologia é um conjunto de ideias das quais a 
classe dominante lança mão para manter as classes dominadas nessa 
condição, para Gramsci, ela é uma “visão de mundo” que orienta os indivíduos 
no mundo prático. Entenda melhor essas duas ideias assistindo à videoaula 
que está disponível no material on-line! 
 
 
 
 
 
 
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4 
Positivismo 
A Revolução Industrial, tanto em sua primeira fase quanto na segunda, 
faz parte de um contexto de profundas transformações iniciadas ainda no seio 
da Idade Média, continuando no Renascimento e no Iluminismo. Tais 
acontecimentos têm como base a ideia de valorização do ser humano 
enquanto sujeito e sua capacidade racional. 
Se até o século XVII muito do trabalho humano ainda dependia da 
energia produzida a partir de elementos da própria natureza (água, vento, 
força, animal força humana, por exemplo), a ideia de que o ser humano pode 
conhecer o funcionamento da natureza e, partir desse conhecimento, não 
somente dominá-la, mas promover sua autonomia em relação a ela, leva ao 
processo de aperfeiçoamento, por exemplo, das antigas manufaturas. 
Os conhecimentos e progressos técnicos serão valorizados, levando 
ao nascimento da mentalidade cientificista, que se caracteriza por uma 
supervalorização de tudo aquilo que é considerado científico. Por 
conseguinte, o método e o conhecimento científico passaram a ser 
considerados como os únicos realmente válidos. Esses deveriam ser 
estendidos a todas as esferas da vida humana. 
Na esteira dessa mentalidade, Augusto Comte (1798-1857) cria a 
doutrina positivista. Na obra Curso de filosofia positiva, se propõe percorrer, 
analisando, todo o desenvolvimento racional humano, dos primórdios até seu 
tempo, imaginando que seja possível, a partir de sua perspectiva de ordem e 
de progresso, estabelecer as diretrizes para o progresso científico. 
É nesse sentido que ele formula a teoria dos três estados: 
 Estado teológico 
 
 
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5 
Como o ser humano não consegue explicar os acontecimentos e 
fenômenos da natureza de maneira racional, busca explicações a partir do 
sobrenatural, atribuindo a divindades a causa de todos os acontecimentos. 
 Estado metafísico 
Rompendo com o estado teológico, surge o metafísico, que atribui a forças 
abstratas a causa (ou as causas) dos acontecimentos. Assim, enquanto no 
estado teológico a queda de qualquer coisa é atribuída à vontade de 
alguma divindade, para Aristóteles, por exemplo, a queda de um corpo 
qualquer está relacionada ao peso do mesmo, que faz parte de sua 
essência. Isto é, por fazer parte da essência desse corpo ser pesado que o 
mesmo tende a cair e não a flutuar. 
 Estado positivo 
Como decorrência do desenvolvimento científico moderno, que se 
caracteriza pela compreensão racional do funcionamento da natureza, os 
estados teológico e metafísico são superados. Enquanto no primeiro há 
dependência de uma divindade e, no segundo, depende-se da 
subjetividade de conceitos abstratos formulados pelos sujeitos, nesse 
terceiro estado, alcançam-se as leis universais e necessárias que explicam 
os acontecimentos. 
É no terceiro estado, segundo Comte, que se deixa o quimérico para 
se chegar ao real, que se troca a indecisão pela certeza, que se abandona o 
vago em nome do preciso, enfim, que passa da doxa e se chega à epistéme. 
Como afirma textualmente: “Todos os bons espíritos repetem, desde Bacon, 
que somente são reais os conhecimentos que repousam sobre fatos 
observados. Essa máxima fundamental é evidentemente incontestável, se for 
aplicada, como convém, ao estado viril de nossa inteligência”. 
Partindo do princípio de que a razão é capaz de conhecer as leis 
necessárias, invariáveis e universais que explicam todos os fenômenos e 
 
 
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6 
influenciado pela crítica kantiana à metafísica, o pensamento positivista afirma 
a impossibilidade da liberdade, uma vez que tudo se regeria por tais leis, 
inclusive a existência humana. 
Por ter dado o nome e o status de ciência, Comte considerava-se o 
criador da Sociologia, que a definiu como Física Social. Isso porque 
acreditava ser possível utilizar-se dos mesmos métodos das ciências físicas 
e biológicas para estudar as sociedades humanas. Nessa concepção, foi 
influenciado pelo médico alemão Franz Joseph Gall e sua teoria frenológica, 
segundo a qual a inteligência humana teria origem orgânica. Da mesma 
forma, segundo essa teoria, seria possível localizar as faculdades mentais em 
lugares específicos do cérebro. A inteligência e os sentimentos morais, por 
exemplo, estariam localizados na parte frontal e somente uma elite teria 
condiçõesde desenvolvê-las. Sendo assim, essa mesma elite é quem deveria 
moldar e comandar a maioria das pessoas, com vistas à harmonia e ordem 
social. Da mesma forma, pelo fato de o indivíduo estar submetido à 
consciência coletiva, poucas seriam as possibilidades de intervenção do 
mesmo nos fatos sociais. 
Decorrente desses fundamentos, duas ideias serão centrais no 
pensamento positivista: a ideia de ordem e de progresso. Segundo Comte: 
“Nenhum grande progresso pode efetivamente se realizar se não tende 
finalmente para a evidente consolidação da ordem”. Assim, o vir-a-ser da 
história, como a considerava por exemplo Hegel, é substituído pela ideia de a 
mesma ser uma evolução de estados embrionários pré-definidos. Nesse 
contexto, caberia à ciência garantir a marcha positiva – normal e regular – da 
sociedade industrial. 
Para saber mais: 
http://revistacult.uol.com.br/home/2011/01/auguste-comte/ 
Vamos à videoaula deste tema? Acesse o material on-line! 
 
