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Novos Desafios para o Jornalismo: O Caso do Blog da Petrobras

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO 
CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS 
CURSO DE COMUNCAÇÃO SOCIAL 
 
 
 
ANTONIO PEDRO ARAGÃO FERREIRA 
 
 
 
 
 
 
 
 
NOVOS DESAFIOS PARA O JORNALISMO: O caso do blog da Petrobras, Fatos e 
Dados 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
São Luís 
2011 
 
1 
ANTONIO PEDRO ARAGÃO FERREIRA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
NOVOS DESAFIOS PARA O JORNALISMO: O caso do blog da Petrobras, Fatos e 
Dados 
 
Monografia apresentada ao Curso de 
Comunicação Social da Universidade Federal do 
Maranhão para obtenção do grau de Bacharel em 
Comunicação Social, Habilitação Jornalismo. 
 
Orientador: Prof. Dr. José Ribamar Ferreira Júnior 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
São Luis 
2011 
 
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NOVOS DESAFIOS PARA O JORNALISMO: O caso do blog da Petrobras, Fatos e 
Dados 
 
Monografia apresentada ao Curso de Comunicação Social da 
Universidade Federal do Maranhão para obtenção do grau de 
Bacharel em Comunicação Social, Habilitação Jornalismo. 
 
Aprovado em:_____/____/_____ 
 
BANCA EXAMINADORA 
 
_________________________________________________ 
Prof. Dr. José Ribamar Ferreira Júnior (Orientador) 
Universidade Federal do Maranhão 
 
_________________________________________________ 
Examinador 
Universidade Federal do Maranhão 
 
 
_________________________________________________ 
Examinador 
Universidade Federal do Maranhão 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Aos meus pais, Felipe e Layde, minha força, meus 
amigos, meus mestres. 
 
4 
AGRADECIMENTOS 
 
Agradeço em primeiro lugar a Deus, a Ele devo toda a atenção e amor 
infinitos, a Sua presença em minha vida ao longo desses anos foi de suma 
importância para a construção do que sou hoje. 
Agradeço aos meus pais Felipe e Layde, meus exemplos de vida, força, 
dedicação, amor e honestidade, valores importantes para a minha formação. Sou 
grato por todo o apoio que me deram na escolha do curso. Mesmo distantes, sempre 
estiveram por perto, prontos, a todo o momento, a me darem a ajuda necessária 
para seguir o meu caminho no jornalismo. Ao meu pai, especificamente, agradeço 
por toda a força e por acreditar que eu poderia chegar a Universidade. À minha mãe, 
agradeço pela determinação, apoio, por existir em minha vida, por ser a voz que me 
acalma, meu porto seguro, pela preocupação, por querer o melhor para mim. 
Agradeço a minha gigantesca família, em especial as minhas avós, Maria 
e Laíde, exemplos de vida e intensa dedicação aos filhos, netos, bisnetos e agora 
tataranetos. 
A minha irmã Leyla, meus irmãos Natanael e André, agradeço pelo 
companheirismo de todas as horas, momentos que me fizeram esquecer as 
dificuldades que vem com a monografia. 
Agradeço a meus amigos do curso, lembrarei com saudade todos os dias 
desses quatro anos em que passamos juntos. Agradeço especialmente a Leandro 
Santos, Wyllyane Rayana, Elizabeth Bezerra, Andresson Lima, Luana Serra, Maiara 
Bentivi e Beatriz Deruiz por todos os momentos em que vivemos por toda a ajuda e 
por terem-me aguentado esse tempo todo. 
Agradeço também aos meus amigos de longa jornada Rodolfo, José 
Martinho, Bruno e Adenilton. Por todos os momentos que passamos, por todo o 
aprendizado, por toda a força transmitida. 
Agradeço a todos os meus professores, pelos ensinamentos, pelos 
momentos dedicados a compartilhar os muitos conhecimentos que dispõe. Agradeço 
especialmente ao professor Ferreira Júnior a quem durante este período se dedicou 
a me orientar e tornar esta monografia possível. 
 
 
 
 
5 
RESUMO 
 
Apresentamos aqui uma análise do blog da Petrobras, Fatos e Dados cuja 
metodologia consiste em fazer um paralelo das produções que circulam na 
blogosfera e a produção da mídia tradicional tomando como fonte o próprio blog da 
Petrobras. Dessa forma, pretendemos demonstrar em que medida a estrutura 
jornalística do blog da Petrobras interfere na relação jornalista/fonte e inserir uma 
visão crítica quanto à atuação dos meios tradicionais de comunicação diante desse 
novo paradigma. Procura-se no primeiro momento traçar as principais questões 
concernentes ao surgimento do blog, as polêmicas, o comportamento dos jornais e 
de outras instituições. Segue-se com um breve histórico do surgimento da Petrobras 
e logo depois da criação do blog Fatos e Dados. Conclui-se que há uma conotação 
política na abordagem dos mass media contra a Petrobras e que o blog se legitima 
como mediador da sociedade, papel por muitos anos exercido pela imprensa. 
 
Palavras-chave: Petrobras, Fatos e Dados, mass media, mediação. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
6 
ABSTRACT 
 
Here we present an analysis of blog Petrobras, facts and figures which methodology 
is to make a comparison of the productions that circulate in the blogosphere and 
traditional media production taking your own blog as a source of Petrobras. Thus, we 
intend to show to what extent the structure of journalistic blog Petrobras interfere in 
the relationship journalist / source and enter a critical view on the role of traditional 
means of communication in this new paradigm. Looking at the first time outline the 
main issues concerning the rise of the blog, the controversies, the behavior of the 
newspapers and other institutions. It follows with a brief history of the rise of 
Petrobras and soon after the creation of Facts and Data blog. We conclude that there 
is a political approach in the media against us and the blog is legitimized as a 
mediator of society, role for many years exercised by the press. 
 
Keywords: Petrobras, facts and figures, media, mediation. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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LISTA DE ILUSTRAÇÕES 
 
Figura 1 – primeira página do blog 
Figura 2 – Monitor Fatos e Dados 
Figura 3 – Monitor Fatos e Dados 
Figura 4 – Twitter do blog 
Figura 5 – Ferramentas de busca do blog 
Figura 6 – links 
Figura 7 - Carta enviada ao relator da CPI 
Figura 8 – Gráfico Postagens do blog 
Figura 9 – Gráfico dos Jornais 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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SUMÁRIO 
 
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................. 09 
2 DESINTERMEDIAÇÃO E LEGITIMIDADE ...................................................... 12 
2.1 O blog da Petrobras deixa de ser fonte ........................................................ 12 
2.2 O blog da Petrobras como novo ambiente comunicacional ....................... 14 
2.3 O papel do jornalista na era da cultura das mídias ..................................... 19 
2.4 Um blog corporativo? ..................................................................................... 27 
2.5 A relação dos mass media com a política .................................................... 31 
3 O PETRÓLEO NO BRASIL .............................................................................. 37 
3.1 Campanha o Petróleo é nosso e a criação da Petrobras ............................ 37 
3.2 Petrobras, primeiros anos.............................................................................. 39 
3.3 A Petrobras na mira da privatização .............................................................41 
3.4 A CPI da Petrobras: como começou ............................................................. 44 
3.5 O que pretendia a CPI ..................................................................................... 44 
3.6 Blog Fatos e Dados; nasce uma polêmica ................................................... 46 
3.7 O blog da Petrobras na blogosfera ............................................................... 51 
3.7.1 Opiniões a favor ............................................................................................. 51 
3.7.2 Opiniões contra .............................................................................................. 54 
4 O BLOG DA PETROBRAS: DESCRIÇÃO E ANÁLISE .................................. 57 
4.1 Como encontramos o blog no ciberespaço ................................................. 57 
4.2 Síntese do blog Fatos e Dados: 14 de julho a 13 de agosto de 2009 ......... 62 
5 ANÁLISE DOS DADOS .................................................................................. 76 
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................. 79 
 REFERÊNCIAS 
 APÊNDICES 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
9 
1 INTRODUÇÃO 
 
