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Cap. 22 – A personalidade e suas alterações PAULO DALGALARRONDO Definições personalidade, caráter e temperamento Personalidade: Conjunto integrado de traços psíquicos, consistindo no total das características individuais, em sua relação com o meio, incluindo todos os fatores físicos, biológicos, psíquicos e socioculturais de sua formação, conjugando tendências inatas e experiências adquiridas no curso de sua existência”. Temperamento é o conjunto de particularidades psicofisiológicas e psicológicas inatas, que diferenciam um indivíduo de outro. O caráter reflete o temperamento moldado, modificado e inserido no meio familiar e sociocultural. TIPOS DE PERSONALIDADE Tipologia hipocrática: essencialmente ambientalista. Os elementos da natureza interagem permanentemente com o organismo para determinar a saúde ou a doença, todas as questões repousam sobre a TEORIA DOS QUATRO ELEMENTOS: água, terra, ar e fogo. Tipologia de Jung: A totalidade da personalidade, segundo Jung, é constituída de várias instâncias, a saber: persona, sombra, animus e anima. O movimento e a direção da energia psíquica (libido), tem-se: • Extroversão: Aqui a libido flui sem embaraço ou dificuldade em direção aos objetos externos. Os extrovertidos são pessoas que partem rápida e diretamente em direção ao mundo externo, têm as suas referências e buscam suas satisfações no ambiente externo. • Introversão: Aqui a libido recua perante os objetos do mundo externo, voltando-se para seu interior; o mundo externo é ameaçador ou sem importância, as satisfações e referências provêm do próprio mundo interno. TIPOS DE PERSONALIDADE As funções psíquicas adaptativas básicas, tem-se: • Pensamento: Esclarece o devido significado dos objetos, a racionalidade e a lógica dos processos da vida. • Sentimento: Na concepção de Jung, relaciona-se com a capacidade de estimar afetivamente o mundo, de decidir que valor afetivo e emocional determinado fenômeno tem para o indivíduo. • Sensopercepção: Capta e identifica com precisão os objetos do mundo externo e permite o contato objetivo com a realidade. • Intuição: É uma percepção inconsciente, uma apreensão imediata de como os objetos do mundo se com TIPOS DE PERSONALIDADE Tipologia de Freud: a constituição da personalidade passa estrategicamente pelas vicissitudes da libido (compreendida como energia “vital”, “sexual”), pelo seu desenvolvimento em diversas fases, pelo modo como se estrutura o desejo inconsciente e as formas como o Eu lida com seus conflitos e frustrações libidinais. Biotipologia de Kretschmer: buscou dividir os tipos humanos em três espécies morfológicas e psicológicas distintas: os brevelíneos - predomina o diâmetro ântero-posterior do tronco, principalmente do abdome. O rosto é arredondado; e os membros, curtos. Tenderiam à ciclotimia ou à sintonia. Ao adoecer mentalmente, tende ao transtorno afetivo bipolar, à depressão e às timopatias de modo geral. os longilíneos - são indivíduos nos quais predomina o diâ- metro longitudinal, vertical, sobre todos os outros; têm corpos delgados; ombros estreitos; peito aplainado; rosto alargado e estreito; membros, mãos e pés longos e delgados. A personalidade tenderia à esquizoidia. os atléticos - seria a forma intermediária entre o pícnico e o leptossômico. O sistema ósseo e o muscular são desenvolvidos. Há predomínio do diâmetro transversal; ombros largos, cadeiras estreitas e pescoço grosso. Os atléticos tenderiam, assim como os leptossômicos, à esquizofrenia ou à epilepsia. MODELOS DE PERSONALIDADE OBTIDOS POR ESTUDOS EMPÍRICOS E PSICOMÉTRICOS Modelo de Eysenck - situa-se entre uma perspectiva genética e psicofisiológica da personalidade e a aceitação de aspectos da teoria comportamental. Sua teroria da personalidade inclui três dimensões: “neuroticismo” (traços ansiosos como tensão, preocupação, autopiedade, instabilidade), “extroversão/ introversão” (extroversão indicando propensão à atividade, energia, entusiasmo, busca dos outros, assertividade, e introversão sendo o oposto) “psicoticismo” inclui traços que pessoas normais compartilhariam com indivíduos psicóticos: descuido ou negligência em relação a si