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Aula 3

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O início dos governos militares pode ser apontado como ingresso na fase capitalista monopolista, na qual o Estado sedimenta sua atuação como agente condutor da economia, apostando no acirramento de nossa dependência internacional e desenvolvimento um modelo econômico/social baseado na concentração de renda e na aceleração econômica, pautado em empréstimos internacionais, subordinando, portanto, nossa economia ao capital e a tecnologia externa. Essa estratégia garantiu durante o período um acelerado crescimento econômico, finalizando com a instalação das indústrias de bens de capital em nossa economia. Em relação a sociedade civil, os anos dos governos militares ficaram marcados pelo distanciamento das organizações sindicais e populares da participação política. O rígido controle das iniciativas de organização popular estava inserido na Doutrina de Segurança Nacional, ideologia que marcou o caratê autoritário e excludente dos governos militares. 
Educação: A questão das políticas educacionais ganhou também contornos definidores, já que sob a tutela dos governos militares ocorreu uma relativa ampliação dessas políticas, que passaram a serem usadas, juntamente com o chamado milagre econômico, como espaço de legitimação desses governos. Com efeito, a educação como espaço privilegiado de produção e reprodução das relações sociais não fugiu à regra e foi amplamente reformada e usada pelos tecnocratas do governo ditatorial civil/militar. Uma das maiores marcas da expansão da educação, pós-64 esteve pautada na transferência de verbas públicas para o empresário da educação. Essa expansão ocorreu sobre forte influência de “técnicos” norte-americanos. Seus objetivos seguiram uma orientação que assegurou a adequação do sistema escolar brasileiro aos preceitos da teoria do “capital humano”. A educação por meio dessa teoria deveria ser encarada como investimento, resultado consequentemente no aumento da produtividade, levando assim melhorias para a qualidade de vida da população. Conhecimento e habilidades, portanto, são vistos como capital humano, apropriado a medida em que o trabalhador ascende na escala da escolarização formal. Nesse sentido, o conteúdo programático das escolas supervalorizou as áreas tecnológicas, dano destaque ao treinamento especifico em detrimento a formação geral e a perda de importância das áreas humanas e das ciências sociais. 
No Brasil, o organismo responsável pela disseminação e financiamento foi a agencia norte-americana USAID, que entre 1964 e 1968 selou 12 acordos com o ministério da educação e cultura. Dos objetivos principais estava o de diagnosticar e solucionar problemas da educação no Brasil, tendo como norte os pressupostos da teoria do “capital humano”. Os acordos MEC-USAID defendiam a teoria do capital humano e por concepção, a desigualdade nos níveis de desenvolvimento dos países seria solucionada por ações educativas que diminuiriam as diferenças sociais entre os indivíduos. Podemos afirmar que a lógica que norteou a reforma educacional de 1968 e 1971 ficou marcada e influenciada pela teoria do capital humano. Acentuou-se dessa forma o deslocamento da educação do contexto social e político, enfatizando o caráter eminentemente teocrático das ações educacionais. Entre as ações dos governos militares para a educação de adultos, estavam: 
A expansão da cruzada ação básica crista, entre 1965 e 1967;
Após 1970, o movimento Brasileiro de alfabetização (mobral);
Depois de 1971, o ensino Supletivo, no interior dos sistemas públicos.
Nesse momento, o governo militar substituiu o PLANO NACIONAL DE ALFABETIZAÇÃO, do período anterior ao golpe, coordenado por Paulo Freire, pela CRUZADA DA AÇÃO BASICA CRISTA (CRUZADA ABC), que tinha a concepção e coordenação de grupos evangélicos norte-americanos e que usava verbas dos acordos MEC-USAID. Tal iniciativa aponta a tendência de vincular a educação de jovens e adultos a formação para o trabalho e a formação moral.
