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0 UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS CURSO DE COMUNCAÇÃO SOCIAL ANTONIO PEDRO ARAGÃO FERREIRA NOVOS DESAFIOS PARA O JORNALISMO: O caso do blog da Petrobras, Fatos e Dados São Luís 2011 1 ANTONIO PEDRO ARAGÃO FERREIRA NOVOS DESAFIOS PARA O JORNALISMO: O caso do blog da Petrobras, Fatos e Dados Monografia apresentada ao Curso de Comunicação Social da Universidade Federal do Maranhão para obtenção do grau de Bacharel em Comunicação Social, Habilitação Jornalismo. Orientador: Prof. Dr. José Ribamar Ferreira Júnior São Luis 2011 2 NOVOS DESAFIOS PARA O JORNALISMO: O caso do blog da Petrobras, Fatos e Dados Monografia apresentada ao Curso de Comunicação Social da Universidade Federal do Maranhão para obtenção do grau de Bacharel em Comunicação Social, Habilitação Jornalismo. Aprovado em:_____/____/_____ BANCA EXAMINADORA _________________________________________________ Prof. Dr. José Ribamar Ferreira Júnior (Orientador) Universidade Federal do Maranhão _________________________________________________ Examinador Universidade Federal do Maranhão _________________________________________________ Examinador Universidade Federal do Maranhão 3 Aos meus pais, Felipe e Layde, minha força, meus amigos, meus mestres. 4 AGRADECIMENTOS Agradeço em primeiro lugar a Deus, a Ele devo toda a atenção e amor infinitos, a Sua presença em minha vida ao longo desses anos foi de suma importância para a construção do que sou hoje. Agradeço aos meus pais Felipe e Layde, meus exemplos de vida, força, dedicação, amor e honestidade, valores importantes para a minha formação. Sou grato por todo o apoio que me deram na escolha do curso. Mesmo distantes, sempre estiveram por perto, prontos, a todo o momento, a me darem a ajuda necessária para seguir o meu caminho no jornalismo. Ao meu pai, especificamente, agradeço por toda a força e por acreditar que eu poderia chegar a Universidade. À minha mãe, agradeço pela determinação, apoio, por existir em minha vida, por ser a voz que me acalma, meu porto seguro, pela preocupação, por querer o melhor para mim. Agradeço a minha gigantesca família, em especial as minhas avós, Maria e Laíde, exemplos de vida e intensa dedicação aos filhos, netos, bisnetos e agora tataranetos. A minha irmã Leyla, meus irmãos Natanael e André, agradeço pelo companheirismo de todas as horas, momentos que me fizeram esquecer as dificuldades que vem com a monografia. Agradeço a meus amigos do curso, lembrarei com saudade todos os dias desses quatro anos em que passamos juntos. Agradeço especialmente a Leandro Santos, Wyllyane Rayana, Elizabeth Bezerra, Andresson Lima, Luana Serra, Maiara Bentivi e Beatriz Deruiz por todos os momentos em que vivemos por toda a ajuda e por terem-me aguentado esse tempo todo. Agradeço também aos meus amigos de longa jornada Rodolfo, José Martinho, Bruno e Adenilton. Por todos os momentos que passamos, por todo o aprendizado, por toda a força transmitida. Agradeço a todos os meus professores, pelos ensinamentos, pelos momentos dedicados a compartilhar os muitos conhecimentos que dispõe. Agradeço especialmente ao professor Ferreira Júnior a quem durante este período se dedicou a me orientar e tornar esta monografia possível. 5 RESUMO Apresentamos aqui uma análise do blog da Petrobras, Fatos e Dados cuja metodologia consiste em fazer um paralelo das produções que circulam na blogosfera e a produção da mídia tradicional tomando como fonte o próprio blog da Petrobras. Dessa forma, pretendemos demonstrar em que medida a estrutura jornalística do blog da Petrobras interfere na relação jornalista/fonte e inserir uma visão crítica quanto à atuação dos meios tradicionais de comunicação diante desse novo paradigma. Procura-se no primeiro momento traçar as principais questões concernentes ao surgimento do blog, as polêmicas, o comportamento dos jornais e de outras instituições. Segue-se com um breve histórico do surgimento da Petrobras e logo depois da criação do blog Fatos e Dados. Conclui-se que há uma conotação política na abordagem dos mass media contra a Petrobras e que o blog se legitima como mediador da sociedade, papel por muitos anos exercido pela imprensa. Palavras-chave: Petrobras, Fatos e Dados, mass media, mediação. 6 ABSTRACT Here we present an analysis of blog Petrobras, facts and figures which methodology is to make a comparison of the productions that circulate in the blogosphere and traditional media production taking your own blog as a source of Petrobras. Thus, we intend to show to what extent the structure of journalistic blog Petrobras interfere in the relationship journalist / source and enter a critical view on the role of traditional means of communication in this new paradigm. Looking at the first time outline the main issues concerning the rise of the blog, the controversies, the behavior of the newspapers and other institutions. It follows with a brief history of the rise of Petrobras and soon after the creation of Facts and Data blog. We conclude that there is a political approach in the media against us and the blog is legitimized as a mediator of society, role for many years exercised by the press. Keywords: Petrobras, facts and figures, media, mediation. 7 LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1 – primeira página do blog Figura 2 – Monitor Fatos e Dados Figura 3 – Monitor Fatos e Dados Figura 4 – Twitter do blog Figura 5 – Ferramentas de busca do blog Figura 6 – links Figura 7 - Carta enviada ao relator da CPI Figura 8 – Gráfico Postagens do blog Figura 9 – Gráfico dos Jornais 8 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................. 09 2 DESINTERMEDIAÇÃO E LEGITIMIDADE ...................................................... 12 2.1 O blog da Petrobras deixa de ser fonte ........................................................ 12 2.2 O blog da Petrobras como novo ambiente comunicacional ....................... 14 2.3 O papel do jornalista na era da cultura das mídias ..................................... 19 2.4 Um blog corporativo? ..................................................................................... 27 2.5 A relação dos mass media com a política .................................................... 31 3 O PETRÓLEO NO BRASIL .............................................................................. 37 3.1 Campanha o Petróleo é nosso e a criação da Petrobras ............................ 37 3.2 Petrobras, primeiros anos.............................................................................. 39 3.3 A Petrobras na mira da privatização .............................................................41 3.4 A CPI da Petrobras: como começou ............................................................. 44 3.5 O que pretendia a CPI ..................................................................................... 44 3.6 Blog Fatos e Dados; nasce uma polêmica ................................................... 46 3.7 O blog da Petrobras na blogosfera ............................................................... 51 3.7.1 Opiniões a favor ............................................................................................. 51 3.7.2 Opiniões contra .............................................................................................. 54 4 O BLOG DA PETROBRAS: DESCRIÇÃO E ANÁLISE .................................. 57 4.1 Como encontramos o blog no ciberespaço ................................................. 57 4.2 Síntese do blog Fatos e Dados: 14 de julho a 13 de agosto de 2009 ......... 62 5 ANÁLISE DOS DADOS .................................................................................. 76 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................. 79 REFERÊNCIAS APÊNDICES 9 1 INTRODUÇÃO O papel de mediador da sociedade, durante muitos anos, foi desempenhado pelo Jornalismo. Ao longo desse tempo, algumas vezes mais, outras menos, coube à sociedade apenas receber as informações já selecionadas, segundo os critérios jornalísticos. Quando pensamos nos meios de comunicação de massa, essa participação da sociedade praticamente é nula. A realidade começa a mudar com o surgimento das Novas Tecnologias da Informação que passam a priorizar a participação do público. Por meio desse novo conceito, o cidadão que antes se detinha, apenas, a condição de espectador, agora constrói, participa, critica, e essa crítica é ouvida, repassada e em alguns casos, de forma colaborativa, ganha legitimidade. Essa nova realidade são as redes sociais. É o que podemos verificar com o twitter e os blogs, cada vez mais presentes em nossas vidas. Esses suportes, os blogs, sobretudo, estigmatizados pelos jornalistas no início, e hoje fortes aliados passam a independer de conceitos acadêmicos e práticas jornalísticas. A impressão que se tem é a de que tudo o que aprendemos precisa ser revisto ou jogado fora para um novo começo. Como resposta, os meios de comunicação, os tradicionais, migraram para esse novo conceito, e o que se observa cada vez mais é que mesmo com a força que dispõe o internauta ainda consegue se sobressair, pois um vasto mundo de possibilidades de opiniões está disponível na Internet, e melhor, ele pode fazer parte dessa rede também. O