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Universidade do Estado do Rio de Janeiro Centro de Tecnologia e Ciências Instituto de Geografia Iomara Barros de Sousa Geotecnologias e Recursos de Multimídia no Ensino de Cartografia: Percepção Socioambiental do Rio Alcântara no Município de São Gonçalo/RJ Rio de Janeiro 2014 Iomara Barros de Sousa Geotecnologias e Recursos de Multimídia no Ensino de Cartografia: Percepção Socioambiental do Rio Alcântara no Município de São Gonçalo/RJ Dissertação apresentada, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre, ao Programa de Pós- Graduação em Geografia, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Área de concentração: Globalização, Políticas Públicas e Reestruturação Territorial Orientador: Prof. Dr. André Reyes Novaes Rio de Janeiro 2014 CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ / REDE SIRIUS / BIBLIOTECA CTC/C Autorizo, apenas para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta tese. ______________________________________ ______________________ Assinatura Data S725 Sousa, Iomara Barros de. Geotecnologias e Recursos de Multimídia no Ensino de Cartografia: Percepção Socioambiental do Rio Alcântara no Município de São Gonçalo/ RJ - Iomara Barros de Sousa. – 2014. 174 f.: il.color. + mapas Orientador: André Reyes Novaes. Dissertação (Mestrado) - Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Instituto de Geografia. Bibliografia. 1Cartografia – Processamento de dados - Teses. 2. Geografia – Estudo e ensino - Teses. 3. Solo – Uso – São Gonçalo (RJ) - Teses. 4. Educação ambiental – Teses. 5. São Gonçalo (RJ). I. Novaes, André Reyes. II. Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Instituto de Geografia. III. Título. CDU 528.9:681.783(815.3) Iomara Barros de Sousa Geotecnologias e Recursos de Multimídia no Ensino de Cartografia: Percepção Socioambiental do Rio Alcântara no Município de São Gonçalo/RJ Dissertação apresentada, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre, ao Programa de Pós- Graduação em Geografia, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Área de concentração: Globalização, Políticas Públicas e Reestruturação Territorial. Aprovada em 9 de abril de 2014. Orientador: Prof. Dr. André Reyes Novaes Instituto de Geografia - UERJ Banca Examinadora: ________________________________________________________ Prof. Dr. Hindenburgo Francisco Pires Instituto de Geografia - UERJ ________________________________________________________ Prof. Dr. Paulo Márcio Leal de Menezes Universidade Federal do Rio de Janeiro ________________________________________________________ Prof.ª Dra. Angelica Carvalho Di Maio Universidade Federal Fluminense Rio de Janeiro 2014 DEDICATÓRIA À Deus, aos meus queridos pais, aos meus irmãos e ao meu esposo. AGRADECIMENTOS À Deus toda honra e glória pela inspiração, força e saúde para superar os desafios e vencer os obstáculos desde o processo seletivo até a concretização desta pesquisa. Aos meus pais, Edeomar e Ivo pelo amor incondicional e apoio nas horas mais difíceis. Aos meus irmãos Iomar e Ivomar pela atenção no decorrer desta pesquisa. Ao meu esposo Sávio, pelo carinho, compreensão, incentivos e conselhos. Ao meu Orientador Prof. André Reyes Novaes pela confiança em minha capacidade para desenvolver esta dissertação e pelas orientações e ideias ao longo da pesquisa. Aos Professores do Programa de Pós-Graduação de Geografia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro pela construção de novos conhecimentos. Ao Professor Paulo Márcio Leal de Menezes que me acolheu prontamente desde as primeiras orientações para a realização desta pesquisa com seus incentivos e sua amizade. A Professora Angelica Carvalho Di Maio que, desde a graduação, sempre contribuiu com sua amizade, incentivos, críticas, conselhos e orientações para minha vida acadêmica. Ao Professor Hindenburgo Francisco Pires pelas contribuições, incentivos, sugestões e, principalmente pela amizade construída. A Professora Thaís Alves Gallo Andrade pela ajuda e sugestões na elaboração das bases cartográficas. A Secretaria Municipal de Educação de São Gonçalo/RJ pela autorização e apoio para aplicação dos testes avaliativos. A Diretora da Escola Municipal Raul Veiga, Sra. Márcia Arabela Aleluia Gomes pelo apoio à pesquisa. Ao Professor de Geografia Reinaldo Henrique Salvino da Escola Municipal Raul Veiga pela autorização, compreensão e apoio no decorrer dos testes avaliativos. A querida Dra. Maria Fernanda Reis Gavazzoni Dias pelo apoio, incentivo e amizade no decorrer desta investigação. As queridas amigas e companheiras Flávia Costa da Silva e Luiziana Simões de Almeida pelo apoio e compreensão. Aos Professores Dr. Manoel do Couto Fernandes da UFRJ e Gustavo Mota de Sousa da UFRRJ pelos conselhos e sugestões. Ao Professor Vinícius da Silva Seabra da FFP-UERJ pelo empréstimo do seu aparelho de GPS. Ao amigo Edgar Tonel Rossato pela ajuda em geoprocessamento. A todos meus amigos, muito obrigada pelo carinho e atenção. Speak a new language, so that the world will be a new world. Mawlana Jalal-ad-Din Muhammad Rum RESUMO SOUSA, Iomara Barros. Geotecnologias e Recursos de Multimídia no Ensino de Cartografia: Percepção Socioambiental do Rio Alcântara no Município de São Gonçalo/RJ. 2014. 174 f. Dissertação (Mestrado em Geografia) – Instituto de Geografia, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2014. A disponibilidade gratuita na Internet de imagens de satélite e SIG somada à facilidade dos alunos no manuseio de multimídia através dos seus smartphones criam possibilidades para trabalhar com geotecnologias e recursos de multimídia no ensino de Cartografia. Nesta pesquisa foram avaliadas as contribuições, os limites e as possibilidades da inserção da tecnologia espacial, geoprocessamento e recursos de multimídia nas aulas de Geografia do sétimo ano da rede pública municipal de São Gonçalo/RJ; foi desenvolvida uma metodologia em meio digital, por meio da Internet, denominada “Mapeando Meu Rio (MMR)” cuja temática abordada foi a Percepção Socioambiental do Rio Alcântara. Observaram-se o interesse e o envolvimento dos alunos no decorrer das atividades propostas, por meio do uso de recursos de multimídia e geotecnologias como materiais de apoio à Educação Ambiental. Os resultados da avaliação do MMR mostraram que os alunos chegaram ao final do sétimo ano com dificuldades em relação à alfabetização cartográfica; isso foi constatado tantona produção dos mapas mentais como também pela utilização do GPS, Google Earth e do ArcGIS Online. Os alunos tiveram dificuldades em utilizar os conhecimentos básicos da Cartografia para elaborar uma representação espacial, mais especificamente, legenda, coordenadas geográficas e orientação espacial. A alfabetização cartográfica não deve ser considerada como conteúdo que se restringe ao 6° ano, mas uma linguagem de comunicação para o entendimento da dinâmica espacial no decorrer do Ensino Fundamental e do Ensino Médio. As atividades geográficas deve permitir ao aluno melhorar a compreensão do espaço geográfico de uma maneira mais significativa para construir abstrações a partir da própria realidade, ou seja, do espaço vivido. Palavras-chave: Geotecnologias. Recursos de Multimídia. Ensino de Cartografia. Percepção socioambiental. ABSTRACT SOUSA, Iomara Barros. Geotechnologies and Multimedia Resources in the Teaching of Cartography: Socio-enviromental perception of Alcântara River in São Gonçalo/RJ. 2014. 174 f. Dissertation (Master degree in Geography) – Instituto de Geografia, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2014. The free accessibility to satellite images and GIS plus the students’ ability in handling multimedia on their own smartphones enable the use of geo-technologies and multimedia resources in teaching cartography. This research, has considered the input, limits and possibilities of employing space technology, geo-processing and multimedia resources in Geography classes for 7th-grade students in the public schools of São Gonçalo in Rio de Janeiro; a digital material has also been developed through the web, named “Mapeando Meu Rio (MMR)” or “Mapping My River (MMR)”, which addresses the issue of the socio- environmental perception of the Alcântara river. The interest and involvement from the students throughout the different activities proposed on the aforementioned methodology has been remarkable especially in the use of multimedia resources and geo-technologies as support material for the Environmental Education. Based on the MMR evaluation, 7th grade students have fallen short in their cartographic literacy at the end of their school year; this failure has been noticed both in their ability to make mental maps and in the handling of GPS, Google Earth and ArcGIS Online. When requested to produce a spatial layout on their own, students were not able to put into practice their basic knowledge of cartography, especially in the use of legends, geographical coordinates, and spatial orientation. The cartographic literacy should not be restrained to the syllabus of 7th grade classes; instead, it should be considered as a means of communication to the understanding of the spatial dynamics during the whole course of elementary and high school. All geography-based activities are meant to give students a better understanding of their geographical space, in such a way that they may be able to build meaningful abstractions from their own reality, that is, from their own living place. Keywords: Geotechnologies. Multimedia Resources. Cartography instruction. Socio-environmental perception. LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Figura 2 – Figura 3 – Figura 4 – Figura 5 – Figura 6 – Figura 7 – Figura 8 – Localização do município de São Gonçalo/RJ ....................................... Crescimento demográfico do município de São Gonçalo/RJ entre 1970 a 2010 ..................................................................................................... Mapa de Uso e cobertura do solo do município de São Gonçalo/RJ ..... Mapa da Bacia Hidrográfica do Rio Alcântara e suas sub-bacias no município de São Gonçalo/RJ ................................................................ Mapa de uso e cobertura do solo na Bacia do Rio Alcântara no município de São Gonçalo/RJ ................................................................ Trechos do Rio Alcântara no município de São Gonçalo/RJ ................. Potencialidades da Cartografia Web no Ensino de Geografia ............... Localização da Escola Municipal Raul Veiga no município de São Gonçalo/RJ.............................................................................................. 26 28 30 33 35 36 50 70 Figura 9 – Figura 10 – Figura 11 – Figura 12 – Figura 13 – Figura 14 – Figura 15 – Figura 16 Estrutura dos módulos do MMR ............................................................ Formação acadêmica dos docentes ........................................................ Materiais utilizados no Ensino de Cartografia ....................................... Uso de tecnologias digitais aplicadas à Cartografia na abordagem da temática ambiental................................................................................... Material didático sobre a questão ambiental do município de São Gonçalo/RJ ............................................................................................. Professores que desenvolvem Educação Ambiental............................... A inserção da Educação Ambiental nas aulas de Geografia de acordo com os PCNs do tema transversal: Meio Ambiente ............................... Aparelhos utilizados pelos alunos em seu cotidiano .............................. 75 82 83 85 86 87 87 88 Figura 17 – Figura 18 – Figura 19 – Figura 20 – Figura 21 – Figura 22 – Locais onde os alunos mais acessam a Internet em seu cotidiano.......... Tempo médio de acesso à Internet semanalmente ................................. Conteúdos acessados na Internet ............................................................ Atividade no Laboratório de Informática ............................................... Objetivos instrucionais da Taxonomia de Bloom de Domínio Cognitivo ................................................................................................ Página Principal do Mapeando Meu Rio ................................................ 89 90 90 91 92 92 Figura 23 – Figura 24 – Figura 25 – Figura 26 – Figura 27 – Figura 28 – Figura 29 – Texto interativo e o “item” Curiosidade” do Módulo 1.......................... Atividade do Módulo 1........................................................................... Participação dos alunos na atividade do Módulo 1 ............................... Tela do texto interativo: Explorando o Rio Alcântara em São Gonçalo/RJ ........................................................................................... Tela do texto interativo: Rio Alcântara .................................................. Atividade I – Módulo 2 .......................................................................... Atividade II – Módulo 2 ......................................................................... 94 98 99 101 102 105 106 Figura 30 – Figura 31 – Figura 32 – Figura 33 – Figura 34 – Alunos e o Professor de Geografia participando do trabalho de campo. Atividade referente ao Módulo 3............................................................ Pr Produção textual do Módulo 3................................................................ Alunos fazendo as etapas da atividade do Módulo 3 no Laboratório de Informática............................................................................................. Alunos da turma 701 utilizando GPS no pátio da escola ....................... 107 112 114 115 118 Figura 35 – Figura 36 – Figura 37 – Figura 38 – Figura 39 – Mapas elaborados no Google Earth ....................................................... Alunos da turma 702 utilizando no GPS no pátio da escola ................. Mapas elaborados no Google Earth ...................................................... Mapas mentais e a natureza “intocada” pelo homem - turma 701.......... Mapas mentais e a proximidade da “realidade” socioambiental do canal do Rio Alcântara - turma 701........................................................ 120 121 124 126 127 Figura 40 – Figura 41 – Figura 42 – Figura 43 – Figura 44 – Figura 45 – Figura 46 – Figura 47 – Mapas mentais e a natureza “intocada” pelo homem da turma 702 ....... Mapas mentais e a proximidade da “realidade” socioambiental do canal do Rio Alcântara - turma 702........................................................ Percepção socioambiental dos alunos da turma 701 em relação ao canal fluvial do Rio Alcântara que percorre próximo à escola .............. Percepção socioambiental dos alunos da turma 702 em relação ao canal fluvial do Rio Alcântara que percorre próximo à escola .............. A qualidade das águas do canal do Rio Alcântara afeta a sua vida? turma 701................................................................................................. Como você vê a qualidade das águas deste Rio? - turma 701 ................ A qualidade das águas do canal do Rio Alcântara afeta a sua vida? turma 702 ................................................................................................ Como você vê a qualidade das águas deste Rio? - turma 702 ................ 128 129 131 132 133 134 134 135 Figura 48 – Figura 49 – Figura 50 – Figura 51 – Figura 52 – Figura 53 – Figura 54 – Figura 55 – Figura 56 – Figura 57 – Figura 58 – Figura 59 – Figura 60 – Figura 61 – Figura 62 – Figura 63 – Identificação da nascente e da foz do Rio Alcântara no Mapa Base OpenStreetMap ....................................................................................... Percentual da identificação da nascente e da foz do Rio Alcântara - turma 701................................................................................................. Identificação dos bairros que percorrem o curso principal do Rio Alcântara ................................................................................................ Fontes de poluição do canal fluvial próximo à escola ........................... Mídias produzidas pelos alunos sobre o canal do Rio Alcântara próximo à escola...................................................................................... Soluções propostas pelos alunos para despoluir o canal fluvial ............. Análise e interpretação para despoluir o canal do Rio Alcântara .......... Análise e interpretação para despoluir o canal do Rio Alcântara .......... Identificação da nascente e da foz do Rio Alcântara no Mapa Base OpenStreetMap ....................................................................................... Percentual da identificação da nascente e da foz do Rio Alcântara ....... Identificação dos bairros que percorrem o curso principal do Rio Alcântara ................................................................................................ Fontes de poluição do canal fluvial próximo à escola ........................... Mídias produzidas pelos alunos sobre o canal do Rio Alcântara próximo à escola ..................................................................................... Soluções propostas pelos alunos para despoluir o canal fluvial ............. Análise e interpretação de propostas para despoluir o canal do Rio Alcântara ................................................................................................ Médias bimestrais das turmas participantes ........................................... 136 137 138 139 140 141 142 143 144 145 145 147 148 149 144 150 152 LISTA DE QUADROS Quadro 1 – Quadro 2 – Quadro 3 – Quadro 4 – Quadro 5 – Quadro 6 – Conteúdos e os Objetivos: Módulo 1........................................................ Conteúdos e os Objetivos: Módulo 2 ....................................................... Conteúdos e os Objetivos: Módulo 3 ....................................................... Estrutura do módulo 1: Aplicando novas tecnologias à Cartografia ....... Estrutura do módulo 2: Explorando o Rio Alcântara em São Gonçalo/RJ ............................................................................................... Estrutura do módulo 3: Percepção Socioambiental do Rio Alcântara em São Gonçalo/RJ ........................................................................................ 77 77 78 93 100 108 LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Tabela 2 – Tabela 3 – Tabela 4 – Tabela 5 – Tabela 6 – Tabela 7 – Estado atual do uso do solo e cobertura vegetal no município de São Gonçalo/RJ.................................................................................................... Multimídias e os potenciais das inteligências múltiplas ............................. Tempo de magistério ................................................................................... Plano de aula referente ao Módulo 1 ........................................................... Plano de aula referente ao Módulo 2 ........................................................... Plano de aula referente ao Módulo 3 .......................................................... Atividade correspondente à população de cada bairro e sua respectiva área (Km²) .................................................................................................... 31 56 82 96 103 110 113 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS IBGE INEA PMSG MEC SMF Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística Instituto Estadual do Ambiente Prefeitura Municipal de São Gonçalo Ministério da Educação Secretaria Municipal de Fazenda SUMÁRIO INTRODUÇÃO.............................................................................................. 17 1 O RIO ALCÂNTARA NO MUNICÍPIO DE SÃO GONÇALO/RJ: ASPECTOS FÍSICOS E AMBIENTAIS E O USO E OCUPAÇÃO DO SOLO.............................................................................................................. 23 1.1 Breve contextualização do Município de São Gonçalo/RJ........................ 25 1.2 Caracterização da Bacia Hidrográfica do Rio Alcântara, município de SãoGonçalo/RJ.............................................................................................. 32 1.3 A situação ambiental do Rio Alcântara....................................................... 34 2 PRÁTICAS PEDAGÓGICAS E O USO DA REPRESENTAÇÃO ESPACIAL NA EDUCAÇÃO AMBIENTAL.............................................. 38 2.1 A linguagem cartográfica na Educação Ambiental formal: o estudo dos rios no terceiro ciclo do Ensino Fundamental............................................. 39 2.2 O Mapa Mental como recurso didático-pedagógico para a percepção socioambiental................................................................................................. 43 2.3 Práticas pedagógicas e tecnologias aplicadas à Cartografia como materiais de apoio à Educação Ambiental............................................. 46 3 NOVAS TECNOLOGIAS APLICADAS À CARTOGRAFIA NO ENSINO DE GEOGRAFIA........................................................................... 49 3.1 Mapas na WEB (webmapping)....................................................................... 49 3.2 Cartografia Multimídia.................................................................................. 52 3.2.1 Interatividade e Cartografia Multimídia........................................................... 57 3.3 Geotecnologias aplicadas ao ensino da Geografia....................................... 58 3.3.1 O Sistema Global de Navegação por Satélite (GNSS) .................................... 60 3.3.2 Os Globos Virtuais (Google Earth) ................................................................. 61 3.3.3 O Sistema de Informações Geográficas- o uso do ArcGis Online................... 63 3.4 Os Parâmetros Curriculares Nacionais de Geografia no Ensino Fundamental: Cartografia Digital e Geoprocessamento............................ 65 4 CAMINHOS DA PESQUISA: PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS..................................................................................... 68 4.1 Abrangência da pesquisa............................................................................... 68 4.2 Levantamento e análise dos materiais cartográficos utilizados na abordagem do meio ambiente no ensino da Geografia............................... 71 4.3 Levantamento das tecnologias digitais utilizadas pelos alunos em seu dia a dia............................................................................................................ 71 4.4 O Mapeando Meu Rio.................................................................................... 72 4.4.1 Escolha dos conteúdos ..................................................................................... 74 4.4.2 Divisão dos módulos de Ensino........................................................................ 76 4.4.2.1 Módulo 1: Aplicando novas tecnologias digitais à Cartografia........................ 76 4.4.2.2 Módulo 2: Explorando o Rio Alcântara em São Gonçalo/RJ........................... 77 4.4.2.3 Módulo 3: Percepção Socioambiental do Rio Alcântara em São Gonçalo/RJ........................................................................................................ 78 4.5 Critérios utilizados para avaliação do Mapeando Meu Rio....................... 78 5 RESULTADOS E DISCUSSÕES.................................................................. 81 5.1 Análises do questionário aplicado aos professores...................................... 81 5.2 Análise do questionário aplicado aos alunos ............................................... 88 5.3 Mapeando Meu Rio (MMR).......................................................................... 91 5.3.1 Módulo 1: Aplicando novas tecnologias à Cartografia.................................... 93 5.3.2 Módulo 2: Explorando o Rio Alcântara em São Gonçalo/RJ........................... 99 5.3.3 Módulo 3: Percepção socioambiental do Rio Alcântara em São Gonçalo/RJ....................................................................................................... 108 5.4 Desafios e Dificuldades enfrentados na aplicação do Mapeando Meu Rio ................................................................................................................... 116 5.4.1 Avaliação do módulo 1: Aplicando novas tecnologias à Cartografia............... 117 5.4.1.1 Avaliação do módulo 1: turma 701.................................................................. 117 5.4.1.2 Avaliação do módulo 1: turma 702.................................................................. 121 5.4.2 Avaliação do módulo 2: Explorando o Rio Alcântara em São Gonçalo/RJ..... 125 5.4.2.1 Avaliação do módulo 2 referente aos mapas mentais....................................... 125 5.4.2.1.1 Análise e interpretação dos mapas mentais: turma 701.................................... 126 5.4.2.1.1.1 Análise dos mapas mentais referente ao Grupo 1: Mapa mental e a natureza “intocada” pelo homem.................................................................................... 126 5.4.2.1.1.2 Análise dos mapas mentais referente ao Grupo 2: Mapa mental e a proximidade da “realidade” socioambiental do canal do Rio Alcântara.......... 127 5.4.2.1.2 Análise e interpretação dos mapas mentais: turma 702.................................... 128 5.4.2.1.2.1 Análise dos mapas mentais referente ao Grupo 1: Mapa Mental e a natureza “intocada” pelo homem.................................................................................... 128 5.4.2.1.2.2 Análise dos mapas mentais referente ao Grupo 2: Mapa mental e proximidade da “realidade” socioambiental do canal do Rio Alcântara.......... 129 5.4.2.2 Análise da “Minha percepção socioambiental do Rio Alcântara”................... 130 5.4.2.2.1 Análise da “Minha percepção socioambiental do Rio Alcântara”: turma 701.................................................................................................................. 130 5.4.2.2.2 Análise da “Minha percepção socioambiental do Rio Alcântara”: turma 702.................................................................................................................... 131 5.4.2.3 Avaliação da percepção socioambiental feita pelos alunos.............................. 132 5.4.2.3.1 Análise do questionário aplicado aos moradores e/comerciantes referente à turma: 701......................................................................................................... 133 5.4.2.3.2 Análise do questionário aplicado aos moradores e/comerciantes referente à turma: 702......................................................................................................... 134 5.4.3 Avaliação do módulo 3: Percepção Socioambiental do Rio Alcântara em São Gonçalo/RJ................................................................................................ 135 5.4.3.1 Avaliação do módulo 3: turma 701.................................................................. 