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Suicídio de criaças e adolescentes

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ANA LUIZA PINHEIRO DUARTE
ARIANE GONÇALVES MAGALHÃES 
BÁRBARA CAMOZZATO
EDUARDO CÉSAR RODRIGUES
JAQUELINE FRANÇA DE CASTRO
MARIANA SILVA OLIVEIRA
MARIA VIRGINIA SANTANA FERNANDES
RENATA LINA GONDIM
TATIANA VIDAL MAGALHÃES
YASMIN SILVA FAGUNDES
O SUICÍDIO ENTRE CRIANÇAS E ADOLESCENTES
Uberlândia
2017
1. INTRODUÇÃO
	A morte é um tabu, o suicídio muito mais. A discussão sobre o tema suicídio se agrava quando falamos dele nas fases da infância e adolescência. Nosso objetivo nesse artigo é focalizar a questão do suicídio nessas fases tão idealizadas pela sociedade. Inicialmente, abordamos o tema da morte e a questão do sentido da vida que se abre diante da finitude. Questionamos se o medo da morte é um processo natural ou construído. Em seguida, fazendo um percurso dedutivo, passamos à questão do suicídio, sua conceituação para, finalmente, alcançarmos o ponto fulcral desse trabalho, que é o suicídio nas fases da infância e adolescência, seus predisponentes, sua representação social e sua possível prevenção, além do papel da psicologia frente a essa situação.
2. SOBRE A MORTE E O MEDO DE MORRER
A morte é um processo natural. Como dizia Walter Benjamin: “Do ponto de vista da morte, a vida é o processo de produção de cadáver” , ou Martin Heidegger: “Desde que nasce um homem é suficientemente velho para morrer”. Não obstante constituir um evento natural, não há nada que nos possa ajudar a morrer. Momento inelutável, inadiável, a morte ainda é um tabu. Entretanto, mesmo ainda se constituindo como tal, a finitude alimentou as mais diversas áreas, desde a literatura, à filosofia, às artes, como se fosse o retorno do recalcado.[1: BENJAMIN, 1984, p.241.][2: HEIDEGGER apud MORIN, 1997, p.277.]
	A morte como questão implica também em responder qual o sentido da vida. Diante da finitude, se põe em jogo o porquê de estarmos vivos; uma questão que gera angústia, desespero, já que faz pensar na negação do homem como projeto. Todos os anseios, desejos e possibilidades humanas se fecham no ato de morrer. O homem é um ser para a morte e, embora dar-se conta dessa destinação possa ajudá-lo a viver autenticamente, a reflexão é negada e excluída dos círculos sociais, por ser uma ideia muitas vezes tida como negativa.
	Uma das razões para negar a reflexão sobre a morte seria justamente o narcisismo, ideia muito trabalhada por Freud, que busca na Tragédia de Narciso da mitologia grega, uma característica para toda a espécie humana: estamos perdidamente absortos em nós mesmos. O indivíduo não acha que ele vai morrer, apenas sente pena daquele que está ao seu lado, como se a morte do outro fosse ainda um reconhecimento da própria imortalidade. E a explicação de Freud para isso era a de que o inconsciente não consegue reconhecer o que é a morte ou o tempo. O homem, segundo ele, em suas vias orgânicas, se sente imortal.
	Já para Ernest Becker, renomado PHD em Antropologia e ganhador do Pulitzer de 1974 com a obra “A negação da morte”, o principal motivo para a não aceitação da morte na paranoia moderna é a problemática do heroísmo. Segundo ele, unindo a perspectiva psicológica a uma visão mítico-religiosa, nossa principal tarefa nesse mundo é a heroica. A ideia do heroísmo, para ele, está intimamente ligada à ideia de narcisismo, noção que ele compreende de modo psicanalítico. Aquilo de que o homem mais precisa é sentir-se seguro do seu amor próprio. Quando crianças, não temos vergonha de lutar pelo que mais precisamos e mais queremos. A competitividade e a rivalidade entre irmãos, nesse ínterim, não é apenas uma espécie de subproduto do crescimento, mas expressa, segundo o autor, o desejo de se destacar e ser algo. Expressa, também, o destino trágico de todo homem: “(...) justificar-se desesperadamente como valor primordial do universo, se destacar, ser um herói, dar a maior contribuição possível para a vida do mundo, mostrar que vale mais do que qualquer outra coisa ou pessoa”. [3: BECKER, 2017, p.22.]
