Buscar

TCC COMPLETO JESSÉ RODRIGUES MAGALHÃES (1)

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 24 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 24 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 24 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ 
Curso de Direito 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O DIREITO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA E OS PRINCÍPIOS DA DIGNIDADE 
DA PESSOA HUMANA E DA RESERVA DO POSSÍVEL: Um diálogo necessário e 
urgente 
 
JESSÉ RODRIGUES MAGALHÃES 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Niterói 
2017.2 
 
 
 
JESSÉ RODRIGUES MAGALHÃES 
 
 
O DIREITO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA E OS PRINCÍPIOS DA DIGNIDADE 
DA PESSOA HUMANA E DA RESERVA DO POSSÍVEL: Um diálogo necessário e 
urgente 
 
 
 
Artigo Científico Jurídico apresentado à 
Universidade Estácio de Sá, Curso de 
Direito, como requisito parcial para 
conclusão da disciplina Trabalho de 
Conclusão de Curso. 
 
 
Orientador: Prof. Marcos Vicente Pereira da 
Silva 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Niterói 
Campus Oscar Niemeyer 
2017.2 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
RESUMO: O texto constitucional em seu artigo 5º apresenta direitos e garantias 
estendidos a todos os cidadãos, sem distinção, com o objetivo maior de tratá-los de 
maneira isonômica e justa. No entanto, a pessoa com deficiência, no decorrer da 
história, vem sendo excluída de muitos de seus direitos, inclusive, daqueles 
mínimos à sua sobrevivência sob o argumento do princípio da reserva do possível 
por parte do poder estatal, que o utilizada como forma de justificar sua não-atuação. 
Este artigo pretende estabelecer uma relação dialógica e crítica a este princípio, 
muitas vezes apropriado pelo poder estatal, e contrapor a um dos princípios 
basilares da Constituição Brasileira de 1988: o Princípio da Dignidade da Pessoa 
Humana. 
 
Palavras-chaves: pessoa com deficiência, reserva do possível, dignidade da 
pessoa humana. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
1. INTRODUÇÃO ............................................................................................... 2 
2. DESENVOLVIMENTO ................................................................................... 3 
2.1. O Princípio da Dignidade da Pessoa Humana ......................................... 3 
2.2. A pessoa com deficiência ......................................................................... 6 
2.3. Os Direitos Humanos e as pessoas com deficiência ............................... 8 
2.4. A pessoa com deficiência e a Constituição Federal de 1988 ................... 9 
2.5. A efetividade das normas direcionadas à pessoa com deficiência .......... 12 
2.6. O Estado e o descumprimento dos direitos da pessoa com deficiência .. 15 
3. CONCLUSÃO .................................................................................................. 16 
4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................... 19 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2 
 
1. INTRODUÇÃO 
 
Este artigo apresenta uma reflexão sucinta sobre o sistema jurídico-
constitucional de proteção às pessoas com deficiência tendo por base a 
aplicabilidade dos Princípios da Dignidade da Pessoa Humana e o Mínimo 
Existencial contrapondo-se ao Princípio Reserva do Possível. Estes princípios, 
em inúmeras situações, para serem efetivados, necessitam da ação 
intervencionista do Poder Judiciário uma vez que como justificativa ao não 
cumprimento nota-se, reiteradamente, a apelação ao Princípio da Reserva do 
Possível pelo poder estatal. 
A temática aqui apresentada, considerada sobre o prisma dos direitos 
da pessoa com deficiência, enseja, desde os tempos mais remotos, tratamento 
diferenciado, tendo em vista as diferentes formas de manifestação do caráter 
da deficiência; a saber, física, auditiva, de fala, mental, dentre outras. 
Em nosso ordenamento jurídico há legislação suficiente que visa 
assegurar qualidade de vida a este contingente; no entanto, mediante a 
apropriação pelo Estado do argumento do Princípio da Reserva do Possível, 
inúmeras barreiras e impedimentos têm sido colocados. 
O tema possui grande relevância social se considerar que lidamos com 
um quantitativo que atinge algo próximo a 15% de nossa população brasileira. 
Esta estimativa corresponde a um quantitativo de deficientes de 24,5 milhões 
de pessoas, segundo levantamentos estatísticos do Censo Demográfico 
Brasileiro. (IBGE, 2000) 
A abordagem constitucional a respeito das pessoas com deficiência 
ganha destaque quando o texto da lei faz menção, em seu artigo 1º, inciso III, 
ao Princípio da Dignidade da Pessoa Humana. Cabe ressaltar que este eixo se 
apresenta enquanto fundamento da República Federativa do Brasil que, ainda 
em seu artigo 5º proclama o direito à igualdade e sustenta uma variada gama 
de direitos infraconstitucionais elaborados à luz da Constituição de 1988. 
Sendo assim, a relevância jurídica e também social do tema, encontra-
se no fato de que são poucos os estudos sobre as pessoas com deficiência, 
suas condições de vida, as barreiras que surgem cotidianamente para terem 
acesso e manifestarem a sua condição de cidadãos. A despeito de caber ao 
Poder Judiciário assegurar a aplicação dos dispositivos legais mediante 
3 
 
provocação daqueles que se sentirem lesados, os deficientes ainda estão à 
mercê de ações de solidariedade e de filantropia, muitas vezes marginalizados 
e esquecidos nas gavetas daqueles responsáveis pela aprovação de leis. 
Assim, a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência se 
manifesta positivamente, no sentido de dar amplo atendimento às 
necessidades considerando as inúmeras barreiras atitudinais, procedimentais e 
conceituais a respeito do tema. 
 
