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DIREITO AMBIENTAL

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INTRODUÇÃO
O Direito Ambiental realiza por meio do exame, definição e elaboração dos procedimentos para o atendimento não só às normas legais destinadas à instalação e/ou expansão de empresas e ao cumprimento de condicionantes para mitigar os impactos socioambientais, bem como, em determinados projetos, até mesmo para suplementar os investimentos públicos em infra-estrutura na organização humana do espaço, como compensação por dano ao meio natural que o empreendimento esteja causando ou se estima que irá provocar quando em operação.
O Direito Ambiental, como instrumento de gestão organizacional, encontra eco, assim, nas Ciências da Comunicação e da Administração, respectiva e especificamente nos campos das “Relações Públicas” e, sobretudo, dos “Ambientes Externos das Empresas”, bem assim nos estudos sobre formação de público e seu poder de ação, de modo especial quando mobilizado de forma organizada.
Aspectos gerais da questão ambiental na atualidade
A questão ambiental na atualidade está em destaque na mídia (jornais, revistas e emissoras de rádio e de televisão), nos filmes, nos livros, no teatro, nas escolas, nas empresas e, de modo especial, no dia-a-dia das pessoas em todas as partes do planeta. Entretanto, habitualmente, elas não fazem as conexões entre os impactos provocados pelas ações antrópicas, muitas vezes responsáveis pelas mudanças climáticas globais, e as catástrofes que provocam, mas, apenas, do que ocorre na região em que vive na sua própria casa, rua ou bairro, como o esgoto a céu aberto ou cuja tubulação rompeu, causando odor fétido, ou à invasão de insetos e ratos, condutores de doenças, e outros tipos de desconfortos e riscos.
Com efeito, quando se discutem, como parte da questão ambiental, os problemas que grandes populações enfrentam hoje, com o da falta d’água, por exemplo, as pessoas se comportam conforme a sua realidade. Para as que têm água, como no caso da população belo-horizontina, podem parecer ficções as sucessivas secas no Nordeste brasileiro e, há dois anos, na Amazônia Ocidental. O que ocorre com a maior parte dos países da enorme savana africana, que têm que conviver, todos os anos, com meses de seca inclemente, é outra realidade distante das populações que podem abrir a torneira todos os dias, a qualquer hora, e ter água farta e de boa qualidade. Dificilmente elas acreditariam que a água é um recurso natural escasso, que, em dado momento, se não houver consciência ecológica, reduzindo-se o seu gasto e se procedendo à gestão adequada dos meios hídricos, irá faltar onde na atualidade ela é distribuída e usada sem parcimônia.
Segundo dados do International Hydrological Programm (IHP), sediado nos Estados Unidos, e de estudos da Organização das Nações Unidas (ONU), 97,5% de toda água disponível na Terra é salgada e que a água doce só representa 2,5% desse total e está, em sua maior parte, nas calotas polares. O ser humano conta com apenas 0,3% da água disponível em lagos, rios e lençóis subterrâneos pouco profundos, mas continua desperdiçando e poluindo um bem tão escasso.
O distanciamento do problema da falta d’água para as pessoas que não têm que enfrentá-lo em seu dia-a-dia, numa comparação que pode parecer forte, mas reflete a realidade, torna-o tão banal quanto o da violência nos centros urbanos para quem não foi vítima dela.
O Diretor da Unidade de Gerenciamento dos Recursos Hídricos da ONU, Pasquale Steduto, 19 diz que “em 20 anos, dois terços da população do planeta enfrentarão total escassez de água”. O Brasil, apesar de ter 12% da água doce disponível na Terra, não está livre da ameaça.
O senso comum, alimentado pelo noticiário geralmente superficial da imprensa, é de que a falta d’água se deve exclusivamente à ação da natureza, proveniente de regimes de chuvas irregulares, baixos índices pluviométricos em determinadas áreas, secas prolongadas por uma gota: reportagem traz dados sobre a situação da disponibilidade de água doce no planeta, o seu desperdício e dados alarmantes sobre a escassez prevista para dentro de 20 anos. ISTOÉ, São Paulo, 21 de mar. 2007. Seção Ciência & meio Ambiente,pp. 82-83, devido a fenômenos como El Niño ou La Nina, escassez de água doce nas zonas desérticas, ainda que estas se localizem em faixas litorâneas. E de que há muito pouco a fazer para melhorar as condições de vida das populações que vivem nas regiões afetadas por esses fenômenos. Também quando se fala em tempestades, chuvas contínuas e por extensos períodos e inundações, é provável que apenas uma pequena parcela da população saiba ou consiga entender que o homem pode ter sido responsável – e, certamente, o foi por parte ou agravamento desses eventos climáticos com fortes repercussões sobre o ciclo hidrológico.
O mesmo se aplica aos problemas do aquecimento global e ao degelo das calotas polares e áreas mais elevadas dos maciços montanhosos. Mais uma vez, certamente poucos entenderão que o volume cada vez maior de emissão de gás carbônico na atmosfera (CO2) está elevando a temperatura média do planeta, o que implicará graves problemas de natureza socioambiental. A organização humanitária Christian Aid, com sede em Londres, divulgou, no dia 14 de maio de 2007, um alerta à Humanidade, intitulado “Fluxo humano: a verdadeira crise da migração”, em que confirma conclusões do painel intergovernamental criado pela ONU para debater os efeitos do aquecimento global: “O aquecimento da Terra vai criar pelo menos 1 bilhão de refugiados até 2050, porque a falta de água e colheitas agrícolas deficientes farão com que as pessoas abandonem suas casas e saiam em busca da sobrevivência em regiões mais férteis.”
O coordenador do estudo da Christian Aid, John Davison, diz que acredita que “a migração forçada é, atualmente, a ameaça mais urgente enfrentada pelos pobres nos países em desenvolvimento”. Esse tipo de migração, porém, ocorre no Brasil há décadas, com nordestinos se deslocando para a Região Sudeste, o mesmo ocorrendo com parte da população dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, em Minas Gerais, que se muda para São Paulo e Rio de Janeiro, quando não para Belo Horizonte, fugindo das conseqüências da seca.
Para uma parte da população, o ceticismo quanto à questão da água decorre da falta de informação, ou de informação de má qualidade, e até da falta de educação formal, isto é, do que as pessoas poderiam ter aprendido nas aulas de Geografia no Ensino Básico. Para outra, todavia, mesmo tendo noções, ainda que elementares, da dinâmica climática e do ciclo hidrológico, o ceticismo decorrerá, quase sempre, de sua condição socioeconômica: quem mora em lugares em que a infra-estrutura urbana é boa, dispõe de água tratada e esgoto canalizado, vias com drenagem bem dimensionada e poder de mobilização, preocupar-se com aquecimento global deve criar 1 bilhão de refugiados: reportagem mostra que o aquecimento da Terra ameaçará, em 2050, 1 bilhão de pessoas, que terão que migrar para regiões mais férteis para sobreviver. Estado de Minas, Belo Horizonte, 15 de maio de 2007. Seção Ciência (Meio Ambiente), p. 20, a seca no semi-árido nordestino ou em parte da África é algo que “não faz sentido”, uma vez que não se encontra no rol dos seus temas cotidianos. Não deveria ser assim, mas é.
A questão ambiental tem essa amplitude sociocultural, nos mais diversos níveis.
Provavelmente, será um espanto e provocará até mesmo desconfiança em muita gente (que não dispõe de outros recursos energéticos) saber que, ao usar lenha para cozinhar ou aquecer água, estará contribuindo para o aquecimento global, que poderá provocar uma série de problemas climáticos. O agricultor deverá encontrar dificuldades para modificar suas práticas de manejo do solo, a começar da queimada do mato para preparar a terra para o plantio. Como abandoná-la? Nas grandes propriedades com plantações de cana-de-açúcar, também deverá ser difícil abolir a queima da cana para o corte. Os fazendeiros abrirão mão de queimar a mata para plantar grãos e criar gado em extensas pastagens? Tudoisso representa mais CO2 lançado na atmosfera e, obviamente, temperaturas médias mais altas.
Há que lembrar, ainda, que os proprietários e motoristas de veículos que consomem óleo diesel e gasolina também não vêem com bons olhos os estudos que dão conta de que eles contribuem – e muito – para deixar a Terra, a cada dia, mais aquecidos. No carvoejamento, além do corte quase sempre de mata nativa, mais emissões de gás carbônico. Nas siderúrgicas que produzem ferro gusa, o carvão irá ser consumido nos altos fornos e, na maioria das que fabricam aço, haverá a queima de carvão mineral, ambos os processos com fortes impactos ambientais, a exemplo do que ocorre nas usinas de cimento, que usam óleo combustível e restos de pneus como insumos energéticos, altamente poluidores e emissores de CO2. Ou seja: mais aquecimento da atmosfera, maior degelo das calotas polares e de partes mais elevadas das montanhas e conseqüente elevação do nível dos oceanos.
Ao lado de 1 bilhão de refugiados da seca, em 2050, a população planetária poderá ter 100 milhões ou mais de refugiados com a elevação de um metro das águas dos oceanos e mares. Até o fim do século, eles poderão chegar a 400 milhões, com a elevação das águas oceânicas atingindo seis metros.
Mesmo com tantas advertências qualificadas, muitas pessoas mantêm hábitos e rotinas inalterados, de consumo exacerbado e produção de grandes quantidades de resíduos e de poluição atmosférica, com a insistência do uso do automóvel para todos os seus deslocamentos, saturando o trânsito e promovendo novas emissões de CO2.
 AL GORE chama de imoral o aquecimento da Terra: reportagem diz que o ex-Vice-Presidente dos Estados Unidos, orador da 1.ª Conferência Americana sobre Biocombustíveis, realizada em Buenos Aires, Argentina, alerta para os perigos que o aquecimento global representa para as populações que habitam regiões litorâneas.
