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Como o encéfalo se comunica com os motoneurônios da medula espinhal? → Axônios descem desde o encéfalo ao longo da medula espinhal, através de dois grupos principais de vias; → Uma dessas vias é a coluna lateral da medula e a outra é a coluna ventromedial; Lembre-se dessa regra de ouro: as vias laterais estão envolvidas no movimento voluntário da musculatura distal e estão sob controle cortical direto; as vias ventromediais estão envolvidas no controle da postura e da locomoção e estão sob o controle do tronco encefálico. O componente mais importante das vias laterais é o trato corticospinal; → Originado no neocórtex, é o mais longo e um dos maiores tratos do sistema nervoso central (SNC) – 106 axônios; → Dois terços dos axônios desse trato têm origem nas áreas 4 e 6 do lobo frontal, denominado coletivamente de córtex motor; → Os axônios remanescentes no trato corticospinal deriva de áreas somatossensoriais do lobo parietal e serve para regular o fluxo de informação somatossensorial ao encéfalo; Os axônios oriundos do córtex passam através da cápsula interna, fazendo uma ponte entre o telencéfalo e o tálamo, cruzam a base do pedúnculo cerebral, uma grande coleção de axônios no mesencéfalo, e, então, passam através da ponte e se reúnem para formar um tracto na base do bulbo; O trato forma uma protuberância, chamada de pirâmide bulbar (o nome é por conta da sua forma), que passa sobre a superfície ventral bulbar; → Na junção do bulbo com a medula, o trato piramidal cruza na decussação* (intersecção em forma de X) das pirâmides; → Isso significa que o córtex motor direito comanda diretamente o movimento do lado esquerdo do corpo e vice-versa; → À medida que os axônios vão cruzando, eles se reúnem na coluna lateral da medula e constituem o trato corticospinal lateral; Os axônios do tracto corticospinal terminam na região dorsolateral dos cornos ventrais e na substância cinzenta intermediária, onde se encontram neurônios motores e interneurônios que controlam os músculos distais, particularmente os flexores; Um componente bem menor das vias laterais é o trato rubrospinal, que se origina no núcleo rubro do mesencéfalo, assim denominado devido à sua tonalidade rósea em um encéfalo recém-dissecado; → Os axônios do núcleo rubro se cruzam logo adiante, na ponte, e se reúnem com aqueles do trato corticospinal na coluna lateral da medula; → A principal origem de aferências ao núcleo rubro é a região do córtex frontal, que também contribui para o trato corticospinal; O trato rubrospinal parece estar reduzido em seres humanos, com a maior parte de suas funções subordinada ao trato corticospinal; • Os Efeitos de Lesões nas Vias Laterais. Lesões experimentais em ambos os tratos, cortico e rubrospinal, em macacos fizeram esses animais ficarem incapazes de realizar movimentos fracionados dos braços e das mãos; ou seja, não podiam mover seus ombros, cotovelos, pulsos e dedos independentemente; → Por ex, eles podiam agarrar objetos com suas mãos somente quando utilizavam todos os dedos de uma vez só; → Os movimentos voluntários também eram mais lentos e menos acurados; → Apesar disso, os animais conseguiam sentar em posição ereta e ficar de pé com uma postura normal; Lesões apenas nos tratos corticospinais de macacos causaram uma deficiência de movimentos tão grave quanto aquela observada após lesões nas colunas laterais; Curiosamente, contudo, muitas funções reapareceram, de forma gradual, ao longo dos meses que se seguiram à cirurgia; → A única deficiência permanente foi fraqueza nos flexores distais e uma incapacidade para mover os dedos individualmente; No entanto, uma lesão subsequente no tracto rubrospinal reverteu completamente essa recuperação; → Isso sugere que a via corticorrubrospinal compensa parcialmente a perda da via corticospinal; AVEs que lesionam o córtex motor ou o trato corticospinal são comuns em seres humanos; → Sua consequência imediata pode ser paralisia no lado contralateral, mas uma recuperação considerável dos movimentos voluntários pode ocorrer com o tempo; As vias ventromediais possuem quatro tratos descendentes que se originam no tronco encefálico e terminam entre os interneurônios