 
2. DESENVOLVIMENTO 
 
 
2.1. O Princípio da Dignidade da Pessoa Humana 
 
A cada dia cresce a necessidade de se assegurar os direitos sociais e 
individuais, bem como a liberdade e a segurança, pressupostos esses que se 
configuram como pilares da compreensão do que se estabeleceu na Carta 
Magna. (MENDES, 2008; MORAES, 2008) 
A Carta Magna de 1988 garante, em seu artigo 5º, direitos tidos como 
fundamentais tais como a dignidade da pessoa humana, o tratamento 
isonômico (considerando a medida das igualdades de desigualdades de cada 
indivíduo) dentre outros sem os quais não haveria o pleno desenvolvimento 
pleno e eficaz destes comprometendo o próprio conceito de cidadania. 
Nesse sentido, cabe ao poder público observar tais direitos 
constitucionalmente estabelecidos a fim de que suas ações sejam no sentido 
de dirimir além das diferenças sociais proporcionar, efetivamente, a plena 
inserção do indivíduo na sociedade garantindo o acesso e condições mínimas 
de permanência deste nos diversos espaços sejam eles de convívio social, 
privado e até mesmo em ambientes de trabalho dignos. 
Plácido e Silva ensina que: 
 
“dignidade é a palavra derivada do latim dignitas (virtude, honra, 
consideração), em regra se entende a qualidade moral, que, possuída 
por uma pessoa serve de base ao próprio respeito em que é tida: 
compreende-se também como o próprio procedimento da pessoa 
pelo qual se faz merecedor do conceito público; em sentido jurídico, 
4 
 
também se estende como a dignidade a distinção ou a honraria 
conferida a uma pessoa, consistente em cargo ou título de alta 
graduação; no Direito Canônico, indica-se o benefício ou prerrogativa 
de um cargo eclesiástico. 
 
Esta base moral referenciada pelo autor é que norteará e dará a 
pessoa o devido encaminhamento a ser seguido, a fim de se buscar o respeito 
e o reconhecimento a que todo ser humano almeja. 
O Princípio da Dignidade daPessoa Humana tem sido elemento de 
inúmeras formulações doutrinárias e jurisprudenciais, principalmente com o 
objetivo de se definir sua abrangência conceitual de dignidade quando referida 
à única condição de existir. Procura-se, portanto, definir um mínimo existencial 
razoável que assegure a qualquer indivíduo a condição de integralidade. 
Vale ressaltar que, historicamente, este Princípio vem sendo referido 
em diversos documentos como na Carta das Nações Unidas (1945) onde 
considera: 
 
“NÓS, OS POVOS DAS NAÇÕES UNIDAS, RESOLVIDOS a 
preservar as gerações vindouras do flagelo da guerra, que por duas 
vezes, no espaço da nossa vida, trouxe sofrimentos indizíveis à 
humanidade, e a reafirmar a fé nos direitos fundamentais do homem, 
na dignidade e no valor do ser humano, na igualdade de direito dos 
homens e das mulheres, assim como das nações grandes e 
pequenas, e a estabelecer condições sob as quais a justiça e o 
respeito às obrigações decorrentes de tratados e de outras fontes do 
direito internacional possam ser mantidos, e a promover o progresso 
social e melhores condições de vida dentro de uma liberdade ampla.” 
 
 Vemos, ainda, no Estatuto da UNESCO (1945) a dignidade humana 
sendo abordada como dever sagrado que todas as nações devem cumprir com 
espírito de assistência mútua, dever este que surge corroborado na Declaração 
Universal dos Direitos Humanos (1948) em seu artigo 1º onde “todos os seres 
humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão e 
consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de fraternidade”. 
O próprio preâmbulo do Pacto Internacional dos Direitos Civis e 
Políticos (1966) considera e reconhece a importância da dignidade humana em 
seu texto e, inclusive, ressalta que tal dignidade é inerente a todos os membros 
da família humana, constituindo o fundamento da liberdade, da justiça e da paz no 
mundo. 
Estes textos, todos marcados pela violação desse direito no período 
pós Segunda Guerra Mundial, trazem à tona diversos acontecimentos os quais, 
5 
 
ao longo da história, foram sendo considerados de tamanha atrocidade. 
Apontam, portanto, após superação de tais atrocidades para a construção de 
um modelo paradigmático que considera a dignidade da pessoa como bem 
maior. 
A Declaração Universal dos Direitos Humanos, aprovada em 1948, pela 
Assembleia Geral das Nações Unidas, assinala o princípio da humanidade e da 
dignidade já no seu preâmbulo: 
 
Considerando que o reconhecimento da dignidade inerente a todos 
os membros da família humana e de seus direitos iguais e 
inalienáveis constitui o fundamento da liberdade, da justiça e da paz 
no mundo (…). Considerando que as Nações Unidas reafirmaram, na 
Carta, sua fé nos direitos fundamentais do homem, na dignidade e 
valor da pessoa humana (…). 
 
A Convenção Americana sobre Direitos Humanos, de 1969, estabelece, 
em seu art. 11, § 1º, que “Toda pessoa humana tem direito ao respeito de sua 
honra e ao reconhecimento de sua dignidade”. 
Neste contexto, há de se destacar a valoração da dignidade humana 
que deve ser tratada sob uma ótica premente e de extrema importância. 
Portanto, este termo “dignidade humana” é reconhecido como detentor de um 
valor sui generis porque intangível a quaisquer outros questionamentos. 
Em contrapartida, o intento do Princípio é frustrado na medida em que 
faltam recursos e interesse de agir por parte dos gestores públicos que, apesar 
de conhecedores das leis que amparam as pessoas com deficiência, atuam de 
forma imediatista e não com políticas públicas que de fato possam garantir a 
inclusão destes na sociedade. 
Ainda, em relação ao aspecto das pessoas com deficiência, a proteção 
à dignidade pressupõe também a acessibilidade, pois retirada sua 
autodeterminação através de um não investimento em solucionar suas 
dificuldades de locomoção, por exemplo, são violados diretamente o arbítrio e a 
liberdade, o direito de ir e vir, valores intrínsecos ao ser humano. 
Diante disso, é salutar ressaltar que o paradigma da preservação da 
dignidade foi preceituado no texto Constitucional de 1988 e mantido como 
condição sine qua non do ser humano. Assim, o ser humano, 
independentemente de idade, gênero, classe social e/ou de quaisquer 
deficiências que o acometa é amparado e protegido legalmente, pois este valor 
6 
 
