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Decisões de Financiamento ou Captação de Recursos Introdução • Os gestores financeiros costumam se deparar com situações em que é imprescindível a captação de recursos externos como: suprir uma deficiência ocasional de caixa; obter capital de giro para permitir o financiamento das vendas; financiar projetos de expansão ou novos empreendimentos, entre outras; • Por isso, necessitam saber onde captar esses recursos, quais os procedimentos necessários para concretizar a captação, bem como analisar a viabilidade econômica desse tipo de operação financeira. Introdução • Neste sentido, as próximas seções destacam as fontes de recursos mais comuns no âmbito do mercado financeiro nacional na atualidade. Inicialmente, são elucidados os principais pontos acerca do termo “alavancagem” e da expressão “custo do capital”. • Em seguida, é apresentada a composição do Sistema Financeiro Nacional, priorizando o detalhamento dos componentes que estejam mais estreitamente relacionados com a gestão financeira das empresas industriais e comerciais. • Por último, são abordadas as formas de captação de recursos mais comuns, como empréstimos e financiamentos, desconto de títulos, leasing, factoring etc. Alavancagem • O termo alavancagem costuma ser empregado para designar duas situações distintas: Alavancagem operacional: situação na qual os custos fixos aumentam em maior proporção que os custos variáveis. Alavancagem financeira: ocorre quando o volume de recursos alheios (capital de terceiros) aumenta mais em relação aos recursos provenientes dos sócios (capital próprio). Alavancagem • A alavancagem operacional é mais utilizada quando da análise de situações relativas à gestão de custos, enquanto a alavancagem financeira está mais diretamente relacionada gestão financeira. • No entanto, cabe ressaltar que no âmbito financeiro a palavra “alavancagem” costuma ser empregada em contextos distintos e pode representar: A) a utilização de recursos provenientes de terceiros na composição da estrutura de capital de uma determinada empresa, objetivando otimizar o retorno dos investimentos realizados; B) a compra de títulos ou bens com recursos de terceiros; C) a participação percentual dos empréstimos ou financiamentos contraídos em relação à estrutura de capital da companhia. Alavancagem • Empregar a alavancagem financeira para maximizar a rentabilidade se justifica principalmente quando o custo de captação dos recursos alheios é inferior à taxa de retorno obtida pelo investimento efetuado. Se for o contrário (ou seja, se o custo de captação é maior que taxa de retorno), a alavancagem financeira, a priori, deve ser descartada. Por exemplo: uma empresa “compra” $ 100.000 de capital de terceiros (via empréstimo bancário) pagando taxa de captação de 10% ao ano e consegue empregar esses recursos num empreendimento que proporciona TIR/IRR de 18% no mesmo período. Como a rentabilidade do capital empregado supera em oito pontos percentuais a taxa cobrada pelo banco, vale a pena captar recursos nessas condições. Por outro lado, se o custo do empréstimo bancário fosse de 20% ao ano, o investimento desse capital no negócio não teria condições de proporcionar valor suficiente para pagar a taxa de captação dos recursos utilizados. Com isso, implicaria resultado final menor pela dedução das despesas financeiras do empréstimo. Custo do Capital • Representa o retorno que os investidores ou fornecedores de capital exigem por destinarem recursos a um determinado empreendimento ou empresa. • Com base nessa definição, percebe-se que o custo do capital pode ser dividido: a) Custo do capital de terceiros (ou capital alheio): representa o custo de captação de recursos que a empresa se sujeita a pagar na “compra” de dinheiro em instituições financeiras e, geralmente, essa taxa de juros está definida nos contratos firmados com os bancos para essa finalidade. b) Custo do capital próprio: equivale ao retorno mínimo que o investidor deseja obter por aplicar capital na empresa por prazo indeterminado. • Convém salientar que, nos dois casos, o valor a ser considerado numa análise financeira deve priorizar o custo de capital após o imposto de renda, já que na maioria das vezes a empresa pode deduzir o valor pago na captação de recursos quando da apuração da base de cálculo desse tributo. • Por outro lado, com base na representatividade de cada fonte de recursos (capital próprio ou capital alheio) utilizada no financiamento de curto e longo prazo da empresa, calcula-se o “Custo Médio Ponderado de Capital” (CMPC). Ou seja, apura- se uma média ponderada dos custos de captação das distintas origens do capital investido na empresa. • O CMPC pode ser entendido como o “custo de capital” que o administrador financeiro deve considerar quando das decisões de financiamento e investimento da empresa. Custo do Capital • Por exemplo: admita-se que a empresa Urussanga tem a estrutura de capital mencionada na figura 5.3 e que o custo do único financiamento bancário é de 10% ao ano, enquanto os investidores desejam taxa de retorno anual de 15%. PASSIVO Valor (em $) % do Total Financiamento bancário 100.000 20% PATRIMÔNIO LÍQUIDO Capital social 400.000 80% TOTAL DAS FONTES DE RECURSOS 500.000 100% Figura 5.3 — Estrutura de capital da empresa Urussanga Custo do Capital • No caso mencionado, o CMPC é de 14,00%, obtido pela equação: [(20% * 10% ao ano) + (80% * 15% ao ano)]. • Com isso, os novos investimentos que a empresa cogita realizar devem propiciar retorno superior ao CMPC para se justificarem. • Sob o mesmo raciocínio, as novas captações de recursos devem ter custo máximo limitado ao CMPC para não prejudicarem a rentabilidade final do negócio. Sistema Financeiro Nacional • Para obter recursos de terceiros no mercado financeiro é necessário, ao menos, que o gestor financeiro conheça as entidades que ofertam empréstimos e financiamentos ou aquelas que permitem realizar outras operações que disponibilizam o capital (ou bem) pretendido. • Contempla os mercados: monetário, de crédito, de capitais e cambial. Formas de Captação de Recursos • A necessidade de obter recursos externos para financiar as atividades operacionais ou realizar investimentos produtivos pode ser suprida com a utilização dos diversos produtos oferecidos pelas instituições financeiras. • Neste sentido, nas próximas seções