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Anotac¸o˜es Sobre Recorreˆncias e Somato´rios Aplicados a Divisibilidade. Rodrigo Carlos Silva de Lima ‡ rodrigo.uff.math@gmail.com ‡ 1 Suma´rio 1 Recorreˆncias, somato´rios e divisibilidade 3 1.1 Recorreˆncia e divisibilidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3 1.2 Somato´rios e divisibilidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7 1.3 Recorreˆncias e nu´meros primos entre si . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9 1.4 Um resultado sobre nu´meros primos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10 1.5 Interpolac¸a˜o e divisibilidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13 2 Capı´tulo 1 Recorreˆncias, somato´rios e divisibilidade 1.1 Recorreˆncia e divisibilidade Seja uma sequeˆncia (xn) que satisfaz uma recorreˆncia do tipo x(n+p) = ap−1x(n+p−1) + ...+ a0xn para todo n natural e p fixo natural . Sendo que os coeficientes ak sa˜o todos inteiros. Nessas condic¸o˜es , se xk e´ divisı´vel por m para todo k de 0 ate´ p − 1 (as p condic¸o˜es iniciais da recorreˆncia) enta˜o m|xn para todo n natural. A demonstrac¸a˜o segue percebendo que a recorreˆncia dada implica que todos os termos da sequeˆncia sa˜o combinac¸o˜es lineares ( com coeficientes inteiros ak) das p condic¸o˜es iniciais que sa˜o todas divisı´veis por m, olhando a recorreˆncia em Zm (congrueˆncia mod m) seria como se todas condic¸o˜es iniciais fossem nulas, logo geramos uma sequeˆncia nula em Zm . b Propriedade 1. Um polinoˆmio de grau p e´ divisı´vel por k para todo x natural se e somente se f(0) ≡ · · · ≡ f(p) ≡ 0 mod k. 3 CAPI´TULO 1. RECORREˆNCIAS, SOMATO´RIOS E DIVISIBILIDADE 4 ê Demonstrac¸a˜o. Seja o polinoˆmio f(x) = p∑ k=0 akx k de grau p. Tem-se ∆p+1f(x) = 0 = (E− 1)p+1f(x) = p+1∑ s=0 ( p+ 1 s ) (−1)p+1−sf(x+ s) = 0 f(x+ p+ 1) = − p∑ s=0 ( p+ 1 s ) (−1)p+1−sf(x+ s) f(p+ 1) = − p∑ s=0 ( p+ 1 s ) (−1)p+1−sf(s) uma recorreˆncia de grau p + 1, temos que ter p + 1 condic¸o˜es iniciais para definir a recorreˆncia, sendo dadas as f(0) ≡ · · · ≡ f(p) ≡ 0 modk sa˜o p+ 1 condic¸o˜es iniciais, passando a recorreˆncia em Zk temos que todos os termos gerados pela recorreˆncia sera˜o divisı´veis por k, pois todas condic¸o˜es iniciais sa˜o equivalentes a zero em Zk e os termos da recorreˆncia dependem das condic¸o˜es iniciais apenas (e mais nenhum termo constante, como mostra a recorreˆncia). Mostramos enta˜o a ida, se todas condic¸o˜es iniciais sa˜o divisı´veis por k enta˜o enta˜o o polinoˆmio apresenta apenas nu´meros divisı´veis por k quando avaliado em nu´mero naturais, vamos mostrar agora a volta, se temos todos os valores do polinoˆmio avaliados nos naturais divisı´veis por k enta˜o as condic¸o˜es iniciais, sa˜o divisı´veis por k, essa proposic¸a˜o e´ trivial , pois se para todos naturais o polinoˆmio tem resultado divisı´vel por k, enta˜o em especial, os valores iniciais, tambe´m sera˜o