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BIPOLARIDADE E SUICÍDIO EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES UMA REVISÃO SISTEMÁTICA COM METANÁLISE

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FACULDADE DE MEDICINA DO ABC 
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE 
CURSO DE MESTRADO 
 
 
 
 
 
 
FLÓRIDO SAMPAIO NEVES PEIXOTO 
 
 
 
 
 
 
BIPOLARIDADE E SUICÍDIO EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES: UMA 
REVISÃO SISTEMÁTICA COM METANÁLISE 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SANTO ANDRÉ 
2017
 
 
FLÓRIDO SAMPAIO NEVES PEIXOTO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
BIPOLARIDADE E SUICÍDIO EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES: UMA 
REVISÃO SISTEMÁTICA COM METANÁLISE 
 
 
 
 
Dissertação em formato de artigo 
científico apresentada ao Programa de 
Pós-Graduação da Faculdade de 
Medicina do ABC, como pré-requisito para 
obtenção do Título de Mestre em Ciências 
da Saúde. 
 
Área de Concentração: Saúde Coletiva. 
 
Orientador: Prof. Dr. Modesto Leite Rolim 
Neto 
 
 
 
 
 
 
 
 
SANTO ANDRÉ 
2017 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Agradeço a todos que pediram demais pela minha coragem. E 
foram tantos os pedidos que do céu desceu minha força. Aprendi com os percalços da vida, 
que eu era e continuo sendo forte... Neste contexto, ratifico que força são instantes para salvá-
lo do imprevisível. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A bipolaridade e suicídio em crianças e adolescentes é um espaço volátil, 
carregado de surpresas. Aos olhos de quem possui a marca da doença, tudo se 
passa de forma imprevisível: 
 “O que vi, vi tão de perto que não sei o que vi. Como se meu olho 
curioso se tivesse colado ao buraco da fechadura e em choque deparasse do outro lado com 
outro olho colado me olhando. O que era tão incompreensível como um olho. (...) Minhas 
costas forçaram desesperadamente a parede, recuei – era cedo demais para eu ver tanto. Era 
cedo demais para eu ver como nasce a vida.” 
 
 
 
RESUMO 
 
 
PEIXOTO, Flórido Sampaio Neves. Bipolaridade e suicídio em crianças e adolescentes: 
uma revisão sistemática com metanálise, 2017. Dissertação (Mestrado). Faculdade de 
Medicina ABC, Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde, FMABC, Santo André, 
São Paulo, 2017. 
 
 
 
(INTRODUÇÃO) Os transtornos afetivos em crianças e adolescentes têm ganhado 
repercussão crescente no cenário mundial da saúde mental. Embora o transtorno bipolar 
freqüentemente acometa os indivíduos na fase adulta, pesquisas demonstram sua inserção nos 
espaços infanto-juvenis, a partir da faixa etária dos 04 anos de idade, particularmente 
interligado a priori a um episódio de depressão como primeira manifestação do transtorno, 
dificultando, dessa forma o seu correto diagnóstico. (OBJETIVO) Evidenciar através de uma 
revisão sistemática com metanálise os principais fatores de risco para o desenvolvimento de 
suicídio no transtorno bipolar em crianças e adolescentes. (MÉTODO) Trata-se de um 
método de síntese de evidências, através de uma revisão sistemática com metanálise em que 
foi utilizado o protocolo PRISMA (http://www.prisma-statement.org/). Incluem-se, neste 
estudo, dados secundários extraídos da Organização Mundial de Saúde - OMS, Departamento 
of Health and Human Services – UK, National Epidemiological Catchment Area Study – 
ECA/EUA, Ministério da Saúde. A busca por dados originais em saúde mental foram filtrados 
através do mapeamento de evidências oriundas das bases de dados eletrônicas: 
MEDLINE/PubMED, LILACS, SciELO e ScienceDirect no período de 2005 a 2015. 
(RESULTADOS) Foram encontrados nas bases de dados 1.418 registros dos quais foram 
selecionados 47 para compor a revisão. Obteve-se como resultado um risco conjunto entre os 
estudos de 2.94 IC [2.29 – 3.78]. Uma significativa correlação foi verificada entre os fatores 
de risco e o suicídio, tendo como resultado r (Pearson) 0,7103 e p-valor <0,001. 
(CONCLUSÃO) A pesquisa evidenciou que a população infanto-juvenil vivendo com 
transtorno bipolar apresenta maior vulnerabilidade a ideação e prática do suicídio. Associação 
transtorno bipolar versus suicídio se mostrou estatisticamente significante. Tais resultados 
fortalecem a necessidade de uma política pública mais efetiva voltada a esta população, no 
intuito de prevenir novos casos e reduzir danos. 
 
Palavras-Chave: Bipolaridade; Suicídio, Infanto-Juvenil 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ABSTRACT 
 
 
PEIXOTO, Flórido Sampaio Neves. Bipolarity and suicide in children and adolescents: a 
systematic review with meta-analysis, 2017. Thesis (Ma) - ABC School of Medicine, Post 
Graduate Program in Health Sciences, FMABC, Santo André, São Paulo, 2017. 
 
