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Resumo Livro Psicologia Jurídica Brasil - org Eduardo Brandão

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Psicologia Jurídica
Professor Eduardo Ponte Brandão
PSICOLOGIA JURÍDICA NO BRASIL (Org. Eduardo Ponte Brandão e Hebe Signorini Gonçalves)
Texto 1 – PENSANDO A PSICOLOGIA APLICADA À JUSTIÇA
(Esther Maria de Magalhães Arantes)
	
Georges Canguilhem – 1956 – critica (mais contundente) à Psicologia e sua eficácia: há uma unidade na Psicologia? O que é a Psicologia? Por que está aqui?
Thomas Herbert: pondera as questões de Canguilhem – A Ψ está aqui porque existe. Considera importante a distinção feita entre as Ciências Desenvolvidas e as Ciências em Constituição (Ψ). 
Há dois conjuntos de questões que se apresentam pertinentes a partir das reivindicações de cientificidade da Psicologia por Canguilhem:
1º) Equiparar a metodologia da Ψ às Ciências Exatas: Mais do que copiar o modelo de cientificidade da Física, Química ou Biologia, espera-se que as Ciências Humanas desenvolvam algum tipo de rigor próprio, adequado ao seu campo de atuação.
2º) Diz respeito a tudo aquilo que faz com que a Ψ jurídica exista como prática em uma sociedade como a nossa, independentemente de um estatuto epistemológico.
	Arqueologia e Genealogia dos saberes sobre o homem (M. Foucault): Não se trata de negar à Ψ, Jurídica ou não, uma existência de fato e uma eficácia. Trata-se de saber como e porque este campo se constituiu, quais os seus procedimentos e de que natureza é a sua eficácia.
	As análises Genealógicas permitiram a Foucault identificar as práticas jurídicas (ou judiciárias) como uma das mais importantes na emergência das formas modernas de subjetividade e, a partir do séc. XIX, mais do que punir, busca-se a reforma psicológica e a correção moral dos indivíduos (Foucault, 1979).
PERÍCIA: procedimentos mais utilizados na Ψ Jur. – tem por objetivo fornecer subsídios para a tomada de uma decisão, dentro do que impõe a lei. Pode ser solicitada para averiguação de periculosidade, das condições de discernimento ou sanidade mental das partes em litígio ou em julgamento. A partir das alegações das partes, o juiz formulará quesitos a serem investigados pelo perito, que de certa forma, comprovará ou não tais alegações, formulando uma verdade sobre os sujeitos. Enganamo-nos todos ao acreditar que a verdade vem à luz e que se faz justiça neste processo.
A Prática dos Laudos, Pareceres e Relatórios Técnicos
	A predominância das atividades de confecção de laudos, pareceres e relatórios – atividade predominantemente avaliativa e de subsídio aos magistrados, embora defendido em textos clássicos de Ψ (Jacó-Vilela, 2000) e regulamentado pela legislação brasileira, tem causado mal-estar para a nova geração de psicólogos, dentre outras razões, pelo advento de uma literatura mais crítica, demonstrando que a questão da inserção da Ψ com o Direito não diz respeito apenas ao bom ou mau uso da técnica, à habilidade ou não do perito. As Ciências Humanas e Sociais não podem se reduzir ao discurso coagente da razão abstrata, pretendendo a produção de verdades a-históricas e universais.
	Esta problemática não se restringe a Ψ e sim às Ciências Humanas e Sociais. Robert Castel, ao analisar a questão moderna da loucura mostra que o sucesso da Medicina Mental na França se deu por prover um novo tipo de gestão técnica dos antagonismos sociais, podendo a Ψq. ser considerada uma Ciência Política , porque respondeu a um problema de governo, reduzindo a loucura às condições de sua administração.
Lettres-de-cachet: ordenações do rei na monarquia absoluta francesa – obrigava uma pessoa a fazer algo: casamento, exílio, na maioria das vezes era instrumento de punição.
Política alienista: postulou a minoridade do louco e o seu isolamento como medida terapêutica necessária ao controle de sua periculosidade oferecendo uma justificativa médica. 
Medicina: necessitou se legitimar como um poder para depois se colocar como fator indispensável ao funcionamento do ap. judiciário. Em relação ao prisioneiro, a ação médica se deu primeiramente visando à execução da pena e só mais tarde se dedicou à avaliação da responsabilidade do criminoso (Castel, 1978).
	
	A separação entre o normal e o patológico foi estabelecido pela medicina e depois desfeita: Esquirol > monomanias e Morel > degenerescências. As atividades de perícia então se estendem aos vários setores da vida pessoal e social, levando a Castel questionar à Psiquiatria como Canguilhem fez com a Ψ (Quem te fez rei?).
	
	No Antigo Regime, os chefes de família eram responsáveis por manter a ordem pública controlando os “desgarrados”, e os que escapavam ao controle. Mas se tornará insuficiente em nome de uma nova racionalidade da assistência. Multiplicam-se as leis sobre o abandono, maus tratos, trabalho e mortalidade infantil, surgindo novos profissionais dedicados ao campo social: os “técnicos” ou “trabalhadores sociais”.
Jacques Donzelot – “complexo tutelar” – judiciário, psiquiatria e educação.
M. Foucault: “doente mental”, “delinqüente”, “carente” não são categorias universais e naturais. Recusar estas categorias como sendo “natureza humana” significa, ao mesmo tempo, reconhecer nas práticas sociais concretas, a formação de um campo de experiência onde processos de subjetivação/ objetivação têm lugar. Significa também reconhecer o papel que trabalhadores sociais, técnicos e peritos desempenham neste campo poder-saber.
Quais são as condições históricas que possibilitaram a emergência de uma das mais intrigantes divisões existentes na sociedade brasileira: a separação da infância entre criança e menor?
Sobre a emergência da categoria menor abandonado no Brasil
Até meados do século XIX, o termo menor foi utilizado de maneira pouco frequente e apenas para demarcar a idade das responsabilidades civis ou canônicas. Quanto aos castigos, crianças eram punidas, no Brasil colônia, de acordo com as Ordenações Filipinas, sem que houvesse muita diferenciação das penas em relação aos adultos.
O que existiam eram categorias diferenciadas de crianças, cuja situação era descrita em diferentes Relatórios Ministeriais (órfãos e expostos, menores criminosos, filho de família, o negrinho escravo, a criança indígena, etc.).
A partir da Lei do Ventre Livre e com o aumento da população de desempregados nas grandes cidades, surge a preocupação com as crianças que não são necessariamente órfãs ou expostas e, portanto, sujeitas ao recolhimento nos estabelecimentos caritativos, e nem criminosas, passíveis de condenação pelas leis penais, que vai se transformar no chamado “problema do menor” ao final do Império e início da República. Se não era prática admissível enviar crianças livres, não órfãs e não criminosas, aos estabelecimentos caritativos e correcionais, este obstáculo começará a ser vencido, alegando-se que o problema das prisões decorreria exatamente do “problema do menor abandonado”: é porque não se corrige preventivamente os menores abandonados que as prisões encontram-se superlotadas. Caberia, então, ao Estado, neste novo arranjo corrigir e regenerar crianças pobres como se fossem condenados – só que preventivamente e com a justificativa de sua proteção. Intensificou-se, então, a prática de recolhimento de crianças nas ruas do Rio de Janeiro.
Começa a tomar corpo a idéia de que sanar os males da sociedade brasileira significaria não apenas transformar cárceres fétidos e insalubres em estabelecimentos correcionais, mas também construir um sistema abrangente de assistência pública, de cunho preventivo-correcional-repressivo, que deveria alcançar as diferentes categorias de indivíduos pertencentes à “classe última da sociedade”. Assim, no projeto da Assistência Pública ao Menor que começa a ser gestado no início da República, pensada como braço da Justiça, propicia-se a abusiva internação de crianças pobres nos estabelecimentos de Polícia, indiferenciando as categorias de “abandono”, “orfandade” e “delinquência”. Essa junção de Assistência e Justiça, no entanto, nunca foi um arranjo pacífico, pois não raro os próprios Juízes de Menores reconheciam que se tratava, nagrande maioria dos casos, de pobreza da criança e de sua família, e não de abandono.
Assim, o que se sempre esteve em jogo na chamada assistência ao menor abandonado, ao longo de quase todo o século XX, foi a constituição de um duplo estatuto de menoridade – a criança e o menor – forjado em relações de exploração e violência existentes na sociedade brasileira, mas sempre em nome de sua proteção.
Ao final da década de 1980, no entanto, possibilitado pela ampla articulação de movimentos constituintes, o Estatuto da Criança e do Adolescente emergiu na cena democratizante pela qual atravessava o país como grande promessa. Transcorridos 19 anos de sua aprovação, no entanto, forçoso reconhecer que as mudanças até agora obtidas não têm correspondido às nossas esperanças.
Consideramos este o maior desafio que temos pela frente: o de entendermos o caráter ético, jurídico, político e social da Proteção Integral, evitando-se o que já está se tornando prática corrente: a criminalização da pobreza e a medicalização e a judicialização de conflitos familiares. Embora não esteja descartada a adoção de crianças e adolescentes, queremos enfatizar o caráter excepcional dessa medida, não devendo a adoção constituir a regra.
Sobre as Propostas de Redução da Idade Penal
Ao pender o barco para as medidas punitivas e não para as políticas públicas básicas e de proteção e inserção social, o Brasil pode estar caminhando para o aprofundamento da histórica divisão da infância brasileira entre crianças/adolescentes e menores – divisão esta que foi justamente o que impulsionou os movimentos sociais a lutarem para que a Constituição de 1988 adotasse a Proteção Integral para toda a infância e juventude brasileira e não apenas para uma parte dela.
O que é a Psicologia? Para que ela serve?
