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VOL 04-GÊNERO E DIREITOS DA PERSONALIDADE

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1
GÊNERO E DIREITOS DA 
PERSONALIDADE
IDDM
EDITORA 
ISBN 978-85-66789-26-3
Prof.ª Dra. Isadora Vier Machado (UEM)
Prof. Me. Luiz Geraldo do Carmo Gomes (UniCesumar/FADISP)
Prof.ª Me. Crishna Mirella de Andrade Correa (UEM/UFSC)
O Mestrado em Ciências Jurídicas e o Curso de Direito da Unicesumar promovem o III Con-
gresso Internacional de Direitos da Personalidade e IV Congresso de Novos Direitos e Direitos 
da Personalidade, sob o tema "Direitos da Personalidade de Minorias e de Grupos Vulnerá-
veis".
Trata-se da terceira edição de um evento internacional que debate os direitos da personali-
dade, tanto no que se refere aos novos direitos e aos limites da sua proteção na atualidade, 
quanto nos mecanismos jurídicos e extrajurídicos, políticas públicas e ações judiciais voltadas 
a sua concretização, juntamente com a quarta edição do evento nacional de Novos Direitos 
de Direitos da Personalidade, que neste ano realizar-se-ão concomitantemente promovendo a 
integração de discente, docente, pesquisadores e profissionais das mais diversas áreas do co-
nhecimento.
O evento se justifica, primeiramente, em razão da temática dos direitos da personalidade ser 
abordada de forma inédita pelo Mestrado em Ciências Jurídicas da Unicesumar, e, por propor-
cionar uma cooperação internacional através do amplo diálogo e aproximação entre pesquisa-
dores brasileiros e estrangeiros sobre as inovações normativas, institucionais, jurisprudenciais 
e as mais recentes literaturas na área.
Quanto ao alcance, o evento justifica-se por propiciar a difusão de conhecimento entre os 
pesquisadores, professores, mestrandos, doutorandos e estudantes da graduação. Além disso, o 
evento será aberto ao público e a toda a comunidade científica do Brasil e do exterior, que será 
convidada a participar com envio de artigos científicos, painéis, exposição de arte e minicursos.
GÊNERO E DIREITOS DA PERSONALIDADE
PRIMEIRA 
EDIÇÃO
MARINGÁ – PR
2017 
IDDM
EDITORA 
Todos os Direitos Reservados à
Rua Joubert de Carvalho, 623 – Sala 804 
CEP 87013-200 – Maringá – PR
IDDM
EDITORA 
Gênero e direitos da personalidade.
 / organizadores, Isadora Vier Machado, Luiz Geraldo 
 do Carmo Gomes, Crishna Mirella de Andrade Correa.
 – 1. ed. – Maringá, Pr: IDDM, 2017.
 132 p.: il; color.
 Modo de Acesso: World Wide Web:
 <https://www.unicesumar.edu.br/category/mestrado/>
 ISBN: 978-85-66789-26-3
 
 1. Trabalho doméstico. 2.Transexualidade. 3. Dignidade. 4. 
Homoparentalidade. 5. Pornografia da vingança. I. Título.
 CDD 22.ed. 346.013
Rosimarizy Linaris Montanhano Astolphi –Bibliotecária CRB/9-1610
Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP)
G326
Copright 2017 by IDDM Editora Educacional Ltda.
CONSELHO EDITORIAL
Prof. Dr. Alessandro Severino Valler Zenni, Professor da Universidade Estadual de Maringá (UEM).
Lattes: http://lattes.cnpq.br/5969499799398310
Prof. Dr. Alexandre Kehrig Veronese Aguiar, Professor Faculdade de Direito da Universidade de Brasília 
(UnB).
Lattes: http://lattes.cnpq.br/2645812441653704
Prof. Dr. Fabrício Veiga Costa, Professor da Pós-Graduação Stricto Sensu em Proteção em Direitos Funda-
mentais da Universidade de Itaúna. 
Lattes: http://lattes.cnpq.br/7152642230889744
Prof. Dr. José Francisco Dias, Professor da Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Campus Toledo. 
Lattes: http://lattes.cnpq.br/9950007997056231
Profª Drª Sônia Mari Shima Barroco, Professora da Universidade Estadual de Maringá (UEM).
Lattes: http://lattes.cnpq.br/0910185283511592
Profª Drª Viviane Coelho de Sellos-Knoerr , Coordenadora do Programa de Mestrado em Direito da 
Unicuritiba.
Lattes: http://lattes.cnpq.br/4609374374280294
http://lattes.cnpq.br/5969499799398310
http://lattes.cnpq.br/2645812441653704
http://lattes.cnpq.br/7152642230889744
http://lattes.cnpq.br/9950007997056231
http://lattes.cnpq.br/0910185283511592
http://lattes.cnpq.br/4609374374280294
6
PREFÁCIO 
Eventos, livros e artigos, podem, de uma ou de outra forma, ser autorreferência. Neste sen-
tido, inicia-se o presente prólogo dizendo que, observado em todos os seus aspectos, o presente 
livro materializa a autorreferência de um evento, do conjunto de capítulos que o totaliza, e da har-
monia da obra em si mesma. 
Resultado do III Congresso Internacional de Direitos de Personalidade, e do IV Congresso de 
Novos Direitos e Direitos da Personalidade, realizados conjuntamente pelo Programa de Pós-gra-
duação Stricto Sensu em Direito e pelo Curso de Direito do Centro Universitário de Maringá, duran-
te os dias 26, 27 e 28 de setembro de 2016, este livro corporifica a maturidade científico-jurídica 
dos autores dos trabalhos que foram apresentados perante o GT1 que se desenvolveu durante o 
evento, e cujo nome original dá título ao livro.
Neste sentido, importante dizer que o evento contou com o protagonismo de professores e 
profissionais, do Brasil e do exterior, que proferiram palestras relacionadas à temática dos Direitos 
da Personalidade, associada aos Novos Direitos, Minorias e Grupos Vulneráveis. Ademais, merece 
especial alusão a presença do público, formado por mais de mil e quinhentas pessoas que presti-
giaram todas as atividades promovidas no decorrer dos dias de sua realização. 
Em relação ao livro que ora se apresenta, transcendental subscrever que a atualidade dos 
Direitos da Personalidade e dos Novos Direitos está a exigir reflexões que dimensionem, de um 
lado, o papel do Estado, do Direito e da própria sociedade, e de outro, os mecanismos de defesa e 
garantia jurídica e extrajurídica, as políticas públicas e as ferramentas que estão disponíveis à sua 
concreção. 
Por isto, capital enaltecer que, as páginas que seguem, oferecem o mais moderno e aguçado 
pensamento científico sobre o tema, pois tanto acirram o debate acadêmico sobre pontos contro-
vertidos, como elucidam dúvidas, e provocam indagações que determinam a necessária continui-
dade da discussão jurídica sobre questões ainda carentes de consolidação pelo Direito pátrio.
Os organizadores da obra, outrora Coordenadores do Grupo de Trabalho que acolheu a apre-
sentação verbal das produções intelectuais aqui concentradas, fazem jus ao nosso particular aplau-
so, pois lograram reunir o resultado de pesquisas que percorreram, com maturidade acadêmico-
-científico, todas as particularidades de cada assunto que perfaz um a um dos capítulos do livro.
É deste modo que, na qualidade de Coordenadores do evento, cumpre-nos dizer que este 
livro não pode, sob qualquer hipótese, permanecer adormecido nas prateleiras de uma biblioteca. 
Tanto o seu conteúdo, como o trabalho científico que deu guarida à produção literária que se colo-
ca à disposição do leitor, conclamam que o mesmo circule pelo universo acadêmico, seja utilizado 
como ferramenta de consulta, e adotado como referência obrigatória nas pesquisas implementadas 
pela influência, ou inspiração, dos assuntos retratados nesta obra.
1 Grupo de Trabalho.
7
Finalmente, estendemos um efusivo e afetuoso agradecimento para todos os que colabora-
ram para o sucesso do III Congresso Internacional de Direitos de Personalidade, e do IV Congresso 
de Novos Direitos e Direitos da Personalidade. Aos Organizadores da obra, subscrevemos a grati-
dão pela diligência, tanto na Coordenação do GT, como no adensamento dos artigos. Aos autores 
de cada um dos capítulos, assinamos um portentoso parabéns pelo brilho de sua pesquisa, e pela 
plenitude de seu manuscrito.
José Eduardo de Miranda, Ph. D.
José Sebastião de Oliveira, Ph. D.
Valéria Silva Galdino Cardin, Ph. D.
