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Samuel Huntington completo

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Samuel Huntington e sua tese Eurocêntrica 1
A primeira demonstração da natureza eurocêntrica do pensamento de Huntington surge no apoio que este dá à noção de que o Ocidente fez muitas das suas bases, ainda que com um grau menor de influência de filosofia externa, sozinho, sem ajuda do Oriente (John M. Hobson, 1995):
“Ocidente difere de outras civilizações não na maneira como se desenvolveu, mas no caráter próprio de seus valores e instituições. Aqui se incluem principalmente seu Cristianismo, pluralismo, individualismo e império da lei, que tornaram possível para o Ocidente inventar a modernidade, expandir-se por todo o mundo e tornar-se alvo da inveja de outras sociedades. No seu conjunto, essas características são peculiares ao Ocidente. Como disse Arthur Shlesinger Jr., a Europa “é a fonte – a fonte singular” das idéias de liberdade individual (...). “Essas são idéias européias, não idéias asiáticas, nem africanas, nem do Ocidente Médio, a não ser por adoção”. Elas tornam a civilização ocidental única, e a civilização ocidental é valiosa não por que seja universal, mas por que é única.” (Huntington 1996:396). 
 
Segundo, tendo estabelecido o excepcionalidade da experiência europeia, disso ele deriva policiamento de visão eurocêntrica, ainda que rejeite o imperialismo Ocidental (John M. Hobson, 1995):
“O universalismo ocidental é perigoso para o mundo porque ele poderia levar a uma grande guerra inter civilizacional entre Estados-núcleos, e é perigoso para o Ocidente porque poderia levar à derrota do Ocidente... a civilização Ocidental é valiosa não porque é universal, mas porque é única. A principal responsabilidade dos líderes ocidentais, subsequentemente, não é tentar remodelar as outras civilizações à imagem do Ocidente... mas preservar, proteger e renovar as qualidades únicas da civilização Ocidental” (Huntington 1996: 396 e 397). 
 Naturalmente, quando ele propõe o seu projeto politico de “renovar e preservar o Ocidente” ele, de fato, reafirma a formação particular e única que ele adota na sua visão, para a identidade do Ocidente, fundamentalmente eurocêntrica. (John M. Hobson, 1995).
 Por uma visão pós-colonial, no entanto, é do seu imaginário ver o euro centrismo como ruim por sua postura imperialista. O euro centrismo pode ser igualmente anti-imperialista, no entanto. No caso de Huntington, vemos um retorno ao discurso do final do século XIX do “Perigo Amarelo”, quando muitos pensadores euro centristas defenderam o posicionamento de se estabelecer como único e distante do Oriente. A amálgama da linha de pensamento de Huntington leva a uma política de “não imigração para orientais”, mas também de anti-imperialismo. A preocupação deste com relação à maior fertilidade dos imigrantes com relação aos nativos também remonta o euro centrismo típico (John M. Hobson, 1995).
 Terceiro, apesar da rejeição aparente de Huntington de uma visão dualística de relações civilizacionais, no final ele endossa precisamente este mesma forma de posicionamento em que o Ocidente e o Oriente são colocados um contra o outro. Como bem se demonstra ao final do livro, aonde ele se refere ao “grande choque” ou “choque real”, entre o Ocidente civilizado e o Oriente bárbaro (John M. Hobson, 1995):
“O futuro da paz e o futuro da Civilização dependem da compreensão e da cooperação entre os lideres políticos, espirituais e intelectuais das principais civilizações do mundo. No choque das civilizações, a Europa e os Estados Unidos se juntarão ou serão destruídos separadamente. No choque maior, o “choque verdadeiro”, global, entre a civilização e a barbárie, as grandes civilizações do mundo, com suas ricas realizações em religião, arte, literatura, filosofia, ciência, tecnologia, moralidade e compaixão, também se juntarão ou serão destruídas separadamente. Na era que está emergindo, os choques das civilizações são a maior ameaça à paz mundial, e uma ordem internacional baseada nas civilizações é a melhor salvaguarda contra a guerra mundial”. (Huntington: 410). 
