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Anais I Congresso de Direito das Mulheres - UFSC - 2017

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Anais do I Congresso de 
Direito das Mulheres 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Anais do I Congresso de 
Direito das Mulheres 
 
 
 
Projeto de Pesquisa e Extensão “ Direito das Mulheres” 
Florianópolis 
2016 
 
Anais do I Congresso de Direito das Mulheres - 2016 
 
Coordenação Científica do Evento 
Profª. Drª. Grazielly Alessandra Baggenstoss 
 
Comissão Organizadora do Evento 
Aline Amábile Zimmermann, Amanda Karol Coelho, Amanda Muniz Oliveira, Eliza Maria 
da Silva, Fernanda Donadel da Silva, Gabriela Essig, Gabriela Neckel Ramos, Gabrielli 
de Freitas Veras, Isis Reigna de Paula, Jessyka Zanella Costa, Joana Brancher Gusso 
Machado, Juliana de Alano Scheffer, Marília Cassol Zanatta, Polliana Corrêa Morais, 
Valéria Magalhães Schneider 
 
Pareceristas 
Fernanda Martins, Matheus Felipe de Castro e Monica O. de Camargo Cortina 
 
Realização 
Projeto de Pesquisa e Extensão “Direito das Mulheres” – Programa de Pós-Graduação 
em Direito – a Centro de Ciências Jurídicas – UFSC 
 
Apoio 
Pró-Reitoria de Pesquisa da Universidade Federal de Santa Catarina – PROPesq/UFSC 
Pró-Reitoria de Pesquisa da Universidade Federal de Santa Catarina – PROEx/UFSC 
 
ISBN 
ISBN: 978-85-64093-44-7 
Título: Anais do I Congresso de Direito das Mulheres da Universidade Federal de Santa 
Catarina 
Tipo de Suporte: Internet 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
APRESENTAÇÃO .................................................... ERRO! INDICADOR NÃO DEFINIDO. 
PROGRAMAÇÃO DO EVENTO ........................................................................................... 11 
ARTIGOS .................................................................................................................................... 13 
A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO E O PAPEL DAS INTELECTUAIS 
NEGRAS NO BRASIL 
CRISTIANE MARE DA SILVA ............................................................................................ 15 
LICENÇA PARENTAL NO BRASIL: FUTURA REALIDADE OU UTOPIA? 
JULIANA DE ALANO SCHEFFER ........................................................................................ 31 
NOSSA RESISTÊNCIA NÃO É O SILÊNCIO: MÚSICA, FEMINISMO E LUTA 
POR DIREITOS A PARTIR DO RIOT GRRRL 
AMANDA MUNIZ OLIVEIRA ............................................................................................ 53 
MULHERES DIABÓLICAS E MULHERES SUBMISSAS: RESSONÂNCIAS 
DOS MODELOS DE FEMINILIDADES MEDIEVAIS NA VIOLÊNCIA 
CONTRA AS MULHERES 
RODOLPHO ALEXANDRE SANTOS MELO BASTOS ......................................................... 75 
PERSPECTIVAS DA DOUTRINA CIVIL CONTEMPORÂNEA BRASILEIRA 
ACERCA DO STATUS JURÍDICO DAS MULHERES NO CASAMENTO 
GRAZIELLY ALESSANDRA BAGGENSTOSS E GABRIELA NECKEL RAMOS .................... 99 
ENSAIO ..................................................................................................................................... 115 
A VOZ FEMINISTA NO AMBIENTE PROFISSIONAL: DESAFIOS E 
CONQUISTAS 
FERNANDA MAMBRINI RUDOLFO................................................................................. 116 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SOBRE NóS 
 
O Projeto de Pesquisa e Extensão “Direito das 
Mulheres”, realizado em 2016 pelo Grupo de Pesquisa 
“Modelagem e Compreensão dos Sistemas Sociais” 
(CNPq/UFSC), foi pensado para a conscientização das 
mulheres daquilo que as oprime, as violenta, e para seu 
consequente empoderamento, a fim de que possamos, 
nós por nós, modificarmos as situações que questionam 
a nossa existência. 
Diante das atividades de pesquisa e de extensão 
realizadas, coroou-se o final do projeto com o I 
Congresso de Direito das Mulheres. Assim, agradecemos 
a todas as mulheres que se disponibilizaram a honrar o 
nosso evento, seja presencialmente ou pela transmissão 
online e, também, pelas manifestações que foram feitas. 
 
No panorama de nosso intento, foram precisas as falas 
da Prof. Fernanda Mambrini, da Pesquisadora Amanda 
Muniz, da Prof. Cristiane Mare, que apresentam 
trabalhos que compõem estes Anais. 
Deve-se agradecer, também, aos homens que 
participaram, como ouvintes, palestrantes e 
colaboradores de divulgação. A sua presença também é 
importante porque engloba uma outra face da relação 
que violenta a mulher: a conduta do homem, como foi 
trabalhado pelo Prof. Alex Lodetti. Além disso, é 
importante conhecermos os símbolos criados para 
limitar a mulher, pelo pesquisador Rodolpho Bastos, o 
qual também enriquece esta produção acadêmica. 
O que foi falado aqui, nesses três dias, demonstra a 
urgência de trabalharmos essas temáticas. 
Trabalharmos com os recortes devidos, com método, 
com objetivos, para que possamos ter sucesso em nossa 
empreitada. E demonstra, também, uma ocorrência 
bastante óbvia (mas que nem todos perceberam): isso 
aqui é uma ocupação; uma ocupação institucional. 
Estamos lutando por aquilo que acreditamos, dentro de 
um sistema em que há sempre uma hierarquização 
entre as pessoas, por raça, gênero, classe. Aprendemos 
isso, fizemos nossa lição de casa, e estamos aqui, em 
nosso primeiro grande passo. 
E quem somos nós, que pensamos e participamos do 
projeto? Além de professoras, acadêmicas, 
pesquisadoras, somos mulheres. 
Todas nós passamos, passado, e passamos, presente, por 
vários tipos de violências: psicológicas, morais, físicas, 
sexuais. Sabemos também que nossas mães passaram 
por isso. Nossas avós. Nossas bisavós. Muitas vezes 
quietas, aprendendo a lidar com o jogo, visando a um 
bem maior. 
Pois bem. Esse bem maior está aqui: somos nós. O 
sacrifício daquelas que nos antecederam não é 
justificado no contexto específico daquela época, mas se 
justifica quando observamos as conexões de passado, 
presente e futuro e quando verificamos o que estamos 
fazendo hoje, o que fizemos em nossa casa, no nosso 
trabalho, na rua. Somos luta, nossa presença aqui é 
força, é poder, é dizer: estamos vivas, somos nós por 
nós, somos voz, somos vozes que fazem a diferença. 
É assim que se pede autorização para, adaptando-se a 
música Acendam as Luzes (Rashid), que muitas vezes, 
em momentos difíceis, mas também de felicidade, para o 
que vivemos aqui: 
Pensa na gente hoje, vê, como você chama isso 
Eu chamo de fazer acontecer, o compromisso 
A luta, vitória, disputa, em memória, conduta 
A Escoria? Não tem desculpa 
Olha, não discuta, chega de esmola, bituca, falta pouco 
Pra nossa glória, então me escuta 
O contrário me insulta, nos colocaram como nada 
E hoje nós somos a história, então vai, desfruta 
Cada uma de nós é a melhor em campo 
Cada uma é única em campo, portanto levanta e vai pro 
Jogo 
Ou você acha que a oportunidade vai te buscar no 
Banco 
Somos pretas, brancas, indígenas, as mesmas a tantos anos 
Foi difícil sim, manas, mas temos uma voz 
E hoje ela fala alto, então por favor acendam as luzes pra nós 
Somos. Sejamos. Continuemos resistência. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
PROGRAMAÇÃO DO EVENTO 
 
Dia 16 de novembro de 2016 – Quarta-feira 
19h – PROJETO “DIREITO DAS MULHERES” APRESENTAÇÃO DA 1ª EDIÇÃO, 
EXPERIÊNCIAS E PERSPECTIVAS 
Pesquisadora Jessyka Zanella Costa 
20h – A VOZ FEMINISTA NO AMBIENTE PROFISSIONAL: DIFICULDADES, 
CONQUISTAS E EXPERIÊNCIAS PESSOAISMSc. Fernanda Mambrini Rudolfo 
 
Dia 17 de novembro de 2016 – Quinta-feira 
16h – EXIBIÇÃO DO DOCUMENTÁRIO “THE MASK YOU LIVE IN” 
17h40 – COMENTÁRIOS SOBRE O DOCUMENTÁRIO E PALESTRA: “QUEM É O 
AGRESSOR?”: A PERFORMATIVIDADE DO “MASCULINO” 
Dr. Alex Simon Lodetti 
20h- “NOSSA RESISTÊNCIA NÃO É O SILÊNCIO”: MÚSICA, FEMINISMO E LUTA 
POR DIREITOS A PARTIR DO “RIOT GRRRL” 
MSc. Amanda Muniz Oliveira 
21h – MULHERES DIABÓLICAS E MULHERES SUBMISSAS: RESSONÂNCIAS DOS 
MODELOS DE FEMINILIDADES MEDIEVAIS NA VIOLÊNCIA CONTRA AS 
MULHERES 
MSc. Rodolpho Alexandre Santos Melo Bastos 
 
18 de novembro de 2016 – Sexta – feira 
16h – RODA DE CONVERSA COM A AUTORA MANU CUNHAS LANÇAMENTO DO 
LIVRO “OUTRAS MENINAS” NA UFSC 
 
20h – POLÍTICAS PÚBLICAS RELACIONADAS ÀS MULHERES 
Dalva Maria Kaiser 
21h – FEMINISMOS NEGROS NA LUTA POR DEMOCRACIA 
MSc. Cristiane Mare da Silva 
 
Exposição artística 
Poetisa Soaraya Reginato da Vitória 
Artista plástica Érica Caroli – Exposição “METADES” – Porque metade de mim é mulher 
e a outra também” 
Literatura Manu Cunhas 
Grafite Mariê 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ARTIGOS 
 
