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“BATMAN” E OS TRÊS NÍVEIS DE SELEÇÃO: FILOGENIA, ONTOGENIA E CULTURA

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“BATMAN” E OS TRÊS NÍVEIS DE SELEÇÃO: FILO-
GENIA, ONTOGENIA E CULTURA!!
Fábio Henrique Baia !1
Fesurv – Universidade de Rio Verde!
Universidade de Brasília !!
André Amaral Bravin!
Universidade Federal de Goiás – Campus Jataí!
Universidade de Brasília !!
Cláudio Herbert Nina e Silva!
Fesurv – Universidade de Rio Verde!
Aos 6 anos, Bruce Wayne (Gus Lewis) presencia o assassinato seguido de 
roubo de seus pais. Anos após o traumático evento o jovem Bruce Wayne (Christian 
Bale) abandona seus estudos universitários e retorna à sua cidade natal, Gotham 
City, para acompanhar o julgamento que concederá liberdade condicional a Joe Jill 
(Richard Brake), o assassino de seus pais. Acompanhado por sua amiga de infância 
�1
 E-mail: contato@fabiobaia.com.br 1
Título do Filme: Batman Begins!
Título Original: Batman Begins!
Ano: 2005!
Diretor: Christopher Nolan!
Produtor: Charles Rowen Emma e Thomas Larry Franco!
Lançado por: Warner Bros.
e par romântico Rachel Dawes (Kate Holmes), o jovem milionário presencia o as-
sassinato do homem que tirou a vida de seus pais. Rachel acompanha a saída de 
Bruce do julgamento. Bruce revela a Rachel que planejou matar Jill. Sua amiga se 
revolta e leva Bruce ao centro da miséria de Gotham. Rachel diz a Bruce que os 
verdadeiros culpados pelo assassinato dos pais de Bruce são os mafiosos que pro-
duzem “novos Jills” a cada dia. Bruce decide enfrentar o mafioso mais poderoso da 
cidade. Bruce se encontra com o mafioso Carmine Falcone (Tom Wilkinson), o man-
dante da morte de Jill. Os dois discutem e Falcone mostra a Bruce como todo o sis-
tema judiciário de Gotham é corrupto. Falcone diz a Bruce que ele nunca entenderá 
verdadeiramente um criminoso, por conseguinte, não será capaz de compreender 
o mundo do crime, pois é rico e famoso demais para poder compreender as 
razões de alguém se tornar criminoso. Após o encontro com Falcone, 
Bruce Wayne decide fugir de sua cidade deixando para trás a vida 
de milionário para compreender como um criminoso se comporta 
e quais são suas motivações. Anos depois, Bruce acorda em 
uma prisão na China após ter pesadelos com o dia em que 
caiu em uma caverna na propriedade de seus pais. Bruce 
briga na prisão e é levado para a solitária. Dentro da soli-
tária está um homem que se apresenta como Henri Du-
card que mais tarde descobriremos se tratar na verdade 
de Ra’s Al Ghul (Liam Neeson), líder da Liga das Som-
bras, organização que planeja a destruição de Gotham 
City, cidade que representa o crime e a decadência da 
humanidade. Pela lógica de Ra’s, a morte de milhares de 
habitantes de Gotham faria com que as pessoas de todo o 
mundo reconsiderassem seu modo de vida e estabeleces-
sem políticas contra a criminalidade. Sem saber dos planos 
de Ra’s, Bruce aceita o convite e é treinado. No teste final de 
treinamento Ra’s ordena a Bruce que execute um criminoso e o 
informa de seus planos para Gotham. Bruce se recusa a matar, di-
zendo que o que o diferencia do criminoso é justamente o fato de não 
ser um assassino. Bruce luta contra os membros da Liga das Sombras para 
salvar sua cidade natal e explode a base da organização. Sem saber que Ducard é 
na verdade Ra’s, Bruce o salva como gratidão por lhe treinar e o orientar em sua 
busca por vingança contra os criminosos.!
De volta a Gotham, Bruce é informado por seu mordomo Alfred Pennyworth 
(Michael Caine) que, por ter sumido por 7 anos, foi declarado como morto, tendo a 
empresa de seus pais sido dirigida por William Earle (Rutger Hauer), que pretende 
tornar a empresa pública, vendendo as ações que pertenciam a Bruce. Bruce tam-
bém descobre que Falcone domina a cidade e que sua amiga Rachel tenta fazer 
justiça – como auxiliar da promotoria de justiça – no caso que investiga o mafioso 
�2
Falcone. Bruce decide lutar contra o crime organizado da cidade e se alia a James 
Gordon (Gary Oldman), um sargento incorruptível da polícia local. Usando uma fan-
tasia inspirada em um morcego e equipamentos tecnológicos avançados fornecidos 
por Lucius Fox (Morgan Freeman), Bruce se torna Batman, um justiceiro que forne-
ce à policia e ao sistema judiciário condições para prender os criminosos de 
Gotham. Como Batman, Bruce intercepta um carregamento de drogas e consegue 
que Falcone seja preso. Na ação Batman descobre que apenas metade do carre-
gamento seria utilizado em vendas, o restante seria enviado a alguém do Narrows, 
um bairro do subúrbio de Gotham onde está localizado o Asilo Arkham, manicômio 
onde estão presos os maiores criminosos da cidade. Em sua investigação Batman 
descobre o envolvimento do Dr. Jonathan Crane (Cillian Murphy), um criminoso que 
usa a alcunha de Espantalho e utiliza um gás que insufla o medo nas pessoas.!
Batman e Espantalho lutam e, sob os efeitos de gases tóxicos, Batman é incendiado 
e precisa fugir recebendo ajuda de Alfred e Lucius, que preparam um antídoto para 
a droga.!
Bruce desperta dos efeitos da droga três dias após o embate com o Espanta-
lho. Já é aniversário de Bruce e, durante a festa de aniversário, Bruce descobre que 
Ra’s Al Ghul está vivo e que pretende destruir Gotham naquela noite. Bruce luta 
contra Ra’s, que vence a luta colocando fogo na mansão Wayne. Bruce consegue 
escapar e luta contra Ra’s que intoxicou todo o Narrows com a droga do medo do 
Espantalho. Batman vence a luta, e não salva Ra’s da morte, salvando a cidade de 
uma intoxicação generalizada que destruiria seus habitantes. Com o feito Batman é 
considerado herói pelos habitantes de Gotham. Nas ruínas da mansão, Bruce Way-
�3
ne conversa com Rachel dizendo que a ama, porém sua amiga informa que Gotham 
precisa mais do Batman do que ela precisa de Bruce. Assim Rachel informa a Bruce 
que quando a cidade não mais precisar de uma inspiração como Batman para com-
bater o crime ela será sua esposa. Na cena final, o sargento Gordon informa a Bat-
man que um louco fantasiado de palhaço está matando pessoas e praticando rou-
bos, deixando na cena do crime uma carta de baralho que representa o Coringa.!
Os eventos desse filme ocorrem 2 anos após o primeiro. A cena de abertura é 
um assalto a banco no qual o único bandido sobrevivente é o Coringa (Heath Led-
ger) que consegue fugir. Gordon (agora Tenente) e a detetive Ramirez (Monique 
Curnen) investigam o assalto. Batman chega ao cofre e pede a Gordon para apre-
ender todo o dinheiro que está sendo lavado pela máfia em bancos da cidade. Gor-
don diz que dependerá do promotor público Harvey Dent (Aaron Eckhart) para con-
seguir o mandato. Os chefes da máfia, preocupados com o andamento dos fatos, 
fazem uma reunião com seu contador Lau (Chin Han). Lau, em fuga para China, in-
forma aos mafiosos que tomou medidas preventivas para resguardar o dinheiro da 
máfia. A reunião é interrompida por Coringa que se oferece para matar Batman. A 
�4
Título do Filme: Batman - “O Cavaleiro das Trevas”!
Título Original: Batman - The Dark Knight!
Ano: 2008!
Diretor: Christopher Nolan!
Produtor: Charles Rowen Emma e Christopher Nolan!
Lançado por: Warner Bros.
operação de busca nos bancos é fracassada pelas precauções de Lau. Dent e Gor-
don discutem, e cada um culpa os confederados do outro de estarem ligados à má-
fia. Batman vai à China e consegue prender Lau, que colabora com a polícia e per-
mite a prisão de todos os chefes da máfia. O Coringa ameaça a população caso 
Batman não releve sua identidade civil. Bruce realiza uma festa para arrecadar fun-
dos para a campanha para eleger Dent como promotor público. Rachel (Maggie Gyl-
lenhaal), que é assistente e na-
morada de Harvey Dent, avisa 
a Bruce (pretendente a namo-
rado de Rachel) que não pode 
mais esperar por ele. O Corin-
ga invade a festa na tentativa 
de matar Dent. O Comissário 
Loeb (Colin McFarfalane) e a 
Juíza Surilo são mortos por 
atentados planejados pelo pa-
lhaço do crime. O Coringa 
ameaça aindamatar o prefeito 
Anthony Garcia (Nestor Camp-
bell) durante o enterro do co-
missário Loeb. Na homenagem 
a Loeb, o Coringa realiza um 
atentado atirando contra o pre-
feito. Gondon se coloca na fren-
te do prefeito, recebe os tiros e morre. Dent tortura um dos comparsas do Coringa 
para obter informações sobre o que o Coringa planeja para sua noiva Rachel. Bat-
man impede que Dent mate o criminoso e lhe diz que Dent é o cavaleiro branco de 
Gotham, o homem que pode inspirar os habitantes da cidade. Batman informa a 
Dent que irá se revelar para impedir mais mortes pelo Coringa. Dent realiza uma co-
letiva de imprensa e declara ser Batman e é preso. Na transferência para prisão, o 
Coringa tenta matar Dent, é impedido por Batman e é preso por Gordon – que, ao 
contrário do que todos pensavam, ainda estava vivo. Na cadeia o Coringa é tortura-
do por Batman, que deseja saber onde está Harvey Dent. Coringa informa que Dent 
e Rachel foram pegos por seus comparsas, estão em diferentes locais da cidade e 
que apenas um poderá ser salvo. Batman decide salvar Rachel, mas é levado ao 
local onde estava Dent e o salva, entretanto ele tem o rosto desfigurado por quei-
maduras. Rachel morre, mas antes diz a Dent em um telefonema que aceita casar-
se com ele. O Coringa foge da cadeia e leva Lau consigo. Em seguida, ele ameaça 
explodir um hospital se Coleman Reese (Joshua Hart), que diz saber quem é o 
Batman, não seja morto. Bruce salva Reese. O Coringa diz a Dent que não é culpa-
do pela morte de Rachel, e que os verdadeiros culpados seriam os policiais corrup-
�5
tos e o líder da máfia Salvatore Maroni (Eric Roberts). Dessa forma, convence Dent 
a se vingar da morte de Rachel. Dent aparece como o vilão Duas Caras e mata poli-
ciais corruptos e o mafioso Maroni. A morte de suas vítimas é decidida por uma mo-
eda jogada ao alto, no conhecido jogo cara ou coroa. Em outra de suas investidas, o 
Coringa explode o hospital e seqüestra um ônibus com 50 pacientes, ameaçando 
matar todos os habitantes de Gotham. Em duas balsas que estão no rio, uma com 
civis e outra com criminosos, foram colocadas bombas com um detonador, o Corin-
ga informa que o detonador explode a barca oposta, e caso ninguém acione o deto-
nador, ambas as barcas explodirão. Batman e Gordon localizam o Coringa. Batman 
luta contra o Coringa, ninguém detona os explosivos da barca oposta e o Coringa é 
preso. Nos escombros do prédio onde Rachel foi morta Dent ameaça a família de 
Gordon. Batman chega ao local, luta contra Dent, que acaba morto ao cair do pré-
dio. Batman diz a Gordon que ele deve culpá-lo pela morte de Dent para evitar que 
a imagem de Dent seja associada a de um assassino. Dent é considerado um már-
tir, recebe homenagens enquanto Batman é considerado um criminoso e é caçado 
pela polícia.!