blog da Petrobras, Fatos e Dados, a partir dessa realidade pode ser visto como a continuação de um processo ou o início de uma nova forma do fazer jornalístico. Contudo, não são essas respostas que buscamos com este trabalho de conclusão de curso, nossa tarefa aqui é tão somente demonstrar como esse paradigma perturbou a vida de muitos jornalistas e empresas de comunicação. O fato de um blog, em resposta a sucessivos ataques da imprensa reverter o seu papel de fonte e passar a noticiar, vai para muito além das questões que concernem a importância do furo propriamente, uma vez que hoje tudo acontece ao mesmo tempo, e ao mesmo tempo ganham o mundo e chegam de todas as formas para os interessados. Longe dessa discussão, busca-se aqui mostrar como o Fatos e Dados interferiu nessa relação jornalista/fonte, e como a imprensa, movida por um 9 10 agendamento beirando ao fanatismo neoliberal moldou, e de forma coordenada, aferiu ataques sucessivos contra a Petrobras. Tenta-se mostrar como se deu cada inserção dos meios tradicionais de comunicação, como eles se comportaram durante a CPI promovida por esses mesmos meios e abastecida também por eles, e principalmente, como o blog Fatos e Dados atuou na defesa da Petrobras e que proporções essa reação causou na imprensa. Para começar, no Capitulo 2 serão tratado as questões concernentes ao surgimento do blog, ao fato de ter deixado de ser fonte para ganhar legitimidade como difusor de informações, para isso se irá partir de conceitos simples que surgem com a Web 2.0. Depois, será abordada diretamente a polêmica que o novo modelo causou na imprensa, com a ajuda de autores como Martins Aragão, Alex Primo, Traquina serão estruturados os conceitos de noticiabilidade, da importância da fonte para o jornalismo e o que a inversão do modelo advindo com o blog Fatos e Dados ocasionou nas cercanias do jornalismo. O blog da Petrobras como novo ambiente conversacional também é abordado com a ajuda de autores como Lemos e também outros autores, além dos que já trabalham com esse tema, como Pisani e Piotet que nos ajudarão a enxergar uma perspectiva diferenciada sobre o assunto. Saber como o jornalista se comportou durante o período de surgimento das mídias eletrônicas também será de suma importância para o estudo, descobrir se o jornalismo soube de alguma forma se adaptar a esse novo paradigma que surgia. Uma pergunta que se segue é: Será o blog da Petrobras, um blog corporativo? Uma vez que deixa de ser fonte para a imprensa. Por último, nesse capítulo, será tratada a relação dos mass media com a política, essa perspectiva é de suma importância para entender como se desencadeou essa campanha dos meios de comunicação contra a Petrobras. No Capitulo 3 o trabalho traz um breve histórico do surgimento da Petrobras, as principais questões apontadas nesse período, a Campanha o “Petróleo é Nosso”, de onde adveio a disputa entre os pró e antiestatais. Dessa forma busca-se saber como nasce a CPI da Petrobras, as suas principais implicações e principalmente, os fatos que levaram à CPI. Como foram as reações dos principais veículos de comunicação? Como contribuíram com a CPI? Virá em seguida. As opiniões a favor e discordantes ao blog também estão localizadas nessa análise. 11 O Capítulo 4 traz a descrição e a análise do blog Fatos e Dados, foi escolhido o período de 14 de junho de 2009 a 13 de agosto de 2009 para a pesquisa. O momento em questão corresponde ao primeiro mês de instalação da CPI. Assim se busca mostrar de que forma o blog se comportou durante esse período, se realmente ele interferiu no jornalismo e de que forma isso ocorreu. Por fim, este trabalho, como dito antes, não tem a pretensão de prever o futuro do jornalismo, e muito menos saber a que proporções o novo paradigma advindo com blog Fatos e Dados pode alcançar. Contudo, se pretende contribuir com novas discussões acerca do tema. 12 2 DESINTERMEDIAÇÃO E LEGITIMIDADE Apresentamos, aqui, uma análise do blog da Petrobras, Fatos e Dados cuja metodologia consiste em fazer um paralelo das produções que circulam na blogosfera e a produção da mídia tradicional tomando como fonte o próprio blog da Petrobras. Dessa forma, pretendemos demonstrar em que medida a estrutura jornalística do blog da Petrobras interfere na relação jornalista/fonte e inserir uma visão crítica quanto à atuação dos meios tradicionais de comunicação diante desse novo paradigma. 2.1 O blog da Petrobras deixa de ser fonte O surgimento do blog Petrobras, Fatos e Dados traz à discussão o papel do jornalista como mediador na esfera da comunicação. A imprensa, que desde o surgimento da sociedade burguesa possuía a função de intercessora na sociedade, tem agora, diante da multiplicidade de vozes no meio digital, o desafiode transpor os novos produtores de informações. Durante muitos anos foi a cultura de massa, os mass media, responsável por enormes discussões a respeito da unidirecionalidade das informações veiculadas por esse meio. A impossibilidade de se possuir uma identificação e uma resposta dos meios de comunicação é ultrapassada com o surgimento da cultura das mídias. Foi no início dos anos 1980 que esse sistema começou a ganhar forma e passaram a atuar como multiplicadores de mídias. As tecnologias, os equipamentos e as linguagens que neles circulam, propiciadores dessa nova lógica cultural que chamo de cultura das mídias, apresentam como principal característica permitir a escolha e o consumo mais personalizado e individualizado das mensagens, em oposição ao consumo massivo. (SANTAELLA, 2007, p. 125) 13 O advento da segunda geração de serviços na rede, conhecida como Web 2.01, potencializou as formas de atuação do usuário na internet, com a possibilidade agora de o internauta não só depender de programas já instalados no computador, mas também por permitir que haja uma reformulação da maneira de agir na web, por meio de ferramentas de uso menos complexo. Com isso, o usuário consegue maior autonomia com relação aos vários dispositivos antes de difícil compreensão. Outra questão importante que advém com a Web 2.0 diz respeito aos softwares que agora ganham a participação dos usuários em seu melhoramento, o que contribui para a formação de uma rede de usuários participantes de todo o processo. Agora, o usuário, pode intervir diretamente em conteúdos, no caso dos blogs, por meio de comentários. Mas exemplos não faltam de como hoje o internauta possui uma maior mobilidade dentro do ciberespaço. As repercussões sociais são também de extrema importância com o desdobramento da web. O ciberespaço passa a ser um ambiente de trocas de conhecimento. A Web 2.0 possui repercussões sociais importantes, que potencializam processos de trabalho coletivo, de troca afetiva, de produção e circulação de informações de construção social de conhecimento apoiada pela informática. São essas formas interativas, mais do que os conteúdos produzidos ou especificações tecnológicas em jogo. (PRIMO, 2007, p.01). A partir dessa realidade, nascem os blogs, transformando - se em um grande espaço de conversação (PRIMO, 2007). No começo, ridicularizados pelos jornalistas, conhecidos apenas como diários online, os blogs, conseguiram se firmar como grandes emissores de informações. Como consequência, há uma ruptura na forma de transmissão das notícias. O usuário da internet não mais necessita do olhar jornalístico para ter acesso a um variado grupo de notícias. Haverá pessoas para além do campo classificando-os, o que já presume que outro interesse pode ser levado em conta na hora de determinar o que é ou 1 O termo foi utilizado para agregar o surgimento e popularização de novas ferramentas, programas hospedados em sites da rede, que permitiram ao usuário leigo com pouco ou nenhum conhecimento em linguagem ou programação de software criar, editar, organizar, trocar e publicar conteúdos na rede. Todos poderiam, de fato, serem emissores de informação. 14 não notícia; do outro lado, haverá um maior número de pessoas interessadas em fatos que não ganhariam status de notícia se não houvesse alguém para classificá-las como tal. (FOLETTO, 2009, p.204). Ao retornarmos as discussões para o caso do blog da Petrobras podemos evidenciar o fenômeno de tomada do direito à informação direta com o público. O que poderia ser visto como uma evolução natural do uso da internet, uma vez que, esse meio nasce com o propósito libertário que caracteriza o meio digital (DALMONTE, 2010) na verdade, apresenta efeito contrário, quando as empresas de comunicação passam a recriminar a iniciativa da estatal brasileira. As primeiras reações ao novo modelo de mediação proposto pela Petrobras obtiveram como justificativa o direito a exclusividade da notícia. Ao tentar desqualificar Fatos e Dados, nega-se completamente a idéia de liberdade que caracteriza os processos comunicacionais na Internet. Por meio de tais estratégias, fica evidente o incômodo gerado a partir do temor da perda do controle dos processos comunicacionais por que passa a mídia tradicional. O lugar de autoridade, historicamente construído pelos meios de comunicação, refere-se à possibilidade de seleção daquilo que será noticiado. A mídia tem se colocado como agente mediador, posicionando-se entre o mundo dos fatos e o mundo dos leitores/receptores. (DALMONTE, 2010, p.07) O blog da Petrobras foge dessa concepção tradicional de que a imprensa é a única autoridade no direito a emissão de informações e passa do papel de fonte para difusora de notícias. O fato de a estatal ser uma empresa de grande importância econômica para o país potencializa todas as críticas da grande imprensa ao novo paradigma instaurado com o advento do blog. 2.2 O blog da Petrobras como novo ambiente comunicacional O blog não passou despercebido pela imprensa, pelo contrário, o surgimento do Fatos e Dados culminou com uma enorme polêmica que envolveu os principais meios tradicionais de comunicação do Brasil, apoiados por Instituições de grande representatividade, a Petrobras se viu diante de um grande desafio, que era o de impor o seu ponto de vista diante de inúmeros olhares discordantes e por muitas vezes oportunistas. 