SUMÁRIO
GÊNERO E DIREITOS DA PERSONALIDADE
A PROTEÇÃO À DIGNIDADE DA TRABALHADORA DOMÉSTICA E A LEI MARIA 
DA PENHA
INTRODUÇÃO 12
CONSIDERAÇÕES HISTÓRICAS DA PROTEÇÃO À DIGNIDADE 
DA TRABALHADORA DOMÉSTICA 13
INTERSECÇÃO ENTRE A LEI COMPLEMENTAR 150/2015 E A LEI MARIA DA PENHA 16
CONCLUSÃO 22
REFERÊNCIAS 22
ACESSO À JUSTIÇA E DIREITOS HUMANOS: O (IN)ACESSO DASPESSOAS 
TRANSGÊNERAS: RETIFICAÇÃO DE PRENOME E DESÍGNIO SEXUAL
1 – INTRODUÇÃO 25
2 – ARQUEOGENEALOGIA – DIREITO, PODER E CONSTITUIÇÃO 
DO SUJEITO. UM BREVE HISTÓRICO DO CORPO 27
4. CONSIDERAÇÕES 32
REFERÊNCIAS 33
CORPOS TRANS ATRAVESSADOS NO ESPORTE
INTRODUÇÃO 35
1 O CORPO TRANS E SUA ‘SUPOSTA’ APARIÇÃO E CONSTANTE DEVIR 36
2 EXISTEM TRANS NOS ESPORTES? 38
3 DO PRENOME QUE SE QUER AO LIMBO QUE JAMAIS SE DESEJA ESTAR 39
CONCLUSÃO 43
REFERÊNCIAS 44
SUMÁRIO
DIREITOS DA PERSONALIDADE E A DISCRIMINILIZAÇÃO DA MULHER 
DOMÉSTICA NO MEIO AMBIENTE DE TRABALHO
INTRODUÇÃO 46
DO CONTEXTO HISTORICO DAS MULHERES NO AMBIENTE DE TRABALHO 47
TRANSIÇÃO DO TRABALHO ESCRAVO PARA O ASSALARIADO 49
O TRABALHO DOMÉSTICO E A LEGISLAÇÃO BRASILEIRA 51
DA DISCRIMINAÇÃO DA MULHER EMPREGADA DOMÉSTICA NOS DIAS DE HOJE 53
DIREITO DA PERSONALIDADE E A MULHER DOMÉSTICA 56
CONCLUSÃO 57
REFERÊNCIAS 59
DOS EFEITOS DA ADOÇÃO POR PARES HOMOAFETIVOS
INTRODUÇÃO 61
1 CONCEITO E BREVE HISTÓRICO 61
2 A ATUAL DISCIPLINA DA ADOÇÃO 64
3 DA VULNERABILIDADE DOS MENORES À ESPERA DA ADOÇÃO 65
4 A POSSIBILIDADE JURÍDICA DE ADOÇÃO POR CASAIS HOMOAFETIVOS 66
5 CRITÉRIO DA FILIAÇÃO NA LEI BRASILEIRA 68
6 O VÍNCULO AFETIVO E A PLURALIDADE FAMILIAR 68
7 EFEITOS DA ADOÇÃO 69
CONCLUSÃO 71
REFERÊNCIAS 72
SUMÁRIO
FEMINICÍDIO, DIGNIDADE E GÊNERO: A APLICAÇÃO DO FEMINICÍDIO AOS 
HOMICÍDIOS QUE VITIMAM TRANSEXUAIS
INTRODUÇÃO 74
1 DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA E SEUS DESDOBRAMENTOS 75
2 DA QUESTÃO DA IDENTIDADE 78
3 DA VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER 79
4 DO FEMINICÍDIO NO BRASIL 80
5 DA APLICAÇÃO DO FEMINICÍDIO AOS CASOS DE HOMICÍDIO 
QUE VITIMAM TRANSEXUAIS 82
CONCLUSÃO 85
REFERÊNCIAS 86
O DANO MORAL DECORRENTE DA PORNOGRAFIA DA VINGANÇA
INTRODUÇÃO 90
2 PORNOGRAFIA DA VINGANÇA 91
3 DIREITOS DA PERSONALIDADE VIOLADOS PELA PORNOGRAFIA DA VINGANÇA 95
4 A RESPONSABILIDADE CIVIL DE CORRENTE DA PORNOGRAFIA DA VINGANÇA 98
CONCLUSÃO 103
REFERÊNCIAS 104
SUMÁRIO
OS CORPOS EFÊMEROS E AS CORPORIFICAÇÕES NORMATIZADAS: UMA 
ANALISE DA PROTEÇÃO JURÍDICA DOS DIREITOS DA PERSONALIDADE E SUA 
EXTENSÃO AS DRAG QUEENS
INTRODUÇÃO 107
A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE E AS RESIGNIFICAÇÕES DO INDIVIDUO 108
2. A CONSTRUÇÃO A PARTIR DA REPRESENTAÇÃO: AS DRAGS 
 E O SEU “LUGAR SOCIAL” 110
3. O CORPO E SUAS CORPORIFICAÇÕES: UM TERRITÓRIO CONVERGENTE 
DE INQUIETAÇÕES 111
CONCLUSÃO 113
REFERÊNCIAS 114
SEGURIDADE SOCIAL E A PROMOÇÃO DA IGUALDADE DE GÊNERO
INTRODUÇÃO 117
1 A EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA SEGURIDADE SOCIAL E A PROTEÇÃO DA MULHER 118
2 DIREITO À SEGURIDADE SOCIAL DA MULHER 124
CONCLUSÃO 128
REFERÊNCIAS 130
12
A PROTEÇÃO À DIGNIDADE DA TRABALHADORA 
DOMÉSTICA E A LEI MARIA DA PENHA
Ana Letícia Domingues Jacinto1
Marino Elígio Gonçalves2
RESUMO: A relação de emprego doméstico possui peculiaridades culturais e jurídicas oriundas tanto de sua origem 
histórica, quanto da evolução normativa que se tem observado no ordenamento jurídico brasileiro. Além disso, por se 
tratar de uma categoria constituída majoritariamente por mulheres, nota-se uma íntima relação desta classe de profis-
sionais com os debates sobre gênero, relações de poder e a manutenção de desigualdades sociais. Não por acaso, 
as previsões legais de proteção à dignidade da trabalhadora doméstica correram sempre com atraso em relação às 
tentativas normativas de proteção às demais mulheres integradas no mercado de trabalho, seja para garantia de di-
reitos trabalhistas básicos, seja para oferecer suportes legais destinados a prevenir e punir atentados à sua dignidade 
enquanto sujeito de cidadania plena, como se faz necessário em uma sociedade desigual. A recente Lei Complementar 
150/2015 trouxe importantes inovações legais destinadas a essas trabalhadoras, inclusive, prevendo a correlação do 
emprego doméstico com a Lei Maria da Penha, representando um esforço legislativo para aproximar os serviços de 
proteção à mulher em relação às trabalhadoras domésticas.
PALAVRAS-CHAVES: Lei Maria da Penha. Trabalho doméstico. Violência de gênero. 
INTRODUÇÃO 
A análise das intersecções entre as desigualdades de gênero e as proteções legais desti-
nadas a possibilitar o pleno desenvolvimento da dignidade da trabalhadora, é fundamental para 
efetivação das novas previsões legais que têm como objetivo consolidar um tratamento isonômico.
No caso das trabalhadoras domésticas, se tornam ainda mais evidentes as desigualdades 
das relações estabelecidas em nossa sociedade, ainda que em comparação aos direitos das de-
mais trabalhadoras. 
 Na realização desta pesquisa, foram utilizados elementos históricos capazes de indicar as 
origens e manutenção da vulnerabilidade da trabalhadora doméstica, bem como, o lento trabalho 
legislativo destinado à sua proteção. 
Ademais, após ser chamada a atenção para a história de desvalorização que perpassa o 
ambiente de trabalho desta categoria, se passa a analisar a intersecção da Lei Complementar (LC) 
150/2015 com a Lei Maria da Penha, atentando, no entanto, que ainda não se consolidou o en-
tendimento de sua aplicação em relação à trabalhadora vítima e, tampouco, a efetividade de seus 
direitos por parte do poder judiciário. 
É necessário que se construa um entendimento uníssono quanto à integração dessa categoria 
ao sistema protetivo da Lei Maria da Penha, quanto mais por ter sido expressamente invocada na 
1 Graduada em Direito pela Universidade Estadual de Maringá. Endereço eletrônico: ana.leticia.domingues@gmail.
com
2 Professor da Universidade Estadual de Maringá. Mestre em Direito pela Universidade Estadual de Maringá. En-
dereço eletrônico:marinouem@gmail.com
13
Lei Complementar 150/2015, que regulamentou o emprego doméstico, a partir de junho de 2015.
Desse modo, foi adotado o método teórico através da consulta interligada de obras, documen-
tos eletrônicos e textos legais que tratam sobre a trabalhadora doméstica e as questões de gênero, 
com especial atenção à Lei Maria da Penha. 
CONSIDERAÇÕES HISTÓRICAS DA PROTEÇÃO À DIGNIDA-
DE DA TRABALHADORA DOMÉSTICA 
No ano de 2013 a Organização Internacional do Trabalho (OIT)3 publicou relatório resultante 
de um estudo global sobre o trabalho doméstico, sendo que o Brasil é apontado como o país com o 
maior número de trabalhadores desta categoria, com cerca de 7.200.000 (sete milhões e duzentos 
mil).4
Deste número total, apenas 504.000 (quinhentos e quatro mil) são homens e 6.700.000 (seis 
milhões e setecentos mil) são mulheres. Isso significa que, entre todas as mulheres ativas no mer-
cado de trabalho no país, 17% (dezessete por cento) delas prestam serviços na área doméstica,5 
o que indica que essa relação de trabalho está intimamente ligada a questões de gênero e o papel 
exercido pela mulher na sociedade brasileira. 
Em contraponto ao elevado contingente de trabalhadoras domésticas, estas profissionais se 
encontraram sempre marginalizadas das proteções legais, uma vez que seu desprestígio cultural e 
jurídico ainda é o reflexo das origens da categoria.
A história do trabalho doméstico na sociedade brasileira se iniciou no período escravocrata, 
quando as mulheres negras tornadas escravas passaram a realizar as atividades domésticas da 
casa grande.6
Durante o século XX, a prestação de serviços no ambiente doméstico, embora exercido por 
cidadãs livres, permaneceu altamente desvalorizada e carregada de traços assistencialistas e de 
servilismo.7
Além das péssimas condições de trabalho, a desvalorização dessas mulheres trabalhadoras 
e a inexistência de proteção legal, criaram situações de violência e impunidade:
3 A Organização Internacional do Trabalho (OIT) é uma agência vinculada à Organização das Nações Unidas 
(ONU) composta por 186 países membros, cujo objetivo é promover dignas condições de trabalho e garantir interna-
cionalmente os direitos dos trabalhadores. Cf. ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO. Apresentação; 
Organização Internacional do Trabalho: Promovendo o trabalho decente. Disponível em: <http://www.oitbrasil.org.br/
content/apresenta%C3%A7%C3%A3o>.Acesso em: 14 ago. 2016.
4 SANTOS, Aloysio. Manual de contrato de trabalho doméstico: de acordo com a nova lei do trabalho de 2015. 5. 
ed. rev. atual. e ampl. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2015. p. 10.
5 BRASIL tem o maior número de domésticas do mundo, diz OIT. G1, São Paulo, 09 jan. 2014. Disponível em: 
<http://g1.globo.com/concursos-e-emprego/noticia/2013/01/brasil-tem-o-maior-numero-de-domestica-do-mundo-diz-
-oit.html>. Acesso em: 15 ago. 2016.
6 SANTOS, Aloysio. Manual de contrato de trabalho doméstico: de acordo com a nova lei do trabalho de 2015. 5. 
ed. rev. atual. e ampl. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2015. p. 8.
7 PINTO, Elisabete Aparecida. Mulher negra e o emprego doméstico: a travessia pelo século XX e as novas pers-
pectivas para o século XXI. Disponível em: <http://www.geledes.org.br/mulher-negra-e-o-emprego-domestico-a-traves-
sia-pelo-seculo-xx-e-as-novas-perspectivas-para-o-seculo-xxi/>. Acesso em: 17 ago. 2016.
14
Além de realizar um trabalho com pouca ou sem nenhuma remuneração, além de uti-
lizarem vestes velhas e alimentação precária, as mulheres trabalhadoras domésticas 
também eram submetidas com muita frequência a abusos físicos, morais e sexuais. 
Como não havia leis para regulamentar este tipo de trabalho, as poucas mulheres 
que denunciavam violência eram silenciadas.8
O suporte normativo para enfrentamento de abusos no ambiente de labor destas trabalhado-
ras foi e ainda vem sendo concedido de modo muito mais lento, explicado em grande parte porque 
“na realidade sociocultural brasileira, as relações privadas sempre foram marcadas por uma men-
talidade patriarcal e segregadora.”9
Acerca da prestação de serviços gerais, havia exíguas referencias na legislação pátria que 
acabavam por serem aplicadas a situações jurídicas que envolvessem as trabalhadoras domésti-
cas, como o Código Comercial de 1850 e o Código Civil de 1916, que tratavam fundamentalmente 
do contrato de locação de serviços.10
Inclusive, durante o período escravagista ocorria a prática de locação das escravas domésti-
cas, uma vez que os proprietários as alugavam a outra família, recebendo os lucros pelo aluguel, 
enquanto o locatário se responsabilizava pelo sustento da trabalhadora.11
Posteriormente, no início do século XX, a persistência da precariedade das condições de 
trabalho teve como resposta a luta coletiva que objetivava a valorização da profissão, como a As-
sociação de Trabalhadores Domésticos do Brasil criada em 1936 e a atual Federação Nacional das 
Trabalhadoras Domésticas.12
A primeira referência legal que previu uma mínima proteção à dignidade destas mulheres 
ocorreu somente em 1941 com o Decreto-Lei n. 3.078 que, dispondo “sobre a locação dos empre-
gados em serviços domésticos”13, conferiu alguns direitos básicos, como recebimento de condições 
mínimas de higiene, alimentação e moradia e tratamento em respeito à sua honra e sua integridade 
física. 