 
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7 
Marxismo 
Para compreender os principais fundamentos do Marxismo, 
precisamos voltar um pouco no tempo e retomar alguns pontos, como o 
idealismo hegeliano. Ao afirmar que o real é racional e que o racional é real, 
Hegel afirmava, pela primeira vez na história do pensamento, a historicidade 
das coisas. Os acontecimentos históricos poderiam ser compreendidos a 
partir de sua historicidade. Rompe, dessa forma, com o dualismo que havia 
marcado o pensamento tradicional na separação entre consciência e mundo, 
sujeito e objeto. Realidade e razão se identificam e o ser humano seria a 
manifestação superior dessa razão. 
Hegel também afirma que a realidade, entendida como espírito (razão) 
é muito mais do que uma substância. É um sujeito que age. E nesse agir 
constante, manifesta sua identidade, que é movimento. A realidade é um devir 
constante. Porém, esse movimento não é linear, mas, dialético, isto é, fruto de 
contradições que vão enriquecendo o próprio movimento. 
A história é, assim, entendida como manifestação do espírito objetivo 
que, segundo Hegel, são as instituições e costumes historicamente 
produzidos pelos seres humanos. Ao mesmo tempo, é a manifestação da 
liberdade humana. Da mesma forma, os conflitos, as guerras, as dominações 
de um povo sobre o outro é que movem a história. Nada acontece por acaso 
ou aleatoriamente: fazem parte de um plano racional. 
Hegel influenciou fortemente o pensamento filosófico alemão do século 
XIX. Em torno de seu pensamento constituíram-se, basicamente, dois grupos: 
a esquerda e a direita neo-hegeliana. Marx e Feuerbach participavam da 
esquerda neo-hegeliana. Porém, contrariamente ao mestre, afirmavam que 
se devia partir dos seres reais, concretos. Assim, ao idealismo de Hegel, 
propunham um pensamento materialista. Isso porque, segundo Marx, Hegel 
havia invertido a compreensão das coisas. 
 
 
 
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A realidade material não é o resultado de representações e de 
conceitos, estes últimos é que são o resultado daquela. Para Marx, a filosofia 
idealista hegeliana seria uma farsa, uma mistificação do real. Na obra 
Ideologia alemã, escrita em parceria com Engels, Marx afirma o ponto de 
partida distinto do idealismo hegeliano: “As premissas de que partimos não 
constituem bases arbitrárias, nem dogmas; são antes bases reais de que só 
é possível abstrair no âmbito da imaginação. Nas nossas são os indivíduos 
reais, a sua ação as suas condições materiais de existência”. 
Assim, o ponto de partida do pensamento de Marx são os seres 
humanos em suas condições materiais de produção e reprodução de sua 
existência material e imaterial. Isto porque, segundo o materialismo histórico 
(pensamento desenvolvido por Marx e Engels) deve-se partir dos seres 
humanos não como entes abstratos, nem de forma isolada, mas, como seres 
concretos, determinados, vivendo também relações que são concretas e 
determinadas. 
Na obra Teses contra Feuerbach, tese VI, afirma textualmente: “A 
essência humana [...] é o conjunto das relações sociais”. A maneira como os 
indivíduos agem, se comportam, pensam e sentem depende das suas 
relações sociais, bem como da forma pela qual produzem e reproduzem sua 
existência. Sobre essas determinações, afirmam Marx e Engels: “A forma 
como os homens produzem esses meios depende, em primeiro lugar, da 
natureza, isto é, dos meios de existência já elaborados e que lhes é 
necessário reproduzir; mas não deveremos considerar esse modo de 
produção deste único ponto de vista, isto é, enquanto mera reprodução da 
existência física dos indivíduos. [...] O que são coincide, portanto, com a sua 
produção, isto é, tanto com aquilo que produzem como com a forma como 
produzem. Aquilo que os indivíduos são depende, portanto, das condições 
materiais da sua produção”. 
Deduz-se disso que os indivíduos produzem a si mesmos, a partir de 
suas condições materiais. Pois, como afirma no prefácio de Para a crítica da 
 