15 Uma das primeiras reações veio por meio de uma nota de repúdio assinada pela ANJ (Associação Nacional de Jornais) publicada massivamente nos principais órgãos da imprensa, aqueles atingidos diretamente pelo blog. No manifesto, a Associação minimiza a importância do surgimento desse novo conceito ao acusar o Fatos e Dados de intimidar jornais e jornalistas. Ainda na nota, a Associação se detém principalmente às questões éticas relacionadas às empresas de comunicação atingidas pelo blog. O que de certa forma incomodou com o advento do blog foi essa possibilidade do acesso às informações sem a necessidade de intermediação. Os meios tradicionais de comunicação perceberam isso, e como já não nutriam simpatia pela atual administração da estatal, não mediram esforços na tentativa de desqualificação do blog, e que pode ser entendida da seguinte maneira: A campanha que se levantou contra Fatos e Dados pode ser entendida como tentativa de manutenção de um modus operandi que assegura às empresas de comunicação um lugar de fala socialmente construído. Ao passar da condição de fonte para difusora de informações que lhe são relevantes, a Petrobras torna patente a possibilidade de alteração do modelo linear da comunicação mediada. (DALMONTE, 2010, p.07). Um dos exemplos mais expressivos de como a imprensa perseguiu a Petrobras está na matéria publicada pelo O Globo no dia 26 de junho de 2009. Com o título “Quebra de Sigilo” a reportagem, faz uma ligação de Wilson Santarosa, gerente de Comunicação Institucional da Petrobras, com “aloprados”. Para se ter uma ideia da gravidade, isso relacionado a questões éticas, O Globo busca uma informação datada de 2006 que nada corresponde ao contexto atual da empresa, e principalmente, à CPI da Petrobras e a publica como sendo atual. Essas investidas da grande mídia propiciaram à empresa a criação de um canal direto com o público para se explicar e se defender. Alegando que as informações difundidas na imprensa estavam sendo distorcidas optamos pela fórmula de publicar também as perguntas dos jornalistas no domínio. Essa iniciativa acarretou uma enorme polêmica quanto à exclusividadeda notícia. A falta da apuração e de um controle das informações por jornalistas tem servido como argumento para as empresas de comunicação alegarem que o blog esteja veiculando notícias de forma bruta. MARTINS (2009) nos diz que “é interessante perceber como essa inserção da Petrobras no campo da mídia social é 16 também uma reconfiguração da relação geral entre agentes da comunicação, uma vez que, agora, a instituição (a fonte) deixa de repassar à imprensa o papel de mediador entre suas informações e a sociedade”. As notícias, como sabemos, são o resultado de um processo de produção em que estão envolvidas a percepção, seleção e transformação de uma matéria- prima (acontecimento) num produto (as notícias) (TRAQUINA, 2004). Neste processo está envolvido um vasto mundo de acontecimentos (matérias-primas). A problemática está na seleção daquilo que deve chegar à sociedade, para sanar essa questão são utilizados os critérios de noticiabilidade, os valores – notícia. O jornalista, dessa forma, reivindica para si a autoridade e a legitimidade de decidir a noticiabilidade dos acontecimentos. “Perder esse monopólio é pôr em causa a independência do jornalismo e a competência dos seus profissionais”. (TRAQUINA, 2004). Até então, o jornalismo se fiava unicamente na ordem dos três tipos de fontes: oficiais, oficiosas e independentes. Nas redações, as fontes oficiais são privilegiadas, sempre consideradas as mais confiáveis. Machado (2003 apud LAGE, 2001, p.63) alerta para esse vício dentro das redações, o autor afirma que a mentira ocupa lugar estratégico nas intervenções de personalidades na defesa de interesses particulares, difundidos como manifestação de vontade coletiva. Por isso o cuidado com a escolha da fonte deve extrapolar questões meramente oficiais ou de uma aparente confiança. O ciberespaço permite uma multiplicidade de fontes e ao mesmo tempo exime o jornalista do papel de intermediário no transporte das informações para a sociedade. MACHADO (2003) chama a atenção para o fato de que tais informações têm que vir de um individuo ou instituição munida de condições técnicas adequadas. O alerta serve para especificar um vasto domínio onde circulam diariamente milhões de informações todos os dias e que a cada segundo está em intensa transformação, o que torna uma tarefa totalmente difícil selecionar aqueles que substancialmente possam contribuir com a produção da notícia. Se cada indivíduo ou instituição, desde que munido das condições técnicas adequadas, pode inserir conteúdos no ciberespaço devido a facilidade de domínio de áreas cada vez mais vastas, fica evidenciada tanto certa diluição do papel do jornalista como único intermediário para filtrar as mensagens autorizadas a entrar na esfera pública, quanto das fontes profissionais como 17 detentoras do quase monopólio do acesso aos jornalistas. (MACHADO, 2003, p.28) A relação do jornalista com suas fontes surgem com Mauro Wolf (apud TRAQUINA, 2004, p. 190) o autor destaca que “a rede de fontes que os órgãos de informações estabelecem como instrumento essencial para seu funcionamento reflete, por um lado, a estrutura social e de poder existente e, por outro, organiza-se a partir das exigências dos procedimentos produtivos”. Uma fonte, sem dúvida, corresponde a uma relação de interesses de ambos os lados. O jornalista interessado nas informações que tem para ele e a fonte interessada em tornar público o que tem a dizer. O jornalista pode utilizar a fonte mais pelo que é do que pelo que sabe. A maioria das pessoas acredita na autoridade da posição. Quanto mais prestigioso for o título ou a posição do individuo maior será a confiança das pessoas na sua autoridade. (TRAQUINA, 2004, p. 191). Molotch e Lester (1974, apud TRAQUINA, 2004, p.184) classificam os indivíduos a partir de sua posição na produção das notícias (MARTINS, 2009). São criadas três categorias: os promotores, os organizadores e os consumidores. As fontes seriam os promotores, responsáveis por levar os fatos até a imprensa. Essa categoria pode ainda ser subdividida, entre os executores, aqueles que participam diretamente do fato, e informadores, que fazem o papel intermediário entre o executor e a mídia. Os jornalistas, seriam os organizadores, são os responsáveis por apurar as informações trazidas pelos promotores. Os leitores estão na última categoria, são os consumidores. Percebendo essas três categorias pode-se avaliar o quanto importante é a relação entre a fonte e o jornalista e o quanto hoje os promotores independem dos organizadores. Uma velha preocupação surge a partir desse momento, seria realmente necessária a função do jornalista para transmitir à população as informações desejadas? Sobre essa questão, Foletto (2009), afirma: Por ser gratuito e de fácil acesso, qualquer um pode criar um blog e postar o que quiser nele, inclusive informação de relevância jornalística. Assim, ocorre a liberação do pólo de emissão da informação para qualquer um que tenha o interesse em obtê-lo, não o deixando somente com os agentes do campo jornalístico. Subverte-se o tradicional lugar de emissão; é aberta uma brecha para que outros emissores possam ocupar um espaço que até então não 18 existia, fazendo com que mais pessoas tenham o seu lugar para informar e o use da maneira que achar adequado – muito embora ter esse espaço, por si só,não garanta uma visibilidade significativa a ele.