espinhais, controlando os músculos proximais e axiais; → As vias ventromediais usam informações sensoriais sobre equilíbrio, posição corporal e ambiente visual para manter, de forma reflexa, o equilíbrio e a postura corporal; São eles: o trato vestibulospinal, o trato tectospinal, o trato reticulospinal pontino e o trato reticulospinal bulbar; • Os Tratos Vestibulospinais. Os tratos vestibulospinal e tectospinal mantêm o equilíbrio da cabeça sobre os ombros, à medida que o corpo se move no espaço, e a movem em resposta a novos estímulos sensoriais; → Originam-se nos núcleos vestibulares do bulbo, que transmitem informações sensoriais do labirinto vestibular; → Células ciliadas do labirinto ativadas transmitem sinais para os núcleos vestibulares pelo nervo craniano VIII; Um dos componentes dos tratos vestibulospinais se projeta bilateralmente para a medula espinhal, ativando os circuitos espinhais cervicais que controlam os músculos do pescoço e das costas, a fim de guiar os movimentos da cabeça; → A estabilidade da cabeça é importante, uma vez que ali estão nossos olhos; manter nossos olhos estáveis, mesmo com nosso corpo em movimento, garante que nossa imagem do mundo continue estável; Outro componente dos tratos vestibulospinais se projeta ipsilateralmente para baixo até a medula espinhal lombar; → Ele nos ajuda a manter uma postura correta e equilibrada ao ativar os neurônios motores extensores das pernas; • O Trato Tectospinal. O trato tectospinal origina-se no colículo superior do mesencéfalo, o qual recebe aferências diretas da retina; → Também recebe projeções do córtex visual, assim como aferências somatossensoriais e auditivas; → Com essas aferências, o colículo superior constrói um mapa do mundo que está a nossa volta; A estimulação de um ponto desse mapa leva a uma resposta de orientação que comanda a cabeça e os olhos a se moverem de modo que o ponto apropriado no espaço é projetado exatamente sobre a fóvea; → A ativação do colículo pela imagem de alguém correndo em direção à segunda base, por ex, faria o arremessador orientar sua cabeça e seus olhos na direção desse novo e importante estímulo; Após deixar o colículo, os axônios do trato tectospinal rapidamente se cruzam e projetam-se próximos da linha média para regiões cervicais da medula espinhal, onde ajudam a controlar os músculos do pescoço, de regiões superiores do tronco e dos ombros; • Os Tratos Reticulospinais Pontino e Bulbar Os tratos reticulospinais originam-se principalmente da formação reticular do tronco encefálico, logo abaixo do aqueduto cerebral e do quarto ventrículo; → Para os propósitos desta discussão do controle motor, a formação reticular será dividida em duas partes que originarão dois tratos: o trato reticulospinal pontino (medial) e o trato reticulospinal bulbar (lateral); O trato reticulospinal pontino aumenta os reflexos antigravitacionais da medula; → A atividade nessa via facilita os extensores dos membros inferiores e, com isso, ajuda a manter a postura ereta, resistindo aos efeitos da gravidade; → Esse tipo de regulação é um componente importante do controle motor; O trato reticulospinal bulbar tem, contudo, o efeito oposto: ele libera os músculos antigravitacionais do controle reflexo; A atividade em ambos os tractos reticulospinais é controlada por sinais descendentes oriundos do córtex; As vias ventromediais originam-se em diferentes regiões do tronco encefálico e participam principalmente da manutenção da postura e de alguns movimentos reflexos; → A iniciação de um movimento balístico voluntário, como lançar uma bola de beisebol,requer instruções que descem do córtex motor pelas vias laterais; → O córtex motor ativa diretamente os neurônios motores espinhais e os libera do controle reflexo, comunicando-se com os núcleos das vias ventromediais; Embora as áreas corticais 4 e 6 sejam chamadas de córtex motor, é importante reconhecer que o controle dos movimentos voluntários engloba quase a totalidade do neocórtex; → Um movimento direcionado a um objeto depende do conhecimento de onde o corpo está no espaço, para onde pretende ir e a escolha de um plano para lá chegar; → Uma vez selecionado, o plano precisa ser mantido na memória até o