Com a entrada em vigor da Constituição Federal (CF) de 1988, a ampliação da proteção 
estatal reconhecida à essas profissionais refletiu a intensificação dos direitos sociais, ocorrida no 
contexto da redemocratização do país a partir de 1985.
Somente após a Constituição Federal foram enfim assegurados direitos básicos como salário 
8 MOURA, Gabriela. Mulher negra – empregada doméstica: origem escravagista e manutenção de castas so-
ciais.Disponível em:<http://www.naomekahlo.com/#!Mulher-negra-%E2%80%93-empregada-dom%C3%A9stica-ori-
gem-escravista-e-manuten%C3%A7%C3%A3o-de-castas-sociais/c1a1n/5616fa8f0cf297bd685b0283>.Acesso em: 15 
ago. 2016.
9 SANTOS, Ana Claudia Schwenck dos. Empregados domésticos : o que mudou? 2. ed. São Paulo: Rideel, 2015. 
p. 21.
10 Ibid., p. 3. 
11 MOURA, Gabriela. Mulher negra – empregada doméstica: origem escravagista e manutenção de castas so-
ciais. Disponível em:<http://www.naomekahlo.com/#!Mulher-negra-%E2%80%93-empregada-dom%C3%A9stica-ori-
gem-escravista-e-manuten%C3%A7%C3%A3o-de-castas-sociais/c1a1n/5616fa8f0cf297bd685b0283>.Acesso em: 15 
ago. 2016.
12 FEDERAÇÃO NACIONAL DAS EMPREGADAS DOMÉSTICAS. Institucional: Décadas de luta. Disponível em: 
<Ihttp://www.fenatrad.org.br/site/institucional/>. Acesso em: 16 ago. 2016.
13 BRASIL. Decreto-Lei n. 3.078, de 27 de fevereiro de 1941. Dispõe sobre a locação dos empregados em serviço 
doméstico. Disponível em: <http://legis.senado.gov.br/legislacao/ListaPublicacoes.action?id=18953>. Acesso em: 15 
ago. 2016.
http://www.fenatrad.org.br/site/institucional/
15
mínimo e outros direitos ligados intimamente à proteção da mulher trabalhadora, como a licença-
-maternidade e o salário-maternidade recebido durante o período de licença.
Posteriormente, apenas com a Lei 11.324/2006 foi vedada a dispensa arbitrária ou sem justa 
causa da empregada doméstica gestante, após a confirmação da gravidez e até 5 (cinco) meses 
após o parto.14
No ano de 2012 a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) n. 66 que ficou popularmente 
conhecida como “PEC das Empregadas Domésticas”15 trouxe luz à situação jurídica da trabalhado-
ra doméstica.
O parecer aprovado na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania do Senado Federal 
expõe que:
Não é demais enfatizar, que, segundo o Ministério do Trabalho e Emprego, existem 
cerca de 7 milhões de trabalhadores domésticos. Desses, apenas um milhão deles 
têm carteira assinada. Já os dados da Federação Nacional das Trabalhadoras Do-
mésticas apontam que a classe quase duplicou em menos de dez anos. Segundo a 
entidade, o número, hoje, no País, chegaria a 9,1 milhões. Cerca de 80% desses tra-
balhadores são negros e 94% são mulheres. Existem também dados preocupantes: 
410 mil crianças estão no trabalho doméstico e 1,8 milhões desses trabalhadores 
ganham de zero a meio salário mínimo por mês.16
 A aprovação da “PEC das Domésticas” resultou na Emenda Constitucional (EC) 72 de 2013, 
momento importante de ampliação das previsões legais destinadas à proteção à dignidade destas 
trabalhadoras, com a limitação da jornada de trabalho, o direito à assistência aos filhos e depen-
dentes até os 5 (cinco) anos de idade em creches e pré-escolas, bem como das previsões cons-
titucionais referentes às “regras antidiscriminatórias”17que vedam as diferenciações no trabalho 
motivadas por “sexo, idade, cor ou estado civil”18. 
Por oportuno, destacamos que, às demais mulheres no mercado de trabalho, já eram vedadas 
legalmente condutas que atentassem contra a dignidade da mulher trabalhadora, conforme art. 373 
e 373-A, da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), no entanto, não se aplicavam às mulheres 
pertencentes justamente à categoria mais carente de legislação protetiva.
A proibição legal de condutas discriminatórias contra as empregadas domésticas representou 
um grande passo, visto que eram
vítimas históricas de abusos, e a antiga falta de previsão específica de condutas 
vedadas na lei limitava a competência da Justiça do Trabalho para conhecer de de-
14 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de direito do trabalho: história e teoria geral do direito do trabalho: rela-
ções individuais e coletivas do trabalho. 26. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. p. 941.
15 SANTOS, Ana Claudia Schwenck dos. Empregados domésticos : o que mudou? 2. ed. São Paulo: Rideel, 2015. 
p. 5. 
16 SENADO FEDERAL. Parecer n. 102, de 2013. Da Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania, sobre a Pro-
posta de Emenda à Constituição n. 66, de 2012 (n. 478/2010, na Câmara de Deputados), tendo como primeiro sig-
natário o Deputado Carlos Bezerra, que altera a redação do parágrafo único do art. 7º da Constituição Federal para 
estabelecer a igualdade de direitos trabalhistas entre os trabalhadores domésticos e demais trabalhadores urbanos e 
rurais. Disponível em: <http://www.senado.leg.br/atividade/rotinas/materia/getPDF.asp927&tp=1>. Acesso em: 17 ago. 
2016.
17 DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de direito do trabalho. 13. ed. São Paulo: LTr, 2014. p. 396. 
18 BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil,de 5 de outubro de 1988.Disponí-
vel em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ConstituicaoCompilado .htm>. Acesso em: 15 ago. 2016. 
16
mandas discriminatórias, obstando o acesso das vítimas aos meios de tutela de sua 
dignidade.19
Destaca-se ainda, a partir de 2013, a reprovação constitucional do trabalho noturno, perigoso 
e insalubre a empregadas menores de 18 (dezoito) anos. No entanto, a legislação brasileira, atra-
vés dos Decretos 3.597/2000 e 6.481/2008, já havia proibido a contratação de empregada domés-
tica menor de 18 (dezoito) anos20, uma vez que promulgou a Convenção 182 e a Recomendação 
190 da Organização Internacional do Trabalho sobre a Proibição das Piores Formas de Trabalho 
Infantil e a Ação Imediata para sua Eliminação. 
Cumpre destacar que costumeiramente eram inseridas ao exercício do trabalho doméstico 
mulheres ainda crianças, como elucida o trecho transcrito:
Mesmo libertas, não era raro que estas mulheres exercessem serviço doméstico 
desde a infância, tanto pela necessidade de sobrevivência de famílias pobres, que 
viviam em condições precárias, quanto por ser mão de obra barata aos seus patrões. 
Para manter crianças e adolescentes em seu contingente de trabalhadores domés-
ticos, muitos patrões entravam com pedido de tutela de menores – órfãos pobres –, 
tendo-os dentro de suas residências da maneira legal e institucionalizada, e fazen-
do-os trabalharem de maneira compulsória. O trabalho infantil feminino não remune-
rado foi facilitado por uma portaria imperial de 1835, e difundiu-se rapidamente por 
cidades como o Rio de Janeiro, onde era alimentada a tradição de que menores de 
12 anos não poderiam solicitar um salário caso o patrão já arcasse com sua alimen-
tação e vestimenta.21
 Somente em 2015, entrou em vigor a Lei Complementar 150 que, depois de décadas de des-
caso do ordenamento jurídico brasileiro, criou regramentos próprios atendendo às peculiaridades 
da relação doméstica. 
INTERSECÇÃO ENTRE A LEI COMPLEMENTAR 150/2015 E A 
LEI MARIA DA PENHA 
A Lei 11.340/2006, conhecida como a Lei Maria da Penha e a Lei Complementar 150/2015, 
que regulamentou o emprego doméstico no Brasil, possuem proximidades que vão além de serem 
inovações legislativas que possuem como destinatárias principais as mulheres, que se viam em 
situação de frágil proteção legal antes do advindo de ambas as normas.
A Lei Complementar 150/2015, embora seja uma norma trabalhista, não passou alheia às 
violências de gênero cometidas no ambiente de trabalho das mulheres empregadas domésticas, 
fazendo expressa menção à Lei Maria da Penha. 
19 SANTOS, Ana Claudia Schwenck dos. Empregados domésticos : o que mudou? 2. ed. São Paulo: Rideel, 2015. 
p. 107. 
20 Ibid. p. 108. 
21 MOURA, Gabriela. Mulher negra – empregada doméstica: origem escravagista e manutenção de castas so-
ciais.Disponível em:<http://www.naomekahlo.com/#!Mulher-negra-%E2%80%93-empregada-dom%C3%A9stica-ori-
gem-escravista-e-manuten%C3%A7%C3%A3o-de-castas-sociais/c1a1n/5616fa8f0cf297bd685b0283>.Acesso em: 15 
ago. 2016.
17
Isso porque, em seu art. 27, parágrafo único, inciso VII, apresenta uma hipótese especializa-
da de rescisão do contrato de trabalho por culpa do empregador, caso este pratique “qualquer das 
formas de violência doméstica ou familiar contra mulheres de que trata o art. 5o da Lei no 11.340, de 
7 de agosto de 2006.”22 
Sobre a aplicação de referido dispositivo, no entanto, se identificam diferentes entendimentos 
acerca do sujeito passivo da violência doméstica que resulta na rescisão do contrato de trabalho. 
Por um lado, parte da doutrina sustenta que se trata das diversas formas de violências cometi-
das contra mulheres da própria família empregadora. Isso porque, a ofensa física ou contra a honra 
da empregada doméstica (e de qualquer trabalhador), já geraria a rescisão contratual prevista na 
CLT, independentemente da questão de genêro. 
O término do contrato de trabalho pela ocorrência de violência doméstica, mesmo que não 
tenha como vítima a própria empregada, se justificaria, portanto, pela impossibilidade de se ter um 
ambiente de trabalho saudável. 23
Sob este entendimento, os casos de violência suportados pelas empregadas domésticas de-
vem ser resolvidos nos juízos criminais ou trabalhistas, uma vez que não haveria características 
fundamentais para aplicação da Lei Maria da Penha como “relação de afeto, dependência emocio-
nal e/ou patrimonial, ciclo da violência etc.”24
Por outro viés, no entanto, se entende que a Lei Complementar 150/2015 inadmite a continua-
ção do contrato de trabalho frente às violências dispostas na Lei Maria da Penha, tendo como ob-
jetivo coibir atentados contra a integridade física e psicológica da própria empregada doméstica.25
Tal ponto de vista teria sua justificativa na herança de abusividade e desvalorização destas 
trabalhadoras, bem como na possibilidade de caracterização das violações cometidas na relação 
de emprego doméstico dentro da sistemática protetiva da Lei Maria da Penha. 
