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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS – UNIMONTES CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE DEPARTAMENTO DE BIOLOGIA GERAL Vírus: Micromorfologia a Replicação Viral Microbiologia Prof. Sérgio Avelino M. Nobre Acadêmica: Natalice Barbosa De Jesus Montes Claros- Set. 2017 Vírus: Micromorfologia a Replicação Viral INTRODUÇÃO Os vírus são muito pequenos para serem vistos ao microscópio óptico e não se multiplicam fora de suas células hospedeiras. Por isso, embora as doenças causadas por vírus não sejam uma novidade, as partículas virais não puderam ser estudadas até o século XX. Em 1886, o químico holandês Adolf Mayer demonstrou que a doença do mosaico do tabaco (DMT) era transmissível de uma planta doente para uma planta sadia. Em 1892, em uma tentativa de isolar a causa da DMT, o bacteriologista russo Dimitri Iwanowski filtrou a seiva de plantas doentes em filtros de porcelana construídos para reter bactérias. Ele esperava encontrar o micróbio preso ao filtro. Ao contrário, constatou que o agente infeccioso havia passado através dos diminutos poros do filtro. Quando ele injetou o fluido filtrado em plantas sadias, elas contraíram a doença. A primeira doença humana associada com um agente filtrável foi a febre amarela. Os avanços nas técnicas de biologia molecular nos anos de 1980 e 1990 permitiram a identificação de vários novos vírus, incluindo o vírus da imunodeficiência humana (HIV) e o coronavírus associado à síndrome respiratória aguda severa (SARS). O vírus israelense da paralisia aguda tornou-se uma preocupação em 2006, quando dizimou cerca de 90% das abelhas polinizadoras em algumas colmeias norte-americanas. Esse novo vírus foi identificado pela primeira vez em Israel, em 2002, e parece circular nos Estados Unidos desde então. Doenças humanas causadas por esses vírus serão discutidas na Parte Quatro. Neste capítulo, iremos estudar a biologia dos vírus. (TORTORA et al., 2012) Os vírus são elementos genéticos que conseguem se replicar apenas no interior de uma célula viva, denominada célula hospedeira. Os vírus possuem seu próprio genoma e, neste sentido, são independentes do genoma da célula hospedeira. No entanto, os vírus dependem da célula hospedeira para energia, intermediários metabólicos e síntese proteica. Os vírus são, portanto, parasitas intracelulares obrigatórios. Os vírus infectam tanto células procarióticas quanto eucarióticas e são responsáveis por muitas doenças infecciosas de seres humanos e outros organismos (MADIGAN et al., 2016). Embora os vírus não sejam células, eles possuem um genoma de ácido nucleico que codifica as funções necessárias para sua replicação e uma forma extracelular, denominada vírion, que permite que o vírus viaje de uma célula hospedeira para outra. Os vírus são incapazes de replicarem-se, a menos que o próprio vírion (ou seu 1 genoma, no caso de vírus bacterianos) penetre em uma célula hospedeira adequada, um processo denominado infecção. DISCUSSÃO Os vírus foram diferenciados de outros agentes infecciosos por serem muito pequenos (filtráveis) e por serem parasitas intracelulares obrigatórios – ou seja, requerem células hospedeiras vivas para se multiplicarem. Entretanto, essas duas propriedades são compartilhadas por determinadas bactérias pequenas como algumas riquétsias. As características que realmente distingue os vírus estão relacionadas a sua organização estrutural simples e aos mecanismos de multiplicação. Dessa forma, os vírus são entidades que: Contêm um único tipo de ácido nucleico, DNA ou RNA, contêm um invólucro proteico (às vezes recoberto por um envelope de lipídios, proteínas e carboidratos) que envolve o ácido nucleico, multiplicam-se no interior de células vivas utilizando a maquinaria de síntese celular, induzem a síntese de estruturas especializadas na transferência do ácido nucleico viral para outras células. Os vírus possuem poucas ou mesmo nenhuma enzima própria para seu metabolismo. Por exemplo, não possuem enzimas para a síntese proteica e a geração de ATP. Os vírus devem se apossar da maquinaria metabólica da célula hospedeira para sua multiplicação. Esse fato é de considerável importância médica para o desenvolvimento de drogas antivirais, pois a maioria das drogas que interferem na multiplicação viral também pode interferir com a fisiologia da célula hospedeira, sendo, por isso, demasiadamente tóxicas para uso clínico. 