 
 
 
 
 
14 I CONGRESSO DE DIREITO DAS MULHERES 
 
 
 
 
15 I CONGRESSO DE DIREITO DAS MULHERES 
 
 
A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO E O PAPEL DAS 
INTELECTUAIS NEGRAS NO BRASIL 
Cristiane Mare da Silva1 
Resumo: 
O presente artigo tem como objetivo pensar o papel contra- hegemônico da fala e 
elaboração das intelectuais negras, mulheres que são constantemente faladas e 
traduzidas. Frente ao racismo e sexismo, presentes em nossa sociedade, o ato de 
elaborar falas, escritas, pesquisas, eventos dentro de espaços que representam os 
privilégios da branquitude no Brasil e em América Latina, confere a essas intelectuais, 
um papel extremamente necessário e urgente, renovando a perspectiva do que são os 
direitos humanos. Pois diria Bell Hooks, experimentar aos ouvidos as nossas narrativas, 
problematizar nosso cotidiano, ensaios não raras vezes confessionais é antes de tudo 
fugir do limbo do qual somos constantemente reiteradas. É ser protagonista de uma 
tradição do pensamento negro em diáspora desde a década de 1930, ao nos 
perguntarmos quem sou eu, nesse mundo branco? Quem somos nós mulheres negras, 
nesse mundo branco? Portanto, se a perspectiva das mulheres negras, é estar em todos 
os lugares e em constante movimento, a academia e espaços de educação universitária 
confere a essas mulheres um desafio, pois são nestes espaços que a produção de 
conhecimento e seu reconhecimento se desenvolvem, evidenciando que se faz 
necessário uma transformação radical do capital intelectual presentes em nossas 
sociedades latino-americanas. Um texto, inspirado em diálogo com Bell Hooks , Lélia 
Gonzalez e todas as mulheres negras, que aceitaram o desafio de falar de si. 
Palavras chave: Feminismo Negro; Intelectuais; Produção do Conhecimento 
 
 
 
 
 
 
1
 Cristiane Mare da Silva. Mestra pela PUC/SP em História Social. Feminista negra: Integrante do Coletivos Pretas em 
Desterro e Coordenadora de Mulheres da Unegro. Colunista do Portal Catarinas e Conselheira do Condim de Palhoça. E-
mail: cristiane.mare.silva@gmail.com 
 
O sistema pode até me transformar em empregada, 
mas não pode me fazer raciocinar como criada. 
Yzalú 
 
 
O presente diálogo tem como objetivo pensar o papel contra- hegemônico da fala 
e elaboração das intelectuais negras no Brasil, pois participam de espaços, dos quais são 
constantemente faladas, observadas, traduzidas, ao mesmo que partem do desafio de 
promover diálogos entre movimentos negros e de mulheres negras e a produção do 
conhecimento. Frente ao racismo e sexismo presentes em nossa sociedade, o ato de 
elaborar falas, escritas, pesquisas e eventos dentro de espaços acadêmicos que 
tangenciem vidas negras é revolucionário. Embora a intelectualidade não seja restrita ao 
espaço acadêmico, nosso foco será pensar a produção de conhecimento e o papel das 
intelectuais negras nos espaços universitários. 
Nessa desventura Colonial/Racial em que os nossos corpos negros precisam ser 
constantemente torturados, os corpos de mulheres negras sofrem uma asfixia ainda 
maior, posto o lugar de fala e construção social vividos em nossa sociedade, em que as 
violências raciais e de gênero, são estruturantes. Portanto, não se trata de vitimização, 
ou de uma competição frente aos condenados da terra, mas de assumir agendas políticas 
transversais, nas áreas de acesso á moradia, saneamento básico, da saúde, aceso á 
educação e sua permanência, valorização do trabalho, reflexões que garantam 
assistência , economia e o bem viver2 dessas mulheres. Desse modo, pensar em políticas 
públicas específicas são fundamentais, pois hoje a secretaria de políticas para mulheres, 
tem todos os dados das condições sociais vivenciadas por mulheres negras 
nacionalmente, porém segue com dificuldade de sair da situação de denúncia, 
 
2
 Lembrando que a investigação e análise sobre a identidade racial branca procura problematizar aquele que numa relação 
opressor oprimido exerce o papel de opressor, ou por outras palavras, o lugar do branco numa situação de desigualdade 
social. (Lourenço Cardoso.pg 607) 
17 I CONGRESSO DE DIREITO DAS MULHERES 
 
 
esquecendo que este papel cabe aos movimentos de mulheres, e eles o fazem desde a 
década de 70. 
 Alguns temas ainda são tabus, quanto pesquisas em espaços universitários, 
temas não raras vezes ligados diretamente á vida das mulheres e que se potencializam 
no cotidiano das mulheres negras e pobres: Violência doméstica , o feminicídio, 
evidenciando também a morte por aborto como feminicídio, e a não legalização do 
aborto e sua criminalização como a ausência do estado referente a saúde coletiva. 
Tais ações políticas, precisam estar atrelada a uma produção de conhecimento 
que problematize e deem conta das especificidades vividas e enfrentadas , nas mais 
diversas áreas do conhecimento, a necessidade por exemplo de desenvolvermos 
pesquisas, para refletir eticamente sobre a legalização do aborto, esses conferem alguns 
desafios para universidades como projeto de desenvolvimento para a comunidade que 
lhe financia, mas também compreendemos que os corpos estigmatizados não apenas 
devem ser objeto de estudo como desenvolver epistemologias dentro deste espaço de 
poder. 
Sendo assim, resistir e fugir ao anulamento social, constituem a tônica desses 
corpos. Na incessante exploração de mulheres e homens brancos que nos desejam 
mudas e intimidadas, pois assim se torna mais fácil a tarefa da tradução e representação. 
Como diria Lélia González: Cumé que a gente fica? 
... Foi então que uns brancos muito legais convidaram a gente prá uma 
festa deles, dizendo que era prá gente também. Negócio de livro sobre a 
gente, a gente foi muito bem recebido e tratado com toda consideração. 
Chamaram até prá sentar na mesa onde eles tavam sentados, fazendo 
discurso bonito, dizendo que a gente era oprimido, discriminado, 
explorado. Eram todos gente fina, educada, viajada por esse mundo de 
Deus. Sabiam das coisas. E a gente foi sentar lá na mesa. Só que tava 
cheia de gente que não deu prá gente sentar junto com eles. Mas a gente 
se arrumou muito bem, procurando umas cadeiras e sentando bem atrás 
 
deles. Eles tavam tão ocupados, ensinado um monte de coisa pro crioléu 
da platéia, que nem repararam que se apertasse um pouco até que dava 
prá abrir um espaçozinho e todomundo sentar juto na mesa. Mas a festa 
foi eles que fizeram, e a gente não podia bagunçar com essa de chega prá 
cá, chega prá lá. A gente tinha que ser educado (GONZÁLEZ, 1984,p, 
223). 
 
Deste modo, aponto para as acadêmicas e professoras negras presentes3, vamos 
continuar indo aos banquetes organizados para nós, ou vamos organizar nossas 
kizombas? E para tanto é necessário parar de fugir da ideia de ser uma intelectual , ou 
dar as costas á oportunidade da compreensão de ferramentas úteis para a sistematização 
e reflexão acerca do mundo em que vivemos, embora este espaço universitário nem 
sempre lhe confira sabedoria, é certo que com dedicação e disciplina possamos adquirir 
conhecimento e maiores oportunidades em nossa sociedade. 
Assim pode ser transformadora a existência de estudantes negras/professoras na 
perspectiva da elaboração de novos temas e novas epistemologias, que dialoguem em 
seus trabalhos com a interseccionalidade, mostrando-nos a importância das ações 
afirmativas tanto para estudantes como para os concursos de docentes. Precisamos 
trazer á tona a importância de professoras universitárias, de intelectuais Pretas, em 
nossa academia, nomear nossas feministas. De acordo a Bell Hooks, 
Embora hoje mais que nunca haja sem duvida muito mais negras acadê 
micas elas são na maioria das vezes anti-intelectuais (uma posição que é 
frequentemente consequência do sofrimento que suportaram como 
alunas ou professoras encaradas com desconfiança e desprezo por seus 
pares) Na vida diaria podem insistir em que o trabalho que fala 
diretamente a experiência concreta e mais valioso que as formas de 
trabalho intelectual não produzidas para ser comercializadas para um 
publico de massa Diante da falta de endosso e apoio publicas constantes 
as negras que escolhem vocações intelectuais quando enfrentam esse 
 
3
 Este artigo, é fruto da palestra de encerramento do I Congresso de Direito das Mulheres, deste modo há marcas no texto 
de uma linguagem oral. 
19 I CONGRESSO DE DIREITO DAS MULHERES 
 
 
trabalho em isolamento em espaços privados não admira que negras 
individualmente se sintam oprimidas por duvidas que esses espaços 
intensifiquem receios de incompetência receios de que suas ideias talvez 
não mereçam ser ouvidas As negras têm de revisar ideias de trabalho 
intelectual que nos permitam abarcar a preocupação com a vida mental 
e o bem-estar da comunidade (HOOKS, 1995, p. 472, 473). 
 