é tomado como característica distintiva do que representa ser homem na 
sociedade atualmente. Sendo assim, é de suma importância destacar que a 
pessoa com deficiência deve ter sua dignidade preservada. Esta visão, apesar 
de óbvia, ainda nos dias atuais não é tratada como prioridade. 
 
 
2.2. A pessoa com deficiência 
 
O conceito de “pessoa com deficiência” emerge para substituir o termo 
jurídico (até então utilizado) “portadores de deficiência”. Esta mudança 
fundamenta-se a partir da quebra de paradigma, neste caso, marcada pela 
visão anterior de destaque a doença enquanto substância portada, passível de 
ser carregada e deixada em quaisquer outros momentos, em contraposição a 
visão atual onde o foco está na pessoa que possui a deficiência como condição 
de vida. 
Nestes termos, atualmente, cabe ao deficiente aprender a lidar com 
sua deficiência, mas a partir da perspectiva de que esta não dever ser um limite 
a sua interação social. Diante disso, a julgada “escolha” não se refere ao tipo 
ou aspecto de deficiência (auditiva, de fala, mental, física), mas em relação às 
formas de transposição das barreiras que suas limitações físicas possam 
provocar. (RIBEIRO, 2010) 
Ao longo do tempo, o tratamento dado às pessoas com deficiência 
beirava a total falta de humanidade e respeito. Hoje em dia vemos uma notável 
mudança no tratamento dado a essas pessoas e isto revela que os direitos, 
que até então vem sendo assegurados, não estão dissociados dos fatos 
históricos, demonstrados na forma como a sociedade percebe seus cidadãos, 
bem como a existência de leis específicas dirigidas a este contingente. Essas 
mudanças revelam a grande necessidade de adaptação da sociedade a fim de 
incluir essas pessoas ao cotidiano, considerando as especificidades que cada 
deficiência exige associada ao indivíduo deficiente. 
Concomitantemente, nota-se o processo de preparação da pessoa com 
deficiência para o desempenho de funções de maior grau de relevância para 
sociedade, anteriormente não permitidas, como é o caso dos deficientes que 
7 
 
ocupam cargos políticos, de direção e gestão administrativa, dentre outros. 
(CORRÊA, 2007) 
Ao longo do tempo, a despeito da perspectiva inclusiva em relação às 
pessoas com deficiência, o tratamento dado não fora o do pleno 
desenvolvimento. O que se via eram tratamentos preconceituosos e 
segregacionistas que mantinhas tais pessoas fora do contexto da sociedade, 
muitas vezes aprisionados em suas casas pois não tinham atendimento 
especializado nem mesmo eram tidas como pessoas possuidoras de alguma 
capacidade que fosse. O que se via era apenas a deficiência em si 
desconsiderando quaisquer outros atributos do indivíduo. 
Ao caso dos deficientes, acrescenta-se o dos negros, dos indígenas, 
dos mutilados de guerra de demais categorias minoritárias. A estes cabem o 
ostracismo porque considerados incapazes de integrarem redes sociais, 
mediante o desempenho de funções laborativas, mas também de convívio 
social. (ELIAS, 2000) 
A partir dos anos 1980, a Organização das Nações Unidas fomenta um 
movimento por um tratamento equitativo para as pessoas com deficiência, 
despertando a sociedade no sentido de uma reivindicação mais efetiva em 
relação ao papel que estes marginalizados sociais desempenham enquanto 
cidadãos. A partir desta nova perspectiva,novas leis e tratados internacionais 
são elaborados versando sobre os direitos das pessoas com deficiência em 
vários países. 
Em 2015 foi instituída no Ordenamento Jurídico Brasileiro a Lei 
Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência1 visando assegurar direitos e 
garantias às pessoas com deficiência: 
 
Art. 1
o É instituída a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com 
Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência), destinada a 
assegurar e a promover, em condições de igualdade, o exercício dos 
direitos e das liberdades fundamentais por pessoa com deficiência, 
visando à sua inclusão social e cidadania. 
 
 A referida lei traz em seu texto legal um conceito moderno no que 
tange ao entendimento de quem seria essa pessoa com deficiência: 
 
 
1
 Lei Nº 13.146, de 6 de julho de 2015. 
8 
 
Art. 2
o Considera-se pessoa com deficiência aquela que tem 
impedimento de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou 
sensorial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode 
obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade 
de condições com as demais pessoas. 
 
Tal dispositivo legal se apresenta como importante meio de efetivar 
direitos que possibilitem, de fato, a inclusão da pessoa com deficiência aos 
diversos espaços de convívio social garantindo, assim, o tratamento isonômico 
e contribuindo para o pleno desenvolvimento do ser humano, observando que a 
deficiência deve ser superada não apenas por aquele se apresenta nessa 
condição e sim por toda a sociedade que deve primar pelo melhor convívio de 
todos independentemente das deficiências, sejam elas físicas, mentais, 
auditivas, de fala dentre tantas outras. 
Vale ressaltar que se trata de um conceito mais amplo que considera 
não apenas fatores genéticos, fisiológicos para caracterizar a deficiência, mas, 
também, associados a questões sociais e culturais onde esta pessoa está 
inserida. 
 