1. Micromorfologia do Vírus Um vírion é uma partícula viral completa e infecciosa composta por um ácido nucléico envolto por uma cobertura de proteína, que o protege do ambiente e serve como um veículo de transmissão de uma célula hospedeira para outra. O tamanho viral é determinado com o auxílio da microscopia eletrônica. Vírus diferentes variam consideravelmente em tamanho. Apesar de a maioria deles ser um pouco menor que as bactérias, alguns dos maiores vírus (como o vírus da vaccinia) são praticamente do mesmo tamanho de algumas bactérias pequenas (como micoplasmas, riquétsias e clamídias). O comprimento dos vírus varia de cerca de 20 a 1.000 nm. 1.1. Ácido nucleico Os vírus são classificados de acordo com as diferenças na estrutura desses envoltórios. Ao contrário das células procarióticas e eucarióticas, nas quais o DNA é sempre o material genético principal (o RNA possui um papel auxiliar), os vírus podem possuir tanto DNA como RNA, mas nunca ambos. O ácido nucleico dos vírus pode ser de fita simples ou dupla. Assim, 2 existem vírus com DNA de fita dupla, DNA de fita simples, RNA de fita dupla e RNA de fita simples. Dependendo do vírus, o ácido nucléico pode ser linear ou circular. Em alguns vírus (como o vírus da gripe), o ácido nucleico é segmentado. A porcentagem de ácido nucleico viral em relação à porcentagem de proteína é de cerca de 1% no caso do vírus influenza e de cerca de 50% para certos bacteriófagos. A quantidade total de ácido nucleico varia de poucos milhares de nucleotídeos (ou pares de nucleotídeos) até 250.000 nucleotídeos. (O cromossomo de E. coli possui, aproximadamente, 4 milhões de pares de bases. 1.2. Capsídeo e envelope O ácido nucleico dos vírus é protegido por um envoltório proteico chamado de capsídeo. A estrutura do capsídeo é determinada basicamente pelo genoma viral e constitui a maior parte da massa viral, especialmente em partículas pequenas. Cada capsídeo é composto por subunidades proteicas chamadas de capsômeros. Em alguns vírus, as proteínas que compõem os capsômeros são de um único tipo; em outros, vários tipos de proteínas podem estar presentes. Os capsômeros em geral são visíveis nas microfotografias eletrônicas. A organizaçãodos capsômeros é característica para cada tipo de vírus. Em alguns vírus, o capsídeo é coberto por um envelope, que normalmente consiste em uma combinação de lipídios, proteínas e carboidratos. Alguns vírus animais são liberados da célula hospedeira por um processo de extrusão, no qual a partícula é envolvida por uma camada de membrana plasmática celular que passa a constituir o envelope viral. Em muitos casos, o envelope contém proteínas codificadas pelo genoma viral juntamente com materiais derivados de componentes normais da célula hospedeira. 2. Morfologia geral Os vírus podem ser classificados em vários tipos morfológicos diferentes, com base na arquitetura do capsídeo. A estrutura do capsídeo tem sido elucidada por microscopia eletrônica e uma técnica conhecida como cristalografia de raios X. 2.1. Vírus helicoidais Os vírus helicoidais lembram bastões longos, que podem ser rígidos ou flexíveis. O genoma viral está no interior de um capsídeo cilíndrico e oco com estrutura helicoidal. Os vírus que causam raiva e febre hemorrágica são helicoidais. 3 Figura 1: Morfologia de um vírus helicoidal. (a) Diagrama de uma parte de um vírus helicoidal. Foram removidas várias fileiras de capsômeros para expor o ácido nucleico.(b) Microfotografia do vírus Ebola, um filovírus, mostrando os bastonetes helicoidais. Imagem disponível no livro de microbiologia de Tortora, Funke & Case, pág 373. 