Após os anos 70, o mobral e o ensino supletivo foram ações que reforçaram uma perspectiva de educação compensatória e aligeirada para adultos. O tecnicismo e o economicismo na educação, principalmente por meio da difusão da teoria do capital humano, foram as marcas das experiências apresentadas no período. Desse modo passou-se a predominar uma concepção da educação de adultos como preparadora de recursos humanos para tarefas da industrialização, modernização da agropecuária e ampliação dos serviços. O movimento brasileiro de alfabetização (mobral), criado em 1967 pelo governo federal, perdurou durante todo o período da ditadura militar com significativa força política e financeira. Desvinculado do MEC e organizado através de comissões municipais responsáveis pela educação direta das atividades, o mobral gozou de enorme autonomia, estabelecendo sua estrutura paralela dos sistemas de ensino existentes. O mobral pode ser analisado como um instrumento de controle ideológico das massas. Em sua estrutura organizacional, apenas a produção do material didático, a supervisão pedagógica e as suas diretrizes orientadoras mantiveram-se centralizadas. Muitas foram as críticas quanto a atuação do mobral. Dentre elas destacam-se principalmente, a que fala da falsidade dos resultados divulgados, seja, ao impacto de outras formas de ação do movimento, além da crítica sobre o seu próprio sentido e objetivo. Também é importante ressaltar as diferenças entre as concepções alfabetizadoras e as intencionalidades politicas existentes entre o mobral e a proposta teórico-metodológico de Paulo Freire. Mesmo que o mobral tenha buscado assemelhar-se as concepções freiriana na técnica pedagógica e na forma do material didático, era completamente esvaziado da ótica problematizadora e conscientizadora da perspectiva freiriana. O mobral organizou-se, a partir dos anos 70, em ação paralela ao ensino supletivo, mais especificamente ao departamento de ensino supletivo do MEC. O ensino supletivo foi regulado pela lei n. 5692/71 e concebido dentro de uma visão sistêmica, que compreendia quatro funções:
Suplência;
Suprimento;
Aprendizagem;
Qualificação.
Tais funções se inter-relacionavam e, juntamente com o ensino regular, compunham o sistema nacional de educação. Com a regulamentação do ensino supletivo pela lei n. 5692/71, pela primeira vez, o ensino supletivo foi organizado em um capitulo próprio, diferenciando-o do ensino regular básico e secundário, abordando inclusive, a necessidade da formação de professores especificamente para ele e trazendo avanços significativos para o ensino de jovens e adultos. Apesar de ter sido elaborada no auge do período de ditadura civil-militar, esse instrumento legal representou contraditoriamente a ampliação, em nível legislativo, das oportunidades educacionais. Foi assim, no interior de reformas autoritárias e no ápice do processo de modernização conservadora que o ensino supletivo ganhou estatuto próprio. Diante disso, vários estudos consideram que, oferecendo o mobral e o ensino supletivo, os militares buscariam reconstruir, através da educação, sua mediação com os setores populares. 
A política de rápido crescimento econômico iniciada pelo governo Geisel começou a dar sinais de esgotamento no final dos anos 70 e a partir dos primeiros anos de 80 a economia brasileira conheceu momentos de estagnação. Assim, o início dos anos 80 marcou o ápice da crise do modelo desenvolvimentista econômico, tornando-se urgente uma nova estratégia de sobrevivência para nossas elites. O encaminhamento dado nos anos 80 caracterizou-se pela desaceleração da industrialização e pelo fim do financiamento externo, elementos de um quadro no qual nossa economia se converteu em mero “exportador de capitais e o principal agente interno do crescimento – o Estado – se torna deficitário” (BENJAMIM, 1998, p.28). Essa crise econômica aponta para a falência do modelo autoritário de governo e sob o controle dos militares, o Brasil entra em um lento e gradual processo de transição para democracia. O processo de perpetuação de forças conservadorascomo bloco do poder, no término da transição democrática, se deu no cenário do “avanço neoliberal” no qual, a partir da crise do modelo desenvolvimentista de Estado, a burguesia brasileira se alinhou ao projeto neoliberal mundial, procurando dar conta de dois problemas: 1. De se estruturar na crise do capitalismo mundial do período; 2. De se perpetuar enquanto classe dominante e dirigente. 