Sob esta última perspectiva, necessário que sejam analisadas as peculiaridades das violên-
cias cometidas contra a empregada doméstica, fazendo-se um paralelo com os elementos enseja-
dores da proteção legal representada pela Lei Maria da Penha. 
Quanto aos envolvidos na situação de violência, ou seja, os sujeitos ativos e passivos da lei 
protetiva, é possível se encontrar no quadro do trabalho doméstico, mulheres vítimas agredidas de 
um lado e, de outro, ofensores conhecidos e próximos.26
22 BRASIL. Lei Complementar n. 150, de 1º de junho de 2015. Dispõe sobre o contrato de trabalho doméstico; altera 
as Leis n. 8.212, de 24 de julho de 1991, n. 8.213, de 24 de julho de 1991, e n. 11.196, de 21 de novembro de 2005; 
revoga o inciso I do art. 3º da Lei n. 8.009, de 29 de março de 1990, o art. 36 da Lei n. 8.213 de 24 de julho de 1991, 
a Lei n. 5.859, de 11 de dezembro de 1972, e o inciso VII do art. 12 da Lei n. 9.250, de 26 de dezembro de 1995; e dá 
outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/LCP/Lcp150.htm>. Acesso em 17 ago. 
2016.
23 SANTOS, Ana Claudia Schwenck dos. Empregados domésticos : o que mudou? 2. ed. São Paulo: Rideel, 2015. 
p.88
24 BIANCHINI, Alice. Lei Maria da Penha: Lei 11.340/2006: aspectos assistenciais, protetivos e criminais da violên-
cia de gênero. São Paulo: Saraiva, 2013. p. 35
25 LEITE, Carlos Henrique Bezerra; LEITE, Laís Durval; LEITE, Letícia Durval. A nova Lei do Trabalho Doméstico: 
comentários à Lei Complementar n. 150/2015. São Paulo: Saraiva, 2015. p. 51
26 PARODI, Ana Cecília; GAMA, Ricardo Rodrigues. Lei Maria da Penha – Comentários à Lei nº 11.340/2006. Cam-
pinas: Russell Editores, 2010. p. 55
18
Neste sentido, Maria Berenice Dias, ao tratar sobre os sujeitos da relação de violência do-
méstica, elucida que: “a empregada doméstica, que presta serviço a uma família, está sujeita à 
violência doméstica.”27
Ademais, em relação ao elemento do ambiente doméstico, no caso destas trabalhadoras, é 
inerente à própria relação empregatícia, uma vez que a unidade doméstica se confunde com o seu 
ambiente de trabalho. 
Também Maria Berenice Dias ao abordar sobre o ambiente doméstico violento para aplicação 
da Lei Maria da Penha, no qual a vítima deve estar inserida, ensina que “a tendência é reconhecer 
que neste contexto estão incluídas as empregadas domésticas.”28
Além disso, sobre a motivação de certos abusos cometidos contra a dignidade das mulheres 
trabalhadoras domésticas, é impossível excluir os reflexos da desigualdade entre os gêneros, uma 
vez que essas diferenças são “campo fértil para serem transformadas em atos de discriminação e 
violência”29 e se manifestam de incontáveis maneiras. 
Ao tratar sobre a violência de gênero, Alice Bianchini ensina que
Os papéis sociais atribuídos a homens e mulheres são acompanhados de códigos de 
conduta introjetados pela educação diferenciada que atribui o controle das circuns-
tâncias ao homem, o qual as administracom a participação das mulheres, o que tem 
significado ditar-lhes rituais de entrega, contenção de vontades, recato sexual, vida 
voltada a questões meramente domésticas, priorização da maternidade. Resta tão 
desproporcional o equilíbrio de poder entre os sexos, que sobra uma aparência de 
que não há interdependência, mas hierarquia autoritária. Tal quadro cria condições 
para que o homem sinta-se (e reste) legitimado a fazer uso da violência e permite 
compreender o que leva a mulher vítima da agressão a ficar muitas vezes inerte (...)30
Assim, sendo certo que as relações de poder existentes entre os gêneros, constroem os pa-
péis exercidos por homens e mulheres e é exteriorizado em todas as áreas de nossa sociedade, 
não se pode afastar a questão de gênero ao tratar do emprego doméstico, ainda mais ao se obser-
var também a história dessa categoria de trabalhadoras no Estado brasileiro. 
Destaca-se ainda que a inferiorização do trabalhador de modo geral, não é situação rara, uma 
vez que, pela compra da força de trabalho, se estabelece o domínio do empregador e submissão 
do empregado, próprio à relação empregatícia. 
Assim, no caso das empregadas domésticas, a sujeição do gênero feminino, se relaciona, e, 
porque não, se intensifica com a subordinação hierárquica construída numa relação de emprego, 
quanto mais em se tratando de uma profissão tão desvalorizada e exercida majoritariamente por 
mulheres. 
27 DIAS, Maria Berenice. A Lei Maria da Penha na justiça: a efetividade da Lei 11.340/2006 de combate à violência 
doméstica e familiar contra a mulher. 2 ed. ver.atua. eampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2010. p . 55
28 DIAS, Maria Berenice. A Lei Maria da Penha na justiça: a efetividade da Lei 11.340/2006 de combate à violência 
doméstica e familiar contra a mulher. 2 ed. ver.atua. eampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2010. p . 55
29 PARODI, Ana Cecília; GAMA, Ricardo Rodrigues. Lei Maria da Penha – Comentários à Lei nº 11.340/2006. Cam-
pinas: Russell Editores, 2010. p. 56
30 BIANCHINI, Alice. Lei Maria da Penha: Lei 11.340/2006: aspectos assistenciais, protetivos e criminais da violência 
de gênero. São Paulo: Saraiva, 2013. p. 31
19
Acrescenta-se ainda às análises dos elementos necessários para aplicação da Lei Maria da 
Penha, as diversas maneiras de atentar contra a dignidade da mulher no âmbito doméstico, uma 
vez que a violência não apenas é identificada por meio do atentado físico, mas também com a uti-
lização de força psicológica ou intelectual que seja capaz de constranger a vítima e de reduzir sua 
liberdade.31
Ainda, a submissão das mulheres e a própria questão de gênero se intersecciona e se associa 
com diferentes marcadores sociais, como raça, nível de escolaridade, situação econômica, entre 
outros,32 o que indica a complexidade do problema, cuja solução pode não ser efetivada com uma 
interpretação restritiva do texto legal. 
Há doutrinadores, no entanto, que inadmitem a aplicação da Lei Maria da Penha no caso do 
emprego doméstico porque
os legisladores ordinários não pensaram em proteger a mulher enquanto desempe-
nhando atividades laborais, para tanto já existia a CLT e vasta jurisprudência sobre 
assédio moral, entre outras. O que se pretendeu foi proteger a família vítima da vio-
lência doméstica, bem como a mulher sujeito passivo dessa forma de criminalidade.33
Ocorre que, se de um lado, não se pode dizer que as normas trazidas pela Lei 11.340/2006 
possuem como destinatárias principais as empregadas domésticas, por outro viés, entretanto, se 
verificado o preenchimento dos requisitos necessários, não há mandamento proibitivo de sua apli-
cação.
Destaca-se ainda, que entendimentos divergentes ao se tratar da Lei Maria da Penha não é 
uma situação nova, sendo uma norma que desde sua origem sofre inúmeras críticas e tentativas 
de restrições quanto à sua aplicabilidade.
Neste sentido, Carmen Hein de Campos nos apresenta constatações sobre as frequentes 
disputas quanto à efetividade da Lei 11.340/2006
Os vários deslocamentos discursivos sobre o tema da violência doméstica, produzi-
dos pela Lei Maria da Penha, são objeto de disputa política entre posições feministas 
e não feministas (e entre as feministas). Esses deslocamentos são insistentemente 
contrapostos, no intuito de que retornem ao seu lugar de origem, ao seu status quo. 
Assim, as concepções sobre as formas de violência e o tratamento jurídico trazido 
pela Lei refletem as disputas sobre quem fala e o quê se fala.
Nesse sentido, o conceito de violência doméstica adotado pela Lei ultrapassa a limi-
tada noção dos crimes de lesão corporal de natureza leve ou ameaça prevista no Có-
digo Penal. Inscrevem-se outras categorias que ampliam o conceito de crime e essas 
passam a ser questionadas como ‘não jurídicas’. Igualmente, a ruptura dogmática 
entre as esferas civil e penal, com a criação de um juizado híbrido, sofre resistências, 
tanto de natureza teórica quanto prática. No primeiro caso, pelo questionamento des-
31 SANTOS, Andreia ColhadoGallo Grego. Do tratamento jurídico-penal do assédio moral no âmbito familiar e afeti-
vo.Dissertação, Programa de Mestrado em Ciências Jurídicas, Unicesumar –Centro Universitário de Maringá, Maringá, 
2015. p. 33
32 CAMPOS, Carmen Hein de. Razão e Sensibilidade: Teoria Feminista do Direito e Lei Maria da penha..p. 8. Dis-
ponível em < http://www.academia.edu/11416840/Raz%C3%A3o_e_Sensibilidade_
Teoria_Feminista_do_Direito_e_Lei_Maria_da_Penha>. Acesso em 20 ago. 2016.
33 CAVALCANTI, Stela Valéria Soares de Farias. Violência doméstica: análise da Lei Maria da Penha, n. 11.340/2006. 
3. ed. Salvador: Podivm, 2010 apud BIANCHINI, Alice. Lei Maria da Penha: Lei 11.340/2006: aspectos assistenciais, 
protetivos e criminais da violência de gênero. São Paulo: Saraiva, 2013. p. 35
20
sa ruptura através do argumento da inconstitucionalidade e, no segundo, pelas nega-
tivas de solucionar questões de natureza civil/familiar e penal em um mesmo juizado.
Além disso, estão ainda em disputa a afirmação do discurso feminista da violência 
como um problema público (de segurança, cidadania e direitos fundamentais) e o 
discurso tradicional de juristas que, sob o argumento de que nossa legislação já con-
tava com instrumentos para a proteção das mulheres, (independentemente de sua 
pouca eficiência), não havendo necessidade de uma legislação específica.
Ao construir uma legislação específica para nortear o tratamento legal da violência 
doméstica, o feminismo disputa um lugar de fala até então não reconhecido pelos 
juristas tradicionais. É que a afirmação dos direitos das mulheres, através de uma 
legislação específica, ameaça a ordem de gênero no direito penal afirmada por es-
ses juristas. Dito de outra forma, os pressupostos teóricos sob os quais têm se sus-
tentado a formulação sexista sobre o que deve ou não ser considerado um tema de 
relevância jurídica.34
Apesar das disputas e entendimentos divergentes, no entanto, mesmo antes da entrada em 
vigor da LC 150/2015, já se admitia, ainda que de modo isolado e sem grandes repercussões, a 
aplicação da Lei Maria da Penha às empregadas domésticas vitimadas física ou psicologicamente 
na realização de seus trabalhos.
