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O encontro entre o paciente e o médico desperta uma grande variedade de sentimentos e emoções, configurando uma relação humana especial, designada como relação médico-paciente. O simples fato de estar diante de um médico pode despertar, questões de ordem emocional. Nessa relação está inserida uma grande carga de angústia, medo, incerteza, amor, ódio, insegurança. É indispensável a aquisição de conhecimentos básicos das Humanidades (antropologia, psicologia, sociologia e outras), pois a relação médico-paciente ultrapassa o âmbito dos fenômenos biológicos. Relação Médico-Paciente e Princípios Bioéticos É importante compreender que princípios bioéticos e virtudes morais são partes indissociáveis do exame clínico e estão no núcleo da relação médico-paciente. Princípios bioÉticos segundo Beauchamp e Chidress Beneficência: buscar fazer sempre o bem para o paciente. Não maleficência: não fazer nada de mal ao paciente. Justiça: fazer sempre o que é justo ao paciente. Autonomia: possibilitar que o paciente decida sobre o tratamento. Para Beauchamp e Chidress, a justiça é entendida como “justiça distributiva”, a qual se relaciona com uma distribuição igual equitativa e apropriada de tudo que diz respeito à saúde para os membros da sociedade. Ao examinar o paciente, o médico precisa levar em conta o gênero e a orientação sexual, a cor, as questões morais, sociais e, em alguns casos, sua opção religiosa. É imprescindível que esses fatores, determinantes para o diagnóstico, tratamento e prognóstico, não sejam tomados como elementos para discriminar o paciente. Tratá-lo com justiça é, portanto, exercício necessário para garantir uma atitude ética do futuro médico e, sobretudo, possibilitar que o estudante respeite a dignidade humana, pautada nos direitos humanos, os quais constituem os fundamentos da medicina humanizada. A justiça é o pilar da equidade, e esta a base do atendimento médico. Embora a palavra equidade, do ponto de vista etimológico, aproxime-se de igualdade, há um elemento primordial que as diferencia. Por isso, a equidade deve ser conceituada como “tratar de forma desigual os desiguais”, na tentativa de oferecer oportunidades semelhantes a toda a sociedade. O processo pelo qual os médicos e os pacientes tomam decisões tem como base o consentimento informado que é fruto do princípio da autonomia. De acordo com a Resolução no 1.995, aprovada pelo Conselho Federal de Medicina e publicada no Diário Oficial da União em 31 de agosto de 2012, os pacientes poderão registrar em prontuário a quais procedimentos querem ser submetidos Valores BioÉticos Alteridade: respeitar a diferença no outro. Sigilo: respeitar o segredo sobre as informações do paciente. Em 2010 foi estabelecida a Política Nacional de Saúde Integral de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais que determina um atendimento adequado dentro dos princípios e valores bioéticos aos sujeitos que se encontram neste amplo cenário de discriminação social e vulnerabilidade. Portanto, os profissionais da saúde não podem se furtar de conhecer e praticar tal premissa posta em lei ao atender a população LGBT. A necessidade de prevenção contra possíveis demandas judiciais envolvendo atos médicos é um importante aspecto que também justifica o ensino-aprendizagem dos princípios bioéticos. A boa relação médico-paciente é por si só uma atitude preventiva que evita mal-entendidos que podem evoluir para situações muito desagradáveis e desgastantes para o médico. Na prática, o que mantém os vínculos afetivos na profissão médica são a confiança, a empatia, a integridade e a compaixão. O médico não deve se esquecer de que quem o procura é um paciente e não uma doença. E ele o faz em função da dor e do sofrimento. Nas últimas Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos de graduação em medicina, o ensino das humanidades, visando ao desenvolvimento da relação médico-paciente e do conhecimento do lado humano da prática médica, tornou-se obrigatório, abandonando claramente o modelo biomédico. Aspectos Psicodinâmicos da Relação Médico-Paciente A relação médico-paciente é assimétrica