 
2.3. Os Direitos Humanos e as pessoas com deficiência 
 
Sobres os direitos assegurados ao deficiente, como anteriormente 
visto, estes só foram possíveis em função de acontecimentos internacionais 
que nortearam suas conquistas em diferentes campos, como foi o caso da 
Declaração Universal dos Direitos do Homem (1948), da Convenção sobre os 
Direitos da Criança (1989) e da Declaração de Salamanca (1994). 
A Declaração Universal dos Direitos do Homem, embora não seja uma 
lei, possui grande força moral e, em regra, norteia as decisões tomadas pela 
comunidade internacional. Seu texto versa sobre os direitos naturais do 
homem, sem distinção de cor, sexo ou orientação sexual e compreende o 
homem enquanto sujeito de direito pelo simples fato de ser considerado 
homem. O documento foi elaborado após o mundo ter vivenciado os horrores 
da guerra, em 1948, onde milhões de pessoas morreram em combate e 
aproximadamente seis milhões de judeus foram exterminados em campos 
nazistas e muitos guerreiros retornavam para seus países mutilados. Diante 
9 
 
disso, há uma união entre os governos com o objetivo de criar mecanismos 
capazes de proteger os homens de se tornarem objeto da própria violência 
humana e de garantir a eficácia dos direitos dos cidadãos. 
Outro documento de suma importância para a proteção do deficiente foi 
a Convenção sobre os Direitos das Crianças, de 1989, foi ratificada pelo Brasil 
em 1990. O documento inclui os direitos da criança com deficiência colocando 
referindo as necessidades especiais físicas e de quaisquer gêneros. Este 
documento preconiza que: 
“Os Estados Partes respeitarão os direitos enunciados na presente 
Convenção e assegurarão sua aplicação a cada criança sujeita à sua 
jurisdição, sem distinção alguma, independentemente de raça, cor, 
sexo, idioma, crença, opinião política ou de outra índole, origem 
nacional, étnica ou social, posição econômica, deficiências físicas, 
nascimento ou qualquer outra condição da criança, de seus pais ou 
de seus representantes legais.” (Art. 2 §1º Convenção sobre os 
Direitos da Criança) 
 
A partir deste trecho é possível observar referências diretas a criança 
deficiente e o desejo de protegê-la, assegurando-lhe tratamento para que suas 
necessidades especiais sejam supridas. O texto é conduzido sobre um enfoque 
de inclusão, principalmente quando regulamenta que as crianças com 
deficiência deverão ter sua dignidade garantida na perspectiva de favorecer 
sua autonomia para uma participação mais efetiva na sociedade. 
Outrossim, outro documento que assegurou os direitos ao deficiente foi 
a Declaração de Salamanca que é resultado da Conferência Mundial sobre 
Necessidades Educativas Especiais que aconteceu no período de 07 a 10 de 
junho de 1994, na cidade de Salamanca na Espanha. Esta declaração 
consubstancia os princípios, a política e as práticas da integração da pessoa 
com necessidades educacionais especiais. O objetivo desta Conferência foi 
promover a educação para todos, atentando que são necessárias mudanças 
fundamentais para favorecer uma educação na perspectiva de inclusão. Parte 
das orientações deste documento se destina as escolas, no sentido de 
capacitá-las para que atendam as crianças, principalmente aquelas com 
necessidades especiais. 
A Declaração de Salamanca é específica e clara com relação à 
inclusão de crianças com deficiência em escolas regulares e quanto ao papel 
das instituições no oferecimento de condições de aprendizagem condizentes 
10 
 
com a deficiência apresentada pelo aluno. O desafio para escola então é o de 
desenvolver uma pedagogia centrada na criança, para que a educação ali 
promovida tenha como alvo todos os alunos, ainda que tenham algum tipo de 
deficiência. O documento apresenta, portanto, um modelo de escola capaz de 
acolher e de respeitar as diferenças a despeito das múltiplas diferenças e 
situações educacionais apresentadas pelo seu alunado. 
 
 
2.4. A pessoa com deficiência e a Constituição Federal de 1988 
 
A Constituição da República Federativa do Brasil declara, em seu 
Parágrafo Único, art. 1º que “Todo poder emana do povo, que o exerce por 
meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição”. 
No entanto, a este poder tem se imputado uma variada gama de limitações, 
ainda que existam previsões de direitos e garantias individuais e coletivas sob 
o status de fundamentais, na mesma medida em que objetivam proteção da 
dignidade da pessoa contra agressões lesivas ao indivíduo em sua esfera de 
convivência e existência. 
A Carta Magna de 88 estabelece de forma explicita garantias aos 
deficientes. E, além dos direitos assegurados a todos, encontram-se alguns 
dispositivos dirigidos especificamente a este segmento da população brasileira. 
Estes dispositivos estão distribuídos em três capítulos: (II) Da Seguridade 
Social; (III) Da Educação, da Cultura e do Desporto; e (VIII) Da Família, da 
Criança, do Adolescente e do Idoso; todos incluídos no Título VIII, Da Ordem 
Social. Entretanto não houve por parte do constituinte a preocupação em 
elaborar um conceito que definisse o que seria pessoa com deficiência.2 
Como pondera Ribeiro (2010), a Convenção sobre os Direitos da 
Pessoa com Deficiência, ao ser ratificada pelo Congresso Nacional com 
quorum qualificado, ganha o status de Emenda Constitucional (art. 5º, § 3º da 
 
2
“Pessoas com deficiência são aquelas que têm impedimentos de longo prazo de natureza física, mental, 
intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua participação 
plena e efetiva na sociedade em igualdades de condiçõescom as demais pessoas.” (Convenção da 
Pessoa com Deficiência art. 1º). 
 
