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APOSTILA QUALIDADE DA AGUA E CONTROLE DA POLUIÇÃO

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Qualidade da água e 
Controle da poluição 
 
 
 Guia do profissional em treinamento Nível 2 
 
 
E
sg
o
ta
m
e
n
to
 s
a
n
it
á
ri
o
 
 
Promoção Rede Nacional de Capacitação e Extensão Tecnológica em Saneamento Ambiental – ReCESA 
Realização Núcleo Regional Nordeste – NURENE 
Instituições integrantes do NURENE Universidade Federal da Bahia (líder) | Universidade Federal do Ceará | 
Universidade Federal da Paraíba | Universidade Federal de Pernambuco 
Financiamento Financiadora de Estudos e Projetos do Ministério da Ciência e Tecnologia I Fundação Nacional de Saúde do 
Ministério da Saúde I Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental do Ministério das Cidades 
Apoio organizacional Programa de Modernização do Setor de Saneamento – PMSS 
Comitê gestor da ReCESA Comitê consultivo da ReCESA 
- Ministério das Cidades; 
- Ministério da Ciência e Tecnologia; 
- Ministério do Meio Ambiente; 
- Ministério da Educação; 
- Ministério da Integração Nacional; 
- Ministério da Saúde; 
- Banco Nacional de Desenvolvimento 
 Econômico Social (BNDES); 
- Caixa Econômica Federal (CAIXA). 
 
 
 
 
 
 
Parceiros do NURENE 
- ARCE – Agência Reguladora de Serviços Públicos Delegados do Estado do Ceará 
- Cagece – Companhia de Água e Esgoto do Ceará 
- Cagepa – Companhia de Água e Esgotos da Paraíba 
- CEFET Cariri – Centro Federal de Educação Tecnológica do Cariri/CE 
- CENTEC Cariri – Faculdade de Tecnologia CENTEC do Cariri/CE 
- Cerb – Companhia de Engenharia Rural da Bahia 
- Compesa – Companhia Pernambucana de Saneamento 
- Conder – Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia 
- EMASA – Empresa Municipal de Águas e Saneamento de Itabuna/BA 
- Embasa – Empresa Baiana de Águas e Saneamento 
- Emlur – Empresa Municipal de Limpeza Urbana de João Pessoa 
- Emlurb / Fortaleza – Empresa Municipal de Limpeza e Urbanização de Fortaleza 
- Emlurb / Recife – Empresa de Manutenção e Limpeza Urbana do Recife 
- Limpurb – Empresa de Limpeza Urbana de Salvador 
- SAAE – Serviço Autônomo de Água e Esgoto do Município de Alagoinhas/BA 
- SANEAR – Autarquia de Saneamento do Recife 
- SECTMA – Secretaria de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente do Estado de Pernambuco 
- SEDUR – Secretaria de Desenvolvimento Urbano da Bahia 
- SEINF – Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano e Infra-Estrutura de Fortaleza 
- SEMAM / Fortaleza – Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Controle Urbano 
- SEMAM / João Pessoa – Secretaria Executiva de Meio Ambiente 
- SENAC / PE – Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial de Pernambuco 
- SENAI / CE – Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial do Ceará 
- SENAI / PE – Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial de Pernambuco 
- SEPLAN – Secretaria de Planejamento de João Pessoa 
- SUDEMA – Superintendência de Administração do Meio Ambiente do Estado da Paraíba 
- UECE – Universidade Estadual do Ceará 
- UFMA – Universidade Federal do Maranhão 
- UNICAP – Universidade Católica de Pernambuco 
- UPE – Universidade de Pernambuco 
- Associação Brasileira de Captação e Manejo de Água de Chuva – ABCMAC 
- Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental – ABES 
- Associação Brasileira de Recursos Hídricos – ABRH 
- Associação Brasileira de Resíduos Sólidos e Limpeza Pública – ABLP 
- Associação das Empresas de Saneamento Básico Estaduais – AESBE 
- Associação Nacional dos Serviços Municipais de Saneamento – ASSEMAE 
- Conselho de Dirigentes dos Centros Federais de Educação Tecnológica – CONCEFET 
- Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia – CONFEA 
- Federação de Órgão para a Assistência Social e Educacional – FASE 
- Federação Nacional dos Urbanitários – FNU 
- Fórum Nacional de Comitês de Bacias Hidrográficas – FNCBHS 
- Fórum Nacional de Pró-Reitores de Extensão das Universidades Públicas Brasileiras 
– FORPROEX 
- Fórum Nacional Lixo e Cidadania – L&P 
- Frente Nacional pelo Saneamento Ambiental – FNSA 
- Instituto Brasileiro de Administração Municipal – IBAM 
- Organização Pan-Americana de Saúde – OPAS 
- Programa Nacional de Conservação de Energia – PROCEL 
- Rede Brasileira de Capacitação em Recursos Hídricos – Cap-Net Brasil 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Qualidade da água e 
Controle da poluição 
 
 
 Guia do profissional em treinamento Nível 2 
 
 
E
sg
o
ta
m
e
n
to
 s
a
n
it
á
ri
o
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Catalogação da Fonte: 
 
 
Coordenação Geral do NURENE 
Profª. Drª. Viviana Maria Zanta 
 
 
Organização do guia 
Professores Gilson Barbosa Athayde Júnior 
André Bezerra dos Santos 
 
 
Créditos 
Carmem Lúcia Moreira Gadelha 
Isabelly Cícera Dias Vasconcelos 
Marc Arpad Boncz 
Paula Loureiro Paulo 
Salena Tatiana Silva Athayde 
Magda Beretta 
 
 
Central de Produção de Material Didático 
Patrícia Campos Borja | Alessandra Gomes Lopes Sampaio Silva 
 
 
Projeto Gráfico 
Marco Severo | Rachel Barreto | Romero Ronconi 
 
 
 
 
É permitida a reprodução total ou parcial desta publicação, desde que citada a fonte. 
 
EXX Esgotamento sanitário: qualidade da água e controle da poluição: 
guia do profissional em treinamento: nível 2 / Secretaria Nacional de 
Saneamento Ambiental (org). – Salvador: ReCESA, 2008. 87 p. 
 
Nota: Realização do NURENE – Núcleo Regional Nordeste; 
coordenação de Viviana Maria Zanta, José Fernando Thomé Jucá, 
Heber Pimentel Gomes e Marco Aurélio Holanda de Castro. 
 
1. Água – importância, ciclo hidrológico, ocorrência, 
usos e impurezas. 2. Poluição e contaminação. 3. Caracterização 
dos esgotos sanitários. 4. Fontes de poluição e tipos de 
poluentes. 5. Parâmetros de qualidade da água. 6. 
Autodepuração. 7. Eutrofização. 8. Legislação correlata. 9. 
Controle de poluição – operações, processos, graus e 
tecnologias. I. Brasil. Secretaria Nacional de Saneamento 
Ambiental. II. Núcleo Regional Nordeste. 
 
CDD – XXX.X 
 
 
Apresentação da ReCESAApresentação da ReCESAApresentação da ReCESAApresentação da ReCESA 
 
 
A criação do Ministério das Cidades Ministério das Cidades Ministério das Cidades Ministério das Cidades no 
Governo do Presidente Luiz Inácio Lula da 
Silva, em 2003, permitiu que os imensos 
desafios urbanos passassem a ser 
encarados como política de Estado. Nesse 
contexto, a Secretaria Nacional de Secretaria Nacional de Secretaria Nacional de Secretaria Nacional de 
Saneamento Ambiental Saneamento Ambiental Saneamento Ambiental Saneamento Ambiental (SNSA) inaugurou 
um paradigma que inscreve o saneamento 
como política pública, com dimensão 
urbana e ambiental, promotora de 
desenvolvimento e redução das 
desigualdades sociais. Uma concepção de 
saneamento em que a técnica e a 
tecnologia são colocadas a favor da 
prestação de um serviço público e 
essencial. 
A missão da SNSA ganhou maior 
relevância e efetividade com a agenda do 
saneamento para o quadriênio 2007-
2010, haja vista a decisão do Governo 
Federal de destinar, dos recursos 
reservados ao Programa de Aceleração do 
Crescimento (PAC), 40 bilhões de reais 
para investimentos em saneamento. 
Nesse novo cenário, a SNSA conduz ações 
de capacitação como um dos 
instrumentos estratégicos para a 
modificação de paradigmas, o alcance de 
melhorias de desempenho e da qualidade 
na prestação dos serviços e a integração 
de políticas setoriais. O projeto de 
estruturaçãoda Rede de Capacitação e Rede de Capacitação e Rede de Capacitação e Rede de Capacitação e 
Extensão Tecnológica em Saneamento Extensão Tecnológica em Saneamento Extensão Tecnológica em Saneamento Extensão Tecnológica em Saneamento 
Ambiental Ambiental Ambiental Ambiental –––– ReCESA ReCESA ReCESA ReCESA constitui importante 
iniciativa nessa direção. 
A ReCESA tem o propósito de reunir um 
conjunto de instituições e entidades com 
o objetivo de coordenar o 
desenvolvimento de propostas 
pedagógicas e de material didático, bem 
como promover ações de intercâmbio e de 
extensão tecnológica que levem em 
consideração as peculiaridades regionais e 
as diferentes políticas, técnicas e 
tecnologias visando capacitar 
profissionais para a operação, 
manutenção e gestão dos sistemas e 
serviços de saneamento. Para a 
estruturação da ReCESA foram formados 
Núcleos Regionais e um Comitê Gestor, 
em nível nacional. 
Por fim, cabe destacar que este projeto 
tem sido bastante desafiador para todos 
nós: um grupo predominantemente 
formado por profissionais da área de 
engenharia que compreendeu a 
necessidade de agregar outros olhares e 
saberes, ainda que para isso tenha sido 
necessário "contornar todos os meandros 
do rio, antes de chegar ao seu curso 
principal". 
Comitê Gestor da ReCESA Comitê Gestor da ReCESA Comitê Gestor da ReCESA Comitê Gestor da ReCESA 
 
NURENENURENENURENENURENE 
 
 
O Núcleo Regional Nordeste (NURENE) tem 
por objetivo o desenvolvimento de 
atividades de capacitação de profissionais 
da área de saneamento, em quatro 
estados da região Nordeste do Brasil: 
Bahia, Ceará, Paraíba e Pernambuco. 
 