Saiba mais: a globalização é aqui apontada como uma nova divisão internacional do trabalho, na qual a circulação de mercadorias e a mundialização da produção se ampliam progressivamente, a partir do acirramento do processo de internacionalização do capital. Destaca-se também nesse processo a supremacia do capital financeiros sobre os outros setores da economia, exigindo reforma estruturais que protejam a sua circulação mundial. Junto com essa tendência econômica, a cultura é carregada em um bonde transnacional pelas diferentes nações, para um mundo mais interligado, através da apropriação dos padrões econômicos e comportamentais de ordem neoliberal. 
Em consonância com o receituário neoliberal e conservador, a educação deveria passar por mudanças significativas para se adapta aos “novos” tempos, se tornando um terreno fértil nos processos de melhorias econômicas e sociais. No campo educacional, essa nova perspectiva é sentida no âmbito do esvaziamento das ações estatais na EJA. Nesse contexto, o mobral foi substituído pela fundação educar, em 1985. Tal fundação teve um breve período, em consequência de um modelo de gestão educacional caracterizado pela escassez de recursos e financiamento público para a educação de jovens e adultos trabalhadores. 
Nesse sentido, o capítulo referente a educação, na constituição promulgada em 1988, significou um dos mais acirrados palcos de disputa na constituinte. Congregados em diversas organizações do movimento social, sindical e cientifico, os defensores da escola pública e gratuita acreditavam ser aquele o momento de garantia de mudanças no sistema educacional brasileiro. A constituição de 1988 introduziu avanços consideráveis para a educação brasileira, no que tange a educação de jovens e adultos, principalmente em seu artigo 208, que aponta: “ o dever do Estado com a educação será efetivado, mediante a garantia de: Ensino fundamental obrigatório e gratuito, assegurada inclusive sua oferta gratuita para todos os que dele não tiverem acesso na idade própria” (art.208);
O mobral só foi extinto em 1985, já no início da chamada Nova Republica, após 20 anos de regime militar, transformado na fundação educar (1986-1990). Esta, em muitos sentidos, representou a continuidade do mobral. Deve-se levar em conta algumas mudanças significativas, das quais é digna de destaque a sua subordinação a estrutura do MEC e sua transformação em órgão de fomento e apoio técnico, ao invés de instituição de execução direta. Contraditoriamente, apesar de o MEC apresentar um discurso favorável a fundação, gradativamente foi-se percebendo um processo de desmonte até seu fechamento. Com a extinção da fundação, a maior parte das atividades da EJA, no âmbito governamental, ficou praticamente suspensa, dada a precariedade de recurso, de incentivos e até mesmo de apoio técnico. 
No governo Collor, nos anos 90, um novo sentido das políticas para EJA começa a se delinear, utilizando um discurso que valorizava o combate ao analfabetismo, em resposta ao Ano internacional da alfabetização, convocado pela UNESCO, criou-se o Programa Nacional de Alfabetização e cidadania (PNAC), que não teve nenhuma ação expressiva. O PNAC foi caracterizado por sua grande divulgação nos meios de comunicação e por seu caráter, tido como demagógico. Tal programa se propunha a criar ações de alfabetização, por meio de comissões municipais, estaduais e nacionais. Na pratica, as comissões criadas tiveram pouco ou nenhum controle efetivo sobre os projetos apoiados e recursos distribuídos, causando mais alarde do que ações concretas, morrendo antes mesmo do seu efetivo nascimento, sem apoio financeiro e político, sendo simplesmente esquecidas. Era um avanço legal a questão da garantia do financiamento para alunos jovens e adultos, entretanto, muitos desafios para a implementação de uma efetiva política educacional pelos sistemas municipais e estaduais, para esse público, ainda seriam concretizados no ano 2000.
Nessa aula você:
Identificou e analisou as reformas e os projetos educacionais implementados pelos governos militares no campo da EJA no Brasil, com ênfase nos seus aspectos políticos e ideológicos; 
Estudou o processo histórico de surgimento de novos paradigmas políticos e pedagógicos na EJA, no contexto da redemocratização do país, e analisou as novas bases legais e curriculares implementadas na Educação de Jovens e Adultos a partir dos anos 90: a Constituição de 1988 e a LDB 9394/96.

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