Quanto acadêmicas demoramos para perceber como ideias aparentemente 
autônomas, expressão de nossos sentimentos e da crença do indivíduo livre e autônomo, 
nada mais são do que a hegemonia ocidental Racista e Sexista, atuando em nossas 
decisões e guiando nossos destinos, nos enredamos á naturalização que o domínio 
intelectual é menos importante que as atividades avaliadas como concretas ou culturais, 
que podemos militar sem elaborar as nossas atividades, ou rompermos com a 
colonização sem uma densa elaboração e incorporação da ciência produzida por nossos 
pares. 
É preciso fugir de premissas raciais vigentes desde o fim do século XIX, quando o 
ocidente ao hierarquizar as raças, também impele aos mais diferentes grupos raciais, os 
trabalhos e atividades que deverá ser empenhado por um e por outro. Em contornos a 
nossa sociedade machista que tampouco vê com bons olhos, a mulher nestes espaços de 
prestígio e visibilidade. 
Num contexto social capitalista de supremacia patriarcal branca como 
esta cultura nenhuma negra pode se tornar uma intelectual sem 
descolonizar a mente Mulheres negras podem se tornar acadêmicas bem-
sucedidas sem passar por esse processo e na verdade a manutenção da 
mente colonizada pode habilita-las a vencer na academia mas isso não 
intensifica o processo intelectual O modelo de insurgência que Cornel 
West defende identifica adequadamente tanto o processo em que negras 
devem empenhar se para se tornar intelectuais quanto as posições que 
temos de assumir para manter e alimentar essa escolha Para 
contrabalançar a baixa estima constante e ativamente imposta as negras 
numa cultura racista/sexista e anti-intelectual aquelas entre nos que se 
tornam intelectuais devem estar sempre vigilantes Temos de desenvolver 
 
estrafegas para obter uma avaliação critica de nosso mento e valor que 
não nos obrigue a buscar avaliação e endosso crrticos das propilas 
estruturas instituições e individuos que não acreditam em nossa 
capacidade de aprender (HOOKS, 1995, p. 474) 
 
Dito isto, é sine qua non estarmos neste espaço universitário discutindo e 
relativizando a importância das mulheres negras e a divisão racial do trabalho, diante 
colegiados formados por homens e mulheres brancas, eles nos dizem que nesse clube, 
temos lugar reservado, na organização e limpeza das universidades, servindo cafés ou 
em suas cantinas. 
Para tanto, se faz necessário, evidenciar e negritar essas contribuições, representar 
nossas mulheres, pois na medida que habilitamos essas vozes asfixiadas, refutamos a 
memória coletiva do não lugar das mulheres negras, de um imaginário que nos coloca 
universalmente dentro do inenarrável, assim como a constante emergência de 
avançarmos e pontuarmos nossas agendas em torno de políticas públicas. 
Gerações de mulheres desde a década de 70, em especial as feministas negras e 
movimento de mulheres. Cavam, desenterram, vestígios da participação de nossas 
mulheres na história do Ocidente e no Brasil, como é o exemplo da AMAB, De acordo a 
Carol Carvalho, a Associação de Mulheres Negras Antonieta de Barros de Florianópolis-
SC, tem como fundadoras a professora Altair, a professora Uda Gonzaga, Valdionira e 
a professora Neli Goes, que se organizam desde a década de 80 no estado de Santa 
Catarina, com discussões em torno de Gênero e Raça. 
Pontuando, que embora a Marcha das Mulheres Negras, tenham sido crucial para 
uma ampla divulgação da necessidade de apontarmos para políticas públicas específicas 
paras as mulheres negras, foram inúmeras as mulheres do estado a apreender tais 
pautas. Evidenciando que nossos passos vem de longe, talvez a novidade seria 
21 I CONGRESSO DE DIREITO DAS MULHERES 
 
 
movimentos de mulheres negras no estado, no Brasil e internacionalmente, nomeadas e 
nomeando-se em alto e bom som, como feministas negras. 
O Comitê Nacional Impulsor da Marcha das Mulheres Negras, que ocorreria 
em Brasília em 18 de novembro, no manifesto publicado em 13 de maio de 2015, 
afirmava, 
Não aceitamos ser vistas como objeto de consumo e cobaias das 
indústrias de cosméticos, moda ou farmacêutica. Queremos o fim da 
ditadura da estética europeia branca e o respeito à diversidade cultural 
e estética negra. Nossa luta é por cidadania e a garantia de nossas vidas. 
Estamos em Marcha para exigir o fim do racismo em todos os seus 
modos de incidência, a exemplo da saúde, onde a mortalidade materna 
entre mulheres negras estão relacionadas à dificuldade do acesso a os 
serviços de saúde, à baixa qualidade do atendimento recebido aliada à 
falta de ações e de capacitação de profissionais de saúde voltadas 
especificamente para os riscos a que as mulheres negras estão 
expostas; da segurança pública cujos operadores e operadoras 
decidem quem deve viver e quem deve morrer mediante a omissão do 
Estado e da sociedade para com as nossas vidas negras. 
 
Embora os comitês regionais de cada estado, tenham tido a liberdade de definir 
suas pautas, este manifesto é representativo, pois acolhe as principais demandas das 
mobilizações para o dia 18 de novembro, um momento histórico não apenas para 50mil 
mulheres presentes na marcha, mas para todas aquelas que se envolveram, 
compreendendo o sentido daquele encontro, em que memórias, sociabilidades, 
performances foram compartilhadas e atualizadas. Abaixo, A Irmandade da Boa Morte, 
abrindo caminho da primeira Marcha das Mulheres Negras do país. 
 
 
 
 
Foto Nani Cabral 
 
No conjunto de suas experiências, táticas contra-hegemônicas, a literatura afro-
feminina, a música e as artes plásticas construíram e fortaleceram novos arranjos 
políticos com potencial para mudar as nuances e perspectivas do movimento negro, de 
resistências e dos feminismos, nos permitindo apreender dilemas, desafios e vivencias 
que longe de estarem desconectadas se socializam através das artes, da tecnologia e de 
encontros presenciais. 
A rapper MC Sofia, em seus versos Menina Pretinha, evidencia como o racismo se 
presentifica na infância, o papel da assimilação em nossa sociedade, ao mesmo tempo 
que o eu lírico potencializa a força de sua ancestralidade africana e a não naturalização 
das violências sofridas, 
 
23 I CONGRESSO DE DIREITO DAS MULHERES 
 
 
Vou me divertir enquanto sou pequena 
Barbie é legal, mas eu prefiro a Makena Africana 
Como a história de griô, sou negra e tenho orgulho da 
Minha cor 
 
A menina de 12 anos, que cantou publicamente aos seis anos e faz sucessos com 
rimas que expressam resistência negra, autoestima e os impactos do racismo afirma, 
“Mesmo que eu não cantasse, eu poderia estar desenhando ou fazendo ‘youtubes’. Há 
várias formas de falar sobre racismo, mas escolhi a música porque gosto de cantar” (MC 
Soffia, in cult,2016, p. 21). 
 Para Ivy Guedes e Aline Silva, “Historicamente a população negra se reinventa 
não só para a manutenção das heranças africanas, mas para se inserirem nessa 
sociedade marcada pela exclusão de pretos e pobres”(GUEDES; SILVA,2014, p. 217). 
Neste limiar de exclusões, o corpo das mulheres afros condensa um significado 
que as diferenciam/ potencializam, pois vivemos o conflito de uma luta antirracista, sem 
pretensões em discutir as questões de gênero e com inúmeros conflitos machistas no 
interior de nossas organizações e de um feminismo onde jamais encontramos a história 
de nossas vidas ou de nossas grandes mulheres inscritas em sua literatura. No Brasil, 
figuras como Luiza Mahin, Chica da Silva, Chiquinha Gonzaga, Antonieta de Barros, 
Lélia Gonzaléz, Alzira Rufino, Carolina de Jesus, Irmandade da Boa Morte e tantas 
outras trajetórias de vida que iluminam o caminho das afro-brasileiras, não estão entre 
os clássicos ditos feministas. 
 Desde Bell Hooks, destacada feminista afro-americana e os ensinamentos que ela 
nos deixa sobre os condicionantes que atuam na construção e na opressão das mulheres 
negras, poucas foram às mulheres brancas e homens negros que aprenderam sobre o seu 
 
significado e importância. Para tanto, é relevante registrarmos e construirmos 
epistemologias a partir dos nossos conhecimentos, conferindo-nos visibilidade, 
reconhecimento e empoderamento . 
Segundo a escritora Conceição Evaristo, 
A mulher negra, ela pode cantar, ela pode dançar, ela pode cozinhar, ela 
pode se prostituir, mas escrever, não, escrever é uma coisa… é um 
exercício que a elite julga que só ela tem esse direito. (…) Então eu gosto 
de dizer isso: escrever, o exercício da escrita, é um direito que todo 
mundo tem. Como o exercício da leitura, como o exercício do prazer, 
como ter uma casa, como ter a comida (…). A literatura feita pelas 
pessoas do povo, ela rompe com o lugar pré-determinado. (EVARISTO, 
2010). 
O ato de refletir sobre si e sua comunidade é também um ato de empoderar-se,e 
registra momento de insurgências. Para tal, os movimentos de mulheres negras 
contemporâneo ao interseccionar às bandeiras de classe, raça, gênero e orientação 
sexual, acabam por assumir pautas referentes aos movimentos negros e feministas. 
Segundo a autora Suely Carneiro , “De um lado, “enegrecendo” as reivindicações das 
mulheres, tornando-as mais representativas no conjunto das mulheres brasileiras, e, 
por outro, promovendo a feminização das propostas e reivindicações do 
movimento negro’’ (CARNEIRO, 2011, p. 03). 
Deste modo, como as categorias Mulher, Experiência e Política Pessoal, base para 
pensar a opressão feminina poderiam dar conta destes corpos de mulheres construídos 
pelo racismo e pelas consequências do mesmo em nosso cotidiano? Tampouco, a teoria 
feminista socialista conseguiu compreender a profunda desigualdade da qual 
vivenciavam essas populações sub-representadas e que não se tratava de uma dupla ou 
25 I CONGRESSO DE DIREITO DAS MULHERES 
 
