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Psicologia Jurídica, ciência e história

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Psicologia Jurídica: ciência e senso comum
A Psicologia é uma ciência?
O que é a ciência?
Uma forma de conhecimento humano que se consolidou na modernidade e que entende que a única forma de conhecer um objeto é, partindo de um sujeito neutro – o cientista, buscar a regularidade de leis da natureza por meio da observação sistemática e a experimentação muitas vezes laboratoriais. 
S (sujeito) -> (conhece) O (objeto) por meio da observação e experimentação – método científico
“Conjunto de conhecimentos sobre fatos ou aspectos da realidade (objeto de estudo), expresso através de uma linguagem precisa e rigorosa. Esses conhecimentos devem ser obtidos de maneira programada, sistemática e controlada, para que se permita a verificação de sua validade”. (Ana Maria Bock: Psicologias).
Exemplos de conhecimento nas Ciências Naturais
Velocidade: v=s/t.	Termodinâmica: U=3/2nR (Tf-Ti)
Formas Históricas do Conhecimento Humano
Arte (estética), religião (fé), filosofia (pensamento), ciência (método científico) e senso comum (experiência e tradição) são domínios do conhecimento humano. O que diferencia basicamente cada uma delas é a forma de se atingir o objeto – a forma, a maneira, os critérios, enfim, o método. A ciência pretende se diferenciar das demais formas de conhecimento por possuir o método científico e afirma ser esta a única forma de se atingir seguramente o objeto.
A Ciência e o Senso Comum
Sabemos pelo senso comum como atravessar uma rua sem fazer cálculos de distancia e velocidade, sobre o chá de boldo e suas funções hepáticas e quanto tempo temos um café quente em uma garrafa. É um conhecimento intuitivo, espontâneo de acertos e erros. É um conhecimento que vai do hábito à tradição.
A Psicologia do Senso Comum
Em virtude dos objetos de estudo das ciências serem recortes do mundo em que vivemos estudados de forma específica, muitas vezes lidamos de forma cotidiana com estes objetos na nossa vida conforme apresentamos acima. Com a psicologia não é diferente. Muitas vezes nos referimos a conceitos da psicologia na linguagem comum, por exemplo, dizer que uma mulher que grita muito é histérica, ou dizer que quem tem inveja é recalcada, ou ainda podemos dizer que fomos condicionados a fazer alguma coisa.
Objeto de Estudo da Psicologia
Mas então o quais são os objetos de estudo da psicologia? Existe uma diversidade de concepções. Para um Behaviorista será o comportamento, para um psicanalista será o inconsciente, para um gestaltista a percepção, para a psicologia social serão os processos sociais, entre outros. Para os fins da nossa disciplina vamos considerar como o objeto de estudo da psicologia a subjetividade conforme concepção de Bock, já que o termo abarca os diversos objetos de estudo citados. O livro didático da Estácio define de maneira ampla como o Ser Humano, mas preferimos diferencia-lo de outras ciências humanas, como a história, a geografia, sociologia...
Conceito de subjetividade para Ana Bock:
“É o ser humano em todas as suas expressões, as visíveis (o comportamento) e as invisíveis (os sentimentos), as singulares (porque somos o que somos) e as genéricas (porque somos todos assim) – é o ser humano-corpo, ser-humano pensamento, ser humano-afeto, ser humano-ação e tudo isso está sintetizado no termo subjetividade.” (Bock, 2009, p.22) 
Subjetividade: “é o mundo das ideias, significados e emoções construído internamente pelo sujeito a partir de suas relações sociais, de suas vivencias e de sua constituição biológica; é, também, fonte de suas manifestações afetivas e comportamentais”. (Bock, 2009, p.23)
Marcos Históricos e Projetos da Psicologia enquanto Ciência
Wilhelm Wundt: um dos nomes mais citados pelos autores que se dispõe a fazer uma história da psicologia. Em 1879, foi o responsável pela criação do primeiro laboratório em psicologia experimental, em Leipzig na Alemanha. Ele buscava compreender os processos mentais inferiores (como o autor denominava) e individuais, como por exemplo: as percepções, sensações, vontades, emoções, motivação, memória, tempo de reação, tudo isso por meio de análises experimentais. Buscava-se por meio da experimentação a regularidade e suas condições. Mas Wundt também buscou compreender os processos mentais superiores e históricos (Psicologia dos Povos, como ele mesmo denominou) e isto não por meio da experimentação e sim por análises comparativas com base na antropologia e na filologia.
Titchener: discípulo do primeiro leva os estudos de Wundt para os Estados Unidos e lá os dissemina, tornando-se responsável pelo laboratório experimental de comportamento naquele país. Restringe os estudos da psicologia aos padrões de sensações estudados em laboratório, não aceitando pesquisas voltadas para assuntos práticos da vida cotidiana. É criado por ele o movimento denominado de estruturalismo na psicologia. O autor rejeita os estudos sociais (psicologia dos povos) do precursor e defende com vigor os estudos com base no método da introspecção analítica ou auto-observação formal.
Wiliam James psicólogo estadunidense propõe que as pesquisas acerca dos processos mentais devem ser feitas nos mais diversos ambientes e não em laboratórios conforme o estruturalismo propõe, crítico deste último movimento, cria o funcionalismo em que os cientistas deveriam usar os métodos objetivos da introspecção e auto-observação, porém nos mais diversos ambientes.
