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Rapapport (1987). Psicologia do Desenvolvimento (O QUE É A PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO)

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CAPÍTULO 1 
INTRODUÇÃO 1.1 O QUE É A PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO 
 Representa uma abordagem para a compreensão da criança e do adolescente, 
através da descrição e exploração das mudanças psicológicas que as crianças sofrem no 
decorrer do tempo. A Psicologia do Desenvolvimento pretende explicar de que maneiras 
importantes as crianças mudam no decorrer do tempo e como essas mudanças podem 
ser descritas e compreendidas. 
Note-se que esta preocupação com o estudo da criança é bastante recente em 
termos de História da Humanidade. Até época relativamente próxima ao século XX, as 
crianças eram tratadas como pequenos adultos. Recebiam cuidados especiais apenas em 
idade precoce. A partir dos 3 a 4 anos participavam das mesmas atividades que os 
adultos, inclusive orgias, enforcamentos públicos, trabalhavam nos campos e vendiam 
seus produtos nos mercados, além de serem alvos de todo tipo de atrocidades pelos 
adultos. 
A partir do século XVII, a Igreja afasta a criança de assuntos ligados ao sexo, 
apontando as inadequações que estas vivências traziam à formação do caráter e da 
moral dos indivíduos. Passaram a constituir escolas onde, além da preocupação básica 
com o ensino da religião e da moral, ensinavam-se habilidades como leitura, escrita, 
aritmética, etc. 
Esta atuação foi evidentemente limitada, embora tenha sido importante no 
sentido de apontar as grandes diferenças entre as personalidades das crianças e dos 
adultos. Esta limitação se refere tanto aos objetivos específicos propostos para a 
educação, como aos métodos utilizados e ainda ao pequeno número de crianças 
atendidas. 
Mas despertou a consciência da humanidade para uma reflexão acerca do 
assunto, e grandes filósofos dos séculos XVII e XVIII passaram a discutir aspectos da 
natureza humana, baseados nas suas próprias concepções a respeito da criança. 
Já no século XIX e mesmo no início do século XX observamos urna 
preocupação mais ampla e mais sistemática com o estudo da criança e com a 
necessidade de educação formal. Apesar disso, a disciplina era exercida, tanto nas 
famílias como nas escolas, de forma violenta e agressiva. Várias formas de castigo - 
como palmatória, ajoelhar no milho, espancamentos violentos e quartos escuros - foram 
abolidas das escolas ainda recentemente, embora, infelizmente, algumas dessas práticas 
continuem sendo utilizadas em nosso meio, especialmente nas populações de baixo 
nível sócio-econômico-educacional. 
Estas atitudes começaram a modificar-se a partir do estudo científico da criança, 
que se iniciou efetivamente neste século. Podemos ver, portanto, que dentro de uma 
perspectiva histórica de milhares de anos, em que predominou o total desconhecimento 
da criança, a nossa área de estudos encontrou no seu início uma série de dificuldades 
para se impor como área realmente séria, científica e útil, do ponto de vista social. 
Iniciamos nossa história como ciência do comportamento infantil com uma 
tendência para descrever os comportamentos típicos de cada faixa etária e organizar 
extensas escalas de desenvolvimento. Como exemplo podemos citar o trabalho de 
Gesell, nos Estados Unidos, ou de Binet, na França (este último mais preocupado com 
medidas da inteligência). A partir da elaboração destas escalas de uma certa forma, o 
desenvolvimento de cada criança poderia ser medido e comparado com o que se 
esperava para a sua faixa de idade ou com o comportamento considerado "normal". Por 
outro lado, através de um procedimento muito diferente, qual seja a psicanálise de 
pacientes adultos com vários tipos de perturbações, Freud chocava a humanidade no 
início do século XX com suas descobertas a respeito do desenvolvimento da 
personalidade da criança e com a constatação de que certos acontecimentos vivenciados 
na infância eram os determinantes principais de distúrbios de personalidade na idade 
adulta. Freud causou um impacto decisivo ao mostrar a importância dos primeiros anos 
de vida na estruturação da personalidade, determinando o curso do seu desenvolvimento 
futuro no sentido da saúde mental e da adaptação social adequada OU da patologia. A 
idéia e a metodologia de trabalho de Freud, que serão expostas no próximo capítulo 
deste livro, tiveram também o mérito de mostrar a presença de processos inconscientes 
em todas as fases da vida (derrubando o mito do homem racional) e da sexualidade 
infantil. 