135 5.4.3.2 Avaliação do módulo 3: turma 702.................................................................. 143 5.4.4 Análise comparativa dos resultados entre as turmas 701 e 702 da Escola Municipal Raul Veiga....................................................................................... 151 CONCLUSÃO................................................................................................. 154 REFERÊNCIAS.............................................................................................. 160 APÊNDICE A – Questionário aplicado aos professores................................. 171 APÊNDICEB – Questionário aplicado aos alunos........................................ 172 APÊNDICE C – Minha percepção do Rio Alcântara...................................... 173 APÊNDICE D – Questionário aplicado aos moradores e/ou comerciantes.... 174 17 INTRODUÇÃO O atual processo de globalização está fundamentado no meio técnico-científico- informacional que, por sua vez, se caracteriza por uma racionalidade do espaço geográfico, em que as técnicas no mundo de hoje se assentam numa ordem social planetária imprimindo novas relações entre o espaço e o tempo, conforme aponta Santos (2009). Com o aperfeiçoamento da Internet e o advento das geotecnologias como Sensoriamento Remoto, Sistema Global de Navegação por Satélite (GNSS) 1 e o Sistema de Informações Geográficas (SIG) 2 surgem novos métodos, técnicas, materiais e instrumentos aplicados ao processo de mapeamento os quais contribuem para a elaboração de mapas mais precisos e produzidos em menor tempo. Robinson et al. (1995) acrescentaram que estes novos mapas possuem maior flexibilidade para atualizar, manipular, modificar a estrutura, o armazenamento e a distribuição das informações espaciais como diz Ramos (2005). Mudanças tecnológicas criaram novas oportunidades para representar a superfície terrestre em meio digital. De acordo com Peterson (2007), a combinação de mapas com recursos de multimídia (foto, vídeo, texto) ou com outros mapas é conhecida como Cartografia Multimídia. Segundo Ramos e Gerardi (2002), a Cartografia Multimídia imprime nova relação entre o leitor e o mapa permitindo ao usuário interagir com o mapa ao combinar foto, vídeo, texto o que facilita o entendimento da dinâmica do espaço geográfico. Desde meados de 1990, a apropriação da Cartografia pela Internet denominada de Cartografia Web tem possibilitado maior democratização em relação ao acesso e a elaboração de mapas se comparado aos documentos cartográficos em papel. Peterson (1995) mostra que a obtenção de dados e informações espaciais tem ocorrido em curto espaço de tempo permitindo ao usuário escolher uma localização para mapear, incluir informações geográficas, de acordo com os seus interesses e necessidades. Em conformidade com Menezes (2003), a grande contribuição da Internet no processo de mapeamento é a possibilidade da interface de multimídia com outros mapas e a previsão de informações pela disseminação de dados. De acordo com Crampton e Krygier (2008), novas perspectivas da Cartografia tem contribuído para o crescimento da produção de mapas fora dos limites acadêmicos criando 1 A sigla correspondente na tradução é: “Sistema Global de Navegação por Satélite (GNSS).” O GPS é um instrumento de navegação e posicionamento na superfície terrestre que funciona por meio do sistema. 2 A sigla original correspondente na tradução é: “Geographic Information System (GIS)”. 18 oportunidades para as pessoas elaborarem seu próprio mapa a partir do espaço vivido que, segundo Merleau-Ponty (2006), possibilita fazer reflexões sobre sua orientação no mundo. Gartner (2009) afirma que a popularização da web 2.0 proporcionou maior interatividade, colaboração e participação do usuário no processo de mapeamento, como escrevem November, Camacho-Hübner e Latour (2010), por meio dos mapas interativos como um SIG, mapas de ruas na Internet o que permite ao indivíduo “percorrer” dentro dos mapas como ressalta Peterson (1997). Todavia, a maioria da população não apreendeu os elementos básicos da Cartografia (orientação espacial, legenda, escala e coordenadas geográficas) para elaborar e ler mapas em papel ou em meio digital, conforme afirma Elzakker (2001), embora representações espaciais estejam presentes no cotidiano dos indivíduos através dos telejornais, revistas, livros, sites de busca, dentre outras mídias. Uma justificativa quanto às limitações das pessoas para elaborar e ler representações espaciais se deve as formas empregadas no ensino de Cartografia nas aulas de Geografia em que, muitas vezes, os mapas são usados para “ilustrar” conteúdos geográficos seja pendurado no quadro ou, mesmo impressos para colorir, o que representa uma realidade estática e com informações desatualizadas. Segundo Seemann (2003, p.24), os “mapas de leitura” possuem “[...] possíveis distorções, deformações, generalizações, simplificações”, ou seja, estes mapas não tem significado, como ressaltam Almeida e Passini (2005), para o uso na prática cotidiana dos indivíduos. Desta forma, as tarefas mecanicistas no Ensino de Cartografia, como pintar ou localizar fatos e fenômenos geográficos nos mapas e, ainda escrever nome de países, oceanos, lugares em mapas impressos prontos, acabados e estáticos, como assinala Wiegand (2005), não proporcionam ao aluno construir conhecimentos básicos da Cartografia. A disponibilidade gratuita na Internet de imagens de satélite e SIG somada à facilidade, por exemplo, do educando para obter foto ou registrar vídeo e som de uma dada área da superfície terrestre através dos seus smartphones contribuem para desenvolver o Ensino de Cartografia mais interessante e envolvente ao considerar o aluno como ator da produção do conhecimento. O uso da linguagem cartográfica na Educação Ambiental através da utilização de dados e informações obtidas em formato multimídia e observações levantadas em campo possibilita ao aluno representar cartograficamente o meio ambiente a partir do contato físico com o meio que se vivencia e experimenta. 19 A integração entre Meio Ambiente e Cartografia oferece aos alunos possibilidades para representar fenômenos geográficos concomitantemente em seus aspectos físicos e sociais desde a percepção socioambiental do seu cotidiano até a correlação com outras escalas espaciais e temporais. De fato, o aluno precisa ser estimulado para refletir, compreender e reconhecer através da representação gráfica que, ele faz parte do meio ambiente por meio das suas ações e atitudes; por essa razão, escolheu-se a percepção socioambiental do Rio Alcântara no Município de São Gonçalo/RJ como temática ambiental das atividades cartográficas para a metodologia desenvolvida e avaliada nesta pesquisa. Neste sentido, o ensino de Cartografia deve ir além dos limites da Cartografia cartesiana, cálculo de escala e coordenadas geográficas (latitude e longitude); o aluno deve representar seus conhecimentos geográficos, tendo como ponto de partida suas experiências com o meio ambiente, como aponta Tuan (1983). As atividades cartográficas devem ser desenvolvidas tomando o aluno como sujeito participativo ao representar graficamente suas percepções, impressões e associações espaciais, a partir das relações intersubjetivas do seu espaço de vivência, como assinala Holzer (1999), envolvendo os sentidos que estão impregnados de lembranças e significados em conformidade com Lynch (2011). A Cartografia Digital se mostra como grande potencial para trabalhar a Educação Ambiental, porém deve ser considerada a capacidade cognitiva e o nível de conhecimento geográfico e cartográfico do aluno com o intuito de proporcionar o desenvolvimento da capacidade crítica dos mesmos, como demonstram Almeida e Passini (2005). Dessa maneira, busca-se formar cidadãos ativos e conscientes da realidade espacial, na medida em que, [...] o aluno pode “ver” esse espaço geográfico atualizado, observando-o, comparando e identificando suas transformações, o que causa uma grande impressão nos alunos e, a partir dos dados coletados por meio destas observações, pode-se criar a necessidade de se questionar, analisar e refletir sobre comoa realidade se apresenta. (CARVALHO, 2006, p.34) Esta pesquisa tem como objetivo principal desenvolver e avaliar uma metodologia para o sétimo ano do ensino fundamental baseada no uso de geotecnologias e recursos de multimídia aplicados à Cartografia no estudo da percepção socioambiental do Rio Alcântara, localizado no município de São Gonçalo/RJ. 20 Com o intuito de alcançar o objetivo geral, foram traçados os objetivos secundários que, por sua vez, definiram as etapas para o desenvolvimento da pesquisa: a) levantar dados sobre materiais e instrumentos aplicados à Cartografia e as práticas pedagógicas dos docentes de Geografia que lecionaram no sétimo de escolaridade da rede pública municipal de São Gonçalo/RJ no ano letivo de 2013 com relação