(FOLETTO, 2009, p. 203) Logo, o Fatos e Dados corresponde a uma potencial fonte de informação para jornalistas. Em 2010, com um lucro líquido de R$ 35 bilhões2, a estatal se firmou como uma das maiores empresas do ramo pretolífero do mundo. A CPI da qual a empresa foi investigada permitiu aos vários veículos da imprensa intensificar a busca por mais informações. Como já era de se esperar, por ser uma estatal, e no momento, administrada por um governo não simpático a uma parcela da sociedade, a reação da mídia tradicional foi extremamente corrosiva. O interesse em divulgar o máximo possível de informações não estava ligado à preocupação com o interesse público, mas sim em um agendamento típico de governos não simpáticos aos meios de comunicação. Como a Folha, O Globo e O Estado de São Paulo foram os principais veículos atingidos pela Petrobras e também mais importantes porta-vozes dessa ala da política brasileira os efeitos para a Petrobras foram devastadores. Com isso, a chuva de informações, para a Petrobras, distorcidas ocasionou o rompimento com esse modelo praticado pela imprensa quando a estatal resolve criar um blog, principal veículo de contato com o público. A Petrobras, não mais necessitava dos jornalistas para informar sobre os acontecimentos da empresa, já possuía um canal direto para isso, ainda que para se proteger e evitar distorções. Optou por publicar as perguntas dos jornalistas no blog, antes mesmo das matérias destes serem veiculadas nos seus veículos de comunicação. Essa postura do blog põe em cheque o modelo nutrido durante anos pelos mais tradicionais meios de comunicação do país. O blog da Petrobras explicita uma fratura em um modelo linear de comunicação e, ao mesmo tempo, faz pensar na inclusão do cidadão nos debates de interesse público. Não basta teorizar acerca da necessidade de participação do indivíduo, mas igualmente assegurar sua participação nos processos deliberativos, tomando por referência a publicidade e a transparência. (DALMONTE, 2010, p. 09). 2 http://www1.folha.uol.com.br/mercado/881200-petrobras-fecha-2010-com-lucro-recorde-de-r-35189- bilhoes.shtml 19 2.3 O papel dojornalista na era da cultura das mídias A Petrobras, que antes se configurava como fonte para a imprensa, agora com a criação do próprio blog, abre um canal direto com o leitor, evitando assim um crivo da imprensa tradicional. Com essa iniciativa, o blog não só consegue se livrar das amarras das empresas de comunicação, como agora, passa a municiar uma rede de blogs que já se sentiam estimulados com o ideário de liberdade no ciberespaço. São estabelecidos novos lugares de visibilidade que, agora, já não dependem apenas dos “chancelados” para tornar públicos determinados assuntos, pois não há filtros. Ao invés de ser mostrado, o indivíduo, ou grupo, se mostra e escolhe como ser enquadrado. Para além da visibilidade, agora acontece disputa pelos modos de ser mostrado, ou pelos regimes de visibilidade, o que reforça a natureza dos novos processos comunicacionais não mediados. (DALMONTE, 2010, p.11). A esta nova configuração em que o público se exime do crivo da grande mídia LEMOS (2009) chama de “pós-massivo” em referência ao sistema (aberto, “todos - todos”, independente) em contraste ao modelo “um – todo característicos dos meios de comunicação de massa. Temos agora, neste começo de século XXI, um sistema infocomunicacional mais complexo, onde convivem formatos massivos e pós-massivos. Emerge aqui uma nova esfera conversacional em primeiro grau, diferente do sistema conversacional de segundo grau característico dos mass media. Neste, a conversação se dá após o consumo em um rarefeito espaço público. Naquele, a conversação se dá no seio mesmo da produção e das trocas informativas, entre atores individuais ou coletivos. Esta é a nova esfera onversacional pós-massiva. (LEMOS, 2009, p.02) Trazendo essa discussão à esfera do blog Fatos e Dados, a mídia tradicional se vê ameaçada por essa nova forma de emitir informações. O modelo praticado pela Petrobras, apesar de não ser novo, incomoda por vir de forma provocativa. O blog assume de vez o papel de emissor das próprias informações. Em sua descrição, logo no primeiro dia, o blog deixa claro como atuará no ciberespaço: 20 Desenvolvido por profissionais de comunicação da empresa, em uma plataforma gratuita de publicação online, o Fatos e Dados foi criado com o objetivo de ser um canal de comunicação rápida e direta com o público, dedicado a apresentar fatos e dados recentes da Petrobras, antecipar o posicionamento da Companhia sobre as questões relativas à CPI e esclarecimentos solicitados pela imprensa. Dessa forma, reafirma o compromisso com a informação e com a transparência, um dos valores da organização. (Fatos e Dados, 2009). A escolha de uma plataforma gratuita, o WordPress, para a publicação de postagens no ciberespaço contribui para uma maior aproximação com o público. O uso do blog como ferramenta também não foi por acaso. A utilização dessa rede social está ligada à credibilidade que esse instrumento conseguiu por meio de seus milhões de usuários que todos os dias se comprometem com o serviço de divulgação de informações. Os blogs foram considerados instrumentos de conversação, diferentes, portanto, das mídias de massa, como a televisão ou os jornais. Eles, e outras ferramentas da internet, não se assemelham ao rádio, ao jornal ou a televisão, não são concessões do Estado e devem, assim, continuar livres de qualquer controle estatal para que todos possam exprimir suas opiniões, como nas conversações em praça pública. Só que aqui, a conversação se dá na mediação escrita, e a praça pública é a rede mundial de computadores. (LEMOS, 2009, p.06) O crescimento do uso da internet nos últimos anos tem propiciado o surgimento dos chamados “web atores”, termo utilizado por PISANI e PIOTET (2010) para designar os internautas que possuem um papel mais ativo na web 2.0.3 Todas essas transformações contribuem para que a experiência acumulada pelos web atores forneça para uma maior participação do internauta no ciberespaço. No que diz respeito a essa questão PISANI e PIOTET (2010) apontam para o desafio, a partir de agora, da mídia tradicional e do jornalismo, de se adaptarem a essa nova realidade. Com a possibilidade de a própria audiência criar seus espaços e terem acesso a uma infinidade de outros, o jornalismo desenvolve um papel secundário. 3 Estima-se que hoje mais de 2 bilhões de pessoas tem acesso a internet: http://www.wbibrasil.com.br/boletim/internet-ultrapassa-2-bilhoes-de-usuarios-em-2010/802/ 21 No coração da web atual, a participação é de fato o desafio mais sério que as mídias devem enfrentar. Ela recoloca em questão sua autoridade e seu papel social. Ela as obriga a reconsiderar as questões muito frequentemente retiradas de seu poder e de jornalistas. Ora, ao mesmo tempo, pelo menos para uma parte da audiência, a participação torna-se uma relação essencial com a informação em razão da confluência da crise das mídias tradicionais, da evolução cultural (pós-moderna) e da multiplicação das ferramentas e das práticas próprias da web 2.0. (PISANI, PIOTET, 2010, p.268.) Martins (apud, BOWMAN, WILLIS, 2003) classifica essa nova forma de comunicação que se baseia na participação dos usuários como produtores da informação, como colaborativa. Os usuários da internet atuam de forma mais independente no ciberespaço, no entanto de forma conjunta. Com essa iniciativa permitem a construção de um espaço mais democrático, onde todos participam e podem interferir na construção. Quando nos referimos ao blog da Petrobras, percebemos uma mudança nos lugares da fala, propiciado pela facilidade que hoje se tem na reconfiguração do ciberespaço. As mídias tradicionais, ainda reféns de um agendamento para a cooptação e distribuição de notícias perdem, quando essa possibilidade passa a ser possível também na Web. As inovações trazidas pela experiência do blog da Petrobras dizem respeito à redefinição dos lugares de fala, associados aos meios de comunicação tradicionais que, por limitações de espaço e tempo, ainda se vêm constrangidos a selecionar, dentre os acontecimentos, aqueles que podem passar à categoria de notícia. (DALMONTE, 2009, p.64) Sob esse novo prisma, a conversação e a colaboração abertas surgem como novidades da sociedade da informação LEMOS (2009). Enquadrado nesse novo sistema, a Petrobras, ao criar o blog Fatos e Dados propicia um espaço diferente do oferecido pelos meios de comunicação de massa. No que diz respeito ao modelo conhecido dos mass media, o público não participa da construção, há na verdade a decodificação de uma mensagem já fabricada. Enquanto que no sistema conhecido como conversacional, o público atua diretamente, é um participante ativo. A nova esfera conversacional se caracteriza por instrumentos de comunicação que desempenham funções pós-massivas (liberação do pólo 22 da emissão, conexão mundial, distribuição livre e produção de conteúdo sem ter que pedir concessão ao Estado), de ordem mais comunicacional do que informacional (mais próxima do “mundo da vida” do que do “sistema”), alicerçada na troca livre de informação, na produção e distribuição de conteúdos diversos, instituindo uma conversação que, mesmo sendo planetária, reforça dimensões locais. (LEMOS, 2009, p.03) Essa possibilidade torna capaz o protagonismo do blog, no meio em que se encontra, extrapolando os muros do ciberespaço. A possibilidade de vários blogueiros hoje não mais necessitarem do olhar do jornalista, que em todos os momentos representa o olhar das empresas onde trabalham, permite que o próprio internauta esboce o seu pontode vista. Claro que não podemos cair no erro da plena confiabilidade em tudo o que circula no ciberespaço. Na medida em que a arquitetura descentralizada do ciberespaço desarticula o modelo clássico, o exercício do jornalismo nas redes telemáticas depende do estabelecimento de critérios capazes de garantir a confiabilidade do sistema de apuração dentro de um entorno com as especificidades do mundo digital. (MACHADO, 2003, p. 25) Como uma resposta para esse desencadeamento dentro do ciberespaço, surge