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Relação Médico-Paciente

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O encontro entre o paciente e o médico desperta uma 
grande variedade de sentimentos e emoções, 
configurando uma relação humana especial, designada 
como relação médico-paciente. 
O simples fato de estar diante de um médico pode 
despertar, questões de ordem emocional. Nessa relação 
está inserida uma grande carga de angústia, medo, 
incerteza, amor, ódio, insegurança. 
É indispensável a aquisição de conhecimentos básicos das 
Humanidades (antropologia, psicologia, sociologia e outras), 
pois a relação médico-paciente ultrapassa o âmbito dos 
fenômenos biológicos. 
Relação Médico-Paciente e Princípios Bioéticos 
É importante compreender que princípios bioéticos e 
virtudes morais são partes indissociáveis do exame clínico 
e estão no núcleo da relação médico-paciente. 
Princípios bioÉticos segundo Beauchamp e Chidress 
Beneficência: buscar fazer sempre o bem para o paciente. 
Não maleficência: não fazer nada de mal ao paciente. 
 
Justiça: fazer sempre o que é justo ao paciente. 
Autonomia: possibilitar que o paciente decida sobre o 
tratamento. 
Para Beauchamp e Chidress, a justiça é entendida como 
“justiça distributiva”, a qual se relaciona com uma 
distribuição igual equitativa e apropriada de tudo que diz 
respeito à saúde para os membros da sociedade. 
Ao examinar o paciente, o médico precisa levar em conta 
o gênero e a orientação sexual, a cor, as questões morais, 
sociais e, em alguns casos, sua opção religiosa. É 
imprescindível que esses fatores, determinantes para o 
diagnóstico, tratamento e prognóstico, não sejam 
tomados como elementos para discriminar o paciente. 
Tratá-lo com justiça é, portanto, exercício necessário 
para garantir uma atitude ética do futuro médico e, 
sobretudo, possibilitar que o estudante respeite a 
dignidade humana, pautada nos direitos humanos, os quais 
constituem os fundamentos da medicina humanizada. 
A justiça é o pilar da equidade, e esta a base do 
atendimento médico. Embora a palavra equidade, do 
ponto de vista etimológico, aproxime-se de igualdade, há 
um elemento primordial que as diferencia. Por isso, a 
equidade deve ser conceituada como “tratar de forma 
desigual os desiguais”, na tentativa de oferecer 
oportunidades semelhantes a toda a sociedade. 
 
O processo pelo qual os médicos e os pacientes tomam 
decisões tem como base o consentimento informado que 
é fruto do princípio da autonomia. 
De acordo com a Resolução no 1.995, aprovada pelo 
Conselho Federal de Medicina e publicada no Diário Oficial 
da União em 31 de agosto de 2012, os pacientes poderão 
registrar em prontuário a quais procedimentos querem 
ser submetidos 
Valores BioÉticos 
Alteridade: respeitar a diferença no outro. 
Sigilo: respeitar o segredo sobre as informações do 
paciente. 
Em 2010 foi estabelecida a Política Nacional de Saúde 
Integral de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e 
Transexuais que determina um atendimento adequado 
dentro dos princípios e valores bioéticos aos sujeitos que 
se encontram neste amplo cenário de discriminação 
social e vulnerabilidade. Portanto, os profissionais da saúde 
não podem se furtar de conhecer e praticar tal premissa 
posta em lei ao atender a população LGBT. 
A necessidade de prevenção contra possíveis demandas 
judiciais envolvendo atos médicos é um importante 
aspecto que também justifica o ensino-aprendizagem dos 
princípios bioéticos. A boa relação médico-paciente é por 
si só uma atitude preventiva que evita mal-entendidos que 
podem evoluir para situações muito desagradáveis e 
desgastantes para o médico. 