 
 
INTRODUCTION: Affective disorders in children and adolescents have received growing 
attention in the world scenario of mental health. Associated to this fact, there is crescent 
suicide prevalence in this population. OBJECTIVE: By means of a systematic review with 
meta-analysis, we aimed at showing the main risk factors for the development of suicide in 
the bipolar disorder. METHOD: This is a systematic review with meta-analysis, using the 
PRISMA protocol (http://www.prisma-statement.org/). This study included secondary data, 
and original data in mental health was filtered by mapping the evidence found in the 
following electronic databases: MEDLINE/PubMed, LILACS, SciELO, and ScienceDirect in 
the period from 2005 to 2015. RESULTS: We found 1,418 registrations in the databases and 
46 of them were selected to comprise the review. The result was a joint risk between the 
studies of 2.94 CI [2.29 – 3.78]. A significant correlation was verified between the risk factors 
and suicide, and the result was r (Pearson) = 0.7103 and p-value <0.001. CONCLUSION: 
The population of children and adolescents living with bipolar disorder presented more 
vulnerability to ideation and practice of suicide. These results reinforced the need of a more 
effective public policy directed to this population. 
 
Keywords: Bipolar disorder; Suicide, Child; Adolescent. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE FIGURAS 
 
FIGURA 1 - Fluxograma de busca de estudos..................................................18 
 
FIGURA 2 - Metanálise do risco de suicídio em crianças e adolescentes com 
Transtorno Bipolar.............................................................................................25 
 
FIGURA 3 - Correlação Linear de Pearson.......................................................26 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE TABELAS 
 
TABELA 1 - Interfaces Conceituais ................................................................................................. 11 ....19 
 
TABELA 2 - Fatores de risco para o suicídio .................................................................................. 11 191..23 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS 
 
ECA National Epidemiological Catchment Area Study 
IC Intervalo de Confiança 
LILACS Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde 
OMS Organização Mundial de Saúde 
OR Odds Ratio 
MEDLINE Medical Literature Analysis and RetrievalSystem Online 
PRISMA Preferred Reporting Items for Systematic Review and Meta-Analyse 
PUBMED Recurso desenvolvido e mantido pela Biblioteca Nacional de Medicina 
 (NLM®) dos Estados Unidos 
SCIELO Scientific Electronic Library Online 
TB Transtorno Bipolar 
TAB Transtorno Afetivo bipolar 
THB Transtorno de Humor Bipolar 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
1 INTRODUÇÃO..........................................................................................................11 
2 OBJETIVOS...............................................................................................................14 
2.1 OBJETIVO GERAL..................................................................................................14 
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS....................................................................................14 
3 MÉTODO....................................................................................................................15 
4 RESULTADOS...........................................................................................................17 
4.1 Transtorno Afetivo Bipolar: definição e consequências............................................19 
5 DISCUSSÃO...............................................................................................................27 
5.1 Pontos fortes e limitações do estudo..........................................................................28 
6 CONCLUSÃO.............................................................................................................29 
REFERENCIAS..............................................................................................................30 
ANEXO A.......................................................................................................................35 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
11 
 
 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
Transtorno bipolar (TB) é caracterizado por uma perturbação mental de caráter 
crônico e recorrente e uma vez não tratado de forma eficaz pode levar a incapacidade 
funcional e cognitiva do indivíduo. Apresenta maior incidência em adultos, porém pode 
acometer crianças e adolescentes. No entanto, a manifestação nesta população se mostra de 
forma diferenciada dos adultos que geralmente exibe o padrão clássico da patologia
1
. O 
portador pode manifestar variações comportamentais, ora de mania (comportamento eufórico, 
destemido e hiperativo) ora de depressão (choroso, triste, isolado, dentre outras)
2
. 
 Gilman et al., (2015)
3
, destacam que crianças que viveram adversidades e episódios 
estressores como, dificuldades financeiras, maus tratos e abuso sexual nesta fase da vida tem 
1,5 a 3 vezes mais chances de desenvolverem TB. Tal associação foi estaticamente verificada 
pelos autores, demonstrando um Odds Ratio (OR) para o abuso em torno de 2,23; com 95% 
de intervalo de confiança (IC): 1,71-2,91; Odds Ratio (OR) para maus tratos: 2,10; CI: 1,55-
2,83; e quando efetuada tal associação para com a mania recorrente, apresentou significancia 
estatistica com Odds Ratio(OR) por abuso: 1,55; IC: 1,00-2,40; Odds Ratio (OR) 
de maus tratos: 1,60; IC = 1,00-2,55
3
. 
Braga e Dell‟Agio (2013), constataram como principais fatores de risco na 
adolescência, eventos estressores ou exposições a algum tipo de violência como abuso de 
substâncias lícitas ou ilícitas, problemas familiares sejam eles de ordem econômica ou 
emocional (perdas ou separações). No que se refere à questão de gênero, as meninas tentam 
mais o suicídio que os meninos, porém eles apresentam maior êxito, pois escolhem formas 
mais violentas para cometê-los
4
. 
Neste contexto, o transtorno bipolar na interface com o comportamento autodestrutivo 
humano é uma realidade que assola países em todo o mundo. É considerado um problema de 
saúde pública de alta complexidade de causas multifatoriais e de grande ímpacto 
socioeconomico e familiar
5
. Alves Junior et al., (2016), realizaram um estudo com 1.132 
adolescentes com faixa etária entre 14 a 19 anos da rede pública de ensino da cidade de São 
José em Santa Catarina/Brasil. Foi encontrada uma prevalência de 13,8% para pensamento 
suicida, 10,5% para planejamento e 5,5% para tentativas de suícidio. Observou-se também um 
predomínio no sexo masculino (54,2%), 61,8% tinha pele branca e 70% apresentava alto nível 
socioeconômico. Outro fator em destaque foi com relação ao padrão de sono destes 
adolescentes, aproximadamente 75% apresentação padrão de sono perturbado, ou seja, não 
dormia bem. Nesta população foram encontradas as maiores prevalências de transtorno 
12 
 