	Depois de Darwin, o problema da morte como problema evolucionário ficou em destaque e, então, muitos pensadores reconheceram a importância desse problema também do ponto de vista psicológico. De todas as coisas que movem o homem, uma das principais é o seu terror de morrer. A busca incessante pelo heroísmo é um reflexo do terror da morte. Nas representações religiosas, artísticas, mitológicas, quando vemos um homem enfrentando a sua morte com bravura, ensaiamos a nossa própria vitória. 
O acúmulo de pesquisas e opiniões sobre o medo da morte é muito amplo para ser resumido de forma simplista. Há quem afirme que o medo da morte não é coisa natural e que não nascemos com ele. Alguns estudos dão-se conta de que a criança até por volta dos 3 a 5 anos de idade, não teria ideia nenhuma sobre o que seja a morte. Inserida em um mundo cheio de coisas vivas e anímicas, ela não sabe o que significa a vida desaparecer para sempre. No entanto, alguns autores querem ver na ansiedade que toda criança sente pela perda do objeto, um medo de aniquilamento. Mas essa questão ainda é muito relativa. Com base nesse ponto de vista, o medo da morte seria morbidamente fixado e não algo natural ao ser humano. Nós poderíamos chamar esse argumento de “argumento da mente sadia”, e ele é apenas um lado dos quadros de pesquisas e opiniões acumuladas sobre a questão do medo e terror da morte.
	Essa discussão põe em questão se a morte é ou não uma ansiedade básica no homem e em assuntos como este o máximo que se pode fazer é apoiar um dos lados. Entretanto, para os que defendem que o terror da morte é uma ansiedade originária, a justificativa para a aparente ausência do temor da morte é dizer que ele raramente mostra a sua verdadeira face, e que ele permearia a sensação de insegurança diante ao perigo, sentimentos de desânimo e depressão, neuroses de angústia, estados fóbicos, pessimismos. Ou seja, em muitas realidades humanas pode-se ouvir o eco do medo da finitude. Estando por trás de todo nosso funcionamento normal, o organismo pode estar armado em sua autopreservação, mas se estivesse de forma constante no funcionamento normal do indivíduo, o organismo não poderia funcionar.
	Em suma: o argumento da biologia é básico; os animais para sobreviverem têm de se proteger diante de outros animais e da própria natureza. A realidade e o medo andam juntos e é tolice presumir que a reação natural ao medo teria desaparecido numa espécie tão frágil quanto a humana. Já o argumento da psicanálise sugere que o medo da morte se origina nas primeiras fases do desenvolvimento, e não é simplesmente programado por instintos que já vêm prontos. O homem tem temores que se formam com base do que ele percebe e interpreta do mundo e, se olharmos para uma criança, por exemplo, perceberemos que o seu universo é mais cheio de terrores do que imaginamos. Primeiro, por causa da confusão das relações de causa e efeito; depois, por causa da sua extrema irrealidade quanto aos limites de seus poderes; e, por fim, por causa de sua dependência. 
	Todavia, em nível mais elementar, o organismo funciona contra a sua própria fragilidade ao procurar expandir-se ao invés de se encolher; ao procurar se perpetuar evitando distrações inúteis. Também o medo da morte pode ser cuidadosamente ignorado, reprimido ou realmente absorvido pelos processos de expansão da vida. Essa questão crucial vai sendo acobertada por um modo de viver adormecido e letárgico. A civilização contemporânea, por exemplo, convive a maior parte do tempo com a questão da morte interditada. A morte se materializa em forma de vergonha e em silencio, tanto para o poder médico e a medicina, portanto, quanto para a sociedade em geral. Dissimula-se a gravidade e iminência do quadro de algumas doenças, não se admite experiência irrevogável da morte. Ou seja, a morte é interditada como tema, em solidariedade com a modernidade e para acompanhar os processos da industrialização, da urbanização e da racionalidade.Para se proteger eficazmente da morte, as sociedades contemporâneas produziram estratégias como: o avanço da estética, o consumismo como tábua de salvação, entre outros meios de tamponar essa questão e não encará-la de frente.
