Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
A Lei n. 10.826, sancionada em 22 de dezembro de 2003, possui 37 artigos e dividida em seis capítulos, e regula todos os aspectos referentes ao uso de armas de fogo no país, inclusive tipificando as condutas consideradas delituosas, mediante o emprego ilícito desses artefatos. OBJETIVIDADE JURÍDICA -Buscam as normas penais da Lei 10.826, proteger, principalmente, a incolumidade pública, garantido a preservação de um estado de segurança, vida, saúde, integridade física, e patrimônio dos cidadãos, diante de pessoas que possam intimidá-las por meio do uso de armas de fogo, que possam expô-las a perigo. -Distingue-se dos crimes de perigo previstos no Capítulo III do Título I da Parte Especial do Código Penal (periclitação da vida e da saúde — arts. 130 a 136), uma vez que nestes últimos se protege o interesse de pessoa (perigo individual) ou grupo específico (perigo determinado), enquanto os arts. 12, 13, 14, 15, 16, 17 e 18 da Lei n. 10.826/2003 punem somente as condutas que acarretam situação de perigo à coletividade em geral. -O que a lei pretende proteger, no final das contas, é a vida e a integridade corporal das pessoas, disciplinando o uso de armas de fogo, limitando seu emprego por particulares, e regulando a utilização desses artefatos por agentes públicos ou privados legalmente autorizados. Classificação -Os ilícitos penais previstos nos artigos 12 a 18 da Lei 10.826 são classificados como crimes de perigo. -Trata-se de perigo abstrato, uma vez que basta a realização da conduta para que se presuma o perigo, sem que haja, necessariamente, a iminência de lesão. -A ameaça à coletividade é desnecessária para a configuração dos crimes do Estatuto do Desarmamento. Basta que alguém esteja caminhando armado pela rua, por exemplo, para que se configure o ilícito penal, sem que se comprove que determinada pessoa ficou exposta a perigo. -Entretanto, a lei não presume o perigo em qualquer conduta. Se for o caso do indivíduo portar arma inapta para efetuar disparos, a conduta será atípica, uma vez que essa conduta não poderá expor ninguém da coletividade a risco algum. -No exemplo anterior, trata-se de caso de ineficácia absoluta do objeto material (CP, art. 17), tornando o crime impossível, pois, nesse caso, a lei só pode presumir o perigo onde ele pode, efetivamente, acontencer. -Em síntese, não ocorre crime de perigo quando o perigo é impossível. É diferente da ocorrência de uma situação em que, pode ser considerada ilícita uma conduta apta a colocar em risco outras pessoas, mesmo que não se tenha comprovada a exposição de determinadas pessoas a um perigo concreto ( o caso dos crimes de perigo abstrato). Objeto Material: -Consiste em objeto material, das condutas descritas no Estatuto do Desarmamento, os objetos que consistirem em armas de fogo, acessórios ou munições de uso permitido ou restrito, bem como artefatos explosivos e incendiários. -Armas de Fogo: a) Arma de Fogo de Uso Proibido (Art. 16 da Lei 10.826): -Trata-se de arma que não pode ser usada em hipótese alguma. É aquela cuja posse ou porte não podem ser autorizados pelas Forças Armadas. Somente são utilizadas em situação de guerra. -Ex: canhão, tanque de guerra ou granadas, que não podem ser empregadas pelo particular em hipótese alguma. b) Arma de Fogo de Uso Restrito (Art. 16 da Lei 10.826): É a arma que pode ser utilizada pelas Forças Armadas, conforme os termos do Decreto nº 3.665, de 20-11-2000. Ex: metralhadoras, bazucas, granadas,pistolas de calibre .45. b.1: Espécies de armas de uso proibido e restrito: b.1.1)armas, munições, acessórios e equipamentos usados pelas Forças Armadas: São as que fazem parte de material bélico destinado ao emprego tático, técnico ou estratégico de unidades bélicas de combate. b.1.2 )armas de fogo automáticas, de qualquer calibre: -A arma automática é aquela cujo funcionamento (disparo) ocorre continuamente, enquanto o gatilho estiver acionado, ou seja, é a que dá rajadas); Ex: metralhadora. b.1.3 ) armas de fogo longas de alma lisa: São aquelas cuja parte interna de cano não tem raias, de calibre superior ao 12, e suas munições. -As armas de alma lisa são aquelas que não possuem sulcos helicoidais na parte interna do cano, que servem para direcionar o projétil num movimento de rotação (característica das armas de alma raiada). Ex: espingarda. b.1.4) armas de fogo longas de alma lisa de calibre igual ao 12: -São aquelas espingardas com comprimento de cano menor que 24 polegadas ou 610 milímetros. b.1.5) armas e dispositivos que lancem agentes de guerra química ou gás agressivo e suas munições; b.1.6) armas de fogo curtas: São os revólveres, pistolas, garruchas, de qualquer comprimento de cano, que se utilizem dos seguintes calibres e munições: .357 Magnum, 9mm Luger (ou Browning), .38 SuperAuto, .40 S&W, .44 SPL, .44 Magnum, .45 Colt e .45 Auto. Tanto podem ser de alma lisa como de alma raiada. b.1.7) armas de fogo longas,espingardas, rifles, fuzis e carabinas, raiadas com sulcos na parte interna do cano): -São aquelas de qualquer comprimento de cano, que se utilizem dos seguintes calibres e munições: .22-250, .223 Remington, .243 Winchester, .270 Winchester, 7mm Mauser, .30-06 (.30 Carbine), .308 Winchester (ou 7,62mm), 7,62 x 39, .357 Magnum, .375 Winchester e .44 Magnum. c) Armas de Uso Permitido: -São as armas que podem ser utilizadas por qualquer pessoa, tanto física quanto jurídica. -Trata-se de armas que estão em conformidade com a legislação normativa do Exército (art. 3º, XVII, do Decreto n. 3.665/2000) -Definem-se como armas de uso permitido, aquelas