são apresentados os aspectos mais significativos das principais formas de captação atualmente disponíveis. Captação por Empréstimos ou Financiamentos • Entre as formas tradicionais de captação de recursos que as empresas utilizam estão os empréstimos e financiamentos. Estes dois termos têm significados semelhantes, mas costumam ser empregados para distinguir operações de concessão de crédito a curto prazo (empréstimos) e longo prazo (financiamentos). • Os próximos tópicos ressaltam os conceitos técnicos mais relevantes e detalham os métodos de amortização mais difundidos no ambiente financeiro atual. Conceitos relacionados a empréstimos e financiamentos • As operações financeiras envolvendo empréstimos ou financiamentos abrangem um conjunto de palavras e expressões técnicas que causam alguma dificuldade de entendimento para leigos ou iniciantes. • Em razão disso, optou-se por descrever os termos mais comumente utilizados nessa área, conforme enfatizado a seguir. Conceitos relacionados a empréstimos e financiamentos • Em relação às partes envolvidas num contrato de empréstimo ou financiamento, figuram de um lado o “credor ou mutuante” e, do outro, o “devedor ou mutuário”. • Ou seja, a parte que contrair a dívida é chamada “devedor ou mutuário”, enquanto aquela que disponibiliza o capital emprestado é denominada “credor oumutuante”. Conceitos relacionados a empréstimos e financiamentos • As operações financeiras de captação de recursos por empréstimos ou financiamentos costumam ser controladas em planilhas específicas, geralmente elaboradas em Excel ou aplicativo similar. • Nessas planilhas são inseridos, além de uma coluna relativa ao prazo estipulado, os valores monetários (em $) relacionados aos contratos respectivos, que são designados pelos termos constantes da figura 5.7. Componentes de uma planilha de empréstimos Prazo (meses) Amortização (R$) Juros (R$) Prestação (R$) Saldo Devedor (R$) 0 1 2 Saldo devedor • O “saldo devedor” significa o valor devido pela parte que contraiu a dívida ao final de cada período (geralmente mensal). • A respeito do valor da dívida que originou o contrato é comum, também o uso das expressões “capital emprestado” “principal” ou “saldo devedor inicial”. • Eventualmente podem ser adicionados ao capital emprestado alguns encargos a critério da instituição financeira. Prestação/Amortização/Juros • Para quitar o débito do empréstimo ou financiamento contratado, todo mês (ou outra periodicidade pactuada) o devedor ou mutuário paga um valor a título de “prestação”. Esse valor desembolsado mensalmente é composto, geralmente, pela soma do valor da “amortização” com o valor dos “juros” do período. • O conceito de “amortização” representa a parcela do capital emprestado que todo mês é liquidada (ou amortizada). Assim, somando-se todas as amortizações efetuadas até o final do prazo chega-se ao mesmo valor da dívida contraída, zerando-a. • No que tange ao valor dos “juros”, este é sempre calculado com base no saldo devedor oriundo do período anterior, multiplicado pela taxa de juros (em %) mencionada no contrato de empréstimo ou financiamento. Os juros representam o principal “custo” da captação de recursos, mas outros encargos podem encarecer a “compra” de capital de terceiros por empréstimos ou financiamentos. Tributação • A tributação associada aos empréstimos e financiamentos geralmente está relacionada ao Imposto sobre Operações Financeiras (IOF),e nas operações de crédito o fato gerador desse imposto ocorre pela efetiva entrega ou disponibilização, total ou parcial, do valor contratado. Prazo • Quanto aos prazos, esses contratos costumam abranger o “prazo de utilização”, o “prazo de carência” e o “prazo de amortização”. • O “prazo de utilização” equivale ao espaço de tempo no qual o valor do empréstimo ou financiamento é repassado da instituição financeira para o devedor. • Já o “prazo de carência” corresponde ao intervalo de tempo decorrido entre o prazo de utilização e o pagamento da primeira amortização. No prazo de carência os juros podem ser pagos periodicamente ou capitalizados para começarem a ser pagos ao término do período de carência. • Tratando-se do “prazo de amortização”, este representa o prazo contratado para pagar as amortizações do capital emprestado. Ainda, é comum também o uso das expressões “prazo total” ou “prazo de financiamento” para representar o período resultante da soma do prazo de carência com o prazo de amortização. Empréstimo pelo método francês (Price) • O matemático inglês Richard Price, que viveu entre 1723 e 1791, inventou o método que leva seu nome e que foi difundido principalmente na França durante o século XIX. • No método francês é empregada a mesma fórmula utilizada no cálculo das prestações sem entrada, abordada no capítulo 2 (rotina para achar PMT na HP-12C e função “Pgto” na planilha Excel). • É o método mais usado em empréstimos bancários de curto longo prazo e nas vendas parceladas do comércio e da indústria. Empréstimo pelo método francês (Price) • As características principais desse método são: A)Prestações periódicas (geralmente mensais) e sucessivas com valores (em $) iguais em todos os períodos; B) Amortizações periódicas (geralmente mensais) e sucessivas com valores (em $) crescentes durante o prazo contratado. As amortizações são calculadas pela diferença entre o valor das prestações e o valor dos juros de cada período; C) Saldos devedores com valores decrescentes ao término de cada período (geralmente mês) em relação ao período precedente; D) Taxa de juros incidente sobre o saldo devedor ao final do período (geralmente mês) anterior e valores respectivos decrescentes a cada período. Empréstimo pelo método francês (Price) • Para elaborar uma planilha de empréstimos pelo método francês (ou Price) é necessário passar pelas quatro etapas apresentadas a seguir, considerando no exemplo os dados mencionados na figura 5.8. Valor do empréstimo: $ 12.000 (PV) Prazo de pagamento (sem entrada): 5 meses (N) Taxa de juros: 5% ao mês (i) Figura 5.8 — Dados do empréstimo pelo método francês ou Price Empréstimo pelo método francês (Price) • Etapa 1 — Determinar o valor da prestação: nesta forma de empréstimo em todos os meses (ou outro período utilizado) as prestações têm o mesmo valor (em $) e as amortizações têm valores (em $) diferentes a cada período. A fórmula para calcular a prestação é a seguinte: PV * i PMT = -------------------------------- 1 – [(1 + i )^–n] • Usando a fórmula acima, o cálculo com os parâmetros do empréstimo em estudo proporciona um valor de prestação mensal de $ 2.771,70, conforme demonstrado abaixo: 12.000 * 0,05 600 600 PMT = --------------------- -------------------- --------------- 2.771,70... 