Apesar de ter estudado pouco a criança em si, pois ele propôs a sua teoria de 
desenvolvimento, com base principalmente na análise de pacientes adultos, Freud 
prestou contribuição inestimável à nossa ciência. Muitas de suas ideias continuam sendo 
plenamente aceitas, em nossos dias, ao passo que outras foram revistas pelos seus 
seguidores ortodoxos ou dissidentes. De qualquer forma, apesar das críticas que hoje em 
dia possam ser feitas à obra de Freud, seu nome continua presente entre os autores que 
mais auxiliam a compreensão do desenvolvimento psicológico da criança. 
A psicologia infantil, podemos atualmente conceituá-la de maneira bem ampla, 
bem como a ciência, ou aspecto da ciência, que pretende descrever e explicar os eventos 
ocorridos no decorrer do tempo que levam a determinados comportamentos emergentes 
durante a infância, adolescência ou idade adulta. Pretende, pois, explicar como é que, a 
partir de um equipamento inicial (inato), o sujeito vai sofrendo uma série de 
transformações decorrentes de sua própria maturação (fisiológica, neurológica e 
psicológica) que, em contato com as exigências e respostas do meio (físico e social), 
levam à emergência desses comportamentos. Portanto, a nossa ciência pretende: 
a) Observar e descrever os fenômenos (exemplo: choro, agressão, linguagem, 
solução de problemas, etc.). 
b) Explicar os fenômenos. Explicar quais os processos subjacentes, quais os 
mecanismos psicológicos, internos, que atuam para possibilitar o aparecimento destes 
fenômenos comportamentais. 
Por conseguinte, a Psicologia Infantil pretende descrever e explicar o processo 
de desenvolvimento da personalidade em termos de como e por que aparecem certos 
comportamentos. Tenciona, portanto, conhecer os processos internos que direcionam o 
comportamento infantil. 
Para tanto, valemo-nos de pesquisas cuja principal finalidade é a obtenção da 
descrição precisa dos comportamentos das crianças quer em situações naturais (lar, 
escola, parque) quer em situações de laboratório; e de teorias que propõem conceitos 
explicativos desses comportamentos. 
Exemplificando: ao estudar a interação mãe-criança, aspecto fundamental para a 
compreensão da criança e da família, iniciamos pela observação de nossos sujeitos. 
Selecionamos amostras de pares mãe-criança representativas de vários segmentos da 
população, das várias faixas etárias, etc. 
Recorremos então a um método de observação e registro de comportamento: 
observação no meio natural e registro gráfico ou em filmes, aplicação de questionários e 
entrevistas, testes de desenvolvimento, etc. A partir deste procedimento, denominado 
coleta de dados, temos uma visão dos comportamentos emitidos pelos nossos sujeitos. 
Sabemos então como se comportam mãe e filho, uma em relação ao outro, dentro de 
determinadas situações delimitadas pelo nosso procedimento experimental. 
Trata-se de um passo fundamental, sem dúvida, porém insuficiente. Não basta 
saber que a mãe, ou as mães, tomam certas atitudes em relação a seus filhos. E 
necessário explicar quais os fatores que determinam essas atitudes. Seriam 
características de personalidade da própria mãe? Quais? Seriam as características da 
criança? Seriam fatores circunstanciais, momentâneos? Seriam fatores externos à 
dinâmica da própria dupla (econômicos, porexemplo)? Quais as repercussões que essas 
atitudes maternas terão no desenvolvimento da personalidade da criança? E na própria 
sequencia da interação? 
No momento então em que estas dúvidas são lançadas, torna-se necessário 
recorrer à teoria, ou às teorias do desenvolvimento. Uma teoria do desenvolvimento se 
constitui num conjunto de conhecimentos teóricos que oferecem subsídios para a 
explicação dos comportamentos observados. 
Fica claro então que o psicólogo do desenvolvimento, através da pesquisa 
(descrição precisa dos fenômenos comportamentais individuais ou em situação de 
interação social) e da teorização (tentativa de explicar e integrar os dados das pesquisas 
num todo coerente e unitário), oferece subsídios para a compreensão: 
a) do processo normal de desenvolvimento numa determinada cultura. Isto é, 
conhecimento das capacidades, potencialidades, limitações, ansiedades, angústias mais 
ou menos típicas de cada faixa etária. 
b) dos possíveis desvios, desajustes e distúrbios que ocorrem durante o processo 
e podem resultar em problemas emocionais (neuroses, psicoses), sociais (delinquência, 
vícios, etc.), escolares (repetência, evasão, distúrbios de aprendizagem) ou profissionais. 