 
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economia política, “o modo de produção da vida material condiciona o 
processo geral de vida social, política e espiritual”. 
Marx também herda de Hegel, os princípios da dialética. Porém, não 
da forma como o mesmo havia proposto, isto é, de maneira idealística. 
Entendia ele que sua dialética era a antítese à dialética hegeliana. Isso porque 
diferia radicalmente do ponto de partida. Para Marx, a dialética seria o 
instrumento mais adequado para a compreensão da realidade, por que essa 
é constante movimento, fluxo contínuo. E, nesse sentido, não é definitiva, 
mas, pode ser transformada pelo agir humano. Não partindo das ideias, mas 
das contradições oriundas do próprio interior do modo de produção. 
Assim, diferentemente de Hegel, que imaginava uma razão ou espírito 
absoluto que guiaria os acontecimentos históricos, para Marx, são os seres 
humanos concretos que interferem no processo histórico, transformando a 
realidade social a partir do momento em que alteram o modo de produção 
característico de uma determinada sociedade. 
Para que se passe de um determinado modo de produção a outro, 
fazem-se necessários, pelo menos, a presença de dois fatores: a contradição 
entre as forças produtivas dessa determinada sociedade e as relações sociais 
de produção que lhe são características, bem como o aparecimento de uma 
classe social com caráter revolucionário. Isto é, que queira modificar tanto as 
relações sociais de produção quanto o próprio modo de produção. 
Assim, para que o sistema feudal de produção e as relações sociais 
entre senhores e servos fossem modificadas, além das contradições entre a 
produção e as relações sociais da produção, foi necessário o aparecimento 
da burguesia, classe social que surgiu ainda no sistema feudal e que, ao 
enriquecer (assumir o poder econômico), também quis participar do poder 
político e, por isso, realizou as revoluções burguesas. 
Segundo Marx, o capitalismo também gerou uma classe social que teria 
condições de realizar esse papel revolucionário: o proletariado. Porém, para 
 
 
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que a classe proletária cumprisse esse papel histórico, seria necessário que 
a mesma se organizasse e, no momento oportuno, fizesse a revolução rumo 
ao socialismo que, segundo Marx, seria o modo de produção que superaria 
as contradições do capitalismo. 
O vídeo a seguir delineia a diferença de análise quanto ao fim da 
escravidão entre o idealismo hegeliano e o materialismo histórico. 
https://www.youtube.com/watch?v=tTHp53Uv_8gVamos à videoaula deste tema? Acesse o material on-line! 
 
 
 
Pragmatismo 
O Pragmatismo é uma corrente filosófica que surgiu nos Estados 
Unidos, no final do século XIX, por influência do empirismo britânico de Locke, 
Hume e Stuart Mill. Trata-se de uma tentativa de rompimento com a metafísica 
tradicional, na medida que não acreditam na existência dos conceitos em si, 
muito menos na essência das coisas, a não ser mediadas pela experiência. 
Essa mediação da experiência, no entanto, não significa uma adesão 
completa ao empirismo. A experiência, aliás, para os pragmatistas é um 
critério de validação de verdades. 
O pensamento pragmatista inicia com uma crítica ao pensamento 
racionalista metafísico, segundo o qual se fazia necessário um elemento 
fundante de toda a estrutural filosófica. Analisando a história da filosofia, 
percebia-se que os filósofos constituíam seu pensamento se baseando em 
uma crença que precisava ser justificada por outra crença e assim por diante, 
até chegar numa que fosse a base de todas as anteriores. É assim, por 
 
 
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exemplo, com Platão que funda todo o seu edifício filosófico a partir da ideia 
de Bem; Descartes, com a ideia do cogito e assim por diante. 
A essa perspectiva, o Pragmatismo contrapõe a experiência. E o que é 
a experiência? Segundo Maria Lúcia Arruda Aranha, “um conjunto de relações 
que os seres humanos estabelecem entre si e com o entorno”. 
É, então, a partir da experiência (empeiria) que podemos fazer o “teste” 
de verdade ou não das coisas. Entendem os pragmatistas que a experiência 
é capaz de nos orientar em nossas ações futuras. Dessa forma, os conceitos 
não existem enquanto realidades abstratas, mas como instrumentos que nos 
orientam em nossas ações. Nesse sentido, “Uma ideia é verdadeira quando 
nos permite andar adiante e leva-nos de uma parte a outra de nossa 
experiência, ligando as coisas de modo satisfatório, operando com segurança, 
simplificando, economizando esforços”. 
Nesse sentido, a validade de uma verdade está condicionada aos 
resultados práticos que se pode obter com o uso prático da mesma. A ação 
passa a ser o critério de validação dos enunciados. Assim, uma proposição 
pode ser considerada verdadeira quando funciona. 
 