1 – [(1 + 0,05 )^–5] 1 – (0,783526...) 0,216474... Empréstimo pelo método francês (Price) • Etapa 2 — Calcular o valor dos juros do mês: para calcular o valor (em $) dos juros do mês (neste caso o 1.º mês), basta aplicar a taxa de juros (5%) sobre o saldo devedor ($ 12.000). Exemplo: Saldo devedor ($) * Taxa de juros (%) = Valor dos juros ($) $ 12.000 * 5% = $ 600 Empréstimo pelo método francês (Price) • Etapa 3 — Apurar o valor da amortização mensal: para definir o valor (em $) da amortização mensal basta deduzir o valor dos juros do mês (no exemplo, $ 600) do valor (em $) da prestação mensal (no caso, $ 2.771,70). Exemplo: Prestação ($) – Juros do mês ($) = Amort. do mês ($) $ 2.771,70 – $ 600 = $ 2.171,70 Empréstimo pelo método francês (Price) • Etapa 4 — Cálculo do novo saldo devedor (após a amortização do mês): para determinar o valor (em $) do novo saldo devedor após a amortização do mês, basta deduzir o valor amortizado no mês (no exemplo, $ 2.171,70) do saldo devedor anterior ($ 12.000). Exemplo: Saldo dev. antes da amort. ($) – Amort. do mês ($) = Saldo dev. ($) $ 12.000 – 2.171,70 = $ 9.828,30 Empréstimo pelo método francês (Price) • Nos demais meses é só continuar na seqüência que foi mencionada acima para obter todos os valores necessários à elaboração da planilha de empréstimo pelo método francês (ou Price). • Os mesmos valores encontrados nas quatro fases mencionadas podem ser obtidos pela calculadora HP-12C, que possui esse método de empréstimo pré-programado em suas funções. Para tanto, a rotina de cálculo a seguir é aquela constante na figura 5.9. Rotina de cálculo pela HP-12C do método francês (Price) Digitação Descrição F REG F FIN Zeramento dos registros financeiros anteriores; 12000 CHS PV Informando o valor presente da dívida (com sinal negativo); 5 i Inserindo a taxa de juros contratada; 5 N Informando o prazo da negociação; PMT Solicitando o valor das prestações pela função respectiva ; “2.771,70” Resultado (em $) equivalente ao valor de todas as prestações ; 1 F AMORT Solicitando o valor dos juros do mês pela função pré-programada; “600,00” Resultado (em $) equivalente ao valor dos juros do 1.º mês;x><y Solicitando o valor da amortização do mês pela função pré-programada; “2.171,70” Resultado (em $) equivalente ao valor da amortização do 1.º mês; RCL PV Solicitando o valor do saldo devedor atual pela função pré-programada; “-9.828,30” Resultado (em $) equivalente ao saldo devedor do 1.º mês; 1 F AMORT Solicitando o valor dos juros do mês pela função pré-programada; “491,42” Resultado (em $) equivalente ao valor dos juros do 2.º mês; • E assim, sucessivamente... Empréstimo pelo método francês (Price) • O Excel não possui uma função específica para esse método de empréstimo. • Assim, o gestor financeiro pode elaborar uma planilha seguindo as fases listadas. Empréstimos pelo método alemão (hamburguês) ou SAC • Esse método de empréstimo conhecido por método alemão ou hamburguês também é chamado de “SAC”, uma sigla para Sistema de Amortização Constante. • Usado principalmente em financiamentos de longo prazo, suas características principais são: A) Amortizações periódicas (geralmente mensais) e sucessivas com valores fixos (constantes) durante todo o prazo contratado. São calculadas pela divisão do capital emprestado pelo número de períodos (geralmente meses) contratados para essa finalidade; B) Taxa de juros incidente sobre o saldo devedor ao final do período (geralmente mês) anterior; C) Prestações periódicas (geralmente mensais) e sucessivas com valores decrescentes a cada período. As prestações são calculadas pela soma da amortização com o valor dos juros de cada mês (ou outro período considerado); D) Saldos devedores com valores decrescentes ao término de cada período (geralmente mês) em relação ao período precedente. Empréstimos pelo método alemão (hamburguês) ou SAC • Para elaborar uma planilha de empréstimo por esse método é necessário conhecer as fases de cálculo apresentadas na seqüência, assumindo um contrato de concessão de crédito com as condições estipuladas na figura 5.11. Saldo devedor = $ 12.000 Prazo contratado = 5 meses Taxa de juros = 5% ao mês Figura 5.11 — Base de dados para empréstimo pelo método alemão/SAC Empréstimos pelo método alemão (hamburguês) ou SAC • Fase 1 — Calcular o valor (em $) da amortização: a obtenção do valor de todas as amortizações mensais exige que o valor (em $) do saldo devedor inicial seja dividido pelo prazo contratado (neste caso, em meses). • Exemplo: Saldo devedor (em $) / Prazo = Amortização (em $ $ 12.000 / 5 meses = $ 2.400 Empréstimos pelo método alemão (hamburguês) ou SAC • Fase 2 — Determinar o valor (em $) dos juros do mês: para calcular o valor (em $) dos juros de cada mês (neste caso, o 1.º mês), basta aplicar a taxa de juros contratada de 5% ao mês sobre o saldo devedor ($ 12.000). • Exemplo: Saldo devedor (em $) * Taxa de juros (%) = Valor dos juros (em $) $ 12.000 * 5% ao mês = $ 600 Empréstimos pelo método alemão (hamburguês) ou SAC • Fase 3 — Cálculo do valor (em $) da prestação mensal: o valor (em $) da prestação do mês (que será diferente a cada período, nesse método) é obtido pela soma do valor (em $) da amortização com os juros (em $) do mês. • Exemplo: Amortização (em $) + Juros do mês (em $) = Prestação do mês (em $) $ 2.400 + $ 600 = $ 3.000 Empréstimos pelo método alemão (hamburguês) ou SAC • Fase 4 — Obtenção do novo saldo devedor (após a amortização do mês): para determinar o valor (em $) do novo saldo devedor após a amortização (em $) do mês, basta deduzir o valor amortizado (no exemplo acima, $ 2.400) do saldo devedor anterior à amortização do período ($ 12.000). • Exemplo: Saldo dev. antes da amort. ($) – Amort.do mês ($) = Novo saldo dev. ($) $ 12.000 – $ 2.400 = $ 9.600 Empréstimos pelo método alemão (hamburguês) ou SAC • Nos demais meses é só continuar com os mesmos procedimentos de cálculo a cada período na seqüência evidenciada acima. Empréstimos pelo método alemão (hamburguês) ou SAC • O Excel não possui uma função específica para esse