Prévia do material em texto
1 CAMPUS ALEGRETE CURSO DE ENGENHARIA MECÂNICA LABORATÓRIO DE MÁQUINAS TÉRMICAS Medição de Características Geométricas de Comandos de Válvulas Anderson Souza da Silva Alegrete 2017 2 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 3 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ........................................................................... 4 3. PROCEDIMENTOS METODOLOGICOS ............................................................. 8 4. ANÁLISE E RESULTADOS ............................................................................... 11 5. CONCLUSÃO ..................................................................................................... 13 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................. 14 3 1. Introdução O presente estudo aborda o tema: Medições de características geométricas do comando de válvulas, os quais fazem parte de motores comerciais de quatro tempos de quatro e duas válvulas por cilindro, identificando as variáveis que caracterizam o seu funcionamento e rendimento, além de descrever as proporções adequadas para a sua melhor performance. O experimento foi executado segundo o roteiro proposto pela disciplina laboratório de máquinas térmicas, com o objetivo de realizar medições das características construtivas dos cabeçotes de um motor VW AP-600 (1.600cc). É importante ressaltar que as cotas de distribuição do motor influenciam diretamente o enchimento dos cilindros, e consequentemente a potência efetuada. São os ângulos de fechamento de admissão e de abertura de escape que dão ao motor a sua característica de flexibilidade ou de potência máxima. Sendo de grande importância conhecer, e saber a metodologia para executar este tipo de medição. 4 2- Fundamentação Teórica O comando de válvula, de acordo com Oliveira (2003) é composto por vários excêntricos denominados cames que tem por função básica, a coordenação em sincronismo através de cames, ressaltos e balancins, de quando e como o motor irá aspirar pela admissão e expelir pelo escape o ar para compor a mistura de combustão. O came, parte fundamental que compõem o eixo de comando é responsável pelo deslocamento direto por meio de contado direto ou indireto, por meio de balancins e das válvulas em cada câmara. Tal deslocamento é descrito por fatores como descrito na figura 1, que compõem o perfil do came e é descrito pelo deslocamento da válvula a partir de seu assento até a altura da diferença entre: a altura máxima do came e o diâmetro do círculo base. O movimento rotativo do eixo faz com que a os dois cames responsáveis por cada cilindro atuem nas válvulas de admissão e de escapamento abram em determinados estágios, e por sua vez, a distância de abertura entre os ressaltos é mensurada em graus e possui um tempo determinado para cada abertura, no qual a válvula de admissão deve ter uma abertura antes do pistão chegar no ponto morto superior e fechamento depois do pistão sair do ponto morto inferior. A válvula de escapamento deve ter abertura antes do ponto morto inferior e ocorrer o fechamento depois do ponto morto superior. Deste modo é visto que por um determinado tempo as duas estarão abertas, que por sua vez, tem vantagens nas questões de admissão sobre alimentação por inércia, gerada pelos gases queimados que estão saindo pelos dutos do escapamento, conforme Giacosa (2000). As válvulas são peças aplicadas na vedação da câmara, com um assentamento perfeito no cabeçote. Nos motores com 4 válvulas para cada pistão é comum que o diâmetro das válvulas de escapamento e admissão sejam iguais. Porém o material da válvula de escapamento deve ser mais resistente por ter contato com gases de alta temperatura, como nos explica Oliveira (2003) e como pode ser visto na figura 1. 5 Fig.1-A: motor com duas válvulas, Fig. 1-B motor com quatro válvulas, Fonte: Acervo do autor 2.1-Características do ciclo de 4 tempos O ciclo de quatro tempos exige duas rotações do virabrequim, fornecendo força motriz apenas no terceiro tempo, exigindo assim que o motor seja acionado por uma força exterior. O primeiro, segundo e quarto tempo absorve energia mecânica, o que obriga o emprego de um volante ligado ao virabrequim. Existem dois pontos mortos superiores diferentes: 2.1.1-Ponto morto de sobreposição Corresponde à passagem de um a outro ciclo (cruzamento), isto é, fechamento do escape e a abertura de admissão. 