Charles Sanders Peirce 
Iniciador do Pragmatismo, propõe o conceito de falibilismo, usado 
mais tarde pelo neopostivista Popper. Segundo o falibilismo, não tem como 
estarmos absolutamente certos de nada. Segundo Peirce, como nossos 
pensamentos chegam a crenças derivadas de hábitos oriundos das nossas 
ações, nossas dúvidas são tranquilizadas. 
No entanto, resta-nos ainda saber se nossas crenças são ou não 
válidas, uma vez que, segundo Aranha, “Nem todas as nossas crenças nos 
levam a bons resultados, apenas aquelas que conduzem à ação de forma 
 
 
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eficaz” e essas são aquelas que foram produzidas pela ciência e que 
passaram pelo crivo da experiência. 
No entanto, para os pragmatistas, nenhuma verdade científica é eterna. 
Ela somente será válida até ser contestada por outra verdade – e assim 
sucessivamente. 
É o caso, por exemplo, da crença sobre a forma e o lugar do Planeta 
Terra. Até o final do século XV, tinha-se por verdade, que a Terra era uma 
superfície plana e que o sol girava ao seu redor. Com Copérnico e seu modelo 
heliocêntrico, aprendemos que a mesma Terra não só não era uma superfície 
plana, mas esférica, como era ela quem girava ao redor do Sol. Hoje sabemos 
que o Sol não é o centro do universo, mas, tão somente a estrela central da 
nossa galáxia. Da mesma forma, o universo é composto de bilhões de 
galáxias. 
 
William James 
James, apesar de empirista e pragmatista, ainda conserva em seu 
pensamento moral e religioso alguns aspectos metafísicos. Entende ele que 
o Pragmatismo nos ajuda e nos orienta adequadamente em nossas ações. 
Sua concepção de verdade é puramente instrumental, isto é, uma ideia é 
verdadeira se ela for útil para operar e agir. No campo da moral, esse 
utilitarismo é ainda mais forte: “bem” é aquilo que é útil e importante para a 
vida; “mal” é aquilo que não é útil nem importante para a vida. 
 
John Dewey 
Educador e filósofo seguidor de James. Dá continuidade ao 
instrumentalismo de James. As ideias são instrumentos para se resolver os 
problemas que encontramos em nossas ações, pois, estão ligadas à prática. 
 
 
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Por conseguinte, sua validade está condicionada à capacidade que temos de 
resolver problemas práticos. Assim, não existem ideias falsas ou verdadeiras 
em absoluto, pois as mesmas podem ser corrigidas, adaptadas ou 
aperfeiçoadas conforme a experiência. 
 
Richard Rorty 
Rorty não acredita na existência da verdade objetiva, muito menos 
acredita que a razão humana é capaz de conhecer a realidade das coisas de 
maneira objetiva e precisa. Também rejeita o fundacionismo da metafísica 
racionalista. Diverge também dos pragmatistas clássicos, na medida em que, 
em oposição à experiência, Rorty fala da linguagem, que seria a mediação 
entre os objetos. 
A partir desse raciocínio, não podemos falar de uma mesa em sentido 
abstrato, mas, de uma mesa de madeira, de cor amarelada, lisa ou áspera, 
grande ou pequena etc. 
A verdade é sempre provisória e é o resultado das trocas de crenças e 
versões realizadas em comunidade. Por meio do diálogo permanente, 
buscam-se novas crenças e novas descrições do mundo, que está em 
constante mudança. 
O pensamento filosófico pragmatista, no entanto, não se restringiu 
apenas aos Estados Unidos. Na Europa, o Pragmatismo também foi 
representativo na Itália e na Alemanha. Na Alemanha, Hans Vaihinger, 
defensor da filosofia do “como se”, acreditava que os conceitos, as teorias e 
os princípios serviam para padronizar a realidade. Na Itália, Giovanni Papini e 
Giuseppi Prezzolini exaltavam a vontade de crer. Já Mario Calderoni e 
Giovanni Vailati são seguidores mais próximos de Peirce. Vailati, por exemplo, 
propõe descartar todas as questões que são tidas por inúteis. Afirmava 
 
 
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textualmente: “Todo erro nos indica uma escolha a evitar, enquanto nem toda 
a verdade nos indica um caminho a seguir”. 
Para saber mais: 
https://www.youtube.com/watch?v=VpuX1kARsGQ 
Saiba mais sobre a teoria dos valores segundo Dewey assistindo à 
videoaula disponível no material on-line! 
 
 
 
Estruturalismo 
O Estruturalismo é uma corrente de pensamento que surgiu no século 
XX, a partir dos estudos linguísticos se Saussure. Os principais nomes do 
Estruturalismo são: Lévi-Strauss, Althusser, Foucault (que não aceitava essa 
classificação) e Lacan. 
O termo “estrutura” se presta a muitos usos: estruturas, lógicas, 
estruturas linguísticas, estruturas matemáticas, estrutura química, estrutura 
nuclear, estruturas econômicas e sociais etc. A partir de Piaget, podemos 
afirmar que uma estrutura é um sistema de transformações que se 
autorregulam. Segundo Reale, “estrutura é um conjunto de leis que definem 
(e instituem) um âmbito de objetos ou de entes […], estabelecendo relações 
entre eles e especificando seus comportamentos e/ou suas maneiras típicas 
de se desenvolverem”. 
Nessa definição, podemos destacar três conceitos centrais: leis, 
relações e determinação. A partir desses conceitos, podemos perceber que 
os entes estabelecem relações entre si a partir de determinadas leis 
existentes no meio social em que estão inseridos. Ao mesmo tempo,essas 
 
