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Deíse Moura Atualizado, diagramado e reeditado por Graziela Lonardoni ABORDAGEM HISTÓRICA DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE Por que estudar essa história? Considerar fatos passados para compreender a forma como o fenômeno se dá no presente. Tal compreensão está, diretamente, relacionado às representações e sentidos que foram atribuídos às crianças e aos adolescentes, no decorrer da história. A análise histórica da concepção dos mesmos tornou-se imprescindível para se compreender os discursos, as políticas públicas e ações voltadas às crianças e aos adolescentes. Perceber a existência de relações entre os diversos momentos e acontecimentos, permeados de idas e vindas – Avanços e retrocessos. A criança em seu percurso histórico... Menções sobre a criança datam de um período anterior ao cristianismo. Visão das crianças de forma desvalorizada, tratamento hostil a elas dispensadas. Exemplo do livro bíblico de Deuteronômio. Entre os hebreus, existiam leis instruindo os pais a exporem seus filhos desobedientes ao público para que fossem apedrejados até a morte, a fim de que eliminasse o mal da família. A criança em seu percurso histórico... Nascimento de Cristo – Marco no “tratamento” às crianças (exaltação da pureza das mesmas). “Quem não for como criança não entrará no Reino dos Céus […].” (Mateus, 18:3). Então, trouxeram-lhe algumas crianças, para que lhes impusesse as mãos e orasse por elas. Os discípulos, contudo, os repreendiam. Mas Jesus lhes ordenou: “Deixai vir a mim as crianças, não as impeçais, pois o Reino dos céus pertence aos que se tornam semelhantes a elas.” (Mateus, 19:13-14). Idade Média (V – XV) Crianças entregues às amas-de-leite no nascimento – Remuneração (sem supervisão dos pais). Muitas mortes aconteciam sem que a família tomasse conhecimento. Alto índice de mortalidade infantil (20% das crianças sobreviviam e, dentre as abandonadas, uma em cada 10 chegava aos 20 anos). No século XII, as crianças eram vistas como “adultos em miniatura”, recusando-se a morfologia infantil. Tendo-se em vista que as idades da vida não se restringiam às etapas biológicas, mas às funções sociais, só era possível sair da infância à medida que a criança saísse da condição de dependência. A diferença marcada permaneceu até o século XIII – A criança deixava os “cueiros” e era vestida como os outros homens e mulheres de sua condição. Sua representação social, ainda, era de um adulto pequeno. Idade Média (V – XV) Preocupação por parte dos líderes governamentais. Desfalque no exército de homens para a defesa dos países. Insuficiências de mão-de-obra para a produção de suprimentos de subsistência das populações. Medidas de prevenção da vida das crianças e adolescentes, dentre elas recompensar as famílias que adotassem crianças abandonadas – VALOR MERCANTIL. De elemento de pouca importância passa a ter valor de produto de extinção. Mas… Por que valor de produto? Idade Média (V – XV) Quanto à aprendizagem... Com o surgimento da imprensa e dos meios de comunicação de massa, no século XIII, uma situação de escassez de papel na Europa Medieval tornou desfavorável o processo de alfabetização. As interações sociais realizavam-se oralmente e não havia segredos entre adultos e crianças. A capacidade de ler passou a demarcar a idade adulta e constituiu- se numa realização de ordem simbólica e não biológica. Renascimento (XV – XVI) Na França, as crianças representadas na história da arte e na iconografia são expressões importantes que marcaram o surgimento do sentimento de infância. Esse sentimento é decorrente do contato entre adultos e crianças pequenas no contexto familiar, em que a criança se tornou fonte de distração ou relaxamento para o adulto. Outra manifestação desse sentimento surgiu entre o final do século XVI e início do século XVII, proveniente da preocupação de moralistas e educadores com a disciplina e a moralidade infantil. Colonização do Brasil Marco no processo de exclusão de crianças. Influência nas políticas de atenção à criança e ao adolescente. Rememorando o momento da colonização… Consequências da colonização... Muitas crianças tornaram-se órfãs. Construção de abrigos – Rompimento cultural e afetivo. Além dessa estratégia de acolhimento, houveram manifestações de “valorização” da criança. 1738: Primeiro asilo para crianças no país. 1871: Lei do Ventre Livre, os senhores seriam obrigados a criar e tratar dos filhos de escravos até a idade de 8 anos. Consequências da colonização... Metade do século XVIII e início do século XIX: começa a haver uma valorização da criança como fonte de riqueza nacional – EXPLOSÃO DA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL. Aumento da mortalidade infantil. Fenômeno: “matança dos inocentes”. Reação frente ao fenômeno. 1891: Primeiras leis brasileiras regulamentando o trabalho infantil – como o Decreto n.º 1.313, que determinava a idade mínima de 12 anos para o trabalho. Séculos XIX e XX O período entre 1850 e 1950, consolidado pelo aparecimento do telégrafo e da televisão, não restringiu o conteúdo veiculado por esses meios, e as informações tornaram-se acessíveis para todas as idades. Na mesma intensidade com que a prensa tipográfica criou a infância, a mídia eletrônica a fez desaparecer, pois não era mais necessário distinguir a criança do adulto. Assim, a criança transformou-se em objeto de relevância e foi enunciada sob diversos olhares. Ser criança varia entre sociedades, culturas e comunidades, ou seja, o enfoque dado ao conceito varia de acordo com o universo sócio- histórico-cultural em que a criança está inserida. Século XX no Brasil Os processos de industrialização e urbanização, ocorridos no século XX, aliados à necessidade do trabalho feminino, implicaram em mudanças nas formas de educação e de cuidado, o que exigiu reformulações na estrutura familiar e possibilitou a modificação da concepção de criança. Nesse contexto, surgiram as instituições voltadas para o atendimento à criança, que estavam além dos cuidados familiares, tais como creches, jardins de infância, pré-escolas, dentre outros, bem como a criação de mecanismos sociais e jurídicos de defesa à criança e ao adolescente. Por exemplo, 1927: Promulgação do Código de Menores – Promulgado no Brasil, o Código de Menores é o primeiro documento legal para população com menos de 18 anos, conhecido como Código Mello Mattos. 1942: Criação do Serviço de Assistência ao Menor (SAM) – Instituído no governo de Getúlio Vargas, o SAM era um órgão do Ministério da Justiça que funcionava como um equivalente ao sistema penitenciário para a população com menos de 18 anos. Século XX no Brasil No entanto, foi somente com a Constituição de 1988 – Iniciativa de diversos movimentos da sociedade e de conhecimentos científicos, no Brasil, por volta da década de 1970, que a criança passou a ser reconhecida na esfera dos direitos e não mais da caridade ou da filantropia. A partir da Constituição Brasileira decorreram as demais leis que, imbuídas do mesmo espírito, buscaram pela proteção, pelos cuidados e pela educação da criança brasileira, especialmente, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira, o Estatuto da Criança e do Adolescente, os Conselhos Municipais e Estaduais dos Direitos da Criança e a Política Integral de Saúde da Criança e do Adolescente.
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