	Para perceber o flagrante interdito da morte, basta notar também como mudou a função social do luto e como a morte foi afastada a ponto de um enterro deixar de ser um espetáculo familiar. Também o suicídio é um fenômeno multifacetado, uma vez que abordar essa questão exige um conhecimento que implica fatores sociais, religiosos, familiares; bem como disposições orgânicas, características do ambiente, processos cognitivos e miméticos, sendo esse último fator de grande preocupação para os adolescentes, por ser um fator prevalentemente associado a esta faixa etária. 
3. SOBRE O SUICÍDIO
“Não há senão um problema filosófico verdadeiramente sério: é o suicídio. Julgar-se a vida vale ou não a pena de ser vivida é responder à questão fundamental da filosofia.”[4: CANUS, 1951/1965, p.99.]
	O suicídio é um fenômeno universal, muito embora o primeiro a descrever suicídio de crianças e jovens tenha sido Casper, na Prússia, entre 1788 e 1797, sem distinção de raça e extrato social, e é possível encontrar cerca de quinze conceituações sobre suicídio, destacando múltiplas pesquisas. O termo suicídio é relativamente recente e é entendido, usualmente, como “morte voluntária”. O termo teria sido um neologismo latino da Inglaterra de 1630. Contudo, ele foi primeiro utilizado em língua francesa para significar o assassinato ou a morte de si mesmo, com a seguinte etimologia: sui = si mesmo; caedes = ação de matar. Um sinônimo para suicídio é verificado no uso do termo “autocídio”.
	Algumas pesquisas atestam que o suicídio é menos frequente na infância e adolescência, antes dos 15 anos de idade, e que o aumento de sua incidência se dá apenas ao final da adolescência e início da vida adulta. Mas as estatísticas são sempre controversas, mostrando um crescimento no número de suicídios entre crianças e adolescentes. Para estas que tentam o suicídio sem êxito, esse apresenta algumas características em comum. Um terço dos que atingem seu intento apresentam históricos de tentativas anteriores. Nas capitais brasileiras o suicídio ocupa o sexto lugar entre as mortes por causas externas, para pessoas entre 15 a 24 anos, e no período entre 2000 a 2008 foram registrados 43 casos de suicídio de crianças menores de 10 anos, e também 6.574 adolescentes entre 10 e 19 anos, uma média de 730 mortes por suicídio/ano. Entre as crianças, 80% dos meninos recorreram ao enforcamento e entre as meninas percebe-se a preferência é por uso de intoxicação de medicamentos, objetos cortantes e afogamento.[5: CF. SOUZA, 2010.]
	Além do que já mencionado, as estatísticas não são apenas controversas e deve se considerar as altas taxas de subnotificação decorrentes de vários fatores, desde o pedido da família para que a causa da morte seja adulterada na certidão de óbito até a existência de cemitérios clandestinos. O quadro de emergência psiquiátrica mais comum entre adolescentes é o comportamento suicida. Das crianças e adolescentes que recorrem ao serviço de pronto atendimento por motivos psiquiátricos, mais de 75% está acima de 13 anos, sendo que 50% envolve tentativa de suicídio. Em crianças e adolescentes o comportamento suicida envolve pensamentos sobre provocar danos ou a morte autoinfligida.[6: LOVISI, SANTOS, LEGAY, ABELHA, & VALENCIA, 2009.]
	A mídia é o terceiro maior motivador de suicídios, vindo atrás do desemprego e violência, para todos os grupos de pessoas. A influência da mídia eleva em 5,34% a taxa de suicídio em indivíduos jovens do sexo masculino, sugerindo uma espécie de efeito contágio, apoiando a hipótese de que a violência seja um dos fatores incentivadores dessas taxas. Percebe-se, também, que quanto mais violenta for a localidade maior sua respectiva taxa de suicídio.[7: CF. LOUREIRO, MOREIRA, & SACHSIDA, 2013.]
	Mas, ao falar do suicídio queremos centralizar nossa atenção nas fases da infância e adolescência e evocar as representações sociais que as levam a tanto. 