Estado de Minas, Belo Horizonte, 13 de maio de 2007. Seção Ciência (Ecologia), p. 24.
Outras dificuldades surgem no cenário ambiental, como a já citada urbanização desordenada, com os adensamentos populacionais pressionando a infra-estrutura urbana, degradando ambientes naturais e/ou construídos pelo homem e gerando diversos tipos de poluição.
Em Belo Horizonte, a maioria deles decorre de projetos de loteamentos em seu Eixo Sul, compreendido por partes dos bairros Santa Lúcia, Alto Santa Lúcia, Sion e Belvedere, além de praticamente toda a área do Estoril e Buritis e dos condomínios de acesso controlado, nos municípios de Nova Lima, Brumadinho e Rio Acima, embora o lançamento de alguns deles date de meados do século passado (Retiro das Pedras e Morro do Chapéu, dentre outros), quando não existia a Região Metropolitana, criada nos anos 1970.
Além dos loteamentos para residências, instalou-se, no Eixo Sul, empreendimentos como hospitais gerais, shopping centers, concessionárias e revendedoras independentes de veículos, hipermercados, diversos supermercados de médio porte e escolas, inclusive dois campi universitários, estes, ainda no sítio urbano da Capital, como os Centros Universitários UNI e UNA, ambos no vale do Córrego do Cercadinho, entre os bairros Estoril e Buritis. Ademais, na Região Sul-Sudoeste (para a administração municipal de Belo Horizonte, esta área é compreendida, oficialmente, pelas regiões Centro-Sul e Oeste, localizando-se nesta última os bairros Estoril e Buritis, que registram crescimento imobiliário acelerado), o Poder Público, provavelmente sob a pressão de estratos sociais que detêm mais representação política e são formadores de opinião, impôs, rapidamente, condicionantes aos novos empreendimentos, ainda à época da rápida concessão da LP, que correspondiam a antigas reivindicações da população. Foram realizadas, sobretudo, obras viárias e criadas áreas de preservação permanente.
No entanto, vê-se que, em Belo Horizonte, mesmo consideradas “medidas mitigadoras” pelo Comam, elas não foram suficientes para corresponder à esperada atenuação dos impactos gerados pelas atividades empresariais intensas e a multiplicação de unidades residenciais. Há um grande descompasso entre o dimensionamento das obras executadas e as demandas sobre a infra-estrutura urbana, que, proporcionalmente, apresentam crescimento maior. Na Região Sul, mantém-se elevado o ritmo de edificações, com múltiplos lançamentos e os problemas ambientais decorrentes do crescente adensamento populacional.
A perda da qualidade do ar, a impermeabilização do solo a impedir a infiltração de parte das águas das chuvas e a geração de ruídos durante a maior parte do dia são, apenas, alguns dos problemas ambientais causados pela explosão imobiliária e o adensamento populacional em parte expressiva do Eixo Sul. Se o elevado número de veículos em circulação deixa o ar poluído e produz ruídos desagradáveis, a impermeabilização do solo pode causar enchentes nos períodos de chuvas nas partes mais baixas da cidade. 
Os impactos ambientais também se acentuaram nas áreas periféricas de Belo Horizonte e em outros Eixos, como o Norte e o Noroeste. Ao longo das últimas três décadas do século XX, ocorreu, em termos de qualidade dos empreendimentos imobiliários, o inverso do que foi constatado no Eixo Sul, embora, do ponto de vista da infra-estrutura urbana, também a população que mora, trabalha, estuda, vai às compras ou se diverte na Região Sul vem sendo vítima do que o senso comum convencionou chamar de “poluição”, que inclui uma série de transtornos de ordem ambiental.
Segundo Costa, a estrutura urbana das regiões Norte e Nordeste é o retrato de um processo de expansão urbana marcado pela especulação imobiliária em um quadro que lembra total anomia urbanística.
“A partir de meados dos anos 1970, configura-se um movimento de expansão metropolitana de importância inquestionável: a sistemática produção da periferia por meio dos chamados loteamentos populares. Em termos espaciais, a conjugação de uma série de elementos, entre os quais o mercado fundiário, os critérios diferenciados de parcelamento do solo nas legislações municipais, a ausência de programas habitacionais públicos, fizeram com que alguns municípios concentrassem esse tipo de ocupação urbana, como Ribeirão das Neves, no final da década de 1970, ou Ibirité, nos anos 1980. 
O que Costa observou, com propriedade, em seus estudos, há quatro anos, mantém-se, hoje, praticamente inalterado quanto às condições de habitabilidade e acessibilidade urbana, com perspectivas de algumas melhorias quase imediatas no segundo aspecto, em decorrência da construção da “Linha Verde” e da finalização da duplicação da primeira etapa da Av. Antônio Carlos. Isso não quer dizer que, nos antigos loteamentos populares, a urbanização vai chegar simultaneamente à conclusão das obras nas duas grandes vias.
A construção do Centro Administrativo do Governo do Estado, no antigo Hipódromo Serra Verde, deverá provocar na região uma demanda por unidades habitacionais de melhor qualidade em áreas efetivamente urbanizadas (ruas pavimentadas, com redes de água e de esgoto, iluminação pública, serviços de telefonia e internet, TV a cabo e uma estrutura comercial e social – escolas e unidades de saúde – de melhor nível, além de segurança).
Também não representa, obrigatoriamente, melhorias nos loteamentos populares existentes.
Talvez até parte deles possa ser utilizada em projetos de modernização, empurrando a sua população atual para áreas ainda mais distantes do Centro de Belo Horizonte, para onde a maioria dela se desloca diariamente para trabalhar.
Costa (2003: 164) acrescenta:
“Ao longo dos anos 1980 e 1990, a tendência de produção de loteamentos populares diminui de intensidade, porém se mantém em periferias cada vez mais distantes. Os espaços já parcelados são crescentemente edificados e adensados, na maioria das vezes reproduzindo a baixa qualidade da urbanização e da habitação típica de ocupações precárias das áreas mais centrais. Em termos demográficos, tal adensamento se expressa tanto nas elevadas taxas de crescimento dos municípios maisdistantes de Belo Horizonte, quanto no aumento do número de municípios que hoje constituem oficialmente a Região Metropolitana, tendo passado de municípios originais dos anos 1970 para 33, em 2000, e 34, em 2002. Tal aumento é reflexo tanto da expansão espacial da área comprometida com a metropolização, incorporando novos municípios do entorno, quanto da emancipação de distritos, cuja dinâmica econômica e demográfica tornou-se tão ou mais relevante do que a do restante do município que lhe deu origem.”
Essas expansões desordenadas foram acompanhadas do surgimento de inúmeros problemas de ordem ambiental, a começar do saneamento básico, coleta e disposição final do lixo, além de impactos na flora e fauna da Região Norte, com o desmatamento de extensas áreas para a abertura de loteamentos, o que acabou por comprometer as nascentes (a maioria simplesmente desapareceu) e o rebaixamento e a contaminação do lençol freático pelo lançamento de esgoto in natura, proveniente de milhares de fossas construídas sem qualquer orientação técnica e sanitária.
Por fim, Costa (2003: 164) salienta com relação à corrida das classes de melhor renda para o Eixo Sul de Belo Horizonte: 
“Paralelamente (referindo-se a essa expansão metropolitana praticamente desordenada em direção ao Eixo Norte), surgem e começam a se intensificar, com o passar do tempo, os parcelamentos destinados a chácaras, sítios de recreio e os chamados condomínio fechados. A Região Sul da Região Metropolitana passa a constituir o local preferencial desses empreendimentos, reproduzindo, em escala metropolitana, a elitização e segregação da área central, onde a chamada ‘Zona Sul’, como em muitas cidades brasileiras, corresponde às áreas de melhor qualidade e com maior densidade de investimentos em urbanização, na qual residem as camadas de maior renda da população.
Na esteira do crescimento das cidades brasileiras, em Belo Horizonte, o nicho de construções de padrão elevado localizou-se, assim, no seu Eixo Sul, desde as três últimas décadas do século passado, com diferenças na dimensão dos projetos de um bairro para outro, de acordo com as duas alterações promovidas na Lei de Uso e Ocupação do Solo no mesmo período.
Baracho Júnior destaca as considerações de Ferraz que, “ao afirmar que a ecologia está diretamente ligada à sobrevivência, e que esta fórmula é indissociável, ele nega o patrimônio ambiental como res nullius, e o aponta como resommium, como coisa de todos.”
Baracho Júnior acrescenta que, “partindo do entendimento de que o meio ambiente é um patrimônio de todos, e não limitando a expressão ‘todos’ ao povo de um determinado Estado, mas expandindo-a a um nível mundial, Ferraz rediscute a noção de patrimônio, nos seguintes termos”:
“Assim, uma das primeiras metas do homem do Direito e do estadista residirá em formular preceitos que garantam uma tutela ambiental, que garantam amplamente a qualquer cidadão a possibilidade de, ao se sentir ameaçado, buscar a proteção do Direito, independentemente de considerações de legitimação lastreadas em critérios de mero prejuízo patrimonial. Até porque o patrimônio maior não é o mero patrimônio econômico, mas o patrimônio de sobrevivência. O ordenamento jurídico tem que ser acordado para essa necessidade gritante, para a qual persistimos, entretanto, tragicamente adormecidos.” (FERRAZ, 1977: 36).
Os especialistas do Direito Ambiental nas empresas têm que estar atentos a essa “nova ordem” que vem grassando pelo mundo, principalmente a partir dos anos oitenta do século XX, em um processo crescente de conscientização popular, com a ajuda da mídia, uma vez que, também nas organizações dos setores da economia, não existe apenas o patrimônio material e financeiro, facilmente tangível, mas o patrimônio da sua imagem perante a opinião pública, perante o mercado, de difícil aferição, não obstante o avanço tecnológico dos institutos de pesquisa, o que acaba formando seu patrimônio de sobrevivência, ou parte expressiva dele.