por natureza. Pressupõe-se que o profissional tenha conhecimento científico sobre os aspectos da doença e que o paciente domine apenas os conceitos do senso comum. Entretanto, a assimetria desta relação tem sido reduzida pela facilidade de acesso do paciente às informações científicas por intermédio das várias mídias. Ensino/ Aprendizagem da Relação Médico-Paciente Semiologia Médica – Porto & Porto 8º edição @jumorbeck A informação adquirida por meio da internet e de reportagens veiculadas em televisão, revistas ou jornais muitas vezes pode causar algum impacto no médico ou mesmo criar atritos na relação entre o profissional e o paciente. ClassificaÇÃo da relaÇÃo mÉdico-paciente (Veatche, 1983) Modelo paternalista ou sacerdotal: O médico toma as decisões em nome da beneficência sem valorizar os valores, a cultura e a opinião do paciente, que se coloca em uma posição de completa submissão. Modelo tecnicista ou engenheiral: O médico informa e executa os procedimentos necessários, mas deixa a decisão inteiramente sob a responsabilidade do paciente. Modelo colegial ou igualitário: O médico adota a falsa posição de “colega” do paciente, não levando em conta a inevitável assimetria desta relação. Modelo contratualista. As habilidades e os conhecimentos do médico são valorizados, preservando sua autoridade, mas deseja e valoriza a participação ativa do paciente que vai resultar em uma efetiva troca de informações e um comprometimento de ambas as partes. Características do encontro médico-paciente: Médico ativo/paciente passivo: o paciente abandona-se por completo e aceita passivamente os cuidados médicos, sem mostrar necessidade ou vontade de compreendê- los. Médico direciona/paciente colabora: o profissional assume seu papel de maneira, até certo ponto, autoritária. O paciente compreende e aceita tal atitude, procurando colaborar. Médico age/paciente participa ativamente: o profissional define os caminhos e os procedimentos, e o paciente compreende e atua conjuntamente. Médico cuidador, segundo Winnicott, diferencia-se de médico curador, exatamente pela capacidade humana de atender seu paciente, de modo global e holístico, ampliando o conceito do médico que se envolve somente com a cura da doença, o que frequentemente não é alcançado, originando profunda frustração. Transferência, contratransferência e resistência Os principais fenômenos psicodinâmicos da relação médico-paciente são os mecanismos de transferência e contratransferência. Tais conceitos provêm da psicanálise e, na prática médica, constituem um arsenal terapêutico que independe de técnicas psicoterápicas especiais e que é indissociável do trabalho de qualquer médico. Transferência Transferência diz respeito aos fenômenos afetivos que o paciente passa (transfere) para a relação que estabelece com o médico ou o estudante. São sentimentos inconscientes vividos no âmbito de seus relacionamentos primários com os pais, irmãos e outros membros da família. Resistência Chama-se resistência qualquer fator ou mecanismo psicológico inconsciente que comprometa ou atrapalhe a relação médico-paciente Contratransferência Os fenômenos relatados também ocorrem em sentido contrário, ou seja, do médico (ou do estudante), para o paciente, sendo denominados contratransferência, ou seja, é a passagem de aspectos afetivos do médico ou do estudante para o paciente. O médico Apesar da aparente primazia de todo o tecnicismo existente na área da medicina, a parte mais importante do exercício profissional do médico ainda é o exame clínico. Na primeira consulta, uma palavra ou um gesto inadequado pode deteriorar a relação entre médico e paciente e aumentar os padecimentos deste último.Isso acontece frequentemente quando os aspectos psicológicos não são valorizados. Compete ao profissional direcionar este encontro a fim de torná-lo o menos angustiante possível. Ele tem capacidade para interpretar fatos e conhecimentos que o paciente geralmente não tem – e é tal característica que o coloca na condição de dirigente do encontro clínico, posição que deve assumir, compreendendo, encorajando e respeitando o paciente. Contudo, embora detentor dessas informações