divisı´veis por k. ê Demonstrac¸a˜o. Seja uma func¸a˜o do tipo f(n) = p∑ k=1 ck(ak) n com valores ak distintos entre si , para cada k, sua recorreˆncia sera´ uma da forma p∏ k=1 (E− ak)f(n) = 0 (considerando tambe´m que a recorreˆncia quando expandida, tenha coeficientes intei- ros) de grau p temos que ter enta˜o p condic¸o˜es iniciais, se elas todas forem ≡ 0modk, temos que a func¸a˜o f(n) sera´ ≡ 0modk para todo n CAPI´TULO 1. RECORREˆNCIAS, SOMATO´RIOS E DIVISIBILIDADE 5 ê Demonstrac¸a˜o. Passando a recorreˆncia em zk, temos que todos os termos provenientes da recorreˆncia sera˜o equivalentes a zero, a volta e´ verdadeira tambe´m, pois se a func¸a˜o f(n), tiver todos os termos divisı´veis por k, quando n e´ natural, ela tera´ as condic¸o˜es iniciais divisı´veis por k. Aplicac¸o˜es. Primeiro temos que com isso e´ possı´vel demonstrar teoremas de divisibilidade de func¸o˜es atraveˆs de computador, pois para uma recorreˆncia de grau p precisamos testar se p nu´meros sa˜o divisı´veis por um nu´mero k, para que a func¸a˜o nos naturais seja divisı´vel por k. Segundo podemos escrever infinitas func¸o˜es que sejam sempre divisı´veis por um valor que queremos, essa implicac¸a˜o nos da possibilidade de criar exemplos de problemas com divisibilidade. Em geral se temos todas as constantes iniciais de uma recorreˆncia homogeˆnea de coeficientes inteiros equivalentes a zero em Zk, enta˜o a func¸a˜o que satisfaz essa recorreˆncia e´ divisı´vel por k para todo n natural. Z Exemplo 1. Mostre que n3+2n e´ divisı´vel por 3 para todo n natural. Temos que testar os 4 primeiros termos pela func¸a˜o ser do grau 3 f(0) = 0 f(1) = 3 f(2) = 12 f(3) = 33 como todos 4 primeiros sa˜o divisı´veis por 3 enta˜o a func¸a˜o em n toma sempre valores divisı´veis por 3. Z Exemplo 2. Prove que n3+5n e´ divisı´vel por 6 para todo n natural. Testamos as 4 condic¸o˜es iniciais f(0) = 0, f(1) = 6, f(2) = 18, f(3) = 42, enta˜o a proposic¸a˜o e´ verdadeira. Z Exemplo 3. Mostrar que f(n) = n 3 3 + n2 2 + n 6 sempre retorna valores inteiros. Vale f(0) = 0, f(1) = 1, f(2) = 5 e f(3) = 14, implicando que a func¸a˜o sempre retorna valores inteiros. CAPI´TULO 1. RECORREˆNCIAS, SOMATO´RIOS E DIVISIBILIDADE 6 F Teorema 1. Se f(x) e´ um polinoˆmio de grau p que assume valores divisı´veis por k para todo n natural, enta˜o ∆sf(x0) ≡ 0 mod k para todo s e x0 naturais. ê Demonstrac¸a˜o. Se f(x) e´ um polinoˆmio que assume valores divisı´veis por k quando x natural, temos k|f(x0)⇐⇒ f(x0) = kg(x0) com g(x0) inteiro,logo em Zk a func¸a˜o assume valores sempre iguais a zero, logo suas diferenc¸as devem ser todas iguais a zero. Podemos ver isso de outra maneira fazendo ∆sf(x0) = ∆ skg(x0) = k∆ sg(x0) ≡ 0 mod k ou expandindo ∆sf(x0) = s∑ l=0 ( s l ) (−1)s−lf(x0 + l) como todo f(x0 + l) com l variando de 0 ate´ s um natural, e´ divisı´vel por k, podemos escrever ∆sf(x0) = s∑ l=0 ( s l ) (−1)s−lkg(x0 + l) = k. s∑ l=0 ( s