 
 
bipolar, particularmente interligadas ao pensamento suicida (22,7%), planejamento (17,2%) e 
tentativa suicida (9,4%), se mostrando estatisticamente significante (p<0,01)
6
. 
Por sua vez, o mapa da violência divulgado em 2015, destaca que a taxa de suicídio de 
adolescentes de 16 a 17 anos no Brasil, apresentou aumento de 80,8 %. Foi um estudo 
retrospectivo que catalogou e analisou dados desde 1980 (156 casos) a 2013 (282 casos) 
7
. 
São dados alarmantes que requerem ações efetivas por parte da sociedade e das políticas 
públicas, o suicídio infanto-juvenil é uma realidade e tem apresentado uma incidência 
crescente
8.
 
É importante considerar que o TB é uma patologia que pode desencadear outras 
comorbidades psíquicas, como transtorno de ansiedade e os alimentares que acomete 42% e 
17% desta população respectivamente
9
 e físicas, como o diabetes mellitus
10
. Esse fato pode 
gerar emoções conflitantes ou alterações da percepção de si mesmo o levando a ideação 
suicida. Costa (2008), destaca que indivíduos que vivem com TB apresentam maior 
prevalência a comorbidades psíquicas e/ou físicas, consequentemente apresentando risco de 
suicídio aumentado
11
. 
Diante do exposto, percebe-se a necessidade de um aprofundamento acerca da 
temática, o que foi possível através de uma revisão sistemática com metanálise, com o 
objetivo de identificar a significância estatística dos fatores da associação entre transtorno 
bipolar e suicídio em crianças e adolescentes. 
Para alcançar o objetivo proposto, a etapa inicial de pesquisa envolveu a conversão de 
um encontro clínico em uma questão clínica. A abordagem útil para a formatação da questão 
clínica (ou pesquisa) foi à utilização do acrônimo PICO, onde cada letra representou um 
componente da questão, de acordo com os seguintes conceitos: P – adolescentes e crianças, I 
– transtorno bipolar, C – sem transtorno e O – suicídio. A pergunta norteadora fundamentou-
se no questionamento sobre a significância estatística suscitada através dos fatores de 
associação entre transtorno bipolar e suicídio, quando analisado sob a perspectiva de crianças 
e adolescentes. 
 
P: Crianças e adolescentes 
I: Transtorno bipolar 
C: Sem transtorno 
O: Suicídio 
 
13 
 
 
 
Esta estratégia permitiu formular a seguinte questão de pesquisa: 
 
Os fatores de associação entre transtorno bipolar e suicídio em crianças e 
adolescentes apresentam-se estatisticamente significantes? 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
14 
 
 
 
 
2 OBJETIVOS 
 
 
2.1 OBJETIVO GERAL 
 
Realizar uma metanálise com os dados de estudos selecionados em uma revisão 
sistemática da literatura sobre bipolaridade e suicídio em crianças e adolescentes, utilizando o 
protocolo internacional PRISMA (PreferredReporting Items for Systematic review and Meta-
Analyses). 
 
 
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS 
 
Caracterizar as evidências relevantes no determinar bipolaridade em crianças e 
adolescentes, extraindo os resultados mais utéis em torno dos principais fatores de risco para 
o desenvolvimento de suicídio; 
 
Identificar a significância estatística dos fatores da associação entre transtorno bipolar 
e suicídio em crianças e adolescentes. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
15 
 
 
 