11 
 
CRFB/88), sendo promulgada através do decerto legislativo nº 186/08 e 
decreto presidencial nº 6.949/09; o que indica que o conceito passa a ser 
considerado como direito constitucional amplo 
É preciso ter clareza que, por mais que invista na definição do conceito, 
este ainda encontra-se vago, em função da multiplicidade de situações que ele 
abarca. Além deste, inúmeros obstáculos são emergidos, no sentido de limitar 
a participação dos deficientes, em condição de igualdade, em relação a todas 
as pessoas, configurando a existência do preconceito social. 
Complementando, o Decreto nº 3.298 de 1999 apresenta o que seria 
considerada deficiência a partir desse olhar a partir da pessoa.3 
Neste sentido, sendo o conceito incapaz de dar conta da diversidade 
existente nesta área, caberá ao intérprete da lei e ao legislador originário o 
dever de definição e a tarefa de fazer com que os preceitos destinados ao 
deficiente se cumpram. 
Contudo, vários dispositivos na Constituição Federal fazem referência 
aos direitos que devem ser assegurados a pessoa com deficiência. Pode-se 
então afirmar que é vontade da Constituição tutelar os direitos das pessoas 
com deficiência, admitindo que este contingente possui necessidades especiais 
que precisam ser asseguradas. Nesta perspectiva, o artigo 23, II da CRFB, 
atribui a União, Estados, Distrito Federal e aos Municípios a competência para 
zelar pela saúde e assistência pública, garantindo ao deficiente atendimento 
prioritário apropriado, na perspectiva de promover a integração social. 
Frente a isso, o legislador, visando garantir a proteção e a integração 
social das pessoas com deficiência, em seu artigo 24, XIV da CRFB, imputa à 
competência concorrente à União, Estados e Distrito Federal para legislar 
sobre a proteção e integração do deficiente no sentido de possibilitar maior 
eficácia aos seus direitos. 
 
3 Art. 3º Para os efeitos deste Decreto, considera-se: I - deficiência - toda perda ou anormalidade de uma 
estrutura ou função psicológica, fisiológica ou anatômica que gere incapacidade para o desempenho de 
atividade, dentro do padrão considerado normal para o ser humano; 
Art. 4º É considerada pessoa portadora de deficiência a que se enquadra nas seguintes categorias: 
I - deficiência física - alteração completa ou parcial de um ou mais segmentos do corpo humano, 
acarretando o comprometimento da função física, apresentando-se sob a forma de paraplegia, paraparesia, 
monoplegia, monoparesia, tetraplegia, tetraparesia, triplegia, triparesia, hemiplegia, hemiparesia, 
amputação ou ausência de membro, paralisia cerebral, membros com deformidade congênita o adquirida, 
exceto as deformidades estéticas e as que não produzam dificuldades para o desempenho de funções. 
(Decreto nº 3.298 de 1999) 
12 
 
Outrossim, tendo por objetivo a inserção do deficiente no mercado de 
trabalho e sua inclusão na sociedade, a Constituição dispõe, ao tratar da 
Administração Pública no artigo 37, VIII da CRFB, que a lei deverá reservar um 
percentual dos cargos públicos para pessoa com deficiência e definirá os 
critérios de admissão. Cabe destacar que a Lei 8112/90 complementa o 
disposto em seu artigo 5°, §2º. 
Vale a pena considerar que a administração pública cabe oferecer 
condições de trabalho compatíveis com a deficiência de seu funcionário, bem 
como garantir a acessibilidade, não apenas de funcionários, mas também do 
público deficiente em geral. 
De igual modo, o artigo 203 da CRFB assegura como direito do 
deficiente menos favorecido a reabilitação e habilitação, garantindo-lhes um 
salário-mínimo mensal a título de benefício, quando comprovada sua 
hipossuficiência a título de assistência social. Em seguida, o artigo 208 também 
da CRFB concebe a necessidade de atendimento especializado às pessoas 
com deficiência e estabelece como preferência que ocorra na rede regular de 
ensino, o que ratifica a vontade do legislador em promover a inclusão, 
reconhecendo as especificidades de tratamento, não a utilizando como pretexto 
para segregação. 
Observa-se que o constituinte igualmente responsabiliza a família, a 
sociedade e o Estado pelo cumprimento dos diretos fundamentais da criança, 
do adolescente e do idoso no que se refere às condições necessárias ao pleno 
desenvolvimento e vida social. Destaca-se que o artigo 227, II, §1º, estabelece 
para o Estado o dever de promover a assistência integral à saúde do deficiente 
com tratamento especializado, garantindo a integração social por meio do 
treinamento para o trabalho. Além disso, considera a obrigatoriedade de 
facilitar o acesso aos bens e serviços coletivos com eliminação de obstáculos 
arquitetônicos. Com este fim, versa o artigo 244 que, ao remeter a lei 
complementar, regulamenta a adaptação de locais e edifícios públicos, veículos 
de transporte coletivo, a fim de assegurar ao deficiente o direito constitucional 
de ir e vir. 
Portanto, fica claro no escopo da Constituição de 88 a tentativa do 
constituinte em implementar um estado democrático, destinado a assegurar o 
exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade e a segurança. Valores 
13 
 
que se estabelecem enquanto fundamento ético, jurídico e político, 
sustentáculos da compreensão e abordagem próprios da Constituição 
enquanto norma superior emanada do poder originário. 
 