O papel de mediador da sociedade, durante muitos anos, foi 
desempenhado pelo Jornalismo. Ao longo desse tempo, algumas vezes mais, outras 
menos, coube à sociedade apenas receber as informações já selecionadas, 
segundo os critérios jornalísticos. Quando pensamos nos meios de comunicação de 
massa, essa participação da sociedade praticamente é nula. A realidade começa a 
mudar com o surgimento das Novas Tecnologias da Informação que passam a 
priorizar a participação do público. 
Por meio desse novo conceito, o cidadão que antes se detinha, apenas, a 
condição de espectador, agora constrói, participa, critica, e essa crítica é ouvida, 
repassada e em alguns casos, de forma colaborativa, ganha legitimidade. Essa nova 
realidade são as redes sociais. É o que podemos verificar com o twitter e os blogs, 
cada vez mais presentes em nossas vidas. Esses suportes, os blogs, sobretudo, 
estigmatizados pelos jornalistas no início, e hoje fortes aliados passam a independer 
de conceitos acadêmicos e práticas jornalísticas. A impressão que se tem é a de que 
tudo o que aprendemos precisa ser revisto ou jogado fora para um novo começo. 
Como resposta, os meios de comunicação, os tradicionais, migraram para esse novo 
conceito, e o que se observa cada vez mais é que mesmo com a força que dispõe o 
internauta ainda consegue se sobressair, pois um vasto mundo de possibilidades de 
opiniões está disponível na Internet, e melhor, ele pode fazer parte dessa rede 
também. 
O blog da Petrobras, Fatos e Dados, a partir dessa realidade pode ser 
visto como a continuação de um processo ou o início de uma nova forma do fazer 
jornalístico. Contudo, não são essas respostas que buscamos com este trabalho de 
conclusão de curso, nossa tarefa aqui é tão somente demonstrar como esse 
paradigma perturbou a vida de muitos jornalistas e empresas de comunicação. 
O fato de um blog, em resposta a sucessivos ataques da imprensa 
reverter o seu papel de fonte e passar a noticiar, vai para muito além das questões 
que concernem a importância do furo propriamente, uma vez que hoje tudo acontece 
ao mesmo tempo, e ao mesmo tempo ganham o mundo e chegam de todas as 
formas para os interessados. 
Longe dessa discussão, busca-se aqui mostrar como o Fatos e Dados 
interferiu nessa relação jornalista/fonte, e como a imprensa, movida por um 
9 
10 
agendamento beirando ao fanatismo neoliberal moldou, e de forma coordenada, 
aferiu ataques sucessivos contra a Petrobras. Tenta-se mostrar como se deu cada 
inserção dos meios tradicionais de comunicação, como eles se comportaram 
durante a CPI promovida por esses mesmos meios e abastecida também por eles, e 
principalmente, como o blog Fatos e Dados atuou na defesa da Petrobras e que 
proporções essa reação causou na imprensa. 
Para começar, no Capitulo 2 serão tratado as questões concernentes ao 
surgimento do blog, ao fato de ter deixado de ser fonte para ganhar legitimidade 
como difusor de informações, para isso se irá partir de conceitos simples que 
surgem com a Web 2.0. Depois, será abordada diretamente a polêmica que o novo 
modelo causou na imprensa, com a ajuda de autores como Martins Aragão, Alex 
Primo, Traquina serão estruturados os conceitos de noticiabilidade, da importância 
da fonte para o jornalismo e o que a inversão do modelo advindo com o blog Fatos e 
Dados ocasionou nas cercanias do jornalismo. O blog da Petrobras como novo 
ambiente conversacional também é abordado com a ajuda de autores como Lemos 
e também outros autores, além dos que já trabalham com esse tema, como Pisani e 
Piotet que nos ajudarão a enxergar uma perspectiva diferenciada sobre o assunto. 
Saber como o jornalista se comportou durante o período de surgimento das mídias 
eletrônicas também será de suma importância para o estudo, descobrir se o 
jornalismo soube de alguma forma se adaptar a esse novo paradigma que surgia. 
Uma pergunta que se segue é: Será o blog da Petrobras, um blog corporativo? Uma 
vez que deixa de ser fonte para a imprensa. Por último, nesse capítulo, será tratada 
a relação dos mass media com a política, essa perspectiva é de suma importância 
para entender como se desencadeou essa campanha dos meios de comunicação 
contra a Petrobras. 
No Capitulo 3 o trabalho traz um breve histórico do surgimento da 
Petrobras, as principais questões apontadas nesse período, a Campanha o 
“Petróleo é Nosso”, de onde adveio a disputa entre os pró e antiestatais. Dessa 
forma busca-se saber como nasce a CPI da Petrobras, as suas principais 
implicações e principalmente, os fatos que levaram à CPI. Como foram as reações 
dos principais veículos de comunicação? Como contribuíram com a CPI? Virá em 
seguida. As opiniões a favor e discordantes ao blog também estão localizadas 
nessa análise. 
11 
O Capítulo 4 traz a descrição e a análise do blog Fatos e Dados, foi 
escolhido o período de 14 de junho de 2009 a 13 de agosto de 2009 para a 
pesquisa. O momento em questão corresponde ao primeiro mês de instalação da 
CPI. Assim se busca mostrar de que forma o blog se comportou durante esse 
período, se realmente ele interferiu no jornalismo e de que forma isso ocorreu. 
Por fim, este trabalho, como dito antes, não tem a pretensão de prever o 
futuro do jornalismo, e muito menos saber a que proporções o novo paradigma 
advindo com blog Fatos e Dados pode alcançar. Contudo, se pretende contribuir 
com novas discussões acerca do tema. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
12 
 
 
2 DESINTERMEDIAÇÃO E LEGITIMIDADE 
 
Apresentamos, aqui, uma análise do blog da Petrobras, Fatos e Dados 
cuja metodologia consiste em fazer um paralelo das produções que circulam na 
blogosfera e a produção da mídia tradicional tomando como fonte o próprio blog da 
Petrobras. Dessa forma, pretendemos demonstrar em que medida a estrutura 
jornalística do blog da Petrobras interfere na relação jornalista/fonte e inserir uma 
visão crítica quanto à atuação dos meios tradicionais de comunicação diante desse 
novo paradigma. 
 
 
2.1 O blog da Petrobras deixa de ser fonte 
 
O surgimento do blog Petrobras, Fatos e Dados traz à discussão o papel 
do jornalista como mediador na esfera da comunicação. A imprensa, que desde o 
surgimento da sociedade burguesa possuía a função de intercessora na sociedade, 
tem agora, diante da multiplicidade de vozes no meio digital, o desafiode transpor 
os novos produtores de informações. 
Durante muitos anos foi a cultura de massa, os mass media, responsável 
por enormes discussões a respeito da unidirecionalidade das informações 
veiculadas por esse meio. A impossibilidade de se possuir uma identificação e uma 
resposta dos meios de comunicação é ultrapassada com o surgimento da cultura 
das mídias. Foi no início dos anos 1980 que esse sistema começou a ganhar forma 
e passaram a atuar como multiplicadores de mídias. 
As tecnologias, os equipamentos e as linguagens que neles circulam, 
propiciadores dessa nova lógica cultural que chamo de cultura das mídias, 
apresentam como principal característica permitir a escolha e o consumo 
mais personalizado e individualizado das mensagens, em oposição ao 
consumo massivo. (SANTAELLA, 2007, p. 125) 
13 
O advento da segunda geração de serviços na rede, conhecida como 
Web 2.01, potencializou as formas de atuação do usuário na internet, com a 
possibilidade agora de o internauta não só depender de programas já instalados no 
computador, mas também por permitir que haja uma reformulação da maneira de 
agir na web, por meio de ferramentas de uso menos complexo. Com isso, o usuário 
consegue maior autonomia com relação aos vários dispositivos antes de difícil 
compreensão. Outra questão importante que advém com a Web 2.0 diz respeito aos 
softwares que agora ganham a participação dos usuários em seu melhoramento, o 
que contribui para a formação de uma rede de usuários participantes de todo o 
processo. 
Agora, o usuário, pode intervir diretamente em conteúdos, no caso dos 
blogs, por meio de comentários. Mas exemplos não faltam de como hoje o internauta 
possui uma maior mobilidade dentro do ciberespaço. As repercussões sociais são 
também de extrema importância com o desdobramento da web. O ciberespaço 
passa a ser um ambiente de trocas de conhecimento. 
A Web 2.0 possui repercussões sociais importantes, que potencializam 
processos de trabalho coletivo, de troca afetiva, de produção e circulação 
de informações de construção social de conhecimento apoiada pela 
informática. São essas formas interativas, mais do que os conteúdos 
produzidos ou especificações tecnológicas em jogo. (PRIMO, 2007, p.01). 
A partir dessa realidade, nascem os blogs, transformando - se em um 
grande espaço de conversação (PRIMO, 2007). No começo, ridicularizados pelos 
jornalistas, conhecidos apenas como diários online, os blogs, conseguiram se firmar 
como grandes emissores de informações. Como consequência, há uma ruptura na 
forma de transmissão das notícias. O usuário da internet não mais necessita do 
olhar jornalístico para ter acesso a um variado grupo de notícias. 
Haverá pessoas para além do campo classificando-os, o que já presume que 
outro interesse pode ser levado em conta na hora de determinar o que é ou 
 
1
 O termo foi utilizado para agregar o surgimento e popularização de novas ferramentas, programas 
hospedados em sites da rede, que permitiram ao usuário leigo com pouco ou nenhum conhecimento 
em linguagem ou programação de software criar, editar, organizar, trocar e publicar conteúdos na 
rede. Todos poderiam, de fato, serem emissores de informação. 
14 
não notícia; do outro lado, haverá um maior número de pessoas interessadas 
em fatos que não ganhariam status de notícia se não houvesse alguém para 
classificá-las como tal. (FOLETTO, 2009, p.204). 
Ao retornarmos as discussões para o caso do blog da Petrobras podemos 
evidenciar o fenômeno de tomada do direito à informação direta com o público. O 
que poderia ser visto como uma evolução natural do uso da internet, uma vez que, 
esse meio nasce com o propósito libertário que caracteriza o meio digital 
(DALMONTE, 2010) na verdade, apresenta efeito contrário, quando as empresas de 
comunicação passam a recriminar a iniciativa da estatal brasileira. As primeiras 
reações ao novo modelo de mediação proposto pela Petrobras obtiveram como 
justificativa o direito a exclusividade da notícia. 
Ao tentar desqualificar Fatos e Dados, nega-se completamente a idéia de 
liberdade que caracteriza os processos comunicacionais na Internet. Por meio 
de tais estratégias, fica evidente o incômodo gerado a partir do temor da perda 
do controle dos processos comunicacionais por que passa a mídia tradicional. 
O lugar de autoridade, historicamente construído pelos meios de comunicação, 
refere-se à possibilidade de seleção daquilo que será noticiado. A mídia tem se 
colocado como agente mediador, posicionando-se entre o mundo dos fatos e o 
mundo dos leitores/receptores. (DALMONTE, 2010, p.07) 
O blog da Petrobras foge dessa concepção tradicional de que a imprensa 
é a única autoridade no direito a emissão de informações e passa do papel de fonte 
para difusora de notícias. O fato de a estatal ser uma empresa de grande 
importância econômica para o país potencializa todas as críticas da grande 
imprensa ao novo paradigma instaurado com o advento do blog. 
 