à abordagem das questões ambientais no ensino de Geografia; b) identificar os diferentes usos das tecnologias digitais pelos alunos participantes da pesquisa; c) desenvolver o instrumento denominado “Mapeando Meu Rio” hospedado na Internet; d) aplicar em duas turmas do sétimo ano de escolaridade da rede pública de ensino, a metodologia desenvolvida como auxílio ao ensino de Cartografia; e) comparar os resultados dos testes aplicados em duas turmas do sétimo ano. Esta pesquisa se justifica pela ausência de material cartográfico interativo, por meio de tecnologias contemporâneas aos alunos (computador, smartphones, Internet), para o estudo do meio ambiente relativo ao município de São Gonçalo/RJ. Foram realizados testes avaliativos que apresentaram as contribuições, os limites e as possibilidades em relação ao uso de geotecnologias e recursos de multimídia aplicados ao ensino de Cartografia nas aulas de Geografia. Foi elaborado um material gratuito, por meio da Internet, denominado “Mapeando Meu Rio” (MMR) cuja temática abordou o Ensino de Cartografia e Percepção socioambiental do Rio Alcântara no município de São Gonçalo/RJ; este material está disponível no seguinte endereço eletrônico: http://www.mapeandomeusrios.com.br. Acrescenta-se que este material tem como temática a percepção socioambiental do Rio Alcântara a partir de um dos seus canais cujo recorte temporal remonta a expansão urbana desenfreada do município de São Gonçalo/RJ a partir da década de 1970 e suas consequências o meio ambiente, em especial, os recursos hídricos, notadamente o Rio Alcântara. Escolheu-se como estudo de caso, o sétimo ano de escolaridade, partindo do pressuposto que, os alunos tenham apreendido conhecimentos básicos da Cartografia (orientação espacial, legenda, escala e coordenadas geográficas), como também o conteúdo 21 curricular “Hidrografia” que integram ao terceiro ciclo (6º e 7º ano) do Ensino Fundamental, segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais de Geografia. De acordo com Simielli (2003) e Wiegand (2006), o educando do sétimo ano de escolaridade da educação básica que, está na faixa etária entre 11 a 13 anos, é capaz de localizar e analisar um fenômeno a partir do seu nível de desenvolvimento cognitivo formal, como demonstra Piaget e Inhleder (1978); assim, o aluno é capaz de conceber o espaço geográfico a partir de diferentes formas de representação espacial, de modo a codificar e decodificar as informações espaciais numa relação entre significados e significantes. Nesta fase escolar, os estudantes são capazes de trabalhar com mapas de maneira mais analítica porque eles compreendem a diferença entre termos geográficos (como forma e função) como também as tarefas que são definidas, como por exemplo, a diferença entre descrever e explicar. (WIEGAND, 2006, p.118). 3 Nesse sentido, foram delineadas as seguintes questões para esta pesquisa: Como os alunos e professores se relacionam com as tecnologias digitais dentro e fora da sala de aula? Qual é a percepção socioambiental dos alunos em relação ao Rio Alcântara localizado no município de São Gonçalo/RJ? Quais seriam as contribuições, os limites e os desafios do uso da Cartografia Digital para sensibilizar os alunos para questões socioambientais? Para responder estes questionamentos e aprofundar a problemática esboçada, a dissertação está estruturada em cinco capítulos. O primeiro capítulo desta dissertação trata da área de estudo cujo tema é “O Rio Alcântara no município de são Gonçalo/RJ: aspectos físicos e ambientais e o uso e ocupação do solo”. Foi realizada uma breve caracterização do município de São Gonçalo/RJ e os principais fatores que, nos últimos quarenta anos contribuíram para a atual situação socioambiental do município. A partir de artigos, livros, teses e bases cartográficas foram levantados dados e informações sobre o Rio Alcântara; assim foi possível gerar mapas com o objetivo de analisar os aspectos físicos e ambientais, como também o uso e ocupação do solo da Bacia Hidrográfica do Rio Alcântara; esta bacia encontra-se em médio estágio de degradação ambiental devido à atuação de fatores de ordem política e socioeconômica que favoreceram a expansão urbana desenfreada e desordenada ao longo deste recurso hídrico e, 3 O texto em língua estrangeira é: “ Students in this phase are able to work with maps more analytically because they understand the difference between geographical terms (such as settlement form and function) as well as the rubric of tasks they are set (for example, the difference between describe and explain).” 22 por conseguinte comprometeram a qualidade de suas águas. O segundo capítulo “Práticas pedagógicas e o uso da representação espacial na Educação Ambiental” buscou debater sobre a Cartografia e o Meio Ambiente no Ensino de Geografia. As discussões teórico-metodológicas sobre a linguagem cartográfica mostraram a importância da utilização de diferentes formas de representações gráficas na Educação Ambiental; esta pesquisa contemplou o mapa mental e o mapa digital por meio das geotecnologias e dos recursos de multimídia na abordagem referente ao rio. Sendo assim, é preciso que práticas pedagógicas sejam interativas e estimulantes no ensino da Cartografia para o estudo do meio ambiente integrando aspectos socioeconômicos e ambientais a partir da percepção do lugar vivido e dos conhecimentos geográficos do aluno. O terceiro capítulo “Novas tecnologias aplicadas à Cartografia no ensino de Geografia” fez uma abordagem teórico-metodológica a respeito das contribuições das novas tecnologias aplicadas ao ensino de Cartografia, especificamente a Cartografia Multimídia, Cartografia Web e as Geotecnologias como materiais de apoio ao ensino de Geografia no nível fundamental. A metodologia aplicada é apresentada no quarto capítulo “Caminhos da pesquisa: procedimentos metodológicos” que compreende a um questionário aplicado aos professores de Geografia da rede municipal de São Gonçalo/RJ para analisar suas práticas pedagógicas no ensino de Cartografia com relação à abordagem das questões ambientais do município. Além disso, foi aplicado um questionário aos alunos participantes da pesquisa para levantar informações sobre as tecnologias digitais utilizadas por eles no cotidiano antes da aplicação do MMR. Ambos os questionários forneceram subsídios para aplicação e, análises para os testes avaliativos. Ainda, foram descritos os procedimentos utilizados na produção do Mapeando Meu Rio, objetivos e conteúdos de cada módulo: (1) Aplicando novas tecnologias à Cartografia, (2): Explorando o Rio Alcântara em São Gonçalo/RJ e (3) Percepção Socioambiental do Rio Alcântara em São Gonçalo/RJ. Os resultados obtidos estão no quinto capítulo que apresenta as análises dos questionários,a produção do Mapeando Meu Rio e a aplicação dos três módulos deste material; por último, este capítulo trouxe uma análise comparativa entre as turmas participantes. Os resultados dos testes avaliativos foram importantes para verificar as contribuições, os limites e os desafios do uso das geotecnologias e recursos de multimídia no Ensino de Cartografia para as aulas de Geografia na rede pública de ensino. 23 1 O RIO ALCÂNTARA NO MUNICÍPIO DE SÃO GONÇALO/RJ: ASPECTOS FÍSICOS E AMBIENTAIS E O USO E OCUPAÇÃO DO SOLO A demanda por novos espaços de produção e consumo relegou a natureza em segundo plano em nome do progresso e da modernização, “ditada” pelas regras do modo de produção capitalista o que culminou na crise ambiental iniciada na década de 1960. Com o passar dos anos, em nome da modernidade, urbanização e industrialização impostas os agentes modeladores do espaço geográfico que, segundo Lobato (1995), são formados pelos promotores imobiliários, os agentes governamentais, os donos dos meios de produção, sobretudo, os grande industriais que sobrepuseram à natureza, valores sociais, princípios e hábitos sobre os recursos naturais. Dentro desse contexto, encontra-se a criação das regiões metropolitanas brasileiras, como por exemplo, a Região Metropolitana no Rio de Janeiro 4 que, nos primeiros anos após sua consolidação que, foi em 1974, já apresentava sinais de forte tendência à concentração populacional. Em consonância com Holz e Monteiro (2008), o modo desigual da produção capitalista impossibilitou grande parte da população ao acesso à moradia que foi oprimida e “castigada” pelos processos de segregação e degradação ambiental. O fator demográfico não é culpado pela degradação dos recursos naturais, mas consequência dos interesses que envolvem as políticas públicas relacionadas ao uso e ocupação do solo que, na maioria das vezes, não buscam conciliar crescimento urbano com preservação da fauna e flora local. Neste sentido, encontra-se o município de São Gonçalo localizado na Região Metropolitana do Estado do Rio de Janeiro. A partir da década de 1970, São Gonçalo tem sido cada vez mais, ocupado por um grande contingente populacional sem que haja, por parte do governo municipal, uma preocupação com o meio ambiente, conforme constatou Andrade (2011, p. 8), “[...] descontinuidade das ações públicas, de interesses políticos e financeiros desarticulados das demandas socioambientais, da falta de infraestrutura técnica e financeira [...], da pouca participação social no planejamento [...]”