 
2.5. A efetividade das normas direcionadas à pessoa com deficiência 
 
Observa-se no Brasil histórias recorrentes de indiferença com relação à 
distância entre o texto legal e a realidade. Desde as primeiras Constituições, o 
desinteresse em tornar a vontade constitucional em políticas que promovessem 
a mobilidade social e inclusão das categorias menos favorecidas são 
sentimentos comuns em nossa sociedade. Pelo contrário, como exemplo, 
observa-se que a Carta de 1824 que estabelecia que a lei seria igual para 
todos, conviveu a luz de um regime escravocrata, permitindo privilégios a 
nobreza e o voto censitário, sem o menor constrangimento. (BARROSO, 2010) 
Um grande desafio para Constituição de 88 estava em romper com a 
“insinceridade constitucional”, objetivando marcar a lei originária com um 
sentido normativo, sem a ingenuidade de supor que a realidade haveria de se 
transformar com o simples registro em lei. Era preciso, de forma incisiva, 
atribuir à norma constitucional o status de norma jurídica e não somente 
considerá-la enquanto instrumento essencialmente político, como revela o 
histórico das demais constituições brasileiras. 
O aspecto histórico da norma constitucional revela que, muito embora 
tenha o condão de ser hierarquicamente superior às demais, durante longo 
período manteve-se como mero ideário sem eficácia jurídica, justamente por ter 
se apresentado desprovida de sanção. Neste contexto, a pretensão de 
efetividade das normas constitucionais desemboca no binômio 
possibilidade/limites do direito constitucional como forma de atuação social. 
Ao tratar do tema da cidadania e relacioná-lo à deficiência, é inevitável 
resgatar o Princípio da Igualdade, enquanto cláusula pétrea, bem como o 
Princípio da Não Discriminação, trazido pela Convenção da Guatemala, na 
adoção da máxima de “tratar igualmente os iguais e desigualmente os 
desiguais”. 
14 
 
O artigo 4º da Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência 
preceitua que: 
”Toda pessoa com deficiência tem direito à igualdade de 
oportunidades com as demais pessoas e não sofrerá nenhuma 
espécie de discriminação. 
§ 1o Considera-se discriminação em razão da deficiência toda forma 
de distinção,restrição ou exclusão, por ação ou omissão, que tenha o 
propósito ou o efeito de prejudicar, impedir ou anular o 
reconhecimento ou o exercício dos direitos e das liberdades 
fundamentais de pessoa com deficiência, incluindo a recusa de 
adaptações razoáveis e de fornecimento de tecnologias assistivas.” 
 
 Desta forma, fica clara a necessidade de promover diferenciações com 
base na deficiência com o propósito de permitir o acesso ao direito e não de 
negar o seu exercício. (SCHIMER ET AL., 2007: 22) 
Assim, o Princípio da Igualdade inspirou a Constituição no tratamento 
das pessoas com deficiência e despertou para necessidade e urgência de 
criação de programas de educação especial com o objetivo de integração do 
deficiente. No entanto, a realidade está muito longe dos ideais de igualdade 
preconizados pela lei. 
Observa-se que diante de todo histórico que envolve os direitos da 
pessoa com deficiência, basta caminharmos pelos centros urbanos para notar 
que, não obstante os direitos inerentes assegurados pela carta magna, ainda 
há muito o que conquistar no campo da implementação de meios que 
assegurem a realização da vontade constituinte; ou seja, temos as leis 
registradas, mas sua efetividade ainda se faz precária. 
A despeito de todo empecilho, é notória a força normativa e a 
efetividade conquistadas ao decorrer de 22 anos a partir da implementação da 
Constituição Federal. Basta observar as medidas que podem ser tomadas para 
assegurar sua aplicabilidade, também conhecidas como “remédios 
constitucionais”, que mascaram aspectos que ainda não foram contemplados 
pelo legislador ou que, se tratados, ainda não efetivamente implementados. 
Com relação aos direitos que contemplam as pessoas com deficiência, 
estes adquiriram o patamar de direitos subjetivos, pois que comportam tutela 
judicial específica. Barroso (2010) reforça esta visão quando diz que “A 
doutrina na efetividade consolidou-se no Brasil como um mecanismo eficiente 
de enfrentamento da insinceridade normativa e de superação da supremacia 
política exercida fora e acima da Constituição”. 
15 
 
Cabe destacar que antes de se estabelecer a doutrina da efetividade, a 
colocação em prática dos preceitos constitucionais ficaram a cargo do 
legislador e da discricionariedade do administrador. Assim, segundo o autor, o 
Poder Judiciário encontrava-se afastado do conteúdo referente à existência e à 
aplicabilidade da Constituição. (BARROSO, 2010) 
No que tange aos direitos e às garantias referentes ao tratamento com 
o deficiente disposto na Constituição, é preciso ter clareza que, embora se 
possa somar muitas conquistas no campo legal, na realidade fática, é preciso 
iniciativas de cunho político para que sejam garantidos direitos fundamentais 
como, por exemplo, o de ir e vir. Deve ser abandonada a ideia de que o simples 
registro em dispositivo legal refletirá em implementação de meios para que se 
alcance o cumprimento. 
Entende-se que o disposto na Constituição não está limitado a 
descrição de uma realidade, pelo contrário, sua função normativa que deve 
assegurar a satisfação da pretensão, no entanto, em outra face da mesma 
moeda, é preciso reconhecer que a própria essência do Direito apresenta 
limites que lhes são próprios, em especial de ordem prática, não se pode ter a 
pretensão de normatizar o inalcançável. (BARROSO 2010) 
Sendo assim, fica claro que a norma Constitucional deve ser 
preservada e cumprida em toda sua extensão possível; contudo, em casos não 
raros observa-se a impossibilidade fática ou jurídica de sua aplicação, lançando 
mão de conceitos como a reserva do possível e outros que acabam por mitigar 
não sua normatividade, mas sua eficácia. 
Por outro lado, no que tange à pessoa com deficiência, a simples 
justificativa do não cumprimento fundamentado em insuficiência orçamentária 
confronta diretamente princípios constitucionais instituídos em cláusulas 
pétreas. Sendo assim, faz-se necessária a fundamentação da não 
aplicabilidade, mesmo que acompanhada de um plano de ação, no sentido da 
implementação de políticas públicas de inclusão, pois se pode afirmar que o 
deficiente fica condenado à reclusão, tolindo-se o direito de ir e vir. Antes, é 
preciso tratar do assunto no plano diretor e propor maneiras que garantam a 
aplicabilidade das normas constitucionais relacionadas à inclusão do deficiente. 
Essas ações permitirão que anos de militância não fiquem restritos ao plano de 
16 
 