John Watson por sua vez questiona a introspecção uma vez que esta pressupõe a impossibilidade da reprodução da experiência por outros sujeitos já que cada conclusão científica seria exclusivamente pessoal. É com base em seus estudos que surge o movimento denominado Behaviorismo que prega a exclusividade do estudo da psicologia com base no comportamento� e com métodos de pesquisa publicamente observáveis, por isso, inclusive, o emprego de técnicas de estudos sobre o comportamento animal em seres humanos.
Psicologia e Direito
A história da Psicologia Jurídica surge neste contexto e se refere em um primeiro momento ao conceito amplamente divulgado e criado por Mira y López: Psicologia Jurídica é a “psicologia aplicada ao melhor exercício do direito”. Buscava-se apenas com base nos experimentos laboratoriais da psicologia atingir uma maior eficácia jurídica no que se refere ao testemunho, à memória, tentava-se criar métodos de detecção de mentiras nos interrogatórios e assim poder subsidiar as sentenças. Eminentemente a psicologia jurídica em seus primórdios referia-se à Psicologia do Testemunho. Estudiosas como Leila Torraca afirmam que as demandas do judiciário foram responsáveis por muitos desenvolvimentos de Laboratórios de Psicologia Experimental no final do século XIX, momento em que se iniciaram pesquisas sobre percepção, sensação, memória. 
Psicologia Jurídica Crítica: a entrevista psicológica
A psicologia jurídica crítica é aquela que possui uma visão sistêmica das pessoas e de suas histórias, com vistas ainda a outras maneiras de escuta e atuações e não como mera reprodutora das relações de poder dominantes. Não se busca apenas subsidiar a sentença tranquilizando a consciência do juiz e sim transformar as relações sociais, torna-las mais justas. Neste sentido, ao pensar em uma entrevista ou escuta do psicólogo no judiciário podemos separar didaticamente dois tipos:
A Escuta Surda (Luis Antonio Baptista, 2000) que se mostra como uma audiência tradicional voltada para o exercício frio do direito e não para as pessoas envolvidas no Judiciário. Aqui se olha para as pessoas com desconfiança e buscando julgar, determinar e punir o indivíduo investigado e buscar “a verdade definitiva sobre o sujeito”. 
A Escuta-Experimentação: uma escuta que deve abrir múltiplas possibilidades de intervenção, uma vez que não se acredita neutra e nem se fixa na busca da verdade sobre o sujeito. Mas se mostra aberta a conhecer e abrir espaço para a criação de novos modos de existência e resolução da situação, assim como a dar voz às pessoas que normalmente não são escutadas no judiciário, como crianças,idosos, pessoas que estão presas, etc. 
Ver reflexão da página 15 do livro didático.
Exercícios
1- Com relação à produção escrita (laudos ou pareceres) elaborada pelos psicólogos no universo do judiciário é correto afirmar que:
a. Essa produção deve apontar, conclusivamente, uma alternativa de encaminhamento à demanda solicitada.
(   )certo                              (   ) errado
b. Essa produção deve considerar os discursos e as percepções do demandado.
(   ) certo                              (   ) errado
2- Sabemos que vários conhecimentos da Psicologia, com frequência, são utilizados pelo senso comum. A partir das alternativas abaixo, marque aquela que melhor descreve a apropriação que o senso comum faz do conhecimento da Psicologia.
a-      Esse menino é muito triste
b-      Aquela senhora está preocupada.
c-       A mulher gritava de forma histérica.
d-      A criança não estava satisfeita com o brinquedo
e-      O homem parecia gostar de seu trabalho
3-  Caso concreto:
Sicrana conversava com Fulana sobre os progressos que estava fazendo em seu tratamento psicoterápico:
Sicrana : - Você não imagina Fulana como me sinto bem quando vou para a terapia .
Fulana : - Por que você se sente tão bem ? Eu acho que fazer terapia é o mesmo que conversar com um amigo. Qual é a diferença, Sicrana ?
Sicrana : - A diferença, Fulana, é que o terapeuta adivinha o que você sente e um amigo , quase sempre , só escuta como você se sente .
 Os Psicólogos adivinham o que os outros pensam? 
Analise o caso concreto e construa sua resposta a partir do que foi aprendido sobre a Psicologia e o senso comum.
� O comportamento para os adeptos do Behaviorismo é a atividade ou resposta observável de um ser vivo. 
Falas Iniciais
- Acolhimento e Boas-Vindas
- A Importância da Psicologia para o Direito
- Ementas e Conteúdos
Unidade 1: Breve história do encontro entre a psicologia e o direito
Unidade 2: Noções introdutórias de Psicologia
Unidade 3: A família
Unidade 4: Abordagem psicológica da Violência
Unidade 5: A psicologia em suas interfaces com os sistemas jurídico e judiciário 
Unidade 6: As práticas psicológicas e suas aplicações no judiciário: 1) cível e família; 2) infância, juventude e idoso; 3) Varas criminais e sistema penitenciário.
Avaliação
AV1, AV2 e AV3
Bibliografias Básicas
MOURA, Solange Ferreira de (Org.). Livro didático de Psicologia aplicada ao Direito. Rio de Janeiro: Editora da Universidade Estácio de Sá, 2014.
BOCK, Ana Mercês Bahia; FURTADO, Odair; TEIXEIRA, Maria de Lourdes Trassi. Psicologias: uma introdução ao estudo de psicologia. 13. ed. reform. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2005.
GONÇALVES, Hebe Signorini; BRANDÃO, Eduardo Ponte (Org.). Psicologia jurídica no Brasil. 2. ed. Rio de Janeiro: NAU, 2005
FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: nascimento da prisão. 21. ed. Petrópolis: Vozes, 1999.

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