método de empréstimo. Empréstimos com carência e capitalização dos juros • Entre as modalidades de empréstimos encontram-se as “com carência” ou “sem carência”. • O termo “carência”, em finanças, significa um período no qual o tomador do empréstimo não desembolsa qualquer quantia para pagamento do principal da dívida. Empréstimos com carência e capitalização dos juros • Convém salientar que, conforme a negociação com a instituição financeira que concede o crédito, o contrato de empréstimo ou financiamento pode prever a capitalização dos juros (quando estes não são pagos mensalmente, mesmo durante o período de carência) ou o pagamento dos juros durante o prazo de carência (neste caso, sem a capitalização dos juros). Empréstimos com carência e capitalização dos juros • Entretanto, após o período de carência o procedimento de cálculo é o mesmo, independentemente se for empregado o método francês/Price ou o método alemão/SAC. Empréstimos com carência e capitalização dos juros • Por exemplo: supondo os dados constantes da figura 5.13, para um empréstimo pelo método alemão/SAC, com juros capitalizados durante o período de carência. Saldo devedor = $ 12.000 Prazo total contratado = 8 meses (amort. + carência) Prazo de carência = 3 meses Taxa de juros = 5% ao mês Figura 5.13 — Empréstimo pelo método alemão/SAC, com carência e juros capitalizados Empréstimos com carência e capitalização dos juros • Para montar a planilha desse empréstimo é necessário calcular inicialmente os valores referentes ao período da carência, conforme exemplificado nas etapas a seguir. • Etapa “A” — Cálculo do valor dos juros do 1.º mês de carência: no primeiro período o valor (em $) dos juros é calculado pela multiplicação do saldo devedor inicial pela taxa de juros contratada. Exemplo: Saldo dev. (em $) * Taxa de juros (%) = Valor dos juros (em $) $ 12.000 * 5% = $ 600 Empréstimos com carência e capitalização dos juros • Etapa “B” — Determinação do saldo devedor após o 1.º mês de carência: como os juros do mês (calculados na fase anterior) não serão pagos, mas sim capitalizados, ao final do 1.º mês o valor (em $) dos juros serão incorporados ao saldo devedor inicial. Esse novo valor será o saldo devedor a considerar para o 2.º período (ou seja, com os juros capitalizados do 1.º mês pelo não pagamento). • Exemplo: Saldo dev. inicial (em $) + Juros do mês (em $) = Saldo dev. final (em $) $ 12.000 + $ 600 = $ 12.600 Empréstimos com carência e capitalização dos juros • Etapa “C” — Cálculo do valor dos juros do 2.º mês de carência: no 2.º mês o valor (em $) dos juros é calculado pela multiplicação da taxa de juros contratada pelo saldo devedor ao final do 1.º mês (com os juros daquele período incorporados ao capital inicial). • Exemplo: Saldo dev. (em $) * Taxa de juros (%) = Valor dos juros (em $) $ 12.600 * 5% = $ 630 Empréstimos com carência e capitalização dos juros • Etapa “D” — Determinação do saldo devedor após o 2.º mês de carência: a exemplo do exposto na etapa “B”, os juros do 2.º mês de carência também devem ser agregados ao saldo devedor do começo deste período. Assim, soma-se o saldo devedor inicial do 2.º período com os juros calculados para este mesmo mês (fase “C”). • Exemplo: Saldo dev.inicial (em $) + Juros/mês (em $) = Saldo dev.final (em $) $ 12.600+ $ 630 = $ 13.230 Empréstimos com carência e capitalização dos juros • Etapa “E” — Cálculo do valor dos juros do 3.º mês de carência: no terceiro mês o valor (em $) dos juros é calculado multiplicando-se a taxa de juros contratada pelo saldo devedor ao final do 2.º mês. • Exemplo: Saldo dev. (em $) * Taxa de juros (%) = Valor dos juros (em $) $ 13.230 * 5% = $ 661,50 Empréstimos com carência e capitalização dos juros • Etapa “F” — Determinação do saldo devedor após o 3.º mês de carência: a exemplo do exposto na fase “D”, os juros do 3.º período de carência também devem ser agregados ao saldo devedor inicial desse mês. Assim, soma-se o saldo devedor inicial do 3.º período com os juros calculados para o 3.º período (fase “D”). Exemplo: Saldo devedor inicial (em $) + Juros do mês (em $) = Saldo devedor final (em $) $ 13.230 + $ 661,50 = $ 13.891,50 Empréstimos com carência e capitalização dos juros • A partir do término do prazo de carência, os procedimentos passam a ser os mesmos evidenciados anteriormente, tanto para o método alemão/SAC ou francês/Price. • No entanto, deve-se partir do saldo acumulado ao final do período de carência (no exemplo citado, $ 13.891,50). Empréstimos com carência e capitalização dos juros A planilha reproduzida na figura 5.14 mostra o cálculo completo do empréstimo utilizado para exemplificar a situação de dívida contratada com juros capitalizados durante o prazo de carência (usando o método alemão/SAC). PRAZO AMORTIZ. JUROS PRESTAÇÃO SALDO DEV. O 12.000,00 1 - 600,00 - 12.600,00 2 - 630,00 - 13.230,00 3 - 661,50 - 13.891,50 4 2.778,30 694,58 3.472,88 11.113,20 5 2.778,30 555,66 3.333,96 8.334,90 6 2.778,30 416,75 3.195,05 5.556,60 7 2.778,30 277,83 3.056,13 2.778,30 8 2.778,30 138,92 2.917,22 - Figura 5.14 – Planilha de empréstimos com carência e capitalização de juros (método alemão/SAC) Empréstimos com carência e sem capitalização de juros • Ao contrário do método anterior, quando se contrata um empréstimo ou financiamento com juros pagos mensalmente no período de carência, não ocorre a capitalização do valor desses juros. • Ou seja, por serem pagos todo mês, os juros mensais não são incorporados ao saldo devedor inicial. • Nessa modalidade de contratação, durante o período de carência apenas deve ser calculado o valor dos juros a serem pagos a cada mês e este valor equivalerá à prestação desse período. Empréstimos com carência e sem capitalização de juros • A título de ilustração, considere como exemplo os dados mencionados na figura 5.15, relativos a um empréstimo contraído pelo método alemão/SAC com carência e pagamento dos juros durante esse período (sem capitalização dos juros mensais). Saldo devedor = $ 12.000 Prazo total contratado = 8 meses (amortização + carência) Carência = 3 meses Taxa de juros = 5% ao mês Figura 5.15 — Empréstimo pelo método alemão/SAC com carência e sem juros capitalizados Empréstimos com carência e sem capitalização de juros • Para montar a planilha desse empréstimo, é necessário calcular inicialmente os valores referentes ao período da carência. • Como os juros incidirão