 
2.2 O blog da Petrobras como novo ambiente comunicacional 
 
O blog não passou despercebido pela imprensa, pelo contrário, o 
surgimento do Fatos e Dados culminou com uma enorme polêmica que envolveu os 
principais meios tradicionais de comunicação do Brasil, apoiados por Instituições de 
grande representatividade, a Petrobras se viu diante de um grande desafio, que era 
o de impor o seu ponto de vista diante de inúmeros olhares discordantes e por 
muitas vezes oportunistas. 
15 
Uma das primeiras reações veio por meio de uma nota de repúdio 
assinada pela ANJ (Associação Nacional de Jornais) publicada massivamente nos 
principais órgãos da imprensa, aqueles atingidos diretamente pelo blog. No 
manifesto, a Associação minimiza a importância do surgimento desse novo conceito 
ao acusar o Fatos e Dados de intimidar jornais e jornalistas. Ainda na nota, a 
Associação se detém principalmente às questões éticas relacionadas às empresas 
de comunicação atingidas pelo blog. 
O que de certa forma incomodou com o advento do blog foi essa 
possibilidade do acesso às informações sem a necessidade de intermediação. Os 
meios tradicionais de comunicação perceberam isso, e como já não nutriam simpatia 
pela atual administração da estatal, não mediram esforços na tentativa de 
desqualificação do blog, e que pode ser entendida da seguinte maneira: 
A campanha que se levantou contra Fatos e Dados pode ser entendida como 
tentativa de manutenção de um modus operandi que assegura às empresas de 
comunicação um lugar de fala socialmente construído. Ao passar da condição 
de fonte para difusora de informações que lhe são relevantes, a Petrobras 
torna patente a possibilidade de alteração do modelo linear da comunicação 
mediada. (DALMONTE, 2010, p.07). 
Um dos exemplos mais expressivos de como a imprensa perseguiu a 
Petrobras está na matéria publicada pelo O Globo no dia 26 de junho de 2009. Com 
o título “Quebra de Sigilo” a reportagem, faz uma ligação de Wilson Santarosa, 
gerente de Comunicação Institucional da Petrobras, com “aloprados”. Para se ter 
uma ideia da gravidade, isso relacionado a questões éticas, O Globo busca uma 
informação datada de 2006 que nada corresponde ao contexto atual da empresa, e 
principalmente, à CPI da Petrobras e a publica como sendo atual. 
Essas investidas da grande mídia propiciaram à empresa a criação de um 
canal direto com o público para se explicar e se defender. Alegando que as 
informações difundidas na imprensa estavam sendo distorcidas optamos pela 
fórmula de publicar também as perguntas dos jornalistas no domínio. Essa iniciativa 
acarretou uma enorme polêmica quanto à exclusividadeda notícia. 
A falta da apuração e de um controle das informações por jornalistas tem 
servido como argumento para as empresas de comunicação alegarem que o blog 
esteja veiculando notícias de forma bruta. MARTINS (2009) nos diz que “é 
interessante perceber como essa inserção da Petrobras no campo da mídia social é 
16 
também uma reconfiguração da relação geral entre agentes da comunicação, uma 
vez que, agora, a instituição (a fonte) deixa de repassar à imprensa o papel de 
mediador entre suas informações e a sociedade”. 
As notícias, como sabemos, são o resultado de um processo de produção 
em que estão envolvidas a percepção, seleção e transformação de uma matéria-
prima (acontecimento) num produto (as notícias) (TRAQUINA, 2004). Neste 
processo está envolvido um vasto mundo de acontecimentos (matérias-primas). A 
problemática está na seleção daquilo que deve chegar à sociedade, para sanar essa 
questão são utilizados os critérios de noticiabilidade, os valores – notícia. O 
jornalista, dessa forma, reivindica para si a autoridade e a legitimidade de decidir a 
noticiabilidade dos acontecimentos. “Perder esse monopólio é pôr em causa a 
independência do jornalismo e a competência dos seus profissionais”. (TRAQUINA, 
2004). 
Até então, o jornalismo se fiava unicamente na ordem dos três tipos de 
fontes: oficiais, oficiosas e independentes. Nas redações, as fontes oficiais são 
privilegiadas, sempre consideradas as mais confiáveis. Machado (2003 apud LAGE, 
2001, p.63) alerta para esse vício dentro das redações, o autor afirma que a mentira 
ocupa lugar estratégico nas intervenções de personalidades na defesa de interesses 
particulares, difundidos como manifestação de vontade coletiva. Por isso o cuidado 
com a escolha da fonte deve extrapolar questões meramente oficiais ou de uma 
aparente confiança. 
O ciberespaço permite uma multiplicidade de fontes e ao mesmo tempo 
exime o jornalista do papel de intermediário no transporte das informações para a 
sociedade. MACHADO (2003) chama a atenção para o fato de que tais informações 
têm que vir de um individuo ou instituição munida de condições técnicas adequadas. 
O alerta serve para especificar um vasto domínio onde circulam diariamente milhões 
de informações todos os dias e que a cada segundo está em intensa transformação, 
o que torna uma tarefa totalmente difícil selecionar aqueles que substancialmente 
possam contribuir com a produção da notícia. 
Se cada indivíduo ou instituição, desde que munido das condições técnicas 
adequadas, pode inserir conteúdos no ciberespaço devido a facilidade de 
domínio de áreas cada vez mais vastas, fica evidenciada tanto certa diluição do 
papel do jornalista como único intermediário para filtrar as mensagens 
autorizadas a entrar na esfera pública, quanto das fontes profissionais como 
17 
detentoras do quase monopólio do acesso aos jornalistas. (MACHADO, 2003, 
p.28) 
A relação do jornalista com suas fontes surgem com Mauro Wolf (apud 
TRAQUINA, 2004, p. 190) o autor destaca que “a rede de fontes que os órgãos de 
informações estabelecem como instrumento essencial para seu funcionamento 
reflete, por um lado, a estrutura social e de poder existente e, por outro, organiza-se 
a partir das exigências dos procedimentos produtivos”. Uma fonte, sem dúvida, 
corresponde a uma relação de interesses de ambos os lados. O jornalista 
interessado nas informações que tem para ele e a fonte interessada em tornar 
público o que tem a dizer. 
O jornalista pode utilizar a fonte mais pelo que é do que pelo que sabe. A 
maioria das pessoas acredita na autoridade da posição. Quanto mais 
prestigioso for o título ou a posição do individuo maior será a confiança das 
pessoas na sua autoridade. (TRAQUINA, 2004, p. 191). 
Molotch e Lester (1974, apud TRAQUINA, 2004, p.184) classificam os 
indivíduos a partir de sua posição na produção das notícias (MARTINS, 2009). São 
criadas três categorias: os promotores, os organizadores e os consumidores. As 
fontes seriam os promotores, responsáveis por levar os fatos até a imprensa. Essa 
categoria pode ainda ser subdividida, entre os executores, aqueles que participam 
diretamente do fato, e informadores, que fazem o papel intermediário entre o 
executor e a mídia. Os jornalistas, seriam os organizadores, são os responsáveis por 
apurar as informações trazidas pelos promotores. Os leitores estão na última 
categoria, são os consumidores. Percebendo essas três categorias pode-se avaliar o 
quanto importante é a relação entre a fonte e o jornalista e o quanto hoje os 
promotores independem dos organizadores. Uma velha preocupação surge a partir 
desse momento, seria realmente necessária a função do jornalista para transmitir à 
população as informações desejadas? Sobre essa questão, Foletto (2009), afirma: 
Por ser gratuito e de fácil acesso, qualquer um pode criar um blog e postar o 
que quiser nele, inclusive informação de relevância jornalística. Assim, ocorre a 
liberação do pólo de emissão da informação para qualquer um que tenha o 
interesse em obtê-lo, não o deixando somente com os agentes do campo 
jornalístico. Subverte-se o tradicional lugar de emissão; é aberta uma brecha 
para que outros emissores possam ocupar um espaço que até então não 
18 
existia, fazendo com que mais pessoas tenham o seu lugar para informar e o 
use da maneira que achar adequado – muito embora ter esse espaço, por si 
só,não garanta uma visibilidade significativa a ele.(FOLETTO, 2009, p. 203) 
Logo, o Fatos e Dados corresponde a uma potencial fonte de informação 
para jornalistas. Em 2010, com um lucro líquido de R$ 35 bilhões2, a estatal se 
firmou como uma das maiores empresas do ramo pretolífero do mundo. A CPI da 
qual a empresa foi investigada permitiu aos vários veículos da imprensa intensificar 
a busca por mais informações. Como já era de se esperar, por ser uma estatal, e no 
momento, administrada por um governo não simpático a uma parcela da sociedade, 
a reação da mídia tradicional foi extremamente corrosiva. O interesse em divulgar o 
máximo possível de informações não estava ligado à preocupação com o interesse 
público, mas sim em um agendamento típico de governos não simpáticos aos meios 
de comunicação. Como a Folha, O Globo e O Estado de São Paulo foram os 
principais veículos atingidos pela Petrobras e também mais importantes porta-vozes 
dessa ala da política brasileira os efeitos para a Petrobras foram devastadores. 
Com isso, a chuva de informações, para a Petrobras, distorcidas ocasionou o 
rompimento com esse modelo praticado pela imprensa quando a estatal resolve criar 
um blog, principal veículo de contato com o público. 
A Petrobras, não mais necessitava dos jornalistas para informar sobre os 
acontecimentos da empresa, já possuía um canal direto para isso, ainda que para se 
proteger e evitar distorções. Optou por publicar as perguntas dos jornalistas no blog, 
antes mesmo das matérias destes serem veiculadas nos seus veículos de 
comunicação. Essa postura do blog põe em cheque o modelo nutrido durante anos 
pelos mais tradicionais meios de comunicação do país. 
O blog da Petrobras explicita uma fratura em um modelo linear de comunicação 
e, ao mesmo tempo, faz pensar na inclusão do cidadão nos debates de 
interesse público. Não basta teorizar acerca da necessidade de participação do 
indivíduo, mas igualmente assegurar sua participação nos processos 
deliberativos, tomando por referência a publicidade e a transparência. 
(DALMONTE, 2010, p. 09). 
 