momento apropriado; → Por fim, instruções para a implementação do plano devem ser emitidas; Até certo ponto, esses diferentes aspectos do controle motor estão localizados em diferentes regiões do córtex cerebral; O córtex motor é uma região circunscrita do lobo frontal; → A área 4 situa-se na região anterior ao sulco central, no giro pré-central, e a área 6 situa- se anteriormente à área 4; Descobriu-se que uma estimulação elétrica fraca na área 4 desencadeava uma contração dos músculos em uma determinada região do corpo no lado contralateral; → Investigações sistemáticas dessa região estabeleceram que há uma organização somatotópica no giro pré-central humano, muito semelhante àquela observada nas áreas somatossensoriais do giro pós- central; A área 4 é denominada córtex motor primário (M1); Especulou-se que a área 6 podia ser uma área especializada em movimentos voluntários finos; → Estudos, 50 anos mais tarde, apoiaram a suposição de que essa era uma área motora “superior” em seres humanos, mostrando que a estimulação elétrica da área 6 poderia evocar movimentos complexos de ambos os lados do corpo; → Encontrou-se dois mapas motores somatotopicamente organizados na área 6: uma lateral, que chamou de área pré- motora (APM), e outra medial, chamada de área motora suplementar (AMS); → Essas duas áreas parecem desempenhar funções similares, mas em grupos diferentes de músculos; Enquanto a AMS envia axônios que inervam diretamente unidades motoras distais, a APM conecta-se principalmente com neurônios reticulospinais que inervam unidades motoras proximais; Lembre-se do jogador de beisebol parado em sua base, preparando-se para lançar a bola; → Deve ser evidente que, antes de poder calcular a sequência detalhada de contrações musculares para o arremesso desejado, o arremessador deve ter informações acerca da atual posição de seu corpo no espaço e como esta se relaciona com as posições do rebatedor, com seu bastão, e do receptor, com sua luva; Essa imagem mental do corpo parece ser criada pelas entradas somatossensoriais, proprioceptivas e visuais no córtex parietal posterior; → Duas áreas no córtex parietal posterior são de interesse especial: a área 5, alvo das aferências oriundas das áreas somatossensoriais corticais primárias 3, 1 e 2, e a área 7, alvo de áreas corticais visuais de ordem superior, como a área MT; → Pessoas com lesões nessas áreas do lobo parietal apresentam anormalidades bizarras da autoimagem corporal e da percepção das relações espaciais; Os lobos parietais estão amplamente interconectados com regiões anteriores do lobo frontal que se supõe serem importantes para o pensamento abstrato, à capacidade de tomada de decisão e à antecipação das consequências de ações; → Ambos os córtices pré-frontal e parietal enviam axônios que convergem para a área cortical 6. Assim, a área 6 encontra-se na fronteira onde os sinais que codificam quais ações são convertidos em sinais que especificam como as ações serão realizadas; Um trabalho experimental posterior em macacos também reforça a ideia de que a área 6 (APM e AMS) tenha um importante papel no planejamento do movimento, em especial nas sequências de movimentos complexos da musculatura distal; Células na AMS geralmente aumentam sua taxa de disparo cerca de um segundo antes da execução de um movimento da mão ou do pulso; → Deficiências nos movimentos, observadas após lesão na AMS de um lado, são particularmente pronunciadas em tarefas que exigem ações coordenadas das duas mãos, como abotoar uma camisa; Em seres humanos, a incapacidade específica para realizar ações motoras complexas é chamada de apraxia; Você já deve ter ouvido a expressão “preparar, apontar, fogo!”; → A discussão precedente sugere que a prontidão (“preparar”) depende da atividade nos lobos parietal e frontal; → “Apontar” pode residir nas áreas suplementar e pré-motora, onde estratégias de movimentos são projetadas e mantidas até serem executadas; É notável que alguns neurônios em áreas corticais motoras disparam não só quando o macaco faz um movimento específico, mas também quando simplesmente observa outro macaco, ou mesmo um ser humano, fazer o mesmo tipo de movimento; → Estas células foram chamadas de neurônios- espelho