 
tripla opressão, tendo como principal condicionante a experiência de gênero. Porém, 
tratava-se sim de outras pluralidades. 
Sendo assim, aprendemos que ao postularmos a palavra Feminismo, é costumeiro 
que esta venha no singular, como substantivo capaz de dar uniformidade a todas as 
agendas dos diversos grupos feministas, ou sobre as desigualdades de gênero 
compartilhado por mulheres. A palavra que quase sempre nos chega como célula 
unívoca se mostra multifacetada, ao colocarmos essas categorias em análise com a nossa 
sociedade. Pois, ao trabalharmos com categorias que buscam em sua essência a 
construção de uma identidade comum a todas as mulheres iremos encontrar inúmeras 
incoerências. Das quais são constantemente questionadas pelo chamado Feminismos 
Negros, já que nós não pretendemos essa identidade que se quer capaz de representar a 
todas as mulheres, falamos de um lugar racial e de gênero específicos, lembrando que a 
raça no Ocidente é estruturante para a construção da classe social, e de uma 
representação que nunca nos tocou as mesmas condições das mulheres brancas, já que a 
identidade de gênero também é composta de poder e hierarquia. 
Logo, são necessárias mudanças nas leituras e ferramentas interpretativas para 
compreender as brechas no campo das lutas sociais protagonizadas por nós, como 
reflexo dessas abordagens o encontro de mais de 50 mil mulheres na capital do país 
intitulada: Marcha das Mulheres Negras 2015, contra o Racismo o Sexismo e pelo Bem 
Viver, as múltiplas linguagens estéticas aqui apresentadas tem o interesse de evidenciar, 
que a Marcha também é fruto do reconhecimento e potencial das construções, entre 
estas redes de mulheres negras, em que a estética é um dos fios condutores de suas 
experiências e ressignificações, ao mesmo tempo que atuam como uma contra-narrativa 
à hegemonia cultural. Hoje, também o feminismo decolonial vem apontando críticas a 
esse sistema de pensamento, baseado na cultura eurocêntrica. Para Ochy Curiel 
Pichardo (2014) 
 
Este reconocimiento no puede ser solo un insumo para limpiar culpas 
epistemológicas, no se trata de citar feministas negras, indígenas, 
empobrecidas, para dar el toque crítico a las investigaciones y a los 
conocimientos y pensamientos que se construyen. Se trata de identificar 
conceptos, categorias, teorias que surgen desde las experiências 
subalternizadas, que son generalmente producidas colectivamente, que 
tienen la posibilidad de generalizar sin universalizar, de explicar 
distintas realidades para romper el imaginário de que estos 
conocimientos son locales, individuales, sin posibilidad de ser 
comunicado (PICHARDO, 2014, p. 57). 
 
. Logo, estudos, coletivos de mulheres negras, pesquisas e textos literários, 
vidas que vem se entretecendo para que corpos de mulheres negras, possam falar de si 
e de sua humanidade, rompendo com estruturas hegemônicas que lhe são impostas 
desde o nascimento, na produção defissuras, pois dentro de espaços com ranços 
escravocratas e coloniais, não existe lugar, tampouco legitimidade para a nossa voz e 
existência. Em territórios que imperam os resquícios e a consequência do colonialismo, 
os não brancos precisam invariavelmente de tradutores, pois os colonos e seus 
descendentes, são incapazes de ouvir outras vozes, que não a si mesmo. Seja o corpus de 
professores universitários brancos insensíveis a nosso razão e conhecimento, assim 
como os demais corpos assimilados. 
Ao mesmo tempo em que denunciamos os privilégios de branquitude e a divisão 
racial e sexual do trabalho, (lembrando que a população negra ocupa os piores índices 
nessa divisão), portanto ao fazer o recorte de gênero e em comparação com as mulheres 
brancas evidencia o lugar de privilégio de homens e mulheres brancas neste país e na 
diáspora, participam de todo espaço que configure status, prestígio e poder. 
Conferindo a estudantes e professoras, ativistas e feministas negras um papel 
extremamente necessário e urgente. Pois, seguindo os passos de Bell Hooks, 
experimentar os ouvidos as nossas narrativas, problematizar o nosso cotidiano, ensaios 
27 I CONGRESSO DE DIREITO DAS MULHERES 
 
 
não raras vezes confessionais é antes de tudo fugir do limbo do qual somos 
constantemente reiteradas. É ser protagonista de uma tradição do pensamento negro em 
diáspora desde a década de 1930, ao nos perguntarmos quem sou eu, nesse mundo 
branco? Quem somos nós mulheres negras, nesse mundo branco? Portanto, se o desafio 
é estar em todos os lugares, a academia e os espaços de educação universitária confere 
ás mulheres um espaço desafiador, pois são nestes rincões que a produção de 
conhecimento e seu reconhecimento se desenvolvem, no sentido que é preciso construir 
uma transformação radical do capital intelectual , como afirma Achille Mbembe o 
Racismo se organiza a partir da produção do conhecimento, controle da religião e 
modelo de governo. 
Se o mundo das mulheres negras é marcado pelo trabalho, a sobrevivência e a 
urgência, marca não raras vezes uma existência, em que o tempo da elaboração torna-se 
escasso e mesmo ao retirar-nos dessas condições básicas de sobrevivência, fica –se o 
ferro e suas cicatrizes. 
 
O enorme espaço que o trabalho ocupa hoje na vida das mulheres negras 
segue um padrão estabelecido nos primeiros dias da escravidão Como 
escravas o trabalho compulsorio obscurecia todos os outros aspectos da 
existência das mulheres Parece pois que o ponto de partida para uma 
investigação da vidas das negras sob a escravidão seria uma avaliação de 
seus papeis como trabalhadoras ( Angela Davis, 2016). 
 
Desta forma, é seguro dizer que a pesquisa científica protagonizada por 
intelectuais negras é um dos elementos fundamentais para a mudança da sociedade 
brasileira, visto que a ciência, como um produto social, deve ir além de conhecer a 
realidade, interferindo nela, considerando que a transformação do capital cultural é um 
passo fundamental na capacidade de transformar a sociedade, ademais que um número 
 
expressivo de professoras universitárias pretas bem remuneradas, constituiria em si, 
uma mudança radical no lugar ocupado/ estigmatizado das mulheres negras no país, 
afinal nossa luta não é apenas pelo reconhecimento do racismo/sexismo nas estruturas 
de poder, mas ao compreendermos seu funcionamento é necessário romper suas 
ferramentas de exclusão e negação de direitos. 
Ademais nosso trabalho não é separado da política cotidiana, e sim elaborado a 
partir dela e de suas necessidades, com a diferença que a capacidade de elaboração nos 
permite olhar para a nossa realidade e entende-la, sem a reprodução constante de 
condutas racistas e sexistas, ou pelo menos a capacidade de denunciar a nós mesmas, 
quando pensamos, praticamos ou argumentamos a favor de discursos que são as nossas 
próprias correntes, sem tempo para a organização, elaboração e capacidade de discernir, 
seguimos na condição de escravizadas, pois é da natureza da escravidão, o controle do 
trabalho, da obediência e do sexo. 
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
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Letras, 2015 
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2016 
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Latina a partir de uma perspectiva de gênero. 2013. Disponível em: 
https://rizoma.milharal.org/files/2013/05/Enegrecer-o-feminismo.pdf 
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Antonieta de Barros (1985-2015). TCC( Graduação)-Curso de História, Universidade do 
Estado de Santa Catarina, Florianópolis, 2016. 
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https://periodicos.ufsc.br/index.php/ref/article/viewFile/16465/15035. Acessado 08 de 
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feminismo decolonial. In: Otras formas de (re)conocer. Reflexiones, herramientas y 
aplicaciones desde la investigación feminista. Organizadoras: Irantzu Mendia Azkue, 
Marta Luxán, Matxalen Legarreta, Gloria Guzmán, Iker Zirion, Jokin Azpiazu 
Carballo, 2014. 
MBEMBE, Achile. Crítica da Razão Negra. Portugal: Antígona, 2014 
MATTOS, Ivanilde Guedes de; SILVA, Aline. Vicio Cacheado: Estéticas Afro-
Diaspóricas. Revista da ABPN 2014, v.6 , n.14. Disponível em, 
 
http://abpn1.tempsite.ws/Revista/index.php/edicoes/article/viewFile/478/343. Acessado 
em 20 de outubro de 2016. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
31 I CONGRESSO DE DIREITO DAS MULHERES 
 
 
LICENÇA PARENTAL NO BRASIL: FUTURA REALIDADE 
OU UTOPIA? 
Juliana de Alano Scheffer¹4 
 
Resumo: Os cuidados com filhos e filhas ainda não se distribuem de modo igualitário 
entre os gêneros – o que causa reflexos diretos no mercado de trabalho. A licença 
parental é meio de incentivo a promoção da igualdade entre homens e mulheres. 
Partindo dessa premissa, analisa-se o conceito de licença parental da Organização 
Internacional do Trabalho, as licenças-paternidade e maternidade no Brasil, e a alguns 
casos da jurisprudência nacional. Após a abordagem desses três elementos, apresenta-se 
conclusão sobre a plausibilidade da implementação da licença parental de modo amplo 
no Brasil. 
Palavras-chave: Licença parental. Iguldade de gênero. Lei. 
Abstract: The care with children still not distributed in an equality way between the 
genders – which brings direct reflexes in the labour market. The parental leave is a 
manner to incentive and promotes the equality among men and women. Starting from 
this premise, it is analyzed the concept of parental leave in the International Labour 
Organization, the paternity and maternity leave in Brazil, and some legal cases in the 
jurisprudence. After the approach of these three elements, it is showed a conclusion 
about the plausibility of parentalleave implementation in an extended mode in Brazil. 
Keywords: Parental Leave. Gender equality. Law. 
 
 
 
4
 Graduanda em Direito na Universidade Federal de Santa Catarina. Servidora Pública na UFSC. Pesquisadora do GT 
Direito do Trabalho do Projeto de Pesquisa e Extensão “Direito das Mulheres” – UFSC. 
 