2.1.2-Ponto morto de ignição Conforme a figura 2. Corresponde à hora da ignição da mistura. A B 6 Figura 2- Ciclo de um motor de quatro tempos. Fonte: H. M. Chollet A sincronização das válvulas é regulada pelo eixo de comando de válvulas, que gira na metade da frequência do virabrequim. A abertura das válvulas acontece, quando estas, são pressionadas pelos ressaltos contra as molas, para descarregar o gás de escapamento e aspirar a mistura (ar- combustível). Antes do ponto morto inferior, a válvula de escapamento se abre, aproximadamente 50% dos gases de combustão saem da câmara de combustão sobe um coeficiente de pressão supercrítico, durante a fase de pré- descarga. O movimento de subida do pistão durante o tempo de escapamento, elimina quase todos os gases de combustão da câmara de combustão. Logo antes do ponto morto superior de sobreposição e antes que a válvula de escapamento tenha se fechado, a válvula de admissão se abre. Após o ponto morto superior de sobreposição, a válvula de escapamento é fechada e, com a válvula de admissão ainda aberta, o pistão aspira a mistura em seu curso para baixo. O tempo de admissão continua até logo após o ponto morto inferior. Os dois processos seguintes são a compressão e combustão. 7 Fig. 3- Demonstração da relação dos ângulos e pontos principais de um motor de 4 tempos, Fonte: Bosch, R. 2.2- Distribuição Chama-se distribuição o conjunto de elementos que comandam a admissão dos gases no motor e depois o seu escape. Estes elementos são: pinhões de distribuição, eixo de cames, tuchos das válvulas, válvulas e molas de válvulas. 2.3- Tuchos das válvulas Nos motores de válvulas laterais, eles têm sempre um batente de regulagem por parafuso ou placas. Deixa-se uma folga entre o tucho e a válvula, de modo que este repouse completamente no seu assento e que a sua dilatação, sob o efeito do calor, possa efetuar livremente. Esta folga de dilatação varia conforme as marcas dos motores. Ela é geralmente indicada pelo fabricante como maior para a válvula de escape do que para a de admissão. Nos motores de balancins, a folga é regulada sobre o próprio balancim. 8 Nos motores com eixo de cames suspenso e impulso direto, a haste da válvula termina por uma capa regulável; a folga de dilatação é medida entre o came e a capa da válvula. Existem tuchos com regulagem automática por pressão de óleo. Figura 4 - Ilustração de alguns sistemas de acionamento de válvulas, Fonte: H. M. Chollet 3- Procedimentos metodológicos 3.1- Materiais utilizados Disco graduado em graus, com precisão de 2º; Paquímetro com precisão de ±0,05 mm; Relógio comparador com precisão de ±0,01mm; Cabeçote de motor Volkswagen AP-600: 1600 cilindradas, carburação a gasolina, torque máximode 12,7 Kgfm em 3000 RPM, potência máxima 80 CV @ 5.600 RPM, Folga de ADM.: 0,20mm e ESC.: 0,40. 3.2- Processo de medição de ângulos O cabeçote Volkswagen possui o sistema do comando por contato direto, ou seja, o came está em contato constante e sem intermédio de balancim com a extremidade superior da válvula, como pode ser visto na figura 5. 9 Figura 5- Relógio comparador sobre came, Fonte: Bosch, R. As medidas dos ângulos dos comandos de válvulas foram feitas utilizando o disco graduado e o relógio comparador. O disco graduado apresenta duas marcações em relação ao virabrequim, marcando também o ponto morto superior e o ponto morto inferior. A marcação externa indica antes dos pontos mortos, e a interna, depois dos pontos mortos, conforme figura 6. Figura 6- Disco graduado, Fonte: acervo do autor. O disco graduado foi acoplado na polia do comando de válvulas, e o relógio comparador é posicionado sobre os cames, como ilustra a figura 7. 10 Figura 7- Medições do comando de válvulas, Fonte: acervo do autor. As medições foram realizadas seguindo o roteiro do experimento e a orientação do professor. Com o relógio comparador sobre o came de escape, o eixo é girado lentamente no sentido horário, obtendo assim o AAE sem folga. Deste modo, o deslocamento da válvula é diretamente proporcional à medida da altura máxima, subtraído o círculo base como pode ser visto na figura 8, que ilustra as medidas. Assim, mensura-se a altura máxima e o círculo base, para obter o levantamento*, e junto aos valores de folga, disponibilizados pelo fabricante, Figura 8- Medidas base do came, Fonte: Bosch, R. 11 para que posteriormente estes sejam usados no experimento para obter os ângulos de abertura e fechamento das válvulas. Para obter o valor com folga o eixo é rotacionado até atingir o valor da folga. 4- Análise e resultados Os resultados das medições realizadas foram tabelados e apresentam os dados para admissão e escapamento com e sem folga, com o retardo de fechamento, avanço aberto, distância entre PMI e PMS, levantamento e duração de fechamento que serão utilizados para calcular os ângulos de abertura total, cruzamento e espaçamento entre centros para o cabeçote Volkswagen, conforme tabela 1. Tabela 1- Medidas Realizadas no experimento Motor Volkswagen Avanço de Abertura (AA) Distância entre PMI e PMS Retardo de Fechamento (RF) Duração Levantamento A d m is s ã o S/ folga 26° APMS 180° 56° DPMI 262° 8,33 mm em 102° DPMS C/ folga 6°APMS 28° DPMI 214° 8,53 mm D e s c a rg a S/ folga 52°APMI 180° 32° DPMS 264° 8,148 mm em 106° APMS C/ folga 22°APMI 8°APMS 196° 8,548 mm Fonte: Acervo do autor O ângulo de abertura total é calculado através da seguinte relação: =264º O ângulo de cruzamento é obtido através