de menor potencial ofensivo, que servem tanto para a defesa pessoal quanto patrimonial, segundo definição do art. 17 do Decreto n. 3.665/2000, do Comando do Exército Brasileiro. -Citam-se na definição de armas permitidas as armas de fogo curtas (pistolas, revólveres e garruchas), cujos calibres não excedem a regulação legal, as armas de repetição (em que o atirador precisa acionar um mecanismo de alimentação da munição e as semiautomáticas de qualquer tamanho, que se valham dos calibres permitidos. -Em relação aos calibres, destacam-se além das armas curtas, os rifles e espingardas, que utilizem os calibres: .22 Long Rifle e 22 Short, .25 Auto (ou 6,35mm ou 6,35 Browning), .32 Auto (ou 7,65mm ou 7,65 Browning), .32 Short Colt, .38 S&W e .380 Auto Pistol (ou 9mm Corto ou .380 ACP). -Não estão incluídas nos tipos penais da Lei 10.826, as armas brancas, as de arremesso e os gases tóxicos e asfixiantes, que não configuram objeto material das ações nucleares previstas. -No tocante aos artefatos explosivos ou incendiários, estes se encontram disciplinados no art. 16, parágrafo único, III, V e VI, do Estatuto. -No que tange a arma de fogo descarregada ou desmontada que estiver sendo transportada, mesmo sem possibilidade de uso imediato, a princípio, conforme entendimento majoritário da doutrina, caracteriza-se o crime previsto nos artigos 14 ou 16 do Estatuto do Desarmamento, dada a inclusão da elementar “transportar” pelo legislador, nos respectivos tipos penais citados. -Como afirma Capez, o meio é eficaz, existindo uma impossibilidade casual de uso imediato, incapaz de retirar-lhe o atributo de ainda se constituir uma arma de fogo empregável. -A Lei n. 10.826/2003 não faz nenhuma distinção, para fins de enquadramento penal, entre porte e transporte: ambos constituem infração penal. -Importante salientar que arma que não dispara, por não ter a capacidade de lançar projéteis, não pode ser considerada arma de fogo, pois a principal característica de sua definição é se tratar de um artefato que, engenhosamente,consegue arremessar projéteis a grande distância e em grande velocidade, mediante um disparo que utilize a produção de uma combustão. -Entretanto, isso ocorre em armas totalmente desabilitadas para a realização de disparos e não as que apresentam mal funcionamento. -O Supremo Tribunal Federal passou a esposar o seguinte entendimento em relação à definição do crime de porte ilegal de arma de fogo ao entender que, para o perfazimento do crime de porte de arma de fogo (arts. 14 e 16 do Estatuto do Desarmamento) não importa se o artefato está ou não municiado ou, ainda, se apresenta regular funcionamento (STF, 1ª Turma, HC 96.922/RS, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, j. 17-3-2009, DJe 17-4-2009. STF, 1ª Turma, RHC 90.197/DF, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, j. 9-6-2009. STF, 1ª Turma, HC 95.018/RS, Rel. Min. Carlos Britto, j. 9-6-2009, DJe de 7-8- 2009. STF, 1ª Turma, HC 96.072/RJ, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, j. 16-3-2010, DJe de 9-4-2010.) -A atipicidade da arma de brinquedo ou do porte de arma ineficaz para o disparo não se confunde com o porte de munição, pois, pela regra atual do art. 14 da Lei 10.826, mesmo sem arma à disposição, o mero porte de munição já configura ilícito penal, tratando-se de crime de mera conduta. Munição -Acerca da munição o art. 3º, II, o Decreto n. 3.665, de 20 de novembro de 2000, do Ministério do Exército define o “acessório de arma como “artefato que, acoplado a uma arma, possibilita a melhoria do desempenho do atirador, a modificação de um efeito secundário do tiro ou a modificação do aspecto visual da arma”. Classificação das munições e acessórios a) Munição e Acessórios de Uso Permitido -Dispositivos ópticos de pontaria, com aumento menor que 6 vezes e diâmetro da objetiva menor que 36mm; equipamentos de proteção contra armas de fogo de uso permitido (capacetes, coletes, escudos etc.) e cartuchos vazios, semicarregados ou carregados de chumbos granulados, conhecidos como “cartuchos de caça”, desde que de calibres permitidos. Classificação das munições e acessórios b) Acessórios de uso restrito: -o Decreto n. 3.665/2000 prevê, ainda: -São aqueles que dificultem a localização de arma de fogo, tais como: a) silenciadores, quebra- chamas etc.; dispositivos de pontaria que empregam luz ou outro meio de marcar o alvo (mira-laser, p. ex.); • dispositivos ópticos de pontaria com aumento igual ou maior que 6 vezes e diâmetro da objetiva igual ou maior que 36mm; Também são incluídos na classificação de munições de uso restrito equipamentos de visão noturna óculos, lunetas etc.; -equipamentosde proteção balística contra armas de fogo de uso restrito (escudos, capacetes, coletes etc.). -A Lei 10.826 equiparou a posse ou o porte de acessórios ou munição à arma de fogo. Dessa forma, se alguém for detido transportando somente a munição de um armamento de uso restrito incidirá nas mesmas penas que aquele que transportar a própria arma municiada; ou seja, responde igualmente pelas penas referentes ao porte ou posse de arma. -Entretanto, deve-se levar em conta o princípio da ofensividade ou lesividade, segundo o qual somente existe crime quando se demonstrar a efetiva lesão ou perigo de lesão do bem jurídico. Este principio é aplicado, excepcionalmente, apenas quando claramente for hipótese de crime impossível (CP, art. 17). Por exemplo: munição inidônea a disparo e arma obsoleta. -Na hipótese de o agente possuir ou portar ilegalmente arma de fogo totalmente inapta a efetuar disparos, porém devidamente municiada ou