. Estes fatores comprometeram a dinâmica de funcionamento e a qualidade dos recursos hídricos. Hoje, todas as bacias hidrográficas do município se encontram em médio a alto 4 A Lei Complementar 20/1974 da Constituição de 1967 consta no Art.19 - parágrafo único- “A Região Metropolitana do Rio de Janeiro constitui-se dos seguintes Municípios: Rio de Janeiro, Niterói, Duque de Caxias, Itaboraí, Itaguaí. Magé, Maricá, Nilópolis, Nova Iguaçu, Paracambi, Petrópolis, São Gonçalo, São João de Meriti e Manguaratiba. Hoje, essa região engloba os municípios de Japeri, Mesquita, Guapimirim, Cachoeiras de Macacu e Rio Bonito. 24 índice de degradação de suas águas o que tem afetado a qualidade de vida da população e, também a fauna e flora local. Dentre as bacias hidrográficas que estão nesse quadro ambiental crítico encontra-se a Bacia Hidrográfica do Rio Alcântara, localizada na região central do município de São Gonçalo/RJ, onde predomina ocupação urbana de média e alta intensidade. Este capítulo trata do Rio Alcântara, área de estudo escolhida para a elaboração e aplicação do Mapeando Meu Rio, que é o principal rio da Bacia do Rio Alcântara, a maior do município (88,5Km²) que está localizada entre as coordenadas geográficas (ϕ=22° 53´32.80´´S, ϕ=22° 44´19.84´´S e λ=43° 00´50.52´´O, λ=43° 00´13.50’’O). A escolha do Rio Alcântara como objeto de estudo esteve relacionada aos seguintes fatores: acesso as informações e bases cartográficas fornecidas pela Secretaria Municipal de Fazenda da PMSG/RJ, abrangência geográfica deste Rio que percorre 14 bairros com uma densidade demográfica (4.677 hab/Km²) e, ainda a importância socioeconômica do bairro com mesmo nome deste Rio. Primeiramente, realizou-se uma breve contextualização do município de São Gonçalo/RJ no intuito de apresentar os principais condicionantes naturais e sociais responsáveis pela atual situação ambiental dos rios no município, em especial, o Rio Alcântara. Em seguida, foi realizada a caracterização dos aspectos físicos e ambientais como clima, vegetação, a geomorfologia e as formas de ocupação e uso do solo da Bacia do Rio Alcântara; além disso, foram realizadas observações em campo e obtenção de dados junto à Secretaria Municipal de Fazenda de São Gonçalo/RJ como imagens do satélite QuickBird (2006) e bases cartográficas referente a esta unidade ambiental. Dessa forma, foi possível analisar o atual quadro físico-ambiental do Rio Alcântara e os diferentes tipos de uso e ocupação do solo, como também os fatores que contribuíram para sua fragilidade ambiental e as consequências para a população e a fauna e flora local. Neste sentido, torna-se importante o desenvolvimento da Educação Ambiental na disciplina de Geografia da rede municipal de ensino de São Gonçalo/RJ a partir da linguagem cartográfica para representar a espacialidade do processo de ocupação e, por conseguinte degradação socioambiental da Bacia Hidrográfica do Rio Alcântara e, buscar possíveis soluções ou ações para minimizar a poluição das águas desta bacia. 25 1.1 Breve contextualização do Município de São Gonçalo/RJ O município de São Gonçalo/RJ está localizado na orla oriental da Baía de Guanabara e possui uma área de 248,7 Km² dividida em cinco distritos (São Gonçalo, Ipiíba, Monjolos, Neves e Sete Pontes) que juntos formam noventa bairros, conforme aponta Braga (1998). A Figura 1 apresenta a localização do município de São Gonçalo/RJ. 26 Figura 1- Localização do município de São Gonçalo/RJ . 27 A ocupação do município de São Gonçalo/RJ foi iniciada a partir de 1579 com a doação da sesmaria ao português Gonçalo Gonçalves. O desbravamento de São Gonçalo/RJ esteve atrelado, assim como no restante do Brasil Colonial, aos ciclos econômicos da cana-de- açúcar e, posteriormente do café e, em menor escala a outros cultivos até meados do século XIX, segundo os estudos realizados pela historiadora Braga (1998). Em 22 de setembro de 1890, São Gonçalo se emancipou do município de Niterói e, suas atividades econômicas permaneceram atreladas as atividades agrícolas até meados do século XX. Nos anos de 1940, o município de São Gonçalo passou por importante desenvolvimento econômico com a instalação de um parque industrial diversificado com ênfase no setor químico, naval, tornando-se a área industrial mais importante do Estado do Rio de Janeiro e, até mesmo do país. Por essa razão, o município chegou a ser conhecido como “Manchester fluminense” 5 conforme aponta Braga (1998). Ao final de 1960, muitas indústrias encerraram suas atividades o que provocou uma diminuição da oferta de empregos no município; entretanto, muitos trabalhadores permaneceram com suas moradias em São Gonçalo/RJ. Sobre os manguezais, as lagunas de maré, a foz dos rios Bomba, Guaxindiba e Marimbondo, o município de São Gonçalo mantinha, até a década de 1970, quase todo o litoral natural e despovoado, com seus ecossistemas lagunar, manguezal e seus brejospreservados com rios navegáveis. Amador (1996) aponta que toda a exuberância natural de São Gonçalo/RJ foi rapidamente ocupada por bairros proletariados e favelas. Mendonça (2007) afirma que a construção dos trechos da Rodovia Estadual (RJ-104 e RJ-106) na década de 1950, da Rodovia Federal BR-101 (trecho Niterói-Manilha) entre os municípios de Niterói e Itaboraí/RJ em 1968 e, principalmente com a inauguração da Ponte Rio Niterói em 1974 foram fatores que contribuíram para “explosão” demográfica de São Gonçalo/RJ. A partir da década de 1970 a população de São Gonçalo/RJ passou de aproximadamente de 430.271 mil habitantes em 1970 e, atualmente o município abriga mais de um milhão de habitantes, tornando o segundo município mais populoso do Estado do Rio de Janeiro segundo dados fornecidos pelo IBGE (2012). A Figura 2 apresenta o crescimento populacional de São Gonçalo/RJ entre 1970 a 2010. 5 A denominação de São Gonçalo como Manchester foi motivada pela pujança industrial do município em relação ao estado do Rio de Janeiro como ocorreu com a cidade inglesa de Manchester durante o período da Revolução Industrial. 28 Figura 2 - Crescimento demográfico do Município de São Gonçalo/RJ entre 1970 a 2010 Fonte: IBGE, 2012. Outros fatores como o baixo preço dos terrenos associados aos desmembramentos de loteamentos sem legislações específicas, a posição e a proximidade geográfica com a capital do Rio de Janeiro 6 , a localização intermediária entre a capital e o interior do Estado, como também a presença de linha férrea que ligava Niterói a Itaboraí cortando São Gonçalo/RJ contribuíram para a forte migração populacional para o município. O aumento significativo da população sem que houvessem infraestrutura e saneamento básico associado a frágil legislação que regulamentasse o uso e ocupação do solo, comprometeram enormemente o meio ambiente. Densas áreas verdes desapareceram, rios foram canalizados ou comprometidos por desmatamento das suas encostas, construções às margens ou mesmo dentro do leito dos rios ocuparam extensas áreas de mata galeria; vários trechos dos canais fluviais foram aterrados e, deram lugar às residências ou estão assoreados com excesso de matéria orgânica devido à ausência de sistema de tratamento de esgoto e o acesso à água tratada em muitos bairros do município; observa-se também a ocorrência de enchentes resultante do lançamento de resíduos sólidos nos rios devido à coleta de lixo inadequada ou mesmo inexistentes em vários bairros. 6 Entre 1960 a 1975, o atual território da capital do Estado do Rio de Janeiro, a cidade do Rio de Janeiro, constitui o estado da Guanabara. 29 As pesquisas realizadas por Silva (2012) apontam que São Gonçalo atualmente possui apenas 68% dos domicílios atendidos pelo sistema de saneamento básico, o que mostra a ineficiência ou mesmo a ausência de políticas públicas que conciliem crescimento urbano e preservação dos recursos naturais; isso, afeta a saúde da população devido aos riscos de doenças, comprometem a fauna e a flora e, se torna uma ameaça as áreas remanescentes de vegetação do município, como os manguezais. A Figura 3 mostra o mapa atual de uso e cobertura do solo do município. 