4. REPRESENTAÇÃO SOCIAL DA MORTE E SUICÍDIO EM CRIANÇAS
O suicídio na infância e na adolescência é uma questão que vem se colocando como algo crescente e que deve ser abordado e discutido com maior atenção, pois tornou-se um problema de saúde pública. Como abordado anteriormente, esse é um assunto carregado por uma diversidade de tabus e pré-conceitos, especialmente quando nos referimos à crianças e adolescentes. A morte nos primeiros anos de vida já é vista como algo não natural. É algo que choca, que revolta, que causa consternação e profunda angústia nas sociedades, pois vê-se a interrupção de uma vida ainda em projeto, uma existência que não se completou. Na morte de uma criança ou adolescente, os indivíduos são assombrados pela interrupção não apenas da vida do outro, mas também pela extinção de suas próprias expectativas e horizontes. Há um corte profundo na esperança do ser, ao ver-se acabada uma energia vital ainda em construção e com tanto a oferecer e realizar. 
E se pensar na morte já incomoda, imaginar e saber que uma criança e/ou adolescente pode ter o desejo genuíno de morrer causa ainda mais espanto e estranhamento. Há uma tendência à romantizarmos especialmente a infância como uma fase repleta de alegrias e leveza, o que é um engano, pois essa fase também pode ser permeada de muitas dificuldades, angústias, aflições e inquietude, que podem ser provenientes do ambiente familiar, escolar e social e das relações que as crianças estabelecem nesses meios com os outros e consigo mesmo.
A questão da representação da morte para as crianças é muito diversa daquela que os adultos fazem dela. Se apresenta como uma grande incerteza intelectual à sua psique no que concerne aos três elementos fundamentais a respeito do conceito da morte, que são: a irreversibilidade, a universalidade e a não-funcionalidade. Segundo 
Piaget, a morte é, para a criança, tanto um desafio cognitivo quanto um impasse afetivo, e há uma ligação direta entre o conceito que ela tem da morte com as fases de desenvolvimento apresentadas por Piaget. No período pré-operacional, as crianças ainda não diferenciam os seres inanimados dos animados e por isso apresentam dificuldades para distinguir unidades que não morrem e não vivem. Nessa fase, não ocorre a negação da morte, mas sim a dificuldade de separá-la da vida, ou seja, as crianças ainda não percebem a morte como efetiva e irreversível. Já no período das operações concretas, em que há a diferenciação entre seres animados dos inanimados, as crianças não são capazes de elaborar uma resolução lógica-categorial para as razões da morte e procuram aspectos perceptivos para esclarecê-la, tal como a imobilidade. É no período das operações formais, que se dá no início da adolescência, que surge o reconhecimento da morte como um processo interno, percebida como universal. 
De acordo com Kóvacs: 
“A adolescência é um período do desenvolvimento em que a vida e a morte encontram seu auge. A vida pela sua possibilidade de desenvolvimento pleno e a morte como uma continuação desta plenitude, embora o adolescente dê o tempo todo a impressão de que, para ele, ela não existe”.[8: KÓVACS, 2003, p.XX]
 Em relação ao comportamento suicida, há uma aceitação social a respeito de uma idade mínima para que ele ocorra. Na maioria dos casos, tanto de suicídio consumado quanto de tentativas de suicídio, ocorre entre as famílias e também entre os profissionais de saúde um fenômeno de acobertamento e negação, que se dá majoritariamente pela falta de conhecimento e informações acerca do assunto e por todo o tabu social que o envolve. Há, de uma maneira geral, uma desconfiança profissional relacionada à capacidade de que crianças muito novas possam ser capazes de apresentar comportamento e ideação suicida e isso advém em boa parte dos mitos que cercam a conduta suicida em crianças, mitos estes exploradose documentados por Pedroso et al (1986). Dois desses mitos dizem que crianças com menos de 6 anos não comentem suicídio e que o suicídio em crianças com mais de 6 anos é extremamente incomum. Ocorre que as estatísticas têm atestado o contrário e o número de casos cresceu de forma significativa nos últimos anos e está se tornando a emergência psiquiátrica infantil mais habitual. Schwartz e Schwartz, em 1993, realizaram um estudo com 505 crianças hospitalizadas por tentativa de suicídio, e entre essas, 75 tinham idades entre 6 e 10 anos. O terceiro mito fala que crianças não cometem suicídio por não conceberem a morte como fenômeno permanente, o quarto mito diz que crianças não apresentam o desejo de morrer e por fim, o quinto mito relaciona a baixa incidência de depressão em crianças, fator intimamente relacionado ao comportamento suicida. Estudos de Rosenthal e Rosenthal (1993), Paulson, Stone e Sposto (1974) e Fish (2000) descontroem tais mitos, demonstrando que o comportamento suicida pode ser observado em crianças de qualquer idade, que crianças são capazes de experienciar sentimentos, dores e angústias tão profundas e significativas quanto para um adulto, a ponto de desejarem pôr fim à própria vida. Além disso, segundo essas pesquisas, os transtornos depressivos podem acometer indivíduos de qualquer fase, inclusive crianças na mais tenra idade.