 A noção de que houve uma interrupção entre esses conflitos interculturais durante a Guerra Fria, retornando em meados dos anos 90, em continuidade de uma longa tradição de conflitos dessa espécie que remonta às cruzadas é rebatido em “dialogues of civilizations” (e.g., Melleuish 2000; Jones 2002). (John M. Hobson, 1995).
 A crítica pós-colonialista cita a visão de Huntington como eivada dos vícios eurocêntricos (John M. Hobson, 1995).
Guerras de Transição: Afeganistão e o Golfo.
A Guerra do Afeganistão é o primeiro exemplo notável de guerra de civilizações no mundo moderno (séc. XX). Também inédita como primeira resistência, não baseada em princípios nacionalistas ou socialistas, mas islâmicos (num esforço conjunto civilizatório muçulmano). Fundamental para a queda da União Soviética.
O segundo conflito civilizacional foi a Guerra do Golfo, nesse caso uma Intervenção ocidental em conflito islâmico.
EUA tinha alinhamento aliado inicial no Oriente Médio que posteriormente se afastou gradativamente por evitar a forte opinião pública anti Ocidental. Países não ocidentais no geral (não apenas muçulmanos), falam contra o ocidente. 
Saddam e Bush identificam a sua causa com a religião, apesar da natureza secular dos seus governos, como apelo popular (jihad; cruzada;)
A guerra, com um objetivo de pano de fundo econômico (petróleo), pelo controle do Golfo Pérsico é vencida pelos EUA. Golfo Pérsico se torna um “lago norte-americano”.
2* Contornando os argumentos do autor no tópico da Guerra do Golfo, a escolha de alinhamento ao lado dos Estados Unidos por alguns dos países muçulmanos durante a Guerra do Golfo parece colocar desequilíbrio a argumentação de que estes países não estariam dispostos a se alinhar por outros motivos de razão nacional, e que não cultural, e parece ser uma arbitrariedade colocar em segundo plano a relevância que o interesse nacional, estatal, teve na decisão destes países em apoiar o Ocidente. Huntington não parece saber explicar o porquê de Emirados Árabes Unidos, um país muçulmano, ter enviado forças militares, no contexto das operações de pacificação do Kosovo, entre 1999 e 2002; Os conflitos entre os países ocidentais na Primeira e Segunda Guerra Mundial, ou a guerra entre países muçulmanos na guerra entre o Irã e o Iraque, em 1980, ou a invasão pelo Iraque do Kuwait; O posicionamento do Egito, a despeito das pressões populares(Adib-Moghaddam, A, 2008).
 O desprezo para com os Estados Unidos pode derivar não do sentimento cultural, mas de uma aversão que nasce da sensação de perigo que a potência apresenta, tanto pela projeção de poder global derivada expressão do seu poderio militar e nível econômico, como pela forma como utiliza da violência instrumentalizada para a obtenção dos seus objetivos, como por uma postura externa, composta de políticas externas agressivas. Ou seja, ainda que sendo externada de forma emocional a aversão aos Estados Unidos, a origem desse sentimento pode estar em fatores muito concretos de temor diante do puro poderio dos Estados Unidos e da forma como conduz a sua política externa. Adib-Moghaddam, A. 2008)
 
 Independente de racionalizações éticas por parte da comunidade internacional, compõe um quadro de situações eventos como a guerra do Vietnã, no que demonstram um compromisso dos Estados Unidos com interesses unilaterais e sua condução, muitas vezes, feita de forma inescrupulosa, que se reflete no seu modo de fazer guerra em suas nuances táticas (a exemplo do uso extensivo de Napalm no conflito com os vietcongues). A despeito de questões culturais e religiosas, o modo de os Estados Unidos conduzir os seus conflitos, que pode ser raiz importante dessas desavenças e desconfiança para com as atitudes da potência, poderia muito que bem constituir fator implícito na forma como reagem os países muçulmanos à sua presença na região, ainda que sob à guisa de argumentos de cunho religioso possam se inflamar os mais jovens, ou que a influênciade outros fatores (como a identificação étnica, social e linguística) tenham a sua importância, a consideração dos fatores propostos nessa análise mais ou menos do que aqueles feitos pelo autor, me parecem tão quanto uma análise meritória, algo que depende, que se apoia em ideologia e na arbitrariedade de opiniões, que no caso do autor parecem vagas, eivadas de etnicismo.