O NURENE é coordenado pela 
Universidade Federal da Bahia (UFBA), 
tendo como instituições co-executoras a 
Universidade Federal do Ceará (UFC), a 
Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e a 
Universidade Federal de Pernambuco 
(UFPE). 
 
O NURENE espera que suas atividades 
possam contribuir para a alteração do 
quadro sanitário do Nordeste e, 
consequentemente, para a melhoria da 
qualidade de vida da população dessa 
região marcada pela desigualdade social. 
Coordenadores Institucionais doCoordenadores Institucionais doCoordenadores Institucionais doCoordenadores Institucionais do NURENE NURENE NURENE NURENE 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Os Guias Os Guias Os Guias Os Guias 
 
 
A coletânea de materiais didáticos 
produzidos pelo NURENE é composta de 
19 guias que serão utilizados nas Oficinas 
de Capacitação para profissionais que 
atuam na área de saneamento. Quatro 
guias tratam de temas transversais, 
quatro abordam o manejo das águas 
pluviais, três estão relacionados aos 
sistemas de abastecimento de água, três 
são sobre esgotamento sanitário e cinco 
versam sobre o manejo dos resíduos 
sólidos e limpeza pública. 
 
O público alvo do NURENE envolve 
profissionais que atuam na área dos 
serviços de saneamento e que possuem 
um grau de escolaridade que varia do 
semi-alfabetizado ao terceiro grau. 
 
Os guias representam um esforço do 
NURENE no sentido de abordar as 
temáticas de saneamento segundo uma 
proposta pedagógica pautada no 
reconhecimento das práticas atuais e em 
uma reflexão crítica sobre essas ações 
para a produção de uma nova prática 
capaz de contribuir para a promoção de 
um saneamento de qualidade para todos. 
Equipe da Central de Produção de Material DiEquipe da Central de Produção de Material DiEquipe da Central de Produção de Material DiEquipe da Central de Produção de Material Didático dático dático dático –––– CPMD CPMD CPMD CPMD 
 
 
 
 
 
Apresentação da área temáticaApresentação da área temáticaApresentação da área temáticaApresentação da área temática 
 
EsgotamentoEsgotamentoEsgotamentoEsgotamento sanitáriosanitáriosanitáriosanitário 
 
 
 
O tema esgoto foi dividido em duas grandes 
áreas: esgotamento sanitário e tratamento de 
esgotos. Na parte de esgotamento sanitário, 
consideraram-se os aspectos relacionados 
aos fundamentos de projeto, operação e 
manutenção das diversas partes que 
compõem o sistema, de forma a proporcionar 
à audiência uma visão macro do assunto. Na 
parte do tratamento de esgotos, procurou-se, 
além de abordar os aspectos de projeto, 
operação e manutenção de ETEs, atentar 
sobre a importância do mesmo na questão da 
saúde pública, além de formas de reuso de 
esgotos e lodo em irrigação. Finalmente, 
abordou-se o assunto qualidade de água e 
controle de poluição de uma maneira simples 
e objetiva, tentando assim mostrar a enorme 
importância do assunto aos dois públicos 
alvos do NURENE. 
 
Conselho Editorial Conselho Editorial Conselho Editorial Conselho Editorial de Esgotamento Sanitáriode Esgotamento Sanitáriode Esgotamento Sanitáriode Esgotamento Sanitário
SUMÁRIOSUMÁRIOSUMÁRIOSUMÁRIO 
 
 
 
 
Água e pÁgua e pÁgua e pÁgua e poluoluoluoluiçãoiçãoiçãoição 09 
 A importância da água 09 
 Ciclo hidrológico 11 
 A água na natureza 12 
 Usos da água 14 
 Impurezas encontradas nas águas e indicadores de qualidade 15 
 Poluição e contaminação das águas 16 
Caracterização Caracterização Caracterização Caracterização quantitativa e qualitativa dos esgotos sanitáriosquantitativa e qualitativa dos esgotos sanitáriosquantitativa e qualitativa dos esgotos sanitáriosquantitativa e qualitativa dos esgotos sanitários 17 
 Caracterização quantitativa dos esgotos sanitários 18 
 Caracterização qualitativa dos esgotos sanitários 23 
Fontes de Fontes de Fontes de Fontes de popopopoluição das águasluição das águasluição das águasluição das águas 30 
 Fontes de poluição 30 
 Tipos de poluentes 32 
Parâmetros de qualidade da águaParâmetros de qualidade da águaParâmetros de qualidade da águaParâmetros de qualidade da água 38 
 Indicadores de qualidade da água 38 
 Índice de qualidade de água 46 
Poluição e autodepuração dos corpos d´águaPoluição e autodepuração dos corpos d´águaPoluição e autodepuração dos corpos d´águaPoluição e autodepuração dos corpos d´água 50 
 Autodepuração de corpos d´água 50 
 Eutrofização 54 
Legislação Legislação Legislação Legislação aaaambientalmbientalmbientalmbiental e e e e padrões de lançamentos de águas residuárias padrões de lançamentos de águas residuárias padrões de lançamentos de águas residuárias padrões de lançamentos de águas residuárias 57 
 Padrões de qualidade das águas superficiais no Brasil 59 
 Padrão para lançamento de efluentes 61 
 Padrões de balneabilidade 63 
 Padrões microbiológicos de esgotos tratados para uso agrícola 64 
Controle de Controle de Controle de Controle de ppppoluição: operações, processos, graus e tecnologias de tratamentooluição: operações, processos, graus e tecnologias de tratamentooluição: operações, processos, graus e tecnologias de tratamentooluição: operações, processos, graus e tecnologias de tratamento 69 
 Operações unitárias 69 
 Processos e níveis de tratamento 70 
 Tratamento biológico de esgotos 72 
 Referências 81 
 Seqüência de atividades da oficina 84 
 
 
Guia do profissional em treinamento – ReCESAReCESAReCESAReCESA 9 
Água e Água e Água e Água e PPPPoluiçãooluiçãooluiçãooluição 
 
Isabelly Cícera Dias VasconcelosIsabelly Cícera Dias VasconcelosIsabelly Cícera Dias VasconcelosIsabelly Cícera Dias Vasconcelos 
Gilson Barbosa Athayde JúniorGilson Barbosa Athayde JúniorGilson Barbosa Athayde JúniorGilson Barbosa Athayde Júnior 
Carmem Lúcia Moreira GadelhaCarmem Lúcia Moreira GadelhaCarmem Lúcia Moreira GadelhaCarmemLúcia Moreira Gadelha 
André Bezerra dos SantosAndré Bezerra dos SantosAndré Bezerra dos SantosAndré Bezerra dos Santos 
 
A importância da água 
 
A importância da água reside no fato dela ser essencial ao ser humano, ao desenvolvimento 
econômico e à preservação do meio ambiente. No que se refere ao ser humano, estima-se que, 
para atender a suas necessidades fisiológicas, uma pessoa precise de 2 a 3 litros de água por 
dia, embora o consumo per capita mínimo necessário para manter uma boa saúde seja da 
ordem de 100 l/dia. Essa quantidade de água supre, além das necessidades fisiológicas, outros 
usos, como higiene e preparação de alimentos. 
 
O consumo per capita de água depende muito da condição sócio-econômica da população. 
Quanto mais desenvolvida socialmente ela for, maior será sua busca por qualidade de vida, ou 
seja, de bem-estar social e isto implica necessariamente num aumento do consumo per capita 
de água. 
 
A saúde pública é igualmente dependente do acesso à água de boa qualidade, já que as 
doenças relacionadas com a água atingem no mundo mais de 1 bilhão de pessoas por ano, 
levando à morte, aproximadamente, 3 milhões. Esses números poderiam ser facilmente 
reduzidos se a população tivesse acesso a um serviço de saneamento adequado. 
 
 
No que se refere aos aspectos econômicos, a 
água serve de insumo para várias atividades, 
destacando-se a hidrelétrica, agricultura 
irrigada, abastecimento público e produção 
industrial. No Brasil, por exemplo, a fonte 
hídrica é responsável por mais de 90% da 
geração de energia elétrica. Inúmeros 
processos industriais / agrícolas necessitam 
direta ou indiretamente de água para a sua 
realização (Tabelas 1 e 2). A Figura 1 mostra 
a distribuição típica de consumo de água 
entre as principais atividades econômicas. 
Devido ao crescimento populacional e ao 
desenvolvimento econômico verificados nas 
últimas décadas, a água tem se tornado um 
recurso cada vez mais precioso, escasso e 
disputado em praticamente todo o mundo. 
Figura 1. Usos típicos dos recursos hídricos no 
mundo. 
70%
10%
20%
Agricultura Indústria Uso doméstico
Fo
n
te
: 
SH
IK
LO
M
A
N
O
V
, 
1
9
9
9
. 
 
Guia do profissional em treinamento – ReCESAReCESAReCESAReCESA 10 
Além disso, o meio ambiente também é extremamente dependente e vulnerável a alterações 
das condições hidrológicas. A água possui um papel importante na manutenção dos 
ecossistemas como, por exemplo, nos costeiros e nos pântanos, que são particularmente 
vulneráveis, pois alterações hidrológicas podem levar a catástrofes ambientais irrecuperáveis. 
 
 
Tabela 1. Necessidades hídricas no setor produtivo industrial. 
Indústria Unidade de Produção 
Necessidade hídrica a 
(m3/unidade de produção) 
Pães e massas Tonelada 1,1 – 4,2 
Suco frutas cítricas Tonelada 2 – 4 
Abatedouro Tonelada (animal vivo) 3 – 9 
Carne em conserva Tonelada 10 – 20 
Manteiga Tonelada 15 – 30 
Sabão Tonelada 1,0 – 2,1 
Beneficiamento de couro Tonelada de peles 50 – 125 
Gasolina 1000 litros 7 – 10 
Vidro Tonelada 68 
Laminação de aço Tonelada 85 
Têxtil Tonelada 1000 
Papel Tonelada 250 
Usina de açúcar Tonelada 75 
Fonte: Adaptado de CIRRA (2004). 
 