O comportamento suicida em crianças está relacionado a diversos fatores precipitantes. O estresse é um coeficiente consideravelmente significativo para se entender todo ato suicida. Crianças com essa ideação apresentam grande incapacidade de enfrentar e manejar seu estresse e o desenvolvimento ou não do comportamento autodestrutivo depende da assimilação individual de tais estressores. Estados de excessiva desesperança, estilo disfuncional, impulsividade, transtornos cognitivos, perda de um membro da família ou aniversário de morte, papéis trocados entre pais e filhos, perda do amor parental, expectativas e controle parental extremo, além de anormalidades na comunicação entre membros da família estão entre as reações emocionais e motivações que levam as crianças às tentativas de suicídio. Em relação às famílias de crianças suicidas, Rosenthal e Rosenthal (1984) assinalaram atributos característicos dos pais dessas crianças, que se desvelaram pouco afetuosos com os filhos, negligentes e abusivos, além de terem revelado que tiveram gravidez não desejada e apresentado sentimento de infelicidade pela existência da criança. Os mesmos autores relatam que o maior fator preditivo das tentativas de suicídio por crianças foi sua percepção em relação às suas famílias, que apareciam como incoerentes, ilógicas e conflituosas.
5. SUICÍDIO NA ADOLESCÊNCIA
Dados recentes da pesquisa Violência Letal contra Crianças e Adolescentes do Brasil e do Mapa da Violência: os Jovens do Brasil, indicam um crescimento de 27,2% entre 1980 e 2014 no número de suicídio entre jovens e adolescentes no Brasil. 
A Organização Mundial da Saúde indica a adolescência como o período entre os dez e os dezenove anos de idade. Nessa fase acontecem mudanças em diversas dimensões do indivíduo como um todo, modificações estas de ordem física, psicológica e social. Caracteriza-se por um estágio do desenvolvimento humano permeado por conflitos, incertezas e contradições. Porém, muitos comportamentos apresentados nessa fase podem ser caracterizados tão somente como uma procura pela própria identidade, podendo ser superados de forma natural. O processo de adolescer tem deixado de ser visto como obrigatoriamente uma etapa de crise. Atualmente busca-se olhar para o adolescente não apenas do ponto de vista do biológico, mas também sob a ótica histórica, cultural, ambiental e objetiva de suas condições de vida, o que faz com que ele seja caracterizado por todos esses elementos que atuam de forma conjunta no indivíduo e em suas implicações emocionais e psíquicas, indicando como ele irá desencadear sua análise subjetiva a respeito do mundo que o cerca.
Segundo Barkeley (2006), no movimento que decorre do adolescer, acontecem modificações relevantes e expressivas quanto ao sentido de pertencer e de adquirir independência. O adolescente está formando sua autoimagem, os processos de luto pela perda da infância estão ocorrendo (Aberastury et al., 1990) e o componente biológico e hormonal passa por uma revolução, o que acarreta muitas vezes uma tendência à busca por condutas de risco, especialmente relativas ao uso de substâncias psicotrópicas, comportamentos antissociais e também ideação suicida. Pensar na morte e desejá-la como ferramenta de fuga dos problemas está relativamente dentro de uma normalidade em qualquer etapa da vida, especialmente na transição da infância para a adolescência, quando toda a existência está passando por um processo de significação. Esses pensamentos se tornam perigosos e anormais quando o adolescente pensa no suicídio como a única maneira de resolver suas questões e cessar seu sofrimento existencial, e essa ideação suicida pode ser apontada como um coeficiente de risco para a efetivação do suicídio, juntamente com a desesperança e a depressão. Benincasa e Rezende (2006) apontam outros fatores de risco, tais como: briga ou problemas dos pais, não ser escutado, sentir-se invadido, solidão, traição de amigos e namorados, sentimento de desproteção e questões financeiras. Ansiedade, baixa autoestima, consumo de álcool e substâncias psicoativas, impulsividade e pouco apoio social também são fortes indicadores para o comportamento suicida. 