apenas sobre o saldo devedor inicial por todo o período de carência, basta proceder conforme apresentado na fase “A” do método explicado na seção anterior. • Ou seja, multiplicar o saldo devedor (em $) pela taxa de juros contratada. • Exemplo: Saldo dev. (em $) * Taxa de juros (%) = Valor dos juros (em $) $ 12.000 * 5% = $ 600 Empréstimos com carência e sem capitalização de juros • Esse método prevê que à medida que os juros mensais são calculados eles são pagos no período, evitando a capitalização. • Portanto, ao final do prazo de carência o saldo devedor continuará igual àquele do início do contrato de empréstimo (no exemplo, $ 12.000). • Encerrada a carência, procedem-se aos cálculos seguintes, conforme o método empregado (Price/francês ou alemão/SAC), como detalhado anteriormente. • Na figura 5.16 está representada a planilha completa relacionada ao exemplo desta seção, usando o método alemão/SAC. Empréstimos com carência e sem capitalização de juros PRAZO AMORTIZ. JUROS PRESTAÇÃO SALDO DEV. O 12.000,00 1 - 600,00 600,00 12.000,00 2 - 600,00 600,00 12.000,00 3 - 600,00 600,00 12.000,00 4 2.400,00 600,00 3.000,00 9.600,00 5 2.400,00 480,00 2.880,00 7.200,00 6 2.400,00 360,00 2.760,00 4.800,00 7 2.400,00 240,00 2.640,00 2.400,00 8 2.400,00 120,00 2.520,00 - Empréstimo pelo método americano • Os empréstimos pelo método americano de amortização caracterizam-se pelo pagamento de juros com valores fixos (constantes) ao longo do prazo contratado e pela amortização integral do capital emprestado no último período. Assim, as principais características desse método são: A) As prestações têm valores equivalentes aos juros do período desde o primeiro mês (ou outro período contratado) até o penúltimo. No último mês o valor da prestação é calculado pela soma dos juros deste período com o valor da amortização de todo o capital tomado emprestado. B) A amortização ocorre numa só vez, no período final do prazo do contrato. C) O valor do saldo devedor mantém-se o mesmo do primeiro até o último mês, quando então é integralmente liquidado. D) Os juros incidem sobre o saldo devedor do período anterior e geralmente não ocorre a capitalização destes, pois costumam ser pagos periodicamente. Empréstimo pelo método americano • Para elaborar uma planilha de empréstimo com base nesse método, é necessário observar as seguintes fases: a) Cálculo dos juros mensais aplicando a taxa contratada sobre o saldo devedor do período anterior (em geral, o mesmo durante todo o prazo contratado); b) Determinar as prestações do primeiro ao penúltimo período, que equivalem ao valor dos juros dos mesmos ; c) Considerar amortização integral do saldo devedor no último mês do prazo; d) Calcular o valor da prestação do último mês somando a amortização total do saldo devedor com os juros relativos ao último mês. Empréstimo pelo método americano • Para compreender as fases do método americano, visualize a planilha reproduzida na figura 5.17, que apresenta o caso de um empréstimo de $ 12.000, com juros de 5% ao mês e prazo de cinco meses para pagamento. Empréstimo pelo método americano Prazo Amortização Juros Prestação Saldo Dev. - - - - 12.000,00 1 - 600,00 600,00 12.000,00 2 - 600,00 600,00 12.000,00 3 - 600,00 600,00 12.000,00 4 - 600,00 600,00 12.000,00 5 12.000,00 600,00 12.600,00 - Outras formas de empréstimos ou financiamentos Além das modalidades de empréstimos e financiamentos mencionadas nas seções anteriores, o mercado financeiro possui diversas outras possibilidades ou linhas de crédito específicas para determinados bens ou segmentos. Por isso, é interessante que o administrador financeiro se informe junto aos bancos com os quais a empresa negocia a respeito de outras formas de financiar suas atividades. Captação de Recursos com Recebíveis • Dívida a liquidar, mas não há recursos para saldá-los, mesmo tendo duplicatas a receber de clientes. • Nessa situação, recorre-se às operações de “desconto de recebíveis”, que consistem na “troca” de um título que represente crédito perante um cliente (ou terceiros) em data futura por uma quantia em “dinheiro vivo” na data de hoje. Captação de Recursos com Recebíveis • Por exemplo: considere que estamos em 1.º de julho de “x1” e no dia 5 de julho a gerência da indústria “Armazenense” deverá pagar os saláriosdo mês anterior, que totalizam $ 20.000. • Analisando os controles internos da organização, o administrador constatou a existência de uma duplicata a receber da loja “Criciúma” no valor de $ 50.000 com vencimento para o dia 31 de julho (conforme representado na figura 5.18) Fluxo de caixa da indústria “Armazenense” Recebimento do cliente $ 50.000 1/julho 5/julho 31/julho Pagamento de salários $ 20.000 Captação de Recursos com Recebíveis • Não dispondo de outros recursos para saldar a folha de pagamentos, o gerente pode solicitar a uma instituição bancária que troque a duplicata de $ 50.000 por dinheiro em 1.º de julho. • Ao creditar o valor na conta corrente da indústria “Armazenense”, o banco “desconta” o valor de $ 3.000 (por exemplo) a título de juros (também chamado de taxa de desconto). • Nessa operação o banco fica com o direito de receber a duplicata a ser paga pela loja “Criciúma”, enquanto a indústria “Armazenense” passa a contar com $ 47.000 para usar no pagamento dos salários (ou outras finalidades). • Essa modalidade de captação de recursos é apresentada com detalhes nas próximas seções. Desconto de duplicatas em bancos • A duplicata é um título que tem sua origem numa fatura emitida para registrar uma transação de compra e venda mercantil ou de uma prestação de serviços. É um título de crédito previsto no Código Comercial brasileiro desde 1850 e as operações de “desconto de duplicatas” são uma tradicional forma de captação de recursos para o capital de giro das empresas. • Ao vender a prazo para um determinado cliente, o vendedor pode emitir um título (no caso, uma duplicata) que represente o valor da dívida a ser honrada pelo comprador. Assim, uma duplicata de venda mercantil envolve as partes mencionadas na figura 5.19. Partes envolvidas numa duplicata • Sacado: é o comprador ou cliente da empresa vendedora, contra quem é emitida a duplicata. Ou seja, é a parte que deve efetuar o pagamento do título no vencimento estipulado. • Cedente: é a empresa que vendeu os produtos ou serviços e concedeu um prazo para pagamento ao cliente. Ou seja, é a parte