e instrumentalizado para dirigir o encontro, o médico não pode se furtar de compreender e respeitar os aspectos culturais de seu paciente, tampouco pressupor que ele nada saiba sobre sua doença. Não se pode esquecer que boa parte dos pacientes se dirige ao médico buscando não apenas alívio físico, mas também auxílio emocional. Além dos conflitos psíquicos que se exprimem pelos sintomas somáticos, pode haver sofrimento psíquico originado de doenças crônicas. Com muita frequência, os sofrimentos físico e psíquico aparecem estreitamente relacionados, não sendo possível diferenciar um do outro. @jumorbeck Padrões de comportamento dos médicos Dado considerado importante com relação a esta profissão é a capacidade de engagement, entendida como personalidade persistente. Traduz a capacidade inerente à pessoa de se engajar no trabalho, sentindo satisfação pelo que desenvolve. Médicos mais engajados têm menos risco de sofrer burnout do que os que não sentem satisfação no trabalho. Ao lado da competência científica, ou seja, o conhecimento da ciência médica, ele precisa ter algumas características que são fundamentais, destacando-se o interesse por seus semelhantes, respeito pela pessoa humana, espírito de solidariedade, capacidade de compreender o sofrimento alheio (compaixão ou empatia) e vontade de ajudar PadrÕes de comportamento e caracterÍsticas da relaÇÃo mÉdico-paciente Padrão inseguro A insegurança, na maioria das vezes, é um traço de personalidade. Padrão autoritário Sempre impõe suas decisões. Médico sem vocação Desenvolve mecanismos – inconscientes ou claramente propositais – que inibem o paciente. Padrão otimista Não vê gravidade em nada, tudo lhe parece simples e sem gravidade. Padrão “rotulador” Tem sempre pronto um diagnóstico rotulado que agrada o paciente. Padrão “especialista” Não consegue ver o paciente como um todo. Padrão pessimista Vê maior gravidade nas doenças que a real. Padrão “frustrado” Quase sempre pessimista, pode tornar-se agressivo com os pacientes. Padrão agressivo A hostilidade pode se revelar em palavras ofensivas, porém é mais comum disfarçar-se como mau atendimento. Padrão paternalista Adota atitudes protetoras. O “médico ideal”, portanto, seria aquele que tem uma personalidade amadurecida, conhece e domina os mecanismos psicológicos envolvidos na relação médico- paciente, dispõe de conhecimentos adequados da ciência médica e sabe aplicá-los dentro de uma visão humanística. O paciente O ser humano é uma unidade biopsicossocial e espiritual, e seus aspectos afetivos são o que mais o diferenciam dos outros animais. O paciente é um ser humano, com uma identidade de gênero e uma determinada orientação sexual, de certa idade, com uma história individual e uma personalidade exclusiva. Para avaliá-lo, o médico se vale de sua capacidade de sentir e de estabelecer um relacionamento positivo ou favorável, ou seja, é preciso que tenha empatia e compaixão. Padrões de comportamento dos pacientes As pessoas se comportam de maneiras diversas, em função de seu temperamento, suas condições culturais, modo de viver e circunstâncias do momento Todas as enfermidades têm um componente afetivo, e, ao adoecer, o indivíduo acentua os traços de sua personalidade e expressa no bojo de seu quadro clínico seus distúrbios emocionais. Paciente ansioso A ansiedade é descrita como uma inquietação interna, um sentimento negativo em relação ao futuro, uma sensação de medo inexplicável, “contagiosa” e envolvente, que passa facilmente para os familiares, causando, por meio de um mecanismo de círculo vicioso, maior aflição no paciente. Além de reconhecer a ansiedade, o médico deve estar preparado para lidar com a situação. É necessário demonstrar segurança e tranquilidade, conduzindo a entrevista sem precipitar a indagação de fatos que possam avivar ainda mais esse sentimento. Na verdade, nestas horas, saber escutar é mais importante do que saber perguntar. Paciente deprimido O paciente deprimido tem como principal característica o humor triste. Apresenta desinteresse por si mesmo e pelas coisas que acontecem ao seu redor. Tem forte tendência a isolar-se e, durante a entrevista, reluta