Foucault: A prisão não deveria ser nada além do que a simples privação de liberdade, mas não é o que acontece, e a este excesso, ao que excede a pena, que F. chamou de penitenciário. O aparelho penitenciário, local de cumprimento da pena, é também lugar de uma “curiosa substituição”.
	“O delinqüente se distingue do infrator pelo fato de não ser tanto seu ato quanto sua vida o que mais o caracteriza (...) O castigo legal se refere a um ato; a técnica punitiva a uma vida (...) Por trás do infrator a quem o inquérito dos fatos pode atribuir a responsabilidade de um delito, revela-se o caráter delinqüente cuja lenta formação transparece na investigação biográfica. A introdução do biográfico é importante na historia da penalidade” (F., 1977)
Pesquisa de Adilson Dias Bastos:
Psi do sistema socioeducativo – estudou este “biográfico” na reconstrução da historia de vida dos sentenciados – este biográfico visa mostrar como o individuo “já se parecia com o seu delito antes mesmo de praticá-lo”: pai ausente, mãe morreu no parto, só estudou até a 2ª série, baixo grau de tolerância à frustração, foi expulso da escola...
Pesquisa de Batista:
Analisou os processos encontrados no então Juizado de Menores (1968 – 1988) no que se refere aos laudos e pareceres técnicos. Constata que é flagrante a construção de estereótipos a partir de olhares cientificistas e preconceituosos: em relação ao bairro pobre de origem, atitude suspeita, criminalização do uso de drogas, desqualificação familiar, serviços que não são considerados trabalho, hereditariedade, distúrbios de conduta. Tal caracterização leva sempre as mesmas recomendações: ressocialização, reeducação, recuperação, tratamento, profissionalização. Conclui que mais do que doença mental, os processos revelam histórias de miséria e exclusão social.
Pesquisa de Diniz:
Estudou 46 pareceres psi no período de 1995 a 1998 de ad. evadidos do sistema socioeducativo enquanto cumpriam Medida de Internação e com Mandado de Busca e Apreensão. Constatou que a grande maioria era do sexo masculino, entre 15 e 17 anos, poucos anos de escolaridade. A maioria das infrações análogas aos crimes contra o patrimônio e Lei de Entorpecentes. Motivos alegados pelo ad. para fuga: grupos ou facções rivais, ameaças de estupro, sofrer agressões, ter a roupa furtada e ser encaminhado à Delegacia de Polícia.
Diniz identificou 2 “tipos” de ad: 
aquele que foi “levado” ao ato infracional pelas circunstâncias ou pelas amizades;
aquele que teria o “perfil” de infrator: ausência paterna, desestruturação familiar, características da personalidade como agressividade, impulsividade, malicia, sentimento de inferioridade, etc.
Como conclusão o critério utilizado para afirmar que o ad. está recuperado ou ressocializado é a adequação à rotina institucional e a participação nas atividades propostas.
Texto 2: (Des)construindo a “Menoridade”: uma análise crítica sobre o papel da Psicologia na produção da categoria “menor”
(Érika Piedade da Silva Santos)
Em consonância com a análise desenvolvida por Foucault, consideramos que a Psicologia se constitui enquanto discurso e, como tal, depende estreitamente do campo sociopolítico em que se insere.
A junção entre os dois tipos de discurso – o judiciário e o médico – circunscreve e inventa o indivíduo perigoso, ou seja, aquele que nem é louco e nem criminoso, mas que eventualmente pode ser perigoso. Assim, no cumprimento de dupla estratégia de controle diante do perigo social pressentido nas massas e de moralização das condutas, o amálgama médico-jurídico revelou-se estratégia bastante potente na mecânica de poder do século XIX.
Da articulação entre os discursos jurídicos e psicológicos no século XIX, centrados na imagem do “indivíduo”, bem como na necessidade de controle do “social”, do conhecimento sobre a psicologia do “criminoso”, da “testemunha” e da “vítima”, podemos depreender que a constituição da psicologia como saber esteve, desde o início, atravessada por demandas jurídicas e morais
No Brasil, as primeiras ideias “psi” estão associadas ao encontro com as práticas jurídicas e judiciárias, seja no universo da tipificação do louco/criminoso nas primeiras décadas do século passado, seja na classificação e exame dos “menores” por psicologistas pouco após a promulgação da primeira lei sobre menores, em 1927.
Nessa perspectiva, a intenção do presente texto é conhecer alguns sentidos das práticas psicológicas que estiveram e estão historicamente presentes nas Varas de Infância e Juventude. Que práticas e alianças vêm sendo hoje construídas pela Psicologia face ao adolescente em conflito com a lei?
No Brasil, as primeiras menções à expressão menor estão presentes no Código Criminal do Império, definindo as penas aplicáveis no caso de cometimento de crimes “por menores de idade”. Nesse trajeto, do jurídico ao social, a expressão assume conotação de controle, pois, ao segmentar setores sociais, cria categorias de crianças consideradas “suspeitas” e “potencialmente perigosas”, na associação entre o perigo e a pobreza. Os discursos higienistas estabeleceram concomitantemente a urgência da repressão dos desviantes e desclassificados nos espaços coletivos (que deveriam estar liberados para o trânsito das famílias de bem) e a valorização dos espaços privados associada ao cultivo da interioridade.
No período marcado pela Independência, pela passagem à República, pela abolição da escravatura e pelos grandes impactos potenciais dessas mudanças políticas, dominava a preocupação com o controle e com a ordem. Nessa conjuntura, o controle dos escravos recém-libertos e a preocupação com a temática da infância se mesclaram nas dimensões médicas, pedagógicas, policiais e jurídicas.
Delineia-se, portanto, o impacto dos discursos científicos na naturalização das diferenças sociais. Assim, a pobreza foi associada a certos grupos ou indivíduos. Os impactos dos saberes científicos que estavam sendo construídos sobre a infância, dentre eles a pediatria, a pedagogia, a puericultura e as influências da Escola Positiva de Lombroso revelaram-se fundamentais na diferenciação entre crianças (filhas das famílias ricas) e menores (filhos dos pobres), respaldando e naturalizando a lógica de dominaçãopolítica pelo viés da anormalidade, da disfuncionalidade e da doença.
Os conceitos médico-pedagógicos predominaram na definição da criança, enquanto os atravessamentos jurídico-policiais foram fundamentais para a categorização do menor. Não por acaso, a assimilação jurídica dos preceitos higienistas realizou-se, no Brasil, através da construção da Doutrina da Situação Irregular. Essa Doutrina foi a prerrogativa legal utilizada para embasar os dois Códigos de Menores que vigiram no Brasil: o primeiro promulgado em 1927 e o segundo, em 1979. Ambos caracterizavam-se por partilhar o entendimento de que apenas os menores em situação irregular seriam alvo do Poder Tutelar do Estado.
Não por coincidência, as primeiras referências à utilização do discurso “psi” na sociedade brasileira datam das primeiras décadas do século XX, pouco após a criação do primeiro Juízo de Menores, em 1923, e da promulgação do Código de Menores de 1927, na corrente de preocupações com o destino que deveria ser dado à infância desadaptada e às crianças difíceis.
Na esteira do processo de redemocratização da sociedade brasileira, movimentos sociais se manifestaram a favor da publicação de um novo texto para a infância e juventude, cujo movimento conquistou importante vitória ao inscrever, no texto constitucional de 1988, pela primeira vez na história brasileira, a concepção da criança e do adolescente como cidadãos
e sujeitos de direitos sociais, políticos e jurídicos. O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA, Lei 8069/90) é o texto legal que consolida esses direitos constitucionais.
A Doutrina da Proteção Integral é a principal inspiração do ECA e se insere no contexto em que o Brasil assume – diante da comunidade internacional – o compromisso de implementar e defender a Declaração dos Direitos da Criança de 1959 e a Convenção dos Direitos da Criança de 1989.
Apesar da importância dos dispositivos mencionados, no início da década de 1990 assistimos à entrada dos discursos neoliberais no cenário político brasileiro, o que, na prática, representou enorme entrave para que os princípios e ideais constitucionais e estatutários fossem efetivamente aplicados.
Por sua vez, o Conselho Nacional dos Direitos da Criança (CONANDA), órgão responsável pela deliberação e fiscalização de políticas de atenção a crianças e adolescentes em nível nacional, instituiu em 2006 o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (SINASE), dispositivo que padroniza nacionalmente os procedimentos jurídicos que devem ser seguidos para os adolescentes em conflito com a lei, desde a apuração do ato infracional até a aplicação das medidas socioeducativas. Dentre outras transformações no atendimento, o SINASE prevê alterações na arquitetura das unidades de internação do sistema socioeducativo, que deverão atender, no limite, a 90 adolescentes por vez, em quartos para no máximo três jovens. Outro ponto destacado é a horizontalidade das construções, bem como priorização do direito à educação, saúde, lazer, cultura, esporte e profissionalização.
Além disso, corroborando os resultados de pesquisas internacionais que associam elevados índices de reincidência à maior institucionalização, o SINASE prioriza as medidas em meio aberto (prestação de serviço à comunidade e liberdade assistida) em detrimento das restritivas de liberdade (semiliberdade e internação em estabelecimento educacional), na perspectiva de que as duas últimas só devam ser aplicadas excepcionalmente e de forma breve
Consoante o que dispõe o SINASE, não é demais destacar que há de se priorizar sempre que a criança e o adolescente que cometam um ato infracional sejam inseridas em medidas efetivamente protetivas e socioeducativas que pugnem por sua ressocialização e reeducação, não se concebendo, na correta interpretação dos princípios do ECA, que o caráter penal se dissemine para esta faixa etária.
Em suma, acreditamos que, apesar de hoje já ser fato suficientemente conhecido que as penas privativas de liberdade fracassam de forma reiterada em suas proposições preventiva e corretiva, o propósito punitivo permanece como emblema-mor da rede penal, sendo amplamente divulgado pela mídia formadora de opinião.