l ) (−1)s−lg(x0 + l) passando no anel Zk temos essa somato´rio equivalente a zero. Outra demonstrac¸a˜o pode ser dada pela func¸a˜o geradora. G(n) = p∑ k=0 k−1∑ n=0 akf(n)x n+p−k p∑ k=0 akxp−k ê Demonstrac¸a˜o. Se uma recorreˆncia de ordem p tem todas suas p condic¸o˜es iniciais divisı´veis por s, podemos escrever f(n) = p.g(n), para n entre 0 e p− 1, com g(n) inteiro para esses mesmo valores. Podemos enta˜o substituir essa igualdade na func¸a˜o geradora G(n) = p∑ k=0 k−1∑ n=0 akp.g(n)x n+p−k p∑ k=0 akxp−k CAPI´TULO 1. RECORREˆNCIAS, SOMATO´RIOS E DIVISIBILIDADE 7 como p e´ uma constante ela pode sair do somato´rio, pela propriedades do so- mato´rio G(n) = p. p∑ k=0 k−1∑ n=0 akg(n)x n+p−k p∑ k=0 akxp−k e como p. p∑ k=0 k−1∑ n=0 akg(n)x n+p−k p∑ k=0 akxp−k gera uma sequeˆncia de nu´meros inteiros (pois as condic¸o˜es iniciais sa˜o inteiras) com coeficientes constantes dada pela func¸a˜o geradora, fica demonstrada a propriedade de divisibilidade. 1.2 Somato´rios e divisibilidade Sabemos que a soma de nu´meros inteiros e´ um nu´mero inteiro, vamos usar esse fato para provar que certas expresso˜es resultam em nu´meros inteiros e propriedades de divisibilidade b∑ k=a ck = ck c− 1 ∣∣∣∣b+1 a = cb+1 − ca c− 1 com c 6= 1 um nu´mero inteiro, chegamos a conclusa˜o enta˜o que a− 1 divide cb+1 − ca se a,b e c 6= 1 sa˜o inteiros e b ≥ a. Z Exemplo 4. Provar que 6|(n)(n+ 1)(n+ 2) . Temos que n∑ k=1 k = k(2,1) 2 ∣∣∣∣n+1 1 = k(k− 1) 2 ∣∣∣∣n+1 1 = (n+ 1)(n) 2 e´ soma de inteiros logo e´ inteiro, aplicando somato´rio mais uma vez, na expressa˜o (k+ 1)(k)/2 = (k+ 1)(2,1)/2 n∑ k=1 (k+ 1)(2,1) 2 = (k+ 1)(3,1) 6 ∣∣∣∣n+1 1 = (k+ 1)(3,1) 6 = (n+ 2)(n+ 1)(n) 6 CAPI´TULO 1. RECORREˆNCIAS, SOMATO´RIOS E DIVISIBILIDADE 8como e´ soma de nu´mero inteiros, enta˜o e´ um nu´mero inteiro, logo 6|(n + 2)(n + 1)(n). Z Exemplo 5. Mostrar que n7 −n e´ divisı´vel por 7 para todo n inteiro, vamos achar um somato´rio cujo resultado seja n 7 − n 7 n∑ k=1 f(k) = n7 − n 7 enta˜o aplicando ∆ em ambos lados segue f(n+ 1) = (∆n 7) − 1 7 ∆n7 = (n+ 1)7 − n7 = 1 + 7n+ 21n2 + 35n3 + 35n4 + 21n5 + 7n6 logo f(n+ 1) = n+ 3n2 + 5n3 + 5n4 + 3n5 + n6 como temos f(k+ 1) = ∆k 7 − k 7 segue que aplicando a soma com k variando de 0 ate´ n− 1 que n−1∑ k=0 f(k+ 1) = n−1∑ k=0 ∆ k7 − k 7 = k7 − k 7 ∣∣∣∣n 0 = n7 − n 7 assim f(k+1) tem coeficientes inteiros e seu somato´rio que e´ n 7 − n 7 sera´ soma de nu´meros inteiros, sendo que a soma de nu´meros inteiros e´ tambe´m um nu´mero inteiro segue que n 7 − n 7 e´ inteiro para todo n natural, para ver o caso para n inteiro negativo basta ver que a func¸a˜o e´ ı´mpar. b Propriedade 2. Seja uma func¸a˜o g de N em R. Se ∆g(n) e´ uma func¸a˜o que admite valor inteiro para todo n natural e g(a) = 0, para algum a natural, enta˜o g(n) assume valor inteiro para todo n natural. ê Demonstrac¸a˜o. Seja n∑ k=0 f(k) = g(n) CAPI´TULO 1. RECORREˆNCIAS, SOMATO´RIOS E DIVISIBILIDADE 9 enta˜o ∆g(n) = f(n+ 1), ∆g(k) = f(k+ 1) pela hipo´tese tem-se que f(k+ 1) admite valor inteiro para todo k natural, aplicamos a soma enta˜o com k variando de k = a ate´ k = n− 1, daı´ segue n−1∑ k=a f(k+ 1) = n−1∑ k=a ∆g(k) = g(k) ∣∣∣∣n a = g(n) − g(a)︸︷︷︸ =0 = g(n) isso para n − 1 ≥ a, n ≥ a + 1, nesse caso g(n) sera´ somato´rio de valores inteiros, logo um nu´mero inteiro, para todo n nessas condic¸o˜es. Caso a − 1 ≥ n, tomando a soma com k variando de k = n ate´ a− 1 segue a−1∑ k=n f(k+ 1) = a−1∑ k=n ∆g(k) = g(k) ∣∣∣∣a n = g(a)︸︷︷︸ =0 −g(n) = −g(n) nesse caso novamente temos que g(n) e´ inteiro, por ser soma de inteiros, o caso que falta e´ para n = a que e´ inteiro pois g(a) = 0. $ Corola´rio 1 (Pequeno teorema de Fermat). Vamos mostrar que np − n p e´ inteiro para p primo e para todo n inteiro. Temos ∆ np − n p = ∆np − 1 p mas ∆np = (n+ 1)p − np = p∑ k=0 ( p k ) nk − np = p−1∑ k=0 ( p k ) nk, ∆np − 1 = p−1∑ k=1 ( p k ) nk daı´ segue que ∆n p − n p e´ polinoˆmio de coeficientes inteiros, pois p| ( p k ) com 1 ≤ k ≤ p − 1 e ainda temos 1 p − 1 p = 0, logo pelo resultado anterior tem-se que np − n p = g(n) e´ inteiro para todo n natural. Se p > 2, p e´ ı´mpar logo a func¸a˜o e´ ı´mpar e tem-se que g(n) e´ divisı´vel por p para todo n inteiro, se p = 2 temos g(−n) = n2 + n 2 = n(n+ 1) 2 que tambe´m e´ inteiro pois 2|n ou 2|n + 1, logo esta´ provado. CAPI´TULO 1. RECORREˆNCIAS, SOMATO´RIOS E DIVISIBILIDADE 10 b Propriedade 3. Se a e´ inteiro enta˜o (a+ 1)n − 1 e´ divisı´vel por a. ê Demonstrac¸a˜o. Seja f(n) = (a+ 1) n − 1 a enta˜o f(0) = (a+ 1) 0 − 1 a = 1 − 1 a = 0 e temos ∆f(n) = a(a+ 1) n a = (a + 1)n que e´ inteiro para todo n natural, logo f(n) assume sempre valores inteiros enta˜o (a+ 1)n − 1 e´ divisı´vel por a. Z Exemplo 6. Mostrar que 10n+1 − 10 − 9n e´ divisı´vel por 81. Seja f(n) = 10 n+1 − 10 − 9n 81 temos f(0) = 10 − 10 81 = 0 e ∆f(n) = 10 n+1 − 1 9 que e´ sempre inteiro, logo da propriedade demonstrada segue o resultado. 1.3 Recorreˆncias e nu´meros primos entre si F Teorema 2. Seja uma recorreˆncia do tipo f(n + 2) = cf(n + 1) + f(n), com c um nu´mero inteiro, se as condic¸o˜es iniciaisf(0) e f(1) sa˜o primas entre si, enta˜o f(n) e f(n+ 1) sa˜o primos entre si, para todo n natural. ê Demonstrac¸a˜o. Demonstrac¸a˜o por induc¸a˜o, os dois primeiros nu´meros ja´ sa˜o primos entre si, vamos considerar agora que f(n) e f(n+ 1), sejam primos entre si, e provar que f(n + 1) e f(n + 2) sa˜o primos entre si, como f(n) e f(n + 1), sa˜o primos entre si, enta˜o existem inteiros a e b tais que af(n+ 1) + bf(n) = 1 por hipo´tese, vamos provar agora que existem constantes a ′ e b ′ tais que b ′f(n+ 2) + a ′f(n+ 1) = 1 , para isso tome b ′ = b e a ′ = a− bc dai temos bf(n+ 2) + (a− bc)f(n+ 1) = bf(n+ 2) + af(n+ 1) − bcf(n+ 1) = CAPI´TULO 1. RECORREˆNCIAS, SOMATO´RIOS E DIVISIBILIDADE 11 como temos por definic¸a˜o da sequeˆncia f(n+2) = cf(n+1)+f(n), substituindo temos = bcf(n+ 1) + bf(n) + af(n+ 1) − bcf(n+ 1) = af(n+ 1) + bf(n) = 1 que e´ igual a 1 pela hipo´tese da induc¸a˜o. F Teorema 3. Seja uma recorreˆncia do tipo f(n + 2) = cf(n + 1) − f(n), com c um nu´mero inteiro, se as condic¸o˜es iniciaisf(0) e f(1) sa˜o primas entre si, enta˜o f(n) e f(n+ 1) sa˜o primos entre si, para todo n natural. ê Demonstrac¸a˜o. Demonstrac¸a˜o por induc¸a˜o, os dois primeiros nu´meros ja´ sa˜o primos entre si, vamos considerar agora que f(n) e f(n+ 1), sejam primos entre si, e provar que f(n + 1) e f(n + 2) sa˜o primos entre si, como f(n) e f(n + 1), sa˜o primos entre si, enta˜o existem inteiros a e b tais que af(n+ 1) + bf(n) = 1 por hipo´tese, vamos provar agora que existem constantes a ′ e b ′ tais que b ′f(n+ 2) + a ′f(n+ 1) = 1 , para isso tome b ′ = −b e a ′ = a+ bc dai temos −bf(n+ 2) + (a+ bc)f(n+ 1) = −bf(n+ 2) + af(n+ 1) + bcf(n+ 1) = como temos por definic¸a˜o da sequeˆncia f(n+2) = cf(n+1)−f(n), substituindo temos = −bcf(n+ 1) + bf(n) + af(n+ 1) + bcf(n+ 1) = af(n+ 1) + bf(n) = 1 que e´ igual a 1 pela hipo´tese da induc¸a˜o. 1.4 Um resultado sobre nu´meros primos Vamos responder a questa˜o, existe uma func¸a˜o polinomial p(x) que quando ava- liada nos nu´meros naturais gere todos os nu´meros primos em sequeˆncia?1. Vamos comec¸ar enta˜o com um lema que vai nos ajudar na demonstrac¸a˜o 1Nesse caso estou considerando que f(0) = 2, f(1) = 3,...,f(n) = p(n + 1) onde p(n) e´ o n-e´simo primo. CAPI´TULO 1. RECORREˆNCIAS, SOMATO´RIOS E DIVISIBILIDADE 12 ♣ Lema 1. ( 2n n ) e´ sempre divisı´vel por 2. ê Demonstrac¸a˜o. Por relac¸a˜o de Stiefel temos( 2n n ) = ( 2n− 1 n ) + ( 2n− 1 n− 1 ) mas temos ( 2n− 1 n ) = (2n− 1)! n!(2n− 1 − n)! = (2n− 1)! n!(n− 1)!( 2n− 1 n− 1 ) = (2n− 1)! (n− 1)!(2n− 1 − n+ 1) = (2n− 1)! (n− 1)!(n!) logo temos ( 2n− 1 n− 1 ) = ( 2n− 1 n ) assim ( 2n n ) = 2 ( 2n− 1 n ) sendo ( 2n− 1 n ) um nu´mero inteiro, temos que ( 2n n ) e´ mu´ltiplo de 2. Agora seja um polino´mio de grau p, f(x), temos que ∆p+1f(x) = 0 = (E− 1)p+1f(x) = p+1∑ k=0 ( p+ 1 k ) (−1)p+1−kf(x+ k) = 0 abrindo o primeiro e u´ltimo termo, temos p+1∑ k=0 ( p+ 1 k ) (−1)p+1−kf(x+ k) = = ( p+ 1 p+ 1 ) (−1)p+1−p−1f(x+p+1)+ p∑ k=1 ( p+ 1 k ) (−1)p+1−kf(x+k)+ ( p+ 1 0 ) (−1)p+1f(x) = = f(x+ p+ 1) + p∑ k=1 ( p+ 1 k ) (−1)p+1−kf(x+ k) + (−1)p+1f(x) = 0 tome agora o caso especial x = 0 f(p+ 1) + p∑ k=1 ( p+ 1 k ) (−1)p+1−kf(k) + (−1)p+1f(0) = 0 e com a condic¸a˜o inicial f(0) um nu´mero divisı´vel por 2 f(p+ 1) + p∑ k=1 ( p+ 1 k ) (−1)p+1−kf(k) + (−1)p+12k = 0 CAPI´TULO 1. RECORREˆNCIAS, SOMATO´RIOS E DIVISIBILIDADE 13 sejam agora todas as outras constantes iniciais (de f(1) ate´ f(p) deixando resto 1 na divisa˜o por 2, assim temos f(k) = 2g(k) + 1 onde g(k) e´ inteiro para todo k de 1 ate´ p. Agora se p+ 1 e´ ı´mpar, p e´ um nu´mero par, abrindo o somato´rio vemos que temos um nu´mero par de termos multiplicados pelos coeficiente binomiais 2 f(p+1)+ ( p+ 1 1 ) (−1)p+1−1f(1)+ ( p+ 1 2 ) (−1)p+1−2f(2)+ ...