por Rizzolatti quando descobertas na APM de macacos; Os neurônios-espelho parecem representar determinados atos motores, como alcançar, agarrar, segurar ou movimentar objetos, independentemente de o macaco realizar o ato ou simplesmente observar outros agindo; → Cada célula tem preferências muito específicas de movimentos; Um neurônio-espelho que responde quando o “seu” macaco agarra um petisco também responderá à visão de outro macaco, agarrando um petisco de forma semelhante, o que não ocorre quando os macacos abanam sua mão; Muitos neurônios-espelho respondem aos sons típicos produzidos por outro macaco durante uma ação específica, da mesma maneira que respondem à visão desse movimento; Em geral, os neurônios-espelho parecem codificar os objetivos específicos de atos motores, em vez de determinados estímulos sensoriais; Os neurônios-espelho devem fazer parte de um extenso sistema encefálico para a compreensão das ações e até mesmo das intenções dos outros; Versões mais amplas sobre essa hipótese sugerem que os neurônios-espelho também são responsáveis por nossa capacidade de ler as emoções e sensações dos outros e ter empatia; → Alguns pesquisadores têm sugerido que neurônios-espelho disfuncionais são responsáveis por certas características de autismo, como a incapacidade de entender pensamentos, intenções, sentimentos e ideias de outros; Agora, consideraremos novamente o nosso arremessador de beisebol em pé sobre sua base; → Ele tomou a decisão de lançar uma bola em curva, mas o rebatedor sai abruptamente da base principal para ajustar seu capacete; → O arremessador fica imóvel na sua base, com os músculos tensos; O arremessador está, portanto, na posição “apontar”; → Uma seleta população de neurônios nos córtices pré-motor e motor suplementar está disparando, antecipando o lançamento; Assim que o rebatedor volta para sua posição, um comando “vai!”, gerado internamente, é emitido; Esse comando parece ser implementado com a participação de importantes aferências subcorticais para a área 6; A principal aferência subcortical para a área 6 origina-se em um núcleo do tálamo dorsal, o núcleo ventrolateral (VL); → A aferência para essa parte do VL, chamada de VLo, surge dos núcleos da base, nas profundezas do telencéfalo; → Os núcleos da base, por sua vez, são alvo do córtex cerebral, particularmente dos córtices frontal, pré-frontal e parietal; → Assim, temos uma alça em que a informação cicla do córtex aos núcleos da base e ao tálamo e de volta para o córtex, em especial para a AMS; → Uma das funções dessa alça parece ser a de seleção e iniciação de movimentos originados da nossa vontade; Os núcleos da base consistem em núcleo caudado, putâmen, globo pálido e o núcleo subtalâmico; → Além disso, podemos adicionar a substância nigra, uma estrutura mesencefálica conectada reciprocamente aos núcleos da base situados no prosencéfalo; → O caudado e o putâmen, em conjunto, são chamadosde núcleo estriado, que é alvo das aferências aos núcleos da base de origem cortical; → Do globo pálido se originam as eferências ao tálamo; As outras estruturas participam em várias alças colaterais que modulam a via direta: Córtex → Estriado → GPi → VLo → Córtex (AMS) Ao microscópio, os neurônios do estriado parecem estar dispersos aleatoriamente, sem uma ordem aparente, como observada nas camadas corticais; → Contudo, essa aparência simples esconde um grau de complexidade na organização dos núcleos da base, a qual compreendemos apenas parcialmente; → Parece que os núcleos da base participam de um grande número de circuitos paralelos, sendo apenas alguns poucos de função estritamente motora; → Outros circuitos estão envolvidos em certos aspectos da memória e da função cognitiva; A alça motora através dos núcleos da base se origina a partir de conexões excitatórias do córtex; Na via direta, as sinapses das células corticais excitam células no putâmen, que fazem sinapses inibitórias em neurônios no globo pálido, que, por sua vez, fazem conexões inibitórias com as células do VLo; → A conexão talamocortical (do VLo até a AMS) é excitatória, facilitando o disparo das células relacionadas a movimentos na MAS; → Em geral, a via direta permite que os núcleos da base