existência legal, da pacificação de consciência, mas galguem a eficácia 
necessária a efetividade do plano concreto. 
O plano da efetividade se coaduna aos tratados pela doutrina 
tradicionalmente elaborada. Dentre estes, destacam-se o da existência, da 
eficácia e da validade. (REALE, 1973) No campo prático, observa-se o 
cumprimento da norma, o que representa a realização do Direito, a 
concretização na realidade fática à aproximação entre o dever-ser e o ser da 
realidade social, conceito preconizado por Barroso (2007). 
 
 
2.6. O Estado e o descumprimento dos direitos do deficiente 
 
O desrespeito a Constituição Federal é marcado tanto pela via da ação 
estatal quanto pela via da inércia do Estado em cumprir ato que fora exigido. A 
realização dos preceitos constitucionais é de responsabilidade governamental e 
deve oferecer condições de tornar o disposto pelo Poder Constituinte exequível 
e, caso abstenha-se de cumprir, configura-se enquanto violação negativa ao 
texto constitucional. 
Do mesmo modo, o Poder Legislativo, que tem como incumbência 
legislar, vem se abstendo de cumprir com sua função. Com relação a criação 
de normas referentes à citada matéria não recai a obrigatoriedade. No entanto, 
quando a Constituição determina a criação de norma reguladora da atuação de 
tal preceito constitucional e este não se realiza, configura-se uma 
inconstitucionalidade por omissão. Como pode ser exemplificado a partir do 
artigo 227§2º da Constituição Federal. 
Inúmeros casos têm emergido em que o Supremo Tribunal produz 
decisões integrativas. Esta forma de atuação institucional manifesta a função 
atípica do Poder Judiciário que desperta a controvertida questão da 
manifestação deste como legislador positivo. 
Com relação aos direitos fundamentais inerentes ao deficiente, nota-se 
um crescimento considerável com relação à atuação no campo legal por 
iniciativa do legislador. Muitos avanços são oriundos do tratamento jurídico 
atribuído à pessoa com deficiência onde inúmeros direitos se fizeram tutelados 
nesta esfera. Tal é o caso dos direitos aventados na Lei nº 8.213, de 1991 que 
17 
 
assegura um percentual de vagas nas empresas particulares e concursos 
públicos. Assim, objetiva-se a inclusão desta categoria de excluídos no 
mercado de trabalho. No entanto, com relação ao tratamento da pessoa com 
deficiência, a questão emergencial que se apresenta vincula-se ao 
cumprimento do disposto na legislação constitucional e infra. 
 
 
3. CONCLUSÃO 
 
A Constituição de 1988, ao ser elaborada à luz de princípios que visam 
tutelar direitos individuais, sociais e os difusos, confere destaque aos sociais, 
também chamados de direitos de segunda geração. Estes, principalmente por 
possuírem o condão de assegurar condições de dignidade aos grupos 
minoritários, dentre estes os deficientes. 
À Carta Magna, incorporam-se uma série de conquistas que legitimam 
os direitos direcionados à pessoa com deficiência enquanto Direito Subjetivo, 
que objetiva a proteção do indivíduo em suas múltiplas dimensões. 
Se a efetividade dos direitos de segunda geração tem encontrado 
inúmeras barreiras, principalmente por serem com frequência tolidos pela 
escassezde recursos de ordem orçamentária estatal, muito ainda temos que 
esperar por parte das autoridades públicas. Muitas delas mascarando sua 
ineficiência e desinteresse mediante incorporação do argumento da reserva do 
possível enquanto limite fático para sua não realização. Tal questão torna-se 
polêmica e passível de ser caracterizada pela via da inconstitucionalidade das 
ações oriundas dos órgãos administrativos, posto que a Constituição determina 
conduta positiva com a finalidade de garantir a aplicabilidade e a eficácia ao 
preceito constitucional manifestado em cláusula pétrea, que postula a garantia 
de todos a condições igualitárias de vida. 
Sendo assim, no que tange às pessoas com deficiência, a proteção à 
dignidade abarca também a acessibilidade, pois retiradas sua 
autodeterminação por meio de descumprimento de ações que viabilizem as 
dificuldades de locomoção, são violados diretamente o arbítrio, a liberdade e 
demais valores intrínsecos ao ser humano, como é o caso da não adaptação 
18 
 