Assim, a Psicologia do Desenvolvimento é uma disciplina básica dentro da 
Psicologia, pois nos permite conhecer e trabalhar tanto com as crianças como com os 
adolescentes e adultos. Oferecemos inúmeras opções de aplicação prática de nossa 
ciência tanto no trabalho profissional como psicólogos (clínicos ou escolares) ou ainda 
orientando profissionais de áreas afins. Podemos auxiliar o educador, mostrando quais 
as habilidades, capacidades e limitações de cada faixa etária nos vários aspectos da 
personalidade (motores, emocionais, intelectuais, etc.), e assim ajudá-lo a estabelecer 
programas escolares e metodologias de ensino adequadas, bem como programas 
esportivos e recreativos. 
Podemos auxiliar o assistente social, ensinando-lhe como orientar as famílias no 
sentido de proporcionar um desenvolvimento saudável; o médico, mostrando-lhe os 
componentes emocionais dos distúrbios físicos, etc. Enfim, a nossa ciência é muito 
abrangente e pode ter uma série de aplicações práticas. O psicólogo do desenvolvimento 
pode optar por um trabalho mais ligado à pesquisa do comportamento infantil, portanto 
um trabalho mais acadêmico, ou à aplicação prática. Neste último caso, pode ainda atuar 
no sentido profilático ou remediativo, clínico. 
Profilaticamente, podemos atuar junto às instituições da comunidade (família, 
escola, etc.), procurando criar condições para que as crianças possam ter um 
desenvolvimento saudável, clinicamente, auxiliando aqueles que, pelas mais diversas 
razões, estejam apresentando distúrbios de conduta ou de personalidade. Não há dúvida 
de que se torna necessário, no momento atual da sociedade brasileira (aonde o problema 
do menor vem assumindo proporções cada vez mais graves), uma intervenção do 
psicólogo infantil ao lado de outros profissionais. A divulgação de nossas ideias junto às 
famílias e às instituições educacionais pode contribuir para que as crianças carentes 
recebam um tratamento mais adequado. Se os pais forem apoiados e educados no 
sentido de proporcionar mais afeto e mais estimulação para o desenvolvimento 
intelectual, e receberem eles próprios este afeto e esta estimulação, poderemos então 
minimizar um pouco o sofrimento de nossas crianças e diminuir o grau de abandono em 
que se encontram. Se as escolas forem instrumentadas para elaborar programas 
educacionais mais adequados a estas crianças, menor será o índice de evasão escolar e 
de desajuste social e profissional consequente. 
Enfim, é muito amplo o campo de trabalho tanto no sentido de conhecer a nossa 
criança (pesquisa) quanto de aplicações práticas. Muito há para fazer. Mas, é sem 
dúvida necessária uma grande disposição para o trabalho e para a sua avaliação crítica 
constante. Por um lado, temos um grande conjunto de conhecimentos científicos e, por 
outro, inumeráveis oportunidades de aplicações práticas. Por que atuamos tão pouco 
então? Ou por que falhamos tantas e tantas vezes? 
Pelo menos em parte, a resposta está na jovialidade da nossa ciência. Pois, 
apesar da maturidade crescente que a Psicologia do Desenvolvimento vem ganhando 
como ciência, notamos ainda muitos pontos falhos. E um dos principais pontos em que 
falhamos é o dos métodos de pesquisa que temos. 
Antes de iniciarmos o estudo do desenvolvimento humano propriamente dito, 
focalizaremos rapidamente as dificuldades metodológicas inerentes às pesquisas neste 
campo, pois se verifica que acompanhando as investigações empíricas e clínicas a 
respeito dos fatores mais importantes e da forma como atuam no desenvolvimento da 
personalidade infantil, tem ocorrido, em paralelo, uma discussão sobre a adequação dos 
métodos de investigação, que, em última análise, determinam a validade e a 
credibilidade dos dados. 
Tão grande seria esta preocupação, que várias análises críticas foram feitas. 
Apenas na área da interação mãe-criança podemos contar dez publicações. As pesquisas 
iniciais sobre o desenvolvimento da personalidade infantil receberam influência teórica 
da psicanálise e gradualmente tiveram seus interesses deslocados dos estudos 
longitudinais para os efeitos que as características infantis exerciam na personalidade do 
adulto. 
Assim, historicamente, tais estudos se orientaram em duas direções diferentes: a 
da influência do adulto sobre a criança em desenvolvimento e, posteriormente, a da 
influência desta sobre o adulto. 
A primeira destas linhas de estudo preocupou-se com as práticas de criação 
infantil e os traços de personalidade dos pais associados com o desenvolvimento da 
personalidade da criança. 