Alguns caminhos vêm se revelando mais receptivos à diferença, entre os quais a formação do paradigma da Justiça Restaurativa no Brasil, cujo modelo pode nos apontar diretrizes que compatibilizem o princípio da Proteção Integral e a aplicação das medidas socioeducativas.
Atualmente, estão em curso no Brasil os projetos-piloto de São Caetano do Sul, Brasília e Porto Alegre (PINTO, 2005). Dentre estes, dois especificamente abordam dinâmicas envolvendo adolescentes em conflito com a lei: São Caetano do Sul e Porto Alegre. Apesar de tratarem da mesma população-alvo, os projetos de São Caetano do Sul e de Porto Alegre são substancialmente diferentes entre si, não obedecendo a um único modelo.
Na primeira cidade, as intervenções acontecem nas escolas da rede municipal de ensino e consistem basicamente na formação de círculos restaurativos em que se fazem presentes adolescentes envolvidos em conflitos no ambiente escolar (ofensores e vítimas), um facilitador, uma liderança pedagógica, conselheiros tutelares e familiares dos adolescentes envolvidos. Em Porto Alegre, todavia, o foco é distinto, pois as práticas restaurativas acontecem no interior da Vara de Infância e Juventude, com a presença de facilitadores (normalmente membros das equipes técnicas interprofissionais do Juízo, ou seja, psicólogos e assistentes sociais), adolescentes (autores) que já tenham processo de ato infracional instaurado naquele juízo, as vítimas dos atos praticados e familiares de ambas as partes. O procedimento apresenta consequentemente cunho judiciário, embora seja protagonizado por todos os interessados no deslinde do conflito.
Na ênfase da responsabilização, da participação ativa e do protagonismo juvenil, detectamos valiosos instrumentos para consecução das metas almejadas pela lei especial, ou seja, a reeducação, a ressocialização e a ressignificação pelo adolescente dos atos que vier a cometer. Além disso, a Justiça Restaurativa conclama toda a sociedade a se coresponsabilizar por construir uma realidade mais digna e mais justa, na acepção mais abrangente do que seja justiça social.
Texto 3 - A Interlocução com o Direito à Luz das Práticas Psicológicas em Varas de Família
(Eduardo Ponte Brandão)
	A prática dos psi em VF exige o conhecimento básico das leis que regulam as famílias no Brasil:
há necessidade de um código compartilhado entre psi e os outros membros da equipe técnica;
o psi se depara com argumentos que já foram revistos e substituídos em lei;
Interessa ao psi lançar luz sobre como a doutrina jurídica se inscreve historicamente e se articula aos dispositivos modernos de poder, pois as leis e as estruturas encarregadas de aplicá-las não só normatizam e reprimem como põe em funcionamento diversas práticas de poder cujo objetivo é menos julgar e punir do que curar, corrigir e educar cada sujeito a administrar a própria vida (Foucault, 1997). O psi deve se interrogar se a cada vez que fala ou escreve sobre certa situação familiar, não estaria atendendo a mecanismos sutis de poder que, com o apoio das leis, são mascarados pela pretensa isenção política de sua ciência.
Do Código Civil de 1916 ao Estatuto da Mulher Casada: a demarcação dos papéis familiares e a questão da guarda
Brasil Imperial – regulado pelo Código Cível Português (inspirado no Código das Ordenações Filipinas (1603)) – não correspondia à realidade brasileira: casamento era permitido apenas aos católicos.
1830 – Política Higienista – salvar as famílias do caos. O saber médico se aliou ao Estado e fez surgir o modelo familiar pequeno-burguês, expulsando do hábito moderno os antigos hábitos coloniais. Assim, as tipificações das diferenças entre os sexos, vinculadas pela medicina à natureza biológica, foram paulatinamente absorvidas pela legislação (Código Civil 1916).
1989 – Proclamação da República – desvinculação daIgreja com o Estado.
1890 – Decreto 181 de Ruy Barbosa – abole a jurisdição eclesiástica e a única forma válida para o casamento é o realizado perante as autoridades civis.
1916 - Código Civil – família é a união legalmente constituída pela via do casamento civil (repúdio do legislador ao concubinato) – concepção de origem romano-cristã.
A família nuclear e patriarcal (concepção histórica criada no séc. XIX) é vista como núcleo fundamental da sociedade. 
O homem é o representante legal da família, administrador dos bens do casal, da mulher e autoridade pelos filhos. 
Ao marido cabe a manutenção da família e a mulher cabe zelar pela direção moral desta.
A mulher casada é considerada relativamente incapaz retirando seu poder de decidir sobre seus filhos e seus bens. Os compromissos que assumir sem autorização marital não têm eficácia jurídica. 
Na falta do pai, a mãe assumia o pátrio poder até a maioridade dos filhos.
Referente à separação, apenas separação de corpos por justa causa (desquite), preservando a indissolubilidade matrimonial.
Delega-se ao inocente o direito de ter os filhos consigo e ao culpado o direito de visita (há uma restrição da guarda à monoparentalidade, decidida a partir do critério de falta conjugal).
Caso ambos sejam culpados: mãe fica com as filhas menores e com os filhos até seis anos, depois, os filhos vão para o pai.
1930 – Criação de projetos nacionalistas – reforçaram os padrões moralistas já previstos no Código Civil.
1949 – Lei do Reconhecimento dos filhos ilegítimos.
1962 – Estatuto da Mulher Casada – outorga capacidade jurídica plena à mulher: no desquite se ambos forem culpados, os filhos ficam com a mãe, a mulher não perde o direito de ter seus filhos se se casarem novamente. Contudo, este estatuto mantém a assimetria entre os sexos, pendendo para o poder patriarcal (é reafirmado o papel do homem como o chefe da família e o da mulher como sua colaboradora).
Novos Arranjos e a Difusão das Práticas Psicológicas
Final dos anos 60 e dec. 70 - alguns fatores sociais colocaram em xeque o modelo familiar preconizado pela legislação de 1916:
Movimento feminista;
Introdução da mulher no mercado de trabalho;
A pílula anticoncepcional;
A liberação sexual;
“Milagre econômico” – ascendência dos setores médios da população;
O desenvolvimento industrial urbano;
Abertura para o consumo.
Estes fatores irão se refletir nas decisões jurisprudenciais e nas propostas de reformulação do Código Civil. 
	Novos arranjos conjugais e familiares começam a surgir, caracterizado pelo individualismo. A ênfase no individuo faz-se acompanhar do ideal de igualdade de relacionamento.
Anos 70 –alto consumo da psicanálise. Os psi foram chamados a falarem sobre a família em geral. Cabe notar que o imenso consumo da Ψc. e da Ψ não implica simplesmente a subversão de formas instituídas pela tradição, mas também a multiplicação de micropoderes que são os mais persuasivos do que impositivos (F., 1997).
Nota: neste período o Brasil estava em regime militar presidido pelo Gal. Ernesto Geisel de origem protestante luterana que admitia o divórcio. Além disto, se obstruía a promoção dos desquitados, somente os casados chegavam ao generalato e a presidência, o que contribuiu para que o fim do casamento fosse legitimado e regularizado.
Da Lei do Divórcio à Constituição: o privilégio da maternidade na atribuição da guarda, a abertura para as novas formas de família e os direitos da criança
1977 – Lei do Divórcio:
Regulamenta a dissolução da sociedade conjugal e do casamento. 
Abole o termo desquite. 
Referente à guarda: é conferida a apenas um dos genitores, geralmente a mulher, independentemente de qualquer outra condição, exceto a moral. Ao outro genitor poderá visitar e ter os filhos em sua companhia, segundo o que fixar o juiz, bem como fiscalizar sua manutenção e educação. Mantém o sistema vigente de definição da guarda em que o critério de falta conjugal permanece como óbice à guarda. O privilégio da maternidade gera algumas dificuldades para o exercício da paternidade ou afasta o homem da esfera dos filhos.
Referente aos Alimentos, a lei estimula que é obrigação de ambos o cônjuge (não só do pai), não discrimina o sexo responsável pela pensão, inferindo-se a obrigação conforme a necessidade e possibilidade. 
	A tendência atual, apesar na nova lei estabelecer direitos iguais para a guarda, os tribunais brasileiros ainda privilegiam a mãe. Contudo, observa-se nos últimos anos, um crescimento das solicitações dos homens, em situação de igualdade com a mulher, colocando em pauta as distinções construídas sócio-historicamente, que foram naturalizadas pelo Direito de Família.
Suannes (2008) assinala que os operadores do Direito, os profissionais de Saúde e de Educação e as instituições ligadas à proteção da infância veem com estranhamento e preconceito a mulher que não tem na maternidade a sua principal área de investimento. Com efeito, o discurso e os ritos institucionais aprofundam em vez de apaziguar a autodepreciação que a mulher experimenta, além de estimular ainda mais a disputa de guarda, na qual essa mesma mulher visa mais restaurar o próprio narcisismo. 
Apesar dos avanços veiculados pela Constituição Federal, Uziel (2004; 2007) observa uma contradição no texto legal: ao mesmo tempo em que veda a discriminação de cunho sexual, ele discrimina indiretamente a homoparentalidade. 
1988 – CF:
O casamento deixa de ser a única forma legítima de constituição familiar – união estável, ampliando o conceito de família.
Família monoparental é legitimada.
Igualdade de direitos e deveres para ambos os cônjuges.
Direitos das crianças reconhecidos em lei a partir do conceito de proteção integral e do entendimento da criança como sujeito de direito.