! !
Personagens e Personalidade!!
A análise da personalidade de personagens ficcionais tem sido empregada 
com bons resultados para aperfeiçoar o aprendizado de teorias da personalidade 
(Weiten, 2009). Uma das principais vantagens da utilização de personagens famo-
sos da ficção seria a de tornar “o estudo das teorias da personalidade mais agradá-
vel e interessante para o aluno” (Mueller, 1985, p. 75). No entanto, devido à redução 
da freqüência do hábito da leitura, o uso de personagens literários por professores 
de Psicologia foi sendo substituído por personagens da televisão e do cinema como 
ilustração de estudos de caso de teorias da personalidade (Polyson, 1983). Em um 
estudo sobre a preferência de alunos de graduação de Psicologia por recursos didá-
ticos específicos, Carlson (2000) observou que a maioria dos participantes preferiu a 
discussão da personalidade de personagens de filmes de grande sucesso comercial 
em detrimento de outros recursos didáticos para o estudo de teorias da personali-
dade.!
Dessa forma, justifica-se o uso dos filmes “Batman Begins” e Batman: “O Ca-
valeiro das Trevas” para apresentar a perspectiva da Análise do Comportamento 
acerca da personalidade. Ambos os filmes ilustram a noção analítico-comportamen-
tal de que a personalidade é um conjunto de vários repertórios de comportamento 
adquiridos por uma pessoa ao longo de sua vida (Skinner, 1969/1980). Os filmes 
dispensam a referência a conflitos inconscientes e se concentram em mostrar como 
os resultados daquilo que as personagens fizeram ao longo de suas vidas tornaram-
nas aquilo que elas são atualmente. !
�6
Mas o que significa “ser” alguém? “Ser” significa fazer, comportar-se (Skinner, 
1989/1995). Então, “ser” o Batman ou o Coringa significa comportar-se de uma de-
terminada forma em alguns contextos específicos e não em outros. Tornar-se o 
Batman ou o Coringa não depende do “desejo” ou da “vontade”, mas sim da exposi-
ção do indivíduo à contingências ambientais peculiares.!
Dessa maneira, conhecer a personalidade de uma pessoa significa saber o 
que ela faz e conhecer os contextos responsáveis pelas ações dela (Skinner, 
1974/1993). Nesse sentido, pode-se entender a personalidade como sendo um con-
junto de comportamentos que o indivíduo desenvolveu a partir de suas experiências 
de interação com o ambiente (Linton, 1945). Aquilo que se chamará de “Eu” dora-
vante neste capítulo, portanto, resume-se “à pessoa, seu corpo e comportamentos 
em interações características com o meio, tomadas como objetos discriminativos de 
seu próprio comportamento verbal” (Keller & Schoenfeld, 1950/1974, p. 385).!
Em “Batman Begins”, a noção de personalidade em termos de comportamen-
tos e não de estruturas internas é ilustrada claramente na cena em que Bruce Way-
ne se comporta frivolamente em um restaurante na presença de uma atônita Ra-
chel. Na companhia de duas belas modelos, Wayne promove uma arruaça na fonte 
de um restaurante e, posteriormente, tenta se justificar a Rachel afirmando que ele 
não era apenas aquilo e que, por dentro, ele era muito mais. Rachel dá a ele uma 
resposta que sintetiza a proposta analítico-comportamental para o estudo da perso-
nalidade que será discutida a seguir: “Bruce, não é o que você é por dentro que im-
porta: é o que você faz que define você”.!
Batman e Bruce Wayne: Múltiplos “Eus” Coexistindo na Mesma Pele!
De acordo com a revisão de várias análises psicológicas sobre “O Cavaleiro 
das Trevas”, realizada por Lang (1990), a estória do Batman é apresentada como 
um exemplo de discussão sobre o “conflito inconsciente” entre personalidades opos-
tas. O debate é se a “verdadeira” personalidade de Bruce Wayne seria o Batman ou 
não. Contudo, sob a ótica analítico-comportamental, essa tentativa de estabelecer 
uma distinção entre as personalidades aparentemente contrastantes de Bruce Way-
ne e Batman perde a razão de existir. Afinal, muitos “eus”, entendidos como repertó-
rios de comportamento distintos (Skinner, 1974/1993), passaram a coexistir na 
mesma pele de Bruce Wayne ao longo de sua história de vida.!
A visão do senso comum considera a personalidade como algo que o indiví-
duo possua e não como algo que ele faça (Skinner, 1989/1995). Em virtude dessa 
noção de “posse”, acredita-se que, se a pessoa tem uma personalidade “extroverti-
da”, então ela deverá exibir comportamento extrovertido em todos os contextos. Por 
causa dessa noção equivocada de coerência transcontextual da personalidade, jul-
ga-se que Bruce Wayne e Batman são personalidades “conflitantes” e, portanto, mu-
tuamente excludentes (Lang, 1990).!
�7
Contudo, partindo-se do pressuposto de que contingências distintas estabe-
lecem pessoas distintas (Skinner, 1989/1995), pode-se afirmar que seria inadequa-
da a busca de coerência de “personalidade”. Na realidade, Bruce Wayne e Batman 
são diferentes “eus” em um único corpo físico. Cada um desses “eus” foi construído 
e se expressará em contextos específicos. O filho traumatizado, o milionário incon-
seqüente, o amigo leal, o inimigo brutal, o amante apaixonado,o justiceiro vingativo 
e o homem da lei são os múltiplos “eus” que se constituíram no complexo conjunto 
de repertórios de comportamento adquiridos por Bruce Wayne com o decorrer dos 
anos. !
É importante esclarecer que a noção de múltiplos “eus” é diferente do concei-
to de “personalidade múltipla”. Os “eus” correspondem a repertórios de comporta-
mento emitidos de acordo com as contingências em vigor destituídos de quaisquer 
rótulos de “normalidade” ou “patologia”. Por outro lado, o conceito de “personalidade 
múltipla” pressupõe uma hipotética “patologia”, o chamado Transtorno de Identidade 
Dissociativa, no transcurso do qual, após a ocorrência de um trauma psicológico, 
“personalidades-hóspedes” disputam o controle do comportamento do indivíduo com 
a “personalidade original” (Barlow & Durand, 2008). Portanto, a noção de “eus” diz 
�8
respeito às diversas interações de uma pessoa com contextos específicos, ao passo 
que a idéia de “personalidade múltipla” se reporta a estruturas internas fictícias em 
interação consigo mesmas. !
Com bastante precisão, o filme “Batman Begins” revela a aprendizagem dos 
diferentes repertórios de comportamento que, eventualmente, darão origem ao “eu” 
nomeado como Batman. O primeiro aspecto da vida de Bruce Wayne enfatizado 
pelo filme, ao contrário da visão defendida pela maioria das análises psicológicas 
sobre a personalidade do Batman, organizadas por Lang (1990), não foi o trauma do 
assassinato dos pais. Antes disso, o filme apresenta cenas que revelam que o com-
portamento do menino Bruce Wayne foi colocado sob o controle de regras estabele-
cidas por seu pai Thomas Wayne. !
Embora haja controvérsia sobre a definição de regra (Ribes-Iñesta, 2000; 
Schlinger & Blakely, 1987), o termo regra no presente trabalho está sendo utilizado 
com o significado de estímulo discriminativo verbal que especifica uma determinada 
contingência (Skinner, 1969/1980). Nesse sentido, as regras estabelecidas por 
Thomas Wayne delimitavam a amplitude dos comportamentos do jovem Bruce 
Wayne e, no futuro, do próprio Batman. Dentre as regras de Thomas Wayne, podem 
ser citadas: “Bruce, por que caímos? Para aprender a nos levantarmos”; “Devemos 
lutar pela justiça em Gotham”; “Todas as criaturas têm medo, especialmente as as-
sustadoras”; e “Não tenha medo”. !
O comportamento governado por regras tem uma peculiaridade: ele está re-
lacionado a duas contingências temporalmente distintas (Skinner, 1969/1980). A 
mais afastada no tempo aponta para a razão primordial de existência da regra. Já a 
mais próxima temporalmente reforça o próprio comportamento de seguir a regra. 
Dessa maneira, enquanto a contingência mais próxima incentiva o comportamento, 
a mais afastada fornece a justificativa para a ocorrência dele (Baum, 1994/1999). 
Por exemplo, no caso da regra “devemos lutar pela justiça em Gotham”, a justificati-
va é a busca da justiça, enquanto o reforço cotidiano que a mantém se encontra na 
erradicação progressiva do crime em Gotham por meio da prisão dos delinqüentes.!