que irá cobrar o título no vencimento especificado no mesmo. Desconto de duplicatas em bancos • Na operação de desconto de duplicatas estes títulos têm dupla função: configuram-se como garantia e como forma de pagamento do empréstimo. • Assim, quando o sacado paga a duplicata, automaticamente esse valor amortiza o empréstimo contraído. • Em caso de não-pagamento da duplicata pelo sacado, o cedente será o responsável pela sua liquidação. • Nesse contexto, o banco debitará o valor correspondente ao título não quitado na conta da empresa vendedora que contratou a operação de “desconto” (prerrogativa conhecida como direito de regresso). Desconto de duplicatas em bancos • As principais modalidades de operacionalização dessa forma de captação junto aos bancos são as seguintes: Desconto escritural Desconto eletrônico Cobrança caucionada Desconto de duplicatas em bancos • O sistema de transmissão de dados entre o banco e a empresa é disponibilizada pelas instituições financeiras. • Ou seja, o software e o hardware a serem usados para enviar os títulos a descontar. Desconto de duplicatas em bancos • Em relação à forma de cobrança dos juros no desconto de duplicatas, esta ocorre no ato da concessão do empréstimo. • É importante entender corretamente a taxa de desconto de duplicatas e a taxa real de juros do empréstimo. • Enquanto a taxa de desconto é aplicada, no presente, sobre um montante futuro de duplicatas para se determinar o valor do empréstimo a ser entregue à empresa, a taxa real de juros dessa operação envolve os demais encargos ou tarifas bancárias relacionados. • Ou seja, a taxa real considera a diferença entre o valor de face das duplicatas (em $) e a quantia líquida (em $) que restou à empresa após a dedução de todos os fatores (como tarifa de cobrança por título, tributação incidente etc.) debitados pelo banco. Desconto de duplicatas em bancos • Exemplo: uma empresa possui uma duplicata de $ 50.000 com vencimento para 30 dias. • O banco São Martinho propõe taxa de desconto de 4,00% ao mês e informa que o IOF aplicável é de 0,0041% ao dia. • Ao analisar essa proposta, o gerente financeiro da empresa identificou o fluxo de caixa representado na figura 5.20. Fluxo de caixa da operação de desconto (a) $ 48.000 (vlr. Creditado pelo banco após o desconto) (b) $ -61,50 (valor debitado de IOF) (a-b) $ 47.938,50 (vlr. Líquido disponível em conta corrente) 0 30 = N (em dias) $ 50.000 (valor do título no vencimento) Desconto de duplicatas em bancos • Os valores constantes do fluxo de caixa da operação são determinados da seguinte forma: a) Valor creditado pelo banco na data do desconto: [$ 50.000 – ( $ 50.000 * 4,00%)] = $ 48.000; b) Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) debitado pelo banco na data do desconto: [$ 50.000 * 0,0041% (ao dia) * 30 dias] = $ 61,50; c) Valor do título a ser pago pelo sacado no vencimento estipulado: $ 50.000. Desconto de duplicatas em bancos • Saliente-se que os 4,00% aplicados para determinar o valor do empréstimo (valor presente) é uma taxa aplicada sobre o valor futuro de $ 50.000. • Portanto, não deve ser confundida com a taxa real de juros embutida na operação, que deve abranger os juros e demais encargos que reduzem o valor emprestado pelo banco. • Por exemplo: na operação em estudo a taxa de desconto de 4,00% ao mês representa uma taxa real (incluindo juros e IOF) de 4,3003% ao mês, determinada pela rotina evidenciada na figura 5.21 Rotina de cálculo da taxa real de juros da operação de desconto F REG F FIN 50.000 CHS FV 48.000 ENTER 61,50 - “47.938,50” PV 1 N i “4,3003%” Resultado (em %) equivalente à taxa real de juros da operação de desconto Desconto de duplicatas em bancos • Ao gestor financeiro cabe avaliar as taxas cobradas pelos bancos e optar pela melhor forma de captação. • Também, cabe verificar a adequação do software de transmissão de dados fornecido pelo banco. Desconto de cheques pré-datados em bancos • Cheques pré-datados são a forma mais comum de negociação em muitos segmentos. • Há facilidade de negociar com bancos (ou factoring) para “descontá-los”. • A partir de 1997 o CMN permitiu operações de créditos baseadas em cheques (ou garantidas). • Em virtude disso, uma empresa pode contatar uma instituição bancária para: Desconto de cheques pré-datados em bancos • Custodiar cheques: o banco se encarrega de guardar os cheques que a empresa recebe dos clientes e depositá-los na conta corrente quando do vencimento neles estipulado. Essa operação é interessante para empresas que costumam receber um volume muito grande de cheques e, para guardar esses documentos, precisariam ter gastos com a manutenção de uma estrutura específica (sala, funcionários, segurança, software de controle etc.). • Custodiar com caução: a empresa entrega os cheques recebidos da clientela ao banco para que este os arquive e os deposite na data especificada. Em troca, o banco antecipa valores que podem ser caucionados (garantidos) por esses cheques. • Descontar cheques: os cheques pré-datados que a empresa recebe são repassados ao banco e utilizados para desconto bancário (a exemplo das duplicatas, conforme mencionado na seção precedente). Desconto de cheques pré-datados em bancos • Ao optar pelo desconto de cheques num determinado banco, o gestor financeiro deve saber que os encargos relativos a essa operação costumam abranger os fatores elencados na figura 5.22. 1) Taxa de desconto, geralmente divulgada em percentual (%) 2) Tarifa de custódia de cheques (TC) 3) Taxa de administração de cobrança ou de crédito(TAC) 4) Imposto sobre operações financeiras (IOF) Figura 5.22 — Encargos do desconto bancário de cheques • No que tange à forma de cálculo do custo financeiro associado a essa operação, o procedimento é idêntico ao aplicado às duplicatas, como evidenciado na seção anterior, porém considerando os encargos cobrados pelo banco para este tipo de operação, conforme citado na figura 5.22. Factoring (ou fomento mercantil) • Na definição da Anfac, factoring (ou fomento mercantil) é a “prestação de serviços, em base contínua, os mais variados e abrangentes, conjugada com a aquisição de créditos de empresas resultantes de suas vendas mercantis ou de prestação de serviços, realizadas a prazo”. • As empresas que atuam nesse segmento devem ser sociedades mercantis, com registro arquivado nas Juntas Comerciais. • Portanto, não são empresas