Observar a legislação ambiental é, na atualidade, um dos pilares da gestão empresarial.
Valer-se de condicionantes que agreguem valor à qualidade ambiental das áreas em que atuam é vital para o pleno funcionamento dos empreendimentos. Em alguns casos, até a participação espontânea das empresas em projetos socioambientais em espaços distantes da sua área de atuação enriquece o seu patrimônio intangível, por meio de uma imagem positiva e pró-ativa junto à comunidade de um bairro, de uma cidade, de um estado, de um país, enfim, com possibilidades de ganhos em diversas dimensões, uma vez que o retorno, em nível de projeção como organização socioambientalmente responsável deverá ser proporcional à extensão.
Assim, todos os empreendimentos, independentemente de custos originários do atendimento da norma legal – instituída, no caso de Belo Horizonte, pelo Código de Posturas Municipal, por intermédio do Conselho Municipal de Planejamento Urbano (Compur) – que, em geral, implica a adoção de medidas mitigadoras e compensatórias exigidas pelo Conselho Municipal de Meio Ambiente (Comam), devem procurar a adequação de seus projetos ao que o município determina, com uma ressalva: no plano jurídico, os projetos empresariais devem primar pelo estrito atendimento da norma legal para que, havendo restrições por parte do Poder Público, interponham-se recursos que reúnam condições de prosperar junto ao Compur e ao Comam, com o acatamento das alegações da empresa e sem que ela seja obrigada a fazer mais do que suporta. Além disso, antecipando-se a situações excepcionais, os projetos devem estar robustamente fundamentados, com base não só no Direito Ambiental, no Direito Urbanístico, no Direito Administrativo, e, sobretudo, no Direito Constitucional, de forma a que esses recursos reúnam condições de lograr êxito em Juízo. Agindo preventivamente, garantir-se-á que a tramitação dos processos de licenciamento para o início das atividades econômicas verifique-se sem percalços, com o fito de ensejar que o retorno do investimento ocorra no prazo estimado e nos níveis esperados pelos empreendedores.
A fundamentação jurídica que irá embasar os projetos, quanto ao atendimento das exigências ambientais, deve ser objetivamente consistente como, por exemplo, quanto aos efeitos mitigadores que serão adotados, conforme a natureza do empreendimento, na ocorrência, entre outros, de eventos como os relacionados adiante:
a) impactos no trânsito e conseqüente perda da qualidade do ar e aumento do nível de ruídos;
b) impermeabilização de parte do solo levando à baixa infiltração de água no solo, dificultando o reabastecimento dos aqüíferos subterrâneos;
c) infiltração de efluentes no solo, prejudicando a fertilidade e contaminando o lençol freático;
d) impermeabilização e/ou compactação do solo formando grandes enxurradas e inundações em partes mais baixas (jusantes de cursos d’água);
e) retirada de vegetação de parte do solo promovendo erosões, especialmente em áreas com declividade acentuada;
f) retirada de vegetação de parte do solo e cortes em talude provocando deslizamentos e escorregamentos de encostas, com desdobramentos de ordem diversa;
g) riscos de incêndio, explosão e desabamento no entorno do empreendimento;
h) aumento exacerbado da pressão sobre as redes de abastecimento d’água e de esgotamento sanitário, bem como sobre os sistemas de abastecimento de energia elétrica e de telecomunicações;
i) excessiva geração de resíduos, transporte inadequado e disposição final em via pública, terrenos urbanos ou na zona rural, ou, ainda, a céu aberto, em áreas não licenciadas, sem plano de manejo;
j) impactos sobre a fauna e flora, com riscos de extinção de espécies;
l) impactos sobre a paisagem urbana e rural de áreas contíguas à do empreendimento;
m) impactos sobre o patrimônio artístico e cultural existente em áreas contíguas.
Pode-se admitir, contudo, que, mesmo com tantos problemas potenciais em atividades econômicas e do dia-a-dia das pessoas, as empresas já perceberam que os impactos de seu funcionamentono ambiente, já que contam com técnicos e especialistas que têm como avaliados, podem lhes trazer mais prejuízos do que se investissem na qualidade ambiental, dentro e no entorno do empreendimento. As organizações econômicas podem e devem propor soluções para a mitigação dos impactos que produzem e pesquisar novas tecnologias para redução e até eliminação de procedimentos danosos ao meio ambiente e emprego de materiais menos poluentes, em face das exigências legais. Com isso elas podem se inserir em um seleto quadro de organizações que se encontram focadas na sustentabilidade.
Nesta direção do aperfeiçoamento tecnológico do setor econômico, as empresas podem se valer, igualmente, de operadores do Direito Ambiental que, de acordo com as normas legais, contribuiriam – como, de fato, muitos já o fazem hoje – para a construção desse novo modelo operacional, benéfico ao meio ambiente e benéfico à sociedade. Medida que, certamente, ao ajudar a melhorar as condições ambientais, com repercussões de ordem global, uma vez que o meio ambiente já dá sinais de desequilíbrio, em várias regiões do planeta, decorrentes de um processo acelerado de uso excessivo ou até irracional dos recursos naturais e surgimento de novos elementos poluidores.
Uma extensa lista de exemplos poderia ser elaborada com a problemática da compreensão das questões ambientais por grandes parcelas da população. Mas, a dificuldade de entendimento não se esgota em aspectos cognitivos. Afinal, há quem as entenda, inclusive consiga dissertar sobre cada uma das ações que impactam o meio ambiente, mas que, dificilmente, crerá que os problemas poderão surgir em um prazo consideravelmente menor do que os mais pessimistas calculam. Há, por certo, além de ceticismo, egoísmo e um preocupante descaso com o que já está por demais demonstrados, “cogito, ergo sum”, por meio de estudos elaborados por reconhecidos cientistas, sejam meteorologistas, físicos, químicos, biólogos, ecólogos ou matemáticos. Para os céticos, o que se anuncia jamais ocorrerá. Os não-céticos, mas que vivem da arrogância, não consegue divisar o perigo por resistirem às evidências. Eventualmente, podem vir a admitir a sua existência e iminência, mas, dificilmente, aceitarão que ele é uma ameaça real aos lugares onde vivem, a suas ilhas de pretensa segurança ambiental. O curioso é que essas pessoas constituem os públicos formadores de opinião, justamente os que têm mais acesso à informação.
Se existem dificuldades de entendimento e/ou aceitação que determinados procedimentos impactam o ambiente, afetam a qualidade de vida e podem levar a catástrofes, indubitavelmente, assiste-se, na atualidade, à predominância de um modelo consumista ditado pela sociedade capitalista. São apelos mercadológicos de toda natureza: por novas tecnologias, novos designers, novas necessidades para o conforto e bem-estar pessoal, que implicam mais aquisições de bens de consumo, enfim, campanhas e processos sociais suscitando nas pessoas uma quase compulsão a adquirir bens e serviços, estar “up-to-date”.
Diuturnamente, são lançados produtos no mercado, com novos “shapes” para atrair os consumidores. A introdução de determinados elementos na composição de diversos produtos também faz com que os bens duráveis tenham vida mais curta, sob o rótulo de serem “descartáveis mais práticos”. Conseqüentemente, neste novo modelo produtivo e de consumo, tem-se mais geração de resíduos sólidos (lixo), emprego de mais maquinário em substituição da mão-de-obra para se ganhar em escala (ocasionando desemprego pelo inevitável avanço tecnológico), menos áreas verdes (grande parte dos espaços no entorno dos centros urbanos está sendo destinados a habitações de baixo padrão e ao descarte de resíduos, nos denominados lixões e/ou aterros sanitários), assim como a proliferação de alguns tipos de atividades produtivas familiares (pequenas indústrias artesanais, de fundo de quintal). O consumo excessivo pode resultar, rapidamente, no esgotamento de recursos naturais, já que a sua exploração intensiva destina-se à elaboração de insumos e matérias-primas para a fabricação dos novos produtos que chegam ao mercado todos os dias. O petróleo, grande vilão do aquecimento global, devido à sua queima intensiva, é um deles, apesar da descoberta de novas reservas e do alargamento do prazo de seu esgotamento.
Belo Horizonte é um dos exemplos do que esse comportamento consumista exige da natureza, pois enfrenta, no momento, um problema sério quanto à disposição final de mais de 4,4 mil toneladas diárias de lixo. O aterro sanitário da BR-040, entre o Bairro Califórnia e a Centrais de Abastecimento de Minas Gerais (Ceasa-MG), já ultrapassou a cota máxima em relação ao nível do mar, estabelecida quando de sua implantação, no último quartel do século XX.