 
Tabela 2. Necessidades hídricas no setor produtivo agrícola. 
Cultura agrícola Unidade de produção 
Necessidade hídrica b 
(m3/unidade de produção) 
Algodão herbáceo Tonelada 2930 – 5280 
Alho Tonelada 1840 – 3310 
Arroz Tonelada 2000 – 3600 
Batata inglesa Tonelada 410 – 740 
Feijão Tonelada 5830 – 10500 
Melancia Tonelada 350 – 630 
Melão Tonelada 440 – 800 
Milho Tonelada 2750 – 4950 
Sorgo Tonelada 2670 – 4800 
Tomate Tonelada 190 - 345 
Fonte: Adaptado de CIRRA (2004). 
a Pode variar conforme o processo produtivo. 
b Estimados para uma evapotranspiração média diária de 5 mm e eficiência de irrigação variando de 50 a 90%. 
 
 
Guia do profissional em treinamento – ReCESAReCESAReCESAReCESA 11 
Ciclo hidrológico 
 
 
A água circula continuamente na hidrosfera por meio de vários caminhos, constituindo o 
chamado ciclo hidrológico. A água evapora dos oceanos e da superfície terrestre, inclusive 
proveniente de plantas e animais, e à medida que ascende na atmosfera, resfria-se, condensa-
se e precipita na forma de chuva, neve, granizo ou orvalho. Esse processo depende da 
temperatura e da umidade relativa do ar. 
 
A chuva precipitada sobre a superfície terrestre pode ter três destinos: a infiltração, a 
evapotranspiração e o escoamento superficial. A parcela de água infiltrada abastece os 
mananciais subterrâneos e pode aflorar na superfície, abastecendo os córregos, ou retornar à 
atmosfera através da evapotranspiração ou por meio de captação pelo homem. O escoamento 
superficial alimenta os córregos e rios, sendo, posteriormente, evaporado ou desaguado no 
mar, de onde evapora novamente para dar continuidade ao ciclo (Figura 2). 
 
 
Figura 2. Ciclo hidrológico terrestre. 
 
Atualmente, o volume de água retirado da natureza pelo homem é da ordem de 3.500km³ por 
ano, constituindo quase o dobro da média de vazão de todos os cursos de água no planeta. 
Isso só é possível em decorrência do ciclo hidrológico, o qual renova por cerca de vinte vezes 
ao ano a água doce dos corpos hídricos. Em muitas regiões, o ciclo hidrológico tem sofrido 
grandes alterações, especialmente nas últimas décadas. Essas alterações resultam das 
diferentes formas de interferência humana sobre o ambiente como, por exemplo, a construção 
de grandes cidades, a dragagem de extensas áreas alagáveis, a devastação de florestas, a 
construção de grandes lagos artificiais, dentre outras. Essas interferências podem vir a alterar a 
disponibilidade hídrica para o ser humano tanto em termos quantitativos quanto qualitativos. 
Precipitação 
Escoamento 
superficial 
Escoamento 
subterrâneo 
Energia solar 
infiltração 
Evaporação 
Transpiração 
Rios/Lagos 
Oceano 
 
Guia do profissional em treinamento – ReCESAReCESAReCESAReCESA 12 
A água na natureza 
 
 
A água é a substância mais abundante na superfície da Terra, o componente principal de todos 
os seres vivos e uma grande força que constantemente molda a superfície terrestre. 
Evidenciada a importância da água para a vida humana, torna-se necessário verificar a sua 
disponibilidade e distribuição espacial. 
 
 
Estimar a quantidade total de água na Terra nas várias etapas do ciclo hidrológico tem sido um 
item de exploração científica desde a segunda metade do século XIX. Dados quantitativos são 
escassos, particularmente sobre os oceanos, de modo que as quantidades de água nas várias 
fases do ciclo hidrológico ainda não são conhecidas precisamente. A Tabela 3 lista as 
quantidades estimadas de água em várias formas na Terra. 
 
 
Conforme observado, 96,5% de toda água está nos oceanos. Do restante, 1,7% está no gelo 
polar, 1,7% nas águas subterrâneas e apenas 0,1% nas águas do sistema superficial e 
atmosférico. Apenas 0,006% da água doce está disponível em rios. A água biológica, fixada nos 
tecidos de plantas e animais, compreende a 0,003% de toda a água doce, equivalente à metade 
do volume contido nos rios. A Tabela 4 apresenta os volumes renováveis existentes em 
mananciais hídricos, como rios e lagos no mundo. 
 
 
Tabela 3. Quantidades estimadas de água na Terra. 
ItemItemItemItem 
ÁreaÁreaÁreaÁrea 
(10(10(10(106666 km²) km²) km²) km²) 
VolumeVolumeVolumeVolume 
(km³)(km³)(km³)(km³) 
Porcentagem Porcentagem Porcentagem Porcentagem 
da água totalda água totalda águatotalda água total 
Porcentagem Porcentagem Porcentagem Porcentagem 
de água de água de água de água frescafrescafrescafresca 
Oceanos 361,3 1.338.000.000 96,5 
Água subterrânea 
Fresca 134,8 10.530.000 0,76 30,1 
Salina 134,8 12.870.000 0,93 
Umidade do solo 82,0 16.500 0,0012 0,05 
Gelo polar 16,0 24.023.500 1,7 68,6 
Outro gelo e neve 0,3 340.600 0,025 1,0 
Lagos 
Doce 1,2 91.000 0,007 0,26 
Salgado 0,8 85.400 0,006 
Pântanos 2,7 11.470 0,0008 0,03 
Rios 148,8 2.120 0,0002 0,006 
Água biológica 510,0 1.120 0,0001 0,003 
Água atmosférica 510,0 12.900 0,001 0,04 
Água total 510,0 1.385.984.610 100 
Água fresca 148,8 35.029.210 2,5 100 
Fonte: Chow; Maidment; Mays (1988). 
 
 
 
Guia do profissional em treinamento – ReCESAReCESAReCESAReCESA 13 
Tabela 4. Estimativa da disponibilidade de água no mundo. 
RegiãoRegiãoRegiãoRegião 
PopulaçãoPopulaçãoPopulaçãoPopulação 
(mil habitantes)(mil habitantes)(mil habitantes)(mil habitantes) 
OfertaOfertaOfertaOferta 
(km³/ano)(km³/ano)(km³/ano)(km³/ano) 
OfertaOfertaOfertaOferta 
(m³/hab.ano)(m³/hab.ano)(m³/hab.ano)(m³/hab.ano) 
África 778.485 3.996 5.133 
América Central 130.710 1.057 8.084 
América do Norte 304.078 5.309 17.458 
América do Sul 331.889 10.081 30.374 
 Brasil 165.158 5.745 34.784 
Ásia 3.588.876 13.207 3.680 
Europa 729.405 6.235 8.547 
Oceania 29.460 1.614 54.795 
Mundo 5.929.840 41.498 6.998 
Fonte: Moreira (2001). 
 
 
Com base na Tabela 4, pode-se concluir que o Brasil possui, relativamente, água em 
abundância, o que vem a constituir uma vantagem estratégica em relação a outros países. 
Embora o Brasil ainda tenha uma situação privilegiada em relação à quantidade e à qualidade 
da água, o seu uso não vem ocorrendo de maneira adequada e responsável. Superexploração, 
má distribuição, poluição, desmatamento e desperdício são apenas alguns dos fatores que 
indicam o descaso com este precioso recurso. É importante ressaltar que a escassez de água 
põe em risco a vida no planeta e pode afetar diversas atividades econômicas, entre elas a 
geração de energia elétrica. 
 
 
Com relação às águas doces superficiais, o Brasil detém 13,8% do total existente no planeta. 
Deste percentual, 68,5% está localizada na região Norte, sendo os restantes 31,5% 
desigualmente distribuídos no resto do país. Esta última parcela é responsável pelo 
abastecimento de 92,3% da população brasileira. A Tabela 5 apresenta os dados de população, 
distribuição dos recursos hídricos e disponibilidade hídrica em cada região do Brasil. A Tabela 6 
apresenta a população e a disponibilidade hídrica para os estados da região Nordeste, a qual é 
a menos privilegiada. 
 
 
Na Tabela 5, observa-se que as regiões Norte e Centro-Oeste detêm a maior parte dos recursos 
hídricos do país. Entretanto, nessas regiões encontram-se as menores parcelas da população 
brasileira, ao passo que as regiões Sudeste e Nordeste, onde se concentra a maior parte da 
população, apresentam as menores parcelas de recursos hídricos do país e disponibilidade 
hídrica abaixo da necessária para abastecimento, que é de 1.700m³/hab.ano (MAIA NETO, 
1997). Como se pode observar na Tabela 6, os Estados de Alagoas, Paraíba, Pernambuco, Rio 
Grande do Norte e Sergipe apresentam oferta hídrica abaixo da necessária. 
 
 
Assim, mesmo que relativamente abundante, a água tem distribuição bastante irregular tanto 
no planeta quando no Brasil, de modo que seu uso racional é imprescindível à preservação e 
conservação deste recurso natural para as gerações futuras. 
 
Guia do profissional em treinamento – ReCESAReCESAReCESAReCESA 14 
Tabela 5. Distribuição da população, recursos hídricos e disponibilidade hídrica no Brasil. 
RegiãoRegiãoRegiãoRegião PopulaçãoPopulaçãoPopulaçãoPopulação (%)(%)(%)(%) 
Recursos HídricosRecursos HídricosRecursos HídricosRecursos Hídricos 
(%)(%)(%)(%) 
Disponibilidade hídricaDisponibilidade hídricaDisponibilidade hídricaDisponibilidade hídrica 
(m³/hab.ano)(m³/hab.ano)(m³/hab.ano)(m³/hab.ano) 
Norte 12.919.949 7,6 68,5 494.445 
Nordeste 47.676.381 28,1 3,3 3.853 
Sudeste 72.262.411 42,6 6,0 4.545 
Sul 25.071.211 14,8 6,5 14.824 
Centro-Oeste 11.611.491 6,8 15,7 64.273 
Fonte: Adaptado de Maia Neto (1997). 
 
 
Tabela 6. Distribuição da população e disponibilidade hídrica na região Nordeste. 
EstaEstaEstaEstadodododo PopulaçãoPopulaçãoPopulaçãoPopulação 
Disponibilidade hídricaDisponibilidade hídricaDisponibilidade hídricaDisponibilidade hídrica 
(m³/hab.ano)(m³/hab.ano)(m³/hab.ano)(m³/hab.ano) 
Alagoas 2.816.172 1.546 
Bahia 13.066.910 2.720 
Ceará 7.418.476 2.058 
Maranhão 5.642.960 14.794 
Paraíba 3.439.344 1.320 
Pernambuco 7.911.937 1.171 
Piauí 2.841.202 8.604 
Rio Grande do Norte 2.771.538 1.526 
Sergipe 1.781.714 1.431 
Fonte: Adaptado de Maia Neto (1997). 
 
