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+ O Behaviorismo Radical e a Prática Clínica Profa. Ms. Cynthia Carvalho Jorge O Behaviorismo Radical e a Prática Clínica Objeto de estudo: Comportamento e suas interações com o ambiente O trabalho do Terapeuta analítico-comportamental é orientado pelos princípios do Behaviorismo radical A visão monista v Acaba com o dualismo mente-corpo Tanto o comportamento público (andar, falar) quanto o comportamento privado (sentir, imaginar) ocorrem em uma mesma dimensão natural A diferença entre público e privado, é que os comportamentos privados são acessados diretamente pelo próprio indivíduo; Não existe uma mente que rege os comportamentos humanos! A visão monista na clínica… O Sofrimento de uma pessoa, sua forma de agir, seus comportamentos não são determinados, mediados, ou controlados por uma mente (i.e, algo que escapa ao mundo físico) Os comportamentos privados, ou a subjetividade também não se encontram em outra dimensão! O comportamento, seja ele público ou privado, é uma relação entre eventos naturais, ou seja, entre organismo e ambiente Visão Determinista “Um evento não ocorre ao acaso, mas em decorrência de um ou mais fenômenos anteriores”. Pensamentos, Ideias Intenções, Escolhas Sim, esses comportamentos não ocorrem ao acaso! Foram determinados por eventos passados Trata-se de explicar o presente a partir do passado Mas quem determina? O ambiente, a partir da interação que o organismo estabelece com ele: na história da espécie, na história do próprio indivíduo, e na história das práticas culturais Quando falamos que as ações são determinadas, estamos nos referindo ao fato de que elas são influenciadas pelo ambiente, a partir da interação que o organismo estabelece com o seu meio. Todo nosso repertório atual de comportamentos não ocorrem ao acaso, foram determinados por eventos passados Vamos supor que um professor faça um convite livre em sala de aula para algum aluno ser cerimonialista da semana acadêmica…. Funções do aluno: Abrir a cerimônia; Apresentar os palestrantes; Quem aceitaria o convite? Quem não aceitaria? Porque? v Ok, mas e quanto a liberdade? Ao livre arbítrio? As escolhas e tomadas de decisão? Suas escolhas e suas tomadas de decisão também são comportamentos que serão explicados pela sua interação com o ambiente! Você pode escolher… Porém suas escolhas dependem das experiências pelas quais você passou… Ex: comer na praia Determinismo na clínica…. Chega um paciente com queixa de ansiedade na clínica… Se você considera que o comportamento é determinado pelas interações organismo- ambiente o que você deve fazer? à Investigar quais comportamentos (ex. Sentimentos, ações públicas, pensamentos) caracterizam esse quadro; à Investigar em quais contextos ocorrem, quando esses comportamentos são mais frequentes e intensos, quando começaram a ocorrer… A pessoa fica ansiosa por acaso? Não! A investigação dos determinantes dos comportamentos clínicos relevantes do cliente se caracteriza como uma tarefa fundamental na clínica. O entendimento dessas variáveis possibilita direcionamentos terapêuticos mais eficazes. Ex: atenção dos pais mantém comportamento de birra Visão Interacionista: Comportamento como interação organismo- ambiente O Que é comportamento? Comportamento é tudo aquilo que o organismo faz, independentemente de ser público ou privado v De forma geral, o comportamento refere-se à interação organismo- ambiente + Mas o que é ambiente? Eventos ambientais são toda e qualquer mudança que ocorre no ambiente e afeta o indivíduo como um todo. Poed sem externos e internos, sendo que os externos se dividem em físicos e sociais Eventos ambientais externos Constituem os estímulos externos ao sujeito. Parte do ambiente que é exterior ao indivíduo Físico Ex: Som de telefone, ruído de um motor, quando o ambiente se ilumina ou escurece Sociais Comportamentos de outras pessoas que influenciam o comportamento do individuo Exemplo: - a família que aplaude o desempenho da criança quando ela toca um instrumento musical; - Sorrisos, aplausos, broncas, xingamentos advindos de outras pessoas, exercem uma influência sobre o comportamento da pessoa; + Eventos ambientais internos Parte do ambiