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História Oral, Memória e Biografia

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Aula 8 - História Oral, Memória e Biografia
Na última aula, vimos que os historiadores têm utilizado, como fontes históricas, uma diversidade muito grande de fontes textuais, isto é, fontes que se apresentam sob a égide da escrita, seja em forma impressa ou manuscrita. Em que pese que as chamadas ‘fontes textuais’ constituam, na sua diversidade, a modalidade de fontes históricas mais tradicionalmente abordada pelos historiadores, veremos nas próximas três aulas que os historiadores também podem lidar com inúmeras outras modalidades de fontes históricas que não apenas as que se fundam na escrita. A partir das décadas recentes, os historiadores têm trabalhado cada vez mais com imagens, fontes sonoras, fontes materiais e também com uma modalidade de fontes que constituirá um dos assuntos centrais desenvolvidos na presente aula: as fontes orais. A modalidade que trabalha com este tipo de fonte, e com a técnica das entrevistas, ficou conhecida como História Oral. Para compreender essa modalidade historiográfica, que também faz parte do grupo de campos históricos que podemos conceituar como ‘abordagens’ (BARROS, 2004, p.132-133), é preciso ter em vista uma instância importante da vida humana: a Memória.
A memória, conforme veremos na primeira parte desta aula, não se relaciona apenas à História Oral – isto porque, além da memória que pode ser acessada através dos indivíduos, existem inúmeros outros lugares de memória coletiva que podem, inclusive, serem trabalhados pelos historiadores como fontes históricas ou campos temáticos. De todo modo, a Memória é certamente o conceito essencial para aqueles que trabalham com a modalidade da História Oral, e não seria possível nos aproximarmos adequadamente desta modalidade histórica sem uma maior clarificação deste conceito. Neste primeiro momento da aula, portanto, discutiremos mais especificamente o conceito de Memória, seja no que se refere à ‘memória individual’ ou à chamada ‘memória coletiva’, bem como suas possibilidades de interação com a História. Na última parte da aula, voltaremos às questões relacionadas à História Oral como campo histórico específico, passando antes por algumas reflexões sobre outro gênero historiográfico importante, e igualmente atravessado pela instância da memória: a Biografia. Sobre as interações e contrastes da Memória em relação à História, podemos começar por ressaltar tanto a importância da Memória Individual enquanto material para a História (caso da História Oral), como o inquestionável valor da Memória Coletiva neste mesmo sentido (o Patrimônio Histórico como fonte e também os inúmeros “lugares de memória”). A apropriação da memória como fonte, mas também como objeto de estudo para a historiografia, mostra-nos um dos lados desta relação. Por outro lado, na contramão destas questões, deve-se entender também a historiografia, ela mesma, como um dos “lugares da memória”, tal como veremos oportunamente. A relação Memória-História é complexa. Colocaremos aqui as perguntas básicas:
O que é Memória?
O que é a História?
Como se interpenetram Memória e História?
Aqui existe uma tríplice complexidade a percorrer (BARROS, 2009, p.37), mas desde já faremos notar que a Memória Coletiva elege a História (e a historiografia) como um de seus “lugares de memória”.
A historiografia é de fato um dos inúmeros “lugares de memória” (conjuntamente com as recordações humanas, as comemorações, as fotografias, os ritos e mitos, e tantos outros lugares nos quais se aloja e se produz a Memória Coletiva). Mas, por outro lado, a Historiografia é ainda algo bem mais amplo, pois não se reduz a um “lugar de memória”. Analítica, criadora de um novo discurso, incorporadora de antigos discursos, artística e científica, a Historiografia moderna vale-se da Memória Coletiva e das memórias individuais como dois dos seus recursos disponíveis para a produção do conhecimento historiográfico. Também se afirmam concomitantemente muitos outros recursos disponíveis à historiografia para além da memória (o uso amplo e diversificado de fontes de diversos tipos pelos historiadores é um dos melhores exemplos). É assim que Memória e Historiografia parecem querer uma englobar a outra, anunciando seus infinitos de possibilidades, mas jamais deixam de se afirmar como instâncias bem distintas entre si. Estão em permanente interação, mas não se confundem.
O conceito de memória pode ser aplicado tanto à vida individual de cada ser humano como à existência coletiva de comunidades, instituições, nações ou grupos de diferentes tipos. Mas para entender essa segunda acepção – a da “memória coletiva” – será importante compreendermos em primeiro lugar a noção de “memória individual”. Memória, em sua designação mais habitual, vulgar e cotidiana, refere-se a um processo parcial e limitado de lembrar fatos passados, ou, mais propriamente, de lembrar aquilo que o indivíduo representa como passado. Todos nós, seres humanos que exercemos em nossa vida prática esta misteriosa faculdade que é a memória, sabemos que se trata de um processo bastante complexo, que envolve não apenas a capacidade de lembrar como também a capacidade de esquecer. O mesmo evento lembrado por dois indivíduos será reconstruído de maneira distinta no cérebro, e o mesmo indivíduo, muito possivelmente, poderá se lembrar de maneiras diversificadas do mesmo evento, em dois momentos diferentes de sua vida.
A memória implica em esquecimentos, distorções, reconstruções, omissões, parcialidades, hesitações. Mais do que uma mera ordenação de vestígios relacionados às vivências e acontecimentos que um dia foram presenciados pelo indivíduo, a memória envolve uma “releitura de vestígios” (BARROS, 2009, p.41). Em uma palavra, a memória não é “reprodução”, mas “reconstrução”. É por isto que, conforme veremos na última parte desta aula, para o historiador não é de modo nenhum uma tarefa fácil lidar com as memórias individuais. Ele deve estar sempre consciente de que a memória não é constituída de registros do que aconteceu, mas sim de releituras desses registros que são elaboradas e reelaboradas pelo indivíduo que lembra e que fala de suas lembranças. Trabalhar com as memórias individuais, colhidas através de entrevistas, como se estas fossem meros registros dos acontecimentos nos quais se pode confiar como expressões literais do que aconteceu, é tão ingênuo como acreditar que a história fala automaticamente através dos documentos históricos escritos.
Aliás, esta dimensão social está inclusive presente na própria memória de cada indivíduo. Isto porque cada memória individual, para além de sua singularidade que a faz pertencer a um indivíduo específico, sempre envolve importantes instâncias coletivas e interações várias com o mundo circundante, a começar pela própria linguagem que estrutura o pensamento humano. De fato, a memória (ou o processo de lembrar) envolve obrigatoriamente um comportamento narrativo (lembrar é elaborar uma narrativa, para si mesmo ou para os outros). Uma vez que a “narratividade” é sempre um processo mediado pela Linguagem – esta mesma que, em última instância, é produto da Sociedade – impõe-se aqui a conclusão de que a dimensão coletiva também interfere na Memória individual. Para além disto, com a consubstanciação da Memória através da linguagem – falada ou escrita – a Memória abandona o campo da experiência perceptiva individual e adquire a possibilidade de ser comunicada, isto é, socializada.
Foi essa dimensão coletiva da memória que, desde meados do último século, começou a ser pensada e examinada mais sistematicamente pela historiografia e pelas demais ciências humanas. Compreendida como fenômeno social, ou como fenômeno atravessado pelas instâncias sociais, a memória deixou de se referir apenas ao processo de registro de acontecimentos pela experiência humana, para também passar a remeter à construção de referenciais sobre o passado e sobre o presente relacionados e sob a perspectiva de diferentes grupos sociais ancorados nas tradições e intimamente associados a mudançasculturais. Surge assim o célebre conceito de “memória coletiva”, instituidor de um novo campo de estudos.
Para além da própria constituição de um conceito de Memória Coletiva, que remonta aos primeiros trabalhos de Halbwachs, o novo campo de estudos, que a partir daí se estabelecia em torno das reflexões sobre a memória, foi encontrar outro momento conceitual importante com o desenvolvimento da ideia dos “lugares de memória”. Esta nova entrada conceitual surgiu da necessidade de aprofundar algumas questões. Através de que ambientes, de que recursos, de que práticas e representações, de que suportes materiais se produz e se difunde a memória coletiva? Tal como ressalta José D’Assunção Barros (2011) em um artigo sobre as relações entre “Memória e História”, foi a noção de “lugares de memória” que permitiu que se abrisse uma nova perspectiva para os historiadores e demais estudiosos das ciências humanas, em termos de compreensão, análise, organização e percepção da Memória Coletiva.
Voltando à discussão sobre os “lugares de memória”, podemos lembrar que as chamadas memórias históricas também constituem capítulo importante para o grande universo da Memória Coletiva, e que as mesmas levam a repensar mais uma vez o seu papel na sociedade. Quando surge este vivo interesse em recuperar certas “memórias históricas”, senão no contexto de um tempo acelerado em que as identidades se veem ameaçadas? A história e a memória entrelaçam-se nas memórias históricas para preencher uma função importante: quando a memória viva de determinados processos e acontecimentos começa a se dissolver através do desaparecimento natural das gerações que os vivenciaram, começa a se tornar ainda mais necessário um movimento de registro destas memórias. Foi assim, por exemplo, que se intensificou o interesse pela produção das “memórias do holocausto”. Assegurar o registro destes acontecimentos tão trágicos é também uma forma de adquirir controle sobre eles, de impedir que um dia se repitam, que caiam no esquecimento e que deixem de ser analisados criticamente (BARROS, 2009, p.53). Daí o papel primordial da História Oral, que será discutido mais adiante.
Entre os objetos materiais e textuais da memória, os Dicionários e Enciclopédias ocupam um lugar de destaque e podem ser descritos como vastos registros de memória parcelada que se mostram ordenados alfabeticamente. Conforme os estudos de Leroi-Gourhan, os dicionários e enciclopédias invadem o cenário dos lugares de memória já no século XVIII. No princípio, os dicionários dirigiam-se não apenas aos eruditos, mas também aos artesãos e às fábricas, e a Grande Enciclopédia de 1751 é descrita por Leroi-Gourhan como “uma série de pequenos manuais reunidos no dicionário”, ou como “uma memória alfabética parcelar na qual cada engrenagem isolada contém uma parte animada da memória total” (1964-65, p.70-71). Le Goff lança uma instigante questão: não terá sido a Enciclopédia o grande detonador da Revolução?
Na Literatura, o tema da reconstrução política da memória (e da história) foi habilmente desenvolvido por George Orwell no romance 1984 – uma crítica a todas as formas de totalitarismos, mas também uma imaginação acerca das possibilidades de reconstrução da memória. No romance de Orwell, era prática comum a uma das três sociedades totalitárias que passaram a partilhar o planeta Terra no futuro – a Oceania (equivalente ao atual ocidente político) – a reconstrução da História e da Memória, às vezes de uma semana para outra. Sempre que mudava de aliado bélico na eterna guerra entre as três potências mundiais, a Oceania, governada pelo Grande Irmão (Big Brother) – um grande rosto que vigiava a todos diariamente através de inúmeras telas de TV – reconstruía rapidamente a História recolhendo livros e vídeos, derrubando monumentos e recondicionando a memória de cada indivíduo de modo a recontar a história como se o novo aliado sempre tivesse sido o eterno aliado, e jamais um inimigo em momentos anteriores do jogo de alianças políticas. Em nosso sistema conceitual, o que os governantes desta distopia totalitária do futuro faziam, em operações como a descrita, era precisamente manipular os lugares de memória.
Podemos concluir que a noção dos “lugares de memória” apresenta desenvolvimentos praticamente infinitos. Além disso, podemos ressaltar que os avanços dos estudos da Genética permitiram um controle extremamente preciso sobre a “memória da hereditariedade”. É possível, hoje, reconstituir, através de pesquisas sobre o DNA, a história biológica e populacional dos diversificados grupos humanos, permitindo atingir a aventura humana no período que habitualmente é classificado como pré-história. A “memória genética” da espécie humana, desta maneira, torna-se uma instância a mais que pode ser acompanhada pelos historiadores – um novo “lugar de memória”. As potencialidades da combinação de estudos de Memória Coletiva e da análise da memória hereditária são instigadoras: pode-se imaginar o quanto o rastreamento das descendências e interações entre grupos populacionais, hoje bastante exequível através da análise das contribuições genéticas presentes no DNA de grupos humanos, pode proporcionar uma melhor compreensão das narrativas míticas e outros produtos da Memória Coletiva.