uma modalidade de fontes, conhecidas como fontes profissionais MACHADO (2003). A multiplicidade de informações que circulam no ciberespaço e são armazenadas em um mundo ainda maior de “páginas individuais, em bancos de dados públicos e nas redes de notícias aumenta a chance de ocorrer um deslocamento do lugar das fontes da esfera do oficial ou do oficioso para o domínio público”. (MACHADO, 2003, p. 28). Serão essas fontes profissionais que irão dar a confiabilidade necessária dentro da rede. Entender como o jornalismo se configurou durante o surgimento da era digital, com o advento dos blogs, permite-nos visualizar com maior clareza os porquês dos meios de comunicação ainda relutarem com as atribuições dessa nova perspectiva midiática. No que diz respeito ao blog Fatos e Dados, sabemos que há também uma concepção ideológica incutida na resistência dos meios de comunicação que não poderá deixar de ser discutida. As empresas tradicionais de comunicação demoraram muito tempo para enxergar as potencialidades que vinham com a web. Em muitos casos, viam a internet como uma extensão ou um complemento do produto tradicional. Em alguns 23 países, como os Estados Unidos, essa fase ficou conhecida como shovelware, ALVES (2006) um termo pejorativo que designou uma fase de preguiça das empresas de comunicação. Em vez de ver a web como um novo meio, com características próprias, as empresas tradicionais encararam como uma nova ferramenta para distribuir conteúdos originalmente em outros formatos. Na melhor das hipóteses via- se a presença na Internet como uma extensão ou um complemento do produto tradicional. Assim, a primeira década do jornalismo digital foi caracterizada por este pecado original: a simples transferência do conteúdo de um meio tradicional para outro novo com pouca ou nenhuma adaptação. (ALVES, 2006, p.02) Nas redações, o uso do computador não extrapolou os limites das suas potencialidades, isto considerando que o suporte digital altera todo o processo de produção jornalística. Desenvolvendo papel secundário dentro das redações, os computadores repousaram durante muitos anos no desinteresse das empresas de comunicação. O conceito de jornalismo de precisão, elaborado no começo dos anos 70 para definir o trabalho jornalístico no cenário das sociedades complexas, revela os limites dos primeiros modelos de digitalização nas redações. Quando enquadra a tecnologia como apêndice do processo, que serve para aperfeiçoar as ações dos jornalistas sem implodir os fundamentos então consagrados pela prática, em vez de contribuir para mudar a essência da profissão, o jornalismo de precisão, como mais tarde, a reportagem assistida por computador, passa ao largo das implicações que a tecnologia poderia representar para o exercício do jornalismo. (MACHADO, 2003, p.20) A segunda fase do webjornalismo surge durante uma séria crise dos meios tradicionais de comunicação. A televisão, por exemplo, sofria com a falta de audiência, resultado do cansaço promovido por uma programação sem criatividade e a participação daqueles que realmente deveriam ser os co-autores na construção da televisão. Outro meio que vem suportando de forma devastadora as consequências do meio digital são os jornais4 impressos, que naquele momento sofriam com a 4 Em 2008, segundo dados do IVC houve um aumento na circulação de jornais no Brasil de 5% e no mundo um aumento de 1,3% http://www.ivc.org.br/clipping/OGloboDigital_28052009.html 24 venda reduzida de exemplares. A Internet, nessa ocasião, se configura como um espaço para os jovens, cada vez mais desinteressados nessas fórmulas ultrapassadas de comunicação, os mass media, optam por um local onde podem eles mesmos construir o seu espaço. Neste início da segunda década do jornalismo digital, estamos percebendo com maior claridade essa extraordinária transferência de controle do emissor para o receptor. Isso abre caminho para a comunicação que poderíamos chamar de eu-cêntrica, pois está baseada nas decisões individuais do receptor, diante do enorme leque de opções que a Internet lhe abre. A comunicação se torna eu-cêntrica porque tenho acesso somente ao que eu quero, na hora em que eu quero no formato em que eu quero e onde eu quero. (ALVES, 2006, p.04) Os blogs nascem justamente nesta fase, surgem aos milhões5, contendo links para notícias e comentários sobre os mais variados temas. De forma viral, os blogs se espalham pelo mundo, criando comunidades até em locais fora de alcance dos meios de comunicação de massa ALVES (2006). Em países como os Estados Unidos, os blogs são identificados como cães de guarda dos cães de guarda. O que caracteriza esta nova ferramenta no ciberespaço é o seu individualismo, diferente do que os meios de comunicação de massa propõem, com o blog, o internauta tem o total controle do que será publicado. A facilidade na administração do blog também contribui para a sua popularização. Diferente de um site, essas ferramentas trazem mais pessoalidade, uma linguagem mais simples, tornando-os mais próximos da audiência. Os blogs têm um caráter individualizador, seja o indivíduo uma pessoa, uma instituição ou uma organização. Sua diferença em relação a um site está na facilidade e agilidade de sua atualização, no estilo jornalístico de sua linguagem e no caráter mais personalista de seu conteúdo. (SANTAELLA, 2007, p.181) 5 Em dezembro de 2007, Technorati contava 112 milhões de blogs. A cada dia, são criados mais de 175 mil novos e produzidos 1,6 milhões de posts (cerca de 18 por segundo). Últimos dados do State of the Blogsphere de 2006 indicavam que o número de blogs dobra a cada 5,5 meses e que um blog é criado a cada segundo todo dia. Em relação ao Brasil, estima-se que há entre 3 a 6 milhões de blogueiros/blogs e 9 milhões de usuários (as estatísticas variam muito em fontes como Ibobe/NetRatings, Intel, entre outras), o que corresponde a quase metade dos internautas ativos no país. 25 Essas características contribuíram para que os jornalistas, no começo, torcessem o nariz para essa nova ferramenta. As empresas jornalísticas ainda calcadas em um modelo tradicional de comunicação não enxergavam nos blogs um novo instrumento de trabalho. Depois de muitas discussões chegou-se à conclusão de que esse novo suporte digital poderia ser sim uma grande ferramenta para os próprios jornalistas. Via-se nessa iniciativa uma abertura maior de conversação com os leitores. A partir desse momento, o jornalista passou a encarar os blogs não mais como uma ameaça, mas como a própria redenção fora dos meios tradicionais de comunicação com a possibilidade de liberdade para escrever fora do agendamento. Os jornalistas inicialmente viam com desdém os blogs, mas foram aos poucos entendendo que se tratava de um fenômeno importante, estreitamente ligado às transformações impostas pelo jornalismo digital. Jornalistas e empresas jornalísticas precisam entender que o blog é apenas um instrumento. Como essa ferramenta nasceu de baixo para cima,a partir dos cidadãos comuns, uma nova linguagem, uma formatação narrativa que pode muito bem servir para o jornalismo. (ALVES, 2006, p.08) A incorporação do uso dos blogs por jornalistas deixou antes de tudo uma abertura para discussões a cerca da fragilidade sobre quem é o jornalista? E o que é o jornalismo? Foletto (apud REGAM, 2003). Isso ocorre, uma vez que, o papel do gateskeepers deixa de possuir alguma relevância quando os próprios usuários podem escolher quais assuntos tratar, no caso dos jornalistas que trabalham com blogs e estão desvencilhados de empresas de comunicação, a lógica é a mesma. A cultura das mídias libera o receptor da obrigação de só consumir o que os mass media transmitem. As tecnologias, os equipamentos e as linguagens que neles circulam propiciadores dessa nova lógica cultural que chamo de “cultura das mídias”, apresentam como principal característica permitir a escolha e o consumo mais personalizado e individualizado das mensagens, em oposição ao consumo massivo. São justamente esses processos que constituem a cultura das mídias. Foram eles que arrancaram o receptor da inércia da recepção de mensagens impostas de fora e começaram a treiná-lo para a busca da informação e do entretenimento que deseja encontrar. (SANTAELLA, 2007, p.125) 26 O blog Fatos e Dados absorve muito bem essa concepção, com o uso de uma ferramenta de fácil usabilidade, popular, e neste momento, já caracterizada por ser um meio já adotado por grandes jornalistas, no Brasil, podemos citar o jornalista Ricardo Noblat. Dessa forma, o leitor não tem mais a obrigação de aguardar dos meios tradicionais de comunicação uma informação a respeito da estatal. O fato também de o blog não está vinculado a um meio de comunicação tradicional permite que o público o busque e assim consiga uma nova perspectiva. O advento dos blogs de informação de relevância jornalística é decorrente de vários fatores e, dentre os principais, está o fato de que muitas pessoas não estavam contentes com o que era noticiado pelo jornalismo tradicional, cada vez mais distante da realidade por elas observada. A expansão mundial dos weblogs do início da década possibilitou que muitas pessoas passas sem a manifestar essa insatisfação, transformando os seus blogs em “observatórios da imprensa”. Atentos