2.2. Vírus poliédricos Muitos vírus animais, vegetais e bacterianos são poliédricos. O capsídeo da maioria dos vírus poliédricos tem a forma de um icosaedro, um poliedro regular com 20 faces triangulares e 12 vértices . Os capsômeros de cada face formam um triângulo equilátero. O adenovírus é um exemplo de um vírus poliédrico com a forma de um icosaedro. O poliovírus também é icosaédrico. Figura 2: Morfologia de um vírus poliédrico. (a) Diagrama de um vírus poliédrico (icosaédrico). (b) Microfotografia do Mastadenovirus, um adenovírus. São visíveis os capsômeros individuais do capsídeo. Imagem disponível no livro de microbiologia de Tortora, Funke & Case, pag 372. 2.3. Vírus envelopados O capsídeo de alguns vírus é coberto por um envelope. Os vírus envelopados são relativamente esféricos. Os vírus helicoidais e os poliédricos envoltos por um envelope são denominados vírus helicoidais envelopados ou vírus poliédricos envelopados. Um exemplo de 4 vírus helicoidais envelopado é o vírus influenza . O vírus do herpes (gênero Simplexvirus) é um exemplo de vírus poliédrico (icosaédrico) envelopado. Os vírus envelopados possuem uma membrana circundando o nucleocapsídeo e podem possuir genoma de RNA ou DNA. Muitos vírus envelopado (p. ex., vírus influenza) infecta células animais, nas quais a membrana citoplasmática é diretamente exposta ao ambiente. Em contrapartida, células de plantas e bactérias são circundadas por uma parede celular no exterior da membrana citoplasmática, e portanto poucos exemplos de vírus envelopados são conhecidos nestes organismos. Em geral, o vírion inteiro penetra na célula animal durante a infecção, com o envelope, se presente, auxiliando no processo de infecção pela fusão com a membrana da célula hospedeira. Vírus envelopados também são mais facilmente liberados da célula animal. À medida que eles são liberados da célula hospedeira, são recobertos por material da membrana. O envelope viral consiste principalmente de membrana citoplasmática da célula hospedeira, porém algumas proteínas virais de superfície são embebidas no envelope à medida que o vírus é liberado da célula. O envelope viral é importante na infecção, uma vez que é o componente do vírion que entra em contato com a célula hospedeira. A especificidade da infecção pelo vírus envelopado e alguns aspectos da sua penetração são, assim, controlado em parte pela química dos seus envelopes. As proteínas de envelope vírus-específicas são essenciais tanto para a ligação do vírion com a célula hospedeira durante a infecção quanto para a libertação do vírion a partir da célula hospedeira após a replicação. Figura 3: Morfologia de um vírus helicoidal envelopado. (a) Diagrama de um vírus helicoidal envelopado. (b) Microfotografia do vírus influenza A2. Imagem disponível no livro de microbiologia de Tortora, Funke & Case, pág 372. 2.4. Vírus complexos 5 Alguns vírus, particularmente os vírus bacterianos, possuem estruturas complicadas e são denominados vírus complexos. Um bacteriófago é um exemplo de um vírus complexo. Alguns bacteriófagos possuem capsídeos com estruturas adicionais aderidas. O capsídeo (cabeça) é poliédrico e a bainha é helicoidal. A cabeça contém o genoma viral. Os poxvírus são outro exemplo de vírus complexos que não possuem capsídeos claramente definidos, mas apresentam várias coberturas ao redor do genoma viral. Figura 4: Morfologia de um vírus complexo. (a) Diagrama e microfotografia de um bacteriófago T-par. (b) Microfotografia do vírus da varíola, uma espécie do gênero Orthopoxvirus. Imagem disponível no livro de microbiologia de Tortora, Funke & Case, pág 374. 3. Replicação viral Para um vírus replicar-se, ele deve induzir uma célula hospedeira viva a sintetizar todos os componentes essenciais necessários à produção de novos vírions. Devido aos requerimentos biossintéticos e energéticos, células hospedeiras mortas não são capazes de replicar vírus. Durante uma infecção ativa, os componentes virais são montados em novos vírions que são liberados da célula. Uma célula que suporta o ciclo completo de replicação de um vírus é dita permissiva para aquele vírus. Em um hospedeiro permissivo, o ciclo de replicação viral pode ser dividido em cinco etapas: 3.1. Ligação (adsorção) do vírion à célula hospedeira É a ligação de uma molécula presente na superfície da partícula viral com os receptores específicos da membrana celular do hospedeiro. Nos vírus envelopados, as estruturas de ligação geralmente se apresentam