1. INTRODUÇÃO 
 
Equilibrar as atividades profissionais e a presença de filhos não é tarefa simples. 
Contudo, o esforço para manter uma carreira e conciliar a criação de uma criança não 
parece ser bem distribuído entre os gêneros – e isso traz sobrecarga, dupla-jornada, 
condições de competição desiguais no mercado de trabalho e favorecimento de posturas 
discriminatórias do empregador. 
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, em 2004, as 
brasileiras ocupadas 5 trabalhavam 4,1 horas semanais a mais do que os homens, 
considerando a soma entre afazeres domésticos e os decorrentes do mercado de 
trabalho. Em 2014, o quadro piorou: as mulheres passaram a trabalhar 5 horas a mais, 
em comparação aos homens.6 A disparidade entre os gêneros permanece, e no referido 
caso, aprofunda-se. 
Quando as atividades domésticas representam 37,38% do tempo semanal 
trabalhado das trabalhadoras brasileiras, contra 19% do trabalho semanal masculino7 
(que no total é menor, como visto acima), percebe-se a importância de políticas públicas, 
legislativas e jurídicas para alterar tal situação díspar. Então, entende-se que licença 
parental pode ser um instrumento para redução desta desigualdade. 
No início de 2016, a Lei nº 11.7708 - que trata do Programa Empresa Cidadã – 
passou a contar com a possibilidade de extensão da licença paternidade de cinco para 
vinte dias, aos trabalhadores das empresas que aderem ao programa. Tal quantidade de 
tempo é suficiente? 
 
5
 Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, a população ocupada representa as “pessoas que, durante 
determinado período de referência, trabalharam ou tinham trabalho, mas não trabalharam (por exemplo, pessoas em 
férias).” Classificam-se em: empregados, por conta própria, empregadores e não remunerados. INSTITUTO BRASILEIRO 
DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA - IBGE. Notas Metodológicas. Disponível em: 
<http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/indicadores/trabalhoerendimento/pme/pmemet2.shtm>. Acesso em: 29 nov. 
2016. 
6
 INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA - IBGE. Síntese de Indicadores Sociais 2015 – Uma 
Análise das Condições da População Brasileira. São Paulo: IBGE, 2015. Disponível em: 
<http://biblioteca.ibge.gov.br/biblioteca-catalogo?view=detalhes&id=295011>. Acesso em: 10 mai. 2016, p. 76. 
7
 Idem, Ibidem. 
8
 BRASIL. Lei nº 11.770, de 09 de setembro de 2008. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-
2010/2008/lei/l11770.htm>. Acesso em: 27 nov. 2016. 
33 I CONGRESSO DE DIREITO DAS MULHERES 
 
 
Em decisão inédita, em novembro de 2016, servidor público de Santa Catarina 
obteve junto à Justiça Federal9 o direito garantido de licença paternidade de 180 dias, em 
razão do nascimento de gêmeos.10 
Enquanto as mulheres clamam por igualdade no mercado de trabalho, há alguns 
pais dispostos a acompanhar mais de perto o desenvolvimento de seus filhos e filhas. 
Assim, o presente artigo pretende - através de revisão bibliográfica, adoção de método 
indutivo e análise qualitativa – observar a trajetória da construção das licenças 
paternidade e maternidade no Brasil, para avaliar se há a perspectiva futura de 
aplicação do instituto da licença parental no país. 
Deste modo, o artigo divide-se em três etapas. A primeira delas traz um conceito 
de licença parental, a partir da Organização Internacional do Trabalho (OIT), com 
enfoque na promoção de igualdade de gênero para o trabalho. A segunda parte desta 
pesquisa analisa a trajetória da construção legislativa das licenças-maternidade e 
paternidade ao longo dos anos no Brasil. Já no terceiro e último segmento do trabalho, 
explorar-se-á a possibilidade de aplicação da licença parental no Estado Brasileiro, a 
partir de uma leitura jurisprudencial. 
 
2. LICENÇA PARENTAL 
 
As recomendações mais antigas da OIT tratavam apenas de políticas para que 
mulheres conseguissem cuidar de filhas e filhos. Como exemplos, encontram-se a 
Recomendação nº 95 (de 1952) e a nº 123 (de 1965).11 
Com o decorrer dos anos, esta política da instituição alterou-se.12 Em 1981, editou-
se a Recomendação nº 165 – sobre a Convenção 156, “Sobre a Igualdade de 
 
9
 Idem. Tribunal Regional Federal da 4ª Região. Procedimento do Juizado Especial Cível Nº 5009679-
59.2016.4.04.7200 . Disponível em: 
<http://www2.trf4.jus.br/trf4/controlador.php?acao=consulta_processual_resultado_pesquisa&txtValor=500967959201640
47200&selOrigem=SC&chkMostrarBaixados=&todasfases=S&selForma=NU&todaspartes=&hdnRefId=4d7ac66b9257d2
60b913237d7558115f&txtPalavraGerada=CCoY&txtChave= >. Acesso em: 28 nov. 2016. 
10
 REIS, Felipe. Decisão inédita da licença paternidade de 180 dias para catarinense. CBN Diário, 23 nov. 2016. 
<http://cbndiario.clicrbs.com.br/sc/noticia-aberta/decisao-inedita-da-licenca-paternidade-de-180-dias-para-catarinense-
182410.html>. Acesso em: 27 nov. 2016. 
11
 ADDATI, Laura; CASSIRER, Naomi; GILCHRIST, Katherine. Maternity and Paternity at Work – Law and 
Practice across the World. Genebra: OIT, 2014. Disponível em: <http://www.ilo.org/global/publications/ilo-
bookstore/order-online/books/WCMS_242615/lang--en/index.htm>. Acesso em: 27 nov. 2016, p. 61. 
 
Oportunidades e de Tratamento para Trabalhadores e Trabalhadoras com 
Responsabilidades Familiares” 13 - a qual almejou a promoção da igualdade de 
oportunidades e tratamento entre homens e mulheres que trabalham. Reconheceu-se 
que a participação paterna é política importante para condições mais igualitárias entre 
os gêneros no âmbito das relações trabalhistas. 
Neste contexto, a licença parental, benefício oferecido a mães e pais em 
decorrência de nascimento/adoção de filho, exibe-se como ferramenta para o 
compartilhamento de responsabilidades entre os casais, e fomento para a igualdade em 
âmbito familiar e no mercado de trabalho. 
A licença parental pode ser definida como 
 
uma licença relativamente longa concedida ao pai ou à mãe para cuidar 
de um bebê ou de uma criança pequena após o período da licença-
maternidade ou licença-paternidade. As disposições relativas à licença 
parental variam consideravelmente de país a país, pois refletem 
preocupações mais amplas dentro da sociedade, como preocupações 
relativas ao desenvolvimento infantil, à taxa de fecundidade, à oferta de 
mão-de-obra, à igualdade de gênero e à distribuição da renda. Há um 
debate em andamento sobre a duração ideal da licença parental para que 
a ausência do mercado de trabalho não afete o desenvolvimento 
profissional. Nesse sentido, é importante que a licença seja 
compartilhada entre pais e mães. (grifo nosso) 14 
 
Neste sentido, de acordo com a professora Alice Monteiro de Barros, a “licença 
parental é um reflexo da transição entre o conceito de ‘pátrio poder’ e o de ‘autoridade 
 
12
 Idem, Ibidem. 
13
 ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO – OIT. Convenção 156. - Recomendação 165: Sobre a 
Igualdade de Oportunidades e de Tratamento para Trabalhadores e Trabalhadoras com Responsabilidades 
Familiares.1981. Disponível em: 
<http://www.oitbrasil.org.br/sites/default/files/topic/discrimination/pub/convencao_156_228.pdf>. Acesso em: 27 nov. 
2016. 
14
 ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO – OIT. Nota 6 sobre Trabalho e Família- Licenças e 
Responsabilidades Familiares. Disponível em: 
<http://www.oitbrasil.org.br/sites/default/files/topic/gender/pub/br_nota_6_700_726.pdf>. Acesso em: 10 mai. 2016, p. 4. 
35 I CONGRESSO DE DIREITO DAS MULHERES 
 
 
parental’; objetiva tornar o pai cada vez mais participante das responsabilidades 
familiares”.15 
A já mencionada recomendação nº 165 da OIT declara que ambos os pais devem 
ter direito a afastamento sem perda do emprego e dos direitos dele decorrentes. Esta 
licença começaria a correr a partir do encerramento da licença maternidade.16 
A recomendação nº 191 da OIT, a qual tem como principal tema a proteção da 
maternidade, também faz referência à importância da licença parental por período 
seguinte ao da licença concedida à mãe.17 
Não há recomendação da OIT que trate exclusivamente sobre licença parental18; 
todavia o tema é tratado nas recomendações aludidas. De acordo com a referida 
organização internacional, durante este período de licença, as condições de trabalho 
devem estar preservadas. A duração da licença parental, as condições de remuneração e 
como será o sistema de distribuição de licença entre os pais, ficam a cargo da legislação 
de cada Estado. 
No Brasil, este instituto ainda não adentrou o ordenamento jurídico de modo 
pleno. 
Como iniciativa primária, em Santa Catarina há a Lei Complementar Estadual nº 
447/2009, que trata de licenças para pais e mães servidores do Estado. Em seu art. 4 º19, a 
lei prevê que em caso de adoção, sendo ambos os pais servidores do Estado, é possível 
que um dos companheiros – sem citar gênero – retire licença de 180 dias, enquanto o 
outro utiliza licença de 20 dias. 
Esta pode ser considerada uma experiência de licença parental – mas que só se 
aplica em caso de adoção, e ainda distribui o tempo entre os pais da criança de modo 
pouco flexível, com grande disparidade da duração entre as licenças. 
 
15
 BARROS, Alice Monteiro de. A Mulher e o Direito do Trabalho. São Paulo: LTr, 1995, p.91. 
16
 ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO – OIT. Convenção 156. - Recomendação 165: Sobre a 
Igualdade de Oportunidades e de Tratamento para Trabalhadores e Trabalhadoras com Responsabilidades 
Familiares. Op. cit. 
17
 Idem. R191 - Maternity Protection Recommendation, 2000 (No. 191). 2000. Disponível em: 
<http://www.ilo.org/global/publications/ilo-bookstore/order-online/books/WCMS_242615/lang--en/index.htm>. Acesso 
em: 27 nov. 2016. 
18
 ADDATI, Laura; CASSIRER, Naomi; GILCHRIST, Katherine. Op cit., p. 60. 
19
 BRASIL. Estado de Santa Catarina. Lei Complementar nº 447, de 07 de julho de 2009. Disponível em: < sinte-
sc.org.br/wp.../447_2009-LC-Estende-Licença-Maternidade-para-180-dias.doc>. Acesso em: 02 dez. 2016. 
 