Questão importante para a memória social é a da criação e constante redefinição dos mitos políticos. Não apenas na historiografia que se refaz incessantemente, mas também no imaginário popular opera-se a constante reapropriação de figuras históricas que se tornaram catalisadoras da memória coletiva. No Brasil, homens como Tiradentes e Duque de Caxias e mulheres como a Princesa Isabel, Leopoldina, ou Carlota Joaquina, são reconvocadas sucessivamente para a República, para o ufanismo da Ditadura Militar, para as crônicas feministas. Isabel ora se torna patrona do movimento antiescravista, ora perde este patronato e vê sua mão sendo sutilmente empurrada por um movimento maior que conduz o seu pulso. Tiradentes ganha ares de Cristo; Duque de Caxias oscila do herói da pátria ao general sanguinário. Os heróis, certamente, estão entre os pontos de atração que mais se destacam para as constantes reelaborações das memórias coletivas, assim como das historiografias que não são mais do que disfarçados exercícios de memórias coletivas que pretendem recompor os seus mitos com vistas a interesses grupais específicos. Zumbi agiganta-se diante de Ganga Zumba. Torna-se fundador de um movimento que irá redefinir, retroativamente, a sua própria história. Hoje, os movimentos negros o evocam como herói maior, como símbolo de lutas contemporâneas pela liberdade e pela igualdade de direitos políticos e econômicos que não foram necessariamente as de Zumbi. O momento é oportuno para introduzirmos a discussão sobre o gênero historiográfico da Biografia – uma modalidade historiográfica que traz para o centro de suas reflexões e práticas de pesquisa a vida de um indivíduo, seja ele alguém que adquiriu alguma importância histórica em virtude de circunstâncias específicas, seja um indivíduo anônimo.
A Biografia pode ser tanto encarada como um domínio ou como uma abordagem (neste último caso, um ‘campo de observação’ ou um ‘meio’ para alcançar uma História Social ou para realizar um trabalho de Micro-História). Como ‘domínio’, praticamente se confunde com este ‘gênero’ historiográfico ou literário que já é conhecido desde a Antiguidade. Se for possível situar a Biografia como domínio temático, ela será talvez o único domínio tão perene e duradouro quanto a própria História. Isso porque, ao que se sabe, os homens de todas as épocas sempre foram frequentadores assíduos deste fascinante campo de estudos que poderia ser chamado de “História das Vidas Humanas”. A velha pergunta, que indaga se uma biografia é História ou Literatura, certamente será respondida de maneira única e definitiva. Com algumas variações, é uma indagação tão antiga quanto o gênero, e que desde a Antiguidade desperta polêmicas tão acirradas como hoje. Políbio pretendeu demarcarbem a fronteira: a História devia buscar a síntese, a sobriedade do estilo, o registro da verdade desvencilhado da ornamentação ilusória; a Biografia poderia investir na narrativa dramatizada, possuir um estilo mais livre e, consequentemente, um compromisso menor com a verdade. Por outro lado, acreditando que o que havia de mais verdadeiramente humano escondia-se precisamente na alma individual, Plutarco dedicou-se por inteiro a este gênero, que havia sido desprezado por Tucídides. Na verdade, praticamente inventou um novo gênero: a biografia comparada, ou o que ele chamou de “vidas paralelas”.