2
http://www1.folha.uol.com.br/mercado/881200-petrobras-fecha-2010-com-lucro-recorde-de-r-35189-
bilhoes.shtml 
19 
2.3 O papel dojornalista na era da cultura das mídias 
 
 
A Petrobras, que antes se configurava como fonte para a imprensa, agora 
com a criação do próprio blog, abre um canal direto com o leitor, evitando assim um 
crivo da imprensa tradicional. Com essa iniciativa, o blog não só consegue se livrar 
das amarras das empresas de comunicação, como agora, passa a municiar uma 
rede de blogs que já se sentiam estimulados com o ideário de liberdade no 
ciberespaço. 
São estabelecidos novos lugares de visibilidade que, agora, já não dependem 
apenas dos “chancelados” para tornar públicos determinados assuntos, pois 
não há filtros. Ao invés de ser mostrado, o indivíduo, ou grupo, se mostra e 
escolhe como ser enquadrado. Para além da visibilidade, agora acontece 
disputa pelos modos de ser mostrado, ou pelos regimes de visibilidade, o que 
reforça a natureza dos novos processos comunicacionais não mediados. 
(DALMONTE, 2010, p.11). 
A esta nova configuração em que o público se exime do crivo da grande 
mídia LEMOS (2009) chama de “pós-massivo” em referência ao sistema (aberto, 
“todos - todos”, independente) em contraste ao modelo “um – todo característicos 
dos meios de comunicação de massa. 
Temos agora, neste começo de século XXI, um sistema infocomunicacional 
mais complexo, onde convivem formatos massivos e pós-massivos. Emerge 
aqui uma nova esfera conversacional em primeiro grau, diferente do sistema 
conversacional de segundo grau característico dos mass media. Neste, a 
conversação se dá após o consumo em um rarefeito espaço público. 
Naquele, a conversação se dá no seio mesmo da produção e das trocas 
informativas, entre atores individuais ou coletivos. Esta é a nova esfera 
onversacional pós-massiva. (LEMOS, 2009, p.02) 
Trazendo essa discussão à esfera do blog Fatos e Dados, a mídia 
tradicional se vê ameaçada por essa nova forma de emitir informações. O modelo 
praticado pela Petrobras, apesar de não ser novo, incomoda por vir de forma 
provocativa. O blog assume de vez o papel de emissor das próprias informações. 
Em sua descrição, logo no primeiro dia, o blog deixa claro como atuará no 
ciberespaço: 
20 
Desenvolvido por profissionais de comunicação da empresa, em uma 
plataforma gratuita de publicação online, o Fatos e Dados foi criado com o 
objetivo de ser um canal de comunicação rápida e direta com o público, 
dedicado a apresentar fatos e dados recentes da Petrobras, antecipar o 
posicionamento da Companhia sobre as questões relativas à CPI e 
esclarecimentos solicitados pela imprensa. Dessa forma, reafirma o 
compromisso com a informação e com a transparência, um dos valores da 
organização. (Fatos e Dados, 2009). 
A escolha de uma plataforma gratuita, o WordPress, para a publicação de 
postagens no ciberespaço contribui para uma maior aproximação com o público. O 
uso do blog como ferramenta também não foi por acaso. A utilização dessa rede 
social está ligada à credibilidade que esse instrumento conseguiu por meio de seus 
milhões de usuários que todos os dias se comprometem com o serviço de 
divulgação de informações. 
Os blogs foram considerados instrumentos de conversação, diferentes, 
portanto, das mídias de massa, como a televisão ou os jornais. Eles, e 
outras ferramentas da internet, não se assemelham ao rádio, ao jornal ou a 
televisão, não são concessões do Estado e devem, assim, continuar livres 
de qualquer controle estatal para que todos possam exprimir suas opiniões, 
como nas conversações em praça pública. Só que aqui, a conversação se 
dá na mediação escrita, e a praça pública é a rede mundial de 
computadores. (LEMOS, 2009, p.06) 
O crescimento do uso da internet nos últimos anos tem propiciado o 
surgimento dos chamados “web atores”, termo utilizado por PISANI e PIOTET (2010) 
para designar os internautas que possuem um papel mais ativo na web 2.0.3 Todas 
essas transformações contribuem para que a experiência acumulada pelos web 
atores forneça para uma maior participação do internauta no ciberespaço. No que 
diz respeito a essa questão PISANI e PIOTET (2010) apontam para o desafio, a 
partir de agora, da mídia tradicional e do jornalismo, de se adaptarem a essa nova 
realidade. Com a possibilidade de a própria audiência criar seus espaços e terem 
acesso a uma infinidade de outros, o jornalismo desenvolve um papel secundário. 
 
3
 Estima-se que hoje mais de 2 bilhões de pessoas tem acesso a internet: 
http://www.wbibrasil.com.br/boletim/internet-ultrapassa-2-bilhoes-de-usuarios-em-2010/802/ 
21 
No coração da web atual, a participação é de fato o desafio mais sério que 
as mídias devem enfrentar. Ela recoloca em questão sua autoridade e seu 
papel social. Ela as obriga a reconsiderar as questões muito 
frequentemente retiradas de seu poder e de jornalistas. Ora, ao mesmo 
tempo, pelo menos para uma parte da audiência, a participação torna-se 
uma relação essencial com a informação em razão da confluência da crise 
das mídias tradicionais, da evolução cultural (pós-moderna) e da 
multiplicação das ferramentas e das práticas próprias da web 2.0. (PISANI, 
PIOTET, 2010, p.268.) 
Martins (apud, BOWMAN, WILLIS, 2003) classifica essa nova forma de 
comunicação que se baseia na participação dos usuários como produtores da 
informação, como colaborativa. Os usuários da internet atuam de forma mais 
independente no ciberespaço, no entanto de forma conjunta. Com essa iniciativa 
permitem a construção de um espaço mais democrático, onde todos participam e 
podem interferir na construção. 
Quando nos referimos ao blog da Petrobras, percebemos uma mudança 
nos lugares da fala, propiciado pela facilidade que hoje se tem na reconfiguração do 
ciberespaço. As mídias tradicionais, ainda reféns de um agendamento para a 
cooptação e distribuição de notícias perdem, quando essa possibilidade passa a ser 
possível também na Web. 
As inovações trazidas pela experiência do blog da Petrobras dizem respeito à 
redefinição dos lugares de fala, associados aos meios de comunicação 
tradicionais que, por limitações de espaço e tempo, ainda se vêm 
constrangidos a selecionar, dentre os acontecimentos, aqueles que podem 
passar à categoria de notícia. (DALMONTE, 2009, p.64) 
Sob esse novo prisma, a conversação e a colaboração abertas surgem 
como novidades da sociedade da informação LEMOS (2009). Enquadrado nesse 
novo sistema, a Petrobras, ao criar o blog Fatos e Dados propicia um espaço 
diferente do oferecido pelos meios de comunicação de massa. No que diz respeito 
ao modelo conhecido dos mass media, o público não participa da construção, há na 
verdade a decodificação de uma mensagem já fabricada. Enquanto que no sistema 
conhecido como conversacional, o público atua diretamente, é um participante ativo. 
A nova esfera conversacional se caracteriza por instrumentos de 
comunicação que desempenham funções pós-massivas (liberação do pólo 
22 
da emissão, conexão mundial, distribuição livre e produção de conteúdo 
sem ter que pedir concessão ao Estado), de ordem mais comunicacional do 
que informacional (mais próxima do “mundo da vida” do que do “sistema”), 
alicerçada na troca livre de informação, na produção e distribuição de 
conteúdos diversos, instituindo uma conversação que, mesmo sendo 
planetária, reforça dimensões locais. (LEMOS, 2009, p.03) 
Essa possibilidade torna capaz o protagonismo do blog, no meio em que 
se encontra, extrapolando os muros do ciberespaço. A possibilidade de vários 
blogueiros hoje não mais necessitarem do olhar do jornalista, que em todos os 
momentos representa o olhar das empresas onde trabalham, permite que o próprio 
internauta esboce o seu pontode vista. Claro que não podemos cair no erro da 
plena confiabilidade em tudo o que circula no ciberespaço. 
Na medida em que a arquitetura descentralizada do ciberespaço desarticula o 
modelo clássico, o exercício do jornalismo nas redes telemáticas depende do 
estabelecimento de critérios capazes de garantir a confiabilidade do sistema de 
apuração dentro de um entorno com as especificidades do mundo digital. 
(MACHADO, 2003, p. 25) 
Como uma resposta para esse desencadeamento dentro do ciberespaço, 
surge uma modalidade de fontes, conhecidas como fontes profissionais MACHADO 
(2003). A multiplicidade de informações que circulam no ciberespaço e são 
armazenadas em um mundo ainda maior de “páginas individuais, em bancos de 
dados públicos e nas redes de notícias aumenta a chance de ocorrer um 
deslocamento do lugar das fontes da esfera do oficial ou do oficioso para o domínio 
público”. (MACHADO, 2003, p. 28). Serão essas fontes profissionais que irão dar a 
confiabilidade necessária dentro da rede. 
Entender como o jornalismo se configurou durante o surgimento da era 
digital, com o advento dos blogs, permite-nos visualizar com maior clareza os 
porquês dos meios de comunicação ainda relutarem com as atribuições dessa nova 
perspectiva midiática. No que diz respeito ao blog Fatos e Dados, sabemos que há 
também uma concepção ideológica incutida na resistência dos meios de 
comunicação que não poderá deixar de ser discutida. 
As empresas tradicionais de comunicação demoraram muito tempo para 
enxergar as potencialidades que vinham com a web. Em muitos casos, viam a 
internet como uma extensão ou um complemento do produto tradicional. Em alguns 
23 
países, como os Estados Unidos, essa fase ficou conhecida como shovelware, 
ALVES (2006) um termo pejorativo que designou uma fase de preguiça das 
empresas de comunicação. 
Em vez de ver a web como um novo meio, com características próprias, as 
empresas tradicionais encararam como uma nova ferramenta para distribuir 
conteúdos originalmente em outros formatos. Na melhor das hipóteses via-
se a presença na Internet como uma extensão ou um complemento do 
produto tradicional. Assim, a primeira década do jornalismo digital foi 
caracterizada por este pecado original: a simples transferência do conteúdo 
de um meio tradicional para outro novo com pouca ou nenhuma adaptação. 
(ALVES, 2006, p.02) 
Nas redações, o uso do computador não extrapolou os limites das suas 
potencialidades, isto considerando que o suporte digital altera todo o processo de 
produção jornalística. Desenvolvendo papel secundário dentro das redações, os 
computadores repousaram durante muitos anos no desinteresse das empresas de 
comunicação. 
O conceito de jornalismo de precisão, elaborado no começo dos anos 70 
para definir o trabalho jornalístico no cenário das sociedades complexas, 
revela os limites dos primeiros modelos de digitalização nas redações. 
Quando enquadra a tecnologia como apêndice do processo, que serve para 
aperfeiçoar as ações dos jornalistas sem implodir os fundamentos então 
consagrados pela prática, em vez de contribuir para mudar a essência da 
profissão, o jornalismo de precisão, como mais tarde, a reportagem 
assistida por computador, passa ao largo das implicações que a tecnologia 
poderia representar para o exercício do jornalismo. (MACHADO, 2003, p.20) 
A segunda fase do webjornalismo surge durante uma séria crise dos 
meios tradicionais de comunicação. A televisão, por exemplo, sofria com a falta de 
audiência, resultado do cansaço promovido por uma programação sem criatividade e 
a participação daqueles que realmente deveriam ser os co-autores na construção da 
televisão. Outro meio que vem suportando de forma devastadora as consequências 
do meio digital são os jornais4 impressos, que naquele momento sofriam com a 
 