 
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leis estabelecem não somente como os entes devem se relacionar, mas, 
também, como os mesmos devem se comportar e/ou se desenvolver. 
Nesse sentido – e isso é algo característico do pensamento 
estruturalista – o indivíduo não é livre, mas, determinado. Falando contra 
outras perspectivas filosóficas como, por exemplo, o Existencialismo, o 
subjetivismo idealista e o humanismo personalista, o Estruturalismo afirma 
que o ser humano livre que todos eles acreditavam existir não passa de uma 
farsa. Esse ser humano simplesmente não existe. 
Mais do que um movimento (como os próprios pensadores assim 
classificados preferem dizer) a atitude estruturalista se trata de uma atitude 
filosófica. Os estruturalistas negam a pretensa liberdade humana, sua 
responsabilidade e poder de fazer a história, bem como a ideia de que existe 
um sentido na história. O sentido teleológico, por exemplo, de que a história 
caminharia rumo a um desfecho final em algum momento. Como afirma Reale, 
os estruturalistas têm como objetivo “destronar o sujeito […] e suas celebradas 
capacidades de liberdade, autodeterminação, autotranscendência e 
criatividade em favor de 'estruturas' profundas e inconscientes, onipresentes 
e onideterminantes”. 
Na esteira dessa crítica, apresentam seu objetivo: para tornar 
científicas as ciências humanas, segundo eles, era necessário fazer com que 
deixassem de ser “humanas”. 
Não existe propriamente uma doutrina estruturalista, como podemos 
falar, por exemplo, do Positivismo, do Marxismo, do Existencialismo. O 
Estruturalismo é mais como uma atitude, como seus principais pensadores 
afirmam. Atitude de polêmica com relação ao subjetivismo, ao humanismo, o 
historicismo e o empirismo. 
O Estruturalismo surgiu na França, na década de 1950. E a primeira 
polêmica que tem é com o Existencialismo, afirmando que este último não 
tinha nada de científico. O método de investigação, por assim dizer, retiram 
 
 
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do Estruturalismo linguístico de Saussure. Afirmam que diferentes 
perspectivas de conhecimento (Linguística, Etnolinguística, Marxismo, 
Psicanálise, Antropologia, Historiografia renovada etc.) afirmam não só a 
descontinuidade da história como também que o sujeito está submetido a 
diferentes estruturas que sobre determinam. 
Assim, continuar falando de um “sujeito” livre, responsável, criativo e 
construtor da história é ignorância, brincadeira ou engano. Vivemos em um 
mundo cada vez mais “administrado”, “organizado”. É o que podemos 
perceber, por exemplo, no processo de docilização dos corpos que, segundo 
Foucault, foi se dando a partir do surgimento de instituições tais como a 
escola, a fábrica, o exército etc. 
Segundo Foucault, até o século XVII, o soldado era escolhido dentre 
aqueles que possuíam uma constituição física própria para tal. Já a partir do 
século XVIII, o corpo humano passando a ser visto como uma máquina, essa 
pode ser “adestrada”, treinada para que desempenhe as funções militares, 
assim como, a partir da própria escola, era possível ir docilizando o corpo dos 
futuros operários, fazendo um controle total do tempo e do espaço usado 
pelas crianças nas escolas: horários determinados para a realização de cada 
uma das atividades escolares, uniforme, espaços determinados para alunos 
e demais integrantes do espaço escolar etc. 
Ao criticarem a sobrevalorização do sujeito, os estruturalistas realizam 
uma mudança ontológica radical de compreensão do sujeito. Segundo eles, o 
ponto de partida da reflexão filosófica não é o ser, o ente, mas a relação (ou 
as relações) do mesmo; não é o sujeito, mas as estruturas nas quais o mesmo 
está inserido. O ser, o ente, o sujeito não existe em si mesmo, mas nas 
relações que engendra. Segundo Reale, os sujeitos “'não existem' fora das 
relações que os instituem, os constituem e especificam seu comportamento”. 
Assim, poderíamos fazer uma aplicação prática disso que os 
estruturalistas afirmam. Não existe o operário, enquanto sujeito revolucionário 
 