Coerentes com esta orientação, esses trabalhos tomaram emprestados métodos 
de investigação usados em estudos clínicos e em explorações da personalidade humana, 
entre os quais se destacam as entrevistas e os questionários. As possibilidades e 
limitações desses procedimentos foram discutidas por Yarrow (1963), para quem as 
entrevistas representam autodescrições de pessoas extremamente ego-envolvidas; 
sofrem, especialmente na classe média, influência dos tabus e das expectativas sociais. 
Além disso, as entrevistas e questionários, quando usados para identificar atitudes 
adotadas pelos pais, requerem discriminações e sínteses muito difíceis para a mãe ou 
para o pai. Pede-se ao sujeito que sintetize em duas horas de entrevista a essência do 
processo entrevista a essência do processo de interação com seu(s) filho(s); e que ele se 
"lembre" dos seus sentimentos e dos de seus filhos; e assim ocorre o perigo de fazerem 
observações gerais, baseadas em respostas a situações específicas. 
A todas essas limitações, acrescente-se que, quando vários membros da família 
são consultados (pai, mãe, criança), os dados variam em função do informante. 
Verificou-se, por exemplo, que quando uma das pessoas (digamos a mãe) sabe que a 
outra, o pai, também será consultado, suas referências sobre o marido tendem a ser mais 
positivas do que quando sabe ou pensa que apenas ela será consultada. Embora não 
invalide as respostas maternas, isso tudo coloca a questão de se saber até que ponto elas 
refletem a situação. Usando estes procedimentos, alguns autores estabeleceram relações 
comprobatórias dos princípios teóricos relativos à socialização infantil; mas, neste caso, 
diz Yarrow (1963), as correlações são muito baixas, indicando apenas que "existe algo" 
que não pode ser especificado. 
A partir de 1945, além dos métodos correlacionais, um número crescente de 
pesquisadores preferiu observar diretamente a criança,usando para isso basicamente 
dois métodos: a observação naturalística, sem manipulação experimental; ou o método 
situacional, que consiste no estudo de laboratório com manipulação e controle das 
variáveis. 
 
 
1 Uma descrição destes métodos poderá ser encontrada nas seguintes obras: Mussen, 
P.H.; Conger, J.J. e Kagan, J. Desenvolvimento e personalidade da criança. São Paulo, Ed. 
Harper, 1977 ou Pikynas, J. Desenvolvimento humano São Paulo, Ed. McGraw-HiIl do Brasil, 
1979. 
2 Ver em Rappaport, C . R. Interação mãe-filho: influência da hiperatividade da criança 
no comportamento materno. Tese - U.S.P.. 1978. 
 
 
 
Estes métodos apresentam, porém, sérias limitações (Lytton, 1971). Por 
exemplo, as observações naturalísticas realizadas no lar, embora permitam observar 
algumas facetas da socialização, como a hora do banho ou de dormir, contudo, podem 
perder dados valiosos. E que situações de conflito ou punições podem ocorrer fora do 
horário de observação. 
Geralmente, este método sem estruturação é usado com bebês, pois são sujeitos 
mais fáceis de serem observados (o que talvez explique o fato de a literatura oferecer 
um número muito maior de dados a respeito desta faixa etária do que das subsequentes). 
Na idade pré-escolar (2 a 6 anos), são mais raros os estudos deste tipo, quando se 
usam mais situações de laboratório. Em relação à idade escolar (7 a 11 anos) existem 
alguns estudos com objetivos específicos, por exemplo, o de verificar as reações dos 
pais e das crianças diante de certas tarefas estruturadas. 
Quanto à observação naturalística, os autores reconhecem que nela pode haver 
uma distorção no sentido da desejabilidade social. 
O laboratório ou a sala experimental de brinquedos também leva às mesmas 
distorções, embora alguns controles, como mudança inesperada de situações, estejam 
sendo introduzidos no sentido de forçar o aparecimento de comportamentos 
espontâneos, não planejados. 
Por outro lado, estudiosos com formação etológica, como Blurton Jones (1972) 
ou Lytton (1971), criticam o que consideram como falta grave na metodologia de 
pesquisa da Psicologia do Desenvolvimento, qual seja a de ter pulado o passo essencial 
de descrição e de estudos normativos do repertório comportamental de seus sujeitos. 
Embora sugiram para a obtenção de dados o uso dos métodos etológicos, esses 
autores reconhecem a necessidade de cautela ao se transpor diretamente para o estudo 
de seres humanos, métodos, técnicas e mesmo dados colhidos com outras espécies. A 
transposição de tais modos e técnicasconstituiria apenas uma tentativa inicial para tornar 
mais rigorosa e válida a observação. 
As dificuldades aqui apontadas devem ser levadas em conta quando se analisam 
as pesquisas e os resultados delas derivados. 