Ainda que parcamente, essa possibilidade já foi admitida por alguns tribunais, como exemplifi-
ca o julgado do Conflito de Competência n. 2008.00.2.001561-8 pelo Tribunal de Justiça do Distrito 
Federal: 
CONFLITO DE COMPETÊNCIA. VARA CRIMINAL E JUÍZO DE VIOLÊNCIA DO-
MÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER. EMPREGADA DOMÉSTICA. CUI-
DANDO-SE DE VIOLÊNCIA CONTRA EMPREGADA DOMÉSTICA, AINDA QUE 
NOS PRIMEIROS DIAS DE SEU TRABALHO NO ÂMBITO RESIDENCIAL DOS PA-
TRÕES, CONFIGURA-SE A COMPETÊNCIA DO JUÍZO DE VIOLÊNCIA DOMÉS-
TICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER, PREVISTA NO INCISO I DO ARTIGO 5º 
DA LEI Nº 11.340/2006, EXPRESSO EM PROTEGER INCLUSIVE AS MULHERES 
“SEM VÍNCULO FAMILIAR” E “ESPORADICAMENTE AGREGADAS”. JULGADO 
COMPETENTE O JUÍZO DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRAA 
MULHER.35
E também, no caso similar do Recurso em Sentido Estrito de n.0018881-42.2013.8.19.0206, 
no mesmo caminho seguiu o Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro:
RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. EMPREGADA DOMÉSTICA. IMPUTAÇÃO 
AO RECORRIDO DA CONDUTA DESCRITA NO ARTIGO 140, § 3º, C/C 145, PARÁ-
GRAFO ÚNICO, TODOS DO CÓDIGO PENAL. DECLÍNIO DE COMPETÊNCIA PARA 
UMA DAS VARAS CRIMINAIS DESTA CAPITAL. RECURSO DO MINISTÉRIO PÚ-
BLICO. ALEGAÇÃO DE QUE O CRIME FOI PERPETRADO MEDIANTE VIOLÊNCIA 
DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER, A DESPEITO DA SUA QUALIDA-
DE DE EMPREGADA. PROTEÇÃO EXPRESSA À MULHER VÍTIMA DE VIOLÊNCIA 
NO ÂMBITO DOMÉSTICO, COM OU SEM VÍNCULO FAMILIAR, INCLUSIVE AS 
ESPORADICAMENTE AGREGADAS. ARTIGO 5º, INCISO I, DA LEI 11.340/2006. 
CONDUTA PERPETRADA CONTRA A EMPREGADADOMÉSTICA, BABÁ DA FILHA 
34 CAMPOS, Carmen Hein de. Razão e Sensibilidade: Teoria Feminista do Direito e Lei Maria da penha..p. 6. Dis-
ponível em < http://www.academia.edu/11416840/Raz%C3%A3o_e_Sensibilidade_
Teoria_Feminista_do_Direito_e_Lei_Maria_da_Penha>. Acesso em 20 ago. 2016. 
35 BRASIL. Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios. Conflito de Competência n. 2008.00.2.001561-8. 
Câmara Criminal. Rel. Des. Edson Alfredo Smaniotto. 03 jul. 2009. Disponível em: <http://tj-df.jusbrasil.com.br/jurispru-
dencia/5441585/ccp-15611520088070000-df-0001561-1520088070000>.Acesso em: 16 ago. 2016.
21
DO RECORRIDO. COMPETÊNCIA DO III JUIZADO DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E 
FAMILIAR REGIONAL DE JACAREPAGUÁ – COMARCA DESTA CAPITAL. PROVI-
MENTO DO RECURSO.36
Destaca-se também, que a Lei Maria da Penha, sendo considerada “norma promíscua”37, uma 
vez que dialoga com diversos ramos do Direito, além de outras áreas interdisciplinares (como a psi-
cologia, políticas públicas, entre outras), no intuito de oferecer uma proteção globalizada à mulher 
vítima de violência doméstica, não pode ser afastada ao se tratar de uma relação de emprego tão 
peculiar e majoritariamente feminina, quanto mais, ao ser “chamada” sua aplicação pelo legislador 
trabalhista. 
Assim, embora a LC 150/2015 seja ainda uma novidade no ordenamento jurídico brasileiro e, 
como não é raro, a inovação normativa traga entendimentos dissonantes quanto à sua execução, 
se espera a maturidade da lei para que se alcance a efetividade de seus preceitos e objetivos. 
O desenvolvimento da Lei Maria da Penha se mostra também essencial, sendo uma norma de 
grande potencialidade e repercussões no cenário jurídico brasileiro. Assim, também essa lei deve 
ser repensada constantemente, levando em conta os avanços legais conquistados pelas mulheres 
que desempenham diferentes papéis em nossa sociedade, no caso ora tratado, as trabalhadoras 
domésticas cuja profissão foi efetivamente regulamentada pela LC 150/2015.
Sobre a multiplicidade das relações envolvidas na aplicação da Lei Maria da Penha, destaca-
-se
A complexidade de lidar com um instrumento da modernidade e com a variedade de 
relações sociais onde se articulam sujeitos múltiplos é, repita-se, um grande desafio. 
Articular as diversas posições discursivas do sujeito com suas variadas inscrições 
sociais implica em alargar as possibilidades do texto normativo, tendo a consciência 
de seus limites e tensões decorrentes.
(...) Avançar no aperfeiçoamento da Lei significa continuar trilhando um caminho que 
possibilite a sujeitos de direitos cada vez mais complexos uma nova cidadania po-
lítica. Sabe-se que isso não é uma tarefa fácil e que nem sempre temos soluções 
prontas para a complexa realidade em que vivemos. Reconhecer esse desconforto 
teórico já é um bom começo na difícil tarefa de aliar razão e sensibilidade.38
Neste sentido, é possível vislumbrar a possibilidade de consolidação da aplicação da Lei Ma-
ria da Penha frente às violências sofridas pelas mulheres trabalhadoras no âmbito doméstico. 
Destaca-se, para esse fim, a necessidade de se construir um entendimento a partir também 
da intersecção entre a doutrina e mesmo jurisprudência penal e trabalhista para a efetivação das 
proteções legais a essas trabalhadoras.
36 BRASIL. Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro. Recurso em Sentido Estrito n. 0018881-42.2013.8.19.0206. 
Quinta Câmara Criminal. Rel. Des. Luciano Silva Barreto. 06 out. 2015. Disponível em <http://tj-rj.jusbrasil.com.br/ju-
risprudencia/241796025/recurso-em-sentido-estrito-rse-188814220138190203-rj-0018881-4220138190203>.Acesso 
em: 16 ago. 2016
37 PARODI, Ana Cecília; GAMA, Ricardo Rodrigues. Lei Maria da Penha – Comentários à Lei nº 11.340/2006. Cam-
pinas: Russell Editores, 2010. p. 83.
38 CAMPOS, Carmen Hein de. Razão e Sensibilidade: Teoria Feminista do Direito e Lei Maria da penha..p. 10. Dis-
ponível em < http://www.academia.edu/11416840/Raz%C3%A3o_e_Sensibilidade_
Teoria_Feminista_do_Direito_e_Lei_Maria_da_Penha>. Acesso em 20 ago. 2016.
22
CONCLUSÃO
Através do presente trabalho, se possibilitou a importante análise de peculiaridades existen-
tes quanto à proteção à dignidade da mulher trabalhadora doméstica, tendo em vista também o 
oportuno momento ora vivenciado, uma vez que a recente Lei Complementar 150/2015 impactou 
essas relações e ainda traz dúvidas quanto à sua aplicação, inclusive, quanto à intersecção com a 
Lei Maria da Penha. 
Apesar de ser uma profissão desempenhada, literalmente, por milhões de mulheres brasilei-
ras, vem suportando alta desvalorização social e cultural, reforçada ainda pela diferenciação do 
próprio tratamento legal. 
No entanto, ainda que a passos lentos, o caráter assistencialista e a informalidade que ainda 
hoje permeiam essa profissão estão gradativamente sendo substituídas por efetivas proteções 
legais que possuem um importante papel na busca pela valorização das prestadoras de serviços 
domésticos. 
Observou-se ainda que, por ser majoritariamente exercida por trabalhadoras, sofre também 
consequências diretas das desigualdades sociais ainda mantidas entre os gêneros. 
Assim, pela manutenção destas diferenças, as trabalhadoras domésticas, inseridas no am-
biente familiar, ainda que para o exercício de sua profissão, podem facilmente serem vítimas de 
abusos sem testemunhas e sem consequências para o agressor. 
Neste sentido, é clara a necessidade de se construir um entendimento pacífico e consolidado 
quanto à aplicação das medidas protetivas da Lei Maria Penha em relação a estas trabalhadoras.
É o que mais se conclui após analisado o retrospecto de constrangimentos suportados nos 
espaços domésticos em que se inserem, uma vez que entrelaçado ao seu ambiente de trabalho. 
Reforça ainda esse entendimento, o próprio legislador trabalhista, que, mesmo trazendo dú-
vidas quanto à sua aplicação, inadmitiu a continuidade da relação de emprego se maculada pela 
violência doméstica, indicando que a Lei Complementar 150/2015, responsável por enfim regula-
mentar a categoria doméstica, apropriou-se deste momento para também aproximar a relação de 
emprego doméstico à sistemática da Lei Maria da Penha. 
REFERÊNCIAS
BIANCHINI, Alice. Lei Maria da Penha: Lei 11.340/2006: aspectos assistenciais, protetivos e crimi-
nais da violência de gênero. São Paulo: Saraiva, 2013.
BRASIL. Decreto-Lei n. 3.078, de 27 de fevereiro de 1941. Dispõe sobre a locação dos emprega-
dos em serviço doméstico. Disponível em: <http://legis.senado.gov.br/legislacao/ListaPublicacoes.
action?id=18953>. Acesso em: 15 ago. 2016.
______. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil, de 5 de outubro de 
23
1988.Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ConstituicaoCompilado 
.htm>. Acesso em: 15 ago. 2016. 
______. Lei n. 11.340, de 7 de agosto de 2006. Cria mecanismos para coibir a violência doméstica 
e familiar contra a mulher, nos termos do § 8º do art. 226 da Constituição Federal, da Convenção 
sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres e da Convenção Inte-
ramericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher, dispõesobre a criação dos 
Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, altera o Código de Processo Penal, 
o Código Penal e a Lei de Execução Penal; e dá outras providências. Disponível em: <http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11340.htm>. Acesso em 14 ago. 2016. 
______.Lei Complementar n. 150, de 1º de junho de 2015. Dispõe sobre o contrato de trabalho 
doméstico; altera as Leis n. 8.212, de 24 de julho de 1991, n. 8.213, de 24 de julho de 1991, e n. 
11.196, de 21 de novembro de 2005; revoga o inciso I do art. 3º da Lei n. 8.009, de 29 de março de 
1990, o art. 36 da Lei n. 8.213 de 24 de julho de 1991, a Lei n. 5.859, de 11 de dezembro de 1972, 
e o inciso VII do art. 12 da Lei n. 9.250, de 26 de dezembro de 1995; e dá outras providências. Dis-
ponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/LCP/Lcp150.htm>. Acesso em 17 ago. 2016.