mesmo, descaso pelo senso comum e expressão anormal das emoções. MODELOS DE PERSONALIDADE OBTIDOS POR ESTUDOS EMPÍRICOS E PSICOMÉTRICOS Modelo dos cinco fatores - foram obtidas cinco dimensões da personalidade que se revelam estáveis e consistentes em numerosos estudos empíricos. As dimensões são as seguintes: 1. Neuroticismo: traços ansiosos, tensão, preocupação, autopiedade, instabilidade; 2. Extroversão: propensão a atividade, energia, entusiasmo, busca dos outros, assertividade (a introversão é o seu oposto; 3. Abertura: curiosidade, imagina- ção, originalidade, tendência à arte, maior insight e abertura de interesses; 4. Amabilidade: gentil, confiável, valorizador, generoso, empático, perdoador; 5. Conscienciosidade: organizado, eficiente, responsável, confiável, planejador. MODELOS DE PERSONALIDADE OBTIDOS POR ESTUDOS EMPÍRICOS E PSICOMÉTRICOS Modelo de personalidade de Cloninger - identificou três dimensões da personalidade que seriam, segundo seus postulados, geneticamente independentes. Tais dimensões revelariam padrões predizíveis de interação em suas respostas adaptativas a classes específicas de estímulos do meio ambiente. Identificou as seguintes dimensões: 1. Procura por novidade (novelty seeking)- os estímulos mais relevantes seriam a novidade, a recompensa potencial e o alívio da monotonia. Aqui haveria a tendência herdável para a excitação e a exaltação perante estímulos novos, assim como a busca intensa por aventuras e explorações emocionantes; 2. Evitação de danos (harm avoidance)- aqui haveria a tendência inata do sujeito de responder com intensidade a sinais de estímulos aversivos. O indivíduo é quase sempre temeroso, antecipando os danos possíveis. 3. Dependência de recompensa (reward dependence)- haveria a tendência herdável do sujeito a responder intensamente a sinais ou indicativos de recompensa (em especial sinais de aprovação social). TRANSTORNOS DA PERSONALIDADE Kurt Schneider (1974) definiu os transtornos da personalidade de forma muito oportuna: “[...] sofre e faz sofrer a sociedade”, assim como “[...] não aprende com a experiência”. Os transtornos da personalidade, embora de modo geral produzam consequências muito penosas para o indivíduo, familiares e pessoas próximas, não são facilmente modificáveis por meio das experiências da vida. Segundo a classificação atual de transtornos mentais da OMS (1993), a CID- 10, os transtornos da personalidade são definidos pelas seguintes características: 1. surgem na infância ou adolescência e tendem a permanecer relativamente estáveis ao longo da vida do indivíduo (“O menino é o pai do homem”). 2. conjunto de comportamentos e reações afetivas claramente desarmônicos, envolvendo vários aspectos da vida do indivíduo, como a afetividade, o controle de impulsos, o modo e o estilo de relacionamento interpessoais, etc. 3. O padrão anormal de comportamento e de respostas afetivas e volitivas é permanente, de longa duração e não limitado ao episódio de doença mental associada (como uma fase maníaca ou depressiva, um surto esquizofrênico, etc.). 4. O padrão anormal de comportamento inclui muitos aspectos do psiquismo e da vida social do indivíduo, não sendo restrito a apenas um tipo de reação ou uma área do psiquismo. 5. O padrão comportamental é mal adaptativo, produz uma série de dificuldades para o indivíduo e/ ou para as pessoas que com ele convivem. 6. São condições não relacionadas diretamente à lesão cerebralevidente ou a outro transtorno psiquiátrico (embora haja alterações de personalidade secundárias à lesão cerebral). 7. O transtorno da personalidade leva a algum grau de sofrimento (angústia, solidão, sensação de fracasso pessoal, dificuldades no relacionamento vividas com amargura, etc.); entretanto, salienta a CID-10, tal sofrimento pode se tornar aparente para o indivíduo apenas tardiamente em sua vida. 8. Em geral, o transtorno da personalidade contribui para o mau desempenho ocupacional (no trabalho, estudos, etc.) e social (com familiares, amigos, colegas de trabalho ou estudo). Entretanto, tal desempenho precário não é condição obrigatória. Transtornos da personalidade segundo a CID-10 e o DSM-IV
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