Outros países já adotam de longa data a licença parental. Dentre eles, pode-se 
citar a Suécia, pioneira no assunto, que adota políticas de licença a pais ou mães desde 
1974.20 
Há países que adotam a licença parental deixando a critério de o casal decidir 
como será distribuído o período de licença entre eles. Nestes casos, geralmente ainda é a 
mulher que retira maior ou total parte do tempo desta licença. É o caso de Estados como 
a Albânia, Cuba, Estônia, Finlândia, Nova Zelândia e outros.21 
No caso sueco, enquanto foi possível escolher quem pegaria a licença, a adesão 
paterna mostrou-se tímida. A situação alterou-se quando em 1995, quanto o país 
introduziu uma licença voltada ao pai, com pagamento de oitenta por cento da 
remuneração. Noruega, Alemanha e Portugal também possuem políticas semelhantes.22 
Por fim, conforme entendimento da OIT: 
 
O direito à licença parental é uma estratégia importante de promoção da 
modificação dos padrões comportamentais de homens e mulheres com 
relação à distribuição do trabalho produtivo e reprodutivo e alimenta o 
debate em torno do reconhecimento dos homens como sujeitos de 
direitos com relação ao exercício da paternidade e da importância de seu 
papel no nascimento dos/das filhos/as.23 
 
A atuação política e legislativa estatal é ferramenta importante para a promoção 
da igualdade de gênero. Ações estatais podem colaborar com a igualdade entre homens 
e mulheres, e principalmente, ajudar a desconstruir concepções, mecanismos e formas 
institucionais que continuam relegando mulheres a uma posição secundarizada no 
trabalho e na sociedade.24 
 
20
 BARROS, Alice Monteiro de. Op. cit., p. 91. 
21
 ADDATI, Laura; CASSIRER, Naomi; GILCHRIST, Katherine.Op cit., p. 62. 
22
 Idem, Ibidem. 
23
 ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO – OIT. Nota 6 sobre Trabalho e Família- Licenças e 
Responsabilidades Familiares. Op. cit, p. 4. 
24
 ABRAMO, Desigualdades de Gênero e Raça no Mercado de Trabalho: tendências recentes. Igualdade de gênero e 
raça no trabalho: avanços e desafios. In: Organização Internacional do Trabalho. - Brasília: OIT, 2010. Disponível em: 
<http://www.oitbrasil.org.br/sites/default/files/topic/gender/pub/igualdade_genero_262.pdf>. Acesso em: 10 mai. 2016, p. 
23. 
37 I CONGRESSO DE DIREITO DAS MULHERES 
 
 
 
 3. LICENÇA-MATERNIDADE E PATERNIDADE NO BRASIL 
 
Conforme dados do IBGE de 2014, as trabalhadoras brasileiras gastam 21,2 horas 
semanais em afazeres domésticos – o que inclui o cuidado com a prole. No mesmo 
período, os trabalhadores gastam apenas dez horas nestas atividades. 25 Uma maior 
repartição de responsabilidades permite a diminuição do conflito que se impõe a mulher 
(vida privada vs vida pública). 
Algumas mudanças vêm apontando para uma repartição mais igual de 
atribuições, em que a maternidade e a paternidade são colaborativas. São diversas 
alterações relativamente recentes: o Código Civil de 2002, ao utilizar a expressão “poder 
familiar”, de modo substitutivo ao antigo “pátrio poder” corrobora este entendimento. 
O §2º do art. 1.584 do Código Civil, editado a partir de 2014, prevê que em caso de 
ausência de acordo entre pais no tocante à guarda de filhos, esta será compartilhada, 
também reforça a ideia de participação de ambos.26 
O indicativo de alterações sociais já é perceptível na Convenção das Nações Unidas 
Sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Contra a Mulher, de 1979. De acordo 
com a convenção, para alcançar uma completa igualdade entre homens e mulheres é 
necessária uma mudança nos papéis tradicionais de ambos na sociedade e na família27. 
O Brasil ratificou esta convenção em 198428 e seu protocolo facultativo em 2002.29 
A licença à gestante possui previsão constitucional - trabalhadora rural ou 
urbana, doméstica ou servidora pública – com duração de 120 dias (Art. 7º, XVIII; Art. 
 
25
 INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA - IBGE. Síntese de Indicadores Sociais 2015 – Uma 
Análise das Condições da População Brasileira. Op. cit., p. 76. 
26
 BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de Janeiro de 2002. Disponível em: 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406.htm>. Acesso em: 29 nov. 2016. 
27
 ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS – ONU. Convention on the Elimination of All Forms of Discrimination 
against Women, 1979. Disponível em: <http://www.un.org/womenwatch/daw/cedaw/text/econvention.htm>. Acesso em: 
10 mai. 2016. 
28
 BRASIL. Decreto nº 89.460 de 1984. Disponível em: < http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1980-1987/decreto-89460-20-marco-1984-439601-publicacaooriginal-1-pe.html>. Acesso em: 10 mai. 2016. 
29
 Idem. Decreto nº 4.316 de 2002. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/2002/D4316.htm>. 
Acesso em: 10 mai. 2016. 
 
7º, parágrafo único; Art. 39, §3º, CRFB) 30 . Tal benefício se estende à adotante (Lei 
12.010/2009)31. 
Já para o pai, a Carta Magna garante cinco dias de licença (art. 10, alínea B, §1º, da 
ADCT). No plano infraconstitucional, a Consolidação das Leis do Trabalho, de 1943, 
previa licença de apenas um dia em razão do nascimento de filho no decorrer da 
primeira semana (art. 473)32. 
A licença de apenas um dia, concedida ao longo da semana do nascimento, 
denotava que esta era prevista para o registro civil da criança.33 Tal situação foi alterada 
a partir do advento do novo regime constitucional – mas não de modo significativo, 
posto que cinco dias de licença paternidade representam tempo exíguo para cuidados 
com um recém nascido/adotado. Ou seja: ainda permanece o entendimento de que cabe 
à mulher o cuidado com os filhos menores, pela leitura das disposições constitucionais 
transitórias. 
Vários países adotam licenças-paternidades curtas.34 Contudo, esta licença inicial 
pode estar associada à licença parental, o que promove uma maior distribuição as 
tarefas familiares. 
Como um de seus avanços, a Constituição de 1988 é a primeira Lei Maior do 
Brasil a reconhecer o direito à licença-paternidade (art. 7º, XIX, CRFB). O texto 
constitucional também prevê proteção ao mercado de trabalho da mulher, em seu art. 7º, 
XX. 
Decorridos vinte anos da promulgação da Constituição, criou-se a Lei 
11.770/2008, denominada popularmente de Lei do Programa Empresa Cidadã. Esta lei 
trouxe a faculdade de extensão da licença-maternidade por mais sessenta dias. Para as 
empresas que aderem ao programa, há incentivo fiscal.35 
 
30
 Idem. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm>. Acesso em: 20 ago. 2016. 
31
 Idem. Lei nº 12.010 de 2009. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-
2010/2009/lei/l12010.htm >. Acesso em: 10 mai. 2016. 
32
 Idem. Decreto-Lei nº 5.452 de 1943. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del5452.htm>. 
Acesso em: 10 mai. 2016. 
33
 FIGUEIREDO, apud. GALVÃO, Dhuanne Sampaio. Licença Parental: Instrumento de Efetivação da Igualdade de 
Gênero no Âmbito Familiar e Trabalhista. [Trabalho de Conclusão de Curso, Universidade Federal de Santa Catarina, 
2011], p. 57. 
34
 ADDATI, Laura; CASSIRER, Naomi; GILCHRIST, Katherine. Op. cit., p. 54-55. 
35
 BRASIL. Lei nº 11.770 de 2008. Op. cit.. 
39 I CONGRESSO DE DIREITO DAS MULHERES 
 
 
Recentemente, a Lei 11.770/2008 sofreu alterações, através da Lei 13.257, de março 
de 2016 (Marco Legal da Primeira Infância). Há a previsão de ampliação da licença-
paternidade, de cinco para vinte dias – dentro do âmbito do Programa Empresa 
Cidadã.36 A lei se estende aos pais adotivos. Os servidores públicos federais regidos pela 
Lei 8.112/1990 também já estão contemplados.37 
Dispõe a Lei 11.770/2008 que o empregado pode pedir o benefício até dois dias 
depois do parto, comprovando a participação em programa ou atividade sobre 
paternidade responsável (Art. 1º, §1º, II, Lei 11.770). 
Durante o período, fica vedado o exercício de qualquer atividade remunerada, 
tanto para a mãe quanto para o pai - conforme disposto no art. 4º da referida lei. 
Assim, como a licença-paternidade padrão prevista na Constituição, esta 
prorrogação não é paga pela Previdência Social, mas sim pela própria empresa. Este 
valor será abatido no imposto de renda da pessoa jurídica, que pague impostos com 
base no lucro real (art. 5º, Lei 11.770). 38 
De acordo com a Receita Federal, até agosto de 2015, das 175 mil empresas 
brasileiras as quais pagam impostos com base no lucro real, menos de 19 mil estavam 
inscritas no Programa Empresa Cidadã.39 Ou seja: do universo já restrito de empresas 
participantes, apenas 11% delas aderem ao programa. 
A Lei 13.257/2016 alterou a Lei do Programa Empresa Cidadã e também o art. 473 
da CLT, acrescentando os incisos X e XI.40 A partir de agora, sem prejuízo de salário, 
concede-se ao empregado até dois dias de licença para acompanhamento de consultas 
médicas e exames durante a gravidez da companheira/esposa. Também há a concessão 
de um dia por ano para acompanhar filho ao médico (para pais e mães). 
 