sob a forma de espículas, como nos Paramyxovirus e nos vírus sem 6 envelope. A ligação célula-vírus geralmente está relacionada a um ou grupo de polipeptídeos estruturais, como acontece nos Papilomavírus . A presença ou ausência de receptores celulares determina o tropismo viral, ou seja, o tipo de célula em que são capazes de ser replicados. Para haver a adsorção, é necessária uma ponte entre as proteínas mediadas por íons livres de cálcio e magnésio, uma vez que as proteínas apresentam carga negativa. Outros fatores vão influenciar diretamente na adsorção do vírus na membrana celular, tais como, temperatura, pH e envoltórios com glicoproteínas. 3.2. Penetração (entrada, injeção) do ácido nucleico do vírion na célula hospedeiraÉ a entrada do vírus na célula. Esta pode ser feita de duas maneiras: fusão e viropexia. A fusão é quando a membrana celular e o envelope do vírus se fundem, permitindo a entrada deste no citosol da célula. No caso da família Paramyxoviridae, a proteína F catalisa a ligação da membrana com o envelope. A viropexia é uma invaginação da membrana celular mediada por receptores e por proteínas, denominadas clatrinas, que reveste a membrana internamente. Nos dois mecanismos existe uma dependência em relação à temperatura adequada, que fica em torno de 37ºC, em vírus que replicam em células de vertebrado. 3.3. Síntese de ácidos nucleicos e proteínas virais pela maquinaria da célula hospedeira, de acordo com o redirecionamento determinado pelo vírus 3.3.1. Desnudamento: Neste processo, o capsídeo é removido pela ação de enzimas celulares existentes nos lisossomos, expondo o genoma viral. Além disso, se observa a fase de eclipse, onde não há aumento do número de partículas infecciosas na célula hospedeira. De uma maneira geral, o vírus que possui como ácido nucléico o DNA faz síntese no núcleo, com exceção do Poxvirus, uma vez que precisa da enzima polimerase, encontrada no núcleo da célula. O vírus que possui como genoma o RNA faz a síntese viral no citoplasma, com exceção do vírus Influenza, pois já possui a enzima polimerase. 3.3.2. Síntese viral: A síntese viral compreende a formação das proteínas estruturais e não estruturais a partir dos processos de transcrição e tradução. Os vírus foram agrupados em sete classes propostas por Baltimore em 1971, de acordo com as características do ácido nucléico e as estratégias de replicação. Nos vírus inseridos nas classes I, III, IV e V, o processo de tradução do RNA mensageiro ocorre no citoplasma da célula hospedeira. Já nos vírus da classe II, este processo ocorre no núcleo. Em todas estas classes, o RNA mensageiro sintetizado vai se ligar 7 aos ribossomos, codificando a síntese das proteínas virais. As primeiras proteínas a serem sintetizadas são chamadas de estruturais, pois vão formar a partícula viral. As tardias são as proteínas não estruturais, que participam do processo de replicação viral. Na classe VI, os vírus de RNA realizam a transcrição reversa formando o DNA complementar (RNA’→DNA’→RNA), devido a presença da enzima transcriptase reversa (família Retroviridae). Os vírus da classe VII apresentam um RNA intermediário de fita simples, maior do que o DNA de cadeia dupla que o originou (DNA’→RNA’→DNA). 3.4. Montagem dos capsídeos e empacotamento do genoma viral em novos vírions Nessa fase, as proteínas vão se agregando ao genoma, formando o nucleocapsídeo. Alguns vírus, como o Rotavírus, apresentam mais de um capsídeo. A maturação consiste na formação das partículas virais completas, ou vírions, que, em alguns casos, requerem a obtenção do envoltório lipídico ou envelope. Este processo, dependente de enzimas tanto do vírus quanto da célula hospedeira, podendo ocorrer no citoplasma ou no núcleo da célula. De uma forma geral, os vírus que possuem genoma constituído de DNA condensam as suas partes no núcleo, enquanto os de RNA, no citoplasma. 