Além disso, não se pode deixar de pensar que fatores externos à própria criança 
ou à dinâmica específica estabelecida entre os membros da família possam interferir ou 
mesmo dirigir o processo de desenvolvimento. 
Isto porque, conforme sugestões de Biurton Jones (1972) é apenas a partir de 
uma abordagem mais ampla, que leve em consideração outras variáveis além das 
especificamente psicológicas que se poderá chegar à compreensão do processo do 
desenvolvimento humano. 
Entre estas outras variáveis uma delas é o nível sócio-econômico-educacional a 
que o sujeito pertence. E, neste sentido, é pertinente relembrar as maiores dificuldades 
metodológicas encontradas por alguns pesquisadores ao trabalhar com sujeitos de classe 
baixa. Entre estes, Zunich (1971) mostra a dificuldade de se obter um perfil real da 
interação mãe-criança em uma amostragem de pessoas de classe baixa - vinte mães de 
meninos e vinte mães de meninas de três a cinco anos de idade - através de um 
procedimento de questionário e também observando diretamente a interação. Embora o 
autor acredite que esta forneça mais subsídios (mesmo que a reticência ou inibição das 
mães interfira nos resultados) do que aquela onde os julgamentos são feitos por 
indivíduos (os próprios sujeitos) menos qualificados do que os observadores treinados e 
objetivos. 
Estas rápidas considerações a respeito da metodologia podem ser realmente 
desalentadoras para o pesquisador que procura uma forma de trabalho que possa 
conferir validade aos seus resultados. Se os métodos tradicionais apresentam falhas e 
limitações comprovadas, e os mais recentes são ainda apenas tentativas, qual a melhor 
opção para o pesquisador? 
Nesse sentido lembramos ao leitor que deve estar ciente das dificuldades 
metodológicas da pesquisa na área da Psicologia Infantil e da Psicologia em geral, 
quando os resultados práticos e os conceitos teóricos forem analisados. 
Apenas com o progresso na área de pesquisas, acompanhado da crítica constante 
sobre a metodologia utilizada, é que se poderá chegar, talvez, a modelos mais rigorosos 
e mais confiáveis de coleta e interpretação dos dados. Sem dúvida, são necessários 
novos modos de se pensar e de investigar o processo de desenvolvimento humano, pois, 
quanto mais nos aprofundamos em seu estudo, mais parece estarmos atentos a aspectos 
particulares, mínimos, sem uma orientação subjacente, que nos permita uma visão 
global do processo. 
Não que não sejam válidos os estudos de partes do comportamento, e até talvez 
seja esta a única forma de se abordar cientificamente a conduta humana ou animal: mas 
porque esses resultados, por vezes, se tornam fragmentados e não permitem que o 
interessado em Psicologia do Desenvolvimento tenha uma visão adequada do processo 
como um todo, dos encadeamentos e das influências biológicas e sociais que ocorrem, 
sem dúvida, a todo momento, quer dando condições para o aparecimento de 
determinados comportamentos, quer impondo exigências ou limitações para a 
manifestação desses mesmos comportamentos. 
 
1.2 BIBLIOGRAFIA 
Burton Jones, N. Ethological studies of child behavior. Cambridge, Cambridge Univ. Press, 
1972. 
Erikson, E. Identidade, juventude e crise. Rio de Janeiro, Ed. Zahar, 1972. 
Erikson, E. Infância e sociedade. 2. ed. Rio de Janeiro, Ed. Zahar, 1976. 
Lytton, H. Observational studies of parent-child interaction: a methodological review. Child 
Development. Sept. 1971, v. 42, n. 3, p. 651-84. 
Mussen. P. J.; Conger, 3. 3. e Kagan, J. Desenvolvimento e personalidade da criança. 4. ed. São 
Paulo, Ed. Harper e Row do Brasil, 1977. 
Pereira, O. G. e Jesuino, J. C. Desenvolvimento psicológico da criança. Rio de Janeiro, Ed. 
Moraes, 1978. 1.0 v. 
Pikunas, J. Desenvolvimento humano. São Paulo, Ed. McGraw-HjlI do Brasil, 1979. 
Rappaport, C. R. Interação mãe-filho: influência da hiperatividade da criança no comportamento 
materno. Tese - U.S.P., 1978. 
Smith, H. A comparison of interview and observation measures of mother behavior. Journal of 
Abnormal and Social Psychology, 1958. v. 57. p. 278-82. 
 Smith, H.C. Desenvolvimento da personalidade. São Paulo, Ed. McGrawHill do Brasil, 1977.

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