3 MÉTODO 
 
Trata-se de um método de síntese de evidências, através de uma revisão sistemática 
com metanálise em que foi utilizado o protocolo PRISMA (http://www.prisma-
statement.org/). Alguns passos fundamentais foram estabelecidos no contemplar o desenho do 
estudo, tais como: a) formular e definir uma questão de pesquisa; b) identificar os estudos que 
abordam esta questão; c) selecionar estudos relevantes e avaliar criticamente as evidências; d) 
combinar os resultados e conduzir a meta-análise e, e) interpretar os resultados. 
Incluem-se, neste estudo, análises originais com base em dados secundários extraídos 
da Organização Mundial de Saúde - OMS, Departamento of Health and Human Services – 
UK, National Epidemiological Catchment Area Study – ECA/EUA, Ministério da Saúde. As 
informações contidas nesses sistemas estão disponíveis on line em bancos de dados 
eletrônicos. 
A busca por dados originais em saúde mental foi filtrada através do mapeamento de 
evidências oriundas das bases de dados eletrônicas: MEDLINE/PubMED, LILACS, SciELO e 
ScienceDirect no período de 2005 a 2015. O recorte temporal foi pontuado mediante o avanço 
significativo nos últimos 10 anos dos conhecimentos sobre transtorno afetivo bipolar na 
infância e na adolescência. Atualmente, são observados na grande maioria dos estudos, 
esforços para investigar o quadro clínico, assim como o mapeamento diagnóstico e formas de 
tratamentos naquilo que provoca interfaces com a ideação suicida e o suicídio. 
A análise envolveu os seguintes descritores (DeCS): “transtorno bipolar”, “suicídio”, 
“criança”, “adolescente”. Também foi utilizado os descritores (MeSH): “bipolar disorder” , 
“suicide”, “child”, “adolescent”. Foi utilizado os operadores Booleanos AND e OR . 
#1. “Transtorno bipolar” e 
#2. “Suicídio” e 
#3. “Adolescente ou 
#4. “Criança” 
#1 and #2 and #3 or #4 
O acesso à literatura cinzenta foi efetuado por busca manual (handsearching), para 
ativamente identificar estudos elegíveis não recuperados pela estratégia de busca. Foi 
utilizada no sentido de provocar interfaces teóricas fidedignas àquilo que competem às 
informações pertinentes a relatórios e/ou documentos governamentais. 
16 
 
 
 
Foram incluídos estudos epidemiológicos de base populacional, observacional, 
longitudinais, seccionais e de caso controle, nos idiomas inglês e português, no período de 
2005 a 2015. Foram excluídos estudos que se referiram ao suicídio apenas de maneira 
superficial sem citar seus possíveis fatores associados ou que a julgamento dos autores, não 
tinham um posicionamento claro sobre o referido assunto. 
Dois revisores avaliaram criticamente as evidencias científicas de modo independente 
de acordo com os critérios estabelecidos e quando houve discordância em determinado ponto 
um terceiro revisor foi consultado para tomada de decisão sobre inclusão dos estudos ou 
mesmo na interpretação fidedigna dos dados. Foi importante determinar nesta etapa, tanto a 
validade interna quanto a validade externa do estudo: a) validade externa: a extensão a partir 
da qual os achados dos estudos são encontrados ultrapassam, por generalização, os limites de 
interesse para a população-alvo do estudo; b) validade interna: garantir que o estudo foi 
realizado com cuidado e que o(s) efeito(s) observado(s) foi(oram) produzido(s) 
exclusivamente pela intervenção avaliada. 
Para análise estatística foi utilizado o programa BioEstat 5.0 em que foi calculado o 
risco da criança ou adolescente desenvolver o suicídio e foi efetuado o calculo de correlação 
de Pearson para verificação da força da relação estatística entre os fatores avaliados e o 
desfecho dos pacientes no desenvolvimento do suicídio. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
17 
 
 
 
 
4 RESULTADOS 
 
 Foram encontrados nas bases de dados 1.418 registros, sendo 9 SciELO, 1.053 
ScienceDirect e 356 PubMED/MEDLINE. Pela leitura rápida (triagem) do título e do resumo 
totalizaram uma triagem de 463 artigos. Através da leitura detalhada dos estudos, através de 
texto completo e pela confirmação de elegibilidade, foram filtrados 43 artigos que somado a 4 
documentos da literatura cinzenta totalizaram um N= 47 evidências. Dentre esses registros, 16 
artigos foram inseridos na metanálise (Tabela 2). A figura 1 demonstra o processo 
metodológico de busca de evidências para fundamentação da revisão sistemática e metanálise. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
18 
 
 
 
 
Figura 1: Fluxograma da busca dos estudos 
 
 
Registros identificados através de 
pesquisa de banco de dados 
(n =1.418) 
 
 
 T
ri
ag
em
 
 
 I
n
cl
u
sã
o
 
 
 
El
eg
ib
ili
d
ad
e 
 
 Id
en
ti
fi
ca
çã
o
 Registros adicionais identificados 
através de outras fontes 
(n =11) 
Duplicatas removidas 
(n =8) 
registros selecionados 
(n =1.421) 
registros excluídos por 
não abordarem o assunto 
(n =958) 
artigos de texto completo 
avaliados para elegibilidade 
(n =463) 
artigos de texto completo 
excluídos não tinham 
posicionamento claro 
sobre o assunto ou que 
apenas citavam o fato sem 
discutir o assunto 
especificamente (n =412) 
Estudos incluídos na 
síntese qualitativa 
(n =47) 
Estudos incluídos na 
síntese quantitativa 
(metanálise) 
(n =16) 
Fonte: elaborado pelos autores 
 