3.5. Liberação de novos vírions pela célula A saída do vírus da célula pode ocorrer por lise celular ou brotamento. Na lise celular (ciclo lítico), a quantidade de vírus produzida no interior da célula é tão grande que a célula se rompe, liberando novas partículas virais que vão entrar em outras células. Geralmente, os vírus não envelopados realizam este ciclo, ao passo que os envelopados saem da célula por brotamento. Neste caso, os nucleocapsídeos migram para a face interna da membrana celular e saem por brotamento, levando parte da membrana. Figura 5: Ciclo de replicação de um vírus bacteriano. Os vírions e a célula não estão representados em escala. O tamanho da população liberada pode ser de uma centena ou mais vírions por célula. Imagem disponível no livro Microbiologia de brock, pag 249. 8 Nos primeiros minutos após a infecção, diz-se que os vírus estão em fase de eclipse. Uma vez ligados a uma célula hospedeira permissiva, os vírions deixam de estar disponíveis para infectar outras células. Esse processo é acompanhado pela penetração do ácido nucleico viral na célula hospedeira. Se a célula infectada romper-se nessa fase, o vírion deixará de existir como entidade infecciosa, uma vez que o genoma viral não se encontra mais no interior de seu capsídeo. A fase de maturação é iniciada à medida que as moléculas de ácido nucleico recém-sintetizadas são empacotadas no interior dos capsídeos. Durante a fase de maturação, o título de vírions ativos no interior da célula aumenta de forma expressiva. Todavia, as novas partículas virais não podem ainda ser detectadas, exceto se as células forem lisadas artificialmente, a fim de promover sua liberação. Uma vez que os vírions recém-sintetizados ainda não surgiram externamente à célula, os períodos de eclipse e maturação, em conjunto, são denominados período de latência da infecção viral. Ao final da maturação, ocorre a liberação de vírions maduros como resultado da lise celular, ou de algum processo de brotamento ou de excreção, dependendo do vírus. O número de vírions liberados, denominado tamanho da população liberada (do inglês, burst size), depende do vírus e da célula hospedeira em particular, podendo variar de alguns poucos a milhares. A duração de um ciclo completo de replicação varia de 20 a 60 minutos (no caso de muitos vírus bacterianos) a 8 a 40 horas (para a maioria dos vírus de animais). 3.6. Replicação dos bacteriofagos A maior parte do entendimento do ciclo viral de replicação lítico provém do estudo de bacteriófagos que infectam Escherichia coli. Muitos bacteriófagos de RNA e DNA replicam-se em E. coli). O bacteriófago T4, será usado como modelo para revisar os estágios individuais do ciclo de vida viral em mais detalhes. 3.6.1. Ligação e penetração viral do bacteriófago T4 Os estágios iniciais do ciclo de vida de qualquer bacteriófago são a ligação à superfície da célula hospedeira, seguida da penetração das camadas externas da célula hospedeira e entrada do genoma viral no interior da célula. 3.6.1.1. Ligação O principal fator determinante para a especificidade de um vírus é a ligação. O próprio vírion possui uma ou mais proteínas na superfície externa que interagem com componentes específicos da superfície celular, denominados receptores. Na ausência de seu receptor 9 específico, o vírus não é capaz de absorver e, portanto, não causa infecção. Além disso, quando o sítio receptor é modificado, por exemplo, por mutação, o hospedeiropode tornar-se resistente à infecção viral. Assim, o espectro de hospedeiros de um vírus em particular é determinado, em sua maior parte, pela presença de um receptor adequado que o vírus seja capaz de reconhecer e se ligar a ele. Os receptores são componentes superficiais normais da célula hospedeira, como proteínas, carboidratos, glicoproteínas, lipídeos, lipoproteínas ou complexos desses. Os receptores realizam funções normais da célula; por exemplo, o receptor para o bacteriófago T1 é uma proteína captadora de ferro, enquanto o receptor do bacteriófago lambda normalmente está envolvido na captação de maltose. Os carboidratos no lipopolissacarídeo (LPS) da membrana exterior de bactérias gram-negativas são os receptores reconhecidos por bacteriófago T4, um fago que se liga ao LPS de Escherichia coli. Apêndices que se projetam a partir da superfície da célula, como os flagelos e pili, também são receptores comuns para vírus bacterianos. Pequenos vírus icosaédricos frequentemente ligam-se na lateral dessas estruturas, ao passo que os bacteriófagos filamentosos geralmente se ligam na ponta, como no pilus. Independentemente do receptor utilizado, no entanto, uma vez que tenha ocorrido a ligação, a fase é definido para a infecção viral. 