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A disparidade no amor Éric Laurent

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A DISPARIDADE NO AMOR•
Éric Laurent 
E ntremos de imedi.no no tema das declinações do amor. Sem dúvida, é uma excelente idéia tê-lo escolhido para uma série de conferéncias dirigidas a to­
dos os intcress.idos nas conseqüências da psicanálise. Trata-se de uma aposta da 
psicanilisc: saber se ela tem .1lgo a dizer sobre o escanito moderno do amor, 0 es­
tatuto contemporâneo. 
Esr.1.mos em um momento fecundo no que <.Üz respeito à revisão dos ditos so­
bre o a.mor, com certo embar.1ço que se foz sentir na literatura em suas mais di­
versas variantes� no cinenu e n;1s modernas formas de narrativa que dependem ou 
participan1 mais ou menos do contexto literário. Temos a impressão de que esse 
embaraço, essa dificuldade está marcada por diferentes sintomas, como a multipli­
cação ou • refração de clichês sobre o amor já estabelecidos na literatura. Em al­
guns casos, a lircrarura de nossa época recicla clichês de maneira mecânica e, ao 
mesmo tempo, irônica. Essa é a perspectiva que se qualifica como pós-moderna: 
não se crê mais na modernidade, nem na nova solução inventada, e tampouco nas 
velhas soluções. O resultado é a ironia ou a citação. Ao mesmo tempo, a citação 
obrigada decorrente da dificuldade de inventar novas figuras e a ironia de não se 
acreditar ma.is nas histórias de amor. Daí a dificuldade para sair da posição de um 
"não me venham vender histórias de amor, nem de nenhuma outra coisa". Fim das 
ideologias, mas também fim das histórias de amor. E, ao mesmo tempo, a consta­
tação do caráter inelutável disso. 
Na Mostra de Veneza por exemplo, percebeu-se o impacto de um filme 
como Uma relação po rno;ráji,ai, no qual o autor contrasta� títul� com o fato 
de que não se vê no filme, ou apenas muito rapidamente, brmcade1ras que pu-
' \.onfcréncia pronunciada cm TouD, no 5.mbim do Scmimtrio Clini1:
o de Françoise e Charles Schn:ibcr cm 11 de sctcm· 
brodc 1999. 
i U1t1: 1;11110,, p,,.n,,,,,..phiiflli 0999), filme francl:s di
rigido por Fn!déric Fontaync e cstn:lado por Nathali
c Bayc e Scrgi 
l.11pcz. 
facebook.com/lacanempdf
dessem derivar do qualificativo evocado. Ao contrário, quer-se partir de 
hl ó" � st na que estaria centrada unicamente no sexo e, é claro, chega-se ao a.m 
para surpresa sobretudo do rapaz, que, enquanto pensava entrar na história:: 
mente pela satisfação, experimenta o paradoxo do amor. Esse é um dos fenl,. 
menos clássicos da clínica do sujeito obsessivo, que pensa poder estar todo 0 
tempo muito atento à questão do amor e depois não pára de embaraçar-se en, 
múltiplas dificuldades. 
Desse ponto de vista, a clínica psicanalítica captou esses diferentes paradox°' 
de maneira distinta das dificuldades dJ. narrativa amorosa moderna. Por isso, creio 
que esta é uma cxccknu: questão a ser feita à psicanálise: o que você tem a dizer 
sobre a dcsordcm .unoros., contcmpor.lnca� a psic.má.Jisc permite que nos oriente­
mos ness.1s qucs(ôcs? 
É um.1 ilki.l muito hoJ. fazt'=-lo l"lll Tuurs porquc a Touraine é uma terra privi­
kgiada p.ir.1 t'SSl" tipo de qucs1jo, El.1 o l(Ji durJntc todo o século cm que a litc­
r.1.mr.1 t'r..u,ü·�J. insc.1lou um no\'o 1ipo dc discurso sobre o amor, que se revezava 
con1 o dJ. lcáli.1, ... kdin.mJo·o "k outr.1 111.mcira. No século XVI, Pierre de Ron­
sJ.rd.; n.iu Ú\'ÍJ. muiw long.c ,-ls ,.,.,,,pi,·s i: um bom cxcmplo para ver como se de­
din.1 n.1 licer.1turJ .1 dihn1ld.1d ... · "k i:ontJr his1órias de amor. Ele escreveu poemas 
� de" J.mor dur.uul" cod.1 .1 su., nd.i. Su., époc., começava bem, sabemos que, no sé-
22 cuJo �'Yl. J.cn.:dic.wJ-Sl" que lu"niJ bom tempo, que a época ia liberar-se das nu­
,·C"ns d.1 opn:s.slo esi::oljscicJ, m.1.s logo depois surge Lutero e, em seguida, vê-se o 
fim do século , d.in:rsos d.i.!Ji::crimentos. Nas hjstórias de amor de Ronsard, lê-se a 
sorcc::. o homem de\'Otado à sorte, o gosto pela astrologia, o impossível cálculo d.a 
bo.1. combinaç..io encre homens e mulheres, todos esses temas que o ocuparão até 
o fim de sua ,ida . 