19 
 
 
 
 
4.1 TRANSTORNO AFETIVO BIPOLAR: DEFINIÇÃO E CONSEQUÊNCIAS 
 
O Transtorno Afetivo Bipolar (TAB) é uma patologia caracterizada por uma 
alternância de fases de depressão e de mania ou de hipomania. Na fase depressiva, a pessoa 
tem o humor deprimido, a auto-estima baixa e considerável déficit de atenção, enquanto na 
fase maníaca, o humor está exaltado, seja ele de alegria ou de irritação. Sentimento de 
indestrutibilidade, aumento do vigor físico e desinibição também são comuns nessa fase
1
. 
Embora o TAB frequentemente acometa os indivíduos na fase adulta, sendo o 
indicador potencial de seu surgimento dos primeiros sintomas circundado a faixa etária de 20 
anos, pesquisas demonstram sua inserção nos espaços infanto-juvenis, a partir da faixa etária 
dos 04 anos de idade
11
. 
A comorbidade é um dos principais motivos de aumento da carga e custos associados 
ao TAB. Os principais danos relacionados a jovens acometidos por esta doença são: déficit na 
cognição social, uso abusivo de substâncias e suicídio. Estes têm forte carga negativa na 
adesão ao tratamento, maior frequência de exposição a situações de risco e morte. A cognição 
social é o processo neurobiológico que nos permite interpretar adequadamente os sinais 
sociais e conduzir de maneira apropriada o nosso comportamento perante a sociedade
12
. 
Considerando-se os avanços do conhecimento em torno do TAB, o uso conceitual 
explícito e sensato da melhor evidência atual, envolve diversas interfaces incorporando 
variadas interpretações (Tabela1). 
 
 
TABELA 1 – Interfaces Conceituais 
 
AUTOR DEFINIÇÃO 
 
Mason; Brown; 
Croarkin – 2016 (12)Espectro que destaca dois estados, o menor, melancolia, e a maior, 
mania. 
 
Koenders et al. – 2015 
(13)
 
Transtorno bipolar (TB) é uma doença crônica e altamente 
incapacitante que se caracteriza pelo constante risco de 
recorrência. 
20 
 
 
 
 
Kerner – 2014 (14) O transtorno bipolar é uma complexa desordem genética, mas o 
modo de transmissão continua a ser descoberto. Muitos 
pesquisadores assumem que variantes genômicas comuns 
carregam algum risco para a manifestação da doença. 
 
 
DSM-V - 2014
(15)
 
Consiste de um ou mais episódios maníacos ou episódios mistos, 
com freqüente apresentação de um ou mais episódios depressivos 
maiores, no caso de TAB I, pelo menos um episódio de hipomania 
associada e, pelo menos, um episódio depressivo maior, no caso de 
TAB II. 
 
Meier et al. – 2012 (16) Condição psiquiátrica grave que se caracteriza por distorções 
fundamentais e distintivas de regulação da emoção e percepção. 
 
 
ALVAREZ- 2010
(17)
 
O Transtorno Afetivo Bipolar caracteriza-se por alterações do 
humor, com alternâncias entre episódios maníacos e depressivos, 
que podem variar de intensidade e de duração de acordo com as 
características pessoais e situacionais envolvidas. 
 
 
 
Lee Fu-I – 2010(18) 
Mesmo persistindo discordâncias acerca de características clínicas 
e dúvidas sobre quais seriam os sintomas cardinais do transtorno 
em crianças e adolescentes, na última década, o mundo 
testemunhou um aumento espantoso de incidência de TB nessa 
população. Alguns estudos sugerem que a fenomenologia dos 
transtornos do humor pode variar de acordo com o funcionamento 
cognitivo, a habilidade social e o grau de desenvolvimento 
psicológico de cada indivíduo. 
 
National Institute of 
Mental Health – 2009(19) 
É um distúrbio que causa alterações não-usuais no humor, 
podendo também trazer prejuízos na escola e até nas relações 
interpessoais. 
21 
 
 
 
 
 
ABREU et al. – 2009(20) É um distúrbio fortemente associado à ideação suicida, tentativas 
de suicídio e o suicídio em si. 
 
MIASSO – 2008(21) Transtorno crônico caracterizado pela existência de episódios 
agudos e recorrentes de alteração patológica do humor. 
 
COSTA – 2008(22) Doença recorrente, crônica e grave, que causa impacto 
significativo na qualidade de vida dos pacientes, além de grande 
carga para família e para a sociedade em geral. 
 
 
CID-10 – 2006(23) Transtorno caracterizado por dois ou mais episódios nos quais o 
humor e o nível de atividade do sujeito estão profundamente 
perturbados, sendo que este distúrbio consiste em algumas 
ocasiões de uma elevação do humor e aumento da energia e da 
atividade (hipomania ou mania) e em outras, de um rebaixamento 
do humor e de redução da energia e da atividade (depressão). 
 