4
 Em 2008, segundo dados do IVC houve um aumento na circulação de jornais no Brasil de 5% e no 
mundo um aumento de 1,3% http://www.ivc.org.br/clipping/OGloboDigital_28052009.html 
24 
venda reduzida de exemplares. A Internet, nessa ocasião, se configura como um 
espaço para os jovens, cada vez mais desinteressados nessas fórmulas 
ultrapassadas de comunicação, os mass media, optam por um local onde podem 
eles mesmos construir o seu espaço. 
Neste início da segunda década do jornalismo digital, estamos percebendo 
com maior claridade essa extraordinária transferência de controle do 
emissor para o receptor. Isso abre caminho para a comunicação que 
poderíamos chamar de eu-cêntrica, pois está baseada nas decisões 
individuais do receptor, diante do enorme leque de opções que a Internet 
lhe abre. A comunicação se torna eu-cêntrica porque tenho acesso somente 
ao que eu quero, na hora em que eu quero no formato em que eu quero e 
onde eu quero. (ALVES, 2006, p.04) 
Os blogs nascem justamente nesta fase, surgem aos milhões5, contendo 
links para notícias e comentários sobre os mais variados temas. De forma viral, os 
blogs se espalham pelo mundo, criando comunidades até em locais fora de alcance 
dos meios de comunicação de massa ALVES (2006). Em países como os Estados 
Unidos, os blogs são identificados como cães de guarda dos cães de guarda. 
O que caracteriza esta nova ferramenta no ciberespaço é o seu 
individualismo, diferente do que os meios de comunicação de massa propõem, com 
o blog, o internauta tem o total controle do que será publicado. A facilidade na 
administração do blog também contribui para a sua popularização. Diferente de um 
site, essas ferramentas trazem mais pessoalidade, uma linguagem mais simples, 
tornando-os mais próximos da audiência. 
Os blogs têm um caráter individualizador, seja o indivíduo uma pessoa, uma 
instituição ou uma organização. Sua diferença em relação a um site está na 
facilidade e agilidade de sua atualização, no estilo jornalístico de sua 
linguagem e no caráter mais personalista de seu conteúdo. (SANTAELLA, 
2007, p.181) 
 
5
 Em dezembro de 2007, Technorati contava 112 milhões de blogs. A cada dia, são criados mais de 
175 mil novos e produzidos 1,6 milhões de posts (cerca de 18 por segundo). Últimos dados do State 
of the Blogsphere de 2006 indicavam que o número de blogs dobra a cada 5,5 meses e que um blog 
é criado a cada segundo todo dia. Em relação ao Brasil, estima-se que há entre 3 a 6 milhões de 
blogueiros/blogs e 9 milhões de usuários (as estatísticas variam muito em fontes como 
Ibobe/NetRatings, Intel, entre outras), o que corresponde a quase metade dos internautas ativos no 
país. 
25 
Essas características contribuíram para que os jornalistas, no começo, 
torcessem o nariz para essa nova ferramenta. As empresas jornalísticas ainda 
calcadas em um modelo tradicional de comunicação não enxergavam nos blogs um 
novo instrumento de trabalho. Depois de muitas discussões chegou-se à conclusão 
de que esse novo suporte digital poderia ser sim uma grande ferramenta para os 
próprios jornalistas. Via-se nessa iniciativa uma abertura maior de conversação com 
os leitores. A partir desse momento, o jornalista passou a encarar os blogs não mais 
como uma ameaça, mas como a própria redenção fora dos meios tradicionais de 
comunicação com a possibilidade de liberdade para escrever fora do agendamento. 
Os jornalistas inicialmente viam com desdém os blogs, mas foram aos 
poucos entendendo que se tratava de um fenômeno importante, 
estreitamente ligado às transformações impostas pelo jornalismo digital. 
Jornalistas e empresas jornalísticas precisam entender que o blog é apenas 
um instrumento. Como essa ferramenta nasceu de baixo para cima,a partir 
dos cidadãos comuns, uma nova linguagem, uma formatação narrativa que 
pode muito bem servir para o jornalismo. (ALVES, 2006, p.08) 
A incorporação do uso dos blogs por jornalistas deixou antes de tudo uma 
abertura para discussões a cerca da fragilidade sobre quem é o jornalista? E o que é 
o jornalismo? Foletto (apud REGAM, 2003). Isso ocorre, uma vez que, o papel do 
gateskeepers deixa de possuir alguma relevância quando os próprios usuários 
podem escolher quais assuntos tratar, no caso dos jornalistas que trabalham com 
blogs e estão desvencilhados de empresas de comunicação, a lógica é a mesma. A 
cultura das mídias libera o receptor da obrigação de só consumir o que os mass 
media transmitem. 
As tecnologias, os equipamentos e as linguagens que neles circulam 
propiciadores dessa nova lógica cultural que chamo de “cultura das mídias”, 
apresentam como principal característica permitir a escolha e o consumo 
mais personalizado e individualizado das mensagens, em oposição ao 
consumo massivo. São justamente esses processos que constituem a 
cultura das mídias. Foram eles que arrancaram o receptor da inércia da 
recepção de mensagens impostas de fora e começaram a treiná-lo para a 
busca da informação e do entretenimento que deseja encontrar. 
(SANTAELLA, 2007, p.125) 
26 
O blog Fatos e Dados absorve muito bem essa concepção, com o uso de 
uma ferramenta de fácil usabilidade, popular, e neste momento, já caracterizada por 
ser um meio já adotado por grandes jornalistas, no Brasil, podemos citar o jornalista 
Ricardo Noblat. Dessa forma, o leitor não tem mais a obrigação de aguardar dos 
meios tradicionais de comunicação uma informação a respeito da estatal. O fato 
também de o blog não está vinculado a um meio de comunicação tradicional permite 
que o público o busque e assim consiga uma nova perspectiva. 
O advento dos blogs de informação de relevância jornalística é decorrente 
de vários fatores e, dentre os principais, está o fato de que muitas pessoas 
não estavam contentes com o que era noticiado pelo jornalismo tradicional, 
cada vez mais distante da realidade por elas observada. A expansão 
mundial dos weblogs do início da década possibilitou que muitas pessoas 
passas sem a manifestar essa insatisfação, transformando os seus 
blogs em “observatórios da imprensa”. Atentos a cada passo da mídia 
tradicional, eles podem apontar os erros cometidos com mais liberdade do 
que em outras mídias, transformando-se em poderosos antídotos contra o 
jornalismo descuidado. (FOLETTO, 2009, p. 205) 
A Petrobras, insatisfeita com o que estava sendo noticiado pela imprensa, 
durante a CPI da qual a empresa era investigada, abriu um novo olhar para os 
internautas, estes já habituados a um novo conceito dentro do ciberespaço 
absorveram com grande entusiasmo essas novas possibilidades e passam a utilizar 
o blog como observatório da imprensa. Quando o Fatos e Dados publica a pergunta 
dos jornalistas e logo depois deixa um link para que ele faça as comparações, abre 
espaço para que o próprio internauta faça as suas considerações, por meio de um 
comentário, ou a publicação de um post em seu próprio blog. 
Assim como o leitor que necessita (va) criar um distúrbio de ordem para atrair a 
atenção da mídia e dar a algum acontecimento um caráter público, e na 
internet pode, por si só publicar e divulgar tal fato, também a Petrobras, em 
momento de ser bombardeada pelas denúncias, encontra na rede espaço para 
fazer se colocar. Ou seja, ainda que considerada uma fonte de acesso habitual, 
detentora de importância política e econômica no país, neste momento, seu 
acesso se restringia a dar explicações. (MARTINS,2009, p.09) 
É muito natural para alguns grupos de blogueiros acompanhar entre os 
seus blogs as informações que são inseridas na web. Os internautas lêem as 
27 
informações nos blogs que já acompanham e daí partem para a blogosfera. Dessa 
forma, eles percebem se o assunto procurado está sendo comentado e aproveitam 
para atualizarem as informações nos próprios blogs “já que cada blogueiro tem uma 
opinião, um estilo de escrita, e assim pode linkar para outras páginas que o leitor 
ainda não encontrou a respeito do tema”. (AQUINO, 2009, p.244). Essa modalidade 
em que círculos de blogueiros lêem mutuamente seus blogs é chamado de 
webrings. 
Os blogs são linkados uns nos outros e formam um anel de interação diária, 
através da leitura e do comentário dos posts entre os vários indivíduos, que 
chegam a comentar os comentários uns dos outros ou mesmo deixar 
recados para terceiros nos blogs. (RECUERO, 2003, p.07) 
No caso do blog Fatos e Dados, este ganha um status de maior 
importância na blogosfera por ser administrado pela Petrobras. Os blogueiros 
habituados a acompanhar os acontecimentos que circulam no ciberespaço utilizam 
as informações veiculadas no suporte midiático para atualizarem as próprias 
informações que possuem. 
Depois dessa iniciativa, os meios de comunicação tradicionais, que a esta 
altura já conheciam uma dimensão maior do que era a cultura das mídias, e muitos 
deles já haviam incorporado esse conceito, utiliza essa habilidade a favor das 
próprias ideologias, isso quando levamos em consideração que nos últimos anos 
muitas empresas de comunicação passaram a incorporar os blogs de jornalistas 
conhecidos como forma de se habituar a esse novo conceito. 
 