 A mesma defesa ideológica poderia ser feita em favor de aspectos ignorados pelo autor. Por exemplo, Huntington ignora na sua análise os fenômenos como a integração política, interdependência econômica ou integração social e o seu papel em explicar o porquê dessas relações e conflitos que vemos contemporaneamente.
A própria definição do que é Civilização de acordo com o autor, dança entre critérios vagos de religião (Islã), mera territorialidade (América latina), um grupo de países com distinções pouco definidas por ele (ocidente, europeus), ou uma nação (Japão).
Não se dá o foco devido ao modo como foram conduzidas as políticas ocidentais externas nos últimos 60 anos (com exceção da Guerra do Golfo). Talvez isso signifique que um misto de “falhas civilizacionais”, com uma linha de abordagem que se refere aos anos de exploração, opressão e estímulo às animosidades. Ou talvez, na acepção que defendemos, seja essa opressão não reflexa de “falhas civilizacionais”, mas de uma política externa de Estado agressiva e oportunista, que busca a exploração do mais vulnerável para o seu maior ganho. O posicionamento geográfico, falta de desenvolvimento e a instabilidade política desses países (mesmo quando comparados com os países mais pobres europeus), servindo como um chamariz à exploração para o Ocidente mais bem desenvolvido(Adib-Moghaddam, A, 2008).
Que, por mais que influencie a cultura não o único fator direto de consideração das posturas dos países no Oriente Médio, bem como no resto do mundo. A dependência das exportações de petróleo, que sustentam essa sociedade, certamente que tem um papel decisivo na orientação das suas decisões. Como bem evidencia, e como o autor reconhece até uma certa extensão, na relação de dependência comercial do Qatar e da Arábia Saudita, por exemplo. Em contraste com o posicionamento do Paquistão e do Irã que parecem se influenciar mais nessas questões de ordem cultural e de manutenção política interna delas derivadas. O que isso mostra é que se trata de uma generalização cujo grau de influencia nas decisões não é determinante com o grau que o autor diz expressar e corre em paralelo com outras questões cuja relevância ele ignora (Adib-Moghaddam, A, 2008)
O argumento marxista
Alguém poderia colocar em segundo plano a tese de Samuel Huntington em prol de uma linha marxista. A crise nacional do petróleo iraniano de 1953 é muito usada como argumento marxista. Houve um grande desvio de exportações de petróleo no valor de bilhões de dólares por parte do ditatorial Shah do Irã, e a aprovação da criação da Companhia Angla Iraniana de Petróleo no país. A entidade explorou de forma negativa a mão de obra local, revertendo em ganhos para os seus representantes ingleses e americanos. Com a derrubada do Shah e posto no poder Mohammed Mosadeqq, líder populista-nacionalista, a empresa viu o seu fim. Os serviços secretos americanos e ingleses agiram em conjunto com a monarquia derrubada para articular uma retomada do poder que foi concretizada, culminando com a restituição da Companhia. Após 50 anos, esse evento é fonte de animosidade entre os governos desses países.
Os teóricos marxistas argumentam ser esse um caso clássico de exploração de um detentor dos meios produtivos, concentrador de poder econômico e militar, agindo de maneira predatória sobre o vulnerável e o seu baixo poder de barganha, que vende a sua mão de obra e entrega os recursos do seu país, a fim de satisfazer o imediatismo de sua condição precária.
O argumento da civilização e suas limitações 3*
O argumento de identificação de grupos menores com uma Civilização mais ampla aparente ser muito generalizado a partir do momento em que os grupos civilizacionais de Huntington estão em frangalhos com suas próprias divisões internas de conflito, inclusive de natureza cultural. Também, o argumento de Huntington de que as lealdades para as civilizações são fonte de conflito contra as identidades nacionais e étnicas, especialmente na Civilização Islâmica, é falho. Os professores de ciência política das Universidades de Yale e do Alabama, Bruce M. Russett, John R. O’Neal e Michaelene Cox argumentam em seu estudo de ciência política “Clash of civilizations, or realism and liberalism deja vu? Some evidence”, para o Journal of Peace Research, que essa consideração é duvidosa, particularmente em relação à Civilização Islâmica aonde interesses entre Estados em particular tem mais peso do que aqueles interesses que se referem às convicções pan-arábica ou islâmicas. Invalidando a linha argumentativa de Huntington de que alguém identifica em si mesmo antes um membro de sua Civilização do que de outras denominações mais particulares (Russett, B. M., Oneal, J. R., & Cox, M. 2000).
