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Verdade e Sujeito - Alain Badiou Resenha

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Alain Badiou em palestra dada em 27 de agosto de 1993, no IEA, nos apresenta uma perspectiva de concepção de sujeito, um sujeito como uma nova categoria filosófica, que é necessário uma delimitação. Um formato de sujeito que é raro e que nem sempre há o sujeito, mas que se faz necessário eventos que se entreguem ao caso para que esse processo de formação de um sujeito ocorra. Alain Badiou parte de uma teoria de verdade para falar sobre essa concepção de sujeito a qual faz parte de sua visão. 
Badiou abre caminho numa filosofia moderna, onde esta filosofia faz uma crítica à verdade como uma adequação. Hegel pressupõe a verdade como um percurso. Primeiramente, Badiou indica que a verdade é em primeiro lugar uma novidade, algo que se transmite e se repete, ele começa chamando essa novidade de “saber”, observando que é de grande importância saber a distinção entre a verdade e o saber, dando foco à Kant, ilustrando que em sua obra, essa distinção já acontece, a distinção entre razão e entendimento. Badiou, então, abre um questionamento “se toda verdade é uma novidade, qual o problema filosófico essencial da verdade?”. ele explica que é o surgimento da verdade e o de vir-a-ser, a verdade precisa ser entendida não como um juízo, mas como um processo real. 
Badiou esquematiza o processo de vir a ser a verdade em sete pontos numa escala de desenvolvimento, o trajeto da verdade, divididos em: evento (indecidível); nomeação; sujeito (indiscernível) - finito; fidelidade; verdade (genérica) - infinito; forçação e inominável. É nesse esquema que Badiou nos explica o processo de vir-a-ser uma verdade, um processo que dependente de cada ponto para que a verdade seja efetiva em sua concepção. Compreendendo que, para que se inicie o processo da verdade, é necessário que algo aconteça, pois o saber da situação se restringe a uma repetição, para que a verdade seja uma novidade é necessário um suplemento este que se entrega ao acaso, algo que é imprevisível e incalculável, podemos chamar de “evento”. Ou seja, um evento é aquilo que está fora dos nossos saberes prévios e corriqueiros, é algo que se apresenta em sua extensa novidade e que nessa novidade não se sabe lidar pois é algo realmente novo e fora dos padrões, é algo fora de sua repetição, um evento indiscernível. Seguindo o processo, diante da novidade é necessário que se faça uma aposta, uma decisão que o evento se deu. Pelo fato do evento ser indiscernível, é fundamental que surja um sujeito do evento, esse sujeito é o que está dentro dessa aposta, esse sujeito que fixa a um evento indiscernível e então assume o risco de decidi-lo, ele segue um trajeto arriscado e uma escolha pura sem conceito, é uma escolha confrontada em dois termos indiscerníveis, pois nenhum efeito de linguagem consegue caracterizá-los, uma escolha descomprometida com qualquer pressuposto em relação ao de não ter que escolher, um exercício de fidelidade, esse sujeito de uma verdade exige que exista um indiscernível, esse indiscernível tem papel organizador no ponto puro no processo de verificação, de forma que o sujeito irá desaparecer entre os dois indiscerníveis, porém ele não se elimina no ponto de encontro ao acaso, ele adquire um papel de examinador do postulado ao qual deu sua origem. Esse seria o ato local da verdade, onde o sujeito de uma verdade assumiria um papel de in-diferente. É importante ressaltar os limites entre finito em infinito; o sujeito de uma verdade é finito, enquanto que, a verdade é infinita. 