 
2.4 Um blog Corporativo? 
 
Os blogs, aos poucos, foram conquistando o seu espaço, resistiram às 
polêmicas quanto à legitimidade para informar na Web e hoje muitos jornalistas os 
utilizam como uma forte ferramenta contra a própria falta de liberdade diante dos 
meios de comunicação de massa. Para as empresas, o uso dos blogs se constituiu 
como uma forma de se aproximar cada vez mais dos clientes. O blog, com a 
característica da bidirecionalidade, permite um diálogo instantâneo com o público. 
28 
Como instrumento de comunicação por excelência, os blogs podem ser úteis 
não só ao nível da comunicação com o exterior, mas também ao nível interno. 
A aproximação com o público-alvo e a troca de ideias sobre assuntos concretos 
e de interesse mútuo são vantagens irrefutáveis. Um melhor entendimento 
entre os membros da empresa, que pode até ter um caráter informal é um 
aspecto a ter em conta. (RODRIGUES, 2006, p.123) 
São os blogs corporativos, uma subdivisão na blogosfera, que tem como 
objetivo esse diálogo mais informal entre a organização e o público. De acordo com 
a sua finalidade AMARAL, RECUERO, MONTARDO (2009) classificam os blogs em 
três tipos de usos: blogs com fins institucionais, com fins promocionais das 
organizações e objetos de percepção e análise de risco para a imagem das 
organizações. 
Blogs com fins institucionais: são os que possuem um diálogo mais 
próximo com o público permitindo assim maior transparência na relação entre a 
empresa e os clientes. 
Fins promocionais das organizações: utilizam os blogs para pesquisa 
mercadológica junto ao público e para a promoção de determinados produtos e 
serviços, por meio de ações de marketing viral em blogs. 
Objetos de percepção e análise de risco para a imagem das 
organizações: este tipo de blog permite o fácil acesso a respeito do que está sendo 
dito em blogs sobre a empresa, possibilitando assim uma rápida tomada de decisão 
quanto a isso. 
O Fatos e Dados se encaixaria perfeitamente no primeiro tipo de blog 
corporativo, pois utiliza esse espaço para se aproximar mais do público permitindo 
uma maior transparência. Contudo, a Petrobras passa a usá-lo com outros fins, 
utiliza-o para defender-se das grandes empresas de comunicação. 
Há nesse caso uma inversão, o Fatos e Dados, umblog corporativo, 
passa a atuar junto aos interesses regidos pela blogosfera, que são os de oposição 
aos meios tradicionais de comunicação. Assim o blog da Petrobras bate de frente 
com instâncias, principalmente políticas, uma vez que se trata de um blog 
pertencente a uma estatal. 
A mídia tradicional é uma fonte de informação vertical, ou seja, dos 
emissores para os receptores. As NTICs, por sua vez, agregam a essa 
relação a possibilidade de os receptores serem produtores de informações, 
29 
além de permitirem a interação. É possível ponderar agora uma nova 
relação de força na política que pode ser considerada mais horizontalizada, 
se comparada com a dinâmica propiciada pela mídia tradicional. Na mídia 
tradicional, a informação, até ser veiculada, passa por diversos filtros 
hierárquicos de edição (gatekeepers), podendo assumir, inclusive, uma 
edição final diferente daquela que foi imaginada por seu autor. Os 
blogueiros têm maior liberdade para publicar o material que desejam, pois 
não precisam passar por um editor. (PENTEDADO, SANTOS, ARAÚJO, 
2009, p 136-137) 
Durante anos, o controle das informações pelos meios de comunicação 
de massa permitiu uma descaracterização do serviço público brasileiro. Um 
agendamento próprio dos meios que atuam sob uma verticalização que impede a 
participação dos receptores na produção das informações. O sucesso da Petrobras 
e do blog por ela administrado mostraram justamente o contrário, o serviço público 
pode sim, ser eficiente, mesmo que não estejam no parâmetro das empresas 
particulares. 
É bom lembrarmos também que os próprios meios de comunicação de 
massa passaram a incorporar também essa nova ferramenta, no entanto, essa 
absorção não extrapola os limites da liberdade proporcionados pela blogosfera, uma 
vez que ali estão incutidas as vozes das empresas de onde os blogueiros, em sua 
maioria, jornalistas, provêm. Portanto, compartilham da mesma ideologia. LEMOS 
(2007) explica que os blogs “desempenham papéis massivos e pós-massivos, 
reconfigurando a indústria cultural e as cidades contemporâneas. 
Consequentemente, os blogs surgem com funções pós-massivas e tencionam 
publicações massivas, como as empresas jornalísticas. Essas, por sua vez, 
contratam “blogueiros” e, enquanto publicações mediadas por profissionais 
(jornalistas) podem aferir e criticar o “jornalismo cidadão” pós-massivo, por 
exemplo,”. 
Assim as empresas passam a contratar jornalistas com o intuito de usar a 
credibilidade deles a favor dos seus próprios interesses. Ao utilizar os elementos da 
blogosfera se aproximam mais do público, e permitem uma ideia de produção do 
conteúdo, que em alguns momentos é tão somente ilusória, uma vez que muitos 
desses blogs, hospedados nos domínios das grandes empresas de comunicação de 
massa, lançam mão de ferramentas que impedem uma maior participação do 
público. Não podemos esquecer também que muitos jornalistas/blogueiros se 
30 
identificam com a ideologia da empresa da qual atuam. Isso permite um maior 
controle dos mass media daquilo que deve ser divulgado no ciberespaço. 
Na reprodução discursiva da ideologia, os media ganham uma posição 
fundamental pela sua relação com a problemática da influência, isto é no 
que diz respeito à dimensão cognitiva do controlo da mente exercida de 
forma indirecta e persuasiva pelo discurso dos grupos mais poderosos. 
(CORREIA, 2010, p.14) 
Sob o ponto de vista ideológico podemos caracterizar os blogs dos 
grandes meios de comunicação de massa como um espaço de difusão da ideologia 
neoliberal. KUCINSKI (1996) aponta que “a tentativa de desestruturar o sindicalismo 
e o movimento estatal fez do neoliberalismo uma doutrina agressiva, com isso houve 
uma ideologização da imprensa que culminou com uma tentativa exacerbada de 
desclassificação dos críticos do neoliberalismo, rotulando-os de atrasados, 
retrógrados ou dinossauros”. 
O blog da Petrobras ao estar agindo dentro da blogosfera, contra os 
meios tradicionais de comunicações, acaba por tencionar também a relação já 
bastante conturbada entre ideologias. Como resultado, acompanhamos um embate 
entre pro - estatais e antiestatais. De um lado, temos aqueles que defendem a 
política do Estado mínimo, portanto, acreditam que a presença do poder público em 
setores do governo, como as estatais ocasionam uma letargia no setor público. Do 
outro, temos os blogueiros que acreditam no contrário, um setor público eficiente é 
possível e já existe. 
Os resquícios dessa disputa estão todos os dias em blogs da Folha de 
São Paulo, O Globo, Veja, O Estado de São Paulo, Carta Capital. Os blogs, ligados 
aos mass media, incomodados com o crescimento desse novo conceito, em que o 
público participa ativamente da difusão de informações, desqualificá-los, rotulando-
os de monocórdios, agressivos e incultos. Do outro lado, temos os blogueiros da 
Carta Capital, blogs independentes como O Conversa Afiada e o blog do Luís 
Nassif, representantes da blogosfera que completam esse embate ideológico no 
ciberespaço. 
 