• \ Touraine, porcanco, é um bom lugar para refletir sobre a maneira pela qual se 
inscreveram as histórias de amor e o grande mal-estar atual. 
Literatura 
Apesar disso, não escolhi Ronsard como cxergo de nUnha conferência de hoje, e 
sim um extrato de La Rochcfoucauld. Por que La Rochcfoucauld, que viveu 00 
século seguinte? Porque ele é a excelência do moralista francês e o autor de wna 
observação que agradou muito Stcndhal, na qual diz que há muita gente que nã� 
saberia o que é o amor, se nào tivesse lido hisc6rias de amor. Há um agudo scnn-
' Pierre de Rnnurd f 1524 1585 J, eKrilor e pc)(fll franch Ju M!culo XVI que se TDrnuu conhecido ,.-orno o Mrrill(l(K' Jllll 
pcicua" 
c,.�1r-1,,," 24 , 1•1t, 2007 • l:RI' M<J 
mento do
_
mora.lismo do século XVII e, ao mesmo tem O . • 
to masculino sobre esse tema d 
P • um ponto de v1sta mui­
rural d 
o amor como semblante, do amor que não é na-
' o amor como artefato, como convenção Para o dizer . . 
é evidente. No verdade só se •lodc cti . 
· . 
mascu.lfoo, isso não 
. . � t 
zcr isso a partir da psicanáHse, mais recisa-
mente, do interior do d1s,urso psicanalíti N- .. · 1 á 
P 
• fi - . 
co. ao sei se 1 entre vocês pessoas que 
tem como pro ssao o ensino de litcraturJ . 1 � 
. . . 
devem saber l ue sc ode I 
· .
.
.. 
nos '�.
cp;1os e ?ªs umvers1dades. Se há, 
1 P u todos us t:omemJnos passiveis sobre essa frase - e 
Deus conhece �m.1 pequcn.1 hihliotec.i J c.·ssc n:spdto -, sem que alguém sublinhe 
0 f.no ��� 
qut' n
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at� sc lr.u.1 de.;· um p�,n10 de \'is1.1 uni\'crsal, t' sim de que há aí o pon­
to de\ 1.sc.1 do St"lulo, lk .,l�u prolund.mu·n11..· nl.lsnilino. 
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br.l\ impori.uucs, ú11110 o li\'ro de 1\ml Bénichou Murnis dogran ­
�' semi,, PH·Nll 1-Hll'. l9K8) ou o de llohl·n Mauzi sohn.: a fclkidadc no sécuJo 
X\ 111 ( �LU' li. l lJl)-1 L n.io :,.l- ,·� tl·m.11iz.1ll,1 a oposi\·;io dos sexos no que concer­
nc- .10 .unor . 
. 
E, em p.,rri.:ul.u, l'SSl' t' um ll'lll.1 lllll' os ;iu1orcs fi:minisrns franceses (que, frc­
qil�ncé'mc1m:, :,;.iu n.:,:knll'\ prol(::,.:,.orl·s de li1cr.11ura) ou americanos, de maneira 
m.us brut.11. lksl·m·oln:r.un. 11.,, 11.b ll'lr.,s, uma dessirnctria na perspectiva do 
.1.mor qut" po1.kri.1 fa1.-llm'-·nrl· n:du1.1r-s1..· J idéia de que apenas as mulheres faJam 
dt" a.mor. Tod.1 um.1 h:m.u..i.:.1 d.1 lucr;uura feminina, ou da literatura de mulhe­
rt"s, c:scritJ pd.is mulhcrt:s. a t"sait.1 feminina, estaria centrada precisamente so­
brt' .1 t'Xplor.iç.io sistcm.ítica. do amor, de seus impasses, de seus sofrimentos, sen­
do .1 pa..rt:i.r dai qut" Sé' interrogaria ma.is profundamente a invenção de uma forma 
de amor moderna. 
Isso é corroborado pelo tàto de que Margucrite Duras, por exemplo, tenha se 
insulado duradouramente na paisagem da füeratura francesa como uma espécie 
de orácuJo das formas do amor e daquilo que ele pode examinar. E isso por meio 
de formas literárias extremamente variadas. Ela começou sua carreira com uma es­
crita que, de certo modo, derivava do cânone gidcano, muito influente na litera­
tura france�. para, cm seguida, passar por um período expcrimentaJ t' tt'rminar 
cm uma literatura à beira do clichê, que lhe valeu tiragens fenomenais, por exem­
plo, com a reescrita de O nma1'te, no limiar de uma conversão como a de Philippe 
SoUers, que, cm outra direção, passou da escrita formal a um classicismo um tanto 
desavergonhado cm seus romances mais recentes. 