Fica proibida a discriminação entre os filhos
Da Convenção Internacional ao Estatuto da Criança e do Adolescente: a primazia do interesse da criança, a divisão entre parentalidade e conjugalidade, os padrões de normalidade e a inserção das equipes multidisciplinares
ECA:
É direito da cça ser educada por seus dois pais, exceto quando seu melhor interesse torne necessária a separação e na situação de separação da cça de sua família, é seu direito manter contato direto com sua família.
	Compreende-se que a separação matrimonial não deve conduzir a dissolução dos vínculos entre pais e filhos. Uma pesquisa realizada na VF do RJ concluiu que a guarda atribuída a um dos genitores contribui para o afastamento do genitor descontínuo (termo usado por Françoise Dolto) das decisões que visam a educação e aos cuidados com os filhos.
	O direito de uma cça manter um relacionamento pessoal com seu pai e sua mãe não resulta da autoridade e sim da responsabilidade parental em preservar o vinculo de filiação.
Théry (2007) observa que a expressão “direito da criança” comporta dois sentidos contraditórios. De um lado, o sentido que a diferencia do adulto e, portanto, a faz portadora de necessidade de proteção. De outro lado, existe o sentido do direito que procura excluir a especificidade da proteção (tradição anglo-saxônica). A ideologia dos novos direitos da criança constrói um novo paternalismo, não familiar, e sim do Estado, utilizando-se da infância como base para a diluição do Direito na intimidade.
	O interesse da cça é um critério usado juridicamente sempre em que a situação da mesma requer a intervenção do magistrado, visando a lhe assegurar um desenvolvimento adequado – predição seguindo certos padrões do que deve ser uma família ou infância saudável.
	Seja com a tarefa de realizar laudos e pereceres psicossociais, seja com a de ser “porta-voz” do infante, o aparato interdisciplinar indica o melhor interesse da cça diante da exclusiva possibilidade da guarda monoparental. Entretanto, tal objetivo revela-se inadequado em face das circunstancias que envolvem a maioria das disputas de guarda e regulamentação de visitas, marcadas por acusações mútuas entre as partes litigantes.
A Lógica Adversarial, o Envolvimentodas Crianças no Conflito e os Malefícios da Perícia
Disputa de guarda – lógica adversarial – um genitor tenta mostrar que é mais apto e desqualifica o outro. A decisão do juiz se baseia em qual das partes está mais amparada pela lei (visão maniqueísta).
Ao psi é demandado responder ao juiz qual é a parte mais qualificada ou analisar o impedimento de visitas. Tal tarefa requer uma análise mais cuidadosa:
1º) Cabe interrogar se existem instrumentos para avaliar a capacidade dos cônjuges. A visão maniqueísta isolada do contexto pode resultar em definições estereotipadas que dificilmente recobrem a pluralidade das relações intrafamiliares.
2º) A definição de um guardião tem como efeito simbólico a demissão do outro como incapaz, podendo provocar o afastamento de suas responsabilidades.
	O laudo psi acaba servindo de combustível para o fogo da desavença familiar. Ele fornece um poderoso instrumento – com argumentos técnicos sobre defeitos e virtudes de um e de outro.
3º) O litígio é uma forma de manter o vinculo com o ex-cônjuge, podendo os filhos serem usados como objetos de desavença. 
Groeninga (2003) alerta sobre os riscos de a demanda judicial tornar crônico o conflito que é inerente aos ciclos de vida da família.
Por que não se deve perguntar a cça com quem ela deseja ficar?
Sua decisão pode acarretar sérios sentimentos de culpa por rejeitar um dos genitores;
É comum a cça fantasiar que seus pais irão conviver novamente, assim, pedir que a cça se posicione é contrário a seus interesses;
Devem-se evitar acareações e considerações sobre o comportamento dos pais.
É importante que a cça seja ouvida pelo juiz, pois ela deve ser considerada por este como integrante da família. É importante que ele esclareça para ela que os direitos como cônjuges terminaram, mas não os deveres de parentalidade.
As cça também devem ouvir do juiz alguns de seus deveres filiais, a preservação com as famílias de ambos os pais.
Não é difícil a cça se sentir culpada pelo divorcio dos pais, cuja existência pensa ser um peso para eles.
Mesmo que a cça verbalize com quem deseja ficar, não se pode esquecer que há alianças com um dos genitores (geralmente o guardião, independentemente do sexo) e a percepção que o outro foi o “vilão” da separação.
Brito: “pesquisa do óbvio” – avaliar com qual dos cônjuges a cça tem maior afinidade para então estabelecer a guarda.
Acirrar ainda mais as posições polarizadas e visões maniqueístas a respeito do litígio.
	Quando o psi restringe sua tarefa a indicar qual o melhor genitor revela suas limitações, pois não contribui para uma melhor qualidade das relações entre as partes litigantes e tampouco coloca em xeque a lógica adversarial presente nos encaminhamentos jurídicos. O psi deve retirar da família sua posição passiva em relação ao litígio. O psi, então, deve ampliar seu raio de visão para além da perícia técnica.
Possibilidades e Limites da Intervenção Psicanalítica: a importância da fala, o laço conjugal, a questão do desejo
O Direito de Família tem como função primordial garantir as fronteiras de parentesco e de filiação frente aos excessos dos conflitos conjugais. Convém às práticas jurídicas, incluída a atuação do psicólogo, organizar as balizas da linhagem familiar, sem a qual a criança não poderá se constituir como sujeito e como ser vivente (Pierre Legendre). A Lei é, portanto, um dos eixos centrais de articulação entre o Direito e a Psicanálise. A Lei está apoiada inicialmente na interdição do incesto entre mãe e filho, cuja proibição é representada pelo pai simbólico. A inscrição da metáfora paterna na criança só se fará presente a partir da eleição desejante de uma mulher por um homem cuja palavra é valorizada para representar a Lei simbólica. O casal está, portanto, na origem da inserção da criança na parentalidade (JULIEN, 2000). Esse campo de teorização lacaniana pode auxiliar o psicólogo a abordar as famílias em litígio sem fazer apelo às formas instituídas de organização familiar.
Pereira: estudou sobre o envolvimento pessoal do juiz na decisão de um processo na VF (“moral sexual”). Para ele é necessário estudar os conceitos psicanalíticos: sujeito, sexualidade e desejo.
Guyomard (2007) acentua mais as diferenças do que as similitudes entre Lei simbólica e leis jurídicas e, portanto, entre a psicanálise e o Direito.
A ênfase na fala do sujeito está também na reflexão de Duarte (2006), para a qual a criança produz sintomas como resposta aos impasses familiares. É importante não somente dar voz à criança e dar oportunidade de escuta aos pais e parentes envolvidos.
Na perspectiva lacaniana o que está em jogo na escuta analítica não é o laço conjugal ou o casal e sim o sujeito. Assim, o laço conjugal se configura como uma formação sintomática na medida em que pretende fixar o objeto causa do desejo, cuja tarefa é impossível. Não há objeto capaz de satisfazer integralmente o desejo do outro. Desejo é sempre de outra coisa. Não significa que o laço conjugal seja impossível, desde que se considere a dimensão da falta que está na base do desejo.
Masoquismo moral (Freud): satisfação que não se resume ao ganho de prazer, uma vez que está relacionada ao sofrimento que a própria enfermidade comporta, só se abrindo mão do sofrimento psíquico quando o sujeito o substitui por um outro atual.
A inscrição da Ψc. no âmbito judiciário produz uma diversidade de efeitos: (a) re-significação do conflito, (b) a resolução dos aspectos processuais, (c) dissolução de queixas, (d) na pior das hipóteses – nada acontece e continua o conflito.
Suannes: propõe que se devolva a fala à pessoa e aos processos Ics que subjazem ao processo judicial, realizando um movimento de direção contrária na estruturação do problema jurídico, onde geralmente quem fala são seus porta-vozes. Da passagem da vivência de insatisfação do sujeito à enunciação do seu problema numa lógica jurídica há uma mudança na configuração do conflito em que o discurso da insatisfação cede lugar ao discurso do merecimento. 
	O encaminhamento das partes para o estudo psi já tem um papel importante porque nomeia a natureza do problema em pauta, isto é, atribui o estatuto psi a algo que é vivido pelas famílias como um problema jurídico. Uma vez encaminhado, a questão não se coloca entre dois pólos.
	Orientado por uma escuta Ψc., ao psi não cabe responder a demanda formulada pelo juiz e sim compreender que a questão que faz com que aquela família sofra e peça ajuda no Judiciário não é, muitas vezes, aquela que está configurada nos autos.
	Em relação a técnica Ψc, cabe lembrar que as partes não falam o que lhe vem a mente e sim o que lhe possa beneficiar no processo, e o não diz o que pode a outra parte usar contra ele. E o psi não pode manejar os efeitos de sua intervenção após a conclusão de seu laudo. Contudo, a pratica analítica no âmbito judiciário possibilita a retificação subjetiva em que o sujeito deixa de se queixar do outro para reconhecer sua participação no conflito. Quando as pessoas não querem ou se sentem impedidas para falar, basta apenas apontar as dificuldades das partes de se reconhecerem ativamente no conflito.
Caffé afirma que o dispositivo da “perícia psicanalítica” pressupõe um deslocamento da tradução jurídica da questão familiar para a fala dos envolvidos, que passam a se expressar sem o intermédio dos operadores do Direito, recolocando- os na autoria de suas falas.
	O psicólogo oferece os ouvidos com um único propósito: permitir que cada sujeito não somente abra mão da parcela de gozo que o discurso jurídico promete (“ganhar a guarda”, “ser melhor pai ou mãe”, “estar do lado da lei” etc.), mas também fazê-lo agir de
outra maneira.
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Mediação Familiar: a diversidade de práticas, a diferença em relação à arbitragem e à conciliação, o paradigma de entendimento mútuo, as experiências dos tribunais brasileiros
Dois provérbios da tribo Maori, destacados por Lévi-Strauss, que apontam para o lugar
fundamental dos conflitos familiares na estrutura social: o conflitoentre as famílias, se ele existe, é o que faz laço, sem o qual os grupamentos humanos podem matar ou morrer.
