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discursao e experiencia

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2. DISCUSSÃO DA EXPERIÊNCIA
É essencial termos um olhar diferenciado ao paciente, sempre focados no seu bem estar, dado que a hospitalização é vista de forma singular por cada pessoa. O ambiente hospitalar tem suas regras, normas, rotinas e seus procedimentos dolorosos e invasivos. É de extrema importância, intervir de maneira eficaz para a obtenção de resultados positivos em relação às queixas expostas pelo paciente. Não há intervenções sem pesquisas, deve-se conhecer sobre o sujeito e suas opiniões em relação ao espaço inserido. Não é possível fazer sem antes conhecer, todavia, não se trata de pesquisar para intervir, mas fazer com que esse processo aconteça junto, de forma que sejam articulados e que um potencialize o outro.
Escutar o paciente é um meio de intervenção, pois traz segurança ao hospitalizado transferindo a ele a percepção de que há alguém disposto a ajuda-lo compreender as questões que lhe traz sofrimento, diminuindo ansiedades. É através da escuta que damos o acolhimento e cumprimos o nosso dever de valorizar o sujeito e respeitar suas singularidades, produzindo saúde de forma integra. Mas para agirmos através da escuta é preciso que o interno fale. Freud (1980) argumenta sobre a ação de ajudar as pessoas a encontrarem a magia das palavras, e em suas atuações clínicas ele mostrava tais intervenções. No atendimento hospitalar devem-se traçar essas estratégias, levando o paciente ao discurso. É no falar que o sujeito traz seu sofrimento e desata angustias. Na psicologia hospitalar percebe-se a técnica da associação livre – técnica introduzida por Freud em suas análises clínicas – onde o psicólogo no primeiro momento escuta livremente o paciente sem dar ênfase na demanda levantada para tal atendimento. O profissional deve escutar o que o hospitalizado fala, e não somente seu discurso sobre a doença, “as doenças não falam, doentes sim.” (SIMONETTI, 2004, p. 116). Significando que o psicólogo por estar inserido no contexto hospitalar não precisa direcionar a conversa para assuntos referentes ao adoecimento, pois apenas repetiria o discurso médico que impõe limites à fala do enfermo aos seus sintomas. 
O psicólogo faz perguntas objetivas ao paciente sobre o assunto que parece mais acessível: a doença, o motivo da internação, os remédios, onde mora, profissão, estado civil, política, futebol, etc. Virtualmente qualquer coisa serve: o importante é colocar em andamento o vínculo paciente-psicólogo e estimular a elaboração psíquica por meio da fala. (SIMONETTI, 2004, p. 117).
O encontro com o paciente é visto como uma entrevista e nela, assim como no falar livremente, as perguntas não buscam só o colhimento de dados, mas construir um vínculo, e estimular o elaborar psíquico através do discurso. A representação desta entrevista ao paciente como uma conversa descontraída faz com ele se sinta à vontade diante do profissional e exponha a problemática. 
O psicólogo hospitalar atua além das expectativas de cura, pois ele busca ver a pessoa como um todo, com foco no sujeito e não somente na doença, ele vai além da cura, pois o paciente também tem sintomas como angústia, traumas, medos, as consequências reais ou imaginárias, que só é percebida quando ele começa a desabafar e a falar sobre o que realmente está te incomodando. Segundo Speroni (2006), o lugar do psicólogo hospitalar “consiste, portanto, essencialmente em um lugar de escuta, mas de uma escuta diferenciada e privilegiada, na medida em que é a porta de entrada para um mundo de significados e sentidos”. Portanto, os pacientes devem ser ouvidos a partir de uma escuta diferenciada respaldada na ética, no respeito e no sigilo. Esse método incentiva uma melhor comunicação como uma estratégia e compreensão mais clara das preocupações pessoais do sujeito. O diagnóstico só é obtido com êxito quando o psicólogo direciona e media seu tratamento sob a luz da escuta e seus esclarecimentos.