Essa dcssimctria manifesta o faro de l]Ue as mulheres falam do amor de ma­
neira inteiramente diferente da dos homens. Ao mesmo tempo, contudo, não é 
fácil tematizá-la, quando se abordam, por exemplo, as concepções de felicida­
de ou de amor presentes cm uma determinada época: o Renascimento, a ldade 
Clássica, distinguindo-se o século XVJI e o século XYilJ, o
amor no século XIX 
e agora. 
N11M1,111.•,vo11111 
r 
23 
_., 
Freud, a disparidade dos sexos 
A psicanálise deveria ajudar-nos cm nossa orientação acerca dessa disparidadt 
que é nosso tema de hoje, pois este é um ponto sobre o qual, desde o princípio: 
Freud avançou com firmeza e conseguiu manter como um bastião, uma aquisição. 
O ponto sobre o qual de avançou é o de que há uma profunda dcssimctria entre 
as posições mascu.fu1.1 e fC'minina. 1-reud a centrou sobre os ensinos que, a partir 
do momento cm qut' numcros;\S mulhcn:s c:ntraram na psicanálise, pareceram du. 
,-idosos J.s psicJ.n.t.lisus. 
De i nício, sul-il inhou que mu110 profunJamcme dcssimérrica era a anatomia, 0 
órgão . Ao p.issu 1.1ut ,, óqt.io m.1.!ln11 i1 10 (' c\' idc11 1c, o leminino permaneceria ocul­
co. A prin..:1p10, ., 1 1.· , 1n.1 d., l'J.Str.1.,·.\o t i. , i li1nn 11l.1d.1 por Freud com base em um tipo 
dt· 1.·\ · id(n .. :1.1 1111.i�mJriJ , l)l lt' t' d., nrdrm d.1 n·pr1.'.!lt'll l J4jào : não sc vé o que as me­
nina.., [(°m. :\1'.Mnt , o rJ,,:u 1" mi t 1 :,,.m, 1rn 1 .1do pdu lllt"nino �cria cstc : 5c há seres hu­
m.u11.1s 1.tut" n.\o 11(""·n .. "'m.1m1.·11 1 1.· 1(1 1 1 11 pn1m·111 1 ,1pl'ndil::e que tenho, então posso 
pcrd('-11.1 E:-.,c t' o fa11u 1!\t 1 n,;�11111.· d t 1 1 r rrnr do menininho: a ameaça de castração. 
fremi 11.\1.1 1.1 , iu 11nnhJ1 .11nC"1HC" l · 1 1 1 1 1HN, "·, 11 1 1 ,, pc1.1ucno H :ms, ou seja, cerca 
de dt"L .uw_.. dtp1.11.\ d, 1n ú 1 1 1 1c-,· .1d1 1 .1 pr.u il.",t d;1 p.,ii:aná.lisc, de considera que esse 
mcnirunh1., d, i.:-inú, .,m,.\ .11 1 .,h,.ul 1 1 p1 1 1 d1.· tnn 11111a fobia porque, sem dúvida, so­
fre Jc um 1.:1.1mpln11 \k ( .1;11 1 r.1,-.\P . 1-· 1 1 1 1 1 1.",1!-10 particular, ainda não generalizado. 
E dcpt:iis J..1 .1.11.1.hsc.· do l'C"1m·1h1 1-I Jm 1.1uc.: Freud generaliza o complexo de casa-a­
\io t" i.:ons1Jer.1 que wJ1.l� os mt"nmns vi\'em sob o regime do terror da casn-ação 
e que n.io b..í jeirn J(' c,ir.1 - lo. Pode - se ser gentil, gracioso, faJar-lhes de rodo isso, 
sem ser fun,.Jdo .1 dizer- lhes: '"Se \'OCê não se comportar bem, vamos cortá-lo•, 
m.15 J.c.i."t.u de lado tod.a essa rc:tórica da ameaça não faz com que o menino deixe 
di:: ti::r J.i:: se:: ,in.r continuamcmc: com isso . 
. \ medida que. Fri::ud generaliza esse ponto, ele constrói esta questão: como é 
para as meninas? S3.o precisos dez anos para que ele generalize uma posição sobre 
a sc:rualid.ade feminjna, ao observar que, para as meninas, a grande diferença é que 
elas não ,i\"em sob a ameaça de castração e que, cm ,•cz disso, elas têm uma ati· 
tudc ativa a c\sc respeito. No lugar da ameaça que pesa sobre o menino, elas Km 
uma ccncza, a de que elas não o têm e, portanto, de que \'ão buscá-lo. É assim que 
Freud dá conta da maior vivacidade intelectual das meninas, observando na ado· 
lcscéncia - e isto sempre surpreende - o caráter completamente atordoado, perdi· 
do dos meninos e o caráter muito mais desperto, decidido das meninas, ainda que 
este também possa extraviar-Pie. 