	Pressuposto de que o entendimento mútuo deve prevalecer sobre o antagonismo entre as partes.
Negociação		
	Quando os acordos são espontâneos e diretos sem auxílio de um terceiro.
Conciliação
	Quando algum impasse dificulta a negociação e um terceiro auxilia a mantê-la ou a restabelecê-la, reduzindo tensões e animosidade, opinando e sugerindo alternativas.
Mediação
	Quando algum impasse dificulta a negociação e um terceiro auxilia a mantê-la ou a restabelecê-la, desde que as parte sejam autoras das decisões. Atuando na construção de um ambiente colaborativo e na desconstrução dos impasses, possibilita que um diálogo sobre as questões e decisões consensuais possa ter lugar.
	A Mediação tem por objetivo devolver ao casal a competência para gerar a própria solução do conflito. O mediador pode ajudar na negociação, mas as partes devem ser as autoras das decisões. O mediador é o facilitador. Preservando a relação, na medida em que trata o litígio como perturbação temporária e não como ruptura definitiva, a mediação é mais acessível, rápido, informal e menos dispendioso.
	O mediador deve ter o cuidado de não se deter na análise das determinações psíquicas do conflito. Caso contrário corre o risco de prolongar o atendimento para além do tempo disponível no judiciário, além de dar um caráter terapêutico sem garantir a resolução dos acordos necessários para o fim do litígio.
Arbitragem
	Quando um terceiro, escolhido pelas partes (árbitro), decide, segundo critério de merecimento ou não, sobre as questões de litígio.
Litígio com resolução judicial
	Quando um terceiro, não escolhido pelas partes, determina, segundo critério legal ou de merecimento, sobre as questões das partes.
	Na abordagem sistêmica, busca-se compreender a dinâmica relacional que deu origem ao litígio e o papel de cada membro do grupo familiar na perpetuação da crise.
A diversidade de experiências demonstra o quanto a prática de mediação está sujeita a entendimentos e a aplicações díspares uma da outra. Daí a necessidade de promulgação de uma lei específica, de modo a estabelecer parâmetros reguladores de sua prática.
Mesmo sendo a mediação acenada como uma prática de profundo interesse, veem-se pouco problematizadas as relações de poder entrevistas numa certa pedagogia do entendimento mútuo e do sentir-se bem. Acrescentam-se os temores de que a mediação se transforme numa mistura de psicologismo e juridicismo, culminando no desencantamento do juiz com o ato de julgar. 
A ordem simbólica tradicional fracassa hoje em dia enquanto grade de interpretação das novas formas de relacionamento, das recomposições familiares, da homoparentalidade, etc. A valorização da mediação está inscrita num conjunto de estratégias normativas através das quais a dimensão contratual transformou-se num meio de sustentação das alianças conjugal e familiar. Ela se inscreve como mais um componente ativo de invasão da norma contratual na relação entre cônjuges e entre pais e filhos.
Os Impactos do Divórcio: os acordos em relação aos filhos, a não burocratização das visitas, os pontos de encontros
	As querelas entre as partes não provêm do processo de divórcio em si e sim dos antecedentes matrimoniais, não sendo a separação em si mais do que a continuação dos conflitos enraizados na união do casal.
	No que se refere a visitação, deve-se evitar os modelos rígidos e preconcebidos de relacionamento que possam criar dificuldades para o genitor descontínuo acompanhar e participar do desenvolvimento dos filhos. A burocratização das visitas pode criar uma rotina diferente do tempo subjetivo da cça.
	O psi deve promover o estreitamento do relacionamento entre ambos os pais e filhos.
Bruno (2003): há uma problemática oposição entre os termos “visita” e “convivência”.
Pontos de encontro: instituições em que as visitas são “supervisionadas” por assistentes sociais, psicólogos e conselheiros conjugais, entre outros, constituindo-se como um local “neutro”, onde a criança é deixada por um dos pais e visitada pelo outro. O objetivo em geral é manter ou restabelecer um laço positivo e regular da criança com seus genitores (às vezes com avós ou outros parentes), protegendo-a em seus direitos e, ao mesmo tempo, responsabilizando aqueles que respondem por ela.
Segundo Bastard & Cárdia-Vonèche (1998): dois modelos de intervenção entre a grande maioria dos lieux d’accueil na França. O primeiro modelo deriva das práticas de mediação, uma vez que se considera indispensável reduzir o conflito dos pais para manter o contato deles com a criança fora da instituição. O segundo modelo (point de rencontre) centra no respeito à lei e na restauração da relação da criança com o genitor descontínuo. Nessa perspectiva, o trabalho consiste em restabelecer ou preservar a relação de parentalidade, sem procurar reativar as relações entre os ex-cônjuges, dividindo a mesma referência teórica – a psicanálise. Apesar das diferenças, esses dois modelos comungam do princípio de manutenção dos laços entre a criança e seus pais biológicos após o divórcio, oferecendo-se como um lugar apropriado para regular tais relações.
Guarda Compartilhada e o Novo Código Civil: as experiências em outros paises, o reforço da responsabilidade parental, o fim da falta conjugal e do pátrio poder
O direito inalienável da criança em manter o convívio familiar – consagrado na Convenção Internacional – constitui o eixo nevrálgico do dispositivo jurídico da guarda compartilhada.
Em alguns paises, a legislação já estabelece que a autoridade parental seja conjunta após a separação conjugal.
	O objetivo da guarda conjunta ou compartilhada é o de reforçar os sentimentos de responsabilidade dos pais separados que não habitam com os filhos. As decisões sobre problemas médicos, escola, viagem, religião, etc. são tomadas por ambos os genitores, enquanto a criança habita com um deles. Contudo, ao mesmo tempo em que ela é benéfica para algumas famílias onde os pais são cooperativos, pode não funcionar em outras. Porém ela tem a vantagem de ser bem sucedida mesmo quando o diálogo entre os pais não é bom, mas que são capazes de discriminar seus conflitos do exercício da parentalidade.
	Na guarda alternada, a cça. passa períodos alternados na companhia dos ex-cônjuges. F. Dolto Afirma que esta modalidade é prejudicial para a cça. até 12 ou 13 anos, uma vez que a quebra de um continuum espacial-social-afetivo leva a cça. à dissociação, à passividade e a estados de devaneios.
A guarda compartilhada não corresponde necessariamente à guarda alternada, cujo pressuposto é de que a criança deve passar períodos alternados na companhia dos pais. Desse modo, deve-se distinguir a guarda física compartilhada – equivalente à alternada – da guarda legal compartilhada. Nesta última, os dois genitores exercem conjuntamente as decisões importantes aos filhos, embora somente um deles possua a guarda física (BRUNO, 2002). 
Bruno (2002) lança luz sobre as indicações e as contraindicações da guarda compartilhada. Além dos casos em que a criança possa ser exposta a uma situação de violência doméstica, pressupõe-se que seja também contraindicado impor a guarda compartilhada a casais que vivem em conflito. Todavia, é importante lançar alguns questionamentos em face dos seus argumentos. Em primeiro lugar, o elenco de pré-requisitos deveria ser válido para todo e qualquer tipo de guarda e não somente em relação à guarda compartilhada. A ação de livrar a criança dos conflitos paternos deve ser feita de forma bastante criteriosa, sob o risco de reeditar a tutela higienista ao qual foi submetida a família pequeno-burguesa desde que foi estrategicamente valorizada na aurora da Modernidade. 
	No novo CC cai por terra a falta conjugal, mas permanece a guarda monoparental, já que não contempla a guarda compartilhada decidindo que a cça ficará com quem revelar melhores condições para exercê-la.
Em relação ao NovoCC:
	Omissões
	Inovações
	União estável entre homossexuais
	Reduz o grau de parentesco até quarto grau
	Clonagem
	Legitima a falta de amor como motivo para separação, sem perda do direito de pensão
	Inseminação artificial
	Concede efeito civil ao casamento religioso em qq culto
	Proteção do sêmen
	Estabelece a igualdade absoluta de todos os filhos
	Barriga de aluguel
	Reduz a maioridade civil de 21 para 18 anos
	Transexualismo
	Nega o adultério como causa preponderante na separação
A síndrome de alienação parental
A SAP corresponde às ações de um dos genitores, normalmente o guardião, que “programa” a criança para odiar o outro sem qualquer justificativa.
Em face desse panorama, no Brasil, foi sancionada a lei 12.318, que pune a conduta de pais e parentes alienadores – estabelecendo como punição advertência, multa, perda da guarda e suspensão da autoridade parental –, assim como a fixação cautelar do domicílio da criança ou adolescente. Contudo, a criminalização de conflitos de foro íntimo não parece ser uma das melhores saídas. Acrescentemos que a alienação parental nem sempre se faz através de atos voluntários e conscientes. Ademais, não se pode perder de vista o aspecto relacional. 
Com efeito, os profissionais devem entender que o movimento de negar o acesso do pai à criança não resulta de caráter mórbido, mas se refere à busca do reconhecimento de identificação e de cidadania. Tais profissionais, inclusive os psicólogos, devem buscar formas de romper esse assenhoramento feminino, já que não faz mais do que perpetuar a desigualdade entre os gêneros.
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Considerações Finais
	O modelo de família na legislação brasileira não é reflexo das relações vivenciadas na sociedade, muito mais heterogênea do que a lei pode pretender, e sim a codificação nascida da preocupação do Estado em reconhecer, nos termos legais, os laços familiares, a definição do poder marital e paterno, a regulamentação do regime de bens. 
	Ao regular as relações e o regime de bens, o legislador cumpre uma função não só normativa, mas, principalmente, valorativa, que codifica ao nível do Direito o lugar que cada membro da família e do casal deve ocupar.