a cada passo da mídia tradicional, eles podem apontar os erros cometidos com mais liberdade do que em outras mídias, transformando-se em poderosos antídotos contra o jornalismo descuidado. (FOLETTO, 2009, p. 205) A Petrobras, insatisfeita com o que estava sendo noticiado pela imprensa, durante a CPI da qual a empresa era investigada, abriu um novo olhar para os internautas, estes já habituados a um novo conceito dentro do ciberespaço absorveram com grande entusiasmo essas novas possibilidades e passam a utilizar o blog como observatório da imprensa. Quando o Fatos e Dados publica a pergunta dos jornalistas e logo depois deixa um link para que ele faça as comparações, abre espaço para que o próprio internauta faça as suas considerações, por meio de um comentário, ou a publicação de um post em seu próprio blog. Assim como o leitor que necessita (va) criar um distúrbio de ordem para atrair a atenção da mídia e dar a algum acontecimento um caráter público, e na internet pode, por si só publicar e divulgar tal fato, também a Petrobras, em momento de ser bombardeada pelas denúncias, encontra na rede espaço para fazer se colocar. Ou seja, ainda que considerada uma fonte de acesso habitual, detentora de importância política e econômica no país, neste momento, seu acesso se restringia a dar explicações. (MARTINS,2009, p.09) É muito natural para alguns grupos de blogueiros acompanhar entre os seus blogs as informações que são inseridas na web. Os internautas lêem as 27 informações nos blogs que já acompanham e daí partem para a blogosfera. Dessa forma, eles percebem se o assunto procurado está sendo comentado e aproveitam para atualizarem as informações nos próprios blogs “já que cada blogueiro tem uma opinião, um estilo de escrita, e assim pode linkar para outras páginas que o leitor ainda não encontrou a respeito do tema”. (AQUINO, 2009, p.244). Essa modalidade em que círculos de blogueiros lêem mutuamente seus blogs é chamado de webrings. Os blogs são linkados uns nos outros e formam um anel de interação diária, através da leitura e do comentário dos posts entre os vários indivíduos, que chegam a comentar os comentários uns dos outros ou mesmo deixar recados para terceiros nos blogs. (RECUERO, 2003, p.07) No caso do blog Fatos e Dados, este ganha um status de maior importância na blogosfera por ser administrado pela Petrobras. Os blogueiros habituados a acompanhar os acontecimentos que circulam no ciberespaço utilizam as informações veiculadas no suporte midiático para atualizarem as próprias informações que possuem. Depois dessa iniciativa, os meios de comunicação tradicionais, que a esta altura já conheciam uma dimensão maior do que era a cultura das mídias, e muitos deles já haviam incorporado esse conceito, utiliza essa habilidade a favor das próprias ideologias, isso quando levamos em consideração que nos últimos anos muitas empresas de comunicação passaram a incorporar os blogs de jornalistas conhecidos como forma de se habituar a esse novo conceito. 2.4 Um blog Corporativo? Os blogs, aos poucos, foram conquistando o seu espaço, resistiram às polêmicas quanto à legitimidade para informar na Web e hoje muitos jornalistas os utilizam como uma forte ferramenta contra a própria falta de liberdade diante dos meios de comunicação de massa. Para as empresas, o uso dos blogs se constituiu como uma forma de se aproximar cada vez mais dos clientes. O blog, com a característica da bidirecionalidade, permite um diálogo instantâneo com o público. 28 Como instrumento de comunicação por excelência, os blogs podem ser úteis não só ao nível da comunicação com o exterior, mas também ao nível interno. A aproximação com o público-alvo e a troca de ideias sobre assuntos concretos e de interesse mútuo são vantagens irrefutáveis. Um melhor entendimento entre os membros da empresa, que pode até ter um caráter informal é um aspecto a ter em conta. (RODRIGUES, 2006, p.123) São os blogs corporativos, uma subdivisão na blogosfera, que tem como objetivo esse diálogo mais informal entre a organização e o público. De acordo com a sua finalidade AMARAL, RECUERO, MONTARDO (2009) classificam os blogs em três tipos de usos: blogs com fins institucionais, com fins promocionais das organizações e objetos de percepção e análise de risco para a imagem das organizações. Blogs com fins institucionais: são os que possuem um diálogo mais próximo com o público permitindo assim maior transparência na relação entre a empresa e os clientes. Fins promocionais das organizações: utilizam os blogs para pesquisa mercadológica junto ao público e para a promoção de determinados produtos e serviços, por meio de ações de marketing viral em blogs. Objetos de percepção e análise de risco para a imagem das organizações: este tipo de blog permite o fácil acesso a respeito do que está sendo dito em blogs sobre a empresa, possibilitando assim uma rápida tomada de decisão quanto a isso. O Fatos e Dados se encaixaria perfeitamente no primeiro tipo de blog corporativo, pois utiliza esse espaço para se aproximar mais do público permitindo uma maior transparência. Contudo, a Petrobras passa a usá-lo com outros fins, utiliza-o para defender-se das grandes empresas de comunicação. Há nesse caso uma inversão, o Fatos e Dados, umblog corporativo, passa a atuar junto aos interesses regidos pela blogosfera, que são os de oposição aos meios tradicionais de comunicação. Assim o blog da Petrobras bate de frente com instâncias, principalmente políticas, uma vez que se trata de um blog pertencente a uma estatal. A mídia tradicional é uma fonte de informação vertical, ou seja, dos emissores para os receptores. As NTICs, por sua vez, agregam a essa relação a possibilidade de os receptores serem produtores de informações, 29 além de permitirem a interação. É possível ponderar agora uma nova relação de força na política que pode ser considerada mais horizontalizada, se comparada com a dinâmica propiciada pela mídia tradicional. Na mídia tradicional, a informação, até ser veiculada, passa por diversos filtros hierárquicos de edição (gatekeepers), podendo assumir, inclusive, uma edição final diferente daquela que foi imaginada por seu autor. Os blogueiros têm maior liberdade para publicar o material que desejam, pois não precisam passar por um editor. (PENTEDADO, SANTOS, ARAÚJO, 2009, p 136-137) Durante anos, o controle das informações pelos meios de comunicação de massa permitiu uma descaracterização do serviço público brasileiro. Um agendamento próprio dos meios que atuam sob uma verticalização que impede a participação dos receptores na produção das informações. O sucesso da Petrobras e do blog por ela administrado mostraram justamente o contrário, o serviço público pode sim, ser eficiente, mesmo que não estejam no parâmetro das empresas particulares. É bom lembrarmos também que os próprios meios de comunicação de massa passaram a incorporar também essa nova ferramenta, no entanto, essa absorção não extrapola os limites da liberdade proporcionados pela blogosfera, uma vez que ali estão incutidas as vozes das empresas de onde os blogueiros, em sua maioria, jornalistas, provêm. Portanto, compartilham da mesma ideologia. LEMOS (2007) explica que os blogs “desempenham papéis massivos e pós-massivos, reconfigurando a indústria cultural e as cidades contemporâneas. Consequentemente, os blogs surgem com funções pós-massivas e tencionam publicações massivas, como as empresas jornalísticas. Essas, por sua vez, contratam “blogueiros” e, enquanto publicações mediadas por profissionais (jornalistas) podem aferir e criticar o “jornalismo cidadão” pós-massivo, por exemplo,”. Assim as empresas passam a contratar jornalistas com o intuito de usar a credibilidade deles a favor dos seus próprios interesses. Ao utilizar os elementos da blogosfera se aproximam mais do público, e permitem uma ideia de produção do conteúdo, que em alguns momentos é tão somente ilusória, uma vez que muitos desses blogs, hospedados nos domínios das grandes empresas de comunicação de massa, lançam mão de ferramentas que impedem uma maior participação do público. Não podemos esquecer também que muitos jornalistas/blogueiros se 30 identificam com a ideologia da empresa da qual atuam. Isso permite um maior controle dos mass media daquilo que deve ser divulgado no ciberespaço. Na reprodução discursiva da ideologia, os media ganham uma posição fundamental pela sua relação com a problemática da influência, isto é no que diz respeito à dimensão cognitiva do controlo da mente exercida de forma indirecta e persuasiva pelo discurso dos grupos mais poderosos. (CORREIA, 2010, p.14) Sob o ponto de vista ideológico podemos caracterizar os blogs dos grandes meios de comunicação de massa como um espaço de difusão da ideologia neoliberal. KUCINSKI (1996) aponta que “a tentativa de desestruturar o sindicalismo e o movimento estatal fez do neoliberalismo uma doutrina agressiva, com isso houve uma ideologização da imprensa que culminou com uma tentativa exacerbada de desclassificação dos críticos do neoliberalismo, rotulando-os de atrasados, retrógrados ou dinossauros”. O blog da Petrobras ao estar agindo dentro da blogosfera, contra os meios tradicionais de comunicações, acaba por tencionar também a relação já bastante conturbada entre ideologias. Como resultado, acompanhamos um embate entre pro - estatais e antiestatais. De um lado, temos aqueles que defendem a política do Estado mínimo, portanto, acreditam que a presença do poder público em setores do governo, como as estatais ocasionam uma letargia no setor público. Do outro, temos os blogueiros que acreditam no contrário, um setor público eficiente é possível e já existe. Os resquícios dessa disputa estão todos os dias em blogs da Folha de São Paulo, O Globo, Veja, O Estado de São Paulo, Carta Capital. Os blogs, ligados aos mass media, incomodados com o crescimento desse novo conceito, em que o público participa ativamente da difusão de informações, desqualificá-los, rotulando- os de monocórdios, agressivos e incultos. Do outro lado, temos os blogueiros da Carta Capital, blogs independentes como O Conversa Afiada e o blog do Luís Nassif, representantes da blogosfera que completam esse embate ideológico no ciberespaço. 