Tal oposição constrói uma assimetria da vicia amorosa. Uma é marcada pela 
ameaça e pela angústia de castração e a ou1 ra , pela cencza de saber aquilo que se 
quer, salvo por uma ameaça muito part.icular: para a menina, l necessário o 
amor 
Cnt1.,.., • •• 24 • 1t1N 2007 • E R í' ·MG 
do ouuo1 daquele de �ucm ela tomará o que lhe falta. Disso decorre a amca ar-
tit.:ular que marca a vida feminina a da pc d d · tal 
ça p 
. • r a e amor• ms ando, com efeito o 
amor do lado da mcruna em wna posic-ão parti ui d · é · 
uli 
.,. e ar, css1m tnca cm relação à po-
sição milSc na e presa a wn objeto e à presença da angústia. 
Essa oposi�ão, �uc �tala o amor nesse lugar destacado , permite dar conta, 
ao lo�go da ht�tó
na �a litc�rui:a, de como as mulheres se expressaram sobre essa 
qucstao , ou sc1a, . 
da 1mportanc1a assumida pelo amor quando há vestígios disso. 
Isso, contudo, deixa uma questão cm aberro, formulada por Freud nos anos 1930: 
"0 que querem as mulheres?" 
Todo o problema, então, é sabei' por que Freud fez essa pergunta, já que, apa­
rcnrcmcnrc , cnconnar.a uma resposta? "O que querem as mulheres?" Resposta: ser 
amadas. Onde. então, reside a ncccssid;1dc c.Jc manter uma pergunta cm aberto? 
O que i: que d.is qu,rem na rcaliz.1.çào da \'ida amorosa? 
Foi cs.s.1 .l pcrgum.1 que fizeram ,lS analistas mulheres que começaram a ocu-
p.ir lug.lf('s n.is fildr.is do muvimenro analítico a partir dos anos 1 920, após a cdu-
i:-.1,·lo tt'r sido :.1bcn.1 p..1r.1 os sujeitos femininos e os membros da primeira gcra-
\lo d.1 burgucsi.l j udi.1 h;n:m l'lwiado suas filhas para a escola. Isso teve como um 
d( seus r,sult.1dos JS mu..1111:n:s m�dicas qu\:' Lamo contribuíram para a psicanálise, 
c:ssé' público novo. ,\t\:nto. curioso, que se servia da psicanálise para esclarecer suas 
d.ificuld.idcs. O exi:mplo cmincntl' é HélCnc Deutsch, ao redor de quem algumas _§) d.iscipul.is. do mesmo nível, renovaram cm Viena o movimento psicanalítico. Hé-
lCne Dc:ursch e: alguns de seus discípulos alemães levantaram esta questão: apesar 
de rudo, por que .1 primazia do órgão masculino? Afinal, as meninas também têm 
wn: p.u-a os meninos, o pênis; para as meninas, a vagina. Todos têm sensações, ro-
dos f.ucm descobertas, rodos põem a mão . . . 
No movimento psicanalítico, essa questão surgiu nos anos 1920 e abriu um
 
campo de discussão que se fechou de maneira muito artificial c
om a proximida­
de da Segunda Guerra Mundial, momento cm que o debate se encerr
ou, pois não 
se chegava a uma orientação. Então, o que se disse foi: "Obser\
'emos as crianças" . 
. Mas rudo se reinicia e o debate sobre a sexualidade f
eminina se fecha com uma 
tampa. A partir de então, o interesse se cenua na rela
ção da mãe com os filhos, à 
luz do debate cnuc Anna Freud e Mclanic Klein, q
ue apaixonou os psicanalisw, 
com as ressonâncias psicológicas que tais estu
dos podiam ter. 
A fantasia e a mística 
Com O feminismo contemporâneo, reab
riram-se as questões. É uma brincadeira
 
feminista americana standard dizer: "É 
formidável! Com Freud, ao menos
 sabía-
mos O que não ánhamos, enl1uanto, com Lacan e sua idéia 
de que, de toda Ria. 
ncira, 0 falo não é para nenhum dos dois, não podemos nem mais queixar-nos do 
que nio temos". 
A maneira pela qual La,an cransformou essa questão foi dizer que não se tra. 
cava de um órgão nem para um, nem para o outro : não há órgão adequado Pira 
J.mbos os sexos. O men ino cem o órgão, mas há a angústia de cascração. A menj. 
na c:scá ali\'iada d.1 Jngúsci.1 , m.1s n,\o tem o órgão ll llC lhe conviria. Isso, porcan. 
to, não funcionJ pJr,1 11ingul:'m . Na scxu.,lidadc, n;\O há o órgão que convém, mu 
é cxacamc:mL'" isso l1uc ( l 1mJ o 1110\' inu:11 1 1 1 psilJ I I Jlícicn original : de não faz pro. 
mc:ssJs, ..:omr.uiJnu.·nh.: ., ou1r.1.., p ... i ( 1Hn.1pi.1s, quc prometem a felicidade sexual. 
ParJ t'St.is , se: J.lgm·m du;gJ .t -"C li\'r,,r do sucss, d.1 .mgú.'lli., e1c ., não há razão para 
n.io p;oz.u \·,11110 (onn-m . :\ p!1oi1..:.111.i l i!'lit· , cm w, disso, c,1111 inuJ a i,ustentar que aJ. 
gu<.·m podt· rd.t .\.U 1 .mto ll ll.tnto 1..1m·1r.1, 111,l !<I , scj.1 como for, i,t·mprc encontra.ri. o 
ol:istJt.:ull 1 . 