36
 BRASIL. Lei nº 13.257 de 2016. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-
2018/2016/Lei/L13257.htm>. Acesso em: 10 mai. 2016. 
37
 BRASIL, Decreto nº 8.737, de 2016. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-
2018/2016/Decreto/D8737.htm>. Acesso em: 10 mai. 2016. 
38
 TV JUSTIÇA. Programa Revista TST destaca regras sobre lei que amplia a licença-paternidade. Disponível em: < 
http://www.tst.jus.br/noticias/-/asset_publisher/89Dk/content/programa-revista-tst-destaca-regras-sobre-lei-que-amplia-a-
licenca-paternidade> Acesso em: 29 mai. 2016. 
39
Idem, Ibidem. 
40
 BRASIL. Decreto-Lei nº 5.452 de 1943. Op. cit. 
 
Interessante destacar que há previsão legislativa concedendo ao pai concessão de 
licença-maternidade, em um contexto em que não há uma mulher que seja responsável 
pela criança. 
Esta é a previsão constante desde 2013 no ordenamento brasileiro, pelas 
alterações trazidas pela Lei 12.873/2013. A referida lei alterou o art. 71-A e acrescentou o 
art. 71-B da Lei 8.123/1991, a qual dispõe sobre os benefícios pagos pela previdência 
social; bem como alterou os dispositivos da CLT que tratam sobre a licença-maternidade 
(artigos 392-A, 392-B e 392-C).41 Observe-se a nova redação da CLT, no tocante à licença-
maternidade: 
 
Art. 392-A. À empregada que adotar ou obtiver guarda judicial para fins 
de adoção de criança será concedida licença-maternidade nos termos do 
art. 392. (...) 
§ 5o A adoção ou guarda judicial conjunta ensejará a concessão de 
licença-maternidade a apenas um dos adotantes ou guardiães 
empregado ou empregada. (grifo nosso) 
 
O art. 392-A da CLT deixa claro que a licença-maternidade pode ser concedida ao 
empregado ou à empregada. Aos homens solteiros que adotam está assegurado este 
benefício, bem como aos casais homoafetivos. 
Então, quando se trata de um casal homoafetivo que adota uma criança, pelo §5º 
do Art. 392-A da CLT, em conjunto com o 2º do art. 71-A da Lei 8.123/1991, é possível 
escolher quem usufruirá da licença e o salário-maternidade. Para o casal homoafetivo, 
então, pode-se avaliar a situação da família como um todo (perspectiva econômicas, 
situação no trabalho, projetos pessoais, etc.) para tomar esta decisão. 
Os casais heterossexuais também deveriam poder realizar esta ponderação (o pai 
ou a mãe devem tirar a licença?). Contudo, como já mencionado nas experiências 
internacionais, quando a legislação permite a opção dos pais sobre quem retirará a 
 
41
 Idem. Lei nº 12.873, de 24 de outubro de 2013. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-
2014/2013/Lei/L12873.htm>. Acesso em: 29 nov.2016. 
41 I CONGRESSO DE DIREITO DAS MULHERES 
 
 
licença, esta geralmente recai sobre a mãe. O tempo de licença poderia ser divido entre o 
casal. Percebe-se que os incentivos à adesão paterna aos cuidados com os filhos são 
importantes para que estes partilhem as licenças com as mães, visando à melhoria das 
condições laboraisdas mulheres. 
Nos casos de falecimento de quem fazia jus ao benefício, o(a) cônjuge ou 
companheiro(a) poderá gozar do restante do benefício, conforme exposto na nova 
redação CLT: 
 
Art. 392-B. Em caso de morte da genitora, é assegurado ao cônjuge ou 
companheiro empregado o gozo de licença por todo o período da 
licença-maternidade ou pelo tempo restante a que teria direito a mãe, 
exceto no caso de falecimento do filho ou de seu abandono.42 
 
Novamente, na ausência de uma mulher, aí então poderá a licença ser gozada por 
um homem. 
De modo resumido, este é o panorama existente no Brasil. Há previsão legal de 
licença-maternidade às trabalhadoras por um período de 120 dias, o qual é extensível 
por mais 60 dias; e há previsão legal de licença-paternidade por período de 05 dias, 
recentemente extensível por mais 15 dias. 
Há entendimento que: 
 
A licença-paternidade tem uma importância prática, mas o valor 
simbólico da mesma é ainda maior, já que deixa claro que a conciliação 
entre a vida profissional e a vida familiar não é um problema somente da 
mulher. Todavia, o tempo concedido, atualmente, no Brasil e mesmo na 
Espanha, é demasiado limitado para que, efetivamente, os homens 
comecem a ter importância e responsabilidade na vida familiar. O ideal 
 
42
 BRASIL. Lei nº 12.873, de 24 de Outubro de 2013. Op. cit. 
 
seria que a ampliação da licença-paternidade fosse aumentada 
gradualmente até alcançar a licença-maternidade.43 
 
No Brasil, o fomento a responsabilidade familiar compartilhada vem tendo avanços, 
mas ainda precisa ser reforçado. 
 
4. APLICABILIDADE DA LICENÇA PARENTAL NO BRASIL 
 
Conforme já mencionado, existe previsão legislativa e decisões jurisprudenciais 
concedendo licença-paternidade estendida a homens. São situações em que o homem 
acabará usufruindo da licença-maternidade, seja em razão de ser um casal homoafetivo 
ou por ser um homem viúvo ou solteiro que responde por uma criança. 
Segundo o Conselho Nacional de Justiça, trinta e cinco casais homoafetivos 
conseguiram o benefício em 2015.44 
Conforme já visto, a alteração legislativa de 2013 trouxe esta possibilidade, 
através dos artigos 392-A, 392-B e 392-C da CLT e artigos 71-A e 71-B da Lei 8.123/1991. 
Deste modo, na ausência da figura feminina reconhece-se o direito do pai gozar a 
licença-maternidade. É o que se percebe também pela manifestação jurisprudencial do 
Tribunal Regional Federal da 4ª Região, acerca de pai viúvo, servidor público da 
Administração Publica Indireta: 
 
AGRAVO DE INSTRUMENTO. EXTENSÃO DA LICENÇA-
PATERNIDADE. DIREITO FUNDAMENTAL. MOLDES DA LICENÇA-
MATERNIDADE. INFORTÚNIO MAIOR. PERDA DA ESPOSA. Embora 
 
43
 THOMÉ, Candy Florêncio. A licença-paternidade como desdobramento da igualdade de gênero. Um Estudo 
Comparativo entre Brasil e Espanha. Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 3ª Região, Belo Horizonte, v.50, 
n.80, p. 41-53, jul./dez/2009. Disponível em: 
<http://www.trt3.jus.br/escola/download/revista/rev_80/candy_flarencio_thome.pdf>. Acesso em: 04 jun. 2016, p.52. 
44
 FARIELLO, Luiza de Carvalho. Casais homoafetivos conseguem licença-maternidade na adoção de criança. 
Conselho Nacional de Justiça. 28 mai. 2015. Disponível em: <http://www.cnj.jus.br/noticias/cnj/80257-casais-
homoafetivos-conseguem-licenca-maternidade-na-adocao-de-criancas>. Acesso em: 29 nov. 2016. 
43 I CONGRESSO DE DIREITO DAS MULHERES 
 
 
desapegando-se da legalidade estrita, o magistrado a quo interpretou de 
forma ampliativa um direito fundamental (licença-paternidade - artigo 
7º, XIX, Constituição Federal), privilegiando a máxima proteção da 
Família (artigo 226 da Constituição Federal) e da Criança (artigo 227 da 
Constituição Federal), permitindo a servidor público o gozo de licença-
paternidade, nos moldes da licença-maternidade, por conta de infortúnio 
de grande pesar: a perda da esposa, logo após o parto prematuro da 
segunda filha do casal.45 
 
No referido acórdão, os argumentos utilizados para a concessão da licença-
paternidade nos moldes da licença-maternidade foram: (1) o direito fundamental da 
licença-paternidade (art. 7º, XIX, CRFB); (2) proteção à família (art. 226, CRFB) e 
proteção à criança (art. 227, CRFB). 
Há ainda jurisprudência sobre caso em que o pai, único adotante de duas 
crianças, pede a licença-maternidade. A decisão do Tribunal Regional Federal da 4ª 
Região entendeu ser cabível o pedido paterno, em consonância com a nova redação da 
Lei 8.123/1991: 
 
PREVIDENCIÁRIO. SALÁRIO-MATERNIDADE. ADOÇÃO. 
EXTENSÃO NORMA CONSTITUCIONAL. REQUISITOS 
SUFICIENTES. 
1. Art. 71-A. Ao segurado ou segurada da Previdência Social que adotar 
ou obtiver guarda judicial para fins de adoção de criança é devido 
salário-maternidade pelo período de 120 (cento e vinte) dias. (Redação 
dada pela Lei nº 12.873, de 2013) 
 2.Conforme se depreende do dispositivo citado, aparentemente, há duas 
exigências previstas para a concessão do benefício de salário-
maternidade: a primeira é que o/a requerente seja segurada(o) da 
Previdência Social; a segunda diz respeito à própria adoção. 
3.A que se ter em mente que o objetivo do benefício pleiteado é permitir 
o acompanhamento pessoal dos pais a seus filhos, provendo e assistindo 
o que necessitar no período de adaptação a família. No caso em tela, 
 
45
 BRASIL. Tribunal Regional Federal da 4ª Região. Agravo de instrumento nº5022684-88.2014.404.0000/RS. 
Agravante: Fundação Universidade Federal do Rio Grande - FURG. Agravado: João Alberto da Silva. Relator: 
Desembargador Fernando Quadros da Silva, Porto Alegre, 26 nov. 2014. Disponível em: < 
http://jurisprudencia.trf4.jus.br/pesquisa/inteiro_teor.php?orgao=1&documento=7142187&termosPesquisados=pai|viuvo|li
cenca|maternidade>. Acesso em: 29 nov. 2016. 
 
