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Neurociências Eduardo Antunes Martins Neurociências UNIDADE I CAPÍTULO 13 GRANDES VIAS EFERENTES Neurociências – Unidade I MARTINS, Eduardo A. Página 1 As grandes vias eferentes ligam os centros supra-segmentares do sistema nervoso aos órgãos efetores. Essas vias podem levar informações para os músculos estriados esqueléticos, realizando o controle dos movimentos voluntários, ou para outros músculos (liso e cardíaco), além de glândulas, realizando o controle do funcionamento de vísceras e vasos. Ao primeiro casos demos o nome de sistema nervoso eferente somático e o outro sistema nervoso eferente visceral (ou autônomo). Grandes Vias Eferentes Viscerais As vias autonômicas são muito simples, não apresentando algum ponto em especial. Como fora dito em outras oportunidades ele segue níveis hierárquicos. Basicamente o estímulo é gerado após recebimento de impulsos aferentes do corpo ou de regiões mais elevadas do SN (hipotálamo, sistema límbico e área pré-frontal do córtex cerebral), sendo que segue por meio do neurônio pré-ganglionar, sai do SNC por meio dos nervos espinhais ou cranianos e chega até o próximo gânglio, fazendo sinapse com o neurônio pós-ganglionar que efetivamente entra em contato com o tecido efetor. Grandes Vias Eferente Somáticas Já as grandes vias eferentes somáticas são divididas essencialmente em dois grupos: sistema piramidal e extrapiramidal. O primeiro foi apontado por muito tempo como efetor do movimento, sendo representado pelos tratos córtico-espinhal e córtico-nuclear. Esse sistema é caracteristicamente mais novo que o outro, no entanto não é o único responsável pelo movimento. Esse fato pode ser comprovado pela análise de casos em que ocorre perda dessas vias piramidais, mas sem perda subsequente dos movimentos (apenas com a diminuição da especificidade e controle do movimento). O sistema extrapiramidal (chamado assim porque não passa diretamente nas pirâmides, apesar de enviar fibras que se interconectam com o sistema piramidal e por isso passam indiretamente por essas estruturas) é mais arcaico, sendo mais prevalente em animais inferiores. Ele é responsável, no homem, por quase as mesmas funções só que de modo sinergista e menos específico. Suas ações são aumentadas quando ocorre a perda do sistema piramidal, como elucidado anteriormente, gerando movimentos mais imprecisos e de inúmeros grupos musculares. Vias Piramidais Como já comentado são representadas pelos tratos córtico-espinhal e córtico-nuclear. Trato Córtico-Espinhal Esse sistema de fibras liga o córtex cerebral às áreas motoras da medula. As vias piramidais são mais desenvolvidas e conseguem realizar movimentos mais complexos e trabalhados (por exemplo, o movimento de oposição do polegar contra todos os dedos separadamente), pois apresenta um sistema próprio de modulação e coordenação dos movimentos através dos gânglios da base e cerebelo, respectivamente. Isso faz com que o movimento se adeque ao que o organismo necessita. Esse assunto será revisitado em outra oportunidade, quando comentarmos sobre a parte motora do sistema nervoso em si. Figura 1 – Representação dos componentes do SNA e suas vias de interação. Figura 2 – Integração do movimento através dos gânglios da base e do cerebelo. Grandes Vias Eferentes – Cap. 13 MARTINS, Eduardo A. Página 2 Existem dois neurônios nesses tratos somáticos. No caso apresentado o primeiro (chamado de neurônio motor superior) se origina em áreas do córtex cerebral (principalmente área 4), passa pela coroa radiada, perna posterior da cápsula interna, base do pedúnculo cerebral, base da ponte e pirâmides bulbares. Nesse ponto ocorre a decussação das pirâmides, sendo que cerca de 80% das fibras tomam efetivamente o lado oposto, formando o trato córtico-espinhal lateral, e os outros 20% continuam no mesmo lado, formando o trato córtico- espinhal anterior. É importante frisar que na realidade todo esse sistema é contralateral, ou seja, decussa em alguma região. Isso ocorre inclusive com o trato córtico-espinhal anterior, cruzando somente em suas regiões mais terminais. O trato mais importante é o lateral, localizando-se no funículo