Pl1rt.1nh.1, é")i.'i.J. pcr�ull lJ, 1 1·.,mporu...t.1 p.1r.1 . , psii::.tnáfüe e rcfi: iu Jc Jiversu ma­
nc:ir.1.,;., tl11 cr.1ll!iolWrt .1dJ J 1 l ' I 1 .tl .111 p.1r.1 11 .11111 1r, .10 ohscr\'ar que, diante da falta 
profundJ '-lllL'" .a pMl"Jn.lli,\· frn1il1.111.1 1m1 .1l.1, l i ., fal t a nu sexo, há duas posições: a 
fmc.1siJ 1.· .1 nu!irÍl"J 
P.ir.1 o h1..1m('m, lll) lu�.u d.1 1 .,h .1 , i l .1l 1 11 1 l 1 1 1.. 1m· parece faltar, Lacan situa a fanta­
siJ. E o nl,ml.'" CJ111L11.·111 do ,1lll· ...uhtl·nlk o .1111or- próprio, segundo La Rochcfou­
c.1uJJ. C.1JJ um, por meio ,k !i<.'u .,mor-prbprio , de seu narcisismo, não pode, na 
..:onJiç-lo Jc homem. JI.' m..:nino, nlo buscar as condições de sua felicidade segun­
do su.1 fanusi.1 . N"lo podc nlo, a pomo de, por in termédio do parceiro do amor, 
ou p.ir.1 .1.lcm do p.m:Clro do amor, ha\'er sempre a fantasia. É um tipo de verdade 
escabckcido pda psic .. milise e que , no fundo, marcou o estilo de amor ou as difi­
..:u.ld.J.dcs da época. Toda relação, num cerco sentido, é pornográfica. Podc·sc fa­
zer codo o possi,·cl para corná·la etérea, ideal, amar o máximo possível, até o amor 
louco, mas ,1tris dela se encontrará, para o menino, a ancoragem famasmática, que 
é seu verdadeiro parceiro. 
Do ouuo lado, e de maneira exemplar, Lacan fez referência a algo que Freud 
não havia destacado com essa énfase. Na obra de Freud, não encontramos refe­
rência especial a mística, nem à judja, nem à criscã. Sua única referência ocorre cm 
1 905 . Ao convcr!i.ar com Jung, o suíço fascinado pela hiscória das religiões, csce 
lhe dizia que alg,J fazia obstáculo à sua teoria da libido: o faca de que havia ercm.i­
taS e que, na prácica deles, ao longo dos séculos, no isolamento do monge cm seu 
retiro, havia sujcito!I que "t l iberavam do mundo, que não tinham mais nenhum 
desejo e, portanto, não tinham mai" fan tasia. E l1rcud lhe rcs1>ondcu que o retiro 
do mundo não implicava nenhum retiro neccss�rio da lihidoi cm vez disso, devia­
se opor o monge ao sujci10 psic6tico. Para Preud, o monge mio recira seus inves-
ü,�1•,<,� •, 24 · l"N 1007 • [Bl ' ·Ml.i 
timcntos_ do mundo; ele se retira do mundo . 
o que a literatura monástica testemunha a d:;
r se interessar pelo mundo". É isso 
a meditação que atravessa toda css li 
. 1 fundadores das ordens, bem como a tcra.tura O s · · · · tira-se do mundo e a libido rctorn b 
· UJCito psicónco, por sua vez rc-a so rc elc sob ' Lacan prossebru.ÍU nessa di:st..inçà 
, rc seu corpo. 
sobre a psicose do presidente S .1 
°'.
b
p�r c�emplo, ao comentar o texto de Freud e in: cr. Ele obsc:rva · -Schrcber e foz rdi:rência à m ística, sendo nccessár' 
. � _mte�vcnçao d� Deus cm 
posição do deus c.k Schrt"ber do d . l . . 
IO dist1.ngu1r da aJcgna mística a • cus e. o su1c1to psicótico - d · tura cm paz e .1 arormema. Em segui 1 . • que nao eixa sua cna-
h.i um.1 fücralUr.1 ICminin.,, uma csc;i;1' 
�: 1 º.
111
.
" esse ponto, P�r_a sublinhar que se 
. . . . . a icm111111a , como se d1z1a nos anos 1980 da tstJ do 
_
1.1�10 dos llllMIL:o�. Por quê� Pon1uc: é uma modalidade de amor cxtre: m.1d.1mem
.
c '-�n.
1 a
.
l . l ls .m.1s 1 1c.os c:xpc:rimc-ntam um bocado de coisas, e a certeza rd.1t.1d.1 pdu su1e1 10 m1s1 1,o l' J de ljlle . . . . . . . . . . 