Portanto, não é o evento traumático do homicídio dos pais que deve ser en-
carado como sendo a condição ambiental exclusiva para o surgimento do “eu” Bat-
man. Se parte significativa dos comportamentos do Batman foi modelada a partir da 
exposição direta a contingências durante e após o trauma do assassinato, tais como 
o período vivido entre os criminosos, a moral que caracteriza a ação do Batman 
pode ser entendida como comportamento governado por regras estabelecidas no 
contato com o médico humanitário Thomas Wayne antes do assassinato. Por outro 
lado, o “eu” Batman caracterizado pelo comportamento aguerrido, violento e militar-
mente eficiente do Batman foi modelado pelas contingências estabelecidas por Ra’s 
Al Ghul durante o treinamento de ninjitsu na Liga das Sombras. Quando Ducard/ 
Ra’s pergunta a Bruce Wayne porque ele procurou a Liga das Sombras, ele respon-
de que pretendia levar o medo àqueles que usavam o medo como arma contra os 
�9
inocentes. Ducard/ Ra’s replica que se Wayne desejasse usar o medo como arma, 
ele deveria primeiro aprender a lidar com o próprio medo. !
A partir daí, Ducard/Ra’s estabeleceu um ambiente para desenvolvimento do 
autoconhecimento. Esse também é um dos objetivos da psicoterapia, isto é, de de-
senvolvimento de autoconhecimento para Wayne. A psicoterapia pode ser entendida 
como um contexto no qual contingências são estabelecidas com o intuito de aumen-
tar a freqüência do comportamento de auto-observação (Skinner, 1989/1995). Du-
card/Ra’s modelou esse comportamento de automonitoração e de autodescrição de 
Wayne paralelamente ao treino ninjitsu. Essa medida tomada por Ra’s foi extrema-
mente importante para o estabelecimento do “eu” Batman, porque o eu somente 
pode ser conhecido através de auto-observação e de autoconhecimento modelados 
pela comunidade verbal na qual o indivíduo se insere (Skinner, 1989/1995). !
Todas essas variáveis na história de vida de Batman colaboraram para a 
construção de seu(s) “eu(s)”. Desse modo, observa-se que o filme “Batman Begins” 
ilustra de forma bastante clara a multideterminação do comportamento do Batman. 
De acordo com Skinner (1953), da mesma forma que uma causa única pode ter 
múltiplos e simultâneos efeitos sobre o comportamento de um organismo, um com-
portamento específico pode ser o resultado de múltiplas causas.!
O Coringa e a Tese do Dia Ruim!
Até antes do desfecho surpreendente de “O Cavaleiro das Trevas”, o espec-
tador é levado a crer que tudo aquilo que o Coringa fez no decorrer do filme foi ser 
um “agente do caos”, completamente anormal e inexplicável. Contudo, os compor-
tamentos-problema do Coringa foram estabelecidos a partir dos mesmos princípios 
gerais de aprendizagem responsáveis pelo desenvolvimento dos chamados compor-
tamentos normais (Lundin, 1969/1977).!
Em “A Piada Mortal” (Moore & Bolland, 1988), história em quadrinhos que 
inspirou parte do roteiro de “O Cavaleiro das Trevas”, o Coringa afirma que não exis-
�10
tem quaisquer diferenças tangíveis entre ele e qualquer outra pessoa, pois “só é 
preciso um dia ruim para reduzir o mais são dos homens a um lunático” (p. 45). Já 
no filme, vê-se o Coringa buscando demonstrar a sua tese do dia ruim. Para tanto, 
ele organizou contingências que visavam aumentar a frequência de comportamen-
tos-problema desempenhados por Harvey Dent e, com isso, desacreditá-lo diante 
da sociedade de Gotham como promotor. !
Além disso, o Coringa tenta modelar o comportamento do Batman e levá-lo a 
se comportar do mesmo modo que o próprio Coringa. O objetivo primordial do Co-
ringa em “O Cavaleiro das Trevas” não era matar o Batman (ele inclusive afirma a 
importância que Batman tem para sua existência, uma vez que isso lhe dá sentido à 
vida e que um depende do outro), mas sim provar a sua hipótese de qualquer pes-
soa pode vir a ser como ele, basta ser exposto às condições necessárias para tanto. 
Quando se depara com o Batman, o Coringa diz a ele: “Para eles [o povo de 
Gotham], você é só um louco”. !
A visão niilista e o comportamento brutal do Coringa foram, provavelmente, 
efeitos colaterais de contingências aversivas, mas o filme não revela isso de manei-
ra explícita como em A Piada Mortal. Nessa história, o Coringa é apresentado como 
um comediante fracassado, empobrecido e desempregado, cuja esposa grávida 
morre eletrocutada em um acidente doméstico (Moore & Bolland, 1988). No filme, 
apenas o fato de todas as várias versões para a origem do Coringa fazerem refe-
rência a uma vida de dissabores, permite inferir um histórico de comportamentos 
de esquiva de humilhação pessoal.!
O filme mostrou claramente como o “eu” cruel e impiedoso conhe-
cido como o Duas Caras foi o resultado direto da exposição de Harvey 
Dent a eventos aversivos pelo Coringa ao longo do filme. Ao libertar 
criminosos de alta periculosidadedo manicômio judiciário Asilo 
Arkham e iniciar uma brutal onda de terrorismo urbano, o Coringa 
estabeleceu contingências programadas para: (1) punir o comporta-
mento de seguir a lei emitidos por Harvey Dent; e (2) reforçar negati-
vamente o comportamento de transgressão da lei por parte dele. !
Por exemplo, o comportamento de Harvey Dent de seguir as 
normas legais de investigação criminal foi consequenciado pelo Corin-
ga com o assassinato de uma juíza e do comissário de polícia de 
Gotham. Por outro lado, quando essa campanha terrorista se aproximou 
do auge, com a tentativa quase bem-sucedida de assassinato do prefeito de 
Gotham e do suposto baleamento do Tenente Gordon durante os funerais do chefe 
de polícia de Gotham, vários comportamentos de infringir a lei, emitidos por Harvey 
Dent, como torturar um preso sob custódia policial, passaram a ser reforçados nega-
tivamente ao evitar, provisoriamente, a ocorrência de novos assassinatos. Por meio 
desse processo, o Coringa modelou o “eu” Duas Caras.!
�11
Em virtude disso, o Duas Caras passou a se enquadrar na categoria das pes-
soas que “desistem da sociedade” depois de passarem por eventos coercitivos ex-
tremos (Sidman, 1989/2003). E depois da ocorrência de dois eventos cruciais resul-
tantes da ação do Coringa, o assassinato de Rachel e a deformação irreversível por 
queimaduras do rosto de Dent, o “eu” Duas Caras passou a predominar em 
freqüência sobre o “eu” Harvey Dent, demonstrando que a tese do dia ruim do Co-
ringa faz sentido.!
É importante lembrar, entretanto, que as pessoas reagem aos eventos aver-
sivos de formas distintas por causa de sua história de vida (Sidman, 1989/2003). O 
Batman, o Coringa e o Duas Caras perderam entes queridos, fontes inestimáveis de 
reforçamento positivo, de forma trágica. Todos passaram a usar o medo como arma, 
a topografia de seus comportamentos apresentava grande similaridade. No entanto, 
retomando a noção de multideterminação do comportamento, os “eus” predominan-
tes no repertório de cada um desses personagens poderiam ser atribuídos uma sé-
rie de fatores, tais como a idade na qual os eventos aversivos cruciais ocorreram, o 
suporte financeiro, social e afetivo de que dispuseram, as desfigurações físicas pe-
las quais passaram e,, sobretudo, um fator que é bem ilustrado em ambos os filmes, 
as regras que controlaram os comportamentos de cada um dos três foram tão dís-
pares a ponto de fazer com que um se tornasse herói e, os outros, vilões. As regras 
de Thomas Wayne contribuíram para o comportamento justiceiro do Batman, afas-
tando-o da vingança e aproximando-o da justiça e de uma noção ética bem peculiar, 
como será discutido mais à frente neste capítulo.!!
Sentimentos, Emoções e Análise do Comportamento em “Bat-
man”!!
O medo é tema recorrente em ambos os filmes. Batman e Ra’s Al Ghul rela-
tam que imprimir medo nos inimigos é efetivo no controle dos comportamentos du-
rante o combate. Já os mafiosos e o Coringa dizem que o medo é o melhor caminho 
para atingirem suas ambições. A sociedade ocidental atribui ao medo uma função 
causal do comportamento. Para Rodrigo Pimentel, um comentarista de segurança 
da TV Globo, traficantes cariocas colocam fogo em automóveis para “causar” medo 
na população e, diante de tal sentimento os governantes atenuam o combate ao 
crime (Folha.com, 2010; Pimentel, 2010). Entretanto, Skinner (1989/1995) aponta 
que sentimentos e emoções não causam comportamentos. Sendo assim, resta 
questionar que papel as emoções e os sentimentos desempenham em relações 
comportamentais? Como definir emoções e sentimentos?!
Os termos emoções e sentimentos têm sido utilizados de maneira indiscrimi-
nada por analistas do comportamento. É possível distinguir entre os elementos defi-
nidores de tais termos. Emoções podem ser descritas, grosso modo, como respos-
tas reflexas, já sentimentos podem ser definidos genericamente como respostas 
�12
verbais a essas emoções. Assim, o medo pode ser descrito como emoção quando 
se destaca os estados fisiológicos como aceleração cardíaca, tremores e desconfor-
to abdominal. Já medo como sentimento é a emissão da resposta verbal “estou com 
medo” que descreve todos os estados corpóreos anteriormente descritos. Ou seja, 
medo como sentimento é um comportamento operante controlado por eventos refle-
xos antecedentes e por conseqüências liberadas por audiências treinadas (isto é, 
ouvintes).!
 O problema dessa definição é a criação de distinções nem sempre tão cla-
ras. O tremor das mãos e a aceleração cardíaca são reflexos que compõem a emo-
ção medo como a emoção paixão. Um jovem pode observar aceleração cardíaca e 
tremores na presença de seu pai que acaba de ser informado de um mal feito, nes-
se contexto ele pode dizer que teve a emoção de medo. Por outro lado, esse mes-
mo jovem em sua primeira experiência sexual pode ter as mesmas respostas (tre-
�13
mor e aceleração cardíaca) eliciadas pela namorada nua e descrever tais sensa-
ções como excitação ou paixão. Apesar das semelhanças das respostas fisiológicas 
o jovem provavelmente conseguiria descrever claramente os sentimentos que teve. 