 
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como o havia definido o Marxismo que, tomando consciência de sua condição, 
organizar-se-ia e levaria a cabo o sistema capitalista. O mesmo só existiria 
enquanto sujeito na relação econômica e política que estabelece com o 
patrão, ao vender-lhe sua força de trabalho por uma remuneração. 
Claude Lévi-Strauss foi o iniciador do Estruturalismo. Inicialmente, 
estudou Direito, mas abandonou o curso para estudar Filosofia. Porém, 
desencantado com o idealismo desse domínio, interessa-se pela 
Antropologia, após participar dos seminários de Marcel Mauss. Com esse, 
aprende a considerar que o “mundo primitivo”, na realidade não é irracional, 
mas tem uma racionalidade própria, pois os sujeitos dessas comunidades 
aprendem a conhecer a natureza com a qual se relacionam, conhecendo seus 
ciclos a partir de observações que realizam e acumulam, formando um 
conjunto de saberes que transmitem de uma geração a outra. 
Lévi-Strauss fez parte da missão francesa que veio lecionar em São 
Paulo com a criação da USP. Nessa oportunidade, realiza investigações com 
sociedades indígenas da Amazônia e do Mato Grosso. Em seus estudos de 
relações de parentesco, abandona a perspectiva de investigá-la numa 
determinada cultura, para a compreendê-la numa perspectiva de 
universalidade. 
Saiba mais sobre a vinda de Lévi-strauss ao Brasil: 
https://www.youtube.com/watch?v=i32Mf_eeYJg 
Segundo ele, existiria uma razão oculta que guiaria e estruturaria o 
aparente caos dos fenômenos humanos. O incesto, por exemplo, não seria 
proibido em diferentes culturas por questões morais ou mesmo biológicas. 
Sua proibição estaria relacionada à ideia de que o grupo social não deveria 
fechar-se em si mesmo, mas, fazendo com que as mulheres de um 
determinado clã, estirpe ou família case-se com um indivíduo de outro clã, 
estirpe ou família, seria possível, segundo Lévi-Strauss “substituir um sistema 
 
 
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de relações consanguíneas, de origem biológica, por um sistema sociológico 
de relações de parentesco”. 
Outra polêmica com a qual Lévi-Strauss se envolveu foi com o sentido 
da História. Segundo ele, a história não tem um sentido, uma finalidade, nem 
se desenvolveria de maneira contínua e progressiva. Pelo contrário: segundo 
Lévi-Strauss, existem sociedades frias, que não têm como perspectiva o 
desenvolvimento e a mudança em suas condições de vida e existem as 
sociedades quentes, constituídas pelas sociedades que se desenvolveram, 
progrediram e transformaram suas condições de vida. 
http://revistacult.uol.com.br/home/2010/03/novas-leituras-de-levi-strauss/ 
Michel Foucault é outro importante pensador estruturalista. Também 
rejeita a ideia de progresso e afirma a descontinuidade da História, afirmando 
que essa não tem um fim último. Na obra A História da loucura na época 
clássica, seu objetivo é demonstrar como as mentes “normais” e “racionais” 
estabeleceram e distinguiram, de modo pouco racional, o que é mentalmente 
“normal” do que é mentalmente “patológico”. 
Para saber mais: 
http://revistacult.uol.com.br/home/2010/03/foucault-um-pensador-politico/ 
Vamos à videoaula deste tema? Acesse o material on-line! 
 
 
 
Existencialismo 
O Existencialismo é quase sempre relacionado a apenas duas figuras: 
ao filósofo, teatrólogo, escritor e crítico francês Jean Paul-Sartre e à filósofa, 
escritora e política feminista Simone de Beauvoir. No entanto,podemos 
 
 
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afirmar que o Existencialismo é anterior a ambos. Assim, nosso objetivo neste 
tema é conhecer um pouco sobre seus fundamentos, bem como os principais 
nomes dessa corrente filosófica. 
Os princípios do Existencialismo podem ser encontrados no filósofo 
dinamarquês Soren Kierkegaard. Ele defendia que o ser humano é um ser 
singular, único. Ao mesmo tempo, que era o único responsável em significar 
sua existência. Ainda que o existir humano seja pleno de situações que 
obstaculizam o existir em plenitude, tais como o desespero, a angústia, a 
ansiedade e o tédio, ainda assim é possível viver de maneira intensa e 
apaixonada. 
Antes de Kierkegaard, podemos falar da presença de alguns de seus 
princípios tanto em Sócrates, quanto em Agostinho de Hipona, por exemplo. 
No entanto, é no século XX que o Existencialismo adquirirá relevância no 
pensamento filosófico, na literatura, no cinema e em outras manifestações 
artísticas. Por vezes, o Existencialismo foi acusado de um certo pessimismo 
exagerado e, até mesmo, como que apontando que a única solução seria o 
niilismo. Porém, quando analisamos seu contexto de florescimento (século 
XX) podemos compreendê-lo com mais propriedade. 
O século XX é marcado por acontecimentos que colocaram em xeque 
muitos pretensos valores universalistas europeus: as duas Grandes Guerras, 
a política neocolonialista praticada nos continentes africano e asiático, o 
holocausto, as ameaças nucleares, dentre outros acontecimentos, levaram 
algumas pessoas a questionarem não somente o potencial “civilizatório” 
europeu como até mesmo a irracionalidade humana. 
O principal nome do Existencialismo do século XX é Sartre, que foi 
influenciado pelo pensamento dos filósofos Husserl e Heidegger. Mas, talvez 
a maior influência não tenha sido somente a guerra, mas o engajamento na 
Resistência Francesa à ocupação nazista. Tal engajamento não se referia a 
participar de uma organização que lutava contra os nazistas, mas à ideia de 
 