Os conflitos de “linha de fratura”.
As suas motivações, enquanto conflitos são essencialmente desinteressantes para as comunidades externas não participantes, embora possam provocar preocupações humanitárias. 
Podem ser interrompidos por tréguas e acordos que, entretanto, não duram muito, e continuam de forma ininterrupta.
Tendem a ser perversos e sanguinários por envolverem questões de identidade. Com a vitória decisiva de um lado, muitas vezes significando o genocídio do outro. Difíceis de se resolver por este motivo. Frequentemente duram mais quando no seio de um Estado.
Ocorrem entre grupos identificados com o governo ou não. 
Muçulmanos e chineses na Malásia, muçulmanos e hindus na Índia.
Podem ser por controle de pessoas, mais são mais frequentemente por território (valor histórico: Kosovo, Caxemira, Vale do Drina).
Pontos em que os conflitos de linhas de fratura são similares aos conflitos comunitários: Longa duração, altos níveis de violência e ambivalência ideológica.
Pontos em que os conflitos de linhas de fratura são distintos de guerras comunitárias: Os conflitos de linhas de fratura são quase sempre entre povos de religiões diferentes, por esta(religião) ser característica de alto valor de definição das civilizações(mais do que outros); Segundo, as guerras comunitárias tem poucas chances de se alastrar e envolver outros, os conflitos de linha de fratura, no entanto, envolvem grupos culturais maiores, que sempre buscam o apoio dos seus afins(e até mesmo pequenas doses de violência entre membros de civilizações diferentes causam consequências maiores).
As fronteiras ensanguentadas do islã 
Exemplos: Sérvios e croatas (étnico). Budistas e hindus no Sri Lanka(étnico).
Em nível global, macroscópico, o choque de civilizações é entre o ocidente e o resto. Nível local, micro, é mais entre o islã e os outros.
Existem 3 vezes mais conflitos Inter civilizacionais envolvendo muçulmanos do que aqueles que não. O número de conflitos, em geral, é maior no seio do islã do que o dentro de quaisquer outras civilizações, incluindo os conflitos tribais africanos. Travam mais guerras do que os povos de qualquer outra civilização.
Os conflitos envolvendo muçulmanos também tendem a ter mais baixas.
O porquê dos muçulmanos serem mais violentos do que os outros povos:
 Possuem maior esforço militar (proporção de forcas militares ajustadas ao nível de riqueza do país); Possuem uma maior proporção de forcas armadas em relação à população (dobro, daquela dos países cristãos); O Islã é militaristico; Alta propensão a recorrer para a violência para resolver crises. 
 Os conflitos mais importantes ocorrerão ao longo das linhas de fratura, Huntington argumenta. A análise estatística desaprova essa noção. Russet 3* conduziu análise e reportou que “existe pouca evidência de que [civilizações] definem as linhas de fratura ao longo das quais o conflitointernacional está apto a ocorrer” (Russett, B. M., Oneal, J. R., & Cox, M. 2000)
 Em estudo em que reportou que apesar de diferenças em religião aumentarem a incidência de guerra, similaridades étnicas e linguísticas também aumentam as chances de conflito, surpreendentemente. Esse estudo também encontrou que a proximidade geográfica entre Estados é um fator mais forte do que a cultura. O que esses estudos demonstram é que diferenças culturais não são fonte primária de conflito. De fato, o que parece é que em alguns casos as similaridades entre grupos diferentes dentro de uma mesma civilização criam uma fundação mais tendente a conflitos. Poderia se tirar a conclusão dessa análise de que muitos dos conflitos que Huntington identifica nessas linhas de fratura apenas têm maiores chances de ocorrerem porque essas linhas de fratura também se referem a Estados fronteiriços. Algo que não desaprova o argumento totalmente, mas o enfraquece e abre margem a contestações (Henderson, E. A. 1998).