estimulem a iniciação de movimentos desejados; A ativação cortical do putâmen leva à excitação da AMS pelo VL; → Uma questão fundamental é o fato de que os neurônios no segmento interno do globo pálido são espontaneamente ativos em repouso e, portanto, inibem tonicamente o VL; → Já a ativação cortical (1) excita os neurônios do putâmen, que (2) inibem os neurônios GPi, (3) liberando as células do VLo de sua inibição e tornando-as ativas; → A atividade no VLo impulsiona a AMS; Assim, essa parte do circuito atua como uma alça de retroalimentação positiva capaz de convergir, ou afunilar, a ativação de diversas áreas corticais para a área motora suplementar do córtex; → Especula-se que o sinal “Vai!” para um movimento gerado pela própria vontade ocorre quando a AMS é impulsionada ao alcançar seu limiar em função da atividade que passa pelo “funil” dos núcleos da base; Há também uma complexa via indireta através dos núcleos da base que tende a antagonizar as funções motoras da via direta; → Informações do córtex passam através das vias diretas e indiretas em paralelo, e suas eferências, no final, regulam o tálamo motor; → A particularidade da via indireta são o GPe e o núcleo subtalâmico; Os neurônios do estriado inibem as células do GPe, cuja função é inibir as células de ambos GPi e núcleo subtalâmico; → Este último também é estimulado por axônios oriundos do córtex, e suas projeções excitam os neurônios do GPi que, como se sabe, inibem os neurônios talâmicos; Embora a ativação cortical da via direta tenda a facilitar o tálamo e a informação que por ele passa, a ativação cortical da via indireta tende a inibir o tálamo; Em geral, a via direta é capaz de auxiliar a selecionar certas ações motoras, enquanto a via indireta, simultaneamente, suprime programas motores que competem e que são inapropriados; Evidências apoiam a concepção de que a função da alça motora direta dos núcleos da base é facilitar a iniciação de movimentos voluntários; De acordo com um modelo, um aumento da inibição do tálamo pelos núcleos da base explica a hipocinesia, o empobrecimento de movimentos, ao passo que a diminuição da atividade de saída dos núcleos da base leva à hipercinesia, um excesso de movimento; A doença de Parkinson exemplifica a primeira condição; → Seus sintomas incluem lentidão de movimentos (bradicinesia), dificuldade para iniciar movimentos intencionais (acinesia), aumento do tônus muscular (rigidez) e tremores das mãos e da mandíbula, mais proeminentes em repouso, quando não há a intenção de se mover; → Muitos pacientes também sofrem déficits cognitivos à medida que a doença progride; A base orgânica da doença de Parkinson é uma degeneração de determinados neurônios da substância nigra e seus axônios projetados ao estriado, cujo neurotransmissor é a dopamina (DA); → As terminações dopaminérgicas formam sinapses em neurônios do estriado em estreita proximidade às entradas oriundas do córtex, sendo a DA capaz de amplificar essa influência cortical para a via direta; → A DA facilita a alça motora direta, ativando células no putâmen (que libera o VLo da inibição induzida pelo GPi); → Em essência, a depleção de DA fecha o funil que alimenta a atividade para a MAS; → Ao mesmo tempo, a DA inibe os neurônios no estriado, cujas terminações inibem o GPe através da via indireta; O objetivo central de grande parte das terapias da doença de Parkinson é aumentar os níveis de dopamina liberada no núcleo caudado e no putâmen, e a maneira mais fácil é administrar o composto l-dopa, um precursor da dopamina; → A l-dopa atravessa a barreira hematencefálica e aumenta a síntese de DA nas células da substância nigra que permanecem vivas, aliviando, assim, alguns dos sintomas; → Agonistas dopaminérgicos também são úteis no tratamento do Parkinson; → No entanto, seja com l-dopa ou agonistas de DA, esses tratamentos não alteram o curso progressivo da doença; Além disso, eles também apresentam efeitos colaterais significativos; A doença de Huntington é uma síndrome hereditária, progressiva, inevitavelmente fatal, caracterizada por hipercinesia e discinesias (movimentos anormais), demência (habilidades cognitivas prejudicadas) e transtorno de personalidade; → Essa doença é