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dos), tendo como primeiro signatário o Deputado Carlos Bezerra, que altera a redação do parágrafo 
único do art. 7º da Constituição Federal para estabelecer a igualdade de direitos trabalhistas entre 
os trabalhadores domésticos e demais trabalhadores urbanos e rurais. Disponível em: < http://www.
senado.leg.br/atividade/rotinas/materia/getPDF.asp?t=123927&tp=1>. Acesso em: 17 ago. 2016.
PROTECTING THE DIGNITY OF DOMESTIC WORKER AND THE MARIA 
PENHA LAW
ABSTRACT: The relation in domestic labor has cultural and legal quirks derived from its historical origin and also its reg-
ulatory evolution that has been observed in Brazil’s legal system. Moreover, because it is a category performed mostly 
by women, is notable a close relation of this class of professionals with the debates about gender, power relations and 
the maintenance of social inequalities. Not coincidentally, the legal provisions to protect the dignity of domestic workers 
always ran late in relation to regulatory attempts to protect the other women integrated into the labor market, either to 
guarantee basic labor rights, or to provide legal support to prevent and punish attacks to their dignity as subject of full 
citizenship, as is necessary in an unequal society. The recent Supplementary Law 150/2015 brought important legal 
innovations to these workers, including providing the proximity of the domestic employment relationship with Maria da 
Penha Law, representing a legislative effort to bring the domestic women workers into protection services.
 
KEY-WORDS: Maria da Penha Law. Domestic Labor. Gender violence.
25
ACESSO À JUSTIÇA E DIREITOS HUMANOS: O (IN)ACESSO 
DAS PESSOAS TRANSGÊNERAS: RETIFICAÇÃO DE 
PRENOME E DESÍGNIO SEXUAL
Eduardo Biacchi Gomes 
Docente dos Cursos de Graduação de Direito e Relações Internacionais da UNINTER, Coordenador da Linha de Pes-
quisa: Jurisdição e Processo na Contemporaneidade, Endereço eletrônico: eduardobiacchigomes@gmail.com
Antonio Marcos Quinupa
Pesquisador da Linha de Pesquisa: Jurisdição e Processo na Contemporaneidade – Uninter e Acadêmico do curso de 
Direito, Endereço eletrônico: quinupa@yahoo.com.br
RESUMO: O artigo tem por objetivo problematizar como se dá (ou não) o acesso à justiça e garantia dos direitos funda-
mentais das pessoas transgêneras. Tem como finalidade apontar os elementos para a compreensão da não participa-
ção das pessoas nas discussões do campo do direito; identificar quais são as formas que essas pessoas buscam para 
ter acesso ao espaço jurídico; investigar como são tratados/as nas instituições que buscam a tutela de seus direitos; 
bem como compreender como se dá a participação democrática dos/as sujeitos/as (de direitos(!)) nos diversos espaços 
de garantia de sua cidadania. Metodologicamente será feita a análise das falas das pessoas transgêneras que parti-
ciparam na “Pesquisa Nacional sobre o ambiente educacional no Brasil” realizada no ano de 2015 e no entendimento 
jurisprudencial dispensado no atendimento aos pedidos, de retificação de prenome e desígnio sexual, junto ao egrégio 
Tribunal de Justiça do Estado do Paraná.
PALAVRAS-CHAVE: pessoas transgêneras, sujeitos/as de direitos, acesso à justiça
1 – INTRODUÇÃO
Quando uma pessoa se autodenomina travesti ou transexual ela não está reivindicando para 
si a apropriação de ser homem ou mulher, está exatamente problematizando esse cistema39, tal 
qual o amplamente divulgado por Judith Butlher da hetenormatividade (BUTLER, 2010, p. 24) que 
está posto, está opondo a categoria cisgênera à transgênera. A ‘categoria’ mulher está auto com-
preendida pela matriz de inteligibilidade (BUTLER, 2010) que essas pessoas apresentam – quando 
(mulher) transgênera ou travesti. Ocorre que cisgênera vem da compreensão da conformidade do 
corpo sexo/gênero/desejo atribuído; enquanto que para as pessoas transgêneras essa conformida-
de em algum grau será divergente (divergente da norma sexo/gênero/desejo); ou seja, a cisgene-
ridade está posta para as pessoas ‘conformes’ aos seus atrtibutosjá a transgeneridade está posta 
para pessoas ‘não conformes’, que em algum momento tornam-se divergentes; desde fazer uso de 
uma indumentária tida como do sexo oposto, passando pela necessidade da retificação de prenone 
até a manifestação de vontade de submeter-se a um processo de transgenitalização, o que pode 
ser um equívoco, pois não necessariamente faz-se necessário o procedimento cirúrgico, uma vez 
que a identidade de gênero não está estritamente vinculada ao sexo biológico que foi designado ao 
nascer. Além do que para se ingressar num processo (de transgenitalização) há de se esperar por 
39 O cistema que estamos denominando decorre da definição de pessoas cis, como apresentado pelo movimento 
transfeminista: Uma pessoa cis é uma pessoa na qual o sexo designado ao nascer + sentimento interno/subjetivo de 
sexo + gênero designado ao nascer + sentimento interno/subjetivo de gênero, estão “alinhados” ou “deste mesmo 
lado” – o prefixo cis em latim significa “deste lado” (e não do outro), uma pessoa cis pode ser tanto cissexual e cisgê-
nera. Disponível em: http://transfeminismo.com/o-que-e-cissexismo/ . Acesso em: 22.08.2016 
mailto:eduardobiacchigomes@gmail.com
mailto:quinupa@yahoo.com.br
http://transfeminismo.com/o-que-e-cissexismo/
26
quatorze ou quinze anos na, se solicitado pelo Sistema Único de Saúde, levando em consideração 
que o país conta com apenas quatro centros de referências que disponibilizam atendimento.
Dessa forma, estamos considerando que toda subjetividade é válida, toda forma de constitui-
ção do/a sujeito/a é válida; sem deixar de observar que estamos incorrendo numa relativização e 
nesta, corre-se o risco de perder o foco, uma tese na centralidade do sujeito, “em correspondência 
com a visão individualista da sociedade” (BOBBIO,2004, p. 4), entendendo que o “individualismo é 
parte integrante da lógica da modernidade, que concebe a liberdade como a faculdade de autode-
terminação de todo ser humano” (LAFER, 1988, p. 120). Todavia o que não se pode generalizar é 
a constituição da pessoa transgênera, considerar que todas as pessoas constituem-se da mesma 
forma, perde-se a subjetividade.
Problema algum há em considerar as mais diversas formas de constituições de sujeitos, ob-
servar-se-á grande problema no momento em que qualquer desses sujeitos (especificamente ‘não 
conformes’) reivindicar pra si tutela de algum direito, desde os fundamentais da primeira geração, 
aos da terceira (BOBBIO, 2004).
A abstração jurídica “sujeito de direito” ao elencar direitos fundamentais/humanos, seja na 
‘primeira fase’ – quando dispõe de direitos individuais, v.g., direito de liberdade; como na ‘segunda 
fase’ – quando dispõe de direitos coletivos/sociais, v.g., poder político; bem como na ‘terceira fase’ 
– quando dispõe de direitos difusos/coletivos, os apresenta a partir de uma matriz eurocêntrica/
hegemônica que “pressupõe” uma hierarquia de sujeitos com acesso ao direito: branco/classe mé-
dia/cristão/heterossexual, ou seja ‘sujeitos da sexualidade periférica’:a mulher histérica, a criança 
onanista, o jovem homossexual e casal malthusiano (FOUCAULT, 2007).
Elastecendo a discussão, como nos apresenta Foucault em História da Sexualidade a von-
tade de saber, podemos pensar a constituição da subjetivadade das pessoas transgêneras, como 
outros/as sujeitos/as de sexualidade periférica; relegados ao acesso/garantia do sistema de justi-
ça, que se tornam mais fragilizados quando os sujeitos acumulam, de forma interseccional40, ou-
tras identidades étnicos raciais, negro/a bi-les-gay-transexual, ou seja; não que os processos de 
marginalização possam ser hierarquizados, mas se uma pessoa transgênera for negra, morar na 
periferia incidirá num processo de discriminalização maior que uma pessoa branca, classe média. 
Numa incursão no atendimento aos direitos fundamentais das pessoas transgêneras é fun-
damental entendermos como a retificação de prenome dessas pessoas torna-se imprescindível no 
momento em que buscam a tutela no Estado para a garantia desses direitos. Pois todo aparato 
jurídico/político/médico/psicossocial dispensado à ‘construção de sujeito de direito’ exige-se que 
nomine cada sujeito. 
Dessa forma, busca-se superar a hierarquia de ‘privilégios’ concedidos a determinados sujei-
tos em detrimento doutros.
É mister observar que a inversão da abstração jurídica “sujeito de direito” para ‘direito do 
sujeito’, de forma que não tenha que nominá-los, de forma que a todos/as lhes sejam tutelados seus 
40 Termo cunhado por Kimberle Crenshaw. Disponível em: http://www.acaoeducativa.org.br/fdh/wp-content/
uploads/2012/09/Kimberle-Crenshaw.pdf. Acesso em: 23.08.2016.
http://www.acaoeducativa.org.br/fdh/wp-content/uploads/2012/09/Kimberle-Crenshaw.pdf
http://www.acaoeducativa.org.br/fdh/wp-content/uploads/2012/09/Kimberle-Crenshaw.pdf
27
pedidos, que sujeitos tidos como ‘minorias’ não tenham seus direitos mitigados. Assim, denominar-
se pessoa transgênera não é reivindicar uma identidade, é uma condição; condição de transgres-
são; transgressão de uma norma, da hetero(norma)tividade; transgressão da heterossexualidade 
compulsória nas palavras de Adrienne Rich41.
2 – ARQUEOGENEALOGIA – DIREITO, PODER E CONSTITUI-
ÇÃO DO SUJEITO. UM BREVE HISTÓRICO DO CORPO
A visibilidade dos corpos das pessoas transgêneras fora da cosmovisão carnavalesca fazem 
desses corpos, corpos abjetos (FOUCALUT, 2001). São corpos marginalizados e produzidos sob e 
para a penumbra. Travar qualquer discussão a respeito desses corpos não se faz senão com muita 
adversidade, uma vez que sua produção não tem respaldo prático/discursivo hegemônico/legítimo 
médico. Não obstante, esse mesmo corpo está desprovido do respaldo de outro discurso hege-
mônico que o abjeta: o discurso jurídico. Pois o discurso jurídico está posto, a priori, para atender 
demandas de pessoas que estão dentro da matriz de inteligibilidade héter-cis-normativa.
Como investigamos a constituição da subjetividade das pessoas transgêneras - não existindo 
senão como subjetivação – para além de sua auto-declaração, o arcabouço teórico foucaultia-
no, nos traz algumas perspectivas; vejamos como nos apresenta enquanto constituição/formação: 
Foucault é conduzido a uma história das práticas nas quais o sujeito aparece não como instância 
de fundação, mas como efeito de uma constituição, modos em que o sujeito aparece como objeto 
de uma determinada relação de conhecimento e poder; inscreve-se no campo do verdadeiro e do 
falso. 