, cm seu corpo, está assinalada a presença do Outro .1.�1,1110. l?:rr. .
1111s1 act1s, l"\·1dentcmente , não são cxclwivamcntc femininos. H.1 un�.1 sem:· dc 1�1 1suco:rr. 111.1si.:ulinos de 1.· xcclcnte fatura, que vão de São Francisco de Nisis, qt11: 1.·r.1 fr.m..:isc.mo, S.\o Ho.wc:n1ura , a mística alemã com Suzcau TolJer J. S.io João d.1 Cn11 l' I C . 1-1.i por1.m1u , uma mística masculina cm que homc�s falan: 
como as mulhcrt's. S.10 J lll1i,·J do Esposo. I sso é particularmente curioso cm São 
B�rnarJo de Ckrv.1ux. quc cr.1 uma espécie de aristocrata bruto, assassino, cava­
leiro eminente - nlo do gC'nero dissipado - e se tornou místico. Tratava-se de um 
.t.ss.is.sino, um experto, 1.1ue levou sua vida como um aristocrata da época e, apesar 
disso tudo, construiu uma literatura sobre as emoções que: experimentava cm seu 
corpo. Bernardo de Clervaux, ao meditar sobre o ramo de mirra que Cristo segu­
r.1... escre,·cu p.igi.nas que sempre perturbam. Mas cm que isso é uma metáfora? 
Ora, foi precisamente isso que interessou a Lacan, para quem se trata de uma 
metáfora encarnada. Toda a literatura faz metáforas, o romance, o teatro, a poe­
sia., e isso nos leva à questão de saber o pode a literatura. Ela pode mobilizar as mas­
sas? Pode: servir a quê? Ao longo do tempo, a literarura serviu para muitas coisas, 
mas há algo que só se obtém na literatura rrústica: o testemunho de um modo de 
goz.ar particular, muito concreto, e que é o contrário do amor como amor quiméri­
co, do amor románcico, do amor do tipo "um só ser lhe falta e tudo está deserto". 
A mística é o anti-Lamartinc. O ser faJta ao núscico porque esse ser-aí lhe fuzia gozar. 
Ele daria uma certeza ao corpo, de o habitaria de tal modo que, em seguida, esse 
gozo lhe deixaria cm falta, como o toxicômano está em faJra de sua substância,
 e não 
de uma quimera. Trata-se aqui de um ponto de vista exucmamcnt
e materialista. 
' N . do T l"::nc J..aurcnr parece l'tC rdcm aq11i, rcopccúvamcn1c, �1 urm l4 1, �� 
13 � ;;:·:�e�::� �!�\.j� !: ,!� 
ll'lil.lo de 1 907 C(. McCiULRI:, WIiiiam {urg . ) A iornrp,mtllnt1a rort1p/d11 tlr ' 0'
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ncin, lmagi, 1993, p 79 .aJ. 
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Assim, a questão é saber como situar esse gozo particuJar com um ser que como o deus dos psicóticos, ou mesmo, um ser de pura palavra. Uma pala t R��iza-se \·erdadei ramcnte aqui a operação "o verbo se faz carne'' , propriam';1: te falando, e isso da mesma maneira que ocorre na mística judaica. Pode-se dj n que Freud poderia ter lido Walter Benjamin ; toda a reabilitação da mística jud:� ca, que Walter 8':njamin e depois Gershom Schõlcm {SCHOLEM, 1 999 ) descn­\•olvcram como soluçlo J. crisL· do marxismo, Freud poderia ter conhecido, mu não o ftz. Ele mante\'e seu ponto de vistJ racionalista e isso resultou cm Moisés t 0 mo11otdsmu. Há, tod.wia, 1 1 111.1 m.11u·ir.1 de retomar ..:ssa correme não apenas na mística cris. tã, como t.1mbem 11.1 m1su,., juLl i ., , L' in Lt' rrngar-sc acerca dessa encarnação do ver­bo, 1.ic�'ic p.oln prL1\'t1(,llil1 por .,lgo ll l lt' parcl·e presc indir do órgão . Não há órgão r:. no ent .mll1 , hJ l'Lº!l-)111 1\ ,in,i ,, p.utk11 l,1r do corpo, uma ressonância que ,·em mar­C,1.f dt1 l.1dl1 li.·nuninu ,1 qm· no homl'lll se local iz., na fantasia . 