bastante rara, atingindo 5-10 pessoas a cada 100 mil habitantes no mundo; → A doença é particularmente insidiosa, pois os sintomas normalmente não aparecem até bem depois que a idade adulta seja atingida; → As pessoas com a doença de Huntington exibem alterações no humor, na personalidade e na memória; → O sinal mais característico da doença é a coreia – movimentos espontâneos, incontroláveis e sem propósito com gesticulações rápidas, de fluxo irregular e ondulatórias, de várias partes do corpo; → A patologia encefálica mais óbvia é uma grave perda de neurônios no núcleo caudado, no putâmen e no globo pálido, com perda adicional de células no córtex cerebral e em outras regiões; A degeneração cortical é a principal responsável pela demência e alterações de personalidade; A hipercinesia também pode resultar de outros tipos de lesões que afetam os núcleos da base; → Um exemplo é a condição chamada de balismo, caracterizada por movimentos violentos das extremidades, como um arremesso; → Os sintomas geralmente ocorrem em apenas um lado do corpo, hemibalismo; O balismo é causado pela lesão do núcleo subtalâmico; → O núcleo subtalâmico excita os neurônios do globo pálido que se projetam para o VLo; → A excitação do globo pálido inibe o VLo; → Assim, a perda do estímulo excitatório para o globo pálido facilita a atividade no VLo, na verdade, abrindo o funil de atividade para a MAS; A AMS está fortemente conectada ao M1, área cortical 4 no giro pré-central; → A designação da área 4 como córtex motor primário é, de certa forma, arbitrária, uma vez que essa não é a única área cortical que contribui para o trato corticospinal ou para o movimento; → Estímulos de intensidades incapazes de evocar movimento em outras áreas corticais são efetivos quando aplicados na área 4, significando que essa área possui fortes e densas conexões sinápticas com os neurônios motores e com os interneurônios espinhais que são a eles conectados; Essa fatia de córtex que se estende por toda a extensão do giro pré-central é também chamada de faixa motora; A via pela qual o córtex motor ativa os neurônios motores inferiores se origina na camada cortical V; Essa camada possui uma população de neurônios piramidais, alguns podendo ser bem grandes (células de Betz);→ Muitas dessas grandes células corticospinais da camada V se projetam para grupos de neurônios motores inferiores e os ativam monossinapticamente; → Os mesmos axônios corticospinais podem também se ramificar e excitar interneurônios inibitórios locais; → Por ex, os neurônios do córtex motor podem excitar grupos de neurônios motores extensores e, simultaneamente, inibir grupos de neurônios motores flexores; As células piramidais da camada V em M1 recebem projeções principalmente de duas origens: de outras áreas corticais e do tálamo; → As principais aferências corticais originam- se de áreas adjacentes à área 4: a área 6, imediatamente anterior, e as áreas 3, 1 e 2, imediatamente posteriores; → As entradas do tálamo para M1 decorrem principalmente de uma outra parte do núcleo ventrolateral, chamado de VLc, que retransmite informações do cerebelo; Além de se projetarem diretamente à medula, as células piramidais da camada V enviam axônios colaterais para muitas regiões subcorticais envolvidas no processamento sensório-motor, sobretudo o tronco encefálico; Durante certo tempo, pensava-se que o córtex motor consistia em um mapeamento detalhado dos músculos individuais, em que a atividade de uma única célula piramidal levaria à atividade em um único conjunto de neurônios motores; • A visão mais recentes é de que cada célula piramidal pode controlar numerosos grupos de neurônios motores conectados a um grupo de músculos capazes de mover um membro na direção de um objetivo desejado; Registros de neurônios M1 em animais ativos revelam que uma descarga de atividade ocorre imediatamente antes e durante um movimento voluntário e que essa atividade parece codificar dois aspectos do movimento: a força e a direção; Foi uma surpresa a descoberta de que o perfil de ajuste da direção do movimento de cada neurônio M1 é mais amplo; → Macacos eram treinados para mover um joystick em direção a uma luzinha, cuja posição variava aleatoriamente