31 2.5 A relação dos mass media com a política Para THOMPSON (1990), o termo comunicação de massa é sob certo aspecto enganador. O primeiro questionamento surge com a expressão “massa”, que deriva do fato de que as mensagens transmitidas são direcionadas a audiências relativamente amplas. Contudo, o autor explica que em outras épocas as audiências eram e permanecem pequenas e especializadas. Por isso a expressão “massa” não deve ser relacionada a termos estritamente quantitativos. “Ao invés de ver essas pessoas como parte de uma massa inerte e indiferenciada, gostaríamos de deixar aberta a possibilidade de que a recepção das mensagens desses meios possa ser um processo ativo, inerente crítico e socialmente diferenciado”. (THOMPSON, 1990, p.288). De maneira bem ampla, podemos idealizar comunicação de massa como: a produção institucionalizada e a difusão generalizada de bens simbólicos através da transmissão e do armazenamento da informação/comunicação THOMPSON (1990). O autor analisa também a comunicação de massa segundo quatro características: A produção e difusão institucionalizadas de bens simbólicos: esta característica implica a produção e a difusão de cópias múltiplas ou o fornecimento de materiais para receptores numerosos. Instituiu uma ruptura fundamental entre a produção e a recepção de bens simbólicos: aqui os bens são produzidos a receptores que não estão presentes fisicamente no local da produção, transmissão ou difusão, são mediados pelos meios técnicos. “Uma conseqüência desta condição é que os processos de produção e de transmissão ou difusão são caracterizados por uma forma específica de indeterminação”. (THOMPSON, 1990, p. 290) Aumenta a acessibilidade das formas simbólicas no tempo e no espaço: esta propriedade implica um alto distanciamento espaço-temporal. Um exemplo prático desta característica pode encontrar nos livros, a extensão da acessibilidade a este produto vai depender de como será recebido, dos canais de difusão, da natureza e do meio técnico. Circulação pública das formas simbólicas: aqui há uma circulação de produtos para uma pluralidade de receptores. 32 Quando nos referimos aos meios de comunicação de massa atrelados a esfera política, de forma simplificada, GOMES (2007) nos diz que essa relação conhece três modelos diferentes. No primeiro modelo, a comunicação de massa existe basicamente na forma da imprensa, o jornalismo que se relaciona com a política não é um sistema à parte, mas um dos componentes da esfera política. A imprensa de opinião surge no século XVIII, com o advento da burguesia e setorna um instrumento fundamental na esfera pública. Essa nova imprensa nasce como radical opositora dos interesses aristocráticos, se constituindo como forte instrumento contra as zonas de segredo de decisão política. A imprensa de opinião nasce, portanto, burguesa, no interior da esfera civil e para defender os seus interesses, hostil à esfera reservada da política e polêmica contra o Estado aristocrático. (GOMES, 2007, p. 46) O segundo modelo proposto por Gomes surge quando os burgueses conquistam o Estado e as esferas de decisão política. Antes, a imprensa burguesa se constituía como forte opositora da esfera política, agora, como parte dessa esfera “não há como ter unanimidade de posição quando o que a unificava era pôr-se em sentido contrário ao Estado aristocrático, de acordo com a unidade da classe burguesa” (GOMES, 2007, p. 47). A conquista do Estado divide tanto a burguesia quanto a imprensa, conforme a relação que uma e outra estabelecem com a esfera política estrita. É nesse momento que a imprensa de opinião ganha o status de imprensa de partido se constituindo como órgão dos partidos políticos. “De acordo com a alternância de poder prevista pelo estado democrático moderno, a imprensa se divide então entre periódicos governistas e periódicos de oposição. Por isso obscurece-se a sua função de instrumento da esfera pública e de representante dos interesses da esfera civil” (GOMES, 2007, p.47). Como contexto, no segundo momento, pode-se dizer que em relação ao primeiro modelo pouca coisa havia mudado, o que agora acontecia é que a imprensa estava acompanhada por uma série de instituições sociais que garantiriam a produção, reprodução, circulação de mensagens e produtos de distribuição massiva. Do ponto de vista do seu funcionamento interno e do papel que cumprem para os consumidores de cultura essas instituições eram bastante 33 complexas e operavam em todo o circuito dos produtos de cultura e entretenimento, desde a produção até a distribuição, como acontece hoje. Da perspectiva da sua relação com a política – sobretudo do ponto de vista da sua utilizabilidade pelo Estado, pelos governos e pelos partidos políticos – essas instituições, entretanto eram, mormente compreendidas como instrumentos de difusão de mensagens, como meios de comunicação de massa. (GOMES, 2007, p. 47-48) Assim, iniciam as primeiras investigações sobre os efeitos dos meios de comunicação de massa sobre e para o mundo político. Se começa a perceber a influência que os meios de comunicação, os mass media, podem ter sobre a percepção do público como fortes instrumentos organizadores do gosto e opinião pública relacionados a questões de natureza política. O primeiro ano da pesquisa da comunicação, principalmente em sua fase americana, preocupava-se com o uso da comunicação de massa pela política para a produção dos efeitos que interessavam ao Estado. (GOMES, 2007, p.48) A partir daí GOMES (2007) apresenta duas categorias: o “universo político” e a “sociedade” e um sistema de instrumentos que serve a primeira grandeza para produzir efeitos sobre a segunda. “Os instrumentos seriam justamente meios, intermediários, recursos disponíveis dentre tantos outros, de extrema eficiência, mas indiferentes quanto à sua singularidade. Credita-se pouco demais à comunicação de massa. (GOMES, 2007, p.48). O terceiro modelo surge no século XX, é caracterizado pela assimilação da imprensa de partido pelas novas formas da indústria da informação. É neste momento que o mundo dos negócios descobre a informação como um produto a ser consumido em larga escala. A partir daí, quando passa a ser assimilado pelos negócios, as transações deixam de ser realizadas pelos partidos mantenedores ao agregarem as categorias de consumidores de informação e os anunciantes. O fato é que havia sido formada na sociedade uma demanda por informação atualizada, verdadeira, objetiva, imparcial, leiga e independente. A imprensa de partido não poderia produzir essa informação política porque era aparelhada para gerar basicamente informação política e porque a informação era gerada por uma fonte interessada no jugo político, portanto 34 que não oferecia garantias de objetividade, imparcialidade e independência. (GOMES, 2007, p.50) Deste modo nasce uma imprensa empresarial que tinha como objetivo atender a um público cada vez menos comprometido com as questões políticas. À imprensa de posição (de partido) coube converter-se em imprensa empresarial, desaparecer ou manter-se no mesmo formato, neste último caso, pagando o ônus de atingir um público cada vez menor GOMES (2007). Como a indústria de informação não conseguiria se manter apenas com a venda do seu produto (a informação) surge então a figura do anunciante. “É razoável supor, então, que surge realmente uma indústria da informação quando esta passa a vender a mercadoria “atenção pública” ou “audiência” aos anunciantes” (GOMES, 2007, p.50). No caso do jornal, a credibilidade passa a ser uma das propriedades comerciais do jornalismo. A relação entre os meios tradicionais de comunicação, que correspondem aos mass media, e a política tem reflexos muito expressivos também na cultura das mídias, uma vez que, as empresas de comunicação se transportaram para esse novo suporte. Contudo, não se desvencilharam dos propósitos massivos. O anunciante, também nesse meio desempenha papel crucial para as incursões na sociedade. Com a possibilidade de maior autonomia dentro do ciberespaço, esses meios passam a concorrer diretamente com uma maior liberdade proporcionada pela bidirecionalidade dos novos suportes midiáticos no ciberespaço. Os jornalistas/blogueiros deixam de ser os irradiadores de informações políticas e passam a compartilhar das mesmas informações que um