Essa distinção é proveniente também da propensão a se engajar novamente em 
comportamentos relacionados aquelas sensações. Se a probabilidade de se engajar 
é baixa o jovem dirá ter sentido medo, por outro lado, se a probabilidade for alta dirá 
ter sentido paixão. Assim a definição de sentimentos e emoções revela interação 
entre eventos reflexos e operantes.!
Se o uso dos termos emoção e sentimentos têm sido realizado de maneira 
indiscriminada o mais correto seria utilizar um termo que não destaca apenas com-
ponentes reflexos ou operantes, mas sim interações entre esses eventos. Darwich e 
Tourinho (2005) propõem o uso do termo respostas emocionais, já que esse versa-
ria sobre a interação sem dar excessivo destaque a elementos reflexos ou operan-
tes. Reconhecer emoções e sentimentos como interações reflexos-operantes não 
significa atribuir qualquer papel causal na determinação do comportamento por es-
ses eventos. Pelo contrário, essa definição permite considerar que um mesmo estí-
mulo desempenha papel múltiplo na determinação de comportamentos. Por exem-
plo, vídeos de agressão a crianças podem funcionar como estímulos condicionados 
para eliciação de reflexos, ao mesmo tempo funcionarem como operações estabe-
lecedoras para emissão de comportamentos que tenham como consequências a 
remoção desses estímulos. !
Portanto, considerar emoções ou sentimentos como interações nos ajudam a 
prever comportamentos ao considerar os eventos ambientais que produzam essas 
interações, sendo possível compreender o papel desempenhado pelo ambiente na 
determinação de cada resposta em interação. A seguir será apresentado como es-
tímulos participam da determinação de reflexos e comportamentos operantes com 
destaque a suas funções e os processos de aprendizagens envolvidos. Com isso, 
será possível compreender a “função” do medo na trama dos filmes aqui analisados. !
Sentimentos Determinados por Condicionamento Reflexo!
Como dito anteriormente, respostas emocionais envolvem a compreensão de 
reflexos. Watson foi o primeiro behaviorista a se dedicar ao estudo das emoções 
dando destaque a interações reflexas. Para Watson as emoções são respostas cor-
póreas eliciadas (isto é, produzidas) por estímulos antecedentes. Na tentativa de 
compreender os determinantes dessas respostas Watson conduziu experimentos 
baseados na noção do condicionamento reflexo (Gehm & Carvalho Neto, 2010; Kel-
ler & Schoenfeld, 1950/1974).!
O princípio do condicionamento respondente foi primeiramente relatado em 
um discurso proferido por Pavlov (1903/2005) sendo depois melhor exposto pelo 
próprio autor em outros trabalhos (por exemplo, Pavlov, 1927/2005; 1934/2005). 
Nesses trabalhos Pavlov descreveu o processo no qual um estímulo neutro(NS) – 
�14
incapaz de produzir respostas dada sua apresentação – tornava-se um estímulo 
condicionado (CS). Note que a definição dos estímulos ocorre dependendo de (1) a 
eliciação de uma resposta e (2) a necessidade de treino para aquisição da função 
eliciadora da resposta. Estímulos que não dependem de treino para eliciar respostas 
são chamados de estímulos incondicionados (US) – já que nenhuma condição é ne-
cessária para que esse estímulo elicie respostas –, enquanto que estímulos que de-
pendem de treino para eliciar respostas são chamados de estímulos condicionados 
(CS). Já a respostas são diferenciadas em função do estímulo eliciador, assim res-
postas produzidas por US são classificadas como respostas incondicionadas (UR). 
Por outro lado, respostas produzidas por estímulos condicionados são chamadas de 
respostas condicionadas (CR) . !2
Pavlov (1934/2005) delineou um experimento para investigar o processo no 
qual um NS torna-se um CS em um contexto de estudo da salivação de um cão. 
Nesse estudo, inicialmente um som (NS) foi apresentado a um cão e não se obser-
vou nenhuma resposta de salivação em função da apresentação do estímulo. Na 
segunda fase, uma carne foi apresentada ao animal (colocada em sua boca) e ob-
servou-se que o cão salivava. Uma vez que a carne produziu uma resposta sem ne-
cessidade de treino classificou-se a carne como estímulo incondicionado (US), já a 
resposta de salivação eliciada pela carne foi classificada como resposta incondicio-
nada (UR). Na terceira fase carne (US) e som (NS) foram emparelhados (isto é, 
apresentados em conjunto), e foi observado que o cão continuava a salivar (UR). Na 
última fase apenas o som (CS) foi apresentado e observou-se que o cão salivava 
(CR) dada à apresentação exclusiva do som. Com este estudo demonstrou-se que o 
som tornou-se um estímulo condicionado em função do emparelhamento ao US. 
Nesse caso foram necessários alguns emparelhamentos para que o NS se tornasse 
CS.!
Rescorla (1988) avançou os trabalhos de Pavlov ao demonstrar que o condi-
cionamento reflexo não ocorre em função do emparelhamento de estímulos, mas 
sim por meio do estabelecimento de relações contingentes entre estímulos incondi-
cionados e estímulos neutros. A principal diferença entre as propostas de Pavlov 
(emparelhamento) e Rescorla (contingências) tange sobre como estímulos neutros 
(NS) tornam-se estímulos condicionados (isto é, estímulos antes neutros, mas que 
após processo de aprendizagem tornam-se capazes de eliciar respostas específi-
cas). Enquanto para Pavlov o condicionamento depende do pareamento, ou seja, 
apresentar o NS em conjunto com CS, para Rescorla a contingência é o elemento 
determinante.!
�15
 As siglas utilizadas são abreviações do inglês, como pode ser notado a seguir. Unconditioned sti2 -
mulus (estímulo incondicionado) – US; Unconditioned Response (resposta incondicionada) – UR; 
Neutral Stimulus (estímulo neutro) – NS; Conditioned Stimulus (estímulo condicionado) – CS; Condi-
tioned Response (resposta condicionada) – CR. 
Rescorla (1968) relata que contingência constitui as relações de probabilida-
de de ocorrência do CS na presença do US, contrastada com a probabilidade de 
ocorrência do CS na ausência do US. Portanto, enquanto o pareamento prevê como 
determinante apenas a probabilidade do CS ocorrer junto ao US, na proposta de 
contingência deve-se considerar também a probabilidade da ocorrência do CS na 
ausência do US. Rescorla delineou um experimento que permitiu verificar a precisão 
das previsões da teoria do emparelhamento de Pavlov e sua teoria da contingência.!
No Experimento 1 do trabalho de Rescor-
la (1968), ratos foram treinados a pressionar 
uma barra, recebendo comida como reforço. 
Após a modelagem foi realizada uma fase na 
qual vigorou um esquema VI 2 min. Depois de 
observada estabilidade no responder, os sujeitos 
foram divididos em três grupos (N=8) sendo ex-
postos à fase de condicionamento reflexo. O 
grupo R-1, recebeu choques (US) de maneira 
independente da apresentação de tom (CS), po-
rém, a probabilidade de ocorrência de um tom ou 
de um choque foram a mesma durante a sessão. 
Assim, foi possível que tons e choques tivessem 
probabilidade de ocorrer tanto ao mesmo tempo 
quanto em momentos distintos, ou seja, a pro-
babilidade de ocorrência em conjunto foi menor 
do que 1. O grupo G foi exposto à programação da relação choque-tom de modo 
que choques e tons sempre ocorressem em conjunto. Para tanto, foi utilizada a 
mesma programação do grupo R-1, porém, choques programados foram cancela-
dos caso a previsão de apresentação não atendesse ao critério de ocorrer em con-
junto ao tom. Assim, a probabilidade de ocorrência de choque e tom em conjunto foi 
de 1. Em função do cancelamento de choques, a quantidade de choques nesse 
grupo foi menor do que o grupo R-1. Para controlar esse problema, foi programado 
o grupo R-2, a programação foi similar ao grupo R-1, porém com a quantidade de 
choques recebidos pelos sujeitos do grupo G. Após a fase de condicionamento re-
flexo foi realizada a fase de teste. Tal fase consistia na apresentação do tom (CS) 
utilizado na fase anterior durante o esquema de reforçamento VI 2 min. A medida 
utilizada para averiguar o efeito de condicionamento reflexo foi a taxa de supressão 
de respostas na fase de teste comparada a quantidade de pressão a barra na fase 
pré-condicionamento reflexo. Ou seja, a mudança na freqüência de respostas de-
monstraria um efeito disruptivo do CS sobre o comportamento de pressionar a bar-
ra.!
É possível observar nos resultados que os grupos cuja probabilidade de ocor-
rência tom-choque foi menor (grupos R-1 e R-2) apresentaram menor taxa de su-
�16
pressão do que o grupo G cuja probabilidade de ocorrência de choque em conjunto 
ao tom foi de 1. Assim é possível afirmar que a probabilidade foi a determinante 
para o condicionamento reflexo e não o pareamento, já que nos grupos R-1 e R-2 
também houve pareamentos, entretanto, o tom não adquiriu o mesmo valor informa-
tivo (isto é, o poder de sinalizar a ocorrência do US) como no grupo G. !
A Flor Azul e a Droga de Dr. 
Crane (O Espantalho)!
! Antes de prosseguir com a 
análise comportamental do efeito 
da droga, urge tecer alguns comen-
tários acerca de uma possível 
abordagem integrativa entre os co-
nhecimentos analítico-comporta-
mentais e os achados de áreas or-
ganicistas. A abordagem biocom-
portamental (Donahoe, Burgos & 
Palmer, 1993; Donahoe & Palmer, 
1994) se baseia no referencial ana-
lítico-comportamental, contudo, 
contempla os achados das neuro-
ciências supondo que o conheci-
mento por elas produzido pode be-
neficiar a primeira ao prover “um 
modelo de conexões neurais capaz 
de conferir maior poder explicativo 
ao selecionismo skinneriano” (Ca-
valcante, 1997, p. 263). !
! A pedra angular a qual se 
apóia a abordagem biocomporta-
mental é a aceitação de que “o 
comportamento complexo pode ser 
entendido como o produto cumulativo de processos de reforçamento relativamente 
simples” (Donahoe e cols., 1993, p. 18) e que “argumentar a favor de uma integra-
ção da análise experimental do comportamento e da fisiologia de nenhum modo se 
sobrepõe à independência da análise do comportamento" (Donahoe e cols., 1993, 
p. 19).!
Como é sabido, o objeto de estudo analítico-comportamental são as intera-
ções organismo-ambiente (Skinner, 1953; Todorov, 2007). Na medida em que se 
está falando de comportamentos de organismos, suas condições biológicas são re-
quisitos para processos comportamentais ou, como descrito por Starling (2000), são 
�17
plataforma biológica para os comportamentos. Estes aspectos são constitutivos do 
comportamento, seja ele público ou privado (Starling, 2000; Tourinho, Teixeira & 
Maciel, 2000).!
Por assim ser, a abordagem biocomportamental supõe que o processo de se-
leção por conseqüênciastambém ocorre no nível orgânico, mais precisamente, no 
funcionamento do sistema nervoso central. Conforme descrito por Donahoe e Pal-
mer (1994): !!
(…) os efeitos seletivos dos ambientes ancestral e individual modificam essa biologia 
em termos de conexões entre neurônios. Algumas dessas mudanças são retidas; 
isto é, elas são aprendidas. Tais mudanças ocorridas nas conexões neurais perdu-
ram no sistema nervoso e [então], ambientes subseqüentes exercem seus efeitos 
seletivos sobre um organismo modificado (p. 23).!!
De fato os estudos de neuroimagem já têm demonstrado claramente que dife-
rentes histórias de interação (além das farmacológicas) alteram o funcionamento 
neural e promovem plasticidade cerebral (Brody e cols., 1998; Paquette e cols., 
2003; Straube, Glauer, Dilger, Mentzel & Miltner, 2006). As psicoterapias, como um 
exemplo de interação organismo-ambiente, promovem alterações na plataforma bio-
lógica; dito de outra maneira, a interação do organismo com o ambiente deixa “mar-
cas” no organismo (para o nosso propósito, no sistema nervoso central) e, como 
descrito por Donahoe e Palmer (1994), as contingências subseqüentes exercerão 
seus efeitos seletivos sobre um organismo modificado. Segundo Cavalcante (1997), 
a perspectiva biocomportamental esclarece que “uma vez que processos compor-
tamentais e fisiológicos subjacentes à ação tenham sido selecionados, eles podem 
servir àquelas atividades mais sutis designadas como ‘pensar’, ‘lembrar’, ‘imaginar’, 
etc.” (p. 270). !
Para a análise do comportamento, ambiente é definido como eventos do uni-
verso capazes de afetar o organismo, e parte desse universo são as condições aná-
tomo-fisiológicas, o mundo sob a pele (Skinner, 1953). Para tanto, salienta-se que: 
(a) um conjunto de eventos ambientais (internos ou externos ao organismo) torna-se 
ambiente quando se faz diferenciado para ele a partir de suas interações com con-
tingências de reforçamento, que lhe são externas; e (b) do ambiente, é dito que afe-
ta o organismo como um todo, e não partes do mesmo (Tourinho e cols., 2000).!
A discussão central é que para o comportamento tornar-se um operante dis-
criminado, o processo de diferenciação do ambiente interno (fisiológico) é idêntico 
ao processo de diferenciação do ambiente externo (físico) do organismo (Tourinho e 
cols., 2000). Tal qual posto pelos autores: !!
(…) universo interno e universo externo são condições para a ocorrência de proces-
sos discriminativos de suas partes, mas não definem o fenômeno comportamental 
propriamente dito. Partes do universo tornam-se partes do ambiente de um organis-
�18
mo quando passam a controlar diferencialmente suas respostas (antes disso, são 
parcelas do universo indiferenciadas para o organismo) (Tourinho e cols., 2000, p. 
426).!!
Parafraseando (Skinner, 1963/1969), sentimentos como a alucinação, medo 
ou pânico, por exemplo, enquanto fenômeno comportamental (isto é, enquanto rela-
ção), não são identificados com nenhuma alteração fisiológica específica, embora 
tal alteração possa ser constitutiva de uma relação à qual se denomina alucinação, 
medo ou pânico. Estímulos alucinatórios de medo ou pânico, não são a mesma coi-
sa que a experiência de alucinação, medo ou pânico. Conforme sumariza Tourinho e 
cols. (2000): !!
(…) no que diz respeito ao ‘ato de sentir’, ou ao sentimento enquanto relação com-
portamental, pode-se estar falando de respostas discriminativas de condições públi-
cas ou privadas; pode-se sentir a aspereza de uma pedra (estímulo/propriedade de 
um evento público), ou a contração de um músculo (estímulo/propriedade de um 
evento privado). É freqüente a confusão entre ‘ato de sentir’ e ‘coisa sentida’, quan-
do o sentimento envolve a discriminação de estímulos privados. Neste caso, a coisa 
sentida é uma condição corporal, produto colateral da história ambiental do indivíduo 
(Skinner, 1985 ) e sua especificação pertence ao campo da anatomia e da fisiologia 3
(Skinner, 1974 ). A uma ciência do comportamento cumpre explicar os processos 4
através dos quais respostas discriminativas de condições corporais tornam-se pos-
síveis (p. 427).!!
Na trama, Dr. Jonathan Crane (o Espantalho) utiliza um gás que desencadeia 
o medo/pânico e alucinações em suas vítimas. Esta estratégia beligerante garante o 
sucesso do criminoso que, com 
seus alvos nestas condições, 
têm maior chance de êxito para 
realizar roubos e/ou assassina-
tos. Tal é o potencial bélico da 
substância que Ra’s Al Ghul, 
para colocar em prática o plano 
de destruir Gotham, contamina a 
água da cidade com a droga a 
fim de estabelecer uma intoxica-
ção generalizada.!
! Presume-se que por sua 
�19
 Skinner, B. F. (1985). Cognitive Science and Behaviorism. British Journal of Psychology, 76, 3
291-301.
 Skinner, B. F. (1974). About behaviorism. New York: Alfred A. Knopf.4
formação em medicina com expertise em psiquiatria e especialização em psicofar-
macologia, Dr. Crane conheça a neurobiologia do medo, pânico e alucinação, isto é, 
a plataforma biológica que dá sustentação a estes comportamentos. Ele utiliza isso 
a seu favor. Enquanto estímulo eliciador, a droga é uma substância ativa no orga-
nismo humano, capaz de interagir com a plataforma biológica e eliciar responden-
tes. A depender das condições de treino para um operante discriminado (inclusive 
frente a esta alteração fisiológica), os comportamentos da pessoa podem ser descri-
tos pela comunidade verbal, e pela pessoa em questão, como “medo” ou 
“pânico” (Darwich & Tourinho, 2005; Tourinho e cols., 2000), exercer a função de es-
tímulos, e controlar outras respostas do organismo. Adicionado a isso as pessoas 
contaminadas apresentam alucinações e delírios, isto é, veem coisas na ausência 
da coisa vista, e sentem-se perseguidas ou ameaçadas pelas alucinações ou pelos 
outros elementos realmente presentes no ambiente (Skinner, 1974/1993).!
! Neste ponto de vista, trata-se de uma interação respondente-operante. Con-
forme explicado por Darwich e Tourinho (2005), !!
(…) respostas emocionais são apresentadas como fenômenos complexos que en-
volvem tanto a eliciação de condições corporais específicas quanto a emissão de 
operantes. Assim, a definição ou nomeação de uma resposta emocional advém da 
discriminação verbal das condições corporais presentes no momento e da relação 
de contingência entre a presença de tais estímulos (públicos e privados) e a emissão 
de operantes anteriormente selecionados (...). Considera-se, pois, que alterações 
que caracterizam respostas emocionais possuem também uma relação com a histó-
ria de reforçamento que permite a um indivíduo responder verbalmente ou não ver-
balmente sob controle discriminativo de alterações em suas condições corporais. (p. 
112).!!
Tal como ocorre de o alimento ser um estímulo incondicionado (US) para a 
resposta fisiológica de salivar, uma droga pode ser um US para respondentes os 
quais compõem comportamentos que a comunidade verbal ensina-nos a chamar de 
medo/pânico, alucinações e delírios (cabe lembrar que outros estímulos, exterocep-
tivos, por exemplo, também fazem parte destas relações). A neurobiologia tem 
apontado uma imbricada arquitetura neural relacionada às respostas típicas de 
medo/pânico, que foram filogeneticamente selecionadas em nossa espécie (Andrea-
tini e cols., 2001; Blanchard e cols., 2001; Graeff, 2003, 2007; Graeff & Brandão, 
1999; Mezzasalma e cols., 2004; Shuhama, Del-Ben, Loureiro & Graeff, 2007). Ao 
mesmo tempo a disciplina tem discorrido sobre o funcionamento de estruturas rela-
cionadas a comportamentos ditos delirantes ou de alucinação (Graeff & Brandão, 
1999) e algumas destas estruturas são plataforma biológica para ambas as classes 
de respostas. O pressuposto de Donahoe e seu grupo (1993, 1994) é que as intera-
ções organismo-ambiente no que tange ao aprendizado de contingências aversivas, 
�20
dentreoutras, selecionarão circuitos neurais relativos à plataforma biológica supraci-
tada.!
Assim, a droga do espantalho pode eliciar respondentes que, em composição 
com as estimulações exteroceptivas, são descritos pela comunidade verbal como 
sendo típicos de medo/pânico. E ao mesmo tempo esses eventos podem exercer a 
função de estímulos e predispor a ocorrência de alucinações e delírios, ou ainda ou-
tros comportamentos, tal como nos diagnósticos de psicoses tóxicas. Em termos 
comportamentais, como sumarizado por Darwich e Tourinho (2005):!!
(…) alterações nas condições corporais podem adquirir função de estímulo discrimi-
nativo, como quando sinalizam a ocasião para uma nomeação apropriada do que 
está sendo sentido e quando sinalizam que se está diante de uma alta (ou baixa) 
probabilidade de emitir resposta que será reforçada [...]. Estímulos discriminativos 
não causam operantes. Independentemente de quais conseqüências a discrimina-
ção de alterações em condições corporais sinalize, a emissão de operantes depende 
das conseqüências passadas de respostas da mesma classe em situações seme-
lhantes (p. 117).!