de locais públicos aos deficientes; aspecto que viola o Princípio da Dignidade 
da Pessoa Humana e o Mínimo Existencial. 
Assim, fica claro que a deficiência de qualquer ordem, dentre outros 
segmentos sociais diferenciados, não pode deixar de ser atendida sob 
argumento de oferta de tratamento igualitário, pelo simples fato de que são 
diferentes. 
Outrossim, o Princípio da Dignidade da Pessoa Humana também apresenta 
enquanto argumento inquestionável a racionalização na utilização de verbas 
públicas e parte da ideia de que determinados gastos, de menor premência 
social, podem ser diferidos em favor de outros reputados indispensáveis e 
urgentes por se tratarem de necessidades essenciais do homem, como é o 
caso da integridade moral e física do indivíduo. 
Neste contexto, a não aplicabilidade de normas dirigidas a este 
contingente se vincula à questão cultural de desrespeito, manifestada 
mormente no tratamento histórico dirigido à pessoa com deficiência. Antes, o 
deficiente era visto como desprovido de dignidade, e termos como abominação, 
monstruosidade eram frequentemente utilizados em textos de leis. 
Considerados tal e qual, o deficiente era motivo de vergonha para família e 
para o grupo social do qual fazia parte. Não obstante, com a evolução do 
pensamento e as mudanças no texto da lei, os deficientes ainda precisam lutar 
pela sua aplicação. 
Há de se destacar, ainda, que, além da Lei Brasileira de Inclusão da 
Pessoa com Deficiência de 2015, há vasta legislação a respeito da temática, 
como por exemplo a legislação pertinente a cada estado e município que visa 
assegurar a peculiaridade pertinente a cada região. Este aspecto tem 
contribuído para melhoria das condições de vida do deficiente nos últimos 
anos; no entanto, observa-se que a efetividade ainda é precária com relação 
aos instrumentos legais já existentes. Ao analisarmos o histórico das leis que 
visam contemplar a pessoa com deficiência, observa-se que muitas conquistas 
já se efetivaram no campo legal, no entanto, basta um olhar mais cuidadoso ao 
caminhar nos centros urbanos para concluir que para que haja aplicabilidade 
da lei é preciso a superação de inúmeros empecilhos. 
Destaca-se que atualmente a situação da pessoa com deficiência 
esbarra, em fato notório, na ausência de políticas públicas para implementação 
19 
 
de uma rede de infraestrutura urbana que permita a integração do indivíduo 
deficiente no convívio social, que minimize as barreiras arquitetônicas e atue 
ativamente na eliminação das disparidades culturais uníssonas em relação a 
consideração dessas pessoas como dotadas de menor capacidade intelectual 
e de convívio social. 
Sendo assim, no que tange à aplicabilidade das leis que garantem a 
acessibilidade, bem como a inclusão do deficiente em um contexto social, 
fazem-se necessárias uma série de adaptações que não passam apenas pelo 
campo subjetivo da tolerância e consciência voltada para o bem coletivo. É 
preciso adequação dos ambientes e meios transportes públicos. 
Por fim, conclui-se que, a despeito de o direito de ir e vir ser uma 
garantia constitucional, vastos são os casos de não cumprimento desta norma, 
o que dificulta, e por vezes impede, o exercício pleno deste direito. Faz-se 
mister o rompimento destas barreiras preconceituosas, ensejada a partir da 
mudança de hábito e comportamentos que preterem ou ignoram a pessoa com 
deficiência impedindo o exercício de sua cidadania. 
Além disso, o cumprimento das condições que permitam a 
acessibilidade dos deficientes aos diferentes espaços públicos requer a 
derrubada da utilização do argumento da reserva do possível e a construção de 
uma visão política de que se fará o possível para aplicação efetiva e honesta 
dos direitos fundamentais preconizados na Constituição Federal brasileira. 
 
20 
 
4. REFERÊNCIAS 
 
 
BARROSO, Luís Roberto. Curso de Direito Constitucional Contemporâneo. Os 
conceitos fundamentais e a construção do novo modelo. 2 ed. Rio de Janeiro: 
Saraiva, 2010. 
 
 
BRASIL, Declaração de Salamanca e Linha de Ação sobre necessidades 
educativas especiais. Ministério da Justiça/Secretaria Nacional de Direitos 
Humanos, 2 ed., Brasília, 1997a. 
 
 
BRASIL, Congresso Nacional. Decreto nº 99.710. Convenção sobre os Direitos 
da Criança, 1990. 
 
 
BRASIL, Congresso Nacional. Constituição da República Federativa do Brasil, 
1988. 
 
 
BRASIL, Congresso Nacional. Decreto nº 19.841. Carta das Nações Unidas, 
1945. 
 
 
BRASIL, Congresso Nacional. Decreto nº 592, de 6 de julho de 1992. Pacto 
Internacional sobre Direitos Civis e Políticos. 
 
 
BRASIL, Congresso Nacional. Decreto nº 678, de 6 de novembro de 1992. 
Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa 
Rica), 1969. 
 
 
BRASIL, Congresso Nacional. Lei nº 13.146 de 6 de julho de 2015. Lei 
Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com 
Deficiência), 2015. 
 
 
CORRÊA, Maria Ângela Monteiro. Educação especial. Rio de Janeiro: 
CECIERJ, 2007. 
 
 
ELIAS, Norbert e SCOTSON, J. L. Os estabelecidos e os outsiders. Rio de 
Janeiro: Zahar, 2000. 
 
 
IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo Demográfico 
Brasileiro. Brasília: IBGE, 2000. 
21 
 
 
 
MENDES, Gilmar Ferreira; COELHO, Inocêncio Mártires e BRANCO, Paulo 
Gustavo Gonet. Direitos Socais. In: Curso de Direto Constitucional. 2 ed. São 
Paulo: Saraiva, 2008: 709-713. 
 
 
MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 23 ed. São Paulo: Atlas, 2008. 
 
 
REALE, Miguel. Lições Preliminares de Direito. Local: Editora, 1973. 
 
 
RIBEIRO, Lauro Luiz Gomes. Manual de diretos da pessoa com deficiência. 1 
ed. São Paulo: Editora Verbatim, 2010. 
 
 
SCHIMER, Carolina R. et al. Deficiência Física. São Paulo: MEC/SEESP, 2007. 
 
 
SILVA, Adilson Florentino da. A inclusão escolar de alunos com necessidades 
educacionais especiais: deficiência física. Brasília: Ministério da Educação, 
Secretaria de Educação Especial, 2006.

Outros materiais