financeiras, sendo fiscalizadas pelo Banco Central apenas quando houver denúncia de que estejam executando alguma atividade privativa de instituições financeiras. Factoring (ou fomento mercantil) • Como opera uma factoring? • O ciclo operacional inicia com a prestação de serviços e se completa com a compra dos direitos de créditos gerados pelas vendas mercantis que são efetuadas pelas empresas-clientes (somente pessoas jurídicas podem ser clientes de uma factoring). Factoring (ou fomento mercantil) • A figura 5.23 apresenta uma lista (parcial) de serviços que podem ser prestados por esse tipo de empresa. Orientação na compra de matérias-primas Organização da contabilidade Gestão de estoques Implementação de controles internos Controle do fluxo de caixa Administração das contas a receber Negociação com fornecedores e credores diversos Prospecção de novos clientes Gestão de custos Figura 5.23 — Serviços prestados por empresas de fomento mercantil Factoring (ou fomento mercantil) • Ao prestar algum desses serviços a empresa de factoring se habilita a fornecer recursos para o giro dos negócios de seus clientes pela compra à vista dos créditos resultantes das vendas a prazo efetuadas por lojas, indústrias etc. • Por exemplo: após contratar serviços a serem prestados por uma factoring, uma indústria (empresa-cliente) aliena (vende) os direitos creditórios relativos às duplicatas que emitiu contra terceiros (seus fregueses, também chamados de “sacados”) à empresa de fomento mercantil. • Com isso, a empresa de factoring passa a ter o direito de receber as duplicatas devidas pelos sacados, mas deverá arcar com os riscos associados ao não- pagamento dos títulos envolvidos nessa negociação. Factoring (ou fomento mercantil) • No jargão deste segmento chama-se “fator de compra” para o preço que deve ser pago para “comprar” os créditos das empresas-clientes. • É importante salientar, porém, que uma empresa de fomento mercantil não faz empréstimos e, por isso, não pode cobrar juros. • Além disso, é bom ressaltar que o “custo” de captação de recursos nas operações de factoring costuma ser superior ao das operações de desconto de recebíveis com bancos. • Isso é conseqüência do maior risco que as empresas de fomento mercantil têm em relação aos bancos (que possuem o direito de debitar dos correntistas o valor do título negociado, mas não quitado pelo sacado, ao contrário das factorings). LEASING (ARRENDAMENTO MERCANTIL) • Leasing é uma palavra de origem inglesa que significa aluguel, sendo derivada do verbo “to lease”. • Sua concepção deriva do raciocínio de que não é a propriedade de um bem, mas sim a utilização deste, que gera renda. • Assim, mesmo sem ser dono, quem alugar de terceiros uma máquina industrial (por exemplo) pode empregá-la como fonte de rendimentos. LEASING (ARRENDAMENTO MERCANTIL) • O leasing (também conhecido no Brasil por “arrendamento mercantil”) é um acordo contratual em que uma empresa concede a outra empresa (ou pessoa física), por período específico, o direito de usar e obter receita com bens de sua propriedade. O contrato deve especificar, além de outros itens de menor relevância, os seguintes pontos: A) Arrendadora: parte que aplica recursos na compra dos bens que serão objetos do contrato de arrendamento. B) Arrendatária: parte que escolhe o bem junto ao fornecedor, que será pago pela arrendadora. Ao pagar as prestações (que envolvem amortização do valor do bem, encargos, impostos e a remuneração da arrendadora) pelo prazo contratado, a parte arrendatária pode usar livremente o bem escolhido em suas atividades. C) Fornecedor: parte que entrega o bem à arrendatária (para que esta o utilize) e o fatura à arrendadora (para que esta pague pelo mesmo). D) Bem abrangido: diz respeito às características do bem (ou bens) que serão objeto do contrato de arrendamento mercantil. Pode abranger, então, bens (novos ou usados, nacionais ou importados) capazes de proporcionar renda ao serem usados pelo arrendatário, como veículos, máquinas, imóveis etc. LEASING (ARRENDAMENTO MERCANTIL) • Uma operação de arrendamento mercantil caracteriza-se também pela possibilidade de que, ao final do prazo contratual, a empresa arrendatária opte por comprar o bem arrendado, mediante pagamento de uma quantia (em $) que foi determinada na negociação inicial. • Denominado de “valor residual garantido” (VRG), geralmente esse valor situa-se entre 1% e 95% do custo de compra do bem ou opta-se pelo valor de mercado. • Nos dois casos, esse valor não estará incluso na base de cálculo para estabelecimento do valor das prestações. LEASING (ARRENDAMENTO MERCANTIL) • Convém ressaltar que o leasing distingue-se do simples aluguel de um bem porque: • A) o valor do bem arrendado será amortizado gradativamente durante o pagamento das prestações; • B) no final do contrato a arrendatária tem a opção de adquirir definitivamente o bem arrendado (conforme descrito em parágrafo anterior); C) é permitida a aceleração da depreciação em 30%, sendo esta transferida à arrendatária. Por outro lado, o leasing diferencia-se do financiamento porque o arrendatário (o cliente da empresa de arrendamento mercantil) não recebe recursos para comprar um bem, mas recebe o bem escolhido. Portanto, esse bem continua sendo de propriedade da arrendadora por todo o prazo contratado. A principal vantagem do leasing, para pessoas jurídicas, é a possibilidade de considerar o valor das prestações como “despesa operacional”, permitindo a redução da base de cálculo do Imposto de Renda, conforme a legislação tributária. CONSÓRCIO • Consórcio é uma modalidade de acesso ao mercado de consumo que se baseia na união de pessoas físicas e/ou jurídicas, em grupo fechado, com objetivo de acumular poupança destinada à aquisição de bens e serviços turísticos. A gestão destes grupos de consórcios é de responsabilidade de empresas chamadas “Administradoras de Consórcios”. Essas empresas devem ser registradas no Bacen, que é a autoridade competente para os assuntos relativos ao Sistema de Consórcios, atuando como órgão normatizador e fiscalizador do exercício dessa atividade. • Ao optar por essa forma de aquisição de bens, é interessante compreender os detalhes do contrato de adesão, em especial os itens relativos a: bem indicado no contrato; prazo de duração do grupo (tempo que o consorciado dispõe para pagamento do bem ou serviço contratado); percentual