Após diversos entendimentos com o Conselho Estadual de Política Ambiental (Copam), elevou-se a sua cota original, em alguns metros e o aterro teve a vida útil estendida até dezembro de 2007. Por meio de processo licitatório, a Prefeitura Municipal de Belo Horizonte (PBH) pretende conseguir um município na Região Metropolitana para aterrar o lixo produzido pela Capital. O que vencer a licitação receberá determinada quantia por tonelada de resíduo sólido disposta em seu aterro. A dificuldade maior para a solução do problema reside no fato de não haver, hoje, nenhum aterro sanitário com Licença de Operação do Copam, na Região Metropolitana, com capacidade para acolher as 4,4 mil toneladas diárias de lixo produzidas pelos belo-horizontinos, 60% das quais de material orgânico. Retomando a questão da exploração excessiva dos recursos naturais, deve se salientar que o homem precisa direcionar esforços para a evolução tecnológica, com a finalidade de aperfeiçoar o seu uso, por meio de processos de produção, de embalagem, armazenamento, distribuição (transportes) e comercialização mais modernos e econômicos, que gerem menos perdas, resíduos e impactos ambientais. O mesmo desenvolvimento tecnológico que se espera na descoberta de medicamentos para doenças que ainda não têm cura. Tudo, para o bem-estar coletivo. O avanço tecnológico não pode ir de encontro à sociedade, afetando, de pronto, os mais carentes, com menor nível de escolaridade e qualificação profissional, e, depois, os de melhor condição socioeconômica, com incentivo ao consumo a partir da oferta de bens cuja produção exige o uso intensivo de recursos naturais. Deve, sim, procurar meios para incluir todas as pessoas em um processo de melhoria da qualidade de vida, por meio da construção de uma Sociedade Sustentável. A sustentabilidade implicará, obrigatoriamente, a redução dos grandes desníveis socioeconômicos, por se tratar de um processo de participação, inclusão e acesso eqüitativo a bens e serviços ainda restritos a algumas parcelas da população e que devem ser ofertados a partir de processos produtivos mais limpos, de baixo impacto ambiental.
O uso dos recursos naturais deve ser assim, controlado por especialistas de várias áreas, incluindo o operador do Direito Ambiental, para que o bem comum, considerando-se que os empreendimentos econômicos, grandes propulsores e fomentadores do modelo capitalista de consumo, devem ser monitorados pelo Poder Público. Esse monitoramento impedirá que causem mais impactos ambientais do que os já registrados ao longo da História, mais incisivamente a partir da primeira Revolução Industrial, iniciada no século XVIII.
Impactos que, se não forem evitados, irão impedir que se alcance a sadia qualidade de vida das populações, como propugna a CF/88.
O Direito e o conceito de Direito Ambiental
O Direito emerge da sociedade que a ele deve se submeter. O Direito, ao ter como escopo estabelecer regras que visem à paz, harmonia e desenvolvimento social, é uma ciência em permanente evolução, procurando atender as necessidades da sociedade em constante mutação. Neste sentido, Gonçalves é didático, ao afirmar que “o Direito é criado, formulado, para ser aplicado, e entre a sua ciência e os procedimentos adequadospara sua aplicação, deveria haver um indissociável liame, realimentado mutuamente, em razão de sua natureza, que o faz em permanente processo de construção.”
O autor diz que a Ciência Jurídica necessitou constituir-se, primeiramente, a si mesma, com o fito de regulamentar, de forma racional, procedimentos adequados e legítimos.
Assim, Gonçalves afirma: “Os passos dessa construção foram muito férteis, pois entre coerências e contradições, puseram em pauta as questões das relações entre um direito ideal e um direito positivo, entre o direito natural e o direito estatal, e o que estava em jogo, na verdade, eram os limites da intervenção social na liberdade individual, e, logo, a sua recíproca, que entra em cena passada a fase do individualismo: os limites da liberdade humana dentro de uma sociedade politicamente organizada. Como resultado desse processo, uma multiplicidade de temas e de perspectivas se abriu para a investigação do fenômeno jurídico, ou seja, do direito manifestado na experiência, do direito positivo, com existência no tempo e no espaço. Do estudo da gênese das normas até o estudo de sua aplicação há uma infinidade inesgotável de reflexões, pois o que está envolvido, entre esses dois momentos, é a própria existência da sociedade humana, as formas de sua organização e de solução de seus conflitos.”
O Direito Ambiental surge, assim, para regulamentar a proteção e o uso do meio ambiente objetivando a sadia qualidade de vida, indo ao encontro da nova realidade social, isto é, conforme salientado por GONÇALVES (1992: 28), erigido como direito positivo, está voltado para “a própria existência da sociedade humana, as formas de sua organização e de solução de seus conflitos.”
De acordo com Antunes, o Direito Ambiental é “um dos ramos do Direito que mais fortemente se relacionam com os demais”. Ele observa:
“Este fato, indiscutível por si só, é uma conseqüência lógica da transversalidade que é, como sabemos, a característica mais marcante do DA. É muito difícil que se consiga conceber o DA independentemente das normas próprias do Direito Administrativo, visto que a Administração Pública, pelo exercício do poder de polícia ambiental, desempenha um papel essencial na imensa maioria das questões ambientais. A imposição de multas, a interdição de atividades, a oposição de embargos administrativos não podem fugir dos cânones básicos do Direito Administrativo, tais como a observância do princípio da legalidade, da proporcionalidade, da impessoalidade e de outros que lhe são relacionados. O mesmo se diga em relação ao Direito Constitucional.”
Ainda sob o prisma da transversalidade, ANTUNES (2006:49) defende que o Direito Ambiental também garante a tranqüilidade e o sossego das pessoas no que diz respeito à defesa de direitos privados, como o direito de vizinhança. O autor aduz:
“No Direito Penal encontram-se diversas normas de defesa da saúde e da ambiência humana. Também as normas de Direito Tributário podem ser utilizadas em defesa do meio ambiente... O DA penetra nos demais ramos do Direito fazendo com que eles assumam uma ‘preocupação’ com os bens jurídicos tutelados pelo DA.”
Embora seja relativamente novo, o Direito Ambiental é autônomo, devido à natureza específica de seu objeto (ordenação da qualidade do meio ambiente com vista a uma sadia qualidade de vida), com princípios próprios, previsão legal constitucional e regulamentação infraconstitucional – leis, atos internacionais firmados pelo Brasil, normas administrativas originadas dos órgãos competentes e a jurisprudência.
“A CF define um modelo para que cada lei de um ente federativo seja válida em determinada esfera. Os atos internacionais ratificados pelo Brasil integram o Direito brasileiro com a hierarquia de lei... As normas administrativas são muito importantes em DA. Argumenta-se que não é possível que o Congresso legisle com a velocidade necessária para acompanhar determinadas áreas científicas nas quais a evolução é extremamente rápida, motivo pelo qual as normas administrativas devem ter o seu poder ampliado... A jurisprudência é um fator fundamental na construção do DA... Com efeito, muitos princípios básicos do DA foram construídos em litígios judiciais.”
São estes, em síntese, os principais diplomas legais que tutelam o meio ambiente no Brasil:
1 - Dispositivos constitucionais: no título VIII – Da Ordem Social –, Cap. VI, art. 225 e seus parágrafos, encontra-se a base constitucional para a proteção ambiental. O caput do art. 225 prevê o direito ao meio ambiente a todos.
Na CF/88 encontra-se, também, a divisão de competências em matéria ambiental, sendo definida a atuação de cada entidade da Federação, tanto no aspecto legislativo quanto no aspecto material (art. 20 e seus incisos; art. 21, XIX; art. 22, IV; art. 23, I, III, IV, VI, VII, XI; art. 24, I, VI, VII, VIII; art. 30, I, II, VIII e IX).
Ainda na CF/88: O Conselho de Defesa Nacional, que, como órgão de consulta Presidente da República, deve observar a proteção dos recursos naturais ao propor critérios de áreas indispensáveis à segurança do território nacional (art. 91, § 1.°, III); quando se trata dos princípios gerais da atividade econômica (art. 170; art. 174, § 3.°; art. 177, § 4.°, II, b; art. 186, II); na Ordem Social prevê-se a proteção ambiental: art. 200, VIII; art. 216, V; art. 220, § 3.°, II; art. 225; art. 231, § 1.°; art 5.°, LXXIII (ação popular na defesa do meio ambiente), e o art. 129, III (ação civil pública como instrumento de tutela ambiental).
2 - Dispositivos infraconstitucionais: LC n.º 14/73, que estabelece as regiões metropolitanas; LC n.º 20/74, que dispõe sobre a criação de Estados e Territórios. Lei n.° 4.771/65 (Código Florestal); Lei n.º 6.803/80, (Zoneamento Industrial); Lei n.° 6.938/81 (Política Nacional do Meio Ambiente); Lei n.° 7.347/85 (Ação Civil Pública); Lei n.° 9.443/97 (Política Nacional dos Recursos Hídricos); Lei n.° 9.605/98 (Crimes Ambientais);
Lei n.° 9.785/2000 (Sistema Nacional de Unidades de Conservação); Lei n.° 10.257/2001 (Estatuto da Cidade); bem como os atos internacionais firmados pelo Brasil, as normas administrativas originadas dos órgãos competentes e a jurisprudência tutelam, igualmente, o meio ambiente.
O rol da tutela jurídica ambiental é extenso e rico, mas, por não estar codificado, dificulta, muitas vezes, o seu emprego, haja vista que, em sua maioria, os diplomas legais estão esparsos. Milaré explicita:
“Como bem salientou Diogo de Figueiredo Moreira Neto - um dos grandes pioneiros do Direito Ambiental brasileiro -,‘além das vantagens geralmente reconhecidas às codificações, teríamos, também, a de orientar a legislação dos Milaré, Edis. Direito do Ambiente – doutrina, jurisprudência, glossário. 4. ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: Ed. Revista dos Tribunais, 2005, p. 145-146. Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, de facilitar a coordenação de ações e de atuar pedagogicamente sobre toda a sociedade brasileira.”
A Lei n.º 6.938/81, que instituiu a Política Nacional do Meio Ambiente, define, em seu artigo 3.°, que meio ambiente “é o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas.”Assim, dentro da esfera da tutela jurídica brasileira, pode-se dizer que meio ambiente é o conjunto de elementos naturais (fauna, flora, ar, água, solo) e artificiais (cidade, patrimônio histórico, cultural, paisagístico) em que o homem vive e que com os quais ele interage ininterruptamente.
A Constituição da República do Brasil, no seu artigo 225, “caput”, assegura que “todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para os presentes e futuras gerações”.
E o que as empresas têm em relação à tutela ambiental?