Outra questão que surge com muita incidência e aparece como forte motivador de comportamento suicida é o bullying e o ciberbullying, além da influência da internet. Muitos sites e páginas virtuais voltadas para adolescentes romantizam e incentivam o suicídio, apresentando inclusive tutoriais de como planejar e executar o ato suicida e promovem pactos e desafios suicidas, tal como o recente Jogo da Baleia Azul. Outra questão que desponta no uso da internet diz respeito às possibilidades de caracterizações e representações figurativas de que os indivíduos podem utilizar-se. Em uma pesquisa recente realizada no Reino Unido, a rede social Instagram foi considerada a pior rede social para a saúde mental dos jovens. Essa plataforma digital é basicamente focada em imagens. O adolescente se vê diante de um mundo de corpos e vidas perfeitas, o que destoa da vida real e acaba por fazer com que o indivíduo apresente sentimentos de inadequação e conflitos quanto à sua própria imagem e realidade. Toda uma gama das mais diversas informações chega aos adolescentes sem qualquer tipo de filtro e muitas vezes são vistas por eles como verdades incontestáveis. O tempo despendido no uso da internet acaba por afastar o adolescente de sua família e círculo social, prejudicando as relações humanas que ocorrem em contato real. As facilidades com que se faz ou “desfaz” uma amizade, com que se “curte” ou reage virtualmente a algo ou alguém, deletando aquilo que não lhe apraz, aumenta no adolescente sua incapacidade de lidar com as frustrações reais que a vida impõe a todos, criando indivíduos com poucos recursos psicológicos de enfrentamento e autoproteção. 
 A idade de 15 anos, segundo Borges e Werlang (2006), é apontada como crítica para o surgimento do comportamento suicida. Com relação aos adolescentes, as estatísticas a respeito do suicídio são consideradas insuficientes e falhas quanto à realidade dos fatos, pois a família muitas vezes nega e esconde tais atos por vergonha, culpa e por não admitirem conscientemente tal comportamento. 
6. PREVENÇÃO
A questão do suicídio na infância e adolescência faz questionar que medidas preventivas se poderia tomar a fim de evitá-lo. Certamente, uma das prioridades é a educação permanente dos profissionais de saúde das Unidades de Atenção Básica, serviços de saúde mental, das unidades de urgência e emergência. 
A prevenção pode começar dentro de casa comos pais e responsáveis das crianças e adolescentes se estiver atenta àquilo que chega da escola e também ao comportamento dentro de casa e suas possíveis variações, que podem destoar do que é costumeiramente observado. 
Nas escolas, a psicoeducação pode colaborar para que os pais identifiquem variações de humor, isolamento e ideações suicidas. Com a ajuda de especialistas é possível avaliar a presença de transtornos depressivos, transtornos psiquiátricos e/ou estressores ambientais. Em casa, a observação de brincadeiras é fundamental. Muitas informações e suposições podem ser retiradas desses momentos. 
As brincadeiras que as crianças realizam podem conter informações que expressem sentimentos e emoções que possivelmente não são verbalizados e que podem ter conteúdos suicidas. Estar atentas ao brincar das crianças e aos seus jogos é um modo de perceber seu universo interno. 
O médico pediatra e os médicos clínicos são os primeiros profissionais que recebem crianças que tenham se envolvido em algum acidente ou tentativa de suicídio, por isso juntamente com a família da criança, eles poderão construir um histórico clínico da criança, somando às informações vindas da escola. Com isso, uma equipe multiprofissional juntamente com o núcleo cuidador podem desenvolver meios de prevenção. 