!
Portanto, embora a droga possa predispor a ocorrência de comportamentos 
ditos de pânico e alucinações, a maneira de expressar o pânico e o conteúdo das 
alucinações e delírios, dependerá da ontogênese, isto é, da história de vida de cada 
organismo. Tomemos o próprio Batman como exemplo. Enquanto criança Bruce 
�21
caiu no poço e a estimulação dolorosa (US) fora emparelhada com os morcegos 
(estímulos neutros – NS) que de lá saíram. A aprendizagem ocorrera e uma genera-
lização respondente se deu quando este estava no teatro e viu atores vestidos tal 
qual morcegos (estímulos condicionados – CS), simulando seu vôo. Ao sair do tea-
tro sob efeito dos respondentes condicionados, Bruce é exposto a uma nova situa-
ção aversiva: a morte de seus pais. Este evento sugere um novo emparelhamento 
(condicionamento de ordem superior), o qual fortalece a função eliciadora do CS em 
questão – figura de morcego.!
As interações de Bruce certamente alteraram o comportamento do organismo 
como um todo, e no recorte de Donahoe e seu grupo (1993, 1994), alteraram o fun-
cionamento da plataforma biológica relativa à aprendizagem de “medo” e “pânico”. A 
primeira exposição de Bruce à droga, enquanto estava sendo treinado por Ra’s Al 
Ghul, foi seguida de alucinações e delírios de seu objeto fóbico: morcegos. Após es-
tes eventos, Bruce volta a Gotham e decide tornar-se Batman. Neste meio tempo o 
filme demonstra interações que poderiam ser “confundidas” com técnicas compor-
tamentais como a inundação/implosão (por exemplo, ao entrar na caverna e por lá 
permanecer mesmo tendo morcegos voando a seu redor, ao mesmo tempo em que 
novos emparelhamentos não ocorreram) e o contracondicionamento (por exemplo 
quando o já herói Batman executa seus feitos e deixa sua marca, a silhueta de um 
morcego). Em resumo, neste período um novo tipo de interação entre Bruce e seu 
objeto fóbico ocorrem. A segunda vez que ele é contaminado com a droga, desta 
vez uma dose maior administrada pelo Espantalho, ele volta a ter alterações percep-
tuais. Contudo neste momento não ocorre a manifestação de alucinações e delírios 
com seu objeto fóbico, haja vista que neste ínterim ocorrera uma nova história de 
interação com este objeto, o que alterou a plataforma biológica e a maneira deste 
expressar seus comportamentos de “medo”, “pânico” e “alucinações”. Embora não 
tenham ocorrido alucinações com o objeto fóbico, propriamente dizendo, Batman 
experienciou uma “deformação” da realidade, mais próximo de um efeito descrito 
pela literatura psiquiátrica como psicodelia.!
Em suma, estas evidências demonstram que a ontogênese altera o substrato 
neural que dá suporte à manifestação dos comportamentos (condicionamentos 
aversivos, no presente caso), e que a estimulação deste substrato afeta o compor-
tamento dos organismos em função de suas histórias de interação (os conteúdos de 
uma alucinação provavelmente serão aqueles relativos às histórias de aprendiza-
gem aversiva). Novas interações com as contingências de reforçamento (inundação/
implosão, contracondicionamento, no caso do Batman) alteram novamente a plata-
forma biológica, e a estimulação deste substrato afetará o comportamento do orga-
nismo de maneira diferencial ao que ocorrera da primeira vez. !
Outro exemplo é quando Rachel vê a máscara do Espantalho e, sob efeito da 
substância, vê uma série de vermes saindo, sobretudo, dos orifícios da máscara. 
Provavelmente Rachel possui em sua história de aprendizagem, alguma aversão a 
�22
insetos. Daí, a estimulação predispõe a ocorrência de delírios e alucinações relati-
vos a insetos, e não a flores ou morcegos, por exemplo.!
Em resumo, contingências de reforçamento (Skinner, 1953) e contingências 
de emparelhamento de estímulos (Rescorla, 1968) selecionam tanto comportamen-
tos públicos como respostas encobertas. Segundo Darwich e Tourinho (2005), o 
modelo selecionista skinneriano “viabiliza a compreensão de alteração de respostas 
emocionais a partir da manipulação de contingências operantes” (p. 117). Estas res-
postas emocionais são acompanhadas de um substrato orgânico, o qual também 
sofre efeito das contingências seletivas (Donahoe e cols., 1993; Donahoe & Palmer, 
1994). Alterações na história de vida do organismo afetam o funcionamento do 
substrato orgânico e, em contrapartida, sua estimulação não mais predisporá os 
comportamentos como acontecera outrora. Conforme o aforismo de Heráclito de 
Éfeso já apontara, ninguém se banha no rio duas vezes porque tudo muda no rio e 
em quem se banha (Souza & Kuhnen, 1999). Se as contingências seletivas forem 
distintas (isto é, se o rio for diferente), as alterações do organismo, como um todo, 
ocorrerão (isto é, o homem que se banha não será o mesmo).!!
“Batman”: Ética, Moral e Justiça!
Uma Breve Introdução à Teoria Moral de Skinner!
A ética é assunto inevitável em qualquer discussão sobre os comportamentos 
de Batman. Há trabalhos na filosofia que versam exclusivamente sobre esse ponto 
(por exemplo, DiGiovanna, 2008; Kershnar, 2008; White, 2008). Para responder a 
questão na ótica behaviorista radical é preciso primeiramente compreender concei-
tos mais básicos tais como comportamento operante, comportamento social, bens 
pessoais e bens dos outros. !
O comportamento operante é aquele cujas respostas produzem conseqüên-
cias que alteram a probabilidade de respostas parecidas voltarem a ocorrer. Tais 
consequências podem ser reforçadoras – quando aumentam ou mantém a probabi-
lidade – ou punitivas – quando diminuem a probabilidade de o comportamento ocor-
rer novamente (Skinner, 1953). Na prisão na China Bruce luta contra outros presos, 
o comportamento de brigar é mantido por eventos reforçadores como criminosos 
machucados gritando de dor. Muitos dos reforçadores que controlam o comporta-
mento operante são liberados por outros membros de mesma espécie (Guerin, 
1994). Classifica-se essa situação como comportamento social, isto é quando res-
postas de um organismo não produzem diretamente conseqüências, estas são me5 -
diadas por comportamentos (isto é, ocasiões, respostas e conseqüências) emitidos 
por outro organismo. Portanto, a noção de comportamento social exige a relação 
�23
 O termo diretamente é utilizado em comparação com respostas emitidas em ambiente mecânico – 5
termo utilizado por Skinner (1953, p. 299) – no qual as conseqüências são produzidas sem a neces-
sidade do envolvimento de outro organismo.
entre eventos ambientais e eventos comportamentais na qual outro organismo (que 
não o emissor da resposta) seja necessário para produção de conseqüências (An-
dery, Micheletto & Sério, 2005).!
Um organismo pode então emitir respostas que produzem consequências 
que aumentam a probabilidade de seu comportamentovoltar a ocorrer, ou liberar 
reforços para comportamentos de outros organismos. Por exemplo, Jill ao matar o 
Sr. e a Sra. Wayne produziu como conseqüência para seu comportamento os per-
tences das vítimas como dinheiro e jóias. Dittrich e Abib (2004) relatam que o com-
portamento ético é definido do ponto de vista analítico-comportamental como a inte-
ração entre os três tipos de bens (i.e., bem pessoal, bem dos outros e bem cultural). 
Quando a conseqüência produzida é um reforçador positivo para o comportamento 
de quem emite a resposta, considera-se esse evento reforçador como bem pessoal 
(Dittrich, 2003). Por outro lado, bens dos outros, define situações nas quais a res-
posta emitida por um organismo produz consequências reforçadoras positivas para 
o comportamento de outro organismo ou quando um organismo produz reforçadores 
negativos para outrem (Dittrich & Abib, 2004). Batman ao prender o mafioso Falcone 
produziu consequências reforça-
doras positivas para o comporta-
mento de investigar de Gordon. O 
detetive tentava sem sucesso 
prender o mafioso utilizando mé-
todos legais, isto é, sem apelar 
para corrupção ou qualquer outro 
tipo de procedimento não aceito 
pelas leis. Batman captura o ma-
fioso Falcone e entrega a Gor-
don, reforçando positivamente o comportamento do detetive de se manter na lei e 
buscar a ordem na cidade. Essa situação caracteriza a produção de bem dos ou-
tros. Porém, como alerta Abib (2001) mesmo quando um organismo produz bens 
dos outros, o seu comportamento é de alguma maneira reforçado, afinal trata-se de 
um comportamento operante. A condenação de Falcone à cadeia foi o evento refor-
çador que manteve o comportamento de prender criminosos de Batman. Portanto, 
mesmo ao produzir bem dos outros o organismo de certa forma produz bem pesso-
al. !
Há ainda um terceiro tipo de bem, o bem das culturas. Cultura pode ser defi-
nida, grosso modo, como a manutenção do ambiente social. Para Skinner 
(1971/1977), o bem cultural é definido como conseqüências de práticas culturais 
que aumentam a sobrevivência da cultura, isto é, são consequências que produzem 
o aumento da probabilidade de manutenção desse ambiente social (Dittrich & Abib, 
2004). O uso sustentável – isto é, o consumo de modo a permitir a renovação dos 
recursos – dos recursos naturais é um exemplo de bem cultural, isso porque novas 
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gerações poderão usufruir desses recursos. Por outro lado, o uso excessivo conduz 
culturas a desaparecerem, uma vez que, sem recursos seus membros morrem ou 
abandonam aquele ambiente social. Foi o que ocorreu, segundo Diamond (2005), 
aos habitantes da ilha de Páscoa . Para transportar e erguer suas famosas estátuas 6
gigantes, os membros daquela cultura precisavam cortar árvores. O desmatamento 
das árvores levou o ecossistema local ao colapso, sem árvores o pasto e os vege-
tais não se protegiam do sol, e sem pasto, os animais (fonte de proteína) morreram. 
Sem vegetais, a alimentação tornou-se inviável, por fim toda a sociedade pereceu. !