 
 
Usos da água 
 
 
Os principais usos da água pelo ser humano são: irrigação, abastecimento doméstico, 
comercial, industrial e público, geração de energia elétrica, navegação, aqüicultura/pesca, 
recreação e preservação da flora e fauna. Existe ainda a prática indesejável de utilização de 
corpos aquáticos como receptores de esgotos não tratados, sejam eles de origem doméstica ou 
industrial. Alguns dos usos da água citados acima são detalhados a seguir: 
 
a) Irrigação: água utilizada na agricultura. Esse uso representa a maior parcela de água 
captada pelo homem. 
 
b) Abastecimento doméstico, comercial, industrial e público 
� Abastecimento doméstico: água consumida nas habitações, compreendendo as 
parcelas destinadas a fins higiênicos, bebida, preparo de alimentos e lavagem em 
geral. O consumo de água é função de diversos fatores, a exemplo do clima, do 
padrão cultural, da renda, dentre outros. 
� Abastecimento comercial ou industrial: a água de uso comercial destina-se a bares, 
restaurantes, hotéis, postos de gasolina, garagens, entre outros, enquanto que a 
água de uso industrial é utilizada como matéria-prima, para lavagem, refrigeração, 
 
Guia do profissional em treinamento – ReCESAReCESAReCESAReCESA 15 
alimentação de caldeiras e processos industriais em geral. Comparada ao uso 
doméstico, esta classe representa um consumo significativamente mais elevado. 
� Abastecimento público: parcela de água destinada à rega de jardins, lavagem de 
ruas e passeios, edifícios e sanitários de uso público, alimentação de fontes, 
combate a incêndio etc. 
 
c) Recreação e lazer: Trata-se de atividade que apresenta significado social e econômico 
cada vez maior, devido ao processo de urbanização e à 
incorporação de novos modos de vida. Em relação à recreação, 
predominam dois tipos de atividades: 
� De contato primário: quando o homem entra em contato direto com o meio líquido, 
por exemplo, na natação, mergulho, esqui aquático etc.; 
� De contato secundário: quando não há contato direto com o meio líquido, por 
exemplo, em esportes náuticos com o uso de barco a remo, vela ou motor, pesca 
esportiva etc. 
 
d) Geração de energia: o aproveitamento da energia hidráulica com conversão em energia 
elétrica tornou-se um dos mais intensos usos que se faz desse 
recurso, não só no Brasil como no mundo. 
 
 
Ressalta-se que alguns dos usos da água são consuntivos enquanto outros são não 
consuntivos. A Política Nacional de Recursos Hídricos, instituída pela Lei Federal nº. 
9.433/1997, preconiza que a gestão dos recursos hídricos deve sempre proporcionar o uso 
múltiplo das águas. Acontece que alguns usos são conflitantes com outros e cabe ao Poder 
Públicoa adoção de medidas para mitigação desses conflitos. 
 
 
 
Impurezas encontradas nas águas e indicadores de qualidade 
 
 
As águas podem ser classificadas de acordo com suas características físicas, químicas e 
biológicas, descritas a seguir (VON SPERLING, 2005): 
 
Guia do profissional em treinamento – ReCESAReCESAReCESAReCESA 16 
 
a) Características físicas: as impurezas físicas estão associadas, em sua maior parte, aos sólidos 
presentes na água. Esses sólidos podem se apresentar na forma suspensa, coloidal ou dissolvida, 
dependendo do seu tamanho. De maneira geral, são considerados como sólidos dissolvidos aqueles com 
diâmetro inferior a 10-3\m, como sólidos coloidais aqueles com diâmetro entre 10-3 e 1\m, e como 
sólidos em suspensão aqueles com diâmetro superior a 1\m. Alguns parâmetros físicos indicadores da 
qualidade das águas são: cor, turbidez, sólidos, temperatura, sabor e odor. 
 
b) Características químicas: as impurezas químicas podem ser classificadas em matéria orgânica ou 
inorgânica. A fração orgânica, quando submetida a uma temperatura de 500 ºC, é volatilizada, 
permanecendo apenas a fração inorgânica ou mineral. Alguns parâmetros químicos indicadores da 
qualidade das águas são: pH, alcalinidade, dureza, cloretos, ferro, manganês, nitrogênio, fósforo, 
fluoretos, oxigênio dissolvido, matéria orgânica, demanda bioquímica de oxigênio (DBO), demanda 
química de oxigênio (DQO), componentes inorgânicos e orgânicos. 
 
c) Características biológicas: com relação à qualidade da água, os microrganismos (bactérias, archaea, 
algas, fungos, protozoários, vírus e helmintos) possuem grande relevância em determinados ambientes, 
devido à sua atuação nos processos de depuração dos despejos ou à sua associação com doenças 
ligadas à água. Alguns parâmetros biológicos indicadores da qualidade das águas são: bactérias do 
grupo coliforme e algas. 
 
 
Os parâmetros que caracterizam a qualidade das águas serão abordados com maiores detalhes 
no item “Parâmetros de qualidade da água”. 
 
 
 
Poluição e contaminação das águas 
 
 
De acordo com a etimologia da palavra, poluição significa sujeira (do latim, polluere significa 
sujar). No contexto atual, a palavra poluição ganhou importância devido à crise ambiental vivida 
pelo planeta e uma definição mais completa e aceita atualmente para poluição é “a degradação 
da qualidade ambiental resultante de atividades que direta ou indiretamente prejudiquem a 
saúde, a segurança e o bem-estar da população; criem condições adversas sociais e 
econômicas; afetem desfavoravelmente a biota; afetem condições estéticas ou sanitárias do 
meio ambiente e lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões estabelecidos” 
(BRASIL, 1981). Assim, poluição das águas pode ser definida como qualquer adição de matéria 
ou energia que altere as características naturais das águas de modo a limitar os usos previstos 
para a mesma. 
 
Faz-se ainda necessário a diferenciação entre poluição e contaminação. Quando a poluição de 
um determinado recurso hídrico resulta em prejuízos à saúde humana, diz-se que houve 
contaminação, sendo contaminação, portanto, um caso particular de poluição. Como exemplo 
de poluição hídrica, pode-se citar aquela decorrente do despejo de esgotos nos corpos 
aquáticos.
 
Guia do profissional em treinamento – ReCESAReCESAReCESAReCESA 17 
Caracterização Caracterização Caracterização Caracterização quantitativa e qualitativa de esgotos quantitativa e qualitativa de esgotos quantitativa e qualitativa de esgotos quantitativa e qualitativa de esgotos 
sanitáriossanitáriossanitáriossanitários 
 
Marc Marc Marc Marc ArArArArpapapapad Bonczd Bonczd Bonczd Boncz 
Gilson Barbosa Athayde JúniorGilson Barbosa Athayde JúniorGilson Barbosa Athayde JúniorGilson Barbosa Athayde Júnior 
André Bezerra dos SantosAndré Bezerra dos SantosAndré Bezerra dos SantosAndré Bezerra dos Santos 
 
Todas as atividades humanas geram resíduos. Entre os resíduos líquidos, têm-se os esgotos 
domésticos ou sanitários e os industriais. Os esgotos sanitários são de origem doméstica 
(residências), comercial (restaurantes, bares, lojas, hotéis etc.) ou institucional (escolas, 
hospitais, prisões, escritórios) e compõem-se essencialmente da água de banho, urina, fezes, 
restos de comida e detergentes, sendo esta composição pouco variável. Já os esgotos 
industriais têm composição muito diversa, dependendo principalmente do processo gerador do 
esgoto. 
 
Independentemente da origem, na maioria das vezes, o esgoto tem o ambiente físico-natural 
como destino e é preciso implementar medidas para amenizar o impacto ambiental decorrente, 
sendo para isso importante saber a quantidade de esgotos (caracterização quantitativa) a ser 
tratada e qual sua composição (caracterização qualitativa). 
 
A quantidade dos esgotos sanitários depende de alguns fatores, como a quantidade de água 
fornecida ou consumida pela população, a quantidade de águas de chuva que se junta ao 
esgoto, a quantidade de água infiltrada na rede de esgotos etc. As quantidades de água de 
chuva e de infiltração dependem muito da pluviometria local, do grau de impermeabilização do 
solo e do tipo de material da tubulação da rede de esgoto, dentre outros. No Brasil, onde existe 
predominantemente uma estação chuvosa e outra seca, a quantidade de água de chuva não só 
varia grandemente em função da época do ano como também da localização. 
 
Por outro lado, o consumo per capita de água é mais constante e previsível, ficando no Brasil 
em torno de 130 litros por indivíduo por dia (3,9m3 por indivíduo por mês), muito embora 
existam grandes diferenças entre os estados. Além disso, nem toda água consumida se 
transforma em esgoto, pois parte é usada, por exemplo, para irrigação de jardins, lavagem de 
carros e em piscinas. A quantidade de esgoto gerado a partir de 1m3 de água consumida é 
calculada usando o Coeficiente de Retorno. Tal coeficiente situa-se geralmente na faixa de 70-
80%, ou seja, para cada 1000 litros de água fornecida são lançados, aproximadamente, 700-
800 litros de esgoto na rede de coleta ou em outros sistemas de tratamento/disposição final. 
Assim, para o consumo individual de água de 3,9 m3/mês gera-se 2,7 a 3,1 m3/mês de esgoto, 
o que ainda pode ser subdividido em águas negras – referentes à descarga de bacia sanitária 
com fezes – e águas cinzas, representando o restante. 
 
Atualmente, somente cerca de 40% dos domicílios no Brasil estão conectados à rede de esgoto. 
No âmbito urbano, esta taxa é de cerca de 50%, sendo que somente 31% dos esgotos 
domésticos gerados na área urbana são tratados. Outros 21% dos domicílios têm o esgoto 
tratado por meio de uma fossa séptica e um sumidouro, para infiltração do esgoto estabilizado. 
 
Guia do profissional em treinamento – ReCESAReCESAReCESAReCESA 18 
Os 48% restantes dos esgotos não recebem tratamento. O desafio é dispor no ambiente os 
esgotos gerados submetidos a um tratamento adequado, de modo que os mesmos não venham 
a prejudicar a saúde humana e a manutenção dos ecossistemas inerentes aos locais onde sejam 
dispostos. Qualquer projeto para uma estação de tratamento de esgoto (ETE) deve começar 
com uma caracterização quantitativa e qualitativa do esgoto a ser tratado, assunto detalhado 
no presente item. 
 