ROCCA & LAFER – 
2006
(24)
 
É um dos mais graves tipos de doença mental e se caracteriza pela 
presença de episódios alternados de humor (mania/hipomania e 
depressão), os quais variam em intensidade, duração e freqüência. 
Além dos episódios clássicos de mania, hipomania e depressão, há 
ainda aqueles mistos, ou seja, episódios nos quais ocorrem 
sintomas tanto característicos das fases de mania/hipomania como 
da depressão. 
 
VIEIRA et al. – 2005(25) O transtorno de humor bipolar (THB) é uma doença grave, 
de distribuição cosmopolita. É considerada uma doença complexa, 
apresentando diversos quadros clínicos e vários modelos 
neurobiológicos e etiológicos que visam a explicar o surgimento e a 
manifestação da doença. 
22 
 
 
 
 
MORENO et. al – 
1999
(26)
 
Transtorno do humor de longa duração, episódico, potencialmente 
grave e que algumas vezes pode cursar com sintomas psicóticos. 
É uma condição médica contínua, para a vida toda, com episódios 
recorrentes que trazem grande impacto na vida do paciente 
reduzindo seu funcionamento e sua qualidade de vida. 
 
As estruturas cerebrais envolvidas no controle das condutas sociais são: córtex pré-
frontal ventromedial, responsável pelo raciocínio social e pelas tomadas de decisão; amídala, 
estrutura responsável pelo reconhecimento de emoções em faces; córtex somatosensorial 
direito, o qual regula o comportamento empático e a simulação; ínsula, responsável pela 
resposta autonômica
27
.
 
Em algumas patologias mentais, há indícios de alterações no volume 
de algumas dessas estruturas
28
. A harmonia entre estas regiões cerebrais possibilita condutas 
adequadas e de valor adaptativo, proporcionando ao indivíduo uma condição livre de 
patologia e, consequentemente, permitindo o convívio social satisfatório. 
Quando o crescimento da criança ocorre da maneira esperada, ele aprende a interpretar 
e manipular suas emoções conforme as normas e expectativas da sociedade, desenvolvendo 
uma correta cognição social
27
.
 
No entanto, em crianças e adolescentes portadores do TAB 
percebe-se o comprometimento da evolução de seus espaços cognitivos, pois as alternâncias 
de humor interferem de forma negativa na adaptação psicossocial, sinalizando 
comprometimento na interface entre o “eu” e o “mundo”. Pesquisas destacam déficits na 
tomada de decisões, ocasionando uma exposição mais frequente nas crianças e adolescentes a 
situações de risco como o uso de drogas, comportamento infrator e de oposição às 
autoridades. É importante ressaltar também que a redução na capacidade de reconhecimento 
de emoções ocasiona na criança problemas importantes na modulação do comportamento 
provocador e agressivo, gerando situações de violência ou exclusão
28
. 
Nesse sentido, o prejuízo na tomada de decisões aliado à criança, acarreta oscilações 
entre a impulsividade e visão imediatista das coisas, bem como acomodação e repetição de 
comportamentos na fase depressiva
29
.
 
Segundo o National Epidemiological Catchment Area 
Study (ECA), a prevalência ao longo da vida de abuso ou dependência de substâncias entre 
pacientes com TAB é de 56%
30
. Quanto aos adolescentes, foi encontrada prevalência de 16% 
entre os bipolares
31
.
 
Em outro estudo, realizado com adolescentes que buscaram tratamento 
23 
 
 
 
para uso de substâncias no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade 
de São Paulo, transtornos de humor estavam presentes antes do início do uso de drogas em 
44% das meninas e em 12% dos meninos
32
.
 
A partir da observação dos dados apresentados 
anteriormente é possível inferir que a presença de TAB em crianças e adolescentes é fator de 
risco para uso de substâncias psicoativas. Estas contribuem para piora do quadro de desordem 
mental pela alteração do humor, seja durante a intoxicação ou na fase de abstinência ou ainda 
pela diminuição de adesão ao tratamento
31
. 
A tabela 2 contém os principais fatores de risco para o desenvolvimento de suicídio 
no transtorno bipolar, identificados a partir da filtragem de dados, assim como avaliados em 
sua elegibilidade. 
 