Estilo fetichista, estilo crotomaníaco do a.mor 
L.ic.ln retl1nwu L'SS1..' pl1nto ,k di ti..·r1.· 1 1 1n m.mci ras no curso de sua obra. De ini­i.:10. como intcrrog.u,· .io sl1hrc 01o mi1otin)s e seu lugar estranho. Em seguida, disse: "PodenJ.mos ,)por o L·stilo li:t ichis 1 ., Jo ,unor no homem e o estilo erotomaníaco na mulher"' . Com cti-=iw. SJhL·mos quJ.is for.1m, cl in icamente, as ccntativa.s de encontrar na mulher o cquiv.ilente dJ dinic.1 do fetiche no homem, por exemplo, no fetichis­mo Je tecidos. do cm·oltôrio; os clínicos sempre tiveram grande dificuldade cm cn..:ontrar .1 s1mctrl.l. O homem fetichista escolhe a roupa de baixo ou o sapato de mancin pre..::isJ. As mulheres que cêm fetichismo de tecidos usam-nos sobretu­do sobre �i mesm.lS. É ai que se situa a indúscria do fetiche, ramo importante da indúsC'la de: nossa época, e a indústria têxti l , com resultados práticos. Por outro lado, nas mulheres, quando a publicidade centa industrializar esse ponco de visca, bá sempre algo como: "Eu gosto de usar aquilo que ele gosca de cocar", como c:m recc:me publicidade. Há a referência ao outro e é, sobretudo, sobre o corpo que ela incide, decorrendo daí a dificuJdadc para del imitar uma simetria entre os di­tos fetichistas. Com efeito, na clínica da crotomania, há uma grande dcssimecria. A croconta· nia é, na maior parte dos casos, feminina . Seria preciso, portanto, tornar o mode· lo da scroronina mais complexo : a scrotonina ma.is algo, pois embora os rccepco· rcs d.a scrotonina funcionem, podemos ativá- los o quanto q uisermos no menino e na menina que não obteremos a mc,-ma repartição. Quando Lacan fa.la do "estilo 
C1:P 1Nr,� N 24 • 1 1 1 1 . 2007 • f B l'· MG 
er�to�l;JJÚaco'' do amor fi:minino, ele O faz ara 
pnmc'.ro �l�o. E�c se serve de uma versão dtcrot 
trazer
. 
a certeza do amor para o 
em ps1qwatna Clerambault,
para quem intercssav
:
mama propo�ta por seu mestre 
de postulado, ou seja, de que a certeza do dia óstic: 
erot�man1a o que chamava 
do sujeito, quando este diz · "EI . 
gn propnamente dito se obtém 
o ama é ele quem mi: ama ,; N 
� me ama, 1.:u estou certo disso, não sou cu quem 
, . 
, os anos 1 9 1 0, na clínica a.km- h . f; • . 
deh:10. �
moroso, isto é, J.ntcs que: Cléramb.mlr íonnul:s: 
. 
a, avia re erenc1as ao 
sua 1dc1J de postul.1.do cr.i ,l dl' qlll: , ,l ii�or, uma vcrdadc�::s� nos ano_s 1920, mas 
constrói sobre esse- posrul.tdo . 
crotoman1a sempre se 
O �srilo c:ro��11ll.\ll l.ll'o M.' rdi.: n.: i i .lo ,1pcn.1,; .1 u in "é ck quem mt: ama" como r.unbt.:m �·' um ,.: _ dl· l]UL"l l l n1l· t1l.1 " l ' ln.1 1 1 1b.1 uh prc.:cisJ que, na atolo 'ia cro-rom.rn1.11.. .1, tudo sl· h 1nu p.il.wr.l do SlT 1 1 . J . , P g d . . . _ · ' m,ll O 1.: i uuo IJ1. signo Ja palavra do ser lln.1 ll. F d1s!Joll l] l ll' l i 'l l Jl' 1 t 1 1 s 1 1 l rl· . 1 s1 1 1 r , qur lsM 1 lhe fale o lt:mpo iodo sendo a p.irtir d :11 que 'l" l l l fl·rro�.l .1 d1smh11 1\·ju ou , di�.1mm, ,l di.,paridade. Do 
,lado ho­mt·m. 1s..,l1 �u,.1 nn s1klll 10 , .1 l ,Hl l .1, i .1 upn.1 t'lll !ioi ll'm: io . E, é preciso dizer há umJ p.Hl1 ll1�1J l' \ ll ,ll1rd11 1.u i.1 lh 1 l.1do 1 1 1 .1 ,(u l ino: tio homem que não deve ser �cr­rurl".1dl1 pdl1 b.1r11\lw uu 1ld,1 1),d,1, r.1 dn1 1n:n,.u1a , cnliuamo está no i,cu negó­,:10. ou dl· suJ l' \l�l'lll'IJ lk l)l ll' , w 1 1 ., p.11.H t .,.�. t c ,d.l\ tlevJm derivar do vocabuJ.á­�o cm lll�ll 11.1 s.1.· , u .1 l 1d.1lk . l. l' I \ I l ll' 1 1 l 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 n 1 . Enfim, há toda uma sensibilidade 
t.,g.tl Dl1 \Jdo mnlhcr. t· l ll'O:c s..;.u,n, .lpl·,.ir Jl· 1w.lu, que o ser amado fale: �FaJe co­
nug.1..1" El.l so podt· .:onsl·nur ,:om J so,ualldadc depois de uma longa preparação qu1;7 ú1ns1stc. ,s.."Cna.tlnu:mc. cm ser envolvida com palavras, para depois consentir. 