de contribuições mensais; despesas que serão cobradas; seguros que serão exigidos; garantias a fornecer quando ocorrer a contemplação; forma de contemplação; prazo para a utilização do crédito contemplado; possibilidade de optar por bem diverso do indicado do plano antes da contemplação; forma de antecipação de pagamento de prestações etc. • Um grupo de consórcio poderá ser formado por bens ou serviços de preços distintos, desde que pertençam às classes de consórcio permitidas, sem que exista um prazo de duraçãomáximo ou mínimo estipulado legalmente. • A figura 5.24 evidencia as principais classes de consórcio. •Classe I: veículo automotor (automóveis, camionetas, utilitários, buggies, motocicletas, motonetas, ciclomotores, triciclos, ônibus, microônibus, caminhões, tratores etc.), aeronave, embarcação, máquinas e equipamentos agrícolas e equipamentos rodoviários, nacionais ou importados. •Classe II: produtos eletroeletrônicos e demais bens móveis duráveis ou conjunto de bens móveis, nacionais ou importados, excetuados os referidos na Classe I. Classe III: bens imóveis que poderão ser residenciais, comerciais, rurais, construídos ou na planta e terrenos. Classe IV: serviços turísticos que poderão ser bilhetes de passagem aérea nacional, pacotes turísticos, incluindo transporte aéreo, terrestre, marítimo, hospedagem etc. Figura 5.24 — Classes de consórcio • Nos moldes de uma prestação mensal, com vencimento estipulado pela Administradora, o consorciado deverá pagar um valor que pode representar o somatório dos seguintes fatores: • A) Fundo comum: é o valor que o consorciado paga para formar um fundo destinado à compra do bem. Tendo por base o preço do bem (ou serviço) vigente no dia da assembléia mensal, o valor da contribuição para o Fundo Comum resulta da divisão do percentual (100%) do preço do objeto contratado pelo número de meses de duração do grupo. Exemplo: supondo um grupo de 50 meses e valor do bem de $ 10.000, o cálculo respectivo seria [100% / 50 meses = 2% * $ 10.000 = $ 200]. • B) Taxa de administração: essa taxa não equivale aos juros cobrados nos financiamentos. Corresponde à remuneração da administradora pelos serviços prestados na formação, organização e administração do grupo até o seu encerramento, devendo ser indicada no contrato. Exemplo: supondo taxa de administração de 5% e o valor do bem e prazo iguais ao item anterior, o cálculo respectivo seria [5% / 50 meses = 0,1% * $ 10.000 = $ 10,00]. C) Fundo de reserva: representa um fundo de proteção para garantia do funcionamento do grupo, que deve estar previsto no contrato. Entretanto, ao final do grupo, os recursos remanescentes deste fundo serão devolvidos aos consorciados em quantias proporcionais. A forma de cálculo é idêntica àquela da taxa de administração, observado o percentual estipulado especificamente para o Fundo de Reserva. D) Seguro: dependendo do que esteja previsto no contrato, o consorciado estará sujeito ao pagamento de prêmios de seguro, como o seguro relativo à “quebra de garantia” (para cobertura da falta de pagamento de consorciados contemplados) e o seguro de “vida em grupo” (para cobrir o pagamento das prestações restantes do consorciado que venha a falecer antes do encerramento do grupo). • Estando em dia com as prestações, o consorciado pode ser contemplado na assembléia mensal. Ou seja, nessas reuniões periódicas é atribuído um crédito para aquisição do bem ou serviço, que pode ocorrer conforme consta da figura 5.25. Sorteio: esta forma de contemplação faculta que todos os participantes do grupo, que estejam em dia com o pagamento de suas contribuições, concorram em igualdade de condições. No entanto, conforme cada grupo, o contrato pode abranger alguns pré-requisitos para habilitar o consorciado à participação no sorteio. Lance: após a realização do sorteio, será admitida a contemplação mediante o oferecimento de lance pelos interessados em dispor do bem de imediato. O contrato também deve especificar os critérios para a forma de oferta e desempate de lances. No caso de consórcio de imóvel, o trabalhador poderá utilizar o saldo da sua conta vinculada ao FGTS para dar o lance. Mas deverão ser observadas as regras constantes do manual da Caixa Econômica Federal e do contrato de consórcio. Figura 5.25 — Formas de contemplação no consórcio • Se contemplado por “sorteio” ou por “lance”, o consorciado pode utilizar o crédito para comprar o bem ou serviço definido contratualmente (ou outro pertencente à mesma classe, se permitido). • Contudo, o contemplado deverá apresentar garantias ao grupo para poder usar o crédito, conforme o contrato estabelecer. Caberá ao contemplado definir o momento da compra, bem como indicar o vendedor do bem ou serviço objeto do consórcio. • Além disso, ao consorciado contemplado é permitido converter o seu crédito em dinheiro em prazo legalmente estipulado (devendo, entretanto, quitar o débito totalmente). • Em relação à conveniência ou não de optar por fazer um consórcio para adquirir bens, o gestor financeiro deve compará-lo com uma aplicação financeira de mesmo valor, a exemplo do caso mencionado no capítulo 2. Outras Modalidades de Financiamento ou Captação de Recursos • Além das formas de captação de recursos descritas nas seções anteriores, o mercado financeiro apresenta diversas outras possibilidades de financiamento das atividades operacionais cotidianas de uma companhia. Entre outras, podem ser elencadas as seguintes: Crédito direto ao consumidor (CDC) Hot money Adiantamento sobre contratos de câmbio (ACC) Adiantamento sobre cambiais entregues (ACE) Finame Compror Vendor Convém salientar que constantemente são lançados novos produtos ou serviços financeiros, além de serem efetuadas alterações nas características das modalidades enfocadas em virtude de mudanças na legislação ou para adequação à conjuntura econômica, por exemplo. Por isso, sugere-se ao administrador financeiro que busque informações adicionais sobre as linhas de crédito disponibilizadas por bancos e instituições afins. Textos Complementares • 5.10.1 – Valor do lance no consórcio • 5.10.2 – Empréstimo por empresa de factoring é ilegal • 5.10.3 – Sites com informações sobre linhas de crédito Referências WERNKE. R. Gestão financeira: ênfase em aplicações e casos nacionais. Rio de Janeiro: Saraiva, 2008. (cap. 5).
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