Tudo! Afinal, todo empreendimento econômico, em algum momento, utiliza-se de algum recurso natural ou exige que alguém o faça, seja no processode produção ou na armazenagem, transporte, comercialização ou consumo. Em qualquer etapa, haverá pelo menos um impacto ambiental, dentre eles, por exemplo, geração de odores desagradáveis, emissão de ruídos, gases e efluentes, descartes de resíduos, enfim, pode ocorrer todo um gama de implicações negativas a ameaçar a qualidade do meio ambiente.
Ademais, toda atividade empresarial precisa obter resultados positivos, ser lucrativa, para que se mantenha. Isso envolve um amplo cenário, do qual participam os empreendedores, empregados e fornecedores de serviços realizados no sítio da empresa. Este é, em suma, o ambiente de trabalho, que também está incluído nas classificações que correspondem ao meio ambiente tutelado pelo ordenamento jurídico, este, incluindo, ainda, a comunidade de seu entorno da organização.
Com os alardes ambientais publicados diuturnamente pela mídia, com a difusão da ecologia pela educação formal e com o aumento da consciência ambiental, as pessoas, de Milaré, Edis. Direito do Ambiente – doutrina, jurisprudência, glossário. 4. ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: Ed. Revista dos Tribunais, 2005, p. 146-147.
Vade Mecum: acadêmico de direito: Constituição Federal e Emendas Constitucionais, Código Civil, Código de Processo Civil, Código Penal, Código Processo Penal, Código Tributário Nacional, Consolidação das Leis do Trabalho, Código Comercial, Legislação de Direito Ambiental, Legislação de Direito Administrativo, Legislação Previdenciária, Legislação complementar, Súmulas e Enunciados, p. 870. Brasil. Constituição Federal, de 1988. Art. 225, “caput”, que trata do Meio Ambiente. De modo geral começam a dar preferência a empresas social e ambientalmente corretas.
Mariano Filho diz:
“Tachizawat (2002) caracteriza uma nova vertente de organização: ‘Em face das constantes e crescentes expectativas de clientes, de fornecedores, do pessoal interno e dos gestores, a empresa do futuro tem de agir de forma responsável em seus relacionamentos internos e externos’. Esses novos tempos caracterizam-se por uma rígida postura da sociedade consumidora, que cobra postura ética da empresa no mercado, devendo atuar de forma ecologicamente responsável.”
As empresas, na atualidade, tanto na implantação quanto na expansão dos seus negócios, caso gerem impactos significativos, reforça-se a imposição legal, estão sujeitas à “Ordem Ambiental” e devem, portanto, se submeter ao licenciamento ambiental, que exigirá, inevitavelmente, a adoção de medidas mitigadoras e/ou compensatórias. Só assim esses empreendimentos estarão de acordo com o ordenamento jurídico. Qualquer empreendimento de médio e grande porte está ciente desse tipo de obrigação, bem como diversas entidades de classe, que, felizmente, defendem a proteção ambiental no processo produtivo, como a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg).
Para Robson Braga de Andrade, Presidente do Sistema Fiemg, que inclui as seções mineiras do Serviço Social da Indústria (Sesi) e do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), além do Instituto Euvaldo Lodi (IEL) e do Centro Industrial e Empresarial de Minas Gerais (Ciemg), “construir a gestão responsável para a sustentabilidade, que significa harmonizar as relações econômicas com o meio ambiente e com legítimas aspirações da sociedade, é hoje o principal compromisso das empresas para garantir a sobrevivência da sociedade global e da vida no planeta. Assim, empresas conscientes, orientadas por valores éticos, devem passar da reflexão à ação, do discurso à prática.”
A responsabilidade das organizações econômicas com relação ao meio ambiente, além de estar na pauta das questões de relevância do meio científico, da Academia e, como visto no caso do Sistema Fiemg, das entidades de classe do setor produtivo, além de um sem-número de ONGs e OSCIPs, enfim, de praticamente toda a sociedade, tornou-se tema recorrente de livros e artigos na imprensa, seguindo a tendência do interesse crescente da mídia pelo meio ambiente. 
Ética e cidadania: o artigo fala sobre a classe empresarial que tem construído a gestão responsável para a sustentabilidade. Jornal Estado de Minas, Belo Horizonte, 5 de abr. 2007. Seção Opinião, p. 11. edição em que não haja, pelo menos, uma nota sobre questões ambientais decorrentes, direta ou indiretamente, de atividades empresariais.
Franco observa, em seu livro “Planejamento ambiental para a cidade sustentável”, sobre a importância de as empresas se voltarem para práticas ambientais sadias, sob pena de perderem posição: “O mercado rapidamente percebeu que, atendendo às exigências legais normativas ou comunitárias, pode atuar fortemente em favor da competitividade de uns em oposição à inviabilização de outros. O dilema da empresa moderna é adaptar-se ou correr o risco de perder espaços arduamente conquistados, sendo imperativo aplicar princípios de gerenciamento ambiental condizentes com o desenvolvimento sustentável.”
Já Mara Luquet, em artigo sob o título “O valor de ser sustentável”, no jornal Valor Econômico, é taxativa com relação ao potencial de atração de investimentos pelas empresas que operam com respeito ao meio ambiente:“Boas práticas ambientais ganham cada vez mais importância para o investidor na hora de avaliar a aplicação em ações.”
Outro que adverte para a importância da gestão ambiental nas empresas é “Adotar boas práticas de gerenciamento ambiental resulta em redução de custos operacionais, acesso a mercados e maior valor agregado aos produtos. E também em boa reputação para as empresas identificadas como ecologicamente corretas”.
Princípios do Direito Ambiental
Os princípios de Direito Ambiental encontram-se, em grande parte, na Constituição Federal de 1988, no artigo 225, caput, incisos e parágrafos, em leis, normas, costumes, doutrinas e em tratados e convenções acordados pelo Brasil, afora na jurisprudência.
Considerando-se que princípio é a origem, o começo, o alicerce de toda a estrutura de uma ciência, o que lhe dará a essência, Albergaria afirma: “Nas Constituições Pátrias anteriores, podiam-se encontrar normas relativas ao meio ambiente, contudo não tinham o espírito, a essência e o princípio de proteção ambiental. As normas constitucionais limitavam-se à delimitação de cada ente da Federação sobre os setores do meio ambiente. Na Constituição de 1988, verdadeira Constituição-cidadã-ambiental, a tutela constitucional ambiental ganhou um capítulo inteiro e ainda, vários artigos espalhados pelo texto, de forma explícita e implícita.”
Ressalte-se que os princípios constitucionais ambientais visam à proteção da vida, em qualquer forma, com garantia de padrão digno e saudável para as presentes e futuras gerações, em consonância com os dispositivos da CF/88.
Diversos autores, doutrinadores, mesclaram os princípios ambientais ou os subdividiram, mas, ainda assim, os relacionados a seguir sempre são encontrados nos textos legais, constituindo-se no esteio do Direito Ambiental.
De forma didática, REIS46 relaciona os princípios do Direito Ambiental:
1.º) Princípio da precaução: “...resume-se na busca do afastamento, no tempo e no espaço,do perigo; ... pois, uma vez desequilibrado o meio ambiente, a reparação ou recomposição é, na maior parte das vezes, difícil.”
Pelo estado da arte, sabe-se que na natureza, um organismo leva milhares e até milhões de anos para se desenvolver ou para que se adapte ao meio ambiente alterado, isto é, sobreviva a um ou mais impactos. Portanto, cada intervenção no meio natural, pode gerar conseqüências imensuráveis.
A precaução lida com a possibilidade abstrata do risco, sem saber ao certo se tal atividade causará ou não dano ambiental.
 “Baseado no fundamento da dificuldade e/ou impossibilidade de reparação do dano ambiental, art. 225, § 1º, IV da CF, que exige EIA/RIMA e na Declaração do Rio sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento de 1992, princípio 15, que diz ‘de modo a proteger o meio ambiente, o princípio da precaução deve ser amplamente observado pelos Estados, de acordo com as suasnecessidades’, quando houver ameaça de danos sérios ou irreversíveis, a ausência de absoluta certeza científica não deve ser utilizada como razão para postergar medidas eficazes e economicamente viáveis para prevenir a degradação ambiental.”
A prevenção é o perigo concreto e, portanto, a atividade exercida é considerada perigosa, posto que já se tem o conhecimento de seus riscos, ou de, pelo menos, de que há a iminência de um risco.
Alguns autores fazem a diferenciação desses termos, precaução e prevenção, como, por exemplo, Paulo Afonso Leme Machado. Entretanto, outros, como Édis Milaré, embora aceitem a diferenciação etimológica e, até mesmo reconhecendo como dois princípios distintos, adotam uma só dessas definições, na expectativa de dar um caráter prático à matéria.
2.º) Princípio do poluidor-pagador: Este princípio diz “...quem estraga deve consertar.” O princípio está estabelecido no art.16 da Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, de 1992, no art. 4.º da Política Nacional do Meio Ambiente (Lei n.º 6.938/81) e no art. 225, § 3º, da CF/88.
3.º) Princípio do ônus social: “...as medidas de implementação da qualidade ambiental devem ter seus custos arcados pela coletividade, podendo o Estado contribuir com uma parte do custo, diminuindo a carga tributária que recairia sobre o cidadão.”
4.º) Princípio da cooperação: “...informa uma atuação conjunta do Estado e sociedade, na escolha de prioridades e nos processos decisórios...”
É dever de todos defender e preservar o meio ambiente e, para tanto, havendo a cooperação entre o Poder Público e a coletividade nessa questão, melhor tutelado estará o ambiente.
5.º) Princípio do desenvolvimento sustentável: propugna pela utilização equilibrada dos recursos naturais e, também, do desenvolvimento socioeconômico.