 
 
31 
2.5 A relação dos mass media com a política 
 
Para THOMPSON (1990), o termo comunicação de massa é sob certo 
aspecto enganador. O primeiro questionamento surge com a expressão “massa”, 
que deriva do fato de que as mensagens transmitidas são direcionadas a audiências 
relativamente amplas. Contudo, o autor explica que em outras épocas as audiências 
eram e permanecem pequenas e especializadas. Por isso a expressão “massa” não 
deve ser relacionada a termos estritamente quantitativos. “Ao invés de ver essas 
pessoas como parte de uma massa inerte e indiferenciada, gostaríamos de deixar 
aberta a possibilidade de que a recepção das mensagens desses meios possa ser 
um processo ativo, inerente crítico e socialmente diferenciado”. (THOMPSON, 1990, 
p.288). 
De maneira bem ampla, podemos idealizar comunicação de massa como: 
a produção institucionalizada e a difusão generalizada de bens simbólicos através 
da transmissão e do armazenamento da informação/comunicação THOMPSON 
(1990). O autor analisa também a comunicação de massa segundo quatro 
características: 
A produção e difusão institucionalizadas de bens simbólicos: esta 
característica implica a produção e a difusão de cópias múltiplas ou o fornecimento 
de materiais para receptores numerosos. 
Instituiu uma ruptura fundamental entre a produção e a recepção de 
bens simbólicos: aqui os bens são produzidos a receptores que não estão 
presentes fisicamente no local da produção, transmissão ou difusão, são mediados 
pelos meios técnicos. “Uma conseqüência desta condição é que os processos de 
produção e de transmissão ou difusão são caracterizados por uma forma específica 
de indeterminação”. (THOMPSON, 1990, p. 290) 
Aumenta a acessibilidade das formas simbólicas no tempo e no 
espaço: esta propriedade implica um alto distanciamento espaço-temporal. Um 
exemplo prático desta característica pode encontrar nos livros, a extensão da 
acessibilidade a este produto vai depender de como será recebido, dos canais de 
difusão, da natureza e do meio técnico. 
Circulação pública das formas simbólicas: aqui há uma circulação de 
produtos para uma pluralidade de receptores. 
32 
Quando nos referimos aos meios de comunicação de massa atrelados a 
esfera política, de forma simplificada, GOMES (2007) nos diz que essa relação 
conhece três modelos diferentes. No primeiro modelo, a comunicação de massa 
existe basicamente na forma da imprensa, o jornalismo que se relaciona com a 
política não é um sistema à parte, mas um dos componentes da esfera política. 
A imprensa de opinião surge no século XVIII, com o advento da burguesia 
e setorna um instrumento fundamental na esfera pública. Essa nova imprensa 
nasce como radical opositora dos interesses aristocráticos, se constituindo como 
forte instrumento contra as zonas de segredo de decisão política. 
A imprensa de opinião nasce, portanto, burguesa, no interior da esfera civil 
e para defender os seus interesses, hostil à esfera reservada da política e 
polêmica contra o Estado aristocrático. (GOMES, 2007, p. 46) 
O segundo modelo proposto por Gomes surge quando os burgueses 
conquistam o Estado e as esferas de decisão política. Antes, a imprensa burguesa 
se constituía como forte opositora da esfera política, agora, como parte dessa esfera 
“não há como ter unanimidade de posição quando o que a unificava era pôr-se em 
sentido contrário ao Estado aristocrático, de acordo com a unidade da classe 
burguesa” (GOMES, 2007, p. 47). A conquista do Estado divide tanto a burguesia 
quanto a imprensa, conforme a relação que uma e outra estabelecem com a esfera 
política estrita. 
É nesse momento que a imprensa de opinião ganha o status de imprensa 
de partido se constituindo como órgão dos partidos políticos. “De acordo com a 
alternância de poder prevista pelo estado democrático moderno, a imprensa se 
divide então entre periódicos governistas e periódicos de oposição. Por isso 
obscurece-se a sua função de instrumento da esfera pública e de representante dos 
interesses da esfera civil” (GOMES, 2007, p.47). 
Como contexto, no segundo momento, pode-se dizer que em relação ao 
primeiro modelo pouca coisa havia mudado, o que agora acontecia é que a 
imprensa estava acompanhada por uma série de instituições sociais que garantiriam 
a produção, reprodução, circulação de mensagens e produtos de distribuição 
massiva. 
Do ponto de vista do seu funcionamento interno e do papel que cumprem 
para os consumidores de cultura essas instituições eram bastante 
33 
complexas e operavam em todo o circuito dos produtos de cultura e 
entretenimento, desde a produção até a distribuição, como acontece hoje. 
Da perspectiva da sua relação com a política – sobretudo do ponto de vista 
da sua utilizabilidade pelo Estado, pelos governos e pelos partidos políticos 
– essas instituições, entretanto eram, mormente compreendidas como 
instrumentos de difusão de mensagens, como meios de comunicação de 
massa. (GOMES, 2007, p. 47-48) 
Assim, iniciam as primeiras investigações sobre os efeitos dos meios de 
comunicação de massa sobre e para o mundo político. Se começa a perceber a 
influência que os meios de comunicação, os mass media, podem ter sobre a 
percepção do público como fortes instrumentos organizadores do gosto e opinião 
pública relacionados a questões de natureza política. 
O primeiro ano da pesquisa da comunicação, principalmente em sua fase 
americana, preocupava-se com o uso da comunicação de massa pela 
política para a produção dos efeitos que interessavam ao Estado. (GOMES, 
2007, p.48) 
A partir daí GOMES (2007) apresenta duas categorias: o “universo 
político” e a “sociedade” e um sistema de instrumentos que serve a primeira 
grandeza para produzir efeitos sobre a segunda. “Os instrumentos seriam 
justamente meios, intermediários, recursos disponíveis dentre tantos outros, de 
extrema eficiência, mas indiferentes quanto à sua singularidade. Credita-se pouco 
demais à comunicação de massa. (GOMES, 2007, p.48). 
O terceiro modelo surge no século XX, é caracterizado pela assimilação 
da imprensa de partido pelas novas formas da indústria da informação. É neste 
momento que o mundo dos negócios descobre a informação como um produto a ser 
consumido em larga escala. A partir daí, quando passa a ser assimilado pelos 
negócios, as transações deixam de ser realizadas pelos partidos mantenedores ao 
agregarem as categorias de consumidores de informação e os anunciantes. 
O fato é que havia sido formada na sociedade uma demanda por 
informação atualizada, verdadeira, objetiva, imparcial, leiga e independente. 
A imprensa de partido não poderia produzir essa informação política porque 
era aparelhada para gerar basicamente informação política e porque a 
informação era gerada por uma fonte interessada no jugo político, portanto 
34 
que não oferecia garantias de objetividade, imparcialidade e independência. 
(GOMES, 2007, p.50) 
Deste modo nasce uma imprensa empresarial que tinha como objetivo 
atender a um público cada vez menos comprometido com as questões políticas. À 
imprensa de posição (de partido) coube converter-se em imprensa empresarial, 
desaparecer ou manter-se no mesmo formato, neste último caso, pagando o ônus 
de atingir um público cada vez menor GOMES (2007). 
Como a indústria de informação não conseguiria se manter apenas com a 
venda do seu produto (a informação) surge então a figura do anunciante. “É razoável 
supor, então, que surge realmente uma indústria da informação quando esta passa a 
vender a mercadoria “atenção pública” ou “audiência” aos anunciantes” (GOMES, 
2007, p.50). No caso do jornal, a credibilidade passa a ser uma das propriedades 
comerciais do jornalismo. 
A relação entre os meios tradicionais de comunicação, que correspondem 
aos mass media, e a política tem reflexos muito expressivos também na cultura das 
mídias, uma vez que, as empresas de comunicação se transportaram para esse 
novo suporte. Contudo, não se desvencilharam dos propósitos massivos. O 
anunciante, também nesse meio desempenha papel crucial para as incursões na 
sociedade. 
Com a possibilidade de maior autonomia dentro do ciberespaço, esses 
meios passam a concorrer diretamente com uma maior liberdade proporcionada pela 
bidirecionalidade dos novos suportes midiáticos no ciberespaço. Os 
jornalistas/blogueiros deixam de ser os irradiadores de informações políticas e 
passam a compartilhar das mesmas informações que um cidadão comum. 
No meio político, isso acarreta tensões, uma vez que durante algum 
tempo muitos pontos de vista, contra o neoliberalismo, por exemplo, foram alijados 
da opinião pública, por meio de agendamentos que tornavam esse sistema como a 
melhor saída para a economia e o subsequente desenvolvimento do país. 
O projeto neoconservador, que desde os anos 1970 procura saídas para as 
crises, se articula em propostas econômicas de supressão de conquistas 
trabalhistas, reprivatizarão e restrição de gasto público – que não podem 
seguir adiante sem por em marchas novas políticas de reorganização do 
campo da cultura. Efetivamente ao descolar o eixo da sociedade da política 
para o mercado, ao buscar a substituição do Estado como agente construtor 
35 
de hegemonia, as novas políticas conduzem para que a iniciativa privada 
apareça como a verdadeira defensora da liberdade de criação e o único 
enlace entre as culturas nacionais e a cultura transnacional convertida em 
modelo e guia de renovação. (BARBERO, 2004, p.316) 
Com relação a essa perspectiva FONSECA (2005) faz referência a uma 
agenda (ultra) liberal que tinha como objetivo se apropriar e influenciar instituições 
que funcionam como aparelhos privados de hegemonia. Elaborada por políticos e 
intelectuais, a agenda propunha: a precedência da esfera privada sobre a esfera 
pública, privatizações de todas as empresas administradas pelo Estado, 
desproteção aos capitais nacionais, desmontagem do Estado do Bem-Estar Social, 
quebra do pacto corporativo entre Capital e Trabalho, livre mercado, aceitação da 
democracia apenas se possibilitadora do mercado livre e da liberdade individual. 
Todas essas questões teriam fortes reflexos a partir dos anos 70, quando há uma 
retomada da hegemonia (ultra) liberal. 
Essa aproximação de um ideal político-ideológico com os meios 
tradicionais decomunicação, no Brasil, pôde ser percebido de forma bem 
característica durante o período da Nova República, quando assume a presidência 
José Sarney. As principais questões aí incutidas estão vinculadas a política 
econômica do país que na época vivia sob o Plano Cruzado. Logo o fracasso do 
plano, com os sucessivos aumentos da inflação, assim como o congelamento dos 
preços – proporcionado pela intervenção estatal - fora suficiente para que a 
imprensa lançasse mão do agendamento neoliberal. 
A partir desse momento os meios tradicionais de comunicação adotaram 
o neoliberalismo como fonte para todos os problemas econômicos em que o país se 
encontrava e passaram a fazer uma sistemática campanha para a desestatização do 
país. Como justificativa, afirmavam que a presença do Estado na economia seria um 
prejuízo ao país e representava o atraso. 
Assim, foi durante o período da Nova República que a Folha de São 
Paulo, Jornal do Brasil, O Globo e O Estado de São Paulo passaram a ser os 
irradiadores dos ideais (ultra) liberais em detrimento do poder estatal. Hoje podemos 
acompanhar a mesma política de desestatização também nas novas mídias criadas 
por esses veículos. O choque com o blog da Petrobras representa um jogo de 
interesses que culmina com um embate político ideológico, mas também representa 
um novo olhar sobre a esfera comunicacional uma vez que, o blog de uma estatal de 
36 
grande alcance mundial consegue transpor as barreiras desses meios difusores do 
ideal conservador, neoliberal. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
37 
3 O PETRÓLEO NO BRASIL 
 