O diplomata e cientista político 5* George Kennan descreve em sua obra, de forma precisa, os riscos de ordem ideológica que o Comunismo representava ao capitalismo Estadunidense. Como aviso aos políticos norte-americanos, Kennan urgiu dos Estados Unidos uma postura que, embora firme, devesse ser paciente, evitando demonstrações de poder e provocações supérfluas. A má interpretação do seu conselho, bem como o mau uso da tese de Huntington, contribuiu para que uma situação pior, fazendo com que o conflito escalasse como bem demonstrado com a Guerra do Iraque e as suas consequências a longo termo. O que acabou por demonstrar um caso clássico de “profecia autorrealizável”, como a tentativa de explicar os desdobramentos políticos futuros repercutiu em uma política externa eurocêntrica e imperialista (Kennan, G. F. 1947).
6* Em estudo que se propôs a apontar, à luz dos resultados estatísticos proporcionados pelo cientista político italiano, Giacomo Chiozza, o grau de veracidade da tese do “Choque de Civilizações” de Samuel Huntington, especialmente no que diz respeito à afirmação deste de que conflitos Inter civilizacionais “serão mais frequentes... do que... conflitos entre grupos da mesma civilização” (p.48). Ao que, dado o fim do estudo expressaram, resumidamente, os seus achados:
“Pondo de forma sucinta, o modelo de testes de evento-raridade que nós geramos falhou em retornar muita prova de que as Civilizações ‘entram em choque’”. Primeiro, corroborando os achados de Chiozza, duplas de Civilizações são menos, não mais, propensas a entrar em guerra do que duplas de dois grupos diferentes que pertencem à mesma Civilização... “Tomados como um todo, os resultados do nosso estudo dão suporte aos críticos de Huntington”(Tor G. Jakobsen, Jo Jakobsen, 2010)
Causas: História, Demografia, Política.
O que teria causado o surto, no final do século XX, das guerras de “linhas de fratura” e o papel dos muçulmanos nisso:
Essas guerras tem origem na historia, e esse histórico provocou tensão civilizatória em longo prazo. Apesar da coexistência pacifica entre muitos povos, o crescente desequilíbrio demográfico iniciou conflitos. O aumento muito grande de xiitas em relação aos cristãos maronitas no Líbano causou o colapso da ordem constitucional na década de 70. Dentre outros exemplos de desestabilidade politica por fatores demográficos, estariam: Os bolsões de jovens revoltosos no Sri Lanka; As ex-republicas soviéticas da Ásia central, por serem mais férteis que a Rússia; 
Outra causa para os conflitos de “linha de fratura” é queda de impérios, causando conflitos étnicos e civilizacionais dos povos desesperados em busca de identidade, que acabam por achar nos velhos recursos da religião e da etnia essas identidades.
As competições eleitorais intensificam os conflitos de fratura. Quando a união soviética se separou, não se realizaram eleições nacionais. Os diversos subgrupos teriam competido contra o centro, formando coligações análogas. Elas ocorreram no âmbito das republicas, ampliando o nacionalismo étnico, contra as instituições representativas da antiga ordem(o partido comunista foi o que menos recebeu votos nessas repúblicas, por exemplo). 
Causas desses conflitos, referente especificamente aos muçulmanos.
1º - O islamismo é a “religião da espada”, desde sempre. Com o profeta Maomé sendo descrito no Alcorão como um “guerreiro”. Uma doutrina que advoga a guerra aos infiéis. Poucas referências a princípios de não violência.
2º - O contato próximo a outros povos, outras civilizações, trouxe expansionismo, hostilidade e conversões forçadas ao modo de viver muçulmano. Em contraponto, a expansão por mar do Ocidente não trouxe proximidade física das linhas de fratura muçulmanas, e os povos com os quais tiveram contato foram totalmente submetidos à sua autoridade ou foram dizimados.
3º - Indigestabilidade. O islamismo é absolutista e se opõe as outras fés. 
4º - Opressão. O imperialismo ocidental criou uma relação hostil e de preconceito com os povos do oriente médio. 
5º - Falta de um Estado Núcleo.
6º - A dinâmica demográfica agitada do povo muçulmano e a economia ruim proporcionando uma população masculina homens desempregados entre os 15 e 30 anos. Fonte de instabilidade e violência. O que poderia diminuir com melhores condições econômicas e envelhecimento da população.