em torno de um círculo; → Algumas células M1 disparavam mais vigorosamente durante um movimento para uma direção, mas também durante ângulos de movimento consideravelmente diferentes da direção preferida; → Esse perfil de ajuste direcional mais grosseiro dos neurônios corticospinais certamente era desproporcional à alta acurácia dos movimentos do macaco, sugerindo que a direção do movimento não poderia ser codificada pela atividade de células individuais capazes de responder a uma única direção de movimento; → Georgopoulos propôs a hipótese de que a direção do movimento era, ao contrário, codificada pela atividade coletiva de uma população de neurônios; O código de população no sistema motor implica que grupos de neurônios apresentam um amplo perfil de ajuste às propriedades dos movimentos; → Para testar a viabilidade da ideia de código de população para a direção do movimento, Georgopoulos gravou mais de 200 neurônios M1 diferentes; para cada célula, eles construíram uma curva de ajuste direcional; → A partir desses dados, os pesquisadores sabiam a intensidade da resposta de cada uma das células na população durante o movimento para cada direção; Esse trabalho sugere três conclusões importantes acerca de como M1 comanda o movimento voluntário: (1) que uma boa parte do córtex motor está ativo para cada movimento, (2) que a atividade de cada célula representa apenas um único “voto” computado em favor de uma dada direção do movimento e (3) que a direção do movimento é determinada por um cálculo da média dos “votos” na população; • O Mapa Motor Maleável. Esse esquema para o controle motor permite uma predição interessante: quanto maior a população de neurônios que representa um tipo de movimento, mais refinado é o seu controle; → A partir do mapa motor pode-se predizer que um controle mais fino é possível para as mãos e os músculos da expressão facial, o que, normalmente, é o caso; É claro que movimentos finos de outros músculos podem ser aprendidos com a experiência: considere o movimento dos dedos, pulsos, cotovelos e ombros de um competente violoncelista com uma técnica aprimorada; Isso significa que as células corticais em M1 podem trocar suas funções e se comprometer com outro tipo de movimento à medida que habilidades são aprendidas? → A resposta parece ser positiva; John Donoghue, Jerome Sanes e seus alunos têm levantado evidências indicando que essa plasticidade do córtex motor adulto é possível; → Por exemplo, em uma série de experimentos, foi utilizada a microestimulação cortical em ratos para mapear as regiões de M1 que normalmente provocam movimentos da pata anterior, dos pelos faciais e dos músculos em volta do olho; → Em seguida, foi cortado o nervo motor que supre os músculos do focinho e das vibrissas, o que levou à descoberta de que as regiões de M1 que evocavam movimentos dessas vibrissas passaram a provocar movimentos da pata dianteira ou dos olhos; → O mapa motor foi reorganizado; Esses neurocientistas sugeriram que formas semelhantes de reorganização cortical são, provavelmente, o substrato do aprendizado de habilidades motoras finas; Não é o bastante simplesmente comandar os músculos a se contraírem; Jogar uma bola requer uma sequência detalhada de contrações musculares, cada uma gerando exatamente a quantidade certa de força, precisamente no momento certo; → Estas funções cruciais de controle motor pertencem ao cerebelo; → Sua importância para o controle motor se revela claramente por suas lesões; → Os movimentos tornam-se descoordenados e imprecisos, uma condição conhecida como ataxia; Em vez de movimentar suave e simultaneamente o ombro, o cotovelo e o pulso para trazer o dedo até o nariz, eles movem cada articulação sequencialmente – primeiro o ombro, depois o cotovelo e, finalmente, o pulso; → Isso é chamado de dissinergia, a decomposição do movimento sinérgico multiarticular; Outro déficit característico apresentado por esses pacientes é que seu movimento do dedo é dismétrico; ou seja, eles não alcançam o nariz, ou passam dele, atingindo a própria face; → Você reconhece esses sintomas como semelhantes aos da intoxicação por etanol; → Os movimentos desajeitados que acompanham o abuso de álcool são consequência direta