 
Caracterização quantitativa dos esgotos sanitários 
 
Vazão dos esgotos 
 
A principal característica do esgoto é a sua vazão, que é definida como a quantidade de esgoto 
produzido ou transportado em um período de tempo específico. Assim, a vazão (geralmente 
denominada “Q”) é definida em unidades de volume por unidade do tempo.Na prática, Q é 
definida em litros (L) ou metros cúbicos (m3) para denominar o volume em segundos, minutos, 
horas ou dias, a depender da conveniência e precisão da medição para o tempo. A vazão dos 
esgotos é o principal parâmetro de dimensionamento de todas as partes componentes do 
sistema de esgotamento sanitário. 
 
Quando não é possível efetuar medições de vazão (por exemplo, na fase de planejamento e 
dimensionamento de uma rede de esgoto), faz-se necessário uma estimativa, usando, por 
exemplo, dados históricos do consumo da água e conhecendo as particularidades do clima e as 
características sócio-econômicas e culturais da população. Alguns valores são apresentados na 
Tabela 7. 
 
 
 Tabela 7. Produção de esgotos por atividade e usuário. 
Atividade / UsuárioAtividade / UsuárioAtividade / UsuárioAtividade / Usuário UnidadeUnidadeUnidadeUnidade Esgoto (Esgoto (Esgoto (Esgoto (LLLL/d/d/d/d)))) 
Ocupantes permanentes 
 Residência padrão alto 
 Residência padrão média 
 Residência padrão baixo 
 
pessoa 
pessoa 
pessoa 
 
 160 
 130 
 100 
Ocupantes temporários 
 Fábrica 
 Escritório 
 Escolas 
 Bares 
 Sanitários públicos 
 
pessoa 
pessoa 
pessoa 
pessoa 
bacia sanitária 
 
 70 
 50 
 50 
 6 
 480 
Fonte: ABNT (1993). 
 
 
A vazão de esgoto varia ao longo do dia, no decorrer da semana e do ano. Para descrever essas 
variações existem alguns parâmetros, cujos valores são determinados, entre outros, por: 
 
 
Guia do profissional em treinamento – ReCESAReCESAReCESAReCESA 19 
� Tipo de esgoto: no caso de esgoto sanitário, flutuações ocorrem por causa dos hábitos da 
população (horas de tomar banho, lavar roupas, dormir, atividades diferentes durante a 
semana e fim de semana). No caso de esgoto industrial, o tipo de processo (processo 
contínuo versus processo em batelada) e a época do ano afetam diretamente a variabilidade 
da vazão. 
� Sistema de coleta: existem sistemas unitários, drenando esgoto junto às águas de chuvas, e 
sistemas separadores, onde a coleta de esgoto a ser tratado é feita em separado da coleta 
das águas de chuva. Em sistemas unitários, grandes variações de vazão podem ocorrer por 
causa de chuvas e secas. Com isso, o dimensionamento é sempre problemático, pois se 
dimensionado para acomodar a vazão máxima (dia de chuva) o sistema fica mais oneroso e 
superdimensionado para as épocas de seca. Se o sistema for dimensionado para a vazão 
média, a capacidade é muito insuficiente em dias de chuva. Outro problema decorrente de 
sistemas unitários é que, em dias chuvosos, a água da chuva dilui muito o esgoto, o que 
reduz a eficiência do processo na ETE. Por esses motivos, sistemas separadores são 
preferidos e adotados na maior parte das localidades brasileiras. A extensão do sistema de 
coleta também afeta a variação da vazão, pois um sistema maior tem mais capacidade de 
amortecer as variações de vazão. 
� Condições climáticas: além da possibilidade da água de chuva entrar no sistema e afetar a 
vazão diretamente, condições climáticas também interferem no uso da água pela 
população. Por exemplo, em regiões mais quentes o uso de água para tomar banho 
aumenta, além de se beber mais água. 
� Tipo e material das canalizações: canalizações impermeáveis (PVC, ferro fundido) permitem a 
entrada de água de infiltração por suas juntas, enquanto canalizações permeáveis 
(tubulação de concreto ou alvenaria, por exemplo) permitem infiltração do esgoto no solo 
ou infiltração da água na rede coletora, o que afeta a vazão final. 
� Concepção e quantidade de estações elevatórias: o esgoto é transportado dentro da 
canalização por gravidade, o que requer certo declive das tubulações. Se a rede fica 
profunda demais é preciso aumentar sua cota, usando estações elevatórias. Elas tendem a 
usar chaves de nível para ligar e desligar uma bomba, o que causa, depois da elevatória, 
períodos com vazão alta e períodos sem vazão. Especialmente em áreas mais planas, onde 
o declive natural é insuficiente para garantir o fluxo do esgoto, a rede conta com mais 
elevatórias. 
 
 
A variação da vazão é caracterizada por três parâmetros: a variação máxima diária, a variação 
máxima horária e a variação mínima horária. A variação máxima diária (k1) é o resultado da 
divisão da vazão máxima diária registrada no período de um ano pela vazão média diária anual. 
Se não existem dados específicos para este valor, a Norma Brasileira NBR-9649 (ABNT, 1986) 
indica um valor de 1,2. 
 
Guia do profissional em treinamento – ReCESAReCESAReCESAReCESA 20 
Vazão média horária
0
10
20
30
40
50
60
0:45 4:45 8:45 12:45 16:45 20:45
Horário
Va
z
ão
 
(L
/s
)
A variação máxima horária (k2) é o resultado 
da divisão da vazão máxima horária pela 
vazão média horária registrada no mesmo 
dia. A variação mínima horária (k3) é o resul-
tado da divisão da vazão mínima horária 
pela vazão média horária registrada no 
mesmo dia. Se não existem dados 
específicos para k2 e k3 a Norma Brasileira 
NBR-9649 (ABNT, 1986) indica valores de 
1,5 e 0,5 respectivamente. As variações de 
vazão podem ser mostradas num 
hidrograma, o qual consiste na representa- 
Figura 3. Hidrograma afluente à ETE Mangabeira 
(João Pessoa). 
ção gráfica da vazão durante um período específico, como exemplificado na Figura 3, na qual a 
variação máxima horária, por volta das 10 horas de manhã, é de (50,98/36,63) = 1,43 e a 
variação mínima horária, por volta das 3 horas da manhã, é de (21,35/36,63) = 0,60. 
 
 
A vazão geralmente é medida com uma calha Parshall, mas existem também outros tipos de 
equipamentos para este fim, a serem montados dentro ou fora da tubulação, os quais são 
mostrados a seguir. 
 
 
Vertedor triangulaVertedor triangulaVertedor triangulaVertedor triangularrrr 
 
 
 
Um dos mais simples equipamentos para 
medição da vazão é o vertedor triangular 
(Figura 4). Nesse equipamento, a corrente 
de água passa por um desnível com um 
vértice triangular instalado, cujo ângulo 
central é de 90o. A vazão pode ser calculada 
através da formula: 
5,242,1 hQ ⋅= 
onde Q é a vazão em m3/s e h é a carga 
hidráulica sobre o vertedor (distância do 
vértice ao nível da água em metros, medido 
a montante do vertedor). 
 
Figura 4. Vertedor triangular 
 
 
 
 
Fo
n
te
: 
V
er
te
d
o
re
s,
 2
0
0
8
. 
Fo
n
te
: 
BA
R
A
C
U
H
Y
, 
2
0
0
6
. 
 
Guia do profissional em treinamento – ReCESAReCESAReCESAReCESA 21 
Calha ParshallCalha ParshallCalha ParshallCalha Parshall 
 
 
A calha Parshall (Figura 5) é uma calha com 
variações específicas de largura e 
profundidade. Em função da velocidade do 
líquido que passa por ela, ocorrem variações 
no nível do mesmo. Esse nível pode ser 
medido com uma régua, mas também de 
modo automatizado. Assim como no 
vertedor triangular, existem dois métodos 
para essa medição: 
� Medição ultrasônica: um medidor, fixado 
acima do liquido, emite pulsos de ultra-
som contra a superfície do líquido em 
Figura 5. Calha Parshall 
escoamento e detecta o sinal rebatido. O tempo entre a emissão do pulso e o recebimento 
do sinal rebatido fornece o nível do líquido no canal, permitindo o cálculo da vazão. Como o 
sensor não está em contato com o esgoto, não é afetado por produtos químicos, graxas, 
sólidos em suspensão ou formação de biofilme. 
� Medição por borbulhamento: o medidor utiliza um pequeno compressor interno para 
introduzir, através de um tubo flexível(borbulhador), um fluxo controlado de ar no canal de 
escoamento. Através da medição da pressão de ar necessária para introduzir as bolhas no 
fluxo, o medidor calcula o nível do líquido no canal. Esse tipo de medição é a melhor opção 
para medir a vazão em escoamentos afetados por vento, espuma e turbulências, situação na 
qual a medição do nível por ultra-som pode ser prejudicada. 
 
Um desenho esquemático para uma calha Parshall é reproduzido na Figura 6. As dimensões 
para calhas de diversas capacidades de vazão são reproduzidas na Tabela 8. 
 
 
Figura 6. Desenho esquemático de calha Parshall. 
Fo
n
te
: 
A
G
ET
EC
, 
2
0
0
8
. 
 