30 Figura 3- Mapa de uso e cobertura do solo do município de São Gonçalo/RJ 31 A partir da análise do mapa de “Uso e cobertura do solo do município de São Gonçalo/RJ” representado na figura 3 observou-se o predomínio de ocupação urbana entre média e alta densidade demográfica em São Gonçalo/RJ, conforme mostra a tabela 1: Tabela 1: Estado atual do uso do solo e cobertura vegetal no município de São Gonçalo/RJ USO Área Percentual Agricultura 71,8701 0,29% Água 61,1949 0,25% Áreas úmidas 6,9942 0,03% Floresta 3206,9191 12,98% Mangue 2216,8529 8,97% Ocupação Urbana de Alta Densidade 4492,005 18,18% Ocupação Urbana de Baixa Densidade 298,2096 1,21% Ocupação Urbana de Média Densidade 6624,6321 26,81% Pastagem 6318,0739 25,57% Pastagem em Várzea 247,7351 1,00% Reflorestamento 4,1447 0,02% Solo exposto 29,6051 0,12% Vegetação Secundária em Estágio Inicial 1130,5119 4,58% Total Geral 24708,749 100,00% Fonte: INEA, 2010. Os dados extraídos da tabela mostra que a maior parte do uso do solo no município de São Gonçalo é caracterizada pela ocupação urbana. As áreas de florestas correspondem aos manguezais (ao norte) e as serras (ao sudeste e ao sudoeste do município). A vulnerabilidade da ocupação urbana em São Gonçalo/RJ é decorrente, principalmente de legislações urbanas frágeis que favoreceram o uso intensivo do solo por moradias ao longo das Rodovia Federal BR-101 (trecho Niterói – Manilha) e as Rodovias Estaduais RJ-106 e RJ-104; soma-se a insuficiência de serviços de fiscalização e mecanismos de dragagem e desassoreamento dos rios aliado aos padrões precários das construções; todos esses fatores contribuíram fortemente para a degradação socioambiental desta bacia hidrográfica no município. Diante dessa problemática ambiental, é preciso que as autoridades municipais em parceria com o governo estadual e o governo federal identifiquem os fatores de ordem natural e os fatores antrópicos, de modo a elaborar medidas mitigadoras para reduzir, por exemplo, o risco de enchentes e deslizamentos de encostas. Será necessário ampliar áreas verdes, fazer 32 realização de obras para contenção de encostas e dos rios e, com isso recuperar a mata ciliar e, se possível fazer, como salienta Botelho e Silva (2011, p. 108), “[...] remoção da população e de todo artefato urbano (vias, instalações de iluminação, prédios públicos etc.) que ocupam a planície de inundação” realocando em outros lugares. 1.2 Caracterização da Bacia Hidrográfica do Rio Alcântara, município de São Gonçalo/RJ Segundo Coelho Neto (1994), a bacia hidrográfica ou bacia de drenagem é uma superfície terrestre que drena água, sedimentos e materiais dissolvidos para uma saída comum (exutório), num determinado ponto de um canal fluvial. Os limites de uma bacia hidrográfica são conhecidos como divisor de drenagem ou divisão de águas. A pesquisadora Andrade (2011), em sua tese de doutorado, fez um levantamento sobre as políticas públicas de gestão dos recursos hídricos de São Gonçalo/RJ e, constatou que as bacias hidrográficas do município encontram com padrão de médio a alto grau de impermeabilização e poluição de suas águas. A Bacia Hidrográfica do Rio Alcântara está localizada na região central de São Gonçalo/RJ abrangendo cinquenta e três bairros do município. Devido à extensa rede de drenagem, esta bacia encontra-se dividida em Sub-bacia do Rio Guaxindiba e a Sub-bacia do Rio Goiana para melhor estudo e planejamento ambiental da sua área. A Figura 4 apresenta o mapa da Bacia do Rio Alcântara e suas sub-bacias no município de São Gonçalo/RJ. 33 Figura 4- Mapa da Bacia Hidrográfica do Rio Alcântara e suas sub-bacias no município de São Gonçalo/RJ 34 O Rio Alcântara, principal rio desta bacia, é afluente do Rio Guaxindiba e possui 29 km de extensão com uma rede de drenagem em torno de 130,3 km²; parte de suas nascentes está localizada no município de São Gonçalo/RJ e a outra parte selocaliza no município de Niterói/RJ. Possui padrão de drenagem meandrante junto à foz (encontro com o Rio Guaxindiba) devido à presença da Área de Proteção Ambiental (APA) de Guapimirim. A localização desta bacia em uma região de clima tropical com temperatura média anual de 26,5º C com média de pluviosidade anual em torno de 100 mm mensais (Coutinho, 2011) em uma planície flúvio-marinha onde predominam altitude entre 50 a 500 metros. Azevedo (2006) constatou que os tipos de solos atuantes no município são latossolo vermelho e amarelo, podzólico vermelho e amarelo, hidromórfico e halomórfico. Estas características físicas somadas à ocupação desordenada pela qual passou o município nas últimas quatro décadas facilitaram a ocorrência de problemas ambientais, como por exemplo, degradação socioambiental das águas do Rio Alcântara. 1.3 A situação ambiental do Rio Alcântara Com 29 km de extensão, o Rio Alcântara atravessa a região central do município de São Gonçalo/RJ e, atualmente apresenta assoreamento com águas sujas e poluídas que, segundo o Boletim de Qualidade das Águas da Região Hidrográfica V- Baía de Guanabara divulgado pelo INEA (2013) tem Índice de Qualidade da Água (IQANSF) ruim, ou seja, as águas estão impróprias para o abastecimento da população. A Figura 5 apresenta o uso e ocupação do solo da bacia do Rio Alcântara. 35 Figura 5- Mapa de uso e cobertura do solo na Bacia do Rio Alcântara no município de São Gonçalo/RJ 36 Ao analisar e interpretar o mapa de uso e cobertura do solo dessa bacia constatou-se que o Rio Alcântara caracteriza-se por média e alta densidade ocupação urbana de quase toda sua rede de drenagem. Em 2006, o município reelaborou o Plano Diretor Municipal Participativo (São Gonçalo, 2006), porém não foi observado nenhum regulamento de ocupação do solo ao longo do Rio para área urbana edificável. Inúmeros trechos de mata ciliar foram retirados do Rio Alcântara e, deram lugar a obras de retificação no curso principal, desvio de canais para construção de rodovias (Rodovia Federal BR-101 e a Rodovia Estadual RJ-104), estabelecimentos comerciais, pontes sobre seus canais, residências e, em menor escala espacial, as indústrias. Consequentemente, estas transformações nas redes de drenagem resultaram em impactos negativos como assoreamento, redução da profundidade do escoamento das águas; a presença de poucas galerias pluviais ao longo deste Rio e, quando existe encontram assoreadas que associadas à ausência de maiores dispositivos de captação das águas pluviais o que propicia a ocorrência de enchentes. A Figura 6 mostra trechos do Rio assoreado e concretado; esgoto lançado diretamente no curso principal. Figura 6- Trechos do Rio Alcântara no município de São Gonçalo/RJ Fonte: A autora, 2013. Ao observar a Figura 6, percebe-se o lançamento de esgoto e lixo sem nenhum tipo de tratamento lançados pelas construções localizadas à margem direita no leito do Rio o que agrava o quadro de poluição das águas deste rio. 37 A degradação ambiental do Rio Alcântara é resultado do descaso das autoridades governamentais locais com medidas de proteção aos recursos hídricos do município e, por conseguinte a falta do desenvolvimento de uma Política de Educação Ambiental nas escolas para conscientizar os alunos sobre a dinâmica e a importância dos rios para o meio ambiente com o objetivo de entender que o rio não é local para despejo de lixo, esgoto e moradias nas suas margens. Logo, torna-se importante a intervenção imediata do poder público juntamente com a inserção do tema transversal Meio Ambiente na grade curricular das instituições de ensino das redes públicas e privadas de São Gonçalo/RJ com o intuito de contribuir para ações e atitudes em busca da minimização ou, até mesmo recuperação das águas do Rio Alcântara e, de toda bacia. 38 2 PRÁTICAS PEDAGÓGICAS E O USO DA REPRESENTAÇÃO ESPACIAL NA EDUCAÇÃO AMBIENTAL Santos (1985) assinala que o processo de produção social do espaço deve ser compreendido concomitantemente em sua forma, função, estrutura e processo. Neste sentido, a Cartografia como uma linguagem, um sistema de códigos de comunicação, conforme aponta Castellar (2005), possibilita ao indivíduo representar o espaço geográfico nas mais diversas escalas espaciais e temporais, de acordo com seus interesses e necessidades o que permite melhorar a percepção e a compreensão dos fenômenos geográficos. Neste sentido, é preciso desmitificar a ideia de que os mapas prontos e acabados, em papel ou em meio digital, são verdades absolutas e inquestionáveis do espaço geográfico. Em consonância com Crampton e Krygier (2008), os mapas são representações da dinâmica espacial e, portanto são ativos; por sua vez, esta forma de representação espacial pode ser uma poderosa linguagem de comunicação gráfica para promover a transformação social. Cabe o seguinte questionamento: Como a Cartografia tem sido ensinada nas escolas? Como a linguagem cartográfica contribui para visualizar, interpretar e compreender os conhecimentos relativos ao meio ambiente? O ensino de Cartografia não deve se reduzir a métrica euclidiana, como coloca Lévy (2008, p.156), a “[...] abordagem euclidiana que se baseia numa visão cartesiana da extensão sobre a ideia de um espaço abstrato, independente dos objetos que nele se dispõem”, pois existem diferentes linguagens gráficas que permitem ao aluno representar o meio ambiente com suas subjetividades, valores, concepções e suas relações afetivas com o lugar. As práticas pedagógicas no ensino da Cartografia aplicadas à Educação Ambiental deve considerar o aluno como protagonista do processo de ensino-aprendizagem, sob a mediação do professor, a partir de atividades que estimulem e envolvam e, por conseguinte contribuam para a formação de cidadãos conscientes, críticos com o meio ambiente a partir do seu espaço cotidiano. Dessa forma, o objetivo do presente capítulo é entender a importância da Cartografia para o desenvolvimento de um projeto de Educação Ambiental para o ensino fundamental, a partir do uso de mapas mentais e do uso de tecnologias aplicadas à linguagem cartográfica, na abordagem referente ao rio como unidade temática ambiental. 