da depressão dos circuitos cerebelares; O cerebelo está posicionado sobre espessas hastes de axônios, chamadas de pedúnculos, que surgem a partir da ponte; → Toda a estrutura se parece com um pedaço de couve-flor; A porção visível do cerebelo é, na realidade, uma fina camada de córtex, dobrada múltiplas vezes; → A superfície dorsal é caracterizada por uma série de giros finos e rasos, chamados de folhas, que correm transversalmente (de lado a lado); → Além disso, fissuras transversais mais profundas dividem-no em dez lóbulos; → Juntos, as folhas e os lóbulos servem para aumentar significativamente a área da superfície do córtex cerebelar, como fazem os giros do cérebro em relação ao seu córtex; Também há neurônios nas profundidades de sua substância branca, formando os núcleos profundos do cerebelo, que retransmitem grande parte das eferências corticais cerebelares para várias estruturas do tronco encefálico; O cerebelo constitui apenas cerca de 10% do volume total do encéfalo, mas o seu córtex possui uma espantosa densidade de neurônios; → Na sua vasta maioria, são minúsculos neurônios excitatórios, chamados de células granulares; → O maior neurônio no córtex cerebelar é a célula de Purkinje, de ação inibitória, cujas aferências são as células granulares excitatórias da camada molecular; → Já seus axônios inibitórios são enviados aos núcleos profundos do cerebelo; Diferentemente do cérebro, o cerebelo não é tão explicitamente dividido ao meio; → Na linha média, as folhas parecem estender- se ininterruptamente de um lado a outro; → O único detalhe que se distingue na linha médiaé uma protuberância que corre longitudinalmente, como uma espinha dorsal; → Essa região mediana, chamada de verme, separa os dois hemisférios cerebelares laterais; O verme e os hemisférios representam importantes divisões funcionais; → O verme envia eferências para as estruturas do tronco encefálico, que contribuem para as vias espinhais ventromediais que, como discutimos, controlam a musculatura axial; → Os hemisférios estão relacionados com outras estruturas encefálicas que contribuem para as vias laterais, sobretudo o córtex cerebral; Os axônios chegando das células piramidais da camada V do córtex sensório-motor – áreas frontais 4 e 6, as áreas somatossensoriais do giro pós-central e as áreas parietais posteriores – formam uma projeção maciça para aglomerados de células na ponte, os núcleos pontinhos, que, por sua vez, alimentam o cerebelo; → A projeção corticopontocerebelar contém em torno de 20 milhões de axônios, isto é, 20 vezes mais do que o trato piramidal! O cerebelo lateral projeta eferências de volta para o córtex motor, via retransmissão no núcleo ventrolateral do tálamo (VLc); Pelos efeitos das lesões nessa via, podemos deduzir que ela é essencial para a execução adequada de movimentos voluntários planejados multiarticulares; → Uma vez que o cerebelo tenha recebido o sinal para a intenção de movimento, sua atividade parece instruir o córtex motor primário em relação a direção, tempo e força do movimento; Para movimentos balísticos, essas instruções se baseiam inteiramente em predições sobre seu resultado (pois esses movimentos são muito rápidos); → Essas predições são baseadas na experiência, isto é, são aprendidas; → Por isso, o cerebelo é um importante local para a aprendizagem motora; • Programando o Cerebelo. Pense sobre o processo de aprender uma nova habilidade motora (p. ex., esquiar, tocar piano, fazer malabarismo ou tricô); → Logo no início, você se concentrará em novos movimentos e a tendência é realizá- los de forma desarticulada e descoordenada; À medida que você aperfeiçoa tal habilidade, os movimentos tornam-se suaves, até que, no final, você os desempenha quase que inconscientemente; → Esse processo representa a criação de um novo programa motor, que gera as sequências apropriadas necessárias para o movimento sem a necessidade de controle consciente; O cerebelo age como um pequeno cérebro dentro do cérebro, determinando, inconscientemente, que os programas de habilidades motoras sejam executados corretamente e ajustados sempre que sua execução não conseguir atender às expectativas.
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