	Ao mesmo tempo em que a lei absorve valores de normalização médico e psicológico, ela serva de suporte para vigilância e controle.
	A restrição do papel de perito dos psi perpetua o conflito, impondo prejuízos emocionais, sobretudo para os filhos envolvidos. Outras possibilidades de atuação podem promover arranjos mais benéficos entre os familiares, além de atender os objetivos da instancia judiciária. No entanto, não se pode desconsiderar que o saber psi nas VF não é isento das relações de poder, cabendo interrogar se as praticas que visam à resolução dos impasses fazem proliferar mecanismos de tutela cada vez mais sofisticados e menos visíveis.
Texto 4 – O Psicólogo e as Práticas de Adoção
(Lídia Natalia Dobrianskyj Weber)
Adoção nas primeiras civilizações:
Forma de manutenção da família ou para perpetuar o culto ancestral doméstico.
Suprir as necessidades de casais inférteis – “adoção clássica”
“Adoção moderna” – garantir o direito da cça. de crescer e ser educada em uma família.
“Adoção à brasileira” – quando uma pessoa registra como seu filho de outra pessoa.
Robert (1989) – Adoção é a criação jurídica de um laço de filiação entre duas pessoas.
Weber (2001) – Adoção está embasada em uma realidade biológica, social, psicológica e afetiva, e essa multideterminação torna-se mais complexa, apesar de que, para os pais, a adoção significa simplesmente ter um filho.
	A idéia de adoção pressupõe a existência de uma história de abandono e isso não pode ser esquecido qdo se deseja entender a perfilhação.
A Adoção: história e legislação
Séc. II a.C – Código de Hammurabi – mais antigo conjunto de leis sobre a adoção.
Id. Média – adoção teve um eclipse para reaparecer com a Rev. Francesa, pois o direito feudal considerava imprópria a convivência de senhores com rústicos e plebeus em uma mesma família.
Id. Moderna – Dinamarca (1683) primeira referencia a adoção.
	Durante séculos o nascimento de um filho ilegítimo era reprovado, o que ocasionava abortos, infanticídios ou nascimentos clandestinos e o posterior abandono das cças.
Roda dos Enjeitados ou dos Expostos – mecanismo social que hipocritamente solucionou estes escândalos. 
	Da história inicial sobre adoção conclui-se que:
a adoção nos moldes legais foi uma exceção;
a adoção servia especialmente aos interesses dos adultos e não da cça.
Princípio da herança – maior barreira para a introdução da adoção na lei. Transmissão da terra por laços de sangue.
1ª Guerra Mundial – a adoção começa a adquirir um sentido social voltado para os interesses da cça, devido ao grande nº de cça. órfãs e abandonadas, sendo a adoção a solução para a ausência de pais e o bem-estar da cça.
2ª Guerra Mundial – este interesse pela adoção passa a ser apenas para os recém nascidos. 
EUA – país que mais adota.
Brasil –os índios não abandonavam seus filhos. Último país a extinguir a Roda dos Exposto (1950).
1828 – primeiro dispositivo legal a respeito da adoção;
CC 1916 – somente podiam adotar maiores de 50 anos sem filhos legítimos.
C Menores 1927 – enfatizou a institucionalização das cça como forma de proteção à infância.
1941 – Bahia - oficializada a 1ª Agência de Colocação Familiar – ao longo do tempo desvirtua-se o conceito de “proteção da cça.” para a colocação legal de cça. em família com objetivo de serem utilizadas como serviçais.
1957 – Lei 3.133 – redução da idade para adotar para 30 anos e diferença de idade entre adotado e adotante para 16 anos. Permitiu-se a adoção para adotantes com filhos legítimos, legitimados ou reconhecidos. Os casados poderiam adotar depois de 5 anos de casados.
1959 – Declaração Universal de Direitos da Criança.
1965 – Legitimação Adotiva – adotado quase que com os mesmos direitos dos filhos legítimos, salvo no caso de sucessão se concorresse com o filho legítimo superveniente à adoção.
1979 – Código de Menores – Adoção Simples – autorizada pelo juiz e aplicável aos menores em situação irregular; Substituição da Legitimação Adotiva pela Adoção Plena. Três tipos de adoção: 
	1. Adoção simples; 
	2. Adoção Plena (pelo Cód. De Menores); 
	3. Adoção Plena (pelo Cód. Civil), tb conhecida como Adoção Tradicional.
1989 – Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos das Crianças – previa a observação dos direitos humanos das cças.
1990 – Promulgação do ECA – considerada uma das leis mais avançadas do mundo: algumas alterações:
Direitos iguais para todos os filhos;
Idade mínima para adotar: 21 anos (atualmente 18 anos);
Autorizou a adoção por qq. estado civil;
Permitiu a adoção unilateral e adoção póstuma;
Substitui a “proteção para o menor irregular” em “proteção integral”;
Unificação das duas formas de adoção;
Adoção irrevogável;
Adoção será deferida se apresentar reais vantagens para o adotando e fundar-se em motivos legítimos.
	Apesar do avanço do ECA, algumas observações:
O processo de adoção é considerado “lento e burocrático” pela maioria dos adotantes > incentivo para adoção ilegal (adoção à brasileira – que deveria ser substituído pelos termos: adoção informal ou direta);
Não existe a definição de “abandono” no ECA > permite que cças. permaneçam longos anos em instituições, sem condições de retornarem para suas famílias de origem e sem possibilidades para adoção, pois legalmente ainda pertencem aos pais genéticos.
Os Grupos de Apoio fizeram diversos movimentos de pressão que ajudaram na aprovação, em 2009, da Lei Nº 12010/09, Lei Nacional de Adoção, que chega, ao mesmo tempo, festejada e criticada. De maneira geral, houve um avanço em vários aspectos e o mais importante deles é justamente o prazo máximo de dois anos para permanência de uma criança ou adolescente em um abrigo, que, aliás, passou a se chamar “instituição de acolhimento”. Há também possibilidade de “acolhimento familiar” sob forma de guarda, sendoque esta modalidade deverá ser priorizada ao acolhimento institucional.
Dentre outras mudanças importantes estão a reavaliação semestral de cada criança acolhida institucionalmente, a prioridade para manter a criança ou reintegrá-la à família de origem, a possibilidade de acolhimento institucional urgente e excepcional etc. Outro aspecto inovador foi a menção de assistência pré e perinatal pelo Sistema Único de Saúde (SUS) a gestantes ou mães que manifestam interesse em entregar seus filhos para adoção, em uma tentativa de minimizar o número de bebês abandonados em locais públicos no país. Também houve aumento do prazo para a genitora retratar o seu consentimento para adoção, até a data da publicação da sentença constitutiva da adoção, podendo ser excessivo e concorrer com todos os riscos de problemas relacionados à vinculação afetiva. Por fim, é preciso enaltecer o artigo que torna obrigatória a preparação de pretendentes à adoção.
Perfil das Famílias por Adoção no Brasil
O Cadastro Nacional de Adoção reúne os pretendentes à adoção. Para saber as características e o perfil de adotantes e adotados no Brasil, seria necessário reportar-se aos mais de dois mil Juizados do país. Porém, dados obtidos com 10 anos de diferença entre as coletas apontam poucas mudanças, apesar de apresentarem uma tendência de maior aceitação de crianças com mais idade e cor da pele diferente dos adotantes
Sobre os adotantes
• Estado civil dos adotantes: casados, 85%; solteiros e separados, 14%;
• Cor da pele dos adotantes: 85% são brancos;
Adoção legal ou informal
• Tipo da adoção: 62% das adoções foram oficiais e 38% foram informais ou ilegais e adotantes com nível de escolaridade e renda superior apresentaram maior tendência em realizar adoções legais. Adotantes com menor renda familiar apresentaram tendência para realizar adoções informais e também adoções altruístas, ou seja, já possuíam filhos genéticos e adotaram crianças com mais idade e cor de pele diferente;
Motivação para a adoção
• Motivação para adoção: a maioria dos adotantes (63%) adotou uma criança para resolver uma necessidade em sua vida: não pôde gerar filhos genéticos, ainda era solteiro ou um filho seu havia falecido; 35% dos adotantes alegaram motivações altruístas (encontrar uma criança abandonada, compromisso social etc.) quando decidiram adotar uma criança A adoção cuja motivação é altruísta ocorreu com maior frequência em famílias com menor renda familiar;
O Papel do Psicólogo nas Equipes Técnicas dos JIJ: algumas considerações sobre seleção e acompanhamento
Participação do psi – caráter multidisciplinar.
Dupla intervenção do psi: 1) prognosticar o êxito; 2) prevenir possíveis disfunções.
A Motivação dos Candidatos à Adoção
Parker – 1999 – melhor combinação para a motivação para adoção: infertilidade e altruísmo, pois a maioria dos adotantes nestas condições tem consciência de que há uma mistura de suas próprias necessidades e as da cça.
Pais sociais (foster parents) - poucos considerados em nossa realidade porque são “contratados para cuidar” e não estão necessariamente na fila do cadastro, mas o nascimento de um vínculo de afeto não deve ser menosprezado. 
	Há argumentos que mostram que a institucionalização da figura dos pais sociais carrega o risco de perpetuar a situação de abrigo das cças, neste sentido, os pais sociais entrariam em conflito com o ECA, cuja prioridade é colocar as cças em condições o mais próximas possível da vida familiar.
	Outros argumentam que esta parece ser uma boa alternativa para uma fase de transição que tenta minimizar os efeitos maléficos da institucionalização.
