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'O que virá depois do pós- moderno' Luciano Trigo

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O que virá depois do pós-moderno?
O pós-modernismo não é um fenômeno limitado às artes visuais, seu impacto atinge todas as esferas da vida. Mas é interessante observar como a produção artística contemporânea ilustra as grandes características pós-modernas - sempre tomando como referência o Modernismo:
1) descrença nas grandes narrativas - no caso, a grande narrativa da arte moderna, substituída pela fragmentação pluralista e a-histórica;
2) crise de autoridade cultural: a verdade e o conhecimento são relativos e dependem de um sistema de relações de poder e de jogos de linguagem - coerentemente, os valores absolutos da arte moderna se esgotaram e foram abandonados;
3) mudança da produção para a reprodução - a arte é dominada pelo império das citações, apropriações e recombinações de recursos e linguagens do passado, em novos contextos.
4) a substituição da realidade, convenção antiquada, por uma ficção, isto é, por uma mitologia fabricada pela mídia, pela publicidade, pela indústria do espetáculo etc - cujos mecanismos são cada vez mais usados pelo sistema da arte.
5) a falência das utopias baseadas na crença no potencial emancipador do progresso, da ciência e da política - que encontra seu correspondente nas teses sobre o fim da (história da) arte de Arthur C.Danto e Hans Bellmer, que, em termos práticos, afirmam que a arte já bateu no teto, já cruzou sua linha de chegada.
Por tudo isso, a atitude do artista contemporâneo em relação á História da Arte, sobretudo em relação á arte moderna, é fundamentalmente irônica (quando não é de desprezo e ignorância). O quadro acima, de Mark Tansey (já citado em outropost), ilustra isso muito bem, começando pelo título>: "Uma breve história da pintura moderna" (1982).
A obra, supostamente, "desconstrói" a interpretação da arte moderna como uma evolução linear em relação à pureza de cada suporte, dispensando paulatinamente elementos estranhos a ele - por exemplo, as funções de narrativa e representação. Assim, do Renascimento ao Impressionismo, a pintura era uma "janela na parede", que levava o olhar do espectador a outro mundo; com as colagens cubistas, no começo do século passado, a tela ganha opacidade: a pintura, na superfície, não remete a um fato exterior, mas cria um fato pictórico; por fim a pintura se transforma num reflexo do ego do artista.
Engenhoso e engraçadinho, sem dúvida. Mas, curiosamente, para executar essa brincadeira, Tansey recorre à pintura, e à pintura numa linguagem figurativa primária. Ora, se o artista se coloca fora e acima desta superada história da pintura, isso me parece uma contradição. Além do mais, obras-primas foram feitas tanto no modelo da janela para o mundo quanto no modelo da opacidade da tela, enquanto o painel de Tansey, bem, me parece distante de uma obra-prima. É,a rigor, mais um comentário do que uma obra de arte.
Isto porque a arte nunca esteve nas convenções que prevaleceram em cada época: essas convenções eram apenas uma estrutura, dentro da qual se podiam fazer obras geniais ou medíocres. Denunciar a existência dessas convenções não diminui em nada o valor estético de um pintura de Rembrandt ou de uma colagem de Picasso - nem, muito menos, transforma em artista o denunciante.

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