Dessa forma aponta três modos de subjetivação/objetivação dos seres humanos: (i) modos 
de investigação que pretendem aceder ao estatuto de ciências, por exemplo, objetivação do sujeito 
falante na gramática geral ou na lingüística, do sujeito produtivo na economia política; (ii) modos de 
subjetivação dos sujeitos das práticas divisantes, o sujeito que é dividido em si mesmo ou dividido a 
respeito dos outros: separação entre o sujeito louco ou o enfermo e o sujeito saudável, o criminoso 
e o individuo do bem; (iii) a maneira em que o ser humano se transforma em sujeito; a maneira em 
que o sujeito se reconhece como sujeito de uma sexualidade (CASTRO, 2009, p. 408).
Todavia, a partir da sua sexualidade, as pessoas apresentam suas matrizes de inteligibilida-
des no entendimento que como se reconhecem como pessoas transgêneras, autodeclarando-as. 
2.1 – DE COMO AS PESSOAS TRANSGENÊRAS SÃO PERCEBIDAS 
ENQUANTO PESSOAS DE SEXUALIDADE PERIFÉRICAS 
A Secretaria de Educação da ABGLT – Associação Brasileira de gays, Lésbicas, Travestis e 
Transexuais realizou uma pesquisa de âmbito nacional para verificar as experiências dos adoles-
41 Artigo publicado no Caderno Bagoas. Disponível em: https://periodicos.ufrn.br/bagoas/article/view/2309/1742 
Acesso em: 29.08.2016.
https://periodicos.ufrn.br/bagoas/article/view/2309/1742
28
centes no ambiente escolar. A Pesquisa Nacional sobre o Ambiente Educacional no Brasil 201642 
traz experiências de adolescentes e jovens lésbicas, gays, bissexuais, travestise transexuais nos 
ambientes educacionais e das pessoas entrevistadas, fazendo um recorte de gênero, 7,7% (sete 
vírgula sete por cento) são pessoas travestis ou transexuais, delimitação que nos faz inferência de 
como essas pessoas estão inseridas nesse espaço (escola). Assumir a identidade de pessoa trans-
gênera a pessoa submete-se ao escrutínio de todos/as que estão em sua volta quanto à passabi-
lidade, termo que traduz o quanto uma pessoa transgênera se parece fisicamente, se veste, fala, 
gesticula e se comporta de acordo com os estereótipos do gênero oposto ao que lhe foi consignado 
ao nascer (LANZ, 2015). 
Permeado, claro, de muitas agressões e carência de efetivação de direitos fundamentais 
como educação, aliás, espaço permeado por práticas de violência, como depreende-se do relato 
da pessoa transgênera do Estado de Pernambuco: “Não sou respeitado como homem trans e muito 
menos meu nome social. (depoimento de estudante trans, 15 anos, estado de Pernambuco) 43, ain-
da que no Estado do Paraná existe normativa para que se faça uso do nome social nos documentos 
escolares. 
O relato a seguir, do participante da pesquisa, do Estado da Bahia, nos apresenta como o 
ambiente escolar pode tornar-se uma fábrica de violência e como pode causar danos irreparáveis44:
Sofri segregação de professores e estudantes da instituição, bem como fui motivo de 
chacota durante todo o ensino fundamental e médio por gostar de dançar, ser muito 
feminina e apanhei muito em casa por isso, além de meu padrasto ter me colocado 
para trabalhar em duas oficinas mecânicas ainda na adolescência “para ver se eu 
tomava jeito de homem”. O resultado foi que eu tomei trauma de oficina pelas agres-
sões verbais que eu recebia inúmeras vezes por parte de clientes, funcionários e 
pelo dono. Inclusive fui abusada na segunda oficina em que fui obrigada a trabalhar 
pelo meu padrasto e acabei por contrair sífilis primária, que foi detectada em um 
teste 2 meses depois do abuso sexual. Apanhei por algumas vezes nessas oficinas 
também e fui ameaçada de morte caso contasse algo sobre o estupro para a minha 
família. (depoimento de uma estudante trans, 17 anos, estado da Bahia).
Observa-se a zona de conforto que situam-se as pessoas que estão nas escolas, professores/
as funcionários/as, em não envolverem-se nas questões de gênero que a escola suscita45: 
Porque não adianta, essas pessoas: professores e funcionários são preconceituosos 
e praticam a violência psicológica e emocional contra a minha identidade de gênero. 
Não existe apoio, nem acolhimento, a escola é um ambiente hostil, um microcosmo 
da sociedade. (depoimento de estudante trans, 18 anos, estado de São Paulo). 
Quando a escola desperta, ao que fica subentendido, pode ser tarde:46
42 A pesquisa foi desenvolvida pelo Grupo Dignidade, pelo Centro Paranaense da Cidadania, pelo Instituto Brasileiro 
de Diversidade Sexual e pleo Espaço Paranaense da Diversidade LGBT em parceria com a Fundación Todo Mejora, 
Chile; Gay, Lesbian & Straight Educacion Network (GLSEN), EUA; Universidade Federal do Paraná e Universidade 
Federal do Estado do Paraná – Núcleo de Estudos Afro-brasileiros. Disponível em: http://www.grupodignidade.org.br/
wp-content/uploads/2016/03/IAE-Brasil-Web-3-1.pdf Acesso em: 29.08.2016.
43 Pesquisa citada, p. 34.
44 Pesquisa citada, p. 40.
45 Pesquisa citada, p. 43.
46 Pesquisa citada, p. 49.
http://www.grupodignidade.org.br/wp-content/uploads/2016/03/IAE-Brasil-Web-3-1.pdf
http://www.grupodignidade.org.br/wp-content/uploads/2016/03/IAE-Brasil-Web-3-1.pdf
29
Obg por tudo mas não vai ser agora a ajuda de vocês que vai fazer eu parar de me 
cortar ou parar de querer morrer. (depoimento de estudante transexual, sem idade 
informada, estado do Rio Grande do Sul). 
A escola está longe de alcançar o conhecimento que essas pessoas estão produzindo no 
ambiente escolar, haja vista o termo em que o/a estudante contrapõe sua identidade de gênero, a 
transgeneridade versus cisgenerdiade:47
É uma situação complicada ser transexual e tentar concluir o ensino médio. 
Diariamente tenho que lidar não só com pessoas que acham que estou confuso 
ou é apenas uma fase e que estou errado em ser quem sou, mas também com 
pessoas que não compreendem o que significa «transexual». A escola não sabe o 
que fazer comigo, pois não possui regras sobre estudantes «transexuais», logo é 
desorganizada a questão do nome social, assim passo por muitos constrangimentos 
com a chamada e com a «carteirinha». Muitas vezes chego em casa chorando, pois 
fui constrangido, sofri preconceitos ou exclusão. Dói o meu peito ao pensar que se 
fosse cisgênero minha vida seria melhor, seria um menino branco de classe média 
alta, com notas boas e muitos amigos. (depoimento de estudante trans, 17 anos, 
Distrito Federal). 
Para que a escola esteja minimamente preparada para atender a demanda da comunidade 
LGBT que se apresenta no chão da escola faz necessário que todos os envolvido busquem por for-
mação continuada, uma vez que as demandas são alteradas de forma contínua. Faz-se necessário 
também que nas áreas de licenciatura tenha formação em Direitos Humanos, de forma eficaz, pois 
haja vista que os operadores do direto passam por essa formação e o que se vê são poucos direitos 
garantidos à comunidade LGBT. 
Talvez seja porque, aos operadores de direito, essa disciplina seja ministrada nos últimos 
semestres, quando os alunos encontram-se formados. Quando o ideal seria que a disciplina de 
direitos humanos fosse ministrada juntamente com as propedêuticas, pois mesmo doutrinadores 
quando debruçam-se no tema incorre na necessidade de fazer uma equilização no entendimento, 
v.g., se tomarmos o Direito do Trabalho, percebemos o quão próximo a doutrinadora Alice Monteiro 
de Barros, apresenta em seu texto, versão atualizada por Jessé Claudio Franco de Alencar, quando 
conceitua a prática de atos sexuais ou a mera atração por pessoas do mesmo sexo por homosse-
xualismo (BARROS, 2016, p. 785), esforça-se para produzir conhecimento em torna da diversidade 
sexual, porém utiliza-se do termo homossexualismo, remete à patologia, que foi retirada, em 17 
de maio de 1990, pela OMS da CID como doença. Segue a autora definindo o transexual (se for 
homem transexual o termo corresponde, agora se for mulher transexual o termo seria a transexual) 
torna a pessoa obcecada por alterar o seu próprio corpo e ajustá-lo no que considera verdadeiro 
(sic); perceba, ao utilizar o termo obcecada acaba por remeter as pessoas transgêneras à categoria 
patologizante.
Todavia, sem intenção de contrapor disciplinas, pois a diferenciação epistemológica dos sa-
beres não deve ser confundida com uma hierarquia axiológica (LOPES, 1999, p. 189), repensar a 
estrutura do curriculum, que a disciplina de direitos humanos seja ministrada com as propedêuticas, 
possa fazer diferença na formação.
3 – Da abstração jurídica sujeito de direito para direito do sujeito (possível?), as condições de 
47 Pesquisa citada, p. 64.
30
possibilidades encetadas às pessoas transgêneras
Muito adiantar-se-ia se a constituição da subjetividade das pessoas transgenêras - que não é 
uma identidade, é uma condição; condição de transgressão; transgressão de uma norma, da hete-
ro(norma)tividade; transgressão da heterossexualidade compulsória – forjada a custa de gerações 
que viveram sistematicamente sob o manto da marginalização e silenciamento, fosse refletida no 
entendimento dos operadores do direito. 
Percebemos exatamente o contrário quando tomamos como exemplo algumas manifestações 
(judiciais) quando do pedido de retificação de prenome e desígnio sexual interposto por pessoas 
transgêneras. É flagrante s violência institucional (sistema judiciário) a que essas pessoas subme-
tem-se, como nos alerta Hannah Arendt: quanto maior for a burocratização da vida pública, maior 
é o atrativo da violência (ARENDT, 2015, p.151). 
 O primeiro percalço pelo qual passa a pessoa transgênera ao buscar a tutela de retificação 
de prenomee desígnio sexual é o que podemos chamar de fenômeno do ‘conflito de incompetên-
cia’ como seguem julgados:
RETIFICAÇÃO DE REGISTRO CIVIL. MODIFICAÇÃO DE NOME E GÊNERO. 
AJUIZAMENTO DA DEMANDA PERANTE ÀS VARAS DE FAMÍLIA DO FORO 
CENTRAL DA COMARCA DA REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA. DECLI-
NAÇÃO DE COMPETÊNCIA. INSURGÊNCIA. APLICAÇÃO DO ART. 3º, INCISO 
I, DA RESOLUÇÃO DE 07/2008 DO ÓRGÃO ESPECIAL DESTE TRIBUNAL. RE-
GRA ESPECÍFICA. QUESTÃO QUE NÃO VERSA SOBRE SIMPLES RETIFICA-
ÇÃO CIVIL. MODIFICAÇÃO DE ESTADO DA PESSOA (GÊNERO MASCULINO 
PARA FEMININO). COMPETÊNCIA DA VARA DE FAMÍLIA. JUÍZO QUE DISPÓE 
DE MELHORES CONDIÇÕES PARA O DESLINDE DA CAUSA. ORIENTAÇÃO JU-
RISPRUDENCIAL DESTA CORTE. APLICAÇÃO DA REGRA DO ART. 557, § 1º-A, 
DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. RECURSO PROVIDO48. 