3.6.1.2. Penetração A ligação de um vírus a sua célula hospedeira promove alterações tanto no vírus quanto na superfície celular. Os bacteriófagos abandonam o capsídeo no exterior da célula e apenas o genoma viral alcança o citoplasma. No entanto, a penetração do genoma em uma célula suscetível só resultará em replicação viral caso o genoma viral possa ser decodificado. Consequentemente, para a replicação de alguns vírus, por exemplo, vírus de RNA, proteínas virais específicas devem também penetrar na célula hospedeira juntamente com o genoma viral. Os mecanismos de penetração mais complexos foram observados nos bacteriófagos de cauda. O bacteriófago T4 apresenta uma cabeça, no interior da qual o DNA linear de fita dupla encontra-se enovelado, e uma cauda longa e relativamente complexa, em cuja extremidade há uma série de fibras e espículas da cauda. Os vírions inicialmente ligam-se às células de Escherichia coli pelas fibras da cauda. As extremidades das fibras interagem especificamente com os polissacarídeos encontrados na camada de LPS da célula, e, em seguida, essas fibras da cauda sofrem retração, propiciando o contato entre o cerne da cauda e a parede celular bacteriana, por meio de uma série de espículas caudais delgadas, situadas na sua extremidade. A ação de uma enzima similar à lisozima promove a formação de um pequeno poro no peptidoglicano e a bainha da cauda contrai-se. Quando isto ocorre, o DNA de T4 penetra no interior do citoplasma da célula de E. coli, através de um orifício presente na ponta da cauda 10 fágica, em um formato que lembra a injeção por uma seringa. Em contrapartida, o capsídeo de T4 permanece fora da célula. O DNA no interior da cabeça do bacteriófago está sob alta pressão e, uma vez que o interior da célula bacteriana está sofrendo também a força de pressões osmóticas, a injeção DNA do fago leva vários minutos para ser completada. Considere algumas das propriedades únicas do genoma de T4 que afetam sua replicação e expressão gênica. 3.6.2. O genoma de T4 Uma vez que uma célula hospedeira permissiva tenha sido infectada por um vírus, os primeiros eventos giram em torno da síntese de novas cópias do genoma viral. Uma vez que existem muitos tipos de genomas virais, há muitos esquemas diferentes para a replicação do genoma do viral. Em pequenos vírus de DNA, a replicação do genoma viral é realizada pela DNA-polimerase da célula. No entanto, nos vírus de DNA mais complexos, tais como bacteriófago T4, o vírus codifica a sua própria polimerase de DNA. Outras proteínas que atuam na replicação do DNA viral, tal como as primases e helicases também são codificadas pelo genoma de T4. Na verdade, T4 produz as oito proteínas que formam seu próprio complexo replissomo de DNA para facilitar a síntese do genoma específico do fago. 3.6.3. Replicação do bacteriófago T4 3.6.3.1. Transcrição e tradução Logo após a infecção, o DNA de T4 é transcrito e traduzido, e o processo de síntese de novos vírions começa. Em menos de meia hora, o processo culmina com a liberação de novos vírions a partir da célula lisada. 3.6.3.2. Empacotamento do genoma de T4 e montagem e liberação do vírion O genoma de DNA do bacteriófago T4 é forçosamente bombeado para uma capsídeo pré-montado usando um motor de empacotamento movido a energia. Os componentes do motor são codificados por genes virais, mas metabolismo da célula hospedeira é necessário para produzir as proteínas e fornecer o ATP requerido para o processo de bombeamento. O processo de empacotamento pode ser dividido em três fases, como mostrado na figura a seguir. 11 Figura 6: Empacotamento do DNA em uma cabeça do fago T4. Proheads são montados a partir de proteínas do capsídeo e do portal, ambos os quais permanecem no vírion maduro. À medida que a cabeça é preenchida por DNA, ela se expande e se torna mais angular. Uma vez que a cabeça está cheia, o motor de empacotamento se separa e os componentes da cauda são adicionados. Imagem disponível no livro Microbiologia de brock, pag 254. 