com acessórios destinados a aumentar- lhe a precisão, o problema também se resolve pela aplicação do princípio da lesividade, segundo o qual não há crime quando for impossível o perigo ao bem jurídico tutelado. Com efeito, de nada servem projéteis ou acessórios de arma que não funciona. Ex: alguém que saí na rua com uma arma inoperante, com mira telescópica. -O problema estará se, pela regra do art. 16 da Lei 10.826, o projétil ou acessório for considerado lesivo por si só, acarretará a conduta descrita no art. 16 do citado diploma legal. Brinquedo, réplicas e simulacros de armas de fogo De acordo com o disposto no art. 26 do Estatuto do Desarmamento, “São vedadas a fabricação, a venda, a comercialização e a importação de brinquedos, réplicas e simulacros de armas de fogo, que com estas se possam confundir. Parágrafo único. Excetuam-se da proibição as réplicas e os simulacros destinados à instrução, ao adestramento, ou à coleção de usuário autorizado, nas condições fixadas pelo Comando do Exército”. -Com o advento da Lei n. 10.826/2003, que revogou o art. 10, § 1º, II, da Lei n. 9.437/97, não há mais que falar em concurso entre os crimes de roubo e o delito de utilização de arma de brinquedo, tipificado na antiga Lei de Arma de Fogo. Na realidade, retornou-se para o mesmo panorama doutrinário que existia antes do advento da Lei n. 9.437/97. -Assim, para uma corrente doutrinária, o agente que cometer o delito de roubo mediante o emprego de arma ficta deverá continuar a responder pela figura majorada (art. 157, § 2º, I), ao passo que, para o segundo posicionamento, deverá ele responder apenas pelo roubo na forma simples. POSSE IRREGULAR DE ARMA DE FOGO DE USO PERMITIDO (ART. 12) Conceito Dispõe o art. 12: “Possuir ou manter sob sua guarda arma de fogo, acessório ou munição, de uso permitido, em desacordo com determinação legal ou regulamentar, no interior de sua residência ou dependência desta, ou, ainda no seu local de trabalho, desde que seja o titular ou o responsável legal do estabelecimento ou empresa: Pena — detenção, de um a 3 anos”. Tipo objetivo Duas são as ações nucleares típicas: (a) possuir: significa ter em seu poder, fruir a posse de algo, no caso, da arma de fogo, acessório ou munição, de uso permitido; (b) manter sob sua guarda: significa ter sob seu cuidado, preservar, no caso, o artefato, em nome de terceiro. Difere do depósito, pois este consiste na guarda da arma para si próprio. Elemento normativo jurídico do tipo. Em desacordo com determinação legal ou regulamentar. - Assim, haverá a configuração típica sempre que as ações de possuir ou manter sob guarda arma de fogo, acessórios ou munições forem praticadas com desrespeito aos requisitos constantes da Lei n. 10.826/2003 ou de seu Regulamento, por exemplo, posse de arma de fogo sem o registro concedido pela autoridade competente (art. 5º, § 1º, da Lei) ou com prazo de validade expirado (art. 5º, § 2º, da Lei). No interior da própria residência ou local de trabalho -A Lei 10.826 considerou crime a conduta do agente que possuir ou mantiver sob sua guarda arma de fogo, acessórios ou munições em desacordo com determinação legal ou regulamentar, no interior de sua residência ou dependência desta (p. ex.: quintal, garagem, jardim, celeiroTambém será considerado crime possuir sem registro a arma de fogo, o acessório ou a munição, no local de trabalho do agente, desde que seja o titular ou o responsável legal do estabelecimento ou empresa. Nesta última hipótese, não sendo o titular do local de trabalho, responderá pelo crime mais grave de porte ilegal, e não pela mera posse. -Por exemplo, um garçom que leva sua arma de fogo sem registro e porte para o restaurante em que trabalha comete a infração descrita no art. 14 e não no art. 12 da Lei. Objeto material -Três são os objetos materiais do crime, os quais já foram examinados: arma de fogo, acessórios ou munições. Arma de fogo e prova pericial Conforme já foi visto, se a arma for totalmente inapta a efetuar disparos será considerada obsoleta, não havendo que falar em registro, e, por conseguinte, em violação à norma do art. 12 (ou,conforme o caso, do 14) da Lei. Sendo assim, a realização de prova pericial é imprescindível para aferir sua potencialidade lesiva. Sem a perícia, não será tecnicamente possível saber se era ou não arma de fogo. Arma totalmente inapta a disparar não é arma, caracterizando-se a hipótese de crime impossível pela ineficácia absoluta do meio. Fato atípico, portanto, nos termos do art. 17 do CP. Sendo evidente a inexistência do crime, em face da atipicidade da conduta, não poderá sequer ser instaurada a persecução penal. Sujeito ativo Qualquer pessoa. Trata-se de crime comum. Sujeito passivo A coletividade, ou seja, os cidadãos, indeterminadamente. Elemento subjetivo -É o dolo. Não estão previstas formas culposas. Não há elemento subjetivo do injusto, exigindo-se tão somente que o agente tenha a consciência e a vontade de possuir ou manter sob sua guarda arma de fogo, acessório ou munição, de uso permitido, em desacordo com determinação legal ou regulamentar, no interior de sua residência ou dependência desta, ou, ainda, no seu local de trabalho. Tentativa Inadmissível. Ou o agente mantém consigo ou não mantém a arma. Ou possui ou não possui. Na hipótese do agente surpreendido enquanto tenta adquirir ilegalmente a arma de fogo, o crime será o do art. 14, na forma tentada, e não o delito em comento. Posse e porte de arma de fogo -Conforme visto anteriormente, o registro assegura o direito à posse da arma de fogo pelo interessado nos locais indicados pela lei. A ausência