+ ( p+ 1 p− 1 ) (−1)p+1−2f(p−1)+ + ( p+ 1 p ) (−1)p+1−pf(p) + (−1)p+12k = 0 como temos a propriedade do coeficiente binomial( p+ 1 k ) = ( p+ 1 p+ 1 − k ) = (p+ 1)! (p+ 1 − k)!(k)!logo ( p+ 1 1 ) = ( p+ 1 p ) ( p+ 1 2 ) = ( p+ 1 p− 1 ) ... podemos colocar esses coeficientes binomiais iguais em evideˆncia, a soma fica f(p+1)+ ( p+ 1 1 )( (−1)p+1−1f(1)+(−1)p+1−pf(p) ) + ( p+ 1 2 )( (−1)p+1−2f(2)+(−1)p+1−2f(p−1) ) + ...+ (−1)p+12k = 0 como os nu´meros f(1) e f(p), f(2) e f(p− 1),..., deixam todos resto 1 na divisa˜o por 2, sua soma ou subtrac¸a˜o deixa resto zero na divisa˜o por 2 e como ( p+ 1 k ) e´ sempre inteiro, temos todo o somato´rio um nu´mero inteiro divisı´vel por 2, logo f(p+ 1) deve ser divisı´vel por 2 f(p+ 1) = − ( p+ 1 1 )( (−1)p+1−1f(1) + (−1)p+1−pf(p) ) ︸ ︷︷ ︸ divisivelpor2 − 2pois temos coeficientes binomiais de ( p+ 1 1 ) ate´ ( p+ 1 p ) sendo p termos, como p+ 1 e´ ı´mpar, p e´ par, logo temos um nu´mero par de termos. CAPI´TULO 1. RECORREˆNCIAS, SOMATO´RIOS E DIVISIBILIDADE 14 ( p+ 1 2 )( (−1)p+1−2f(2) + (−1)p+1−2f(p− 1) ) ︸ ︷︷ ︸ divisivelpor2 ...− (−1)p+12k Agora se p+ 1 e´ par em f(p+1)+ ( p+ 1 1 ) (−1)p+1−1f(1)+ ( p+ 1 2 ) (−1)p+1−2f(2)+ ...+ ( p+ 1 p− 1 ) (−1)p+1−2f(p−1)+ + ( p+ 1 p ) (−1)p+1−pf(p) + (−1)p+12k = 0 temos p um nu´mero ı´mpar, pela simetria dos coeficientes binomiais, teremos um termo central ( p+ 1 (p+1) 2 ) que e´ sempre divisı´vel por 2 pelo lema, o somato´rio fica enta˜o algo do tipo f(p+ 1) + ( p+ 1 1 ) (−1)p+1−1f(1) + ( p+ 1 2 ) (−1)p+1−2f(2) + ... ( p+ 1 (p+1) 2 ) cp+ + ( p+ 1 p− 1 ) (−1)p+1−2f(p− 1) + ( p+ 1 p ) (−1)p+1−pf(p) + (−1)p+12k = 0 e os termos restantes tem soma divisı´vel por 2 pelo mesmo argumento dado no caso de quando p+ 1 e´ ı´mpar. $ Corola´rio 2. No caso de uma func¸a˜o polinomial gerando primos , temos f(0) = 2 e todas outras condic¸o˜es iniciais ı´mpares, pois o 2 e´ o u´nico primo par e´ 2, logo havera´ um termo divisı´vel por 2 em f(p + 1), enta˜o na˜o ha´ polino´mios que gerem sempre primos dessa maneira. 1.5 Interpolac¸a˜o e divisibilidade Se um polinoˆmio f(n) e´ de grau p podemos escrever pela interpolac¸a˜o f(n) = p∑ k=0 ( n k ) ∆kf(0). Se s|f(k) para k de 0 ate´ p enta˜o o polinoˆmio sempre ira´ retornar valores divisı´veis por s. Pois ∆nf(0) = n∑ k=0 ( n k ) (−1)n−kf(k) depende apenas de f(k) de k = 0 ate´ no ma´ximo p em ∆pf(0). CAPI´TULO 1. RECORREˆNCIAS, SOMATO´RIOS E DIVISIBILIDADE 15 Z Exemplo 7. Mostrar que 30|n5 − n. Temos f(−2) = −30, f(−1) = 0, f(0) = 0, f(1) = 0, f(2) = 30, f(3) = 240 todos sa˜o mu´ltiplos de 30, sendo 6 pontos para um polinoˆmio de grau 5 enta˜o 30|n5−n para todo n . Recorrências, somatórios e divisibilidade Recorrência e divisibilidade Somatórios e divisibilidade Recorrências e números primos entre si Um resultado sobre números primos Interpolação e divisibilidade
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