de: =58º(B), -2º(L) O espaçamento entre centros pode ser obtido através da seguinte equação: 12 *( )+=104º 4.1- Influência dos momentos de abertura e de fechamento das válvulas A abertura da admissão pode ocorrer antes ou depois do ponto morto superior. Ocorre antes do ponto morto superior quando o came é de transmissão progressiva, e depois do ponto morto superior quando o came é de transmissão rápida. O momento de abertura influência muito pouco nos motores habituais. Entretanto, nos motores munidos de um compressor, o avanço da abertura da admissão permite limpar a câmara de explosão enquanto a válvula de escape ainda está aberta. O fechamento da admissão ocorre sempre depois do ponto morto inferior. Este ângulo de atraso determina as características de flexibilidade do motor. Com um ângulo de atraso pequeno, o enchimento do cilindro será excelente a baixas rotações, mas diminui depressa com o aumento das mesmas. Se o ângulo de atraso for grande, o enchimento do cilindro será incompleto se houver um pequeno número de rotações, existindo um aumento de potência proporcional ao aumento da rotação. A abertura do escape ocorre sempre antes do ponto morto inferior. O avanço de abertura do escape é destinado a baixar a pressão interna do cilindro antes da subida do pistão, diminuindo a contrapressão, mas perdendo uma parte do trabalho de expansão. O fechamento do escape acontece sempre depois do ponto morto superior para que no curto instante de parada do pistão, os gases queimados ainda possam escapar da câmara de explosão. O retardo do fechamento do escape é usado para impulsionar a admissão, devido aos gases queimados atingirem velocidades que provocam uma sucção. 13 5- Conclusão Em última análise os cabeçotes dos motores analisados possuem características construtivas e cilindradas diferentes. O cabeçote de 16 válvulas do motor Renault possibilita um melhor rendimento volumétrico, devido ao maior número de válvulas permitirem, uma maior área de passagem dos gases no cilindro. É importante ressaltar que o motor Volkswagen AP-600 apresenta um torque máximo de 12 Kgfm, de modo que este motor possui 1600 cilindradas com carburador a uma rotação de 3000 RPM, e o motor Renault SOHC possui 10 Kgfm, para 1000 cilindradas com injeção eletrônica a uma rotação de 4250 RPM. Demonstrando que o motor Renault possui maior tempo de abertura da válvula de admissão do que o motor Volkswagen, atrelado a uma rotação 41,6% maior, gera um torque elevado quando se correlaciona as cilindradas dos dois. Como o torque é definido pelo enchimento de ar no cilindro, em uma taxa proporcional. Para esta questão, o torque pode ser aumentado com uma sobre alimentação, ou seja, com o uso de sobre alimentação dinâmica ou turbo alimentada com gás de escapamento. O sistema de mistura também é um fator primordial para a eficiência, tanto em questões de potência como ecológicas. O motor Renault possui injeção eletrônica, que possui por característica a melhor mistura do combustível com o ar, por gerar micro partículas que por sua vez possuem grande área de contato com o ar. Já o motor Volkswagen apresenta carburação, que realiza uma mistura grosseria, por ser lançado combustível em forma de jato para o cilindro. Deste modo, o motor Renault possui uma segunda vantagem quando comparado ao Volkswagen, uma mistura com maior eficácia. Outro fator importante é a quantidade de válvulas, quatro por cilindro, que por haver mais e com menor diâmetro, cria uma maior área de admissão e escapamento, em comparação a duas por cilindro. A abertura da válvula de admissão, para os dois tipos de motor, se dá em adiantamento, com relação a PMS, isto é necessário para que a válvula esteja totalmente aberta necessita de um tempo para o movimento acelerado 14 de deslocamento, assim, em casos que a rotação é maior para obter determinado torque, como o motor Renault, o adiantamento do movimento deve ser maior, quando comparado ao motor Volkswagen. O fechamento é atrasado, para os dois casos, devido ao aproveitamento da inércia gerada pelos gases que estão em saída, assim, ocorre um repuxo no ar fresco que está entrando. A abertura da Válvula de admissão, para os dois casos, é adiantada, com relação ao PMI, para que seja iniciada a remoção dos gases mais rapidamente. O período no qual as duas válvulas ficam abertas favorece o aumento de admissão, porém não ocorre risco dos gases queimados adentrarem ao cilindro por haver inércia do fluido.15 Referências Bibliográficas H. M. CHOLLET. Curso Prático e Professional para Mecânicos de Automóveis. Hemus, 1981. BOSCH, Robert. Manual de Tecnologia Automotiva. 25. ed. São Paulo: Edgard Blücher, 2005. GIACOSA, D. Motores Endotérmicos. 14ed. 1ª reimpressão, Barcelona: Editora Omega, 2000. OLIVEIRA, Carlos Alexandre de; ROSA, Andrea da. Motores de combustão interna – álcool e gasolina. Santa Maria, CEP SENAI Roberto Barbosa Ribas, 2003. 116 p. il. (Mecânica de Automóveis).