DECISÃO MONOCRÁTICA. CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA CÍVEL. 
AÇÃO DE RETIFICAÇÃO DE PRENOME E GÊNERO. TRANSEXUALIDADE. 
AÇÕES DE ESTADO. RESOLUÇÃO Nº 93/2013, DO ÓRGÃO ESPECIAL. COM-
PETÊNCIA DAS VARAS CÍVEIS. CONFLITO JULGADO PROCEDENTE49. 
PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE RETIFICAÇÃO DE 
PRENOME E GÊNERO. COMPETÊNCIA QUE DEVE SER DEFINIDA PELA APLI-
CAÇÃO DA RESOLUÇÃO VIGENTE À ÉPOCA DO AJUIZAMENTO DA AÇÃO. 
ART. 43, CPC, DEMANDA AJUIZADA EM 2015 PERANTE O JUÍZO DA VARA 
DE FAMÍLIA. DECISÃO AGRAVADA QUE DECLINOU A COMPETÊNCIA PARA 
JULGAMENTO PARA O JUÍZO DA VARA DE REGISTROS PÚBLICOS. COMPE-
TÊNCIA PARA JULGAMENTO DA AÇÃO DA VARA CÍVEL. APLICAÇÃO DA RE-
SOLUÇÃO Nº 93/2013. MATÉRIA QUE NÃO ESTÁ AFETA À COMPETÊNCIA DAS 
VARAS DE FAMÍLIA OU À VARA DE REGISTROS PÚBLICOS. RECURSO CO-
NHECIDO E NÃO PROVIDO, COM ATRIBUIÇÃO, DE OFÍCIO, DA COMPETÊNCIA 
DA VARA CÍVEL50. 
O segundo traz é o argumento de cirurgia ablativa (em dissonância com o termo acertado de cirurgia 
de redesignação sexual ou transgenitalização); o não reconhecimento da identidade de gênero “pessoa do 
sexo masculino que tem hábitos e utiliza vestimentas do sexo feminino”; bem como (se fosse necessário!) 
48 6ª Vara de Família do Foro Central da Comarca da Região Metropolitana de Curitiba - AI – 1.396.203-9 – Rel.: 
Luiz Cezar Nicolau -6 de julho de 2015.
49 TJPR – 12ª C. Cível – CC - 1241975-3 – Rel.: Mário Helton Jorge -14 de agosto de 2014.
50 TJPR – 12ª C. Cível – AI – 1.437.388-5 – Rel.: Ivanise Maria Tratz Martins -1 de julho de 2016.
31
submissão da pessoa transgênera à cirurgia de redesignação (cominado com o termo “transexualismo” que 
remete à doença, quando o termo aceito seria transexualidade):
APELAÇÃO CÍVEL – RETIFICAÇÃO DE ASSENTO DE REGISTRO CIVIL – MU-
DANÇA DE NOME E SEXO – TRANSEXUAL – POSSIBILIDADE – REALIZAÇÃO 
DE CIRURGIA ABLATIVA DANDO CONFORMIDADE DO ESTADO PSICOLÓGICO 
AO NOVO SEXO COMO MEIO CURATIVO DE DOENÇA DIAGNOSTICADA – APLI-
CAÇÃO DO PRINCÍCIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA E DA IDENTIDADA 
SEXUAL – RELEITURA DA LEI DE REGISTROS PÚBLICOS AO MANDAMENTO 
CONSTITUCIONAL – MUTABILIDADE DO NOME – ALTERAÇÃO PARA CONSTAR 
ALCUNHA – POSSIBILIDADE – PROTEÇÃO ALBERGADA PELO NOVO CÓDIGO 
CIVIL - APELO PROVIDO51. 
EMENTA – APELAÇÃO CÍVEL – PEDIDO DE MODIFICAÇÃO DE PRENOME EM 
REGISTRO CIVIL – MUDANÇA DE NOME MASCULINO PARA EQUIVALENTE FE-
MININO – PESSOA DO SEXO MASCULINO QUE TEM HÁBITOS E UTILIZA VES-
TIMENTAS DO SEXO FEMININO, SUBMETENDO-SE A IMPLANTE DE PRÓTESE 
DE SILICONE – AMPARO EM LAUDO REALIZADO POR PSICÓLOGO – ALEGA-
ÇÃO DE CONSTRANGIMENTO NA APRESENTAÇÃO DE DOCUMENTOS CONS-
TANDO NOME MASCULINO – IMUTABILIDADE DE PRENOME COMO REGRA 
DA LEI DE REGISTRO PÚBLICOS – EXISTÊNCIA DE EXCEÇÕES – IMPOSSI-
BILIDADE DE PEDIDO UNICAMENTE DE ALTERAÇÃO DO PRENOME, SENDO 
QUE A COMPATIBILIDADE COMO GÊNERO EXPOSTO NO DOCUMENTO DEVE 
SER GARANTIDA, MORMENTE EM CASOS QUE A LEI DE REGISTROS PÚBLI-
COS NÃO EXPRESSA POSICIONAMENTO DIRETO – COMPREENDEU O JUÍZO 
A QUO NÃO PELA NECESSIDADE DE REALIZAÇÃO DE CIRURGIA DE TRANS-
GENITALIZAÇÃO, MAS SIM SOBRE A NECESSIDADE DE PEDIDO DE ALTERA-
ÇÃO DOCUMENTAL NO TOCANTE AO GÊNERO (DE MASCULINO PARA FEMI-
NINO) – CONGRUÊNCIA NECESSÁRIA QUE IMPORTA NA CLASSIFICAÇÃO DA 
AÇÃO COMO A ÇÃO DE ESTADO, DE COMPETÊNCIA DAS VARAS DE FAMÍ-
LIAS DA COMARCA – IMPOSSIBILIDADE DE RETIFICAÇÃO UNICAMENTE DO 
PRENOME NO CASO CONCRETO – RECURSO DESPROVIDO52. 
APELAÇÃO CÍVEL – AÇÃO DE RETIFICAÇÃO DE REGISTRO CIVIL – RETIFI-
CAÇÃO DE ASSENTO DE NASNCIMENTO DO PRENOME E DO SEXO DO AU-
TOR – IMPOSSIBILIDADE – TRANSEXUALISMO NÃO CONFIGURADO – AU-
SÊNCIA DOS REQUISITOS MÍNIMOS ESTABELECIDOS PELA RESOLUÇÃO 
Nº 1.955/2010 DO CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA – AUTOR QUE AINDA 
ONSTETA O SEXO BIOLÓGICO COM O QUAL NASCEU – IMPOSSIBILIDADE 
DE ALTERAÇÃO DO REGISTRO QUANDO ESTE CONDIZ COM A REALIDADE 
ATUAL DO RECORRENTE – NÃO UTILIZAÇÃO DO PRENOME DE MANEIRA PÚ-
BLICA, CONTINUA E POR PERÍODO RAZOÁVEL – RECURSO DE APLEÇÃO 
RECONHECIDO E NÃO PROVIDO53. 
Terceiro, e o mais frankensteiniano dos julgados, retificação de prenome provido e não provi-
mento de retificação de sexo, constando, v. g., nome masculino e sexo feminino, quando o pedido 
é interposto por MtF (LANZ, 2015, p. 339)54. Julgados não disponibilizados por estarem em segredo 
de justiça.
Para que as pessoas trangêneras não tenham seus pedidos declinados por incompetências, 
seja de registros públicos, cíveis e/ou de família, vislumbramos condições de possibilidade para 
que o entendimento seja melhor apresentado pela Vara de Família, como dispõe julgado da Des. 
51 TJPR – A. C. 350.969-5 – 18ª Vara Cível – Rel. Rafael Augusto Cassetari – J. 4 de julho de 2207.
52 TJPR – 12ª C. Cível – AC – 1138135-2 – Rel.: João Domingos Küster -14 de maio de 2014.
53 4ª Vara Cível – AC – 1.091.843-7 - Rel.: Renato Lopes de Paiva -2 de julho de 2014.
54 LANZ, Letícia. O Corpo da roupa: a pessoa transgênera entre a transgressão e a conformindade com as norma 
de gênero. Uma introdução aos Estudos de Transgêneros. Curitiba: Transgente, 2015.
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Joeci Machado Camargo55:
CONFLITO DE COMPETÊNCIA CÍVEL Nº 915.453-2, DA VARA DE REGISTROS 
PÚBLICOS, ACIDENTES DO TRABALHO E PRECATÓRIAS CIVEIS DO FORO 
CENTRAL DA COMARCA DE CURITIBA. Suscitante: Juiz de Direito da Vara de Re-
gistros Públicos, Acidentes do Trabalho, Precatórias Cíveis e Corregedoria do Foro 
Extrajudicial do Foro Central da Comarca de Curitiba Suscitado : Juiz de Direito da 6ª 
Vara de Família do Foro Central da Comarca de Curitiba. Relatora : Desa Joeci Ma-
chado Camargo. CONFLITO DE COMPETÊNCIA CÍVEL AÇÃO DE RETIFICAÇÃO 
DE REGISTRO CIVIL. PRETENSÃO DE MODIFICAÇÃO DE PRENOME E GÊNE-
RO. TRANSEXUALIDADE. DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA. ALTERAÇÕES 
COMPLEXAS QUE REFLETEM NO ESTADO DE PESSOA, NÃO SE TRATANDO 
DE SIMPLES RETIFICAÇÃO DE REGISTRO CIVIL. COMPETÊNCIA DO JUÍZO 
SUSCITADO VARA DE FAMÍLIA. CONFLITO PROCEDENTE.
4. CONSIDERAÇÕES 
Reconhecemos as posições identitárias de travestis e transexuais que a grande parte das/os militantes/
ativistas tem acampando ao longo da trajetória da reivindicação e garantias de direitos fundamentais aos 
sujeitos suprassumos marginalizados, mas acreditamos também que o desenvolvimento do termo pessoas 
transgêneras amplia tanto a discussão no campo jurídico quanto no açambarcamento do maior número de 
pessoas.
No mundo jurídico a discussão é ampliada uma vez que podemos problematizar a abstração jurídica ‘sujeito 
de direito’ de matriz hegemônica que acaba por hierarquizar sujeitos (branco/a-classe média – hetero(cis)
ssexual – cristão) de forma que a inversão (da abstração) para ‘direito do sujeito’ faz com que não tenhamos 
que nominar sujeitos; que as pessoas transgêneras não sejam postas na ponta da marginalização social.
Já o termo pessoas transgêneras está posto para pessoas que transgridem a norma (qual norma?) a norma 
de gênero, a hetero(norma)tividade; dessa forma não há que nominar se a pessoa é travesti, transexual, 
dragqueen, dragking, crosdresser, crossplayer...
Quanto ao entendimento dos julgados é possível observar que a identidade de gênero está relacionado ao 
sexo biológico, tendo como óbice o não provimento do pedido, quando a pessoa não submete-se

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