lateral. Basicamente os neurônios desse sistema fazem sinapse com um interneurônio regulatório que, por sua vez, se liga a um neurônio motor no corno anterior da medula (chamado de neurônio motor inferior). Essa ligação com um interneurônio não é obrigatória, mas auxilia muito no ponto de vista de regulação, pois assim o neurônio superior pode ter tanto uma função ativadora como inibidora. A função principal desse trato é transmitir informações para os músculos esqueléticos de todo corpo, controlando a motricidade voluntária tanto dos músculos axiais como da musculatura apendicular (regiões mais laterais são para músculos mais distais, enquanto locais mais mediais são para os proximais). Trato Córtico-Nuclear Esse trato é análogo ao córtico-espinhal, só que participa do controle os músculos da cabeça/pescoço. Eles iniciam na mesma região do córtex cerebral e se encaminham para a coroa radiada, joelho da cápsula interna e descem pelo tronco associados as fibras do trato córtico-espinhal. À medida que todas essas fibras descem ocorre o destacamento progressivo das fibras do trato córtico-nuclear que vão para a coluna eferente somática (núcleos dos NC III, IV, VI e XII) e eferente visceral especial (núcleos ambíguo e motor do V e do VII). Na realidade geralmente esse neurônios fazem primeiramente uma sinapse com neurônios internunciais localizados na formação reticular que, por sua vez, fazem sinapse com os núcleos dos nervos cranianos citados. Ao contrário do trato córtico-espinhal, essas fibras geralmente são homolaterais. Figura 4 – Representação das vias piramidais. Na imagem à esquerda ocorre representação das fibras córtico- espinhais. As imagens à direita representam, de cima para baixo: áreas em que se originam as fibras dessas vias, representação da cápsula interna e sua divisão interna e anatomia macroscópica da decussação das pirâmides no bulbo. Vias Extrapiramidais Figura 3 – Representação do controle dos músculos proximais e distais e suas localizações na medula. Neurociências – Unidade I MARTINS, Eduardo A. Página 3 Essas vias são representadas por quatro tratos distintos, sendo todos eles coadjuvantes na espécie humano do trato córtico-espinhal, são eles: rubro- espinhal, tecto-espinhal, vestíbulo-espinhal e retículo- espinhal. Todas essas vias recebem alguma influência do córtex cerebral, com exceção da vestíbulo-espinhal (que recebe aferências do córtex cerebelar). Podem-se dividir esses tratos em dois grandes grupos, de acordo com os locais em que terminam na medula: Grupo A: tratos tecto-espinhal, vestíbulo- espinhal e retículo-espinhal, sendo que terminam fazendo sinapses com neurônios motores mais mediais (influenciando dessa forma na musculatura axial e mais proximal); Grupo B: trato rubro-espinhal, sendo que termina fazendo sinapse com neurônios motores mais laterais (influenciando a musculatura mais distal dos membros). O trato vestíbulo-espinhal se origina nos núcleos vestibulares (na área vestibular do IV ventrículo), se relacionando com a manutenção do equilíbrio e postura básica. O trato retículo-espinhal também está relacionado com a manutenção da postura e marcha, sendo que é responsável da motricidade voluntáriada musculatura axial e proximal dos membros (adicional ao sistema piramidal). Ele se origina na formação reticular. O trato tecto-espinhal origina-se no tecto mesencefálico (no colículo superior) e participa em certos reflexos decorrentes de estímulos visuais (reflexo de piscar e proteger o rosto com as mãos). Finalmente, o trato rubro-espinhal se orgina no núcleo rubro (estrutura mesencefálica), ligando-se a neurônios motores laterias na coluna anterior controlando, assim, a motricidade apendicular distal (por exemplo, os músculos das mãos). Figura 6 – Representação do sistema extrapiramidal. Referências Figura 5 – Correlações entre as diversas fibras que formam o sistema extrapiramidal. Grandes Vias Eferentes – Cap. 13 MARTINS, Eduardo A. Página 4 MACHADO, A. Neuroanatomia Funcional, Ed Atheneu, 2ª Ed, São Paulo, 2002. FELTER DL e JÓZEFOWICZ RF. Atlas de Neurociência Humana de Netter, Artmed Editora, Porto Alegre, 2003.
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