O atendimento que foi solicitado pela médica, a um paciente, que segundo ela, estaria triste, com a hipótese de ser pela preocupação da doença e repúdio da dependência do aparelho para auxiliar na respiração, feito ao senhor E. R, 67 anos, hospitalizado devido à dificuldade respiratória, referida como dispneia intensa, submetido ao procedimento cirúrgico traqueostomia. No momento do atendimento o paciente encontrava-se lúcido, orientado quanto ao motivo da internação, acompanhado da esposa, ansioso pelo recebimento da alta hospitalar, sem queixas, apresentado melhoras no quadro de saúde, extremamente fragilizado e preocupado devido aos problemas familiares.
Seguindo a orientação feita para o paciente, nesse momento de hospitalização, o paciente deveria priorizar sua saúde e recuperação, pois os pensamentos e preocupações externas, no momento dificultaria sua melhora. O paciente demostrou seus sentimentos através da emoção, por gestos tais como choro, abraço e concordância às direções propostas. Observa-se também a preocupação e arrependimento da acompanhante ao trazer as questões externas para o esposo. Levantam-se hipóteses para compreender o porquê da exposição dos problemas familiares ao paciente doente. Visto que neste momento não só o enfermo precisa de ajuda, mas também a família, onde ela se sente insegura, ansiando por um apoio efetivo e por uma compreensão profunda da situação. Pressupõe-se também a função do interno no contexto familiar, onde ele fora do ambiente hospitalar é quem resolve junto aos parentes ou/e sozinho, todas as questões referentes à família e por esse motivo, no momento de sua hospitalização, os familiares desorientados em relação aos problemas, trazem a demanda ao paciente almejando por um retorno do mesmo quanto a solução desses conflitos.
Apesar de o adoecer ser parte integrante da vida do humano, não é sempre que se inclui na vida de cada ser . A surpresa com o defrontar-se com um parente próximo com necessidade de atendimento médico, deixa claro esta cisão entre saúde e doença, binômio inseparável quando se fala de vida. Grande parte da população não está preparada para o não funcionamento orgânico adequado, e a estrutura psicológica, em muitos casos, se abala frente a esta experiência existencial: o adoecer. (LUSTOSA, 2007)
 A presença do psicólogo nesse contexto é fundamental, onde ele deve identificar a natureza da ansiedade e auxiliar no esclarecimento de dúvidas entre o grupo familiar, levando à exterminação ou diminuição da mesma. Também cabe ao profissional, a aproximação dos familiares a equipe multidisciplinar facilitando o diálogo, e resultando na contribuição para o tratamento do membro carecido.
Após a realização do atendimento, foi possível compreender a importância da comunicação e do atendimento humanizado ao paciente e também do membro da família. Nota-se que essa situação estava sendo estressante para ambos, e que os profissionais estavam ligando a tristeza do paciente a sua situação de internação, sendo que o real motivo eram os assuntos externos. Ao ouvir cada membro, a verdadeira situação aparece de forma nítida, demonstrando a real angústia que se passa no sujeito. Essa escuta é um instrumento indispensável para o cuidado, buscando trazer uma assistência diferenciada. Se a comunicação e a escuta, ocorrerem de uma maneira eficiente será possível estabelecer um melhor cuidado, e como resultado, uma assistência de qualidade.
Ocorre a humanização no hospital, quando se tem uma tentativa de melhorar a assistência aos pacientes e seus familiares e sustentar as condições de trabalho de toda a equipe profissional (SANTOS; TOLEDO; SILVA, 1999). Sendo assim, o tratamento humanizado no ambiente hospitalar pode conciliar a tecnologia e ferramentas usadas pelos profissionais da saúde, juntamente ao acolhimento, a escuta, respeito ético ao paciente e seus parentes. O psicólogo hospitalar é como mediador da humanização entre o hospital, o paciente e os profissionais de saúde. Desta forma, a psicologia pode contribuir através de intervenções com os demais funcionários, onde o psicólogo pode atuarcom a melhoria de formas de enfrentamento mais adequadas, seja no cuidado diário ao paciente e suas famílias até em situação de maior gravidade (KNOBEL, 2008). Conclui-se a importância da psicologia dentro do Hospital visto que sua atuação demonstra inúmeras utilidades dentro deste âmbito.

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