HJ JJ tod.i umJ dcss1mnriJ responsável pda comicidade das dificuJdades do amor o famoso -fak .:onugo" ou o "'vocC: não fala comigo o suficiente7' etc. 
1 
Um gozo silencioso 
O problema. contudo, é que, de faro, o sujeito feminino também visa a um gozo 
silencioso E o gozo silencioso, atingido precisamente na experiência mística, en­contra -se na observação de que Deus se caJa e de que ele se manifesta por sua pura presença. Com esse: ponto, Lacan observou a relação com a falta no Outro que fala no lugar da linguagem . No lugar onde se articulam palavra e linguagem, a pala­vn final sobre o amor fol lará ( ,,q. Diante dessa falra, do lado masculino, há o ob­jeto da fantasia; do lado feminino, trata-se do que, no final, virá nesse lugar, como 
dlS">C Jacque.,,-AJain Miller cm arLigo recente ( M I LLER, 1999 ) . Em O SmJi,iário, li­vro 20: mai.J, aúJda, Lacan não o diz. , 1üo di1, exatamente o que vem no lugar da fama.sia na mulher Ele deixa \cui, ouvin 1n cm suspcnsl·, e o aborda de diferentes 
maneiras. Fala de certo número de fenômenos, mas não diz o que é. Jacqucs-Alairi 
Miller, agora, nos diz que, depois desses anos, tendo uabalhado isso, pode-se dizt. 
lo. o que vem nesse lugar é o gozo da palavra (/',.). Mas o que quer dizer O gozo 
da palavra� Não é falar no sentido de falar para não dizer nada, não é falar, corno 
quando se diz: "As mulheres falam, das falam muito mais do que os homens, 0 
que explica O sucesso do telefone celular etc". Elas falam, mas não é esse o pon­
to, isso não é mais do que a supcrficie. O elemento profundo é que é preciso que 
isso fale para gozar. 
A partir daí, ,apta.mos por qm: La Rochcfoucauld é um ponto de vista mascu)i. 
no, pois de tem .l idéi.1 de que I cm princípio, ê necessário que o amor tenha sido 
escrito, que de não scj.1 d.1 narnrcu. Pois hem, de se engana . Se tivesse sido mu­
lher, c ap.Uxonado pdo Jmor próprio, jamais teria escriro que o amor é um artefa­
to. Ccn.1mcme, reria podido fa.Jar d.1 con\'ençào, como madame de Sévigné põdc 
faze - lo, m.i.s n.io dm·idar de que há, n.1s rcl,1çõcs do amor e <la palavra, uma rela­
ção consubstJ.llt.:i.il, o que , .tli,\.S, fe1. i.:om que as mulheres tenham compreendido 
muito bem, no i.:risú.mismo, i.:umo u verbo se foz i.:arnc. Isso nunca foi um proble­
m.1 par,1 o auditório feminino . 
Em rcl.tç.io .1 is.,;o, l) .uurupúluF,l' 1 ,11.'.k Goody refletiu sobre a literatura e está 
persuadido d(' que o .uuor so pode Jp.uci.:cr nas sociedades com escrita, porque se 
('scre,·em cartas d(' .imor. EsrJ bem um antropólogo cc:r esse tipo de idéia, isto é, de 
que a cscrica scn·c t.m1bém p,1r.1 isso e: não apenas para fazer a conta exata das tro­
p.is do f.irJó. l-.1.is is.\o, de fato, é um erro. De estrutura. Há um ponto cm que, do 
LJ.do feminino, a p.iJa,TJ. se cala, e que é ao mesmo tempo o ponto onde isso goza 
da pala,n. É o ponto do qual não se pode dizer nada e todas as palavras desfale­
cem. Em que se articuJa justamente: um lugar paradoxal, que é o ,ulmen, a essên­
cia mesma d.a paJa,n, e ao mesmo tempo o ponto no qual ela desfalece. É aí onde 
as mulheres cnconuam o silêncio. Para a metade do universo diferente daquela do 
menino, há um momento cm que se está, apesar de tudo, aliviado do parasita lin· 
guagciro, do fato de ter ainda de falar nesse pomo - tanto do lado homem quan· 
to do lado mulher. 
A disparidade do amor está, assim, situada em torno dessa relação em que se 
amarram o silêncio e o aparelho linguageiro parasita, cm que Lacan faz aparecer a 
conjunção cnue pulsão e silêncio, tanto do lado do menino quanto do lado da me­
nina. Desse modo, a questão de Freud "o que elas querem?" obtém uma resposta: 
elas também querem gozar em silêncio. 
Cull1J11(.A "'· 24 • JIJI� 2007 , ERP·MG 
TRADUÇAO Cristina Dnunf110t1d 
IUVI SÁO DI\ TRADUÇÃO 1....3.ura Lwrosa RubiiO 
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SCHôUM, üi:nhom A11..\' ur�1uw uliJ1ttHm ,/11 J11d1mm, /o/que, dr I• m_rni911r """' l11111iiru Paris: Cal· 
inann·U\'\', I •,hl',I 
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