Diferentemente do que ocorre com o bem dos outros, o bem da cultura não 
produz consequências reforçadoras para quem o produz, uma vez, que por defini-
ção a conseqüência produzida é a manutenção da prática cultural. Além disso, as 
conseqüências produzidas como bem da cultura ocorrem em longo prazo e, muitas 
vezes, o atraso da conseqüência é maior que o tempo de vida do organismo que 
emite o comportamento responsável pelo bem da cultura. Assim, o comportamento 
de produzir bem para a cultura encontra grande obstáculo, afinal como já frisado, 
produzir bens é um comportamento operante, portanto, dependente de suas con-
sequências. Para Skinner (1971/1977), cabe a cultura ensinar seus membros a se 
comportarem de modo a produzir bens para cultura, pois caso contrário, a cultura 
perecerá.!
Para Horta (2004), um indivíduo só irá se engajar em práticas culturais que 
produzam o bem da cultura, se o ambiente social criar situações nas quais o bem 
dos outros e o bem da cultura estejam relacionados a bens pessoais. Alguns cami-
nhos podem ser seguidos para que a cultura ensine seus membros a emitir compor-
tamentos que produzam bens para a cultura, por exemplo, por treinos de autocon-
trole, seguimento de regras e agências de controle que criem ambientes que contro-
lem o comportamento do organismo. !
O autocontrole é caracterizado por uma situação quando uma resposta cha-
mada de resposta controladora produz mudanças ambientais determinantes de 
comportamentos subseqüentes (Skinner, 1953; Todorov & Hanna, 2005). Os estu-
dos sobre autocontrole têm demonstrado como os comportamentos tendem a ficar 
mais sob controle de consequências imediatas do que de consequências atrasadas, 
isto é, quando a passagem de tempo entre o fim da resposta e o início da con-
sequência é maior em relação a outras opções, o indivíduo tende a preferir a opção 
cuja relação entre resposta e conseqüência apresente menor distância temporal 
(por exemplo, Chung & Hernstein, 1967). A suscetibilidade a reforços imediatos se 
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 A ilha de Páscoa foi habitada por volta de 1.200 d.C. a 1.500 d.C. pelo povo Rapanui que construía 6
estátuas de pedra com cerca de 5 toneladas. Essas gigantescas estátuas são chamadas de Moai, 
que segundo se acredita, representavam os primeiros habitantes da ilha mortos durante a coloniza-
ção do arquipélago. As estátuas sempre ficavam de costas para o mar (possivelmente para enfatizar 
a colonização das ilhas). Para transportar os Moais do interior da ilha até a costa foi necessária a 
derrubada de árvores para o transporte. Acredita-se que grandes toras foram usadas como roldanas 
para o transporte dos Moais.
explica nas palavras de Abib (2001) por que “na história filogenética as conseqüên-
cias imediatas do comportamento tiveram maior valor de sobrevivência do que con-
seqüências atrasadas ou proteladas” (p. 109). É tarefa dos membros da cultura criar 
contingências sociais que promovam o controle do comportamento por consequên-
cias mais atrasadas. O treino de autocontrole envolve fazer com que o organismo 
entre em contato com reforçadores atrasados que possuem maior magnitude – mai-
or quantidade – ou de diferentes qualidades – tipos diferentes de reforços, como 
doce versus salgado – para que esses reforços (ainda que atrasados) possam exer-
cer controle sobre o responder. É por meio de treinos como esse que indivíduos 
passaram a ter seus comportamentos controlados não apenas por bens pessoais, 
mas também por bens dos outros ou bens da cultura (Dittrich, 2003). !
Nos dois filmes Bruce precisa fazer uma escolha: abandonar o capuz de 
Batman que produzirá um bem pessoal – casamento com Rachel – ou permanecer 
como Batman e produzir o bem dos outros e o bem cultural – diminuição da crimina-
lidade. Nesse sentido, Batman emite comportamentos que podem ser classificados 
como autocontrolados. Mas qual seria a resposta controladora (isto é, a resposta 
que modifica o ambiente de modo a controlar comportamentos subseqüentes)? Fica 
claro nos episódios que Bruce não procura por Rachel, não se observa ligações, 
convites ou tentativas de se aproximar de sua amada. A única vez que Bruce procu-
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ra por Rachel é ao retornar a Gotham, após 7 anos desaparecido, e mesmo assim, 
ele se disfarça e apenas a observa de longe. Após assumir o manto de Batman, não 
se observa mais esse comportamento. Evitar contatos com Rachel faz com que não 
sejam eliciados respondentes em Bruce, que como será discutido depois, podem 
funcionar como ocasião para abandonar o capuz. Ou seja, ao não procurar por Ra-
chel, Bruce se esquiva da produção de respondentes, o que por seu turno diminui a 
probabilidade de escolher a situação que produz exclusivamente o bem pessoal. O 
treino de autocontrole fará com que o organismo se torne mais sensível a reforços a 
longo prazo, aumentando assim a chance de que o bemdos outros e o bem da cul-
tura controlem o comportamento do membro da sociedade. !
Outra maneira de fazer com que membros emitam comportamentos que pro-
duzam o bem da cultura – vale lembrar que este é um tipo específico de bem dos 
outros, porém produzido pelo comportamento de vários organismos – é por meio do 
seguimento de regras. Como apresentado no início desse capítulo, regras são estí-
mulos discriminativos verbais que descrevem uma contingência (Skinner, 
1974/1993). Ou seja, não basta ser apenas um estímulo verbal, para ser considera-
da regra é preciso que (1) esse estímulo controle a emissão de uma resposta por (2) 
ter sido correlacionado com uma consequência que altera a probabilidade de nova 
ocorrência da resposta que a produz. Há dois tipos de regras segundo Skinner 
(1969/1980): regras de conselho e regras de mando. Regras de conselho descre-
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vem contingências cujas respostas produzem consequências que modelariam o 
comportamento, ainda que, tal estímulo verbal não estivesse presente. Por exemplo, 
Ra’s Al Guhl, ao treinar Bruce para o combate, alerta seu pupilo para vários de seus 
erros ao combater um inimigo. Dentre esses equívocos Ra’s aponta o descuido com 
o ambiente que contextualiza a luta. Bruce se atenta apenas ao combatente e não 
observa como o gelo sob qual luta está frágil. É certo que Bruce poderia ter apren-
dido a atentar ao ambiente circundante ao ser derrotado por seus inimigos em fun-
ção de seu descaso ao contexto, por isso, pode ser considerada regra de conselho. 
Por outro lado, quando regras são seguidas em função de consequências progra-
madas por quem proferiu a regra, considera-se essa como regra de mando (Nico, 
1999). O Coringa proferiu várias regras de mando, dentre elas destacam-se a ame-
aça de matar cinco pessoas caso Batman não revele sua verdadeira identidade, 
como Batman não cumpre a ameaça o Coringa mata a juíza Surilo e o comissário 
Loeb, além de atentar contra a vida do prefeito Garcia e de Dent. Além dessa amea-
ça o Coringa ainda revela que irá explodir um hospital caso Reese não fosse morto 
por um cidadão de Gotham. São realizados dois atentados contra a vida de Reese, 
o primeiro evitado por Gordon, o segundo por Bruce. Como Reese não é morto, o 
Coringa explode o Gotham Hospital. Nota-se que as consequências por fazer o que 
o Coringa diz são liberadas por ele próprio. Os comportamentos de fazer o que a 
instrução dada pelo palhaço especifica não seriam produzidas diretamente pela res-
posta especificada na regra. !7
Regras do tipo mando podem controlar o comportamento dos indivíduos que 
aderem a práticas culturais que favorecem a sobrevivência da cultura. Como apon-
tado por vários autores (Abib, 2001; Dittrich, 2003; Dittrich & Abib, 2004, Horta, 
2004) consequências do tipo bem da cultura não retroagem sobre o comportamento 
de organismos que se engajam em práticas culturais que a produzem, já que, estão 
distantes no tempo e afetam apenas organismos futuros. Um tipo de regra de man-
do que é facilmente encontrada em sociedades são as leis. Geralmente leis especi-
ficam o comportamento a ser emitido e o tipo de consequência aversiva produzida 
caso a resposta especificada na regra não seja emitida. Segundo Skinner (1953), as 
agências de controle são responsáveis pela criação de tais regras e a fiscalização – 
isto é, a aplicação das consequências descritas nas regras – caso membros da cul-
tura não se engajem no comportamento descrito. Portanto, agências de controle são 
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 A classificação dos tipos de regras foi realizada por Skinner (1969/1980) enfatizando o tipo de des7 -
crição das contingências e a conseqüência do seguimento da regra. Já Hayes, Zettle e Rosenfarb 
(1989) enfatizaram o controle exercido pela regra. Quando o seguimento de regras ocorre em função 
de consequências sociais, os autores classificaram este tipo de controle como aquiescência (em in-
glês pliance). Por outro lado, comportamentos cuja recorrência depende da correspondência entre o 
que a regra específica e eventos ambientais classifica-se esse controle como rastreamento 
(tracking). Pode-se afirmar que enquanto Skinner enfatizou os tipos de regras em termos da descri-
ção da regra e suas consequências, Hayes enfatizou o controle exercido pela regra sobre o compor-
tamento. A classificação utilizada por Hayes e cols., tem sido mais utilizada atualmente, sobretudo 
nos estudos referentes à sensibilidade do comportamento a mudanças nas contingências. 
grupos organizados que produzem contingências de reforçamento que modelam e 
mantêm o comportamento ético. O governo, a religião, a economia, a psicoterapia e 
educação são agências de controle. Nos filmes de Batman, a agência de controle 
que recebe maior destaque é o governo.!
O governo é representado nos filmes pela polícia, o sistema judiciário e o 
executivo. Mafiosos e criminosos menores não seguem as leis da cidade. Traficam 
drogas, extorquem cidadãos, assassinam quem dificulta seus lucros. Em “Batman 
Begins”, o sistema judiciário está totalmente corrompido. Jill, o assassino de Tho-
mas e Martha Wayne colabora com a promotoria ao depor revelando crimes do ma-
fioso Carmine Falcone. Na saída do julgamento é assassinado. Rachel diz que o juiz 
do caso exigiu um julgamento público, provavelmente para favorecer o assassinato. 