do registro torna a posse irregular, caracterizando a figura criminosa do art. 12 (arma de fogo de uso permitido) ou art. 16 da Lei (arma de fogo de uso restrito). -A concessão do porte de arma de fogo, por sua vez, permite que o sujeito traga a arma de fogo consigo, transportando-a de um lugar para outro. -O porte ilegal de arma configura os crimes previstos nos arts. 14 (arma de fogo de uso permitido) ou 16 (arma de fogo de uso restrito). Arma de fogo levada a registro depois de superado o prazo legal para regularização Trata-se da questão do proprietário da arma de fogo que a leva a registro fora de época. O Delegado de Polícia deve autuá-lo em flagrante por posse ilegal da arma (até aquele momento)? Não, porque o fato será atípico. Isso porque a conduta de posse ilegal de arma somente é punida a título de dolo, sendo necessário que o agente revele a vontade livre e consciente de manter a arma de fogo em seu domicílio sem licença da autoridade. A partir do momento em que o titular comparece, ainda que a destempo, à Delegacia de Polícia, para proceder à regularização da arma, há presunção de boa-fé, incompatível com o ânimo de realização da figura típica. Assim, ante a ausência de previsão da figura culposa, não há crime. Posse de arma de fogo e faculdade legal de entregá-la à autoridade competente -Os possuidores e proprietários de armas de fogo poderão entregá-la, espontaneamente, mediante recibo, e, presumindo-se de boa-fé, serão indenizados, na forma do regulamento, ficando extinta a punibilidade de evenual posse irregular da referida arma (cf. redação determinada pela Lei n. 11.706/2008). Posse de arma de fogo cujo registro de propriedade foi expedido por órgãos estaduais nos termos da Lei n. 9.437/97 e seu Regulamento -De acordo com a redação do art. 5º, § 3º, determinada pela Lei n. 11.706/2008: “O proprietário de arma de fogo com certificado de registro de propriedade expedido por órgão estadual ou do Distrito Federal até a data da publicação desta Lei que não optar pela entrega espontânea prevista no art. 32 desta Lei deverá renová-lo mediante o pertinente registro federal, até o dia 31 de dezembro de 2008, ante a apresentação de documento de identificação pessoal e comprovante de residência fixa, ficando dispensado do pagamento de taxas e do cumprimento das demais exigências constantes dos incisos I a III do caput do art. 4o desta Lei”. Posse de arma de fogo cujo registro de propriedade foi expedido por órgãos estaduais nos termos da Lei n. 9.437/97 e seu Regulamento -De acordo com a redação do art. 5º, § 3º, determinada pela Lei n. 11.706/2008: “O proprietário de arma de fogo com certificado de registro de propriedade expedido por órgão estadual ou do Distrito Federal até a data da publicação desta Lei que não optar pela entrega espontânea prevista no art. 32 desta Lei deverá renová-lo mediante o pertinente registro federal, até o dia 31 de dezembro de 2008, ante a apresentação de documento de identificação pessoal e comprovante de residência fixa, ficando dispensado do pagamento de taxas e do cumprimento das demais exigências constantes dos incisos I a III do caput do art. 4o desta Lei”. E, consoante a nova redação do § 4º: “Para fins do cumprimento do disposto no § 3o deste artigo, o proprietário de arma de fogo poderá obter, no Departamento de Polícia Federal, certificado de registro provisório, expedido na rede mundial de computadores — internet, na forma do regulamento e obedecidos os procedimentos a seguir: I — emissão de certificado de registro provisório pela internet, com validade inicial de 90 (noventa) dias; e II — revalidação pela unidade do Departamento de Polícia Federal do certificado de registro provisório pelo prazo que estimar como necessário para a emissão definitiva do certificado de registro de propriedade Pena: Detenção de um a 3 anos e multa. Admite suspensão condicional do processo. Fiança -Nos termos do art. 322, com a redação determinada pela Lei n. 12.403/2011, a autoridade policial poderá conceder fiança nos casos de infração cuja pena privativa de liberdade máxima não seja superior a 4 (quatro) anos. OMISSÃO DE CAUTELA (ART. 13) Conceito Reza o art. 13 da Lei: “Deixar de observar as cautelas necessárias para impedir que menor de 18 anos ou pessoa portadora de deficiência mental se apodere de arma de fogo que esteja sob sua posse ou que seja de sua propriedade: Pena — detenção, de um a 2 anos, e multa. Parágrafo único. Nas mesmas penas incorrem o proprietário ou diretor responsável de empresa de segurança e transporte de valores que deixarem de registrar ocorrência policial e de comunicar à Polícia Federal perda, furto, roubo ou outras formas de extravio de arma de fogo, acessório ou munição que estejam sob sua guarda, nas primeiras 24 horas depois de ocorrido o fato”. Objetividade jurídica - A incolumidade pública e a do próprio menor ou portador de deficiência mental , ante o perigo que representa a arma de fogo em poder de uma dessas pessoas. Infração de perigo -Para o aperfeiçoamento do crime previsto no art. 13, caput, basta o apoderamento da arma devido à ausência de observância das cautelas. -Não se exige a comprovação de que alguém, efetivamente, ficou na iminência de sofrer lesão concreta. O apoderamento é o resultado não querido, cuja ocorrência completa o delito culposo. O resultado naturalístico é o perigo, isto é, o risco de dano a um número indeterminado de pessoas e ao menor ou deficiente, estando ínsito e presumido no próprio apossamento. Classificação -O crime previsto no art. 13, caput, é crime material, comum, omissivo, próprio, culposo (cometido sob a modalidade negligência). É crime material porque a sua consumação depende de um resultado naturalístico, que é o perigo, ou seja, a situação de iminência de lesão, que a lei presume existir a partir do instante em que se dá o apoderamento. Sujeito ativo Trata-se de crime próprio, pois somente o possuidor ou proprietário da arma pode praticá-lo. Sujeito passivo É a coletividade em geral, bem como o menor de idade ou portador de deficiência. PORTE ILEGAL DE ARMA DE FOGO DEUSO PERMITIDO (ART. 14) Conceito Dispõe o art. 14, caput: “Portar, deter, adquirir, fornecer, receber, ter em depósito, transportar, ceder, ainda que gratuitamente, emprestar, reme- ter, empregar, manter sob guarda ou ocultar arma de fogo, acessório ou munição, de uso permitido, sem autorização e em desacordo com determinação legal ou regulamentar: Pena — reclusão, de 2 a 4 anos, e multa. Parágrafo único. O crime previsto neste artigo é inafiançável, salvo quando a arma de fogo estiver registrada em nome do agente. Tipo objetivo -O legislador previu treze diferentes condutas típicas, não se restringindo somente ao porte do artefato. São elas: portar, deter, adquirir, fornecer, receber, ter em depósito, transportar, ceder, ainda que gratuitamente, emprestar, remeter, empregar, manter sob guarda ou ocultar. -Trata-se de tipo misto alternativo, no qual a realização de mais de um comportamento pelo mesmo agente implicará sempre um único delito, por aplicação do princípio da alternati - vidade. Objeto material -Três são os objetos materiais: arma de fogo, acessório ou munição. Sem autorização e em desacordo com determinação legal ou regulamentar É o elemento normativo jurídico do tipo. -Assim, haverá a configuração típica sempre que as ações de portar, deter, adquirir, fornecer, receber, ter em depósito, transportar, ceder, ainda que gratuitamente, emprestar, reme- ter, empregar, manter sob guarda ou ocultar arma de fogo, acessórios ou munições forem praticadas sem autorização e com desrespeito à determinação legal ou regulamentar. Convém notar que aquele que pratica uma dessas condutas típicas sem autorização já está automaticamente violando a lei ou o regulamento. Tentativa A variedade de condutas é de tal monta que, na prática, a hipótese jamais ocorrerá. De qualquer forma, podemos vislumbrar o caso do agente que está adquirindo um revólver no exato instante em que chega a Polícia e o prende em flagrante. Portar O novo diploma legal, assim como a antiga Lei n. 9.437/97, também omitiu a elementar “fora de casa ou de dependência desta”, que constava do texto do revogado art. 19 da Lei das Contravenções Penais. -Como o art. 12 pune a posse irregular de arma de fogo de uso permitido no interior de residência ou dependência desta, ou, ainda, no local de trabalho do possuidor, obviamente que porte ilegal previsto no art. 14 somente se pode dar “fora de casa ou de dependência desta”. Assim, se o fato ocorre no interior da residência ou dependência desta, ou no local de trabalho, aperfeiçoa-se o delito de posse ilegal (art. 12 — Pena: detenção, de um a 3 anos, e multa); se fora, o de porte ilegal (art. 14 — Pena: reclusão, de 2 a 4 anos, e multa). No primeiro, a autorização para possuir o artefato é o certificado de registro de arma de fogo (art. 5º), enquanto no segundo é expedida a autorização para o porte do artefato (arts. 6º a 11) . Porte e transporte -O porte consiste em o agente trazer consigo a arma, sem autorização e em desacordo com determinação legal ou regulamentar. É necessário que o instrumento esteja sendo portado de maneira a permitir o seu pronto uso. Assim, a arma deve estar ao alcance do sujeito, possibilitando o seu rápido acesso e utilização Não se exige o contato físico direto com o objeto, sendo suficiente a condição de uso imediato. Por exemplo: no porta-luvas do veículo ou no seu banco, na cintura, no bolso ou sob as vestes, em capanga, embaixo ou atrás do banco do motorista, presa ao tornozelo, no console do carro, no arreio de animal, dentro de uma pasta no veículo, no assoalho deste etc. -O art. 14, caput, incrimina tanto o porte quanto o transporte, apenando-lhes com o mesmo rigor. A princípio, esse critério revelar-se-ia injusto, uma vez que o porte apresenta um perigo real muito maior, potencializando o emprego da arma pelo condutor a qualquer momento, risco que não existe no transporte. Manter sob guarda Manter sob guarda equivale a preservar, ter sob cuidado artefato pertencente a terceiro. Referida ação nuclear típica consta das figuras dos arts. 12 e 14 do CP. -Assim, aquele que mantém sob sua guarda arma de fogo, acessórios ou munições de uso permitido, em desacordo com determinação legal ou regulamentar, no interior de sua residência ou dependência desta, ou, ainda, no seu local de trabalho, desde que seja o titular ou o responsável legal do estabelecimento ou empresa, comete o delito previsto no art. 12, cuja pena é a de detenção, de um a 3 anos, e multa. -Se, no entanto, o agente mantiver sob sua guarda o artefato, sem autorização e em desacordo com determinação legal ou regulamentar, fora desses locais, responderá pelo delito previsto no art. 14, cuja pena é bem mais severa: reclusão, de 2 a 4 anos, e multa, sendo o crime inafiançável. Legítima defesa e porte ilegal de arma de fogo -O Agente que repele injusta agressão, atual ou iminente, contra si ou terceiro, usando moderadamente do meio necessário, mas se servindo de arma de fogo que portava ilegalmente, responde pelo crime do art. 14, caput, o qual tem objetividade jurídica e momento consumativo diverso. Antes de se apresentar a situação