“A necessidade de preservação dos recursos naturais para as futuras gerações; a exploração racional dos recursos naturais; o uso eqüitativo dos recursos naturais considerando as necessidades de todos os Estados; a necessidade de considerar o meio ambiente na definição das políticas pública e plana de desenvolvimento social.”
6.º) Princípio da publicidade e da participação popular: como o meio ambiente é bem de uso comum do povo, tudo que o afeta ou poderá alterá-lo deverá ser publicado e, portanto, caberá a todos participar das decisões acerca das questões ambientais. A seguir, algumas observações pertinentes feitas por Reis: “... não se pode admitir que haja segredos em questões ambientais, pois afetam a vida de todos. Tudo deve ser feito, pelo Poder Público principalmente, com a maior transparência possível, de modo a permitir a participação na discussão dos projetos e problemas dos cidadãos de um modo geral.”
“Os Estudos de Impacto Ambiental e os seus respectivos relatórios (EIA, RIMA) têm caráter público por tratarem de envolvimento com elementos que compõem um bem de todos, ou seja, o meio ambiente sadio e equilibrado (art. 225 CF). Portanto, deve haver publicidade, ante a sua natureza pública. A Resolução n.º 9, de dezembro de 1987, do Conama, disciplina a audiência pública na análise do RIMA.”
“O Princípio 10 da Rio 92 está em conformidade com o art. 225 da CF que fala que a coletividade deve preservar o meio ambiente, participar da elaboração de leis; participar das políticas públicas, através de audiências públicas, e participar do controle jurisdicional, através de medidas judiciais como: ação civil pública, mandado de segurança coletivo, mandado de injunção e ação popular.”
7.º) Princípio “in dubio, pro natura”: defende a conservação e preservação ambientais, acima de qualquer outro interesse.
“É uma regra fundamental de interpretação da legislação ambiental, que leva para a preponderância do interesse maior da sociedade em detrimento do interesse individual e menor do empreendedor ou de um dado projeto. Ressalta-se o princípio da subsidiariedade que determina que, no exercício das competências concorrentes, os Estados-membros podem exercê-las desde que as instituições comunitárias não demonstrem que suas atuações são mais eficientes, ou seja, com relação ao meio ambiente, as normas que têm validade de aplicação, entre as nacionais e as de política comum, são as que mais protejam a saúde humana e a conservação ambiental.”
Entretanto, REIS47 relaciona outros princípios do Direito Ambiental:
1.º) Princípio da legalidade: O art. 5.°, II, da CF/88, diz que é preciso amparo legal para obrigar-se a algo.
2.º) Princípio da supremacia do interesse público: Pelo art. 225 da CF/88, caput, a proteção ambiental é um direito e obrigação de todos. ‘Isso demonstra a natureza pública deste bem, que leva a sua proteção a obedecer ao princípio de prevalência do interesse público sobre o privado na questão de proteção ambiental.’
3.º) Princípio da indisponibilidade do interesse público: ‘Por ser o meio ambiente equilibrado um direito de todos (art. 225 da CF/88) e um bem de uso comum do povo, ele tem caráter indisponível, já que não pertence a este ou aquele.’
4.º) Princípio da obrigatoriedade da proteção ambiental: Está estampado no art. 225 da CF, caput, posto que diz que o Poder Público e a coletividade devem assegurar a efetividade do direito ao meio ambiente sadio e equilibrado, o que só se obtém com a proteção ambiental em todos os níveis da esfera pública e do setor privado.
5.º) Princípio da obrigatoriedade da avaliação prévia em obras potencialmente danosas ao meio ambiente: ‘A obrigatoriedade da avaliação prévia dos danos ambientais em obras públicas potencialmente danosas está disciplinado pelo art. 225 da CF/88, que obriga o Estudo de Impacto Ambiental e o seu respectivo relatório (EIA, RIMA).’
6.º) Princípio da reparabilidade do dano ambiental: ‘Este princípio vem estampado em vários dispositivos legais, iniciando-se pela CF/88, art. 225, § 3.°: “as condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, às sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados.”
O art. 4.°, VII, da Lei n.º 6.938/85, também obriga ao poluidor e ao predador a obrigação de recuperar e/ou indenizar os danos ambientais que ele eventualmente vier a causar.’
7.º) Princípio da informação: ‘As informações quanto ao empreendimento devem ser demonstradas, posto que a sua sonegação pode gerar danos irreparáveis à sociedade, na eventualidade de dano ao meio ambiente. Também, pelo EIA/RIMA, deverá ser dada a publicidade dos mesmos. ’
O art. 216, § 2.º, da CF/88, disciplina o patrimônio cultural. Traz, especificamente, que “cabem à administração pública, na forma da lei, a gestão da documentação governamental e as providências para franquear a sua consulta a quantos dela necessitem.”
Ademais, a Política Nacional do Meio Ambiente prevê a divulgação de dados e informações ambientais para a formação de consciência pública sobre a necessidade de preservação da qualidade ambiental e do equilíbrio ecológico, e no seu art. 4.°, V, e no art. 9.º, está garantida a prestação de informações relativas ao meio ambiente, obrigando-se ao Poder Público produzi-las, inclusive, quando inexistentes.
O Fundo Nacional do Meio Ambiente (FNMA), instituído pelo Decreto n.º 98.161, de 21/9/89, estipula, em seu art. 6.°, que é da competência do comitê que administra o fundo elaborar o relatório anual das atividades, promovendo sua divulgação. Assim, o EIA/RIMA de qualquer empreendimento potencialmente causador de impacto ambiental é de livre acesso público. E o conjunto de ações ambientais deve ser compilado pelo FNMA.
É rica a legislação quanto à obrigatoriedade da divulgação das informações sobre empreendimentos potencialmente causadores de danos ao meio ambiente. REIS48 faz uma extensa relação sobre esses dispositivos legais, a começar do Código de Defesa do Consumidor, Lei n.º 8.078/90, “que obriga a prestação de informações claras e precisas.”
Ele acrescenta: “A Política Nacional de Arquivos, Lei Federal 8.159, de 8/1/91, art. 22, assegura o direitoao acesso aos documentos públicos; a Lei de Biossegurança, Lei n.º 8.974/95, no art. 7.º, diz que os órgãos responsáveis pela fiscalização devem encaminhar para a publicação no ‘Diário Oficial da União’ o resultado dos processos e as conclusões dos pareceres técnicos; a Política Nacional de Recursos Hídricos, Lei n.º 9.433/97, no art. 5.°, tem como um de seus instrumentos o Sistema de Informações sobre os Recursos Hídricos; o Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro, Lei n.º 7.661/98, art. 8.º, determina que os dados e informações resultantes do monitoramento exercido devem integrar o Subsistema de Gerenciamento Costeiro, integrante do Sistema Nacional de Informação sobre o Meio Ambiente (Sinima); a Agenda 21, no capítulo 40, estabelece que o usuário e o provedor da informação devem melhorar a disponibilidade da informação; a Convenção sobre Diversidade Biológica, que tem a adesão do Brasil, por meio do Decreto n.º 2.519, de 16/3/98, no art. 17, prevê a obrigatoriedade do intercâmbio de informações, disponibilizando-as ao público; a Convenção Internacional de Combate à Desertificação, por intermédio do Decreto n.º 2.741, de 20/8/98, no art. 18, determina a divulgação da informação obtida nos trabalhos científicos.”
8.º) Princípio da fusão socioambiental da propriedade: ‘Segundo os arts. 5°, XXIII, 170, III, e 186, II, da CF/88, a propriedade tem seu uso condicionado ao bem-estar social e a uma função social e ambiental. Portanto, para o Direito Ambiental, o uso da propriedade deve ser concedido, se respeitada a sua função socioambiental.’
Isso equivale dizer que o proprietário da terra mão pode destiná-la a qualquer uso, indiscriminadamente, do ponto de vista ambiental, ou seja, não pode fazer uso dos recursos naturais sem uma avaliação prévia se a atividade causará danos ambientais e das medidas que deverá adotar, na eventualidade de sua ocorrência.
9.º) Princípio da compensação: ‘Não está expressamente previsto na legislação, mas existe devido à necessidade de se ter uma forma de reparação do dano ambiental, sobretudo quando este for irreversível. O art. 8.º da Política Nacional do Meio Ambiente dá ao Conama a competência para homologar acordos que visem à transformação de penalidades pecuniária na obrigação de executar medidas de proteção ambiental. Portanto, a ação de compensação do prejuízo deve ser ambiental.’
10.º) Princípio da responsabilidade: ‘As penas para as práticas de crimes ambientais estão nas esferas administrativa, penal e civil. A Lei n.º 9.605/98 trata dos crimes ambientais e a Política Nacional do Meio Ambiente, no art. 14, trata da responsabilidade objetiva do degradador. ’
11.º) Princípio da educação ambiental: ‘Diz o art. 225, § 1.°, VI da CF/88, que compete ao Poder Público promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente.’
12.º) Princípio da cooperação internacional: ‘Há a necessidade da cooperação internacional, haja vista que os fenômenos ambientais são transfronteiriços, o que está previsto no princípio 2 da Declaração do Rio sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio-92).’
13.º) Princípio da soberania dos Estados na política ambiental: Está previsto na Agenda 21: ‘As Agendas 21 estaduais e locais deveriam partir da Agenda Nacional, ou em sua elaboração ou em sua revisão. Isso garantiria maior sintonia e coesão às ações propostas pelos entes federativos e facilitaria seu acompanhamento e avaliação.’ Não quer dizer, no entanto, que, em face de suas características naturais e estrutura socioeconômica, os Estados sejam obrigados a seguir um padrão que não lhes convenha do ponto de vista da conservação e preservação ambientais em articulação com políticas públicas de desenvolvimento destinadas a melhorar a qualidade de vida de sua população.