cidadão comum. No meio político, isso acarreta tensões, uma vez que durante algum tempo muitos pontos de vista, contra o neoliberalismo, por exemplo, foram alijados da opinião pública, por meio de agendamentos que tornavam esse sistema como a melhor saída para a economia e o subsequente desenvolvimento do país. O projeto neoconservador, que desde os anos 1970 procura saídas para as crises, se articula em propostas econômicas de supressão de conquistas trabalhistas, reprivatizarão e restrição de gasto público – que não podem seguir adiante sem por em marchas novas políticas de reorganização do campo da cultura. Efetivamente ao descolar o eixo da sociedade da política para o mercado, ao buscar a substituição do Estado como agente construtor 35 de hegemonia, as novas políticas conduzem para que a iniciativa privada apareça como a verdadeira defensora da liberdade de criação e o único enlace entre as culturas nacionais e a cultura transnacional convertida em modelo e guia de renovação. (BARBERO, 2004, p.316) Com relação a essa perspectiva FONSECA (2005) faz referência a uma agenda (ultra) liberal que tinha como objetivo se apropriar e influenciar instituições que funcionam como aparelhos privados de hegemonia. Elaborada por políticos e intelectuais, a agenda propunha: a precedência da esfera privada sobre a esfera pública, privatizações de todas as empresas administradas pelo Estado, desproteção aos capitais nacionais, desmontagem do Estado do Bem-Estar Social, quebra do pacto corporativo entre Capital e Trabalho, livre mercado, aceitação da democracia apenas se possibilitadora do mercado livre e da liberdade individual. Todas essas questões teriam fortes reflexos a partir dos anos 70, quando há uma retomada da hegemonia (ultra) liberal. Essa aproximação de um ideal político-ideológico com os meios tradicionais decomunicação, no Brasil, pôde ser percebido de forma bem característica durante o período da Nova República, quando assume a presidência José Sarney. As principais questões aí incutidas estão vinculadas a política econômica do país que na época vivia sob o Plano Cruzado. Logo o fracasso do plano, com os sucessivos aumentos da inflação, assim como o congelamento dos preços – proporcionado pela intervenção estatal - fora suficiente para que a imprensa lançasse mão do agendamento neoliberal. A partir desse momento os meios tradicionais de comunicação adotaram o neoliberalismo como fonte para todos os problemas econômicos em que o país se encontrava e passaram a fazer uma sistemática campanha para a desestatização do país. Como justificativa, afirmavam que a presença do Estado na economia seria um prejuízo ao país e representava o atraso. Assim, foi durante o período da Nova República que a Folha de São Paulo, Jornal do Brasil, O Globo e O Estado de São Paulo passaram a ser os irradiadores dos ideais (ultra) liberais em detrimento do poder estatal. Hoje podemos acompanhar a mesma política de desestatização também nas novas mídias criadas por esses veículos. O choque com o blog da Petrobras representa um jogo de interesses que culmina com um embate político ideológico, mas também representa um novo olhar sobre a esfera comunicacional uma vez que, o blog de uma estatal de 36 grande alcance mundial consegue transpor as barreiras desses meios difusores do ideal conservador, neoliberal. 37 3 O PETRÓLEO NO BRASIL 3.1 Campanha o Petróleo é Nosso e a criação da Petrobras De 1947 a 1953 a “Campanha o Petróleo é Nosso” foi um dos movimentos mais polêmicos já existentes no país, que dividiu as opiniões entre aqueles que defendiam o controle do petróleo pelo Estado e os que defendiam que a prospecção, refino e distribuição deveriam ser efetuados pela iniciativa privada. É neste momento que vários setores da sociedade passam a discutir a questão do controle do petróleo. A grande imprensa (O Globo, O Estado de São Paulo, Folha, entre outros) defendia os interesses privatistas, enquanto isso o Partido Comunista, estudantes e outras esferas da sociedade civil eram a favor do monopólio da exploração do petróleo. Em abril de 1947 a campanha consolidou-se com a criação do Centro de Estudos e Defesa do Petróleo (CEDP). O Centro era composto com por professores, estudantes, técnicos e jornalistas e tinha como propósito: Aglutinar os defensores do monopólio estatal e objetivava a conquista do apoio da população para a causa que defendiam. Sua estratégia consistia na realização de conferências, comícios, manifestações e publicações de artigos em jornais e revistas. Também editavam panfletos, livros, periódicos e estimulavam a criação de Centros de Defesa do Petróleo em Estados e municípios. No Congresso, realizaram um lobby pela aprovação do monopólio em todas as fases do setor petrolífero. (CARVALHO, 2005, p.62) No que diz respeito aos meios de comunicação, o jornal O Estado de São Paulo, por exemplo, tratou o assunto como sendo prejudicial ao desenvolvimento do país, no entanto, iria abordar a questão da campanha por ter ela tomado grandes dimensões. O posicionamento de tantos outros periódicos fora o mesmo, com a exceção de alguns, como o Diário de Notícias. Em fevereiro de 1948, o presidente Dutra despachou ao congresso o anteprojeto do Estatuto do Petróleo. O objetivo de tal projeto era a aceitação do capital nacional, privado e estrangeiro na questão da exploração do petróleo. Tais medidas surgem com a conhecida Missão Abbink, que propunha um programa de desenvolvimento para o Brasil. Em um dos tópicos do relatório eram encontradas medidas que deveriam ser adotadas para a atração de capitais privados internacionais. 38 O projeto do Estatuto do Petróleo fora arquivado no término do governo de Gaspar Dutra, como causas, podemos apontar o fracasso do plano SALTE sendo abandonado em 1951 o que ocasionou falta de recursos para o CNP. Um ano antes, a campanha para a presidência do país já tinha como principal candidato o ex- presidente Getúlio Vargas, pela coligação PTB – PSP que obteve ainda o apoio do PSD e com a ajuda de Ademar de Barros conseguira se eleger. No entanto, encontrara um cenário político totalmente desfavorável com a maioria no congresso formada pela UDN. Em 1951, o presidente Getúlio Vargas6 enviou ao Congresso o projeto 1. 16/1951 no qual previa a criação de uma empresa mista que seria controlada pela União. Contudo, o anteprojeto não fora bem recebido no congresso, pois havia um grupo de nacionalistas que defendiam o monopólio estatal em todas as fases da produção. Da mesma forma existia um grupo contrário ao monopólio defendendo a entrada do capital estrangeiro. A questão mais surpreendente no período em que se discutia o monopólio da exploração do petróleo no Brasil diz respeito ao comportamento do UDN. Partido fundado sob os ideais liberais defendia a total e irrestrita nacionalização do Petróleo. Contudo, a questão era menos pelo nacionalismo do que fazer frente contra o governo Vargas. A postura da UDN diante do projeto do Petrobras revela as ambigüidades e contradições no liberalismo do partido e demonstra que sua conduta, em relação à política econômica, não obedecia a um rígido programa doutrinário. Muitas vezes, a conjuntura política acabou por determinar as decisões econômicas. Na questão do petróleo foi o que aconteceu, uma vez que, ao defender o monopólio estatal, os udenistas pretendiam fazer oposição ao getulismo, tomando deles a bandeira do nacionalismo e acusando-os de “entreguistas”. (CARVALHO, 2005, p.91) A Campanha “O Petróleo é Nosso” passou a perder força após as eleições para o Clube Militar, ocorridas em 1952. Disputavam a presidência do clube, os generais Estilac Leal e Horta Barbosa, que defendia o monopólio estatal na 6 A posição de Getúlio Vargas sobre a participação do capital estrangeiro no setor petrolífero foi considerada ambígua e contraditória. Como exemplo, citava-se o pronunciamento do presidente na Bahia, no qual ele afirmou que o Brasil não precisava de estrangeiros para resolver o problema do petróleo 39 questão do petróleo e a Cruzada Democrática, liderada pelos generais Alcides Etchegoyen e Nelson de Melo que defendiam o combate do comunismo dentro das Forças Armadas e a neutralidade dos militares na questão do petróleo. A chapa liderada pelo general Alcides ganha as eleições para o Clube Militar. Na Câmara dos Deputados, a situação do projeto de criação de uma estatal estava totalmente voltada para a questão nacionalista. Enquanto no Senado a situação era totalmente inversa. A Campanha “O Petróleo é Nosso” estava totalmente enfraquecida pela repressão policial e também pela deserção do Clube Militar. Essa situação teve como conseqüência o apoio dos senadores à questão privatista. Como resultado houve a apresentação de trinta e duas emendas ao projeto enviado pela Câmara, destas, quatro modificaram o projeto inicial, pois permitia a participação da iniciativa privada no comando da Petrobras. Depois de definidas as mudanças, o projeto segue para a Câmara onde uma comissão especial é encarregada de dar o parecer a respeito das emendas acrescentadas. Um relatório final é apresentado, em 8 de setembro de 1853, nele constava apenas emendas que não colidiam com as orientações dos deputados, devolveu com parâmetros
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