Motivação dos candidatos: deve sempre ser investigada, embora os sinalizadores negativos não sejam muito claros (exceto os casos patológicos). A motivação está fortemente relacionada às expectativas dos adotantes, mas enfatizamos a preparação para a adoção e não apenas a seleção de candidatos “mais aptos”. A priori ninguém deveria ser excluído antes de ter passado pelo processo de preparação para adoção. Os serviços de adoção deveriam rever seus critérios periodicamente pois mudanças sociais devem ser incorporadas.
Jofré – 1996 – adoção não indicada nos casos de perda recente de filhos ou famílias que possam ter filhos genéticos mas optam pela adoção.
McIntyre – 1994 – pais homossexuais são tão efetivos quanto pais heterossexuais.
Patterson – 1997 – tanto os níveis de ajustamento maternal, auto-estima e desenvolvimento pessoal e social das crianças criadas por mãe homo são compatíveis com crianças criadas por casais tradicionais.
Mais importante do que a orientação sexual dos pais adotivos, o aspecto principal é a habilidade dos pais em proporcionar para a cça um ambiente afetivo, educativo e estável.
O Período de Espera
Os adotantes esperam uma cça. na sua ausência. Pesquisas mostram que qto maior for o tempo de espera maior é a insegurança dos pais.
Cassin e Jacquemin – 2001 – os pretendentes apresentam tais ansiedades em função de seu histórico de perdas e suas expectativas sobre a adoção, pois ter filhos é uma determinação macrossocial e, ao mesmo tempo, um dispositivo de poder microssocial.
	Não é possível exigir que os candidatos esperem uma cça. virtual sem sequer imaginar algumas de suas características. A equipe deve encontrar maneiras de refletir sobre os desejos de cada um e como eles se coadunam com as características das cças. que esperam uma família. Os psi das equipes técnicas podem criar formas de manter os candidatos como verdadeiros participantes do processo. É importante que os adotantes sejam informados do andamento de seu processo, pois o relato é de que estes se sentem esquecidos e isolados. Alguns autores afirmam que este período pode ser tão rico quanto o período de espera de um filho genético e não um estado depressivo e ansioso. O longo tempo de espera pode fazer com que os adotantes aceitem uma cça. somente para acabar com a ansiedade de espera e isso pode trazer frustração e desapontamento.
	A equipe deve estudar profundamente o passado das cça. para determinar suas necessidades específicas e áreas mais vulneráveis e procurar um lar adequado às suas necessidades.
A Seleção de Candidatos
	Anteriormente a avaliação de candidatos consistia apenas em critérios de seleção de moradia, ingresso e composição familiar. Atualmente, a tendência marca a necessidade de estabelecer um processo de assessoria constante para as famílias adotivas, tanto antes qto depois da colocação da cça.
	A equipe deve entender o seu papel profilático.
Vargas – 2000 – uma das questões técnicas mais relevantes no trabalho do psi com a adoção é a possibilidade de atuação preventiva. A obrigatoriedade de um contato inicial mediante avaliação para o cadastro de candidatos e a observação dos vínculos familiares em formação, durante o estágio de convivência, facilitam que a intervenção do psi venha a ter um caráter mais orientador e de suporte do que perícia.”
	Ao invés de pais ideais a equipe deve saber recrutar pais capazes de satisfazer as necessidades dos filhos adotivos (psi – agentes transformadores em potencial).
Tarefas da equipe de adoção:
1ª) garantir que os candidatos estejam dentro dos limites das disposições legais do país;
2ª) iniciar um programa de trabalho para assessorar, informar e avaliar os interessados e não apenas “selecionar” os mais aptos.
Não parece existir uma correlação entre motivação e satisfação com a adoção, seja do ponto de vista dos pais ou dos filhos, assim, é necessária uma relação menos dogmática em relação a essa questão.
Algumas mudanças mais recentes no que se refere à seleção dos candidatos:
Deve prevalecer o interesse da cça;
Refere-se ao modelo de seleção: antes os modelos tinham o objetivo de classificar e descobrir atributos desejáveis em candidatos a pais adotivos (modelo ainda muito utilizado no Brasil). Deve ser privilegiado o modelo de preparação/ educação com base em atividades pedagógicas e treinamento para o novo papela ser desempenhado pelos pais adotivos (modelo aberto e flexível).
Biniés – 1997 – os objetivos deste modelo são:
Ajudar os candidatos a explorarem sua natureza da parentalidade e a compreenderem seus próprios sentimento e dificuldades;
Preparar os candidatos a reconhecerem se são capazes de aceitar a adoção e renunciar voluntariamente se perceberem que não é o que buscaram;
Facilitar que os candidatos realizem uma avaliação de sua motivação, habilidades e necessidades;
Proporcionar as habilidades necessárias para a educação da cça. adotiva.
São utilizados grupos de discussão com atividades e vivências participativas (treinamento de papéis, brainstorming, trabalhos em pequenos grupos, vídeos, fotos, desenhos, treinamento de habilidades sociais e práticas educativas) com o objetivo de: i) refletir atitudes e comportamentos emocionais; ii) desenvolver habilidades; iii) discutir idéias e sentimentos sobre o processo de adoção.
Aliança entre o JIJ e CMDCA/ CT/ ONGs traz diversas vantagens:
Prevenção das adoções prontas;
Prevenção do abandono;
Preparação para adoções necessárias;
Acompanhamento do estágio de convivência poderia ser mais sistemático se fosse realizado por profissional desvinculado da avaliação do judiciário.
Conclusão do texto: necessidade de uma mudança de paradigma, ou seja, de a equipe técnica ter uma conduta pedagógica e não simplesmente avaliativa, “retirando-se o foco de suas atribuições de perícia para recolocá-la num patamar mais amplo que inclua o preparo e a reflexão dos pretendentes”.
Texto 5 – O Papel da Perícia Psicológica na Execução Penal 
 (Salo de Carvalho)
Ao longo dos 25 anos de vigência da Lei de Execução Penal (LEP), consolidou-se determinada forma de atuar dos peritos-criminólogos voltada quase exclusivamente à satisfação das demandas do Poder Judiciário através da elaboração de laudos e pareceres.
No entanto, alteração produzida com o advento da Lei 10.792/03 possibilitou reavaliar o papel dos atores da execução, dentre eles o do corpo criminológico formado por profissionais das áreas da psicologia, medicina (psiquiatria) e serviço social.
A hipótese que orienta essa pesquisa é a de que, na atualidade, existem condições legais de superação do antigo modelo.
	
A LEP instituiu a Avaliação Criminológica – “individualização administrativa da pena”. Após a aplicação da sanção pelo juiz (individualização judicial) os agentes do sistema carcerário classificam os condenados para determinar o programa “ressocializador”. Assim, os condenados com pena privativa de liberdade serão submetidos a diagnóstico para obtenção de elementos necessários à adequada classificação para estabelecer os parâmetros do “tratamento penal”.
CTC (Comissão Técnica de Classificação) - o objetivo é obter dados reveladores da personalidade e acompanhar a execução da pena restritiva de liberdade propondo à autoridade competente, as progressões e regressões dos regimes bem com as conversões de pena.
COC (Centro de Observação Criminológica – local autônomo) – objetivo de avaliar o cotidiano do condenado. Realiza exames periciais e pesquisas criminológicas retratando o “perfil do preso”, fornecendo instrumentos para auxílio das decisões judiciais dos incidentes da execução (livramento condicional e progressão de regime). Deverá realizar prognóstico de não delinqüência (requisito subjetivo para a concessão do livramento condicional).
Exames e prognósticos criminológicos violam os mais sagrados direitos do cidadão (livre manifestação do pensamento e formação de sua personalidade – reforçando o estigma de delinqüente).
O trabalho do perito, principalmente do psicólogo, era fundado na técnica de reconstituição de vida pregressa, que “via de regra vem a confirmar o rótulo de criminoso” (HOENISCH,
2002: 110)e “ prescreve a sua conduta futura” (IBRAHIM, 1995: 52-53).
	O sistema penal tanto “psiquiatriza” a decisão do magistrado - delegando a motivação do ato decisório ao perito que o realiza a partir de julgamentos morais sobre opções e condições de vida do condenado, como estabelece um mecanismo de (auto)reprodução da violência pelo reforço da identidade criminosa.
 
Vera Malaguti Batista – “estes quadros técnicos, que entraram no sistema para ‘humanizá-los’ revelam em seus pareceres conteúdos moralistas, segregadores e racistas, carregados daquele olhar lombrosiano e darwinista social erigido na virada do séc. XIX e tão presente até hoje nos sistemas de controle social”.
	Sabe-se que um dos mais perversos modelos de controle social é aquele que funde o discurso do direito com o discurso da psiquiatria (modelo positivista com a criminologia naturalista).
O juiz da execução penal desde a instituição dos postulados da criminologia clínico-administrativa, deixou de decidir, passando apenas a homologar laudos técnicos. Seu julgamento passa a ser informado por um conjunto de microdecisões (micropoderes) que sustentarão ‘cientificamente’ o ato decisório. Assim, perdida no emaranhado burocrático, a decisão torna-se impessoal, sendo inominável o sujeito prolator.
A importância probatória dos pareceres e dos laudos periciais na reforma penal de 1984
O sistema progressivo, baseado na ideia de mérito do condenado, foi eleito em 1984 como o instrumento hábil para atingir a finalidade de reinserção social. Típico dos modelos estatais intervencionistas, o escopo ressocializador legitimou a ação dos aparelhos punitivos para avaliação e formatação da identidade do preso. Assim, o condenado ressocializado, no discurso da LEP, era aquele adequado às regras do estabelecimento carcerário e ao programa individualizador, ou seja, o sujeito disciplinado e ordeiro que se submetia e respondia satisfatoriamente ao tratamento penal.
Em face da linguagem técnica, o parecer aprisiona a decisão do juiz, sem deixar alternativas ao intérprete. E exatamente por expor juízo probabilístico, empiricamente indemonstrável (possibilidade de vir a cometer delito no futuro), as perícias impediam o direito ao contraditório, obstaculizando os direitos ao devido processo legal e à presunção de não culpabilidade em relação a fatos futuros.