Na prática, o que mantém os vínculos afetivos na 
profissão médica são a confiança, a empatia, a integridade 
e a compaixão. O médico não deve se esquecer de que 
quem o procura é um paciente e não uma doença. E ele 
o faz em função da dor e do sofrimento. 
Nas últimas Diretrizes Curriculares Nacionais para os 
cursos de graduação em medicina, o ensino das 
humanidades, visando ao desenvolvimento da relação 
médico-paciente e do conhecimento do lado humano da 
prática médica, tornou-se obrigatório, abandonando 
claramente o modelo biomédico. 
Aspectos Psicodinâmicos da Relação Médico-Paciente 
A relação médico-paciente é assimétrica por natureza. 
Pressupõe-se que o profissional tenha conhecimento científico 
sobre os aspectos da doença e que o paciente domine apenas 
os conceitos do senso comum. Entretanto, a assimetria desta 
relação tem sido reduzida pela facilidade de acesso do paciente 
às informações científicas por intermédio das várias mídias. 
Ensino/ Aprendizagem da Relação Médico-Paciente 
Semiologia Médica – Porto & Porto 8º edição 
@jumorbeck 
A informação adquirida por meio da internet e de reportagens 
veiculadas em televisão, revistas ou jornais muitas vezes pode 
causar algum impacto no médico ou mesmo criar atritos na 
relação entre o profissional e o paciente. 
ClassificaÇÃo da relaÇÃo mÉdico-paciente (Veatche, 
1983) 
Modelo paternalista ou sacerdotal: O médico toma as 
decisões em nome da beneficência sem valorizar os 
valores, a cultura e a opinião do paciente, que se coloca 
em uma posição de completa submissão. 
Modelo tecnicista ou engenheiral: O médico informa e 
executa os procedimentos necessários, mas deixa a 
decisão inteiramente sob a responsabilidade do paciente. 
Modelo colegial ou igualitário: O médico adota a falsa 
posição de “colega” do paciente, não levando em conta a 
inevitável assimetria desta relação. 
Modelo contratualista. As habilidades e os conhecimentos 
do médico são valorizados, preservando sua autoridade, 
mas deseja e valoriza a participação ativa do paciente que 
vai resultar em uma efetiva troca de informações e um 
comprometimento de ambas as partes. 
 
Características do encontro médico-paciente: 
Médico ativo/paciente passivo: o paciente abandona-se 
por completo e aceita passivamente os cuidados médicos, 
sem mostrar necessidade ou vontade de compreendê-
los. 
Médico direciona/paciente colabora: o profissional assume 
seu papel de maneira, até certo ponto, autoritária. O 
paciente compreende e aceita tal atitude, procurando 
colaborar. 
Médico age/paciente participa ativamente: o profissional 
define os caminhos e os procedimentos, e o paciente 
compreende e atua conjuntamente. 
Médico cuidador, segundo Winnicott, diferencia-se de 
médico curador, exatamente pela capacidade humana de 
atender seu paciente, de modo global e holístico, 
ampliando o conceito do médico que se envolve somente 
com a cura da doença, o que frequentemente não é 
alcançado, originando profunda frustração. 
Transferência, contratransferência e resistência 
Os principais fenômenos psicodinâmicos da relação 
médico-paciente são os mecanismos de transferência e 
contratransferência. Tais conceitos provêm da psicanálise 
e, na prática médica, constituem um arsenal terapêutico 
que independe de técnicas psicoterápicas especiais e que 
é indissociável do trabalho de qualquer médico. 
Transferência Transferência diz respeito aos 
fenômenos afetivos que o paciente 
passa (transfere) para a relação que 
estabelece com o médico ou o 
estudante. São sentimentos 
inconscientes vividos no âmbito de 
seus relacionamentos primários com 
os pais, irmãos e outros membros da 
família. 
Resistência Chama-se resistência qualquer fator 
ou mecanismo psicológico 
inconsciente que comprometa ou 
atrapalhe a relação médico-paciente 
Contratransferência Os fenômenos relatados também 
ocorrem em sentido contrário, ou 
seja, do médico (ou do estudante), 
para o paciente, sendo denominados 
contratransferência, ou seja, é a 
passagem de aspectos afetivos do 
médico ou do estudante para o 
paciente. 
 
O médico 
Apesar da aparente primazia de todo o tecnicismo 
existente na área da medicina, a parte mais importante 
do exercício profissional do médico ainda é o exame 
clínico. 
Na primeira consulta, uma palavra ou um gesto 
inadequado pode deteriorar a relação entre médico e 
paciente e aumentar os padecimentos deste último.Isso 
acontece frequentemente quando os aspectos 
psicológicos não são valorizados. Compete ao profissional 
direcionar este encontro a fim de torná-lo o menos 
angustiante possível. Ele tem capacidade para interpretar 
fatos e conhecimentos que o paciente geralmente não 
tem – e é tal característica que o coloca na condição de 
dirigente do encontro clínico, posição que deve assumir, 
compreendendo, encorajando e respeitando o paciente. 
Contudo, embora detentor dessas informações e 
instrumentalizado para dirigir o encontro, o médico não 
pode se furtar de compreender e respeitar os aspectos 
culturais de seu paciente, tampouco pressupor que ele 
nada saiba sobre sua doença. 
Não se pode esquecer que boa parte dos pacientes se 
dirige ao médico buscando não apenas alívio físico, mas 
também auxílio emocional. Além dos conflitos psíquicos 
que se exprimem pelos sintomas somáticos, pode haver 
sofrimento psíquico originado de doenças crônicas. Com 
muita frequência, os sofrimentos físico e psíquico 
aparecem estreitamente relacionados, não sendo possível 
diferenciar um do outro. 
@jumorbeck 
Padrões de comportamento dos médicos 
Dado considerado importante com relação a esta 
profissão é a capacidade de engagement, entendida 
como personalidade persistente. Traduz a capacidade 
inerente à pessoa de se engajar no trabalho, sentindo 
satisfação pelo que desenvolve. Médicos mais engajados 
têm menos risco de sofrer burnout do que os que não 
sentem satisfação no trabalho. 
Ao lado da competência científica, ou seja, o 
conhecimento da ciência médica, ele precisa ter algumas 
características que são fundamentais, destacando-se o 
interesse por seus semelhantes, respeito pela pessoa 
humana, espírito de solidariedade, capacidade de 
compreender o sofrimento alheio (compaixão ou 
empatia) e vontade de ajudar 
PadrÕes de comportamento e caracterÍsticas da 
relaÇÃo mÉdico-paciente 
Padrão inseguro A insegurança, na maioria das 
vezes, é um traço de 
personalidade. 
Padrão autoritário Sempre impõe suas decisões. 
Médico sem vocação Desenvolve mecanismos – 
inconscientes ou claramente 
propositais – que inibem o 
paciente. 
Padrão otimista Não vê gravidade em nada, tudo 
lhe parece simples e sem 
gravidade. 
Padrão “rotulador” Tem sempre pronto um 
diagnóstico rotulado que agrada o 
paciente. 
Padrão “especialista” Não consegue ver o paciente 
como um todo. 
Padrão pessimista Vê maior gravidade nas doenças 
que a real. 
Padrão “frustrado” Quase sempre pessimista, pode 
tornar-se agressivo com os 
pacientes. 
Padrão agressivo A hostilidade pode se revelar em 
palavras ofensivas, porém é mais 
comum disfarçar-se como mau 
atendimento. 
Padrão paternalista Adota atitudes protetoras. 
 
O “médico ideal”, portanto, seria aquele que tem uma 
personalidade amadurecida, conhece e domina os 
mecanismos psicológicos envolvidos na relação médico-
paciente, dispõe de conhecimentos adequados da ciência 
médica e sabe aplicá-los dentro de uma visão humanística. 
 
O paciente 
O ser humano é uma unidade biopsicossocial e espiritual, 
e seus aspectos afetivos são o que mais o diferenciam 
dos outros animais. O paciente é um ser humano, com 
uma identidade de gênero e uma determinada orientação 
sexual, de certa idade, com uma história individual e uma 
personalidade exclusiva. Para avaliá-lo, o médico se vale 
de sua capacidade de sentir e de estabelecer um 
relacionamento positivo ou favorável, ou seja, é preciso 
que tenha empatia e compaixão. 
Padrões de comportamento dos pacientes 
As pessoas se comportam de maneiras diversas, em 
função de seu temperamento, suas condições culturais, 
modo de viver e circunstâncias do momento 
Todas as enfermidades têm um componente afetivo, e, 
ao adoecer, o indivíduo acentua os traços de sua 
personalidade e expressa no bojo de seu quadro clínico 
seus distúrbios emocionais. 
Paciente ansioso 
A ansiedade é descrita como uma inquietação interna, um 
sentimento negativo em relação ao futuro, uma sensação 
de medo inexplicável, “contagiosa” e envolvente, que 
passa facilmente para os familiares, causando, por meio 
de um mecanismo de círculo vicioso, maior aflição no 
paciente. 
Além de reconhecer a ansiedade, o médico deve estar 
preparado para lidar com a situação. É necessário 
demonstrar segurança e tranquilidade, conduzindo a 
entrevista sem precipitar a indagação de fatos que 
possam avivar ainda mais esse sentimento. 
Na verdade, nestas horas, saber escutar é mais 
importante do que saber perguntar. 
Paciente deprimido 
O paciente deprimido tem como principal característica o 
humor triste. 
Apresenta desinteresse por si mesmo e pelas coisas que 
acontecem ao seu redor. Tem forte tendência a isolar-se 
e, durante a entrevista, reluta em descrever seus 
padecimentos, respondendo pela metade às perguntas 
feitas a ele ou permanecendo calado. Apresenta-se 
geralmente descuidado, irritado, entediado ou apático. É 
comum que fique cabisbaixo, os olhos sem brilho e a face 
exprimindo tristeza. Não raramente cai em pranto durante 
o exame. 
@jumorbeck 
Ao atender o paciente deprimido, é sempre necessário 
avaliar o tipo de depressão e a sua gravidade, dado o 
risco de suicídio. A maioria das pessoas que se suicida 
apresenta transtorno depressivo ou bipolar. Embora a 
ideação suicida ocorra com muita intensidade no 
momento de depressão, o suicídio exitoso geralmente 
ocorre no período de melhora do humor. 
Paciente hostil 
A hostilidade pode ser percebida à primeira vista, após as 
primeiras palavras, ou pode ser velada, traduzida em 
respostas reticentes e insinuações mal disfarçadas. É 
comum que a agressividade dissimule insegurança, ou 
seja, uma defesa contra a ansiedade, podendo ainda ser 
uma manifestação de humor depressivo ou uma luta 
interna de poder com o médico. 
O paciente inevitavelmente hostil é aquele que foi levado 
ao médico contra sua vontade por insistência dos 
familiares, como no caso de alguns idosos ou 
adolescentes. 
Paciente sugestionável 
O paciente sugestionável costuma ter excessivo medo 
de adoecer, vive procurando médicos, pesquisando nos 
sites relacionados à saúde e realizando exames para 
confirmar sua higidez, mas, ao mesmo tempo, teme 
exageradamente a possibilidade de os exames 
mostrarem alguma enfermidade. 
Paciente hipocondríaco 
O paciente hipocondríaco, “paciente que não tem nada”, 
como os médicos costumam dizer, ou ainda, como Balint 
denomina, o paciente do “envelope gordo” (uma 
referência ao prontuário grosso devido a várias consultas 
e muitos exames) está sempre se queixando de 
diferentes sintomas. Ouvi-lo com paciência e 
compreensão e expressar opiniões claras e seguras são 
condições fundamentais para aliviar a ansiedade desses 
pacientes e ajudá-los a superar seus problemas de saúde. 
Paciente eufórico 
O paciente eufórico apresenta exaltação do humor. Fala 
e movimenta-se demasiadamente. Sente-se muito forte 
e sadio e fica fazendo referências às suas qualidades. Seu 
pensamento é rápido, muda de assunto inesperadamente, 
podendo haver dificuldade de ser compreendido. O 
médico faz uma pergunta, ele inicia a resposta, mas logo 
desvia seu interesse para outra questão e continua 
falando (fuga de ideias). 
Paciente inibido 
O paciente inibido ou tímido não encara o médico, senta-
se à beira da cadeira e fala baixo. 
Não é difícil notar que ele não está à vontade naquele 
lugar e naquele momento. Não se deve confundir timidez 
com depressão. 
Os pacientes pobres e os da zona rural, ao se deslocarem 
para uma cidade grande e entrarem em um ambiente 
diferente – carpetes, secretárias, interfones, 
computadores, ar condicionado, mobiliário moderno –, 
podem ficar inibidos. A tendência desses pacientes é falar 
pouco e responder afirmativamente – para agradar ao 
médico – às perguntas que lhes são formuladas. São as 
maiores vítimas dos médicos autoritários. 
Paciente psicótico 
Estabelecer uma relação com o paciente psicótico 
costumaser difícil para o estudante ou até mesmo para 
o médico pouco experiente nesta área. 
O psicótico vive em um mundo fora da realidade do 
médico. Alucinações, delírios, pensamentos 
desorganizados colocam o paciente em uma posição de 
difícil acesso. 
Os pacientes psicóticos foram por muito tempo 
estigmatizados por serem considerados “loucos”. O 
conceito de doença mental tem modificado e os 
pacientes passaram a ser mais bem compreendidos. 
Paciente surdo 
A comunicação entre o médico e um paciente que não 
escuta, e, consequentemente, não fala, depende do 
interesse do primeiro e da inteligência do segundo. 
Atualmente tem sido dada ênfase ao aprendizado da 
Linguagem Brasileira de Sinais (Libras). A avaliação das 
escolas médicas pelo Ministério da Educação prevê o 
ensino desta linguagem como um item a ser valorizado. 
Também os pacientes que se tornaram surdos ao longo 
do tempo (idosos, perda da audição por doença 
degenerativa ou trauma) requerem uma comunicação 
especial. Falar pausadamente, olhando nos olhos do 
paciente, pronunciando cuidadosamente as palavras, 
evitando gritar, pode facilitar a comunicação, permitindo 
que este faça uma leitura labial. 
Atualmente já se conta com aplicativos em smartphones 
que auxiliam a comunicação com pessoas surdas, seja por 
@jumorbeck 
gestos ou mesmo por Libras. Os estudantes devem 
baixá-los em seus celulares para facilitar a anamnese 
destes pacientes. 
Pacientes especiais 
A todo momento, o médico entra em contato com 
pessoas de inteligência reduzida ou vítimas de alienação 
devido às péssimas condições socioeconômicas a que 
estão subjugadas. É necessário reconhecê-las para adotar 
uma linguagem mais simples, adequada ao nível de 
compreensão do paciente. Do contrário, este se retrairá 
ou dará respostas despropositadas, pelo simples fato de 
não estar compreendendo a linguagem. Podem preferir 
calar-se, não deixando transparecer sua incapacidade de 
entender o médico. 
Paciente em estado grave 
Ao entrevistá-lo, as perguntas devem ser simples, diretas 
e objetivas, pois sua capacidade de colaborar está 
diminuída. Para a realização do exame físico, respeitam-
se suas conveniências quanto à posição no leito e à 
dificuldade ou impossibilidade para sentar-se ou levantar-
se. Levam-se ainda em consideração cateteres, sondas e 
outros dispositivos que possam estar ligando o paciente a 
determinados maquinários. Muitas vezes, solicita-se a 
ajuda de um parente ou enfermeiro para virá-lo na cama 
ou recostá-lo. Tudo é feito com permanente 
preocupação de não agravar seu sofrimento. 
Paciente fora de possibilidades terapêuticas 
Conceituar paciente terminal, atualmente denominado 
“fora de possibilidades terapêuticas”, é uma tarefa difícil. 
Em senso estrito, é aquele que sofre de uma doença 
incurável em fase avançada, para a qual não há recursos 
médicos capazes de alterar o prognóstico de morte em 
curto ou médio prazo. Os exemplos mais frequentes são 
as neoplasias malignas avançadas, as cardiopatias graves, 
as nefropatias com insuficiência renal em estágios 
avançados, a AIDS em sua fase final. 
Contribuição relevante nesta área foi dada pela psiquiatra 
Elizabeth Kübler-Ross. Após conviver com centenas de 
pacientes terminais, ela pôde distinguir cinco fases pelas 
quais passam estas pessoas ao terem consciência de que 
caminham para a morte. 
➢ Negação: . O paciente usa todos os meios para 
não saber o que está acontecendo com ele. É 
comum que diga “não é possível que isso esteja 
acontecendo comigo!”. Frequentemente 
procura outros médicos ou refaz exames na 
tentativa de encontrar outra explicação para o 
caso 
➢ Raiva: A pessoa que até então negava sua 
realidade começa a aceitá-la como concreta, 
mas passa a agredir os familiares e os 
profissionais que lhe prestam assistência. Alguns 
se revoltam contra Deus, expressam 
desencanto, proferem blasfêmias. 
➢ Negociação: Depois de negar e protestar, o 
paciente procura uma solução para seu 
problema. Promessas de mudança de vida, 
reconciliação com pessoas da família, busca de 
Deus compõem suas atitudes nessa fase de 
negociação, na qual o médico pode ter papel 
muito ativo, apoiando e conversando 
abertamente com ele. 
➢ Depressão: Nesta fase o paciente questiona toda 
a sua vida, seus valores, aspirações, desejos, 
ambições, sonhos. Ele costuma manifestar a 
vontade de ficar só e em silêncio. Deixa de ter 
interesse por assuntos corriqueiros – negócios, 
problemas familiares – aos quais dava grande 
importância. O médico que saiba compreender 
o que o paciente está passando neste momento 
é decisivo para o alívio de suas angústias. É 
desnecessário se expressar com palavras duras. 
Mas a verdade precisa imperar na relação do 
médico com o paciente e a família. 
➢ Aceitação: este processo é basicamente o 
encontro do paciente com seu mundo interior. 
Perceber a realidade não é desistir da luta ou 
sentir-se derrotado. É a plena consciência de um 
fato – a morte próxima – como parte de seu 
ciclo vital. 
A descrição proposta por Kübler-Ross é válida por 
apresentar referências compreensíveis dentro da 
complexidade destes fenômenos. Mas, é preciso saber 
que nem sempre as fases se sucedem nesta ordem. Há, 
também, possibilidade de que o paciente não viva 
determinada fase. Há momentos nos quais o paciente, em 
vez de avançar na busca da aceitação, regride às fases 
da negação ou da raiva. 
Crianças e adolescentes 
A criança é um ser único, com etapas de 
desenvolvimento bem definidas, e não um “adulto 
pequeno”. Ao atender uma criança, o médico deverá ter 
conhecimento básico de crescimento e desenvolvimento 
@jumorbeck 
não só do ponto de vista orgânico, mas também do ponto 
de vista emocional. 
Relacionar-se com crianças implica uma relação com toda 
a família. A criança não procura o médico sozinha, o faz 
acompanhada do pai, mãe, avós, tios, irmãos ou outros 
adultos. 
Na relação médico-paciente adolescente há muitas 
peculiaridades e envolve aspectos de difícil manuseio 
pelos médicos e estudantes – sexo, drogas ilícitas, 
gravidez precoce, alterações corporais (tatuagens, uso de 
piercings). 
Frente ao alarmante número de crianças desaparecidas, 
o Conselho Federal de Medicina se associou a outras 
instituições públicas, civis e religiosas, no sentido de ajudar 
a identificar as crianças e adolescentes sequestrados. É 
necessário que os médicos e os estudantes de medicina 
sigam as “dicas” expostas no portal do Conselho Federal 
de Medicina e se engajem na referida campanha. 
Idosos 
O comportamento dos idosos varia muito em função de 
seu temperamento, sendo, talvez, em boa parte, um 
reflexo do que a vida lhes propiciou. 
O paciente idoso precisa sentir desde o primeiro 
momento que está recebendo atenção e respeito, pois 
costuma ter certa amargura e uma dose de pessimismo 
diante de todas as coisas da vida; às vezes, torna-se 
indiferente e arredio, principalmente diante do jovem 
médico que está fazendo sua iniciação clínica. 
A família 
A efetivação da proposta do Sistema Único de Saúde 
(SUS), de implantação da Estratégia de Saúde da Família 
(ESF) em todo o território nacional, coloca o médico e o 
estudante, principalmente, frente a um novo “paciente” – 
a família. 
Nessa nova circunstância tudo é diferente: surge o 
conceito de “consulta domiciliar”, estratégias de 
abordagem domiciliar, consultas coletivas e até uma 
reflexão sociológica já demonstrada em pesquisas: o 
animal de estimação ou pet (gato, cão) como membro 
da família. 
O atendimento centrado na pessoa é integrado por seis 
componentes interativos são descritos a seguir: 
➢ Explorar a doença e a experiência da doença; 
➢ Entender a pessoa como um todo; 
➢ Elaborar um plano conjunto de manejo dos 
problemas; 
➢ Incorporar a prevenção de doenças e a 
promoção de saúde; 
➢ Intensificar o relacionamento entre a pessoa 
atendida e o médico; 
➢ Ser realista; 
Curso de Medicina como fonte de ansiedade 
O estudantedescobre que, para numerosas doenças não 
existe tratamento eficaz, e que o médico nada mais faz 
que promover alívio aos sintomas e acompanhar a 
evolução da doença. Este fato causa profunda decepção 
aos que, em suas fantasias de adolescentes, idealizam o 
médico como um profissional quase onipotente, capaz de 
influir decisivamente sobre a vida e a saúde das pessoas. 
Então sentem-se frustrados, como alguém que foi 
ludibriado na escolha de sua carreira. É necessário 
maturidade para superar esse sentimento de frustração 
e adaptar-se à realidade da profissão médica. 
Outra causa frequente de ansiedade nos estudantes é 
verificar o valor relativo de toda afirmação em medicina, 
ou seja, nada existe de absoluto ou de definitivo. Os 
mesmos sintomas podem decorrer de doenças 
diferentes, enquanto uma mesma doença pode produzir 
sintomas diversos. Cada paciente é um universo particular 
com apenas alguma semelhança com o próximo. Cada 
um responde de maneira diferente ao mesmo 
tratamento. 
Nunca se esquecer que as doenças podem ser 
semelhantes, mas os pacientes nunca são iguais 
Assim como um menor não responde pelos seus atos 
perante a lei, também o estudante de medicina não é 
responsável pelos atos médicos que pratica. Toda 
atividade que desempenha, ele o faz por delegação de 
função e sob a responsabilidade única e exclusiva dos 
docentes. Ao mesmo tempo que desenvolve seus 
conhecimentos e habilidades, igualmente se familiariza 
com as questões de ética médica e com os deveres da 
profissão. 
 
 
 
@jumorbeck

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