coberta pela justificante legal, a coletividade ficou exposta a um perigo decorrente da conduta do porte ilegal. DISPARO DE ARMA DE FOGO (ART. 15) Conceito Dispõe o art. 15: “Disparar arma de fogo ou acionar munição em lugar habitado ou em suas adjacências, em via pública ou em direção a ela, desde que essa conduta não tenha como finalidade a prática de outro crime: Pena — reclusão, de 2 a 4 anos, e multa. Parágrafo único. O crime previsto neste artigo é inafiançável”. Objetividade jurídica A incolumidade pública, ou seja, o estado de preservação ou segurança em face de possíveis eventos lesivos. Tutela-se a manutenção da tranqui- lidade de um número indeterminado de pessoas, presumivelmente turbada com a mera realização das condutas descritas no tipo. Tipo objetivo Haverá crime quando o agente: (a) disparar arma de fogo em lugar habitado; (b) disparar arma de fogo em adjacências de lugar habitado; (c) disparar arma de fogo em via pública; (d) disparar arma de fogo em direção a via pública; (e) acionar munição em qualquer desses lugares ou em direção a eles. POSSE OU PORTE ILEGAL DE ARMA DE FOGO DE USO RESTRITO (ART. 16) Conceito -Reza o art. 16, caput: “Possuir, deter, portar, adquirir, fornecer, receber, ter em depósito, transportar, ceder, ainda que gratuitamente, emprestar, remeter, empregar, manter sob sua guarda ou ocultar arma de fogo, acessório ou munição de uso proibido ou restrito, sem autorização e em desacordo com determinação legal ou regulamentar: Pena — reclusão, de 3 a 6 anos, e multa”. -São as mesmas condutas previstas no art. 14 da Lei. A única diferença é que o art. 16 prevê entre as suas ações nucleares típicas o verbo possuir. -Assim, sob a equivocada rubrica “Posse ou porte de arma de fogo de uso restrito”, o legislador previu quatorze diferentes condutas típicas: possuir, portar, deter, adquirir, fornecer, receber, ter em depósito, transportar, ceder, ainda que gratuitamente, emprestar, remeter, empregar, manter sob guarda ou ocultar. -Trata-se de tipo misto alternativo, no qual a realização de mais de um comportamento pelo mesmo agente implicará sempre um único delito, por aplicação do princípio da alternatividade. -Nesse caso, não se pode propriamente dizer que há conflito aparente entre normas, mas um conflito travado dentro da própria norma, no qual somente terá incidência um dos fatos realizados pelo agente. -Desse modo, aquele que transportar, mantiver sob sua guarda e fornecer artefato de uso proibido ou restrito responderáapenas por um crime. Objeto material -Três são os objetos materiais: arma de fogo, acessório ou munição. Elemento normativo do tipo (Sem autorização e em desacordo com determinação legal ou regulamentar) -Assim, haverá a configuração típica sempre que as ações de possuir, portar, deter, adquirir, fornecer, receber, ter em depósito, transportar, ceder, ainda que gratuitamente, emprestar, remeter, empregar, manter sob guarda ou ocultar arma de fogo, acessórios ou munições forem praticadas sem autorização e com desrespeito a determinação legal ou regulamentar. Tentativa -Para autores como Capez, a variedade de condutas é de tal monta que, na prática, a hipótese jamais ocorrerá. -De qualquer forma, pode-se vislumbrar o caso do agente que está adquirindo um artefato de uso proibido no exato instante em que chega a Polícia e o prende em flagrante. Adquirir, receber, transportar ou ocultar arma de fogo, acessório ou munições, de uso restrito ou proibido, e o delito de receptação -Na hipótese em que o agente adquire, recebe, transporta ou oculta arma de fogo (acessório ou munição) que se encontre em situação ilegal ou irregular, comete o delito mais grave previsto no art. 16, cuja pena varia de 3 a 6 anos, sem prejuízo da multa. -Não incide nesse caso a norma do art. 180 do CP, que trata da receptação, tendo em vista a especialidade do tipo penal do art. 16 da Lei, bem como sua maior severidade (sua pena mínima é o triplo da pena da receptação), podendo-se falar também no princípio da subsidiariedade (a norma primária do art. 16 da Lei prevalece sobre a subsidiária do art. 180 do CP). Se tais condutas forem praticadas no exercício de atividade comercial ou industrial, o agente deverá responder pelo crime previsto no art. 17 (adquirir, alugar, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter em depósito, desmontar, montar, remontar, adulterar, vender, expor à venda, ou de qualquer forma utilizar em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, arma de fogo, acessório ou munição, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar), cuja pena é mais grave que a prevista para a receptação qualificada (CP, art. 180, § 1º). COMÉRCIO ILEGAL DE ARMA DE FOGO (ART. 17) Conceito Dispõe o art. 17: “Adquirir, alugar, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter em depósito, desmontar, montar, remontar, adulterar, vender, expor à venda, ou de qualquer forma utilizar, em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, arma de fogo, acessório ou munição, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar. Pena — reclusão, de 4 a 8 anos, e multa. Parágrafo único. Equipara-se à atividade comercial ou industrial, para efeito deste artigo, qualquer forma de prestação de serviços, fabricação ou comércio irregular ou clandestino, inclusive o exercido em residência”. Tipo objetivo O art. 17 prevê quatorze condutas típicas, quais sejam: adquirir, alugar, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter em depósito, desmontar, montar, remontar, adulterar, vender, expor à venda, ou de qualquer forma utilizar, em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, arma