A exclusão dos laudos e pareceres criminológicos pela lei 10.792/03 e a sua manutenção pela jurisprudência
Não obstante a Lei 10.792/03 ter institucionalizado o Regime Disciplinar Diferenciado (RDD) – espécie absolutamente autoritária e desumana de execução da pena –, a nova Lei pretendeu modificar a estrutura da individualização científica do sistema progressivo, fato que merece atenção. A alteração projetada pela Lei 10.792/03 ocorre em relação aos requisitos e ao procedimento para que o condenado alcance os direitos de progressão de regime e livramento condicional.
A substituição do texto anterior e a exclusão da referência aos laudos e aos pareceres criminológicos produzem dois efeitos distintos: (1º) retira o caráter vinculativo que as perícias e os pareceres criminológicos tinham sobre a decisão judicial; ou (2º) vedam a possibilidade de CTC’s e COC’s produzir material opinativo (pareceres) destinado à instrução do incidente executivo (prova técnico-pericial), seja progressão de regime, livramento condicional, indulto ou comutação.
Parece não haver dúvida de que a redação da Lei 10.792/03 deixa clara a opção legislativa em retirar do cenário jurídico a obrigatoriedade dos laudos e pareceres criminológicos. Apesar de a Lei 10.792/03 institucionalizar regime bárbaro de execução de pena (RDD) – fundamentalmente por isolar o condenado em regime gótico de execução da pena –, o texto normativo inovou na retirada dos laudos e dos pareceres técnicos, peças processuais cuja eficácia histórica foi a de manter absoluta sobreposição do discurso da criminologia administrativa e psiquiatrizada sobre o sistema jurisdicional de garantias.
Com o advento da Lei 10.792/03 e com a consolidação jurisprudencial sobre a não obrigatoriedade do laudo, restaria indagar qual a função dos criminólogos, dentre eles os profissionais da psicologia, para além das avaliaçõese das perícias que eventualmente sejam determinadas judicialmente?
A questão colocada tem o intuito de criticar a antiga postura que reduzia o técnico à exclusiva função de redigir laudos criminológicos. Apesar da postura conservadora do Poder Judiciário em manter a possibilidade de o juiz requisitar o laudo, entende-se que o papel dos profissionais da psicologia, da psiquiatria e do serviço social, que atuam na execução, seja outro, de maior relevância, para além do mero auxílio técnico probatório à
decisão judicial.
Segundo a nova redação da LEP, parece ser esperado do técnico trabalho no sentido da criação de condições que reduzam os danos produzidos pela execução da pena, de construção de mecanismos que minimizem os efeitos perversos da sanção penal. Caberia, portanto, às CTC’s, a missão de efetiva elaboração de programas individualizadores, seguido do imprescindível trabalho de acompanhamento do preso durante a execução das penas privativas de liberdade e restritivas de direito. Em relação aos COC’s, caberia à perícia técnica o auxílio na obtenção de elementos precisos àquela individualização, sobretudo no caso de condenado à pena privativa de liberdade em regime fechado.
Em síntese, a reforma legislativa permite entender o trabalho do técnico como propositivo (não impositivo), no sentido de elaborar programa de tratamento penal objetivando a redução dos danos causados pelo processo de prisionalização.
Atividade pautada em princípios de redução de danos possibilitaria construir com o apenado técnicas que possibilitassem minimizar os efeitos deletérios do encarceramento, sobretudo o da estigmatização, gestando espécie de clínica de vulnerabilidade. Se constatados problemas de ordem pessoal ou familiar, caberia ao técnico, em comunhão e com a anuência do apenado, colocar em prática instrumentos de manejo do problema, fornecendo elementos para superação da crise.
A elaboração conjunta do programa de redução de danos, com a prévia anuência do cidadão preso, é condição fundamental para que haja mútuo comprometimento. A imposição de programas de ressocialização, não obstante ferir a mais elementar premissa do tratamento (voluntariedade), somente é admissível em sistemas nos quais o encarcerado é percebido como objeto de execução da pena, como ente coisificado entregue ao laboratório criminológico do cárcere.
Texto 6 – A Atuação dos Psicólogos no Sistema Penal [NÃO FIZ AINDA]
(Tania Kolker)
Meu objetivo nesse texto é delinear um trajeto, propondo um percurso para os leitores desejosos de conhecer os principais autores e as principais ideias que vêm sendo travadas no conflagrado território dos discursos sobre as prisões e manicômios judiciários e, com isso, fornecer elementos para a problematização da atuação dos psicólogos e demais profissionais da saúde mental nessas instituições.
 	
	Durante muito tempo os saberes e fazeres dos profissionais de saúde nas prisões estavam submetidos a teorias mais conservadoras, cabendo-lhe apenas o papel de operadores técnicos do poder disciplinar. Esse quadro começou a mudar depois:
dos primeiros estudos foucaultianos sobre a prisão (criminologia crítica), 
com a contribuição do movimento da reforma penal internacional e,
com o desenvolvimento da cultura dos direitos humanos.
Formação de um profissional familiarizado com leituras mais críticas e desnaturalizadoras:
Para construir um conhecimento mais crítico sobre o sistema penal é preciso:
Estabelecer um diálogo entre os saberes: história, sociologia, economia, direito penal, criminologia, psi jurídica, entre outros.
Entender o papel da criminalização da pobreza, da demonização das drogas, da espetacularização da violência, da criação da figura do inimigo interno, da funcionalidade do fracasso da prisão.
Conhecer os autores, que no passado, construíram o objeto: O CRIMINOSO.
	A prisão (tal como conhecemos hoje) nasce no séc. XVIII com o Capitalismo e é utilizada para administrar – pela via da correção ou pela via da neutralização – as classes tidas como perigosas.
	Até o séc. XVIII, diversas outras formas punitivas foram adotadas sempre relacionadas ao modelo político-econômico vigente, respondendo à necessidade de formação, aproveitamento e/ou controle da mão de obra pouco qualificada ou como instrumento para a gestão das classes consideradas perigosas (por pobreza e marginalidade) e não apenas por sua criminalidade.
	Forma de punição
	Regime político-econômico vigente
	Escravidão
	Economia escravista
	Fianças e indenizações
	Economia monetária
	Suplícios e pena capital
	Período feudal
	Trabalho nas galés
	Necessidade de remadores
	Banimento e deportação
	Processo de exploração colonial
	Prisão c/ ou s/ trabalho forçado
	Economia capitalista
Mendigos, Vagabundos, Delinqüentes e Trabalhadores
A) PERÍODO FEUDAL
Castel – dissolução da ordem feudal aumentou o nº de pessoas involuntariamente desocupadas e sem residência fixa clientela dos dispositivos da i) assistência e ii) internação/reclusão (função administrativa) objetivo de absorver a massa de desviantes, neutralizando pelo isolamento e corrigindo-os através da tríade:
Trabalho forçado
Orações
Disciplina
Prisão Masmorra – punição em si, evitar a fuga.
JULGAR – estabelecer a verdade de um crime e apontar seu autor.
B) PERÍODO MERCANTILISTA
Função do Estado manter sob controle a mão de obra disponível e punir os não enquadrados nessa nova configuração. A pobreza, que antes era valorizada espiritualmente, torna-se motivo de desonra e é criminalizada. A mendicância é perseguida na Europa criação do dispositivo da internação função de transformar as forças inúteis ou potencialmente perigosas em força de trabalho.
C) SÉC. XVIII – ESCOLA CLÁSSICA
A Escola Clássica (LIBERAIS) atravessou o séc. XVIII e parte do XIX e foi baseada nos ideais do iluminismo: seu objeto era o delito. 
PENA - era vista como um meio de defesa contra o crime, atuando como um dissuasivo, uma contra-motivação à repetição da infração.
FIM DA PENA – eliminação do perigo social que adviria da impunidade do delito e a reeducação do condenado seria um resultado acessório.
Cresce a população miserável multiplicam-se as riquezas e as propriedades aparecimento dos grandes armazéns (estocavam matérias-primas e mercadorias passíveis de serem roubadas) e das grandes oficinas (reúnem trabalhadores descontentes e onde há máquinas que podem ser danificadas) nasce nova necessidade de segurança, aparecendo os primeiros rudimentos de POLÍCIA.
Crimes contra a propriedade prevalecem sobre os crimes de sangue.
Leis repressivas são criadas para controlar as formas embrionárias de organização das massas trabalhadoras.
Especialização das instituições.
Referente à Justiça:
Na Idade Média – funcionava através de tribunais arbitrais
No séc. XVIII – é substituída por um conjunto de instituições controladas pelo Estado com a função de administrar as massas revoltosas e assegurar a ordem pública.
Para Foucault: a justiça, a serviço da burguesia, assumirá como um de seus papéis impor ao proletariado, pela via da legislação penal e da prisão. Ela também se serve dos jornais, da literatura, de certas categorias da moral dita “universal” que servirão de barreira ideológica frente à plebe.
	Na passagem da sociedade feudal-monárquica para o capitalismo liberal nasce uma nova forma de punir: vigilância individual, perpétua e ininterrupta, ou seja, adoção de uma nova tecnologia, denominada por Foucault como DISCIPLINA praticada nas escolas, nos conventos, nas fábricas, nos hospitais, nos quartéis. É quando as classes dominantes descobrem que do ponto de vista da economia do poder é “mais rentável vigiar que punir”.
	A partir de então, o princípio da igualdade jurídica não há crime se não houver uma lei que o tipifique (no período feudal, os castigos não estavam definidos em lei, ficando por conta da vontade do senhor). 
	Aparece a noção de INFRAÇÃO – o ataque

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