3.1 Campanha o Petróleo é Nosso e a criação da Petrobras 
 
De 1947 a 1953 a “Campanha o Petróleo é Nosso” foi um dos 
movimentos mais polêmicos já existentes no país, que dividiu as opiniões entre 
aqueles que defendiam o controle do petróleo pelo Estado e os que defendiam que a 
prospecção, refino e distribuição deveriam ser efetuados pela iniciativa privada. É 
neste momento que vários setores da sociedade passam a discutir a questão do 
controle do petróleo. A grande imprensa (O Globo, O Estado de São Paulo, Folha, 
entre outros) defendia os interesses privatistas, enquanto isso o Partido Comunista, 
estudantes e outras esferas da sociedade civil eram a favor do monopólio da 
exploração do petróleo. Em abril de 1947 a campanha consolidou-se com a criação 
do Centro de Estudos e Defesa do Petróleo (CEDP). O Centro era composto com 
por professores, estudantes, técnicos e jornalistas e tinha como propósito: 
Aglutinar os defensores do monopólio estatal e objetivava a conquista do 
apoio da população para a causa que defendiam. Sua estratégia consistia 
na realização de conferências, comícios, manifestações e publicações de 
artigos em jornais e revistas. Também editavam panfletos, livros, periódicos 
e estimulavam a criação de Centros de Defesa do Petróleo em Estados e 
municípios. No Congresso, realizaram um lobby pela aprovação do 
monopólio em todas as fases do setor petrolífero. (CARVALHO, 2005, p.62) 
No que diz respeito aos meios de comunicação, o jornal O Estado de São 
Paulo, por exemplo, tratou o assunto como sendo prejudicial ao desenvolvimento do 
país, no entanto, iria abordar a questão da campanha por ter ela tomado grandes 
dimensões. O posicionamento de tantos outros periódicos fora o mesmo, com a 
exceção de alguns, como o Diário de Notícias. 
Em fevereiro de 1948, o presidente Dutra despachou ao congresso o 
anteprojeto do Estatuto do Petróleo. O objetivo de tal projeto era a aceitação do 
capital nacional, privado e estrangeiro na questão da exploração do petróleo. Tais 
medidas surgem com a conhecida Missão Abbink, que propunha um programa de 
desenvolvimento para o Brasil. Em um dos tópicos do relatório eram encontradas 
medidas que deveriam ser adotadas para a atração de capitais privados 
internacionais. 
38 
O projeto do Estatuto do Petróleo fora arquivado no término do governo 
de Gaspar Dutra, como causas, podemos apontar o fracasso do plano SALTE sendo 
abandonado em 1951 o que ocasionou falta de recursos para o CNP. Um ano antes, 
a campanha para a presidência do país já tinha como principal candidato o ex-
presidente Getúlio Vargas, pela coligação PTB – PSP que obteve ainda o apoio do 
PSD e com a ajuda de Ademar de Barros conseguira se eleger. No entanto, 
encontrara um cenário político totalmente desfavorável com a maioria no congresso 
formada pela UDN. 
Em 1951, o presidente Getúlio Vargas6 enviou ao Congresso o projeto 1. 
16/1951 no qual previa a criação de uma empresa mista que seria controlada pela 
União. Contudo, o anteprojeto não fora bem recebido no congresso, pois havia um 
grupo de nacionalistas que defendiam o monopólio estatal em todas as fases da 
produção. Da mesma forma existia um grupo contrário ao monopólio defendendo a 
entrada do capital estrangeiro. 
A questão mais surpreendente no período em que se discutia o monopólio 
da exploração do petróleo no Brasil diz respeito ao comportamento do UDN. Partido 
fundado sob os ideais liberais defendia a total e irrestrita nacionalização do Petróleo. 
Contudo, a questão era menos pelo nacionalismo do que fazer frente contra o 
governo Vargas. 
A postura da UDN diante do projeto do Petrobras revela as ambigüidades e 
contradições no liberalismo do partido e demonstra que sua conduta, em 
relação à política econômica, não obedecia a um rígido programa 
doutrinário. Muitas vezes, a conjuntura política acabou por determinar as 
decisões econômicas. Na questão do petróleo foi o que aconteceu, uma vez 
que, ao defender o monopólio estatal, os udenistas pretendiam fazer 
oposição ao getulismo, tomando deles a bandeira do nacionalismo e 
acusando-os de “entreguistas”. (CARVALHO, 2005, p.91) 
A Campanha “O Petróleo é Nosso” passou a perder força após as 
eleições para o Clube Militar, ocorridas em 1952. Disputavam a presidência do 
clube, os generais Estilac Leal e Horta Barbosa, que defendia o monopólio estatal na 
 
6 A posição de Getúlio Vargas sobre a participação do capital estrangeiro no setor petrolífero foi 
considerada ambígua e contraditória. Como exemplo, citava-se o pronunciamento do presidente na 
Bahia, no qual ele afirmou que o Brasil não precisava de estrangeiros para resolver o problema do 
petróleo 
39 
questão do petróleo e a Cruzada Democrática, liderada pelos generais Alcides 
Etchegoyen e Nelson de Melo que defendiam o combate do comunismo dentro das 
Forças Armadas e a neutralidade dos militares na questão do petróleo. A chapa 
liderada pelo general Alcides ganha as eleições para o Clube Militar. 
Na Câmara dos Deputados, a situação do projeto de criação de uma 
estatal estava totalmente voltada para a questão nacionalista. Enquanto no Senado 
a situação era totalmente inversa. A Campanha “O Petróleo é Nosso” estava 
totalmente enfraquecida pela repressão policial e também pela deserção do Clube 
Militar. Essa situação teve como conseqüência o apoio dos senadores à questão 
privatista. Como resultado houve a apresentação de trinta e duas emendas ao 
projeto enviado pela Câmara, destas, quatro modificaram o projeto inicial, pois 
permitia a participação da iniciativa privada no comando da Petrobras. Depois de 
definidas as mudanças, o projeto segue para a Câmara onde uma comissão 
especial é encarregada de dar o parecer a respeito das emendas acrescentadas. 
Um relatório final é apresentado, em 8 de setembro de 1853, nele constava apenas 
emendas que não colidiam com as orientações dos deputados, devolveu com 
parâmetros

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