Vimos no início de nossa aula que as dificuldades para o estabelecimento do conceito de Memória Coletiva encontravam-se na (falsa) ideia de que a memória era um processo exclusivamente individual. O fato de ser um processo carregado de imprecisões, tateabilidades, reconstruções e distorções parecia trazer também tensões para o relacionamento entre Memória e História. Vale ainda lembrar que ... Como hoje é recorrente a ideia de que a História não deve ter mais a pretensão de estabelecer “os fatos tais como realmente aconteceram”, para relembrar o antigo dito historicista de Ranke, o caráter menos preciso da Memória Individual deixou mesmo de ser um problema maior e passou à possibilidade de ser elaborado até mesmo como uma riqueza epistemológica pelos historiadores que trabalham de acordo com a perspectiva de uma História-Problema. Isto porque, conforme já veremos, é muitas vezes na imprecisão, na fluidez e nos lugares de distorção e manipulação que se instalam algumas das mais expressivas e reveladoras práticas discursivas, trazendo a nu os seus entreditos e interditos, os silêncios reveladores, os padrões de representações, as ressignificações dos eventos. Com a possibilidade de tratar a Memória como um aspecto a ser problematizado e atravessado por novos questionamentos, e não como mera instância capaz de fornecer informações sobre este ou aquele processo, surgiam as condições e possibilidades para uma nova e importante modalidade da História: a História Oral.
Vejamos neste momento os aspectos que se referem ao tratamento da memória humana como fonte para a Historiografia. Veja a seguir um esquema dos grandes aspectos que confluíram para uma revalorização da Memória sob uma perspectiva historiográfica, com vistas à constituição de um novo campo historiográfico que foi a História Oral:
História-Problema (por oposição a uma História Objetiva dos Acontecimentos);
Multiplicação de Fontes (chegando aos depoimentos orais nos anos 1980);
Invenção do Gravador;
Desenvolvimento de novas técnicas de Análise;
Reconhecimento da pessoa comum como objeto de análise interessante para a historiografia;
Novos Campos Históricos pouco acessíveis pelos documentos tradicionais (por exemplo, a História do Cotidiano).
Naturalmente que, à medida que a História Oral começou a se projetar como modalidade historiográfica reconhecida pelos meios acadêmicos, revitalizaram-se algumas das antigas críticas que sempre foram dirigidas contra a apropriação das memórias individuais como fontes para a compreensão da História. Tal como assinala Alistair Thomson (1997) em sua intervenção nos Debates sobre Memória e História, “o principal alvo dessas críticas apontava para o fato de que a memória não seria confiável [...] porque era distorcida pela deterioração física e pela nostalgia da velhice, por preconceitos do entrevistador e do entrevistado e pela influência de versões coletivas e retrospectivas do passado” (1994, p.34). Destarte, a História Oral tem conseguido superar todas estas críticas com relação às ambiguidades relacionadas à natureza de suas fontes.
A consolidação da História Oral, contra todos os seus críticos mais mordazes, foi sendo conquistada através do refinamento dos procedimentos para a escolha de entrevistados, levantamento de perfis, realização efetiva das entrevistas, armazenamento de informações e dados discursivos, e análise do material produzido através de entrevistas. Já existem os clássicos da nova modalidade, entre os quais o célebre ensaio de Paul Thompson intitulado A Voz do Passado (1977). Neste, destaca-se a preocupação em que a História Oral não recaia em mera coleta cumulativa de informações e depoimentos e, ao contrário, se construa como história-problema, não sendo senão por outro motivo que Thompson escreve três primorosos capítulos envolvendo três aspectos centrais a serem considerados quando se leva em conta a questão das entrevistas: o Projeto, a Entrevista propriamente dita, a seleção de elementos a partir dos materiais e discursos apreendidos através do processo de entrevista. Ou seja, um Projeto assegura que a História Oral parta de um problema, inclusive criando perfis relacionados aos atores sociais a serem entrevistados; as técnicas e problematização das circunstâncias de realização da entrevista asseguram uma instância metodológica adequada e os procedimentos de análise trazem novamente ao centro a questão de uma história a ser construída pelo historiador a partir dos depoimentos provocados. Enfim, a problematização recai sobre cada um dos três momentos que se erigem em torno da ideia de provocar depoimentos. A publicação de A Voz do Passado (THOMPSON, 1992) é apenas um marco na ainda curta, mas já intensa história da História Oral. De lá para cá, muito se tem produzido em termos de ensaios de discussão sobre a História Oral e de manuais para a elaboração e análise de entrevistas de um ponto de vista historiográfico. Os manuais de História Oral (Alberti, 2004 E MEIHY, 1998) poderão orientá-lo na elaboração e condução de entrevistas. 
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