“... A Agenda não se resume a um conjunto de políticas imediatas, de curto prazo. Ela deve introduzir, em relação às questões mais delicadas, compromissos graduais de médio ou de longos prazos, com tempo e condições para que as empresas e os agentes sociais se adaptem à nova realidade e sejam capazes de superar, paulatinamente, os obstáculos à sua execução” (MILARÉ, 2005; 84, apud Agenda 21 Brasileira - Ações prioritárias, p. 5).
Contudo, todos esses princípios norteiam a tutela do Direito Ambiental e, por conseguinte, fomentam a aplicação das normas legais por parte da administração pública, com instrumentos específicos, a exemplo do Estudo de Impacto Ambiental e do Relatório de Impacto Ambiental (EIA/RIMA), e da audiência pública, entre outros, nos empreendimentos que possam causar significativos impactos ambientais, com vistas à eficaz proteção ambiental.
Descrição do projeto empresarial e suas alternativas
Etapas de planejamento, construção e operação empresarial
Inicialmente, são feitas a delimitação e o diagnóstico ambiental da área de influência, para definir os limites da área geográfica a ser direta ou indiretamente afetada pelos impactos, denominada área de influência do projeto, considerando, em todos os casos, sem exceção, a bacia hidrográfica na qual se localiza.
Em seguida, faz-se a identificação, medição e valorização dos impactos, ou seja, calcula-se a magnitude e se procede à interpretação dos prováveis impactos relevantes, discriminando os impactos positivos e negativos (benéficos e adversos), diretos e indiretos, imediatos e no médios e longos prazos, temporários e permanentes, seu grau de reversibilidade, suas propriedades cumulativas e sinérgicas, e a distribuição de ônus e benefícios sociais.
A etapa seguinte do planejamento refere-se às medidas mitigadoras que serão capazes de diminuir o impacto negativo, sendo, portanto, importante que tenham caráter preventivo e ocorram nesta fase do empreendimento. Neste ponto, o Direito Ambiental assume projeção de relevo, em face das possibilidades que ele oferece ao empreendedor de proceder da forma mais econômica e consentânea como a norma legal na gestão do meio ambiente, de tal sorte que os processos de Licença Prévia, Licença de Implantação e Licença de Operação ocorram em conformidade com o cronograma previsto.
Também é necessário elaborar um programa de monitoramento dos impactos. Para tanto, deve-se preparar o Relatório de Impacto Ambiental (RIMA), que é o documento que apresenta os resultados dos estudos técnicos e científicos da Avaliação de Impacto Ambiental (AIA). O RIMA deve esclarecer todos os elementos da proposta em estudo, de modo que possam ser divulgados e apreciados pelos grupos sociais interessados e por todas as instituições envolvidas na tomada de decisão, nas quais se incluem as do Poder Público. O relatório refletirá, enfim, as conclusões do EIA e da AIA, com os seguintes itens:
a) objetivos e justificativas do projeto;
b) a descrição do projeto e suas alternativas tecnológicas e locacionais, especificando para cada um deles, nas fases de construção e operação a área de influência, as matérias-primas e mão-de-obra, as fontes de energia, os processos e técnicas operacionais, os prováveis efluentes, emissões, resíduos de energia, os empregos diretos e indiretos a serem gerados;
c) a síntese dos resultados dos estudos e do diagnóstico ambiental da área de influência do projeto;
d) a descrição dos prováveis impactos ambientais da implantação e operação da atividade, considerando o projeto, suas alternativas, os horizontes de tempo de incidência dos impactos e indicando os métodos, técnicas e critérios adotados para sua identificação, quantificação e interpretação;
e) a caracterização da qualidade ambiental futura da área de influência, comparando com as existentes;
f) diferentes situações da adoção do projeto e suas alternativas, bem como a hipótese de sua não realização;
g) a descrição do efeito esperado das medidas mitigadoras previstas em relação aos impactos negativos, mencionando aqueles que não puderem ser evitados e o grau de alteração esperado;
h) o programa de acompanhamento e monitoramento dos impactos;
i) recomendação quantoà alternativa mais favorável (conclusões);
Já o Plano de Controle Ambiental (PCA) reúne, em programas específicos, todas as ações e medidas minimizadoras, compensatórias e potencializadoras dos impactos ambientais prognosticados pelo EIA. É elaborado por equipe multidisciplinar composta por profissionais de diferentes áreas do conhecimento, conforme as medidas a serem implementadas.
Licenciamento ambiental
O licenciamento ambiental é o procedimento administrativo pelo qual o órgão ambiental competente licencia a localização, instalação, ampliação, modificação e operação de atividades e empreendimentos utilizadores de recursos ambientais considerados efetiva ou potencialmente poluidores ou daqueles que, sob qualquer forma, possam causar degradação ambiental, desde que verificado, em cada caso concreto, que foram preenchidos pelo empreendedor os requisitos legais exigidos. Ressalte-se que o Conama, pela Resolução n.º 237, de 19 de dezembro de 1997, definiu os empreendimentos e atividades que estão sujeitos ao licenciamento ambiental. Esse licenciamento será efetuado em um único nível de competência, repartindo-se harmonicamente as atribuições entre IBAMA, em nível federal, os órgãos ambientais estaduais e os órgãos ambientais municipais.
Em linhas gerais, ao IBAMA compete o licenciamento de empreendimentos e atividades com impacto ambiental de âmbito nacional ou que afete diretamente o território de dois ou mais Estados federados, considerados os exames técnicos procedidos pelos órgãos ambientais dos Estados e Municípios em que se localizar o empreendimento.
Aos órgãos ambientais municipais compete o licenciamento de empreendimentos e atividades de impacto local e dos que lhes forem delegados pelos Estados, por meio de instrumento legal ou convênio.
Compete aos órgãos ambientais estaduais ou do Distrito Federal o licenciamento ambiental dos empreendimentos e atividades cujos impactos diretos ultrapassem os limites territoriais de um ou mais municípios ou que estejam localizados em mais de um município, em unidades de conservação de domínio estadual ou em florestas e demais formas de vegetação natural de preservação permanente.
Além disso, pode haver delegação do IBAMA para os Estados, por instrumento legal ou convênio.
Sistema de Gestão Ambiental na Empresa
Na gestão empresarial, deve-se estar diuturnamente buscando atitudes e posturas ecologicamente corretas, para que, desde a idéia de se montar um empreendimento ou expandi-lo (LP e LI), ou até mesmo nos casos de renovações de licenças operacionais, se evitem que os projetos sejam procrastinados ou mais onerados pela demora, assim como tenham que adotar medidas corretivas, exponham-se a multas, suspensão da atividade e, caso extremo, tenham as suas licenças cassadas e, por conseguinte, o encerramento das atividades.
Dessa forma, os empreendedores estarão aplicando a eco eficiência, ou seja, suas empresas terão seus trabalhos direcionados a minimizar os impactos ambientais, devido ao uso reduzido de matérias-primas; produzindo mais, com menos consumo o que lhes dará vantagens competitivas, principalmente quando a empresa tiver que lidar com as regulamentações ambientais mais severas como o processo de licenciamento, nas audiências públicas com as pressões da comunidade por melhor desempenho ambiental, devido ao crescimento da consciência ambiental, além do progressivo aumento da demanda por produtos e serviços ambientalmente corretos, ao lado do atendimento dos padrões internacionais (ISOs, tratados e convenções). 84
Em 1992, no Brasil, mais precisamente no Rio de Janeiro, ocorreu a Rio-92, reunião da Confederação das Nações Unidas de Meio Ambiente e Desenvolvimento, que teve como proposta a criação de um grupo especial na ISO85 para elaborar normas sobre o meio ambiente.
Daí surgiu o comitê técnico ISO/TC207, de Gestão Ambiental, que elaborou as normas da série ISO 14000, destinada à integração clara entre os conceitos de qualidade e meio ambiente.
A ISO 14000 é dividida em normas voltadas para a avaliação do produto (rotulagem ambiental, ciclo de vida do produto e aspectos ambientais em normas de produtos) e normas voltadas para a avaliação da organização (sistema de gestão ambiental, desempenho ambiental e auditoria ambiental).
Organização não-governamental mundial, com sede em Genebra, Suíça, composta de organismos de normalização nacionais acerca de 140 países para promover o desenvolvimento da padronização e atividades relacionadas. No Brasil, a ISO é representada pela Associação Brasileira de normas Técnicas (ABNT).
 “ A postura gerencial das empresas com relação ao meio ambiente deve ser, inicialmente, a de cumprir as exigências legais, em seguida, promover a integração da função gerencial de controle ambiental ao processo produtivo e, como último estágio e resultante das iniciativas anteriores, obter um sistema de gestão ambiental implantado.
 “A implantação do SGA foi conquistada a partir de um criterioso trabalho de fortalecimento da consciência ambiental. O processo de certificação inclui auditorias internas e externas, com as quais a empresa pode verificar sua conformidade com a legislação ambiental e com a própria ISO 14001, através da adoção de políticas preservacionistas e ações de antipoluição.”88
Pode-se ver, com clareza, que o operador do Direito Ambiental deverá participar, ainda que indiretamente, de todas as etapas sinergéticas do SGA, inserindo-se, assim, em seu processo de gestão organizacional.
A implementação de um SGA apresenta inúmeras vantagens para empresa, quer em nível interno, quer externo, das quais, se destacam:
Melhoria Organizacional
Gestão ambiental sistematizada;
Integração da qualidade ambiental à gestão dos negócios da empresa;
Conscientização ambiental dos funcionários;
Relacionamento de parceria com a comunidade.
Minimização dos Custos
Eliminação dos desperdícios;
Conquista da conformidade ao menor custo;
Racionalização da alocação de recursos humanos, físicos e financeiros.
Minimização dos Riscos
Segurança legal;
Segurança das informações;
Minimização dos acidentes e passivos ambientais;
Minimização dos riscos dos produtos;
Identificação das vulnerabilidades.