Outra ferramenta que tem sido bastante utilizada e surtido efeitos positivos para a prevenção do suicídio é a utilização da psicoterapia, uma vez que a partir dela a criança e o adolescente encontram um espaço seguro para trabalhar seus problemas, suas queixas, sua autoestima, sem que seja necessário incluir o uso de medicação. Mas isso não impede que, se feita avaliação pelo profissional indicado, a medicação seja utilizada para a segurança dessa criança ou adolescente. 
Quando se trata do adolescente especificamente é preciso estar atento para os seguintes sinais que indicam risco de suicídio: estados de humor irritável ou depressivo, sendo esses duradouros ou excessivos; períodos prolongados de isolamento e hostilidade ou com a família ou com os amigos; afastamento da escola ou queda importante no rendimento escolar; afastamento de atividades grupais e comportamentos como abuso de substâncias (álcool e drogas); violência física; atividade sexual imprudente; e fugas de casa. Os comportamentos suicidas, nesse sentido, podem muitas vezes ser compreendidos como mecanismos de defesa em relação à depressão, enquanto a depressão pode ser uma defesa contra a ideação suicida.
Ao mesmo tempo em que os adolescentes desejam liberdade, eles sentem necessidade de apoio e proteção para se sentirem seguros, dado que a fase que atravessam é de extrema insegurança e instabilidade. A qualidade do relacionamento entre adolescentes e pais podem desencadear estressores potenciais, tendo em vista que o maior índice de queixa entre adolescentes se refere ao ambiente familiar. Por isso, um fator de proteção para os riscos de suicídio no período da adolescência certamente diz respeito à possibilidade de o adolescente poder expressar o que pensa e sente. A interação com a família é indispensável, além do contato com diferentes pessoas de diferentes idades, pois o estabelecimento de vínculos sociais protege de comportamentos desviantes. Ou seja, são fatores claros de proteção; a família próxima, e pessoas confiáveis com quem se abrir. 
7. CONCLUSÃO
	A partir do trabalho, notamos que as pesquisas que apontavam que o suicídio é mais frequente após a infância e adolescência acabam por reforçar um mito e uma idealização dessas fases, como se fosse impossível o sofrimento e as frustrações nessas etapas do desenvolvimento humano. 
Dependendo da fase e da idade em que se encontram, as crianças podem não possuir os conceitos de universalidade, irreversibilidade e não-funcionalidade. No entanto, isso não as impede de possuírem angustias genuínas, culpa, e que amadureçam o conceito de morte a partir das experiências vivenciadas. Com isso, percebemos que a literatura não acompanha radicalmente a ocorrência do suicídio para crianças no atual contexto. Já na adolescência, essa fase tão instável, parece mais “aceitável” que algum jovem venha a suicidar-se pelos muitos fatores predisponentes aos quais eles estão expostos, considerando especificamente aqueles relacionados aos meios cibernéticos. A infância, por outro lado, é uma fase lúdica, encantadora, e que sugere apenas leveza; por isso, parece um absurdo penas no suicídio nessa fase. De todo modo, o suicídio é uma questão ainda interditada, tanto quanto a questão da morte, e vivenciada pela nossa sociedade como um tabu.
 Evitar a discussão sobre esse assunto não parece ser a melhor saída para ajudar a dissolvê-lo. Nesse sentido, a atenção dos pais, a confiança e o vínculo construído tanto com as crianças quanto com os adolescentes e o papel da escola na orientação são fundamentais para a prevenção do suicídio. Também o papel do psicólogo deve ser destacado nessa prevenção, já que representa uma função de confiança, mediando as relações entre pais e filhos, especialmente adolescentes. Com os seus recursos, o psicólogo tem condições de perceber ideações suicidas, inclinações, vulnerabilidades, desamparo e desespero, ajudando direta e indiretamente nesses casos.
Apesar de ser cada vez mais frequente nas gerações hoje conhecidas como “floco de neve”, a dificuldade para lidar com frustrações, o imediatismo, a inabilidade diante das dificuldades, a ausência de recursos emocionais, a banalização da violência e da vida, o que se espera nas representações sociais é que toda criança e adolescente tenha direito a crescer e desenvolver-se. Para tanto, será indispensável vínculos mais sadios com a família e amigos, uma educação consistente e apoio.

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