Alain Badiou nos explica essa dimensão entre finito e infinito utilizando da verdade científica que foi decidida por galileu, onde essa prossegue ao infinito, enquanto que as leis da física que foram inventadas posteriormente seriam os sujeitos finitos desta verdade. É observado que o trajeto verificante possui um ciclo infinito e inacabável, mas supondo-se que esse subconjunto que não se pode encaixar no domínio da língua, um conjunto que não possui uma nomenclatura, possuindo então uma característica genérica, pode se dizer, então que uma verdade acabada ela se torna genérica em seu resultado ou como também em seu ser. No exemplo de Galileu, no que viria depois de sua obra, não existe um subconjunto de saber unificado no qual poderia se denominar a Física, no entanto existe um conjunto infinito e aberto composto por leis e experiências, mesmo que encarem o pressuposto como acabado, o conjunto não consegue se resumir a uma única forma de linguagem. a física seria um conjunto genérico, na ótica do infinito e distinto. 
Existe então uma possibilidade antecipar uma ideia de uma verdade genérica acabada, Badiou fala sobre uma hipótese antecipante, na qual se refere ao ser genérico de uma verdade, ele caracteriza como forçação, que seria uma ficção de uma verdade acabada, assim podemos ter novos saberes, embora não ter verificado os mesmos. Nesse sentido, Galileu levanta uma hipótese de que a natureza está inscrita numa linguagem matemática. Existe uma problemática nessa situação, onde antecipação tem poder total e se seria possível forçar os saberes envoltos, essa problemática é vista no amor absoluto, o problema da ciência em posição de verdade universal e a política totalitarista. No entanto, existe um ponto real que resiste a esse poder de antecipação, no qual Alain Badiou o chama de inominável, onde esse ponto em questão é inforçável e que nunca tem nome para a verdade. O inominável é tão singular que não tolera ter um nome próprio. Existe uma necessidade de denominar a qualquer preço, Badiou caracteriza esse ato como o Mal, onde este é um desejo de tudo-dizer. 
Em sua concepção de sujeito e verdade, Badiou articula em seu discurso a premissa no que diz respeito a filosofia contemporânea: a ciência, a política como também o amor e a arte articulando com uma perspectiva de sujeito. Badiou nos apresenta um sujeito que não é substância, ele possui consistência e determinações, onde o sujeito é um resultado de um processo de uma verdade, e não como fonte de uma verdade, onde nem sempre existe um sujeito. O sujeito seria efeito de uma verdade, onde acontece o evento e a este o sujeito mostra sua fidelidade na aposta, onde não se sabe como lidar com essa situação, mas que de alguma maneira o sujeito se liga a esse evento e a verdade em seu processo infinito rumo ao inominável a necessidade de nomear a qualquer custo onde esse ato se aproxima de um Mal. 
Quando acontece um evento, o indivíduo vai sair do campo da realidade do campo do simbólico, um campo onde não existe uma linguagem e por essa razão não consegue se inscrever, nesse sentido ele sai do campo da realidade e parte para o campo do real, de tal forma que esse evento é indecidível, pois como o evento não é nomeável e não consegue se inscrever, exigirá uma aposta, onde o indivíduo terá que fazer uma escolha sem se basear, a priori, num conceito, é nessa aposta que se exige o aparecimento do sujeito, mas que esse sujeito, somente irá consolidar como sujeito quando o mesmo for fiel a esse evento, de tal forma que o ser terá uma mudança em seu comportamento, ele se entregará ao que foi lhe entregue ao acaso, uma relação de fidelidade ao evento. A forçação seria a tentativa do sujeito encaixar o que lhe ocorreu em um campo simbólico, como consequência dessa forçação, o sujeito produz uma verdade genérica, um subconjunto da verdade em si, porém o sujeito percebe que a verdade genérica não consegue gerenciar o que está sendo efetivado, ele vai se inclinar no sentido de uma verdade total, algo que é inominável. Em síntese na trajetória para construção da verdade existe um ser que está escrevendo sua história, até que um dia algo do seu campo de conhecimento deixar de inscrever, pois sai do campo da linguagem, é algo traumático e negativo, então essa novidade é o evento, o encontro com o real. Em seguida a esse encontro, se propaga o começo da construção do sujeito, o sujeito é fiel ao evento e tenta produzir uma verdade genérica, quando ele percebe que ela não dá conta de tudo vê então que é inominável(inominável).

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