Guia do profissional em treinamento – ReCESAReCESAReCESAReCESA 22 
 
Tabela 8. Dimensões padrão para calhas Parshall de diversas capacidades. 
WWWW AAAA BBBB CCCC DDDD EEEE FFFF GGGG NNNN KKKK Vazão (Vazão (Vazão (Vazão (LLLL////s)s)s)s) 
cmcmcmcm ccccmmmm cmcmcmcm cmcmcmcm cmcmcmcm cmcmcmcm cmcmcmcm cmcmcmcm cmcmcmcm cmcmcmcm MínimaMínimaMínimaMínima MáximaMáximaMáximaMáxima 
7,6 46,6 45,7 17,8 25,9 38,1 15,2 30,5 5,7 2,5 0,85 53,8 
15,2 62,3 61,0 39,4 40,3 61,0 30,5 61,0 11,4 7,6 1,42 110,4 
22,9 88,1 86,4 38,1 57,5 76,2 30,5 45,7 11,4 7,6 2,55 251,9 
30,5 137,1 134,4 61,0 84,5 91,5 61,0 91,5 22,9 7,6 3,11 455,6 
45,7 144,8 142,0 76,2 102,6 91,5 61,0 91,5 22,9 7,6 4,25 696,2 
61,0 152,3 149,3 91,5 120,7 91,5 61,0 91,5 22,9 7,6 11,89 936,7 
91,5 167,5 164,2 122,0 157,2 91,5 61,0 91,5 22,9 7,6 17,26 1426,3 
122,0 182,8 179,2 152,5 193,8 91,5 61,0 91,5 22,9 7,6 36,79 1921,5 
152,5 198,0 194,1 183,0 230,3 91,5 61,0 91,5 22,9 7,6 45,30 2422,0 
183,0 213,3 209,1 213,5 266,7 91,5 61,0 91,5 22,9 7,6 73,60 2929,0 
213,5 228,6 224,0 244,0 303,0 91,5 61,0 91,5 22,9 7,6 84,95 3440,0 
244,0 244,0 239,1 274,5 340,0 91,5 61,0 91,5 22,9 7,6 99,10 3950,0 
Fonte: AZEVEDO NETTO e OUTROS (1998). 
 
 
Medição de vazão Medição de vazão Medição de vazão Medição de vazão àààà base do efeito Doppler base do efeito Doppler base do efeito Doppler base do efeito Doppler 
 
A vazão de um líquido dentro de uma tubulação fechada pode ser medida com sensores fora 
desta tubulação usando o efeito Doppler. Um som de alta freqüência é emitido e um microfone 
detecta o eco (reflexo) do mesmo. A pequena mudança da freqüência do reflexo recebido indica 
a velocidade de qualquer objeto dentro da tubulação, que refletiu o som. Essa velocidade deve 
ser igual à velocidade do líquido. Os “objetos” podem ser bem pequenos; dimensões acima de 
alguns micrômetros já são suficiente, o que permite esse tipo de medição de vazão em 
qualquer solução que contenha material suspenso ou bolhas de ar. Como o sistema só funciona 
se existirem objetos dentro do líquido, a vazão de água limpa não pode ser medida com esta 
técnica. 
 
 
Vazão de infiltração 
 
Dependendo da execução da tubulação da rede de esgoto, água infiltra na rede, especialmente 
em partes porosas da tubulação, poços de inspeção e conexões. Esta água de infiltração pode 
ter uma vazão significante, especialmente se a maior parte da rede de coleta for construída 
usando materiais permeáveis e/ou se o nível do lençol freático estiver acima da rede coletora. A 
vazão de infiltração geralmente varia entre 0,05 l/s e 1,0 l/s por quilômetro de rede de esgoto 
construída, dependendo das condições. 
 
 
Guia do profissional em treinamento – ReCESAReCESAReCESAReCESA 23 
Caracterização qualitativa dos esgotos sanitários 
 
 
Os esgotos sanitários contêm, aproximadamente, 99,9% de água e apenas 0,1% de 
componentes sólidos, os quais podem ser divididos em poluentes orgânicos, inorgânicos e 
microbianos. 
 
Boa parte dos poluentes orgânicos é biodegradável, o que quer dizer que microrganismos são 
capazes de transformá-los em componentes como CO2 e água. Assim que os poluentes são 
degradados pelas bactérias, oxigênio é consumido. Se um esgoto bruto é lançado num rio ou 
córrego, o supracitado processo ocorrerá, com a conseqüente redução da concentração de 
oxigênio dissolvido. Essa redução pode ser suficiente para causar a morte de peixes e, em 
alguns casos, quando a redução é tamanha para se estabelecerem condições anaeróbias, há a 
emanação de maus odores. 
 
Os poluentes inorgânicos podem causar problemas de formação de lodo e assoreamento, e 
também, em caso de minerais e nutrientes, como nitrato e fosfato, um crescimento excessivo 
de algas no corpo receptor (eutrofização). Isso pode causar grandes variações no nível de 
oxigênio, com a água se tornando anaeróbia durante a noite, junto a grandes variações do pH. 
Adicionalmente, as algas ainda podem produzir componentes tóxicos e causar aparência 
desagradável no corpo d’água. 
 
A poluição microbiológica pode comprometer a saúde pública, especialmente se o corpo 
receptor é usado para abastecimento humano, irrigação de culturas agrícolas ou para 
recreação. 
 
A caracterização qualitativa dos esgotos visa quantificar os diversos parâmetros associados aos 
poluentes presentes no esgoto, sendo discutidos nas seções a seguir os principais parâmetros 
físicos, químicos e biológicos de qualidade de água. 
 
 
Características físicas 
 
A primeira categoria a ser abordada é relativa aos parâmetros físicos, como teor de sólidos, 
temperatura, cor e turbidez. Tais parâmetros caracterizam o esgoto em si, enquanto os 
parâmetros químicos, como pH, nitrato, fosfato, DBO e DQO, e os parâmetros biológicos, como 
quantidade de microrganismos patogênicos, caracterizam os poluentes contidos no esgoto. 
Para esgotos sanitários, ao contrário do que ocorre para esgotos industriais, estes parâmetros 
normalmente têm valores previsíveis, dependendo do clima, costumes locais e da rede de 
coleta de esgoto. As mais importantes características físicas do esgoto sanitário são: 
 
 
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SólidosSólidosSólidosSólidos 
 
A concentração dos sólidos é medida como massa de sólidos por unidade de volume do esgoto, 
sendo os valores expressos em g/L ou mg/L. As principais frações dos sólidos presentes nos 
esgotos são: 
 
Sólidos totais (ST): todos os materiais presentes no esgoto determinados por evaporação de 
uma amostra de volume conhecido a 103 °C e pesagem do resíduo. Em geral, esgoto sanitário 
contém entre 370mg/L (esgoto fraco) e 1150mg/L (esgoto forte) de ST. 
 
Sólidos suspensos totais (SST): todos os materiais presentes no esgoto retidos num filtro com 
tamanho de poro definido, após secagem do resíduo a 103°C. 
 
24%
8%
27%
41%
SSV SSF SDV SDF
 
Sólidos dissolvidos totais (SDT): a 
diferença entre ST e SST, sendo os 
sólidos coloidais e os componentes 
orgânicos e inorgânicos dissolvidos. 
 
Desses três parâmetros, a parte fixa 
é o que resta após submeter a 
amostra a uma temperatura elevada 
(500 °C), sendo a parte volátil a 
diferença de peso da amostra antes e 
após a calcinação. As quantidades 
relativas destes tipos de sólidos para 
esgoto sanitário são apresentadas na 
Figura 7. 
Figura 7. Distribuição de SSV, SSF, SDV e SDF nos sólidos 
totais de um esgoto bruto típico. 
 
 
Sólidos sedimentáveis: Como mais de 30% dos poluentes está presente em forma de sólidos 
suspensos, a retirada destes sólidos, por meio de precipitação ou sedimentação, é um 
importante e eficiente passo para iniciar o tratamento dos esgotos. Um teste rápido para 
determinação de sólidos separáveis no esgoto por sedimentação é feito com o cone “Imhoff”. 
 
No teste, um volume de esgoto é colocado num 
cone com graduação(Figura 8). Depois de um 
tempo específico de repouso (geralmente 30 
minutos), a quantidade de sólidos sedimentados é 
determinada pela leitura do volume ocupado pelos 
sólidos na escala do cone. O valor dos sólidos 
sedimentáveis é expresso em volume de sólidos 
(mL) por volume de amostra (L), o qual indica a 
quantidade de sólidos que pode ser removida num 
tanque de sedimentação e é afetado, entre outros 
fatores, pelo tamanho médio e pela carga superficial 
das partículas, e pelo uso de agentes coagulantes e 
floculantes. Figura 8. Cone "Imhoff" 
Fo
n
te
: 
LA
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O
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A
N
A
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2
0
0
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Fo
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d
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 2
0
0
3
. 
 
Guia do profissional em treinamento – ReCESAReCESAReCESAReCESA 25 
TemperaturaTemperaturaTemperaturaTemperatura 
 
A temperatura do esgoto, geralmente expressa em graus Celsius, depende principalmente das 
condições climatológicas. No Brasil, a temperatura do esgoto comumente varia entre 18°C e 
25°C, dependendo da época do ano e da região, sendo essas variações muito menores que as 
da temperatura do ar. Para o tratamento biológico de esgotos, o ideal é que a temperatura 
esteja entre 25 e 35ºC, sendo que em temperaturas abaixo de 10ºC o tratamento fica 
comprometido. A aplicação de tratamento anaeróbio é pouco eficiente se a temperatura média 
for menor que 20°C. 
 
TurbidezTurbidezTurbidezTurbidez 
 
 A turbidez do esgoto é causada por sólidos 
suspensos – tais como partículas insolúveis do 
solo, matéria orgânica e organismos 
microscópicos – que refletem a luz incidente na 
solução. A turbidez pode ser quantificada com 
um aparelho chamado de turbidímetro, sendo 
expressa em Unidades Nefelométricas de 
Turbidez (UNT). A UNT é uma unidade relativa; a 
turbidez de alguma amostra é relacionada à 
turbidez de uma suspensão padrão: 1mg/L de 
SiO2 produz uma turbidez de 1 UNT. 
O turbidímetro é um aparelho simples, que 
possui uma fonte de iluminação e um foto-
sensor, detectando a intensidade de luz a 90°, 
Figura 9. Princípio de funcionamento de um 
turbidímetro (nefelométrico). 
perpendicular à faixa de luz. A lâmpada ilumina a amostra e o detector indica a quantidade de 
luz refletida pelas partículas suspensas (Figura 9). 
 
Quanto mais intenso o reflexo, maior a turbidez. A turbidez não tem relação direta com a 
concentração de poluentes, mas pode ser indicativa da concentração dos sólidos suspensos. 
Assim, a turbidez é usada principalmente como parâmetro de controle, para verificar a 
eficiência de remoção de sólidos em suspensão na ETE. 
 
 
Características químicas 
 
A matéria orgânica presente no esgoto, a qual representa, aproximadamente, metade dos 
sólidos totais, é um dos fatores principais que determina o potencial poluidor do esgoto. A 
matéria orgânica é composta dos elementos carbono, hidrogênio, oxigênio e nitrogênio, como 
proteínas, carboidratos, gorduras, óleos, uréia, surfactantes e pesticidas. 
 