 
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se engajar em uma causa política e social que afligia à sociedade francesa, 
europeia e global naquele instante. O lutar pela liberdade e pela própria 
existência, deixa de ser uma questão abstrata para transformar-se em algo 
concreto. Esse envolvimento, de certa maneira, já expressa sua compreensão 
do ser e, ao mesmo tempo, irá influenciar a mesma compreensão. 
Segundo Sartre, a existência precede a essência. Enquanto nas 
concepções tradicionais e idealistas, a essência precede a existência e, por 
conseguinte, o que vamos ser já está pré-determinado, para Sartre primeiro 
existe o nada e somente depois existimos. 
Na filosofia tradicional, parte-se de uma natureza humana universal, 
necessária e eterna. Da mesma forma, as demais coisas que existem 
primeiramente foram definidas e, depois, passaram a existir. Sartre chega, 
inclusive, a ilustrar essa discussão da relação entre essência e existência com 
a história do “cortador de papel”. Segundo ele, o sujeito que inventou o 
cortador de papel, imaginou, antes de sua existência, como o mesmo seria. 
Já definiu, inclusive, para que serviria. Isto é, já determinou sua existência 
previamente, definindo sua essência. 
Não é o caso dos seres humanos que primeiro precisam existir para, 
somente depois, definirem-se. Desta forma, a diferença entre o ser humano e 
os demais seres é que somente o ser humano é livre, porque, antes de ser, é 
nada e, enquanto nada, pode ser tudo aquilo que quiser ser, tudo aquilo que 
projetar ser e somente aquilo que projetar ser. 
Como afirma Sartre: “O homem é tão-somente, não apenas como ele 
se concebe, mas também como ele se quer; como ele se concebe após a 
existência, como ele se quer após esse impulso para a existência. O homem 
nada mais é do que aquilo que ele faz de si mesmo: é esse o primeiro princípio 
do Existencialismo”. 
Assim, o ser humano é um ser-para-si, pois é capaz de, saindo de si, 
pensar a si mesmo. E nesse movimento de sair de si mesmo, descobre que 
 
 
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não existe uma essência previamente determinada a qual deverá cumprir – 
pelo contrário – é por meio de existência que sua essência se definirá. Como 
afirma Sartre, a partir dessa descoberta, o ser humano descobre que está 
definitivamente “condenado a ser livre”. 
Porém, o passo seguinte a essa completa liberdade é o sentimento de 
angústia: a angústia da escolha. Diante dessa condição, muitos preferem fugir 
à responsabilidade. Preferem, agindo de má-fé, fingir que escolhem, 
aceitando as imposições exteriores. Nessa recusa de viver a liberdade, negam 
a dimensão do “para si” e entregam-se ao “em si”, vivendo de maneira 
semelhante às demais coisas que existem no mundo. É o conformismo, a 
redução da vida à facticidade. “Porém, se realmente a existência precede a 
essência, o homem é responsável pelo que é. Desse modo, o primeiro passo 
do Existencialismo é o de pôr todo homem na posse do que ele é de submetê-
lo à responsabilidade total de sua existência. Assim, quando dizemos que o 
homem é responsável por si mesmo, não queremos dizer que o homem é 
apenas responsável pela sua estrita individualidade, mas que ele é 
responsável por todos os homens”. 
Simone de Beauvoir é também uma importante pensadora 
existencialista. Parceira de Sartre em muitas das discussões e reflexões sobre 
o Existencialismo, dedicou-se à literatura e aos ensaios filosóficos. Em 1949 
lançou uma de suas mais importantes obras: O Segundo Sexo. Essa obra é 
uma das mais importantes reflexões filosóficas e sociológicas sobre a 
condição da mulher na sociedade. Tão importante que foi capaz de 
redirecionar os caminhos do feminismo a partir de então. Essa talvez seja a 
citação mais polêmica dessa obra: “Ninguém nasce mulher: torna-se mulher. 
Nenhum destino biológico, psíquico, econômico define a forma que a fêmea 
humana assume no seio da sociedade; é o conjunto da civilização que elabora 
esse produto intermediário entre o macho e o castrado que qualificam de 
feminino. Somente a mediação de outrem pode constituir um indivíduo como 
um Outro”. 
 
 
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Essa obra foi incluída, pela Igreja Católica no Index, catálogo de obras 
proibidas de leitura por parte de seus fiéis. Junto com Sartre, empreende uma 
série de visitas à então União Soviética, à China, à Suécia e ao Brasil. Viajou 
também para os EUA, onde realizou uma série de conferências e ao Norte da 
África. Militou em favor dos trabalhadores franceses e, em 1974 criou a Ligue 
du Droit des Femmes, a partir de quando passa a apoiar definitivamente o 
movimento feminista. 
Para saber mais: 
http://revistacult.uol.com.br/home/2015/07/quem-tem-medo-de-simone-de-
beauvoir/ 
 
 
 
TROCANDO IDEIAS 
Nesta aula vimos pensamentos filosóficos completamente distintos: um 
Positivismo que quer aplicar ao campo das ciências humanas os mesmos 
princípios da ciência física; o Marxismo, que propõe um processo coletivo de 
revolução a partir da tomada de consciência do proletariado à crítica desse 
sujeito determinado pelas relações e estruturas às quais o mesmo está 
submetido; o Existencialismo, que propõe que é o indivíduo que se define no 
viver e não cumpre uma essência previamente definida. 
Da mesma forma, vale a pena destacar o pensamento pragmatista, que 
coloca o indivíduo na condição de aceitar o que é verdadeiro e o que é correto 
a partir da utilidade do mesmo. Bom é aquilo que é útil. Nesse sentido, o temapara esse fórum é o seguinte: quais as possibilidades e os limites que cada 
uma dessas perspectivas filosóficas apresentam para o sujeito e seu existir? 
Reflita a respeito e compartilhe suas considerações com os colegas! 
 