Tabela 2: Fatores de risco para o suicídio 
 
 
Autor (ano) Fatores de risco 
Holtzman et al., (2015) 
(32)
 
Antecedentes familiares e uso de substâncias 
como álcool 
Breen et al., (2015) 
(33)
 Abuso infantil e gene HPA 
Lan et al., (2015) 
(34)
 
Sintomas como pouco controle e 
pensamentos acelerados 
Weinstein et al., (2015) 
(35)
 
Sintomas de depressão, qualidade de vida, 
desesperança, auto-estima, e rigidez família 
Monfrim et al., (2014) 
(36)
 Disfunção imunológica 
Moor et al., (2012) 
(37)
 
Mais prevalente acima de 15 anos de idade e 
associado a síndrome do pânico 
Goldstein (2009) 
(38)
 
Sexo feminino,história pregressa de 
transtorno bipolar, outros transtornos 
psicológicos, genética familiar 
Goldstein et al., (2005) 
(39)
 
História familiar de tentativa de suicídio, 
história de hospitalização, e história de abuso 
físico e / ou sexual 
Bernegger et al., (2015) 
(40)
 
Sexo feminino, negligência emocional, física 
e abuso sexual, bem como emocional 
24 
 
 
 
Rajewska-Rager, Sibilski P e Lepczyńska 
(2015) 
(41)
 
Nível de comprometimento da doença 
Ellis et al., (2014) 
(42)
 Adaptabilidade e coesão familiar 
Park et al., (2013) 
(43)
 
Sintomas depressivos como desânimo e 
pessimismo 
Goldstein et al., (2012) 
(44)
 
Sexo feminino, sintomas depressivos e 
história familiar de suicídio 
Singh e Coffey (2012) 
(45)
 
A partir de 5 anos de idade já é passível de 
ocorrência 
Goldstein (2009) 
(46)
 Estresse familiar 
Jolin, Weller, Weller (2007) 
(47)
 
Curso clínico, comorbidades psiquiátricas, 
comportamento suicida familiar e fatores 
psicossociais 
Fonte: Elaborado pelos autores 
 
 Fundamentado nos estudos evidenciados acima, foi realizado um cálculo adaptado de 
risco conjunto de todos os estudos para avaliar estatisticamente o risco que uma criança ou 
adolescente praticar o suicídio quando os fatores estão presentes. A Figura 2 evidencia o 
resultado obtido de acordo com análise e na ordem dos estudos da Tabela 2. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
25 
 
 
 
Figura 2: Metanálise do risco de suicídio em crianças e adolescentes com transtorno bipolar 
 
Amostra Risco IC Inferior IC Superior Peso 
01 1.1430 0.6410 2.0380 11.4870 
02 3.3290 2.6070 4.2510 64.3140 
03 6.2090 5.0570 7.6230 91.2570 
04 1.0200 0.6280 1.6580 16.2750 
05 0.9200 0.4570 1.8540 7.8280 
06 0.9800 0.5300 1.8120 10.1700 
07 0.8440 0.4520 1.5770 9.8530 
08 1.6550 1.1890 2.3010 35.2720 
09 1.0560 0.7610 1.4660 35.7120 
10 0.7330 0.4120 1.3040 11.5650 
11 1.0470 0.5540 1.9780 9.4910 
12 7.1850 5.0810 10.1600 31.9910 
13 0.4000 0.2490 0.6420 17.1640 
14 1.2600 0.7240 2.1910 12.5420 
15 8.2110 5.1920 12.9870 18.2790 
16 0.2940 0.1550 0.5600 9.2920 
Combinado 2.9480 2.2960 3.7810 
Fonte: Elaborado pelos autores 
26 
 
 
 
 
 Analisando os 16 estudos, obteve-se como resultado um risco conjunto de 2.94 IC 
[2.29 – 3.78] o que significa um risco de quase 3 vezes em desenvolver o suicídio na 
população infanto-juvenil com transtorno bipolar. Para a mesma análise obteve-se um p-valor 
de 0,001 o que fica evidenciado estatisticamente o risco de uma criança ou adolescente que 
apresente os fatores relatados em desenvolver o suicídio. 
 Na Figura 3, foi realizado um cálculo de correlação estatística (Pearson) para 
avaliação do grau de relação estatística entre os fatores de risco e o fenômeno do suicídio. O 
teste pode ter como resultado um valor que varia de -1 a +1 sendo – 1 uma correlação 
negativa perfeita, 0 sem correlação e +1 uma correlação positiva perfeita. 
 
Figura 3: Correlação de Pearson 
 
 
Fonte: Elaborado pelos autores 
 
 O teste obteve como resultado uma significativa correlação entre os fatores de risco e 
o suicídio r (Pearson) 0,7103 e p-valor <0,001. Esse fato vem a corroborar ainda mais com a 
premissa de vulnerabilidade de crianças e adolescentes com transtorno bipolar ao suicídio. 
 
27 
 
 
 