Durante o transporte do esgoto através da rede, microrganismos já transformam parte da 
matéria orgânica em produtos degradados como amônia (NH3), ácidos graxos voláteis (AGV) e 
sulfeto (H2S), os quais conferem o cheiro típico de esgoto e um pH mais baixo. Posteriormente, 
 
Guia do profissional em treinamento – ReCESAReCESAReCESAReCESA 26 
os microrganismos convertem a matéria orgânica biodegradável em componentes inorgânicos, 
tais como CO2, NO3- e água, ao mesmo tempo usando a energia liberada nestas conversões 
para sua manutenção e crescimento. Esse processo ocorre durante o transporte do esgoto, 
durante o tratamento numa ETE e também pode ocorrer no meio ambiente. Caso um esgoto 
seja insuficientemente tratado e lançado em um corpo hídrico, a conversão da matéria 
orgânica, pelos microrganismos, em substâncias mais estáveis quimicamente acontece usando 
o oxigênio dissolvido na água. Assim, o lançamento de esgotos com cargas elevadas de matéria 
orgânica é capaz de consumir o oxigênio da água, com um subseqüente dano às comunidades 
aquáticas existentes naquele corpo de água. 
 
Além de matéria orgânica, esgotos também contêm componentes inorgânicos, como amônia, 
nitrato (NO3-) e fosfato (PO43-), chamados de nutrientes, os quais representam um dos 
requisitos ambientais para o crescimento de microrganismos, algas e plantas. 
 
DBODBODBODBO 
 
Um outro parâmetro indicativo da quantidade de matéria orgânica presente no esgoto é a 
Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO). Ela mede a quantidade de oxigênio necessária para a 
biodegradação dos componentes orgânicos presente no esgoto. A análise de DBO é feita 
usando microrganismos, quer naturalmente presentes ou adicionados a uma amostra diluída de 
esgoto. As bactérias usam a matéria orgânica presente na amostra do esgoto como fonte de 
energia e a convertem em CO2, H2O, NO3- e outros resíduos inorgânicos. O teste é feito em 
frascos fechados, mantidos à temperatura constante de 20ºC, sem ar em cima da solução. A 
concentração de oxigênio dissolvido na amostra é determinada antes e depois da análise, cuja 
diferença é a quantidade de oxigênio usada pelas bactérias, o que permite o cálculo da DBO. 
 
Como sempre há componentes não biodegradáveis no esgoto e as bactérias não tem como usar 
oxigênio além daquele determinado pela estequiometria da reação, a DBO é sempre mais baixa 
do que a DQO da mesma amostra. Para esgoto sanitário, a razão DQO/DBO geralmente está em 
torno de 2. No Brasil, a DBO em esgotos varia entre 150mg/L e 600mg/L, dependendo do uso 
da água, sendo um valor médio de 350mg/L. 
 
Complicações com o teste de DBO são a baixa reprodutibilidade (erros de 10-15% são comuns), 
a longa duração (o teste mais comum, a DBO5, necessita de um período de 5 dias de incubação) 
e, especialmente no caso de esgotos industriais, o fato de que componentes tóxicos podem 
desativar as bactérias e, assim, causarem um resultado não representativo do teor de material 
biodegradável. 
 
DQODQODQODQO 
 
Um dos principais parâmetros para se caracterizar o esgoto é a chamada Demanda Química de 
Oxigênio (DQO). A DQO, sempre citada em miligramas de oxigênio por litro, é uma medida da 
quantidade de oxigênio necessário para a estabilização da matéria orgânica por via química e 
funciona como um indicador da “concentração” do esgoto. Considerando-se como exemplo a 
oxidação da uréia, constituinte da urina: 
 
Guia do profissional em treinamento – ReCESAReCESAReCESAReCESA 27 
 
 CH4N2O + 4O2 → CO2 + H2O + 2HNO3 (2.1) 
 
Para a oxidação de 60g de uréia (1 mol de CH4N2O) são usados 128g de oxigênio (4O2) , o que 
corresponde a um uso de (128/60) = 2,13g O2/g uréia. A DQO (teórica) de uma solução de 
1,00g uréia/L então é de 2,13g/L. A DQO geralmente é determinada através da oxidação de 
uma amostra de volume conhecido com um oxidante químico forte, sob aquecimento, e 
determinação da quantidade do oxidante químico usado. O método mais popular é o que usa 
dicromato de potássio como oxidante, mas também existe o método que utiliza permanganato 
de potássio. Em ambos os casos, a quantidade do oxidante consumido é convertida em 
quantidade equivalente de oxigênio. Como o dicromato de potássio é um oxidante mais forte, o 
resultado obtido com este oxidante chega mais perto do valor teórico do que o resultado 
obtido usando permanganato de potássio. 
 
A DQO de um esgoto é um parâmetro bastante variável. Em lugares com escassez de água ou 
onde há um uso mais consciente de água, a DQO geralmente é mais alta do que em lugares 
onde este recurso natural é abundante. No Brasil,a DQO de esgoto geralmente se situa na faixa 
de 200mg/L a 1000mg/L, com valor médio de 700mg/L. A DQO do esgoto ainda pode mudar 
com o tempo, por causa de tendências sociais e econômicas. 
 
pHpHpHpH 
 
O pH é um parâmetro que indica o caráter ácido-básico de uma solução, sendo medido 
normalmente por meio de um eletrodo específico. Água neutra tem pH igual a 7,0, enquanto 
soluções mais ácidas têm pH mais baixo e soluções mais alcalinas tem pH mais alto. Para 
esgotos sanitários brutos, o pH é um parâmetro pouco importante, já que geralmente está na 
faixa de 7,4 até 6,7 (neutro), sendo que quanto mais velho o esgoto, mais baixo o pH. Por 
causa da capacidade tampão do esgoto, o pH do mesmo é pouco susceptível a grandes 
alterações. 
 
É um parâmetro importante para monitorar os processos de tratamento do esgoto. Se o esgoto 
afluente se torna muito ácido ou muito alcalino pode ser necessário ajustar o pH, pois a maioria 
dos processos de tratamento de esgoto é biológica, e especialmente processos anaeróbios e de 
nitrificação são pouco resistentes a condições muito ácidas ou alcalinas. 
 
NitrogênioNitrogênioNitrogênioNitrogênio 
 
Os esgotos domésticos contêm nitrogênio orgânico e inorgânico, presentes em várias formas. 
O nitrogênio orgânico é a quantidade de nitrogênio embutido na matéria orgânica, 
principalmente em proteínas. O nitrogênio inorgânico é a fração restante, sendo a soma das 
concentrações de amônia (NH3), nitrito (NO2-) e nitrato (NO3-). 
 
Para determinação das formas inorgânicas (amônia, nitrito e nitrato) existem análises 
específicas, em que normalmente se determina o nitrogênio orgânico por meio do teste do 
 
Guia do profissional em treinamento – ReCESAReCESAReCESAReCESA 28 
“Nitrogênio-Kjeldahl” (NKj). Existe também a análise do “Nitrogênio-Kjeldahl Total” (NKjT), que 
inclui o nitrogênio orgânico e o nitrogênio amoniacal. 
 
Como o nitrito é um intermediário redutivo e rapidamente oxidado para nitrato, geralmente a 
sua concentração é baixa (< 1mg/L). O nitrato é formado no esgoto por ação de 
microrganismos e por oxidação química da amônia. Quanto mais velho um esgoto, mais alto o 
teor de nitrato e mais baixo o teor de nitrogênio orgânico. A razão DQO/NKjT é de 
aproximadamente 20, podendo variar entre 10 e 30. 
 
FosfatoFosfatoFosfatoFosfato 
 
Assim como o nitrato, o fosfato é um componente presente no esgoto por causa da degradação 
biológica de proteínas, além de estar presente na composição de muitos detergentes por se 
associar a metais como cálcio e magnésio, que em forma livre diminuem a formação de 
espuma. 
 
O fósforo, assim como o nitrogênio, é um importante nutriente dos processos aeróbios, nos 
quais uma relação DBO:N:P de 100:5:1 é considerada ótima. A remoção do fosfato presente no 
esgoto é bastante difícil com os processos de tratamento de esgotos comumente empregados. 
Como o fosfato é um nutriente causador de eutrofização, o seu uso na composição de 
detergentes já é proibido em muitos países. 
 
 
 
Características biológicas 
 
 
Não existe esgoto sanitário sem microrganismos. A maioria deles não traz malefícios à saúde 
humana, mas alguns são capazes de causar doenças – os chamados patogênicos. Incluídos 
nessa categoria, embora não sejam estritamente microrganismos, estão os vírus. Por questões 
de proteção da saúde pública, deve ser evitado o lançamento de microrganismos patogênicos 
com efluente tratado, especialmente em águas usadas para abastecimento humano, irrigação 
de culturas agrícolas ou recreação. A análise de microrganismos visa quantificar o número de 
patogênicos na amostra. 
 
Como existem muitos patógenos, é inviável analisar a presença de cada um. Assim, sua 
presença é estimada usando alguns microrganismos indicadores, como os coliformes totais e 
os coliformes termotolerantes, Escherichia coli, helmintos e protozoários. 
 
Cada ser humano, saudável ou doente, normalmente lança bilhões de bactérias coliformes, 
presentes nos intestinos, por dia no esgoto. Assim, a presença de coliformes é um parâmetro 
usado para identificar se uma amostra foi contaminada com fezes, associado a ter um risco 
elevado de conter patogênicos. A quantidade de E. coli, uma bactéria inerente ao trato 
intestinal do ser humano, é usada para identificar qual parte dos microrganismos encontrados 
pode ser de origem humana. 
 
Guia do profissional em treinamento – ReCESAReCESAReCESAReCESA 29 
 
Como o número de microrganismos pode variar muito, os testes usam princípios estatísticos 
para chegar ao número mais provável (NMP) de microrganismos presentes na amostra. 
 
1 ml
9 ml
10-1
1 ml 1 ml 1 ml
9 ml 9 ml 9 ml 9 ml
10-2 10-3 10-4 10-5
200 .10-4 20 .10-5contar impossivel
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
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.
.
.
.
.
.
.
1 ml
 
Um esquema simples mostrando o 
princípio para quantificar um 
número mais provável de 
microrganismos é ilustrado na 
Figura 10. Como primeira etapa, 
uma série de diluições é preparada. 
Meios de cultura que permitem o 
crescimento de um tipo específico 
de bactéria e que impedem, por 
causa da presença de antibióticos 
específicos, o crescimento de 
outros grupos de bactérias, são 
inoculados com uma quantidade de 
amostra e incubados à temperatura 
desejada. 
Figura 10. Diluições para estimação do NMP depois 
incubação. 
 