 
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NA PRÁTICA 
Na obra Vigiar e Punir, Michel Foucault fala do processo de docilização 
dos corpos. Esse processo consistiria em ver o corpo humano como se fosse 
uma máquina e ir tornando-o dócil a partir de medidas de disciplinamento, com 
vistas a adaptá-lo à sociedade e seus interesses produtivos. Assim, verifique 
quais ritos e procedimentos de uma instituição escolar que atende a esses 
interesses de docilização: o estabelecimento de horário, uniforme escolar, 
divisão dos alunos em séries e turmas, a distribuição dos mesmos em 
determinados lugares a partir do disciplinamento por parte do professor, o 
estabelecimento de espaços que são de circulação dos alunos, a disposição 
das carteiras em filas e as câmeras de vigilância, dentre outras medidas que 
são tomadas e que levam a esse processo. 
É certo que alguns podem pensar que tudo isso é necessário para a 
organização da vida escolar. Porém, a questão que temos que levantar é: em 
que medida tais processos atendem a uma racionalidade de organização e 
em que medida apenas cumprem o objetivo de docilização dos corpos? 
 
 
 
SÍNTESE 
Nessa rota de aprendizagem, pudemos conhecer cinco das principais 
perspectivas filosóficas dos séculos XIX e XX. Iniciamos por compreender o 
que é o Positivismo a partir de um de seus principais nomes: Auguste Comte. 
Vimos que o mesmo defende que as ciências humanas usem das mesmas 
técnicas investigativas das ciências físicas e biológicas. Defendia também 
que, a partir dessa cientificidade, estabelece-se a ordem com vistas ao 
progresso. 
 
 
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Na sequência, buscamos explicitar a perspectiva marxista de 
compreensão da realidade, o materialismo histórico, e seu rompimento com o 
idealismo hegeliano, ao mesmo tempo em que o Marxismo entende que o 
proletariado seria a classe social, gestada pelo capitalismo e que teria as 
condições materiais, desde que se organizasse para tal, de superar o 
capitalismo como sistema econômico hegemônico. 
Na sequência apresentamos algumas ideias do Pragmatismo, bem 
como alguns de seus principais nomes. Vimos também que essa corrente 
filosófica valorizava tanto a experiência, quanto a utilidade das coisas, 
afirmando que alguma coisa é verdadeira na medida em que é útil. Da mesma 
forma, que a experiência seria o critério para verificar a verdade de alguma 
coisa. 
Em seguida, apresentamos o Estruturalismo e sua crítica a toda 
perspectiva teórica anterior que colocava o sujeito como autônomo e 
independente, quando, na realidade, o mesmo está submetido a diferentes e 
diversas estruturas, bem como às relações às quais o mesmo estava 
submetido. Também vimos, no Estruturalismo, a ideia de Foucault de que o 
indivíduo vai, aos poucos, tendo seu corpo preparado para o processo de 
adaptação à sociedade na qual está ou será inserido. Foucault chama a esse 
processo de “docilização dos corpos”. 
Por fim, vimos o Existencialismo de Sartre e de Simone de Beauvoir. 
Negando a ideia de que primeiramente temos a essência e, somente a partir 
daí é que vamos existindo, afirmam que, primeiramente, o sujeito é o nada e, 
partir desse nada, começa o seu processo de existência, por conseguinte, se 
definindo, isto é, construindo sua essência a partir de sua existência. Nesse 
sentido, se a existência precede a essência, não existe um ser que tenha me 
concebido e pré-definido. 
Nessa perspectiva, somos os únicos responsáveis pelo que somos. 
Porém, não somos responsáveis somente pela nossa existência, mas, 
 
 
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também, pela de todos os demais seres, humanos ou não, que existem nesse 
mundo. Vimos também a crítica que Simone de Beauvoir faz ao papel da 
mulher na sociedade, que não se nasce mulher, mas que as mulheres vão 
definindo seu ser a partir daquilo que a sociedade impõe a ela enquanto ser 
social. 
Vamos recapitular esses conceitos? Assista à videoaula que consta no 
material on-line! 
 
 
 
Referências 
ARANHA, M. L. A. Filosofando. São Paulo: Moderna, 2009. 
CHAUÍ, M. Iniciação à Filosofia. São Paulo: Ática, 2011. 
COTRIM, G. Fundamentos de Filosofia. São Paulo: Saraiva, 2013. 
REALE, G. História da Filosofia. São Paulo: Paulus, 2006.

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