em descrever seus padecimentos, respondendo pela metade às perguntas feitas a ele ou permanecendo calado. Apresenta-se geralmente descuidado, irritado, entediado ou apático. É comum que fique cabisbaixo, os olhos sem brilho e a face exprimindo tristeza. Não raramente cai em pranto durante o exame. @jumorbeck Ao atender o paciente deprimido, é sempre necessário avaliar o tipo de depressão e a sua gravidade, dado o risco de suicídio. A maioria das pessoas que se suicida apresenta transtorno depressivo ou bipolar. Embora a ideação suicida ocorra com muita intensidade no momento de depressão, o suicídio exitoso geralmente ocorre no período de melhora do humor. Paciente hostil A hostilidade pode ser percebida à primeira vista, após as primeiras palavras, ou pode ser velada, traduzida em respostas reticentes e insinuações mal disfarçadas. É comum que a agressividade dissimule insegurança, ou seja, uma defesa contra a ansiedade, podendo ainda ser uma manifestação de humor depressivo ou uma luta interna de poder com o médico. O paciente inevitavelmente hostil é aquele que foi levado ao médico contra sua vontade por insistência dos familiares, como no caso de alguns idosos ou adolescentes. Paciente sugestionável O paciente sugestionável costuma ter excessivo medo de adoecer, vive procurando médicos, pesquisando nos sites relacionados à saúde e realizando exames para confirmar sua higidez, mas, ao mesmo tempo, teme exageradamente a possibilidade de os exames mostrarem alguma enfermidade. Paciente hipocondríaco O paciente hipocondríaco, “paciente que não tem nada”, como os médicos costumam dizer, ou ainda, como Balint denomina, o paciente do “envelope gordo” (uma referência ao prontuário grosso devido a várias consultas e muitos exames) está sempre se queixando de diferentes sintomas. Ouvi-lo com paciência e compreensão e expressar opiniões claras e seguras são condições fundamentais para aliviar a ansiedade desses pacientes e ajudá-los a superar seus problemas de saúde. Paciente eufórico O paciente eufórico apresenta exaltação do humor. Fala e movimenta-se demasiadamente. Sente-se muito forte e sadio e fica fazendo referências às suas qualidades. Seu pensamento é rápido, muda de assunto inesperadamente, podendo haver dificuldade de ser compreendido. O médico faz uma pergunta, ele inicia a resposta, mas logo desvia seu interesse para outra questão e continua falando (fuga de ideias). Paciente inibido O paciente inibido ou tímido não encara o médico, senta- se à beira da cadeira e fala baixo. Não é difícil notar que ele não está à vontade naquele lugar e naquele momento. Não se deve confundir timidez com depressão. Os pacientes pobres e os da zona rural, ao se deslocarem para uma cidade grande e entrarem em um ambiente diferente – carpetes, secretárias, interfones, computadores, ar condicionado, mobiliário moderno –, podem ficar inibidos. A tendência desses pacientes é falar pouco e responder afirmativamente – para agradar ao médico – às perguntas que lhes são formuladas. São as maiores vítimas dos médicos autoritários. Paciente psicótico Estabelecer uma relação com o paciente psicótico costumaser difícil para o estudante ou até mesmo para o médico pouco experiente nesta área. O psicótico vive em um mundo fora da realidade do médico. Alucinações, delírios, pensamentos desorganizados colocam o paciente em uma posição de difícil acesso. Os pacientes psicóticos foram por muito tempo estigmatizados por serem considerados “loucos”. O conceito de doença mental tem modificado e os pacientes passaram a ser mais bem compreendidos. Paciente surdo A comunicação entre o médico e um paciente que não escuta, e, consequentemente, não fala, depende do interesse do primeiro e da inteligência do segundo. Atualmente tem sido dada ênfase ao aprendizado da Linguagem Brasileira de Sinais (Libras). A avaliação das escolas médicas pelo Ministério da Educação prevê o ensino desta linguagem como um item a ser valorizado. Também os pacientes que se tornaram surdos ao longo do tempo (idosos, perda da audição por doença degenerativa ou trauma) requerem uma comunicação especial. Falar pausadamente, olhando nos olhos do