Quando Bruce confronta Falcone, o mafioso aponta para vários membros do siste-
ma judiciário que estão no bar e que são seus comparsas. Já em “O Cavaleiro das 
Trevas”, Harvey Dent é um promotor que luta para que a lei seja cumprida. Isto é, 
para que aqueles que não seguem as regras tenham seus comportamentos 
punidos. Dent é auxiliado pelo Tenente Gordon que investiga e prende 
bandidos para que Harvey possa acusá-los. A juíza Surilo é, nas pala-
vras de Dent, entusiasta do sistema judiciário, ou seja, partilha de 
sua busca pelo seguimento das regras. !
O fato de o sistema estar corrompido no primeiro filme mostra 
como a regulação do comportamento por uma agência de con-
trole depende do seguimento das regras estabelecidas. Se a 
agência de controle não libera reforçadores para quem segue 
as regras ou eventos punitivos para quem não segue, então a 
agência perde sua função na manutenção do ambiente social. 
Batman reconhece essa função, por isso luta para que o siste-
ma volte a funcionar, ou seja, luta para que o sistema judiciário 
volte a punir aqueles que não seguem as regras. !
Leis especificadas por agências de controle e autocontrole são 
apenas algumas das maneiras de fazer com que um organismo 
emita comportamentos que participam de práticas culturais que pro-
duzem bens da cultura – a manutenção do ambiente social.!
Dittrich (2003, 2004) destaca que a sobrevivência da cultura é o valor mais 
importante na discussão ética. O conceito de valor é definido como (1) o efeito 
das consequências sobre o comportamento e (2) o sentimento que acompanha tal 
efeito (Abib, 2001; Dittrich, 2008). Portanto, a sobrevivência da cultura é um valor no 
sentido de que (1) mantém a existência do ambiente social e (2) produz sentimentos 
similares aqueles produzidos por consequências reforçadoras positivas. Existem, no 
entanto, outros valores em uma cultura, tais valores podem ser chamados de se-
cundários, no sentido que são menos importantes para a manutenção da cultura. 
Dentre os valores secundários, destacam-se o amor, a liberdade, a justiça.!
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A questão sobre Batman ser ético ou não pode ser respondida de forma sim-
ples: Batman é ético, pois produz mudanças ambientais como redução do crime, 
diminuição da corrupção, sensações de segurança para os cidadãos de Gotham. 
Todas essas mudanças podem ser definidas como bem dos outros, já que a con-
sequência produzida é um reforçador positivo ou negativo para outrem. Por exem-
plo, quando Batman impede que Rachel seja assassinada por capangas a mando 
de Falcone, está produzindobem do outro, pois evita a morte da assistente da pro-
motoria. Um leitor mais desavisado diria que Batman está apenas preocupado con-
sigo mesmo. Para esse leitor, salvar Rachel não é um bem do outro, já que Bruce 
tem interesse romântico na garota que salva. Também pode ser argumentado que 
Batman está em busca de vingança pessoal, tudo o que faz é apenas em função de 
torturar bandidos, uma vingança pela morte de seus pais. Seria Batman um egocên-
trico ético, isto é, um indivíduo que visa apenas bens pessoais, mas cujas ações 
produzem também o bem do outro e da cultura?!
Considerando o repertório comportamental de Batman nos dois filmes, ele 
não deve ser considerado um egocêntrico ético. Um exemplo desse egocentrismo 
pode ser observado no começo do primeiro filme, em que Bruce agredia bandidos 
na cadeia apenas porque ver criminosos sangrando reforçava seu comportamento. 
Mesmo que a surra proferida por Bruce diminuísse a probabilidade de aqueles pre-
sos voltarem a cometer crimes, seu comportamento não estava sob controle de pro-
duzir bem do outro. Entretanto, Batman tem seus comportamentos controlados pe-
los efeitos que os mesmos produzem para outros e para a sociedade de Gotham. 
Tanto é verdade que Bruce pensa em se revelar como Batman para evitar que mais 
pessoas sejam mortas pelo Coringa. De qualquer maneira, a discussão se os com-
portamentos éticos são determinados por bens pessoais ou bens dos outros como 
critérios definidores de egocentria ética perde sua força de inquisição se observada 
sob a ética skinneriana. Isto porque como já exposto, mesmo quando um indivíduo 
produz bem do outro seu comportamento é de alguma forma reforçado. Isto é, de 
alguma maneira produz o bem pessoal, pois caso contrário tal conduta não voltaria 
a ocorrer. A pergunta sobre o comportamento de Batman ser egocêntrico ético tor-
na-se então equivocada do ponto de vista da seleção por consequências.!
Batman é ético como já apontado, porém pode-se questionar se Batman é 
justo. Justiça é o equilíbrio entre bens pessoais, bem dos outros e bens da cultura 
(Abib, 2001). Essa noção de equilíbrio é importante. Como apontado por Dittrich 
(2006) sendo a sobrevivência da cultura o valor mais importante, qualquer prática 
que promova essa sobrevivência é justificável. Batman constrói um equipamento 
baseado em sonar que é capaz de monitorar toda a sociedade de Gotham. Lucius, 
seu amigo e parceiro no desenvolvimento de tecnologias, avisa que é contra o equi-
pamento, pois o considera não ético. Isto porque o equipamento invade a privacida-
de das pessoas. O sistema de monitoramento é ético do ponto de vista skinneriano 
já que permite monitorar a cidade e punir aqueles que colocam em risco a sobrevi-
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vência da sociedade de Gotham, como é o caso do Coringa. Entretanto, o sistema 
não é justo, pois coloca apenas o bem da cultura como critério. Não há equilíbrio 
entre o bem pessoal e o bem da cultura. Os cidadãos de Gotham têm sua privaci-
dade invadida, e a perda da privacidade significa perda de reforçadores positivos 
importantes para membros daquela cultura. Abib relata que quando agências de 
controle estabelecem contingências nas quais o bem da cultura é produzido a des-
peito do bem pessoal, os membros da sociedade buscam refúgios em reforços ime-
diatos e amorais. Portanto, monitorar a cidade é ético, porém não é justo e a ausên-
cia da justiça pode produzir situações que desfavorecem a sobrevivência da cultura.!
A noção de justiça de Ra’s e a Liga das Sombras é outro bom exemplo de 
como apesar de ético não é justo. Matar todos os cidadãos de Gotham para estabe-
lecer condições de mudança cultural pode até ser ético se promover a sobrevivência 
da cultura ocidental. Porém não é justo, e justiça é um valor secundário importante. 
Rachel por outro lado, compartilha com uma noção skinneriana de justiça, o equilí-
brio entre o bem pessoal e bem dos outros. Assim, apesar de uma medida ser ética 
isso não que dizer que seja justa. Pode ser que uma medida favoreça a sobrevivên-
cia da cultura, mas por outro lado, poderá também criar situações que aumentem a 
probabilidade dos membros emitirem comportamentos que produzam apenas bens 
pessoais, o que não é ético. A dificuldade entre o planejamento cultural, isto é, pro-
moção de práticas culturais que produ-
zam o bem da cultura, e os efeitos pre-
vistos – a sobrevivência da cultura – 
versus os efeitos obtidos – o que real-
mente ocorre – exibe como é árdua a 
tarefa de estabelecer contingências que 
produzem comportamentos éticos. !
Ao planejar uma mudança cultu-
ral, o analista do comportamento pode 
prever que eventos produzirão o bem 
da cultura, mas deve considerar que 
nem sempre os efeitos previstos ocor-
rerão. Portanto, um planejamento cultu-
ral deve considerar: (1) a sobrevivência 
da cultura; (2) o equilíbrio entre bem 
pessoal e bem cultural; (3) valores se-
cundários como amizade, liberdade, jus-
tiça; (4) possíveis efeitos não previstos. Com base nessas considerações é que uma 
intervenção cultural deve ser executada. Na conclusão desse capítulo apresentare-
mos se Batman é ou não um bom planejador cultural. Porém, antes será versado 
sobre outros elementos importantes nos episódios. !!
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Considerações Finais!!
Os filmes “Batman Begins” e “O Cavaleiro das Trevas” permitem a professo-
res, estudantes e interessados em Análise do Comportamento compreender os três 
níveis de seleção do comportamento (filogenia, ontogenia e cultura) e as interações 
entre esses níveis. Como descrito neste capítulo, apesar dos níveis serem apresen-
tados de maneira didática como elementos separados, em verdade, a seleção do 
comportamento envolve a interação entre os níveis. Por exemplo, ao escolher quem 
salvar (se Rachel ou Harvey) Batman emite um comportamento operante. Tal com-
portamento é selecionado por suas conseqüências, ou seja, é selecionado no nível 
da ontogenia. Porém, participam dessa seleção reforços disponíveis em seu ambi-
ente social, como o bem para os outros (Harvey é para Batman um modelo de como 
os cidadãos podem se comportar para salvar Gotham City). Assim também o nível 
cultural participa da seleção do comportamento de escolher de Batman. Com isso, 
nota-se a interação entre diferentes níveis de seleção do comportamento. !
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A interação entre os três níveis é de suma importância para compreensão do 
comportamento complexo. Sem considerar tais interações torna-se difícil compreen-
der corretamente quais são as variáveis determinantes do comportamento comple-
xo. Quando se fala em personalidade estamos diante de um caso de vários compor-
tamentos complexos. Ao se dizer que alguém é altruísta, estamos afirmando que na 
verdade em dada situação a pessoa apresenta maior probabilidade de se engajar 
em comportamentos que produzam o bem para outros. Como apontando neste ca-
pítulo, o comportamento altruísta pode ser controlado por conseqüências liberadas 
por um ambiente social (nível ontogenético), como é o caso da população de 
Gotham que aplaude as ações de Batman, tendo nesta personagem inclusive a figu-
ra de um modelo comportamental. Porém, o comportamento altruísta não deve ser 
visto como meramente um comportamento operante. Diante da eminência da explo-
são da barca com civis, Batman pode ter certas respostas emocionais eliciadas (ní-
vel filogenético e ontogenético). Além disso, o comportamento de ajudar ao próximo 
é uma prática cultural na família Wayne (nível cultural) como pode ser comprovado 
pela criação do trem que liga toda a cidade de Gotham. !
Portanto, o presente capítulo quis esclarecer que uma análise de comporta-
mentos devem ser realizadas de modo a identificar as variáveis determinantes dos 
mesmos, ao invés de recorrer a conflitos inconscientes subjacentes ao indivíduo. 
Realizar tal análise implica em considerar os três níveis de seleção, ainda 
que, o comportamento

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