de fogo, acessório ou munição, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar. -Trata-se de tipo penal misto alternativo, no qual a realização de mais de um comportamento pelo mesmo agente implicará sempre um único delito, por aplicação do princípio da alternatividade (a chamada consunção, só que aplicada à hipótese de conflito entre condutas descritas no mesmo tipo). -Desse modo, aquele que, no exercício de atividade comercial ou industrial, receber, ocultar e vender arma de fogo cometerá um único crime. -Segundo Capez, se as condutas forem cometidas em contextos fáticos diversos, ou seja, se uma não tiver nada que ver com a outra, o agente responderá por ambos os delitos em concurso. É o que sucede quando o agente adquire um grande lote de munições e guarda em depósito diversos acessórios de arma de fogo. Nessa hipótese, não há como afastar o concurso de crimes, dado que não existe qualquer nexo causal entre as condutas. Exercício de atividade comercial ou industrial -O art. 17, o art. 17 da Lei passou a exigir que as condutas fossem praticadas no exercício de atividade comercial ou in- dustrial. Assim, a pena passou a ser muito mais severa para aquele que exerce atividade comercial ou industrial. -Além disso, em seu parágrafo único, a Lei equiparou à atividade comercial ou industrial qualquer forma de prestação de serviços, fabricação ou comércio irregular ou clandestino, inclusive o exercido em residência. -A fabricação abrange não apenas a produção por meio industrial, mas qualquer formação, ainda que rudimentar, de arma apta a produzir disparos ou de acessórios ou munições; a prestação de serviços abrange qualquer forma de assistência técnica destinada a manter o funcionamento do comércio, tal como a manutenção das armas, reforma etc. -Para a configuração do crime previsto no art. 17, é imprescindível a comprovação de que as ações nucleares se deem no exercício de atividade comercial ou industrial . -Muitas vezes a atividade comercial prescinde de um estabelecimento. Cite-se o exemplo de um fabricante doméstico de armas que, diante da encomenda feita por terceiros, transporta armas de outros Estados e as vende diretamente para os solicitantes, sem que necessite guardá-las em depósito. Nessa hipótese, não há qualquer estabelecimento dentro do qual o agente tenha exercido atividade comercial, mas mesmo assim se encontra configurada a hipótese do art. 17. Objeto material Três são os objetos materiais: arma de fogo, acessório ou munição de uso permitido, proibido ou restrito. Quanto aos artefatos de uso proibido ou restrito, prevê o art. 19 uma causa especial de aumento de pena. Não se inclui na figura típica o comércio ilegal de artefato explosivo ou incendiário. A venda de explosivo a criança ou adolescente constitui crime previsto no art. 16, parágrafo único, V. Importa notar que não é necessário que a conduta seja praticada no exercício de atividade comercial ou industrial. Elemento normativo do tipo: Sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar -Haverá a configuração típica sempre que as ações de adquirir, alugar, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter em depósito, desmontar, montar, remontar, adulterar, vender, expor à venda, ou de qualquer forma utilizar, em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, arma de fogo, acessório ou munição, forem praticadas sem autorização ou em desacordo com de- terminação legal ou regulamentar. Sujeito ativo -Somente pode praticar o crime em estudo aquele que desenvolve alguma atividade ligada ao comércio regular ou clandestino de arma de fogo, acessório ou munição. -Assim, pratica o crime em tela o proprietário de estabelecimento comercial regular ou clandestino que adquire, tem em depósito, vende etc. armas ilegais; bem como o empregado do estabelecimento que realize uma das ações típicas (aquisição, recebimento, venda, exposição à venda etc.); também pratica o crime em estudo o indivíduo encarregado de armazenar ou transportar as mercadorias para posterior venda pelo comerciante etc. Elemento subjetivo -É o dolo, consubstanciado na vontade livre e consciente de praticar uma das ações típicas, ciente de que o faz no exercício de atividade comercial ou industrial. Deve o agente igualmente ter ciência de que comercializa artefatos sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar;do contrário, ausente esse conhecimento, a conduta será atípica (CP, art. 20). Tentativa É possível o conatus, por exemplo, indivíduo que, no momento em que está recebendo as munições, é surpreendido pela Polícia, sendo preso em flagrante. Comércio ilegal de arma de fogo, acessório ou munição e o delito de receptação -Na hipótese em que o agente adquire, recebe, transporta, conduz, oculta, tem em depósito, desmonta, remonta, vende, expõe à venda, ou de qualquer forma utiliza, em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, arma de fogo, acessório ou munição, que se encontrem em situação ilegal ou irregular, deverá responder pelo crime previsto no art. 17, cuja pena é mais grave que a prevista para a receptação qualificada (CP, art. 180, § 1º). Causas de aumento de pena Nos crimes previstos nos arts. 17 e 18, a pena é aumentada da metade se a arma de fogo, o acessório ou a munição forem de uso proibido ou restrito (art. 19). Com efeito, é muito mais grave o comércio ilegal de armas de uso privativo das Forças Armadas do que de armas de uso permitido. A pena é aumentada da metade se os crimes previstos nos arts. 14, 15, 16, 17 e 18 forem praticados por integrantes dos órgãos e das empresas