 
5 DISCUSSÃO 
 
Muitos fatores encontram-se presentes em crianças e adolescentes com maiores 
chances de desenvolvimento de suicídio. Entre os principais, a presença de sintomas 
depressivos predispõe mais intensamente o paciente desenvolver o fenômeno
35
. Esses 
sintomas quando relacionados a características tais como desânimo e pessimismo e na 
presença de transtorno bipolar mostram uma associação com o suicídio com p<0,05 sendo 
estatisticamente significativo
43
. 
Quando o transtorno bipolar é associado a déficit de atenção e hiperatividade os 
indivíduos apresentam 2,38 mais chances de desenvolver o suicídio em relação a quem não 
tem os sintomas
34
. Características como história de comportamento auto prejudicial apresenta 
Odds Ratio (OR) de 2,45; internações psiquiátricas com OR de 2,48; episódios mistos com 
OR de 2,08 e psicose com OR de 1,75 são algumas características estatisticamente 
significativas para desenvolvimento do suicídio
39
. Geralmente o início precoce do transtorno 
bipolar em crianças e adolescentes está associado ao aumento do risco de suicídio se 
comparado a quando é desenvolvida na fase adulta
47
. 
 Quando comorbidades estão presentes conjuntamente com o transtorno bipolar em 
crianças e adolescentes, aumenta significativamente o risco de desenvolvimento de suicídio
37
. 
Comorbidades psiquiátricas fazem parte dos principais fatores de risco para desencadeamento 
do fenômeno, as quais devem ser consideradas na avaliação de saúde do indivíduo
47
. 
 História familiar de transtorno bipolar configura importante fator de risco para suicídio 
perfazendo uma taxa superior a 57%
32
. Essa relação com a história familiar fundamenta a 
teoria de associação entre a presença de genes já que pessoas com antecedentes familiares e 
características genéticas como o gene HPA possuem uma probabilidade de 0,47 para 
desenvolvimento do suicídio
33
. 
 Outras relações importantes são associações entre o suicídio no transtorno bipolar e a 
presença de relações familiares frágeis
42
. Taxas mais elevadas de suicídio encontram-se em 
jovens que estão inseridos em ambiente familiar desfavorável. Em razão desse fato o foco de 
tratamento não é mais direcionado somente ao paciente, mas incluindo a família de um modo 
integral
46
. 
 Quando analisado sob a ótica do gênero, o sexo feminino apresenta uma maior 
predisposição principalmente quando associado a sintomas depressão apresentando uma 
28 
 
 
 
significância com p<0,005
38
. As mulheres têm chances superiores a 1,03 para 
desenvolvimento de suicídio em relação a homens e mais frequentemente quando estão em 
episódios mistos da doença
44
. 
 Analisando conjuntamente as características encontradas nos estudos obteve-se um 
risco de 2,94 com IC [2.29 – 3.78] e p-valor de 0,001, além de 0,7103 e p-valor <0,001 para a 
correlação entre as características analisadas e o suicídio. Dessa forma, os fatores de 
associação entre transtorno bipolar e suicídio em crianças e adolescentes apresentam-se 
estatisticamente significantes. 
 
5.1 PONTOS FORTES E LIMITAÇÕES DO ESTUDO 
 VANTAGENS DESVANTAGENS 
Utilizar revisão sistemática com metanálise 
forneceu a melhor estimativa possível sobre 
o efeito real que se procurava descobrir 
mediante o objeto de investigação. 
Exigiu um esforço consideravelmente maior 
do que a revisão tradicional 
Diminui o intervalo de tempo na filtragem de 
dados sobre a prática da pesquisa e a 
implementação de novas descobertas na 
prática clínica 
As questões clínicas decorrentes dos estudos 
foram, muitas vezes, demasiadamente 
estreitas, reduzindo, assim, a captura de 
resultados mais aprofundados. 
Relativamente mais rápida e menos 
dispendiosa 
Às vezes, as intervenções revisadas não 
refletiam a prática corrente. 
Grandes quantidades de informações foram 
criticamente avaliadas e sintetizadas 
Houve um número moderado de estudos de 
alta qualidade disponíveis para revisão, 
suscitando a necessidade de complementação 
da busca manual (handsearching), para 
ativamente identificar estudos elegíveis não 
recuperados pela estratégia de busca 
A metanálise tem alto poderde detectar os 
efeitos da exposição e de estimá-los com 
maior precisão. 
Houve dificuldade na escolha do programa 
estatístico que melhor se adequasse ao objeto 
em estudo. 
 
29 
 
 
 
 
6 CONCLUSÃO 
Muitos estudos relacionam o risco de desenvolvimento de suicídio a presença de 
fatores de risco que podem estar presentes ou não nesses pacientes. Esses fatores incluem 
características genéticas, características do transtorno bipolar como sintoma depressivo, além 
de aspectos familiares e sociais. Todas essas características devem ser consideradas na 
avaliação mental do indivíduo. 
Crianças e adolescentes com transtorno bipolar são estatisticamente vulneráveis ao 
desenvolvimento do suicídio e vários fatores como fator genético, uso de substâncias, 
comorbidade, idade, sexo feminino, negligência emocional, física, abuso sexual, bem como 
emocional e físico e fatores familiares podem influenciar no fenômeno. 
 Crianças com fatores associados ao transtorno bipolar tem quase 3 vezes mais chances 
de desenvolver o suicídio com um nível de relação acima de 70%, o que se mostra 
estatisticamente significativo. Esforços contínuos ainda são necessários para compreender 
adequadamente os fatores de associação entre transtorno bipolar e suicídio em crianças e 
adolescentes 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
30 
 
 
 
 
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35 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ANEXO – A 
 
( Carta de Aceite HEALTH – ISSN: 1949-4998 - Qualis/CAPES: B2 – 
Medicina I )

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