necessário, então uma interpretação ampla do termo "segurada" art. 71-A 
da Lei n.º 8.213/91, para entender pessoa segurada, tendo em mente a 
Constituição Federal de 1988 que estabelece proteção à criança. Tanto é 
possível tal extensão lógica interpretativa, que o legislador alterou a 
redação do referido artigo, entrando em vigor poucos meses após a 
guarda provisória obtida pela parte autora.46 
 
O acórdão mais recente a tratar do assunto no Tribunal Regional Federal da 4ª 
Região é de novembro de 2014 (caso de falecimento materno no pós-parto). 47 
No Supremo Tribunal Federal, o Recurso Extraordinário 778889, datado de 
novembro de 2014, com repercussão geral reconhecida, deferiu às servidoras públicas 
adotantes o direito a mesmo prazo de licença-maternidade para o caso de nascimento de 
filhos biológicos.48 
No Superior Tribunal de Justiça, encontrou-se julgado que em que se questionava 
a constitucionalidade do art. 4º da Lei Estadual nº 447/2009 (SC), que trata da licença 
parental em Santa Catarina (a lei previa restrição a idade da criança adotada para tempo 
de licença)49 
Sobre o termo licença parental em específico, não se encontrou no Supremo 
Tribunal Federal e Superior Tribunal de Justiça decisão que discuta especificamente o 
tema. No TRF da 4ª Região encontrou-se decisão que se guia e faz referência ao RE 
778889 do STF, já mencionado.50 
 
46
 BRASIL. Tribunal Regional Federal da 4ª Região. Apelação/Reexame Necessário Nº 5056007-70.2013.404.7000/PR. 
Apelante: Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Apelado: João Eloir Carvalho. Relator: Desembargador Paulo Paim 
da Silva, Porto Alegre,09 out. 2014. Disponível em: < 
http://jurisprudencia.trf4.jus.br/pesquisa/inteiro_teor.php?orgao=1&documento=7142187&termosPesquisados=pai|viuvo|li
cenca|maternidade>. Acesso em: 29 nov. 2016. 
47
 Idem. Tribunal Regional Federal da 4ª Região. Agravo de instrumento nº5022684-88.2014.404.0000/RS. Op. cit. 
48
 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Repercussão Geral no Recurso Extraordinário 778. 889. Recorrente: Monica 
Correia de Araújo. Recorrido: União. Relator Ministro Roberto Barroso, Brasília, 20 nov. 2014. Disponível em: 
<http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/listarJurisprudencia.asp?s1=%28778889%2ENUME%2E+OU+778889%2EPR
CR%2E%29&base=baseRepercussao&url=http://tinyurl.com/jkexdds>. Acesso em: 29 nov. 2016. 
49 
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Decisão Monocrática Recurso Especial Nº 1.554.902 - SC (2015/0209618-4). 
Recorrente: Estado de Santa Catarina. Recorrido: Ministério Público de Santa Catarina. Relator: Ministro Sérgio Kukina, 
Brasília, 10 ago. 2016. Disponível em: < 
https://ww2.stj.jus.br/processo/monocraticas/decisoes/?num_registro=201502096184&dt_publicacao=18/08/2016>. 
Acesso em: 29 nov. 2016. 
50
 Idem. Tribunal Regional Federal da 4ª Região. Recurso Extraordinário em Mseg nº 0000989-32.2015.4.04.0000/Rs. 
Recorrente: União Federal. Recorrido: Carla Cristina Borges Nogueira. Desembargador Federal CARLOS EDUARDO 
THOMPSON FLORES LENZ (Vice-Presidente), Porto Alegre, 8 ago. 2016. Disponível em: 
45 I CONGRESSO DE DIREITO DAS MULHERES 
 
 
De modo pioneiro, decisão da Justiça Federal de Santa Catarina concedeu licença-
paternidade de cento e oitenta dias para servidor público que se tornou pai de gêmeos 
(nos mesmos moldes da licença-maternidade). A juíza Simone Barbisan Fortes 
pronunciou-se sobre a desproporção legal do tempo de licença para pais e mães: 
 
É gritante a distinção feita pelo constituinte, podendo-se delinear duas 
premissas que justificariam o porquê dessa diferença, traçada no 
contexto do final da década de 80 no Brasil, apesar da regência do 
Princípio da Isonomia trazido no art. 5º, caput e inciso I, da Carta Maior: 
(i) no caso da licença-paternidade, a premissa de que a parturiente 
também precisaria de cuidados nos dias seguintes ao parto, justificando 
a necessidade da presença paterna pelos primeiros 5 dias; e (ii) no caso 
da licença à gestante, a premissa de que a licença para a mãe deveria ser 
mais alongada porquanto a ela caberia a obrigação de prover a criança, 
sobretudo por meio do aleitamento materno, mas também nas demais 
atividades, dada a cultura enraizada, não só no Brasil, mas inclusive, de 
que cabe tão somente à mulher os cuidados com a prole, relegando-se ao 
homem o papel quase que exclusivo de prover o sustento financeiro da 
família. (grifo nosso) 51 
 
Tais aspectos já foram tratados ao longo deste artigo – a legislação traz a postura 
discriminatória de que ao pai cabe o sustento familiar; à mãe, a responsabilidade e 
cuidados com a prole. Em sua fundamentação, a magistrada traz evoluções históricas da 
licença-maternidade e paternidade: 
 
Nesse sentido, cito: (i) a possibilidade de crianças que, 
infortunadamente, perdem suas mães, terem o mesmo período de licença 
à gestante concedido a seus pais; (ii) a concessão de licença-maternidade 
também à adotante e com idêntica duração; (iii) a possibilidade de 
prorrogação da licença-maternidade em 60 dias além dos 120 dias 
garantidos constitucionalmente; (iv) a possibilidade de prorrogação da 
licença-paternidade em 15 dias além dos 5 dias garantidos 
constitucionalmente; e (v) a prioridade para que a criança seja cuidada 
 
http://www2.trf4.gov.br/trf4/processos/visualizar_documento_gedpro.php?local=trf4&documento=8509064&hash=22eef6
fe623d46ba2060fcb3993cdd95>. Acesso em: 30 nov. 2016. 
51
 BRASIL. Tribunal Regional Federal da 4ª Região. Procedimento do Juizado Especial Cível Nº 5009679-
59.2016.4.04.7200.Op. cit. 
 
por pai e mãe de igual forma, em garantia da isonomia aos genitores, 
mas, sobretudo, da formação do ser em desenvolvimento, como é 
assegurado pela regra da guarda compartilhada.52 
 
Percebe-se que a jurisprudência já entende que o direito a licença-maternidade 
não se funda em condições biológicas – posto que pais homens e adotantes também 
possuem direito a este benefício, que também visa à proteção infantil. Portanto, na 
esteira de países já desenvolvidos, a partir das mudanças legislativas e jurisprudenciais 
apontadas, entende-se que, futuramente, haverá licença parental no Brasil - ao encontro 
do que é proposto pela OIT. 
Talvez esta mudança se consolide pela via judicial. Entretanto, a alteração 
legislativa é o caminho mais seguro e garantido para consolidação da licença parental. 
 
5. CONCLUSÃO 
 
Nas últimas quatro décadas, as recomendações da OIT passaram a reconhecer a 
importância da licença parental para a igualdade no mercado de trabalho. Nesta 
perspectiva, vários países já adotam licenças para pais e/ou mães, com foco na 
distribuição das responsabilidades familiares – tais como Suécia, Albânia, Cuba, Estônia, 
Finlândia, Nova Zelândia, Noruega, Alemanha e Portugal. 
A partir da leitura da legislação brasileira sobre licenças-maternidade e 
paternidade, nota-se uma diferenciação discriminatória entre a licença concedida à mãe 
(120/180 dias) e ao pai (05/20 dias), que não se sustenta por razões biológicas. 
O objetivo desta licença é o cuidado com a criança. Ao se falar em poder familiar 
e guarda compartilhada como regra, pensa-se em distribuição das responsabilidades 
familiares entre pais e mães. Mas os prazos de licença-maternidade e paternidade no 
Brasil colocam o peso dos cuidados infantis sobre a mãe, indo contra a paridade entre os 
gêneros. Há evidente sobrecarga de trabalho para as trabalhadoras brasileiras, em 
comparação com os trabalhadores, que contam com dupla jornada menor. 
 
52
 BRASIL. Tribunal Regional Federal da 4ª Região. Procedimento do Juizado Especial Cível Nº 5009679-
59.2016.4.04.7200.Op. cit.. 
47 I CONGRESSO DE DIREITO DAS MULHERES 
 
 
Casais homoafetivos, homens adotantes singulares e viúvos podem usufruir da 
licença-maternidade. No caso dos casais com mesma orientação de gênero, há a 
possibilidade de escolha sobre quem irá retirar a licença, conforme o §5º, art. 392-A, da 
CLT. 
O referido artigo 392-A e seguintes da CLT representam avanço legislativo, mas 
ainda não prevê a licença parental. 
É possível, através de uma interpretação aberta das normas, aplicar a licença-
maternidade em modos diferenciados – como na decisão que concedeu licença-
paternidade com prazo e condições de licença-maternidade ao servidor público que se 
tornou pai de gêmeos. 
A jurisprudência exibe-se como primeira via para as possíveis modificações que 
disseminem a licença parental no país – sendo fundamental, é claro, a atividade 
legislativa para garantir a regulação do instituto. 
Não há utopia em se imaginar a existência da licença parental no Brasil, como 
forma de promoção da igualdade entre os gêneros – entretanto, estudos mais 
aprofundados quanto às suas possíveis formas de regulação ainda precisam ser 
concluídos. 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
ABRAMO, Laís. Desigualdades de Gênero e Raça no Mercado de Trabalho: tendências 
recentes. Igualdade de gênero e raça no trabalho: avanços e desafios. In: Organização 
Internacional do Trabalho. - Brasília: OIT, 2010. Disponível em: 
<http://www.oitbrasil.org.br/sites/default/files/topic/gender/pub/igualdade_genero_262.

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