Mas o autor parece ignorar teimosamente os exemplos de culturas que coexistem pacificamente, a despeito da existência, sim, de conflitos. Ele falha em eliminar por completo o argumento em favor da existência de culturas que são capazes de coexistir pacificamente. Observando os graus de ação afirmativa em benefício de minorias que se mostram em países de “bem estar social” como os Estados Unidos e os países Escandinavos. Enquanto que desastres como o de Ruanda, ocorreram dentro de um mesmo espectro cultural, e levaram a morte de milhares (cerca de 800.000 mortos no conflito de Ruanda).
O Sistema da Millet Otomana 7*
No Império Otomano, uma “Millet” era uma corte legal separada, de “lei pessoal”, sob a qual uma comunidade confessional (da sharia muçulmana, do direito canônico católico, ou da halakha judaica), era permitida a se autor regrar de acordo com o seu próprio sistema de leis sob a dhimmi islâmica, o regime de dominação islâmica. É um exemplo pré moderno de pluralismo religioso (Itzkowitz, Norman, 2008).
8* A impossibilidade de democratização da Civilização Islâmica é uma questão adereçada pelo cientista político Imai Kunihiko, que demonstra em seu artigo de 2006, “Culture, civilization, or economy? Test of the Clash of civilizations thesis” para o International Journal on World Peace que “as experiências de muitos países... mostra que a cultura não é uma barreira intransponível para a democratização” e que “evidência histórica não dá suporte à uma explicação determinística para o fracasso de modernização ou democratização no mundo muçulmano, bem como em qualquer outro lugar”.
Aprofundando a oposição à tese de Huntington, Imai descreve o mundo muçulmano como altamente fraturado em um nível cultural e religioso. Portanto, Huntington faz um argumento demasiado generalizado de que o mundo muçulmano é unificado e que tem um sentimento geral por uma Civilização Islâmica. Mais adiante, os argumentos de Huntington podem ser válidos em termos de compatibilidade com a tradição Islâmica e com a democracia; No entanto, os eventos que se seguiram à Primavera Árabe, em 2011, provam em grande proporção que esse não é necessariamente o caso, uma vez que Estados outrora autocráticos estão agora se democratizando (Imai, K. 2006).
Conclusão
Conclui-se disto então a falha, da tese de Huntington, e até certa proporção, em acordo à afirmação do mesmo de que sua tese serve como bússola, altamente generalizadora, que pode frequentemente se equivocar em um nível micro analisado. Mas que no geral tem se provado mais erradas do que se espera, altamente duvidosa no tratamento de questões que jogam em cena outras variáveis,como a frequência de conflitos e sua relação com a cultura , ou a aceitação de modelos econômicos tipicamente identificados como Ocidentais.
Referências
1* - 
THE MYTH OF THE CLASH OF CIVILIZATIONS IN 
DIALOGICAL-HISTORICAL CONTEXT 
John M. Hobson 
Department of Politics, University of Sheffield, UK. 1995
--
2* -
Adib-Moghaddam, A. (2008). A (short) history of the clash of
civilizations. Cambridge Review of International Affairs, 21(2), October 2013-218. doi:10.1080/09557570802020990
--
3*-
Russett, B. M., Oneal, J. R., & Cox, M. (2000). Clash of civilizations, or realism and liberalism deja vu? Some evidence. Journal of Peace Research,37(5), 583 608. doi: 10.1177/0022343300037005003 
--
4*-
Henderson, E. A. (1998). The democratic peace through the lens of culture, 1820-1989. International Studies Quarterly, 42(3), 461-484. doi: 10.1111/0020-8833.00092 
5*-
Kennan, G. F. (1947). The sources of Soviet conduct. 
Foreign Affairs, 4, 566-582. 
--
6*-
Journal of Peace, Conflict and Development
www.peacestudiesjournal.org.uk. Issue 15, March 2010
Birds of a Feather Flock Apart? Testing the Critique of the Clash of Civilizations Thesis
Tor G. Jakobsen, Jo Jakobsen.
--
7*  
Itzkowitz, Norman. "Ottoman Empire." . 2008. Microsoft Encarta. 26 Aug. 2008.  
 
--
8*- Imai, K. (2006). Culture, civilization, or economy? Test of the clash of civilizations thesis. International Journal on World Peace, XIII(3), 3-26.

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