referidas nos arts. 6º, 7º e 8º da Lei -Já a venda de explosivo a indivíduo maior de idade não está prevista no mencionado dispositivo legal. No entanto, a conduta poderá ser enquadrada no art. 16, parágrafo único, III, o qual prevê as condutas de possuir, deter, fabricar ou empregar artefato explosivo ou incendiário. TRÁFICO INTERNACIONAL DE ARMA DE FOGO (ART. 18) . Conceito -Dispõe o art. 18: “Importar, exportar, favorecer a entrada ou a saída do território nacional, a qualquer título, de arma de fogo, acessório ou munição, sem autorização da autoridade competente: Pena — reclusão de 4 a 8 anos, e multa”. Ações nucleares no Elemento Objetivo do Tipo Três são as ações nucleares típicas: importar, exportar, favorecer a entrada ou a saída do território nacional, a qualquer título, de arma de fogo, acessório ou munição, sem autorização da autoridade competente. A importação ou exportação refere-se à entrada ou saída do artefato do território nacional, compreendendo este o solo pátrio (espaço ocupado pela corporação política), o mar territorial (faixa de mar exterior ao longo da costa, que se estende por 12 milhas marítimas de largura — art. 1º da Lei n. 8.617/93) e o espaço aéreo (de acordo com o art. 11 da Lei n. 7.565/86, o Brasil exerce completa e exclusiva soberania sobre o espaço aéreo acima de seu território e mar territorial). Objeto material Três são os objetos materiais: arma de fogo, acessório ou munição de uso permitido ou restrito. Quanto aos artefatos de uso proibido ou restrito, prevê o art. 19 uma causa especial de aumento de pena. Não se inclui na figura típica o tráfico internacional de artefato explo- sivo ou incendiário. Consumação • -Importação ou exportação: há duas situações distintas: na primeira, o sujeito ingressa ou sai do território nacional pelos caminhos normais, transpondo as barreiras da fiscalização alfandegária. -Nessa hipótese, o crime se consuma no momento em que é ultrapassada a zona fiscal; no segundo caso, o sujeito que se serve de meios escusos para entrar ou sair do País clandestinamente. Aqui a consumação ocorrerá no exato instante em que são transpostas as fronteiras do País. Tratando-se de importação feita por meio de navio ou avião, a consumação se dá no exato instante em que a mercadoria ingressa em território nacional, muito embora se exija o pouso da aeronave ou o atracamento da embarcação, uma vez que, se o sujeito estiver apenas em trânsito pelo País, não ocorrerá o delito em questão. Favorecimento: consuma-se com a prestação do auxílio, isto é, com a prática de ações tendentes a facilitar a entrada ou saída dos artefatos do território nacional. -O crime admite a modalidade omissiva. Assim, na hipótese em que a autoridade alfandegária intencionalmente deixa de proceder às diligências de fiscalização, nesse momento se reputa o crime consumado. Tentativa • Na Importação ou exportação: ocorre quando, por circunstâncias alheias à vontade do agente, a conduta é interrompida durante a entrada ou saída do artefato. No Favorecimento: a tentativa é admissível, quando o crime for comissivo. O conatus será inadmissível na hipótese em que a autoridade alfandegária propositadamente se abstiver de proceder às diligências de fiscalização. Elemento subjetivo -É o dolo, consistente na vontade livre e consciente de praticar uma das ações nucleares típicas, ciente de que se faz sem autorização da autoridade competente. Tráfico doméstico -Quando a arma de fogo, acessório ou munição tiverem como destino final outro Estado- membro, por exemplo, traficante do Amazonas que introduz armamentos ilegais no Acre. Na hipótese, há a configuração de outro crime: art. 17 da Lei. Exercício de atividade comercial ou industrial Não importa, para o perfazimento do crime de tráfico internacional de armas, se as ações nucleares foram praticadas no exercício de atividade comercial ou industrial. Ainda que o agente traga para dentro do território nacional uma única arma de fogo de uso permitido ou proibido, sem autorização da autoridade competente, apenas para uso próprio, sem que haja qualquer nexo com o exercício de atividade comercial, configurar-se-á odelito do art. 18 da Lei, com a majoração da pena, se o artefato for de uso restrito ou proibido (art. 19). Tráfico internacional de artefato explosivo ou incendiário As ações de importar, exportar, favorecer a entrada ou a saída do território nacional, a qualquer título, de artefatos explosivos ou incendiários não constitue m crime previsto no art. 18 da Lei, ante a falta de expressa disposição legal. No entanto, o art. 16, parágrafo único, IV, prevê as ações de possuir ou deter artefato explosivo ou incendiário, de forma que o traficante que for detido introduzindo ou retirando esses artefatos do território nacional poderá responder pela sua posse ou detenção em concurso com o crime de contrabando (CP, art. 334), em face da ofensa de objetividades jurídicas distintas (segurança da coletividade e interesses da Administração Pública). Causas de aumento de pena Nos crimes previstos nos arts. 17 e 18, a pena é aumentada da metade se a arma de fogo, acessório ou munição forem de uso proibido ou restrito (art. 19). A pena é aumentada da metade se os crimes previstos nos arts. 14, 15, 16, 17 e 18 forem praticados por integrantes dos órgãos e das empresas referidas nos arts. 6º, 7º e 8º da Lei (vide comentários ao art. 20). Competência Trata-se de crime de competência da Justiça Federal, pois presente está o interesse da União na proteção de suas fronteiras contra a entrada e saída de armamentos sem a autorização da autoridade competente.
Compartilhar