3.6.4. Bacteriófagos temperados e lisogenia O bacteriófago T4 é virulento e, uma vez que a infecção é iniciada, ela sempre leva à morte de seu hospedeiro. No entanto, alguns vírus bacterianos de DNA dupla-fita, embora capazes de matar as células por meio de um ciclo virulento, podem também apresentar um ciclo de vida diferente, que resulta em um relacionamento genético estável com o hospedeiro. Esses vírus são denominados vírus temperados. Os vírus temperados podem assumir um estado denominado lisogenia, em que a maioria dos genes virais não é expressa, sendo o genoma viral replicado em sincronia com o cromossomo do hospedeiro e passado às células-filhas durante a divisão celular. O estado lisogênico pode conferir novas propriedades genéticas ao hospedeiro bacteriano – uma condição denominada conversão lisogênica –, e veremos vários exemplos nos últimos capítulos de bactérias patogênicas cuja virulência (habilidade de causar doença) está ligada a um bacteriófago lisogênico. Uma célula que abriga um vírus temperado é denominada lisogênica. 3.6.4.1. O ciclo de replicação de um fago temperado Dois dos fagos temperados mais bem caracterizados são lambda e P1.. Durante a lisogenia, o genoma de um vírus temperado encontra-se integrado ao cromossomo bacteriano (lambda) ou encontra-se no citoplasma, na forma de plasmídeo (P1). Em qualquer um dos casos, o DNAviral, agora denominado prófago, replica-se concomitantemente com a célula hospedeira, desde de que os genes que ativam sua via virulenta (lítica) não sejam expressos. A manutenção do estado lisogênico deve-se a uma proteína repressora codificada pelo fago. Manutenção do estado lisogênico é decorrente de uma proteína repressora codificada por fagos. Normalmente, um baixo nível de transcrição dos genes repressores e sua subsequente tradução mantêm o repressor a um nível baixo na célula. No entanto, se o repressor do fago for 12 inativado ou se a sua síntese for de algum modo evitada, o prófago poderá ser induzido para a fase lítica. Se indução ocorre enquanto o DNA viral é incorporado no cromossomo bacteriano, o DNA viral é excisado e os genes de fago são transcritos e traduzidos; novos vírions são então produzidos, e a célula hospedeira é lisada. Várias condições de estresse celular, especialmente danos ao DNA da célula hospedeira, podem induzir um prófago a entrar na via lítica. Em contraste, a “decisão” para prosseguir para a via lítica ou lisogênica após a infecção viral inicial ocorre de outra forma, e foi particularmente bem estudada no bacteriófago lambda. Vamos explorar esta história agora. Figura 7: Consequências de uma infecção por um bacteriófago temperado. As alternativas na infecção correspondem à replicação e liberação de vírus maduros (lise) ou à lisogenia, frequentemente pela integração do DNA viral ao DNA do hospedeiro, como ilustrado. A célula lisogênica pode ser induzida a produzir vírus maduros, sofrendo lise. 3.6.4.2. O bacteriófago lambda O bacteriófago lambda, que infecta Escherichia coli, é um vírus de DNA dupla-fita com cabeça e cauda. Na extremidade 59 de cada uma das fitas de DNA há uma região de fita simples, de 12 nucleotídeos de extensão. Essas extremidades “coesivas” de fita simples são complementares e, quando o DNA de lambda penetra na célula hospedeira, essas regiões se pareiam, formando o sítio cos e circundando o genoma. Se o fago lambda entrar no ciclo lítico, sintetizará concatâmeros longos e lineares de DNA genômico por meio de um mecanismo 13 denominado replicação por círculo rolante. Neste processo, uma das fitas do genoma circular de lambda é clivada e enrolada como um molde para a síntese da fita complementar. O concatâmero de fita dupla é clivado em segmentos de comprimento correspondente ao genoma, nos sítios cos, e os genomas lineares resultantes são, então, empacotados no interior das cabeças dos fagos lambda. Uma vez que a cauda tenha sido adicionada e os vírions maduros tenham sido montados , ocorre a lise da célula e os vírions são liberados. Durante o ciclo lítico, o fago lambda pode também empacotar alguns poucos genes cromossômicos do seu hospedeiro lisado nos