Após certo tempo de crescimento, os microrganismos são contados ou, alternativamente, o 
número de unidades em que a presença do microorganismo foi detectada é contado. A 
contagem de microrganismos é feita principalmente no esgoto tratado, para verificar se a 
qualidade é adequada para o lançamento da água do corpo receptor. Se o tratamento aplicado 
na ETE não consegue baixar a concentração de patogênicos para níveis aceitáveis, é necessária 
a aplicação de uma técnica de desinfecção, como cloração, ozonização ou irradiação com luz 
UV. 
 
 
Guia do profissional em treinamento – ReCESAReCESAReCESAReCESA 30 
Fontes de Fontes de Fontes de Fontes de poluição das águaspoluição das águaspoluição das águaspoluição das águas 
 
Paula Loureiro PauloPaula Loureiro PauloPaula Loureiro PauloPaula Loureiro Paulo 
Gilson Barbosa Athayde JúGilson Barbosa Athayde JúGilson Barbosa Athayde JúGilson Barbosa Athayde Júniorniorniornior 
 
 
Os corpos d’água são os maiores receptores de uma extensa gama de resíduos produzidos pelo 
homem. Tais resíduos podem ser conduzidos diretamente pelo lançamento de esgotos 
domésticos ou industriais ou ainda ser carreados ao longo da superfície pelas águas de chuva. 
Nesse último caso, além de componentes do solo, também são levados aos corpos hídricos 
resíduos sólidos domésticos e industriais, agrotóxicos e pesticidas. Em algumas situações, 
dependendo da poluição atmosférica da região, pode ocorrer a deposição de partículas 
poluentes no solo e nos corpos d’água. Há que se considerar também a poluição das águas por 
causas naturais. 
 
A poluição das águas é um problema global que não respeita fronteiras. Nos países em 
desenvolvimento, resíduos humanos, de animais e resíduos tóxicos de atividades agrícolas são 
os maiores poluidores. Em países desenvolvidos, a principal causa da poluição são os resíduos 
industriais, como metais pesados e matéria orgânica. O nível da poluição das águas tende a 
crescer não somente com o grau de industrialização, mas também com o aumento da 
densidade populacional. 
 
A forma através da qual os poluentes atingem um corpo aquático pode ser pontual ou difusa. A 
poluição pontual ocorre quando os poluentes são lançadosno corpo aquático de forma 
concentrada, como no caso de tubulações que despejam esgotos domésticos ou industriais. A 
poluição difusa ocorre quando os poluentes atingem o corpo receptor ao longo de uma certa 
extensão, como no caso da poluição associada à drenagem de águas pluviais e aos 
escoamentos provenientes de campos agrícolas. As fontes de poluição pontuais são de mais 
fácil controle que as difusas. 
 
 
Fontes de poluição 
 
As principais fontes de poluição podem ser classificadas em: 
� fontes naturais; 
� contribuição de áreas agrícolas; 
� contribuição de águas servidas urbanas (incluindo esgoto doméstico e efluentes 
industriais); 
� causas diversas. 
 
Essas fontes de poluição se apresentam com maior ou menor incidência de acordo com 
características locais, incluindo geografia, topografia, uso e ocupação do solo, cultura local, 
condições sócio-econômicas e recursos tecnológicos para controle da poluição. 
 
Guia do profissional em treinamento – ReCESAReCESAReCESAReCESA 31 
Fontes naturais de poluiçãoFontes naturais de poluiçãoFontes naturais de poluiçãoFontes naturais de poluição 
 
As principais fontes naturais de poluição são as seguintes: 
 
Decomposição de vegetais: produtos resultantes da dissolução ou lixiviação da vegetação em 
contato com a água costumam exercer forte demanda de oxigênio e causar à água uma elevada 
intensidade de cor. 
Salinização: causada pela evaporação muito intensa em lagos e lagoas, em climas tropicais, 
áridos ou semi-áridos, tendo como consequência a concentração progressiva de sais nesses 
mananciais. Os processos continuados de evapotranspiração do solo ou de sedimentos aluviais 
em climas desérticos, ou ainda de solos irrigados em regiões semi-áridas, promovem a 
concentração salina desses sólidos. 
Minerais dissolvidos: as águas subterrâneas, ao escoarem até o ponto de afloramento ou 
captação, podem apresentar concentrações excessivas de minerais dissolvidos, alguns 
causando simplesmente dureza ou alguma toxicidade ao corpo d’água, por exemplo. 
Floração aquática: a floração de organismos aquáticos pode ocorrer como um fenômeno natural 
em lagos e rios, podendo ser acelerada após a contribuição da atividade humana. 
Escoamento superficial e erosão do solo: o escoamento superficial, natural, contribui como uma 
parcela de poluição por descarga sólida, originada pela erosão do solo. À medida que a 
vegetação protetora do solo é removida, torna-se maior o escoamento superficial e o arraste de 
areia, argila, silte e matéria sólida em suspensão. 
 
 
Contribuição de áreas agrícolasContribuição de áreas agrícolasContribuição de áreas agrícolasContribuição de áreas agrícolas 
 
A poluição gerada em áreas agrícolas é proveniente de resíduos sólidos e líquidos, incluindo 
enxurrada carreando pesticidas e fertilizantes, partículas de solo arado, fezes e carcaças de 
animais, resíduos de safras e detritos diversos. 
 
 
Contribuição de águas servidas urbanasContribuição de águas servidas urbanasContribuição de águas servidas urbanasContribuição de águas servidas urbanas 
 
O processo de urbanização desordenada vem causando uma série de mudanças no meio 
ambiente, na qualidade de vida da população e na qualidade das águas superficiais e 
subterrâneas, cujos principais problemas são: 
 
� contaminação dos mananciais superficiais e subterrâneos com disposição inadequada de 
efluentes urbanos sem tratamento (esgoto sanitário, por exemplo), águas pluviais 
contaminadas e a disposição final de resíduos sólidos de forma inadequada; 
� inundações de áreas devidas à urbanização; 
� erosão e sedimentação dos cursos d’água, gerando áreas degradadas; 
� ocupação de áreas ribeirinhas, com riscos de inundações, e de grandes áreas de alta 
declividade sujeitas a deslizamentos durante período chuvoso. 
 
Guia do profissional em treinamento – ReCESAReCESAReCESAReCESA 32 
 
As águas servidas urbanas contribuem, principalmente, por meio dos despejos dos esgotos 
domésticos, industriais e águas pluviais. Os dois primeiros tipos de poluição se caracterizam 
como fontes pontuais, localizadas e bem identificadas, responsáveis por significativa depleção 
do oxigênio nos cursos d’água, além da contribuição de sólidos, organismos patogênicos e 
nutrientes. No caso dos esgotos industriais, ainda pode ocorrer a contribuição de metais e 
outros poluentes. 
 
Nas localidades que não dispõem de rede de esgotamento sanitário existe a prática do 
lançamento dos esgotos domésticos na rede de drenagem urbana, que contribuem de forma 
não pontual para a poluição dos corpos d’águas e, por constituírem uma carga adicional 
importante, podem representar um impacto significativo sobre o meio ambiente. Ressalta-se, 
também, as águas pluviais que drenam áreas carentes, onde a limpeza pública e a coleta de 
lixo não são regularmente praticadas. 
 
 
Poluição por causas diversasPoluição por causas diversasPoluição por causas diversasPoluição por causas diversas 
 
Outras causas de poluição podem ser destacadas, como as áreas de mineração, de influência de 
aterros sanitários e reservatórios de acumulação. No caso das áreas de mineração, em atividade 
ou não, a percolação das águas no solo contribui com carga significativa de ácidos e metais, 
entre outros. Já nas áreas de influência de aterros sanitários, pode ocorrer uma poluição 
tipicamente orgânica, no caso de resíduos domésticos, e tipicamente tóxica, no caso de 
resíduos industriais. Esse tipo de poluição pode comprometer os mananciais – sejam eles 
superficiais ou subterrâneos – por longos períodos. A construção de reservatórios para 
quaisquer finalidades, como geração de energia, abastecimento de água, entre outros, pode 
produzir uma deterioração na qualidade da água. Podem ocorrer fenômenos de floração de 
algas, eutrofização, acúmulo de descargas sólidas e anaerobiose da camada de fundo do 
reservatório. Fenômenos como esses já podem ser observados em reservatórios de usinas 
hidrelétricas e para abastecimento humano. 
 
 
Tipos de poluentes 
 
O Quadro 1 apresenta os principais tipos de poluentes que podem afetar a qualidade das águas 
em termos de danos à biota aquática e a seus usuários, com consequências de ordem sanitária, 
ambiental e econômica. 
 
As conseqüências de ordem sanitária estão associadas à disseminação de doenças relacionadas 
com a água. As econômicas são ligadas ao maior custo de tratamento para a água captada e 
maiores despesas com o tratamento de doenças. Entre as consequências ambientais, 
destacam-se as alterações físicas, químicas e biológicas da água, como resumido a seguir: 
 
� alterações das características físicas: cor, turbidez, deposição de materiais no leito dos 
corpos d’água, temperatura, viscosidade, tensão superficial; 
 
Guia do profissional em treinamento – ReCESAReCESAReCESAReCESA 33 
� alterações das características químicas: compostos tóxicos, pesticidas, detergentes, 
salinização, substâncias radioativas, pH, excesso de nutrientes (eutrofização), consumo de 
oxigênio; 
� alterações das características biológicas: presença de microrganismos patogênicos, 
vegetação, larvas de inseto. 
 
 
Quadro 1. Tipos de poluentes e seus principais efeitos. 
PoluentePoluentePoluentePoluente Maiores fontesMaiores fontesMaiores fontesMaiores fontes EfeitosEfeitosEfeitosEfeitos 
Sólidos em 
suspensão 
Esgoto doméstico, esgoto industrial, 
águas pluviais. 
Problemas estéticos, aumento da turbidez, 
deposição de lodo no fundo do corpo aquático, 
adsorção de poluentes, proteção de organismos 
patogênicos. 
Matéria orgânica 
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