39 2.1 A linguagem cartográfica na Educação Ambiental formal: o estudo dos rios no terceiro ciclo do Ensino Fundamental Os recursos hídricos são importantes fontes para a vida na Terra. Na Grécia Antiga, Tales de Mileto, filósofo pré-socrático ocidental, afirmava que água era a physis, “fonte originária”, o princípio de todas as coisas que existiam na Terra, concebendo desde então, a água como fonte de energia imprescindível para a manutenção e sustentação para a vida na Terra, conforme mostrou Souza (1996). Ao longo da história da humanidade, em meio à busca por novos espaços de ocupação, o homem converteu a natureza em meio de produção e, não se preocupou devidamente com o uso racional dos recursos hídricos; assim, construções irregulares foram feitas ao longo do leito dos rios, obras de canalização, retificação, alargamentos, desvio do curso natural dos rios sem considerar seus aspectos geológicos, geomorfológicos e hidrológicos, conforme apontam Botelho e Silva (2011). Embora no Brasil existam legislações referentes às políticas de recursos hídricos, como o Código das Águas (1934), Lei de Proteção das Florestas (1965)e a Lei de Proteção à Fauna (1967), Política e o Sistema Nacional de Meio Ambiente (SISNAMA) de (1981), Política Nacional de Recursos Hídricos (1997), o crescimento e o desenvolvimento das cidades brasileiras ao longo do século XX, em sua maior parte, não foram acompanhados por políticas públicas que buscassem conciliar urbanização e preservação da qualidade das águas preponderando, na maioria das vezes, uma visão racionalista ao invés de uma concepção preservacionista do meio ambiente, em especial, dos recursos hídricos. Os primeiros passos relacionados aos debates sobre o meio ambiente no Brasil, apesar das legislações direcionadas à proteção e ao uso racional dos recursos naturais, somente ocorreram com a promulgação da Constituição de 1988 que, no capítulo VI “Do Meio ambiente” da Constituição (1988, art. 225, § 1º) encontra-se a preocupação em, “[...] promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente”. Com a elaboração dos Parâmetros Curriculares Nacionais (Brasil, 1998) a temática ambiental passou a integrar o currículo da Educação Básica no Brasil, como um tema interdisciplinar, e permitiu o estudo do meio ambiente por meio de diferentes disciplinas (Geografia, Matemática, Ciências), conforme consta nos Parâmetros Curriculares Nacionais - Temas Transversais (Brasil, 1998, p. 193), “[...] os alunos construam a visão da globalidade 40 das questões ambientais é necessário que cada profissional de ensino, mesmo especialista em determinada área do conhecimento, seja um dos agentes da interdisciplinaridade que o tema exige”. Segundo a Política Nacional de Educação Ambiental (Brasil, 1999, Lei n.9795, Art. 10 § 1 o), “A educação ambiental não deve ser implantada como disciplina específica no currículo de ensino” nem tampouco não pode ser vista como um “capítulo suplementar”, como abordam Porcher, Ferrant e Blot (1975), dos conteúdos programáticos de Geografia considerando, em primeira instância, as características ambientais do espaço de vivência do aluno. A compreensão dos fenômenos geográficos está intimamente relacionada à Cartografia, uma linguagem de comunicação gráfica importante para o entender à espacialidade e compreender as relações complexas e dialéticas do espaço geográfico por meio de um conjunto de signos que tem uma ordem, ou seja, uma verdadeira informação, uma resposta visual dos fenômenos e, deve responder as três questões básicas propostas por Bertin e discutidos por Fonseca e Oliva (2013, p.112): 1. Num lugar qualquer, o que há?; 2. Um fenômeno qualquer, onde ele está? (...); 3. Para um fenômeno representado, qual é a sua distribuição espacial? E, com mais sofisticação: Nessa distribuição espacial, qual a ordem, ou então, quais as relações de proporcionalidade? As pesquisas no Brasil na área da Cartografia no ensino foram iniciadas por Oliveira (1977, p. 57) em sua tese de livre- docência “O Estudo Metodológico e Cognitivo do Mapa” na qual aborda que o ensino dos mapas “[...] deve estar inserido no processo geral do desenvolvimento mental” e, ainda a mesma autora acrescenta que “O mapa é definido, em educação, como um recurso visual a que o professor deve recorrer para ensinar Geografia e que o aluno deve manipular para aprender os fenômenos geográficos”. O mapa em papel é sem dúvida o recurso mais usado nas aulas de Geografia; entretanto, não pode ser o único instrumento para realização do estudo do meio devido outras formas de representação espacial em papel ou em meio digital. A Educação Ambiental desenvolvida no ensino de Cartografia deve contemplar uma perspectiva interdisciplinar envolvendo questões históricas, econômicas, ecológicas e, portanto, contribuindo para a formação de, conforme descreve Debesse-Arviset (1974, p.17), “[...] alunos preparados para compreender as interdependências que ligam a vida ao seu meio”. 41 Tristão (2008) ressalta a importância da interdisciplinaridade nas atividades realizadas em sala de aula envolvendo o meio ambiente através de uma concepção do conhecimento em rede, ou seja, a Geografia mantém em si seu objeto de estudo, que é o espaço geográfico e, ao mesmo tempo, há uma cooperação com outras disciplinas escolares para a compreensão das questões socioambientais. A práxis da Educação Ambiental no ambiente escolar deve considerar o aluno como sujeito ativo do processo de ensino e aprendizagem a partir do meio ambiente local, afirmam Pontuschka, Paganelli e Cacete (2007). Dessa forma, o estudo do meio ambiente deve contribuir para construção de uma percepção socioambiental, na qual a dimensão natural e dimensão social são tratadas de forma integradas, numa concepção holística favorecendo mudanças comportamentais e atitudinais nos alunos e, consequentemente favorece o desenvolvimento de uma racionalidade ambiental defendida por Leff (2011). É preciso levar em conta não apenas o conjunto das múltiplas dimensões das realidades socioambientais como também das diversas dimensões da pessoa que entra em relação com estas realidades, da globalidade e da complexidade de seu “ser-no-mundo”. O sentido de “global” aqui é muito diferente de “planetário”, significa antes holístico, referindo - e à totalidade de cada ser, de cada realidade, e à rede de relações que une os seres entre si em conjuntos onde eles adquirem sentido. (SAUVÉ, 2005, p. 27) Não há dúvida de que as questões ambientais nas aulas de Geografia são importantes para a construção de saberes críticos e reflexivos a respeito da produção social do espaço. Para tanto, a linguagem cartográfica aplicada na Educação Ambiental não deve se restringir a métrica euclidiana, como afirmam Fonseca e Oliva (2013, p.138) “[...] o espaço euclidiano é apenas uma forma de apreensão do espaço” dentre outras métricas possíveis para construção de um saber ambiental. Sendo assim, cabem os seguintes questionamentos: a) Como trabalhar a Educação Ambiental no ensino da Cartografia nas aulas de Geografia do ensino básico? b) Como o Ensino de Cartografia contribui para a percepção socioambiental dos rios? 42 De acordo com Fonseca e Oliva (2003), a Cartografia é uma linguagem de comunicação gráfica que possibilita representar o espaço vivido dotado de subjetividades, sentidos e impressões, a começar pelo: O lugar é a base da reprodução da vida e pode ser analisado pela tríade habitante – identidade – lugar. A cidade, por exemplo, produz-se e revela-se no plano da vida e do indivíduo. Este plano é aquele do local. As relações que os indivíduos mantêm com os espaços habitados se exprimem todos os dias nos modos do uso, nas condições mais banais, no secundário, no acidental. É o espaço passível de ser sentido, pensado, apropriado e vivido através do corpo. (CARLOS, 2007, p. 17) Assim, a linguagem cartográfica permite ao professor entender a percepção espacial do aluno que pode ser definida como: [...] visão de mundo, de visão do meio ambiente físico, natural e humanizado, na maioria é sociocultural e parcialmente individual; é experiência em grupo ou particularizada; é uma atitude, uma posição, um valor, uma avaliação que se faz do nosso meio ambiente. (OLIVEIRA, 2012, p. 61) A Cartografia na Educação Ambiental formal deve ser trabalhada através da experiência cotidiana do aluno permitindo a compreensão dos problemas ambientais, a partir de representações gráficas, como decorrentes das ações do homem e da natureza, como analisa Martinelli (1994), numa dimensão dinâmica e complexa. O uso das diferentes formas de representação dos
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