Diferencial Competitivo
Melhoria da imagem da organização;
Aumento da produtividade;
Conquista de novos mercados;
Gestão ambiental sistematizada;
Integração da qualidade ambiental à gestão dos negócios da empresa;
Conscientização ambiental dos funcionários.
Sem dúvida, os resíduos encarecem o processo produtivo de uma empresa, haja vista que a mesma, muitas das vezes, deve dar a adequada destinação ao seu lixo. Assim, empresários querem “melhorar” seus respectivos parques industriais para otimizar o consumo de matérias primas, evitar desperdícios, diminuir resíduos e, por conseguinte, obter maior lucratividade. Por exemplo, a revista ISTOÉ publicou alguns produtos que têm sido destaque, mercadologicamente, por estar em consonância com o meio ambiente e com os ideais ambientais:
“A vez dos eco carros: agência americana elege os modelos mais ecológicos e Europa abre guerra aos poluentes
Conforto e potência já não são os primeiros requisitos na hora de adquirir um carro.
Hoje, a maioria dos compradores quer saber se a fábrica agride o meio ambiente, se o combustível utilizado é ecologicamente correto e se a emissão de gases está dentro dos limites da ética verde. Tanto é verdade que, em quatro anos, os veículos biocombustíveis (ou flex) viraram mania no Brasil e já correspondem por 77% das vendas, segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores... (Seção Comportamento - ISTOÉ/1951, de 21/03/2007, p. 66)
Roupas criam raízes: cientistas da Universidade de Nebraska, em Lincoln, estão desenvolvendo maneiras de produzir têxteis a partir de resíduos agrícolas, como palha de arroz, penas de frangos e palha de milho. Esses tecidos inovadores fazem parte de uma tendência à adoção de materiais sintéticos ecos sustentáveis...
Calças de bambu: o bambu cresce rapidamentee é resistente tanto a secas quanto a enchentes. Como o tecido é antimicrobial por natureza, torna-se apropriado para roupas de ginástica macias e que não têm cheiro...
Camisas de coco: ...camisas de poliéster reciclado reforçadas com carbono de coco, que absorve odorem. As camisas garantem proteção solar e absorvem a umidade em duas vezes menos tempo que o poliéster tradicional.
Roupas de milho: O ingeo é feito de milho - um tecido que não apenas é produzido a partir de um cultivo sustentável, como é biodegradável. A fibra já vem sendo usada em camisas de caminhada... E em peças de moda chique de grifes... (Seção Moda - das páginas da TIME - ISTOÉ/1951 - 21/03/2007, p. 100).”
“Preciclar é dar preferência a produtos que não agridem o meio ambiente. Ela ocorre quando se dá preferência a produtos que comprovadamente exibam cuidados com o meio ambiente: sabão biodegradável, papel reciclado, sprays sem CFCs e outros. Agindo dessa forma são estimuladas as indústrias que investem na evolução de seus produtos, tornando-os ambientalmente corretos, deixando nas prateleiras aqueles produtos das indústrias atrasadas, que ainda agridem o ambiente”.89 A criação de selos por parte do Poder Público, em parcerias com instituições de pesquisas, cria certificadoras ambientais, que atestam a qualidade e responsabilidade socioambiental dos bens e serviços engendrados pelas empresas. Por exemplo, os Selos de Origem Florestal (SOF) e de Origem Florestal para Exportação (Sofex), conforme ilustração, que estão em vigor desde 1.º de agosto de 2004. Fazem parte da estratégia do IEF para aperfeiçoar o controle sobre transporte de carvão empacotado, inibindo, assim, as falsificações de selos e coibindo o uso e transporte ilegal de produtos e subprodutos florestais.
“Os SOF para carvão de uso doméstico e o Sofex são fornecidos pela Associação Brasileira de Produtores de Eucalipto para uso Doméstico (ABEPD) aos empacotadores, com autorização do IEF, mediante prova de origem do carvão vegetal utilizado e o volume. É regulamentado pela Portaria 98, de 16 de julho de 2004.
Para obtenção do selo, são necessários os seguintes documentos: prova de registro junto ao IEF na categoria de comerciante/exportador ou produtor/empacotador e nota fiscal de origem, acompanhada de documento ambiental correspondente.
O número de selos por comerciante/empacotador será proporcional ao volume de carvão apresentado convertido em quilogramas para cálculo do número de embalagens a serem utilizadas observadas as seguintes proporções: Para carvão de origem nativa – 1 mdc = 230 kg; Para carvão de eucalipto – 1 mdc = 220 kg; Para carvão de pinus – 1 mdc = 160 kg. Poderão ser aceitas outras espécies ou parâmentos diferentes, mediante justificativa técnica assinada por profissional habilitado com recolhimento de ART.
A prestação de contas dos selos SOF e Sofex é feita trimestralmente, independentemente de terem sido utilizados ou não, mediante apresentação da comprovação das vendas por notas fiscais e o saldo de selos remanescentes em relação ao estoque existente, apresentados em relatório.”
Hoje, um empresário para se estabelecer e permanecer no mercado, de acordo com a Legislação Positiva Brasileira, deve adotar o Direito Ambiental em sua gestão e, ainda mais que, de certa forma, o empreendedor tem “arcado” também com parte do déficit financeiro do governo, posto que algumas exigências do Poder Público, como forma de “mitigar” e/ou, “compensar” a atuação, implantação ou modificação de seu empreendimento fica sob a égide da nascente cultura socioambiental brasileira. Por exemplo, o Shopping Diamond Mall, localizado na Avenida Olegário Maciel, no Bairro de Lourdes, BH/MG, para proceder a ampliação no seu prédio, teve que refazer toda a rede de drenagem pluvial.
Outro exemplo é do Extra Hipermercado, situado na BR-356, ao lado da concessionária de veículos GM-Jorlan. O Extra foi obrigado a construir uma trincheira de retorno na BR-356, além de alargar o viaduto sobre a BR-356, antiga BR-040. Na saída do hipermercado, os clientes têm a alternativa de retorno à BR- 356, por uma trincheira construída a um 1 Km do Extra, como medida mitigadora.
CONCLUSÃO
O Direito Ambiental não veio para acolher – não obstante o direito inalienável ao contraditório, à defesa ampla –, em sua rica legislação, aqueles que se acostumaram, por muito tempo, a desrespeitar o meio ambiente sem que nada lhes obstasse ou penalizasse.
No Brasil a proteção ao meio ambiente está rastreando todo um aparato normativo elaborado para colocar o País nos trilhos que levam à busca da sustentabilidade; do crescimento econômico com desenvolvimento; da atividade econômica respeitando a natureza e o homem em sua dignidade. 
A exigência legal da avaliação dos impactos ambientais dos empreendimentos potencialmente geradores de danos ao meio ambiente, como os elencados neste trabalho (por exemplo, mineradoras, postos de venda de combustíveis, siderúrgicas, shoppings, cemitério, fábricas de cimento, companhias hidrelétricas, entre outros), terminou por proporcionar benefícios para a população, de modo geral, e, especificamente, para os empregados da empresa e para as pessoas que vivem no seu entorno, conforme dispõe a legislação. Trata-se, aqui, da proteção que se deve dar ao ambiente, de forma ampla, incluindo-se, indispensavelmente, o do trabalho e o das áreas de influência dos empreendimentos. Assim, o Direito Ambiental deve ser utilizado como eficaz ferramenta preventiva, no processo de regularização e licenciamento do empreendimento, que pode passar, ainda, conforme a sua dimensão e potencialidade de impactar o meio ambiente, pelas Licenças de Instalação (LI) e de Operação (LO). Não há mais sentido, nos dias atuais, respeitando-se o princípio jurídico da prevalência da realidade, não fossem outros a se observar, um empreendimento obter a LO e, logo em seguida, ao desrespeitar as normas legais, afetando o meio ambiente, ter a licença cassada. Ou, então, submeter-se à obtenção da Licença de Operação Corretiva (LOC). Ademais, há, periodicamente, a renovação da LO, quando todas as normas impostas originalmente ao empreendimento serão revistas, com o fito de se verificar se foram cumpridas. Não só as normas, mas as eventuais medidas mitigadoras ou compensatórias, impostas pelo Poder Público, com o concurso da sociedade, que, praticamente, as definiu em Audiência Pública. Com isso, a legislação ambiental brasileira, presente no dia-a-dia das pessoas, ainda que somente aos poucos elas comecem a ter consciência desse processo que embute em sua essência a própria preservação humana, inseriu-se na gestão das organizações, de tal sorte que conselhos de administração, consultivos e fiscais, além de executivos de primeiro nível, assimilaram, rapidamente, a conveniência de o Direito Ambiental situar-se no patamar de gestão da empresa. Da empresa contemporânea, voltada não só para o que preconizavam os velhos manuais de administração, ainda hoje importantes do ponto de vista capitalista, embora também o capitalismo já tenha mudado a sua postura frente ao interesse e à valorização que a opinião pública conferiu às questões ambientais. Fala-se, agora, de crescimento sustentável, de desenvolvimento com promoção socioambiental. Fala-se de sustentabilidade. Fala-se no Direito Ambiental como instrumento de gestão da empresa contemporânea.
BIBLIOGRAFIA
http://www.mcampos.br/posgraduacao/Mestrado/dissertacoes/2011/licianefariaodireitoambientalinstrumentodegestaoempresacontemporanea.pdf 
http://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/5890/Responsabilidade-ambiental-das-empresas
http://www.editoraforum.com.br/loja/produtos_descricao.asp?lang=pt_BR&codigo_produto=327
http://www.advogado.adv.br/artigos/2005/alencarjoaodallagnol/responsabilidadeambiental.htm
http://www.advogadosvirtuais.com/direito-ambiental.html

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