Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Nome: Vitoria Moura de Almeida Disciplina: Análise de proteomas aplicada ao diagnóstico e terapêutica Professor responsável: Theo Luiz Ferraz de Souza Artigo científico escolhido: “Complement C3 is a novel plasma clot component with anti- fibrinolytic properties” Autores: Joanna-Marie Howes, Victoria R Richardson, Kerrie A Smith, Verena Schroeder, Riyaz Somani, Anna Shore, Katharina Hess, Ramzi Ajjan, Richard J Pease, Jeffrey N Keen, Kristina F Standeven, Angela M Carter. Revista: Diabetes and Vascular Disease Research Ano: 2012 Resenha crítica A doença cardiovascular é a maior causa de morbidade e mortalidade e a formação de trombos é uma das principais manifestações clínicas, acompanhado de o infarto do miocárdio e ataque isquêmico. Alterações nos fatores de coagulação estão envolvidos na desregulação do balanço entre coagulação e anticoagulação, ativação e inibição da fibrinólise, sendo associados ao aumento de risco de eventos trombóticos. A concentração de fibrinogênio é o maior determinante da densidade do coágulo e da suscetibilidade à fibrinólise, mas outros fatores plasmáticos também estão envolvidos e estes podem ser incorporados às fibras por diversas vias, influenciando aspectos estruturais e funcionais das fibras. Sendo assim, a identificação e caracterização desses fatores pode ajudar a entender como estes atuam na fibrinólise e até indicar possíveis marcadores de risco para a trombose. No estudo em questão, foi aplicado proteômica funcional para identificar esses componentes no plasma. Sangue venoso de voluntários saudáveis foi coletado, centrifugado e o plasma foi reunido, aliquotado, coagulado e proteínas não específicas foram removidas por perfusão. As proteínas foram solubilizadas e separadas em gel de eletroforese unidimensional com extensão-alcance por frações de pH e em um bidimensional, e as proteínas foram lidas em MALDI/TOF-MS e os dados foram comparados com a base Mascot. O antígeno C3 foi quantificado, analisado, purificado e incorporado ao plasma coagulado e as análises estatísticas necessárias foram realizadas. Com os dados obtidos no gel de eletroforese bidimensional, foi observado que as isoformas das fibrinas α, β e γ estão presentes em todos os pH. Somente 13 proteínas não fibrinas foram observadas no gel bidimensional. As ligações cruzadas entre as cadeias de fibrina alfa e de outras proteínas durante a formação do coágulo resultou na formação de numerosas isoformas de proteínas com alto peso molecular, sendo pouco separada pelo gel de eletroforese bidimensional. Com a finalidade de separar esses componentes, foi utilizado o gel unidimensional, observando o aumento da resolução das bandas discretas obtidas anteriormente. As isoformas de fibrinas alfa e gama foram novamente as mais observadas, assim como a fibronectina, um componente de coagulação e substrato do fator XIIIa. Foram observadas também oito proteínas que poderiam ser obrigatórias na coagulação, tornando os coágulos deficientes de fator XIIIa. Após análise ontológica dos genes presentes nos coágulos, 8 deles estavam envolvidos com a hemostase e 16 com respostas inflamatórias. Para validar o C3 como um componente do coágulo, ele foi quantificado, observando-se que a proporção do plasma C3 incorporado no coágulo era independente da concentração com a média de C3 incorporado nos coágulos de fibrina. A afinidade das interações entre C3 era concentração dependente, saturável, com alta afinidade por fibrinogênio e não consistente com os modelos preexistentes. Além disso, a adição de C3 aos coágulos não era significativa para a cinética de formação de coágulo e nem de densidade de coágulo, enquanto o tempo de fibrinólise cresceu significativamente, enquanto o fator H não afetou significativamente nenhum dos parâmetros acima. Assim, utilizando a proteômica funcional, foram encontrados 20 proteínas não-fibrinas, envolvidas principalmente com coagulação e inflamação. Isso suporta as informações que inflamação e trombose são relacionados, assim como a relação entre as cascatas de coagulação e as cascatas do sistema complemento, sendo fisiologicamente importantes, já observados em outros trabalhos. A relação entre C3 e fibrinogênio sugere que eles circulam complexados, mas não foram observadas essas interações na fase fluida, sugerindo que as mudanças conformacionais dependentes de imobilização são importantes para a interação. Outra observação foi que a incorporação de C3 nos coágulos foi associada a dependência da concentração na fibrinólise. Sendo assim, o complemento C3 pode ser utilizada como um possível alvo de fármacos, auxiliando a dissolução de trombos. Esse artigo é muito interessante por atuar como um pivô ao associar o sistema complemento, um componente imunológico, que usualmente é conhecido como mediador humoral em processos inflamatórios somados aos anticorpos, com a cascata de coagulação e, principalmente, anticoagulação sanguínea. Não apenas essa interação é conhecida, mas o contrário também já foi observado em outros trabalhos. A aplicação da proteômica funcional foi fundamental e utilizada de uma forma muito interessante, pois relacionou vários componentes presentes nos coágulos com outras vias, como as vias inflamatórias, inibição das proteases, migração celular, adesão, sistema complemento e metabolismo lipídico, o que mostra que os sistemas, de alguma maneira, são relacionados de forma que, em estudos posteriores, os mecanismos que os unem possam ser elucidados. Além disso, é interessante que, ao retirar o fator de coagulação XIII, observou-se bandas mais fortes, o que foi uma tentativa de impedir o efeito das ligações cruzadas moleculares, que aumentou o peso molecular, atrapalhando a visualização. Ainda assim, a visualização das bandas foi muito atrapalhada por esses componentes agregados com alto peso molecular em ambos os géis (unidimensional e bidimensional). A presença dessas bandas dificultou a visualização das bandas dos componentes não fibrilares, tornando difícil até encontrá-los. Se isso fosse mais controlado, poderiam ser encontrados outros alvos moleculares. Ainda sobre alvos moleculares, é importante analisar se o complemento C3 realmente é um bom alvo molecular para atuar na fibrinólise, pois, endogenamente, quando esses sistemas são ativados, por alguma lesão tecidual (grandes, principalmente), podem levar à falência dos órgãos. Assim, é necessário avaliar uma forma do C3 ser um alvo molecular, mas que não seja prejudicial ao organismo e que realmente possa ser efetivo. Sobre os dados apresentados, deveria ser apresentado os dados presentes nos dados suplementares. Isso porque eles são amplamente discutidos em todo o artigo, mas o acesso aos dados suplementares não é fácil. Assim, alguns dados como os dados de proteômica não apresentados, mas que são discutidos poderiam realmente mostrar ao leitor o que foi obtido. Em suma, artigo é interessante e importante para entender mais o papel fisiológico do que ocorre durante o processo de coagulação, mas é necessário que mais testes e o papel do complemento C3 seja mais elucidado para que este possa ser um possível alvo molecular.
Compartilhar