vírions recém-sintetizados e então transferi-los para uma segunda célula hospedeira, um processo chamado transdução. A transdução é um importante meio de transferência horizontal de genes na natureza e esta é também uma importante ferramenta na genética bacteriana. Em vez do ciclo lítico, se o fago lambda realiza o ciclo lisogênico, seu genoma é integrado ao cromossomo de E. coli. A integração requer uma proteína chamada integrase de lambda, uma enzima codificada pelo fago que reconhece os sítios de ligação no fago e na bactéria, facilitando a integração do genoma de lambda. A partir deste estado relativamente estável, certos acontecimentos, tais como danos ao DNA do hospedeiro, podem iniciar o ciclo lítico mais uma vez. Depois de tal gatilho, uma proteína de excisão de lambda remove o genoma de lambda do cromossomo do hospedeiro, a transcrição do DNA de lambda começa, e seguem-se os eventos líticos. 3.6.4.3. Lise ou lisogenia A ocorrência de lise ou lisogenia durante a infecção de lambda depende essencialmente dos níveis de duas proteínas repressoras chave que podem se acumular na célula durante a infecção: o repressor de lambda, também chamado proteína cI, e um segundo repressor, Cro. Em poucas palavras, o acúmulo do primeiro repressor irá controlar o resultado da infecção. Se os genes que codificam a proteína cl são rapidamente transcritos após a infecção e cI se acumula, ela reprime a transcrição de todos os outros genes codificados por lambda, incluindo cro. Quando isso acontece, o genoma de lambda integra-se no genoma do hospedeiro e torna-se um prófago. Cro, por sua vez reprime a expressão de uma proteína chamada cII, cuja função é ativar a síntese de cI. Assim, à medida que a infecção prossegue, se cl estiver presente em níveis suficientes para reprimir a expressão de genes específicos de fagos, Cro poderá acumular-se na célula; se isso acontecer, lambda seguirá a via lítica. pererecas) são endêmicas, podendo incluir gêneros inteiros. 14 CONCLUSÃO Vírus estão entre os menores agentes infecciosos conhecidos. Já foram descritos como “agentes filtráveis”, pois devido ao tamanho reduzido podem atravessar filtros destinados a reter bactérias. Unidade para medida do vírion é da ordem do nanômetro (nm). Reconhecidos como partículas que variam de 18 (parvovírus) a quase 300 nm (poxvirus) de diâmetro. Partículas menores que 200 nm não são observadas em microscópio ótico. Contém apenas um tipo de ácido nucléico (RNA ou DNA) como genoma, em geral sob forma de molécula individualizada. O ácido nucléico é envolvido por capa protéica, e a unidade infecciosa íntegra é denominada vírion. O vírus isolado das células hospedeiras é metabolicamente inerte porque não possui componentes necessários à síntese molecular. Diferentemente das bactérias, os vírus não tem capacidade de se reproduzirem por meio de processos como a divisão célula, transdução entre outras. A reprodução dos vírus ocorre dentro do organismo hospedeiro, este processo está dividido em quatro etapas: Adsorção (é o momento que vírus se fixa na superfície do hospedeiro), penetração (é quando o material genético penetra dentro do hospedeiro, deixando a cápsula no exterior), eclipse (é nesta etapa que ocorre a replicação do DNA e a montagem da cápsula no interior da célula hospedeira). E no processo de montagem da cápsula os vírus produzem proteínas através das enzimas, ribossomos e aminoácidos da célula parasitada. Depois ocorre a liberação (nesta fase, ocorre à destruição da enzima, e com isso se dá a liberação dos vírus, provocando uma nova infecção). REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS MADIGAN, Michael T. et al. Vírus e virologia/Genomas virais e diversidade . In: MADIGAN, Michael T. et al. Microbiologia de Brock. 14ª. ed. Porto Alegre: Artmed, 2016. p. 245-286. TORTORA, Gerard J. et al. Vírus, Viroides e Prions . In: TORTORA, Gerard J. ; FUNKE , BerdellR.; CASE , Christine L. Microbiologia. 10ª. ed. Porto Alegre – RS: Artmed, 2012. cap. 13, p. 367-397. VIEIRA, Darlene Ana de Paula, Microbiologia Geral – Inhumas: IFG; Santa Maria: Universidade Federal de Santa Maria, 2012. 15
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