paciente, pronunciando cuidadosamente as palavras, evitando gritar, pode facilitar a comunicação, permitindo que este faça uma leitura labial. Atualmente já se conta com aplicativos em smartphones que auxiliam a comunicação com pessoas surdas, seja por @jumorbeck gestos ou mesmo por Libras. Os estudantes devem baixá-los em seus celulares para facilitar a anamnese destes pacientes. Pacientes especiais A todo momento, o médico entra em contato com pessoas de inteligência reduzida ou vítimas de alienação devido às péssimas condições socioeconômicas a que estão subjugadas. É necessário reconhecê-las para adotar uma linguagem mais simples, adequada ao nível de compreensão do paciente. Do contrário, este se retrairá ou dará respostas despropositadas, pelo simples fato de não estar compreendendo a linguagem. Podem preferir calar-se, não deixando transparecer sua incapacidade de entender o médico. Paciente em estado grave Ao entrevistá-lo, as perguntas devem ser simples, diretas e objetivas, pois sua capacidade de colaborar está diminuída. Para a realização do exame físico, respeitam- se suas conveniências quanto à posição no leito e à dificuldade ou impossibilidade para sentar-se ou levantar- se. Levam-se ainda em consideração cateteres, sondas e outros dispositivos que possam estar ligando o paciente a determinados maquinários. Muitas vezes, solicita-se a ajuda de um parente ou enfermeiro para virá-lo na cama ou recostá-lo. Tudo é feito com permanente preocupação de não agravar seu sofrimento. Paciente fora de possibilidades terapêuticas Conceituar paciente terminal, atualmente denominado “fora de possibilidades terapêuticas”, é uma tarefa difícil. Em senso estrito, é aquele que sofre de uma doença incurável em fase avançada, para a qual não há recursos médicos capazes de alterar o prognóstico de morte em curto ou médio prazo. Os exemplos mais frequentes são as neoplasias malignas avançadas, as cardiopatias graves, as nefropatias com insuficiência renal em estágios avançados, a AIDS em sua fase final. Contribuição relevante nesta área foi dada pela psiquiatra Elizabeth Kübler-Ross. Após conviver com centenas de pacientes terminais, ela pôde distinguir cinco fases pelas quais passam estas pessoas ao terem consciência de que caminham para a morte. ➢ Negação: . O paciente usa todos os meios para não saber o que está acontecendo com ele. É comum que diga “não é possível que isso esteja acontecendo comigo!”. Frequentemente procura outros médicos ou refaz exames na tentativa de encontrar outra explicação para o caso ➢ Raiva: A pessoa que até então negava sua realidade começa a aceitá-la como concreta, mas passa a agredir os familiares e os profissionais que lhe prestam assistência. Alguns se revoltam contra Deus, expressam desencanto, proferem blasfêmias. ➢ Negociação: Depois de negar e protestar, o paciente procura uma solução para seu problema. Promessas de mudança de vida, reconciliação com pessoas da família, busca de Deus compõem suas atitudes nessa fase de negociação, na qual o médico pode ter papel muito ativo, apoiando e conversando abertamente com ele. ➢ Depressão: Nesta fase o paciente questiona toda a sua vida, seus valores, aspirações, desejos, ambições, sonhos. Ele costuma manifestar a vontade de ficar só e em silêncio. Deixa de ter interesse por assuntos corriqueiros – negócios, problemas familiares – aos quais dava grande importância. O médico que saiba compreender o que o paciente está passando neste momento é decisivo para o alívio de suas angústias. É desnecessário se expressar com palavras duras. Mas a verdade precisa imperar na relação do médico com o paciente e a família. ➢ Aceitação: este processo é basicamente o encontro do paciente com seu mundo interior. Perceber a realidade não é desistir da luta ou sentir-se derrotado. É a plena consciência de um fato – a morte próxima – como parte de seu ciclo vital. A descrição proposta por Kübler-Ross é válida por apresentar referências compreensíveis dentro da complexidade destes fenômenos. Mas, é preciso saber que nem sempre as fases se sucedem nesta ordem. Há, também, possibilidade de que o paciente não viva determinada fase. Há momentos nos quais o paciente, em vez de avançar na busca da aceitação, regride às fases da negação ou da raiva. Crianças e adolescentes A criança é um ser único, com etapas de desenvolvimento bem definidas, e não um “adulto pequeno”. Ao atender uma criança, o médico deverá ter conhecimento básico de crescimento e desenvolvimento @jumorbeck não só do ponto de vista orgânico, mas também do ponto de vista emocional. Relacionar-se com crianças implica uma relação com toda a família. A criança não procura o médico sozinha, o faz acompanhada do pai, mãe, avós, tios, irmãos ou outros adultos. Na relação médico-paciente adolescente há muitas peculiaridades e envolve aspectos de difícil manuseio pelos médicos e estudantes – sexo, drogas ilícitas, gravidez precoce, alterações corporais (tatuagens, uso de piercings). Frente ao alarmante número de crianças desaparecidas, o Conselho Federal de Medicina se associou a outras instituições públicas, civis e religiosas, no sentido de ajudar a identificar as crianças e adolescentes sequestrados. É necessário que os médicos e os estudantes de medicina sigam as “dicas” expostas no portal do Conselho Federal de Medicina e se engajem na referida campanha. Idosos O comportamento dos idosos varia muito em função de seu temperamento, sendo, talvez, em boa parte, um reflexo do que a vida lhes propiciou. O paciente idoso precisa sentir desde o primeiro momento que está recebendo atenção e respeito, pois costuma ter certa amargura e uma dose de pessimismo diante de todas as coisas da vida; às vezes, torna-se indiferente e arredio, principalmente diante do jovem médico que está fazendo sua iniciação clínica. A família A efetivação da proposta do Sistema Único de Saúde (SUS), de implantação da Estratégia de Saúde da Família (ESF) em todo o território nacional, coloca o médico e o estudante, principalmente, frente a um novo “paciente” – a família. Nessa nova circunstância tudo é diferente: surge o conceito de “consulta domiciliar”, estratégias de abordagem domiciliar, consultas coletivas e até uma reflexão sociológica já demonstrada em pesquisas: o animal de estimação ou pet (gato, cão) como membro da família. O atendimento centrado na pessoa é integrado por seis componentes interativos são descritos a seguir: ➢ Explorar a doença e a experiência da doença; ➢ Entender a pessoa como um todo; ➢ Elaborar um plano conjunto de manejo dos problemas; ➢ Incorporar a prevenção de doenças e a promoção de saúde; ➢ Intensificar o relacionamento entre a pessoa atendida e o médico; ➢ Ser realista; Curso de Medicina como fonte de ansiedade O estudantedescobre que, para numerosas doenças não existe tratamento eficaz, e que o médico nada mais faz que promover alívio aos sintomas e acompanhar a evolução da doença. Este fato causa profunda decepção aos que, em suas fantasias de adolescentes, idealizam o médico como um profissional quase onipotente, capaz de influir decisivamente sobre a vida e a saúde das pessoas. Então sentem-se frustrados, como alguém que foi ludibriado na escolha de sua carreira. É necessário maturidade para superar esse sentimento de frustração e adaptar-se à realidade da profissão médica. Outra causa frequente de ansiedade nos estudantes é verificar o valor relativo de toda afirmação em medicina, ou seja, nada existe de absoluto ou de definitivo. Os mesmos sintomas podem decorrer de doenças diferentes, enquanto uma mesma doença pode produzir sintomas diversos. Cada paciente é um universo particular com apenas alguma semelhança com o próximo. Cada um responde de maneira diferente ao mesmo tratamento. Nunca se esquecer que as doenças podem ser semelhantes, mas os pacientes nunca são iguais Assim como um menor não responde pelos seus atos perante a lei, também o estudante de medicina não é responsável pelos atos médicos que pratica. Toda atividade que desempenha, ele o faz por delegação de função e sob a responsabilidade única e exclusiva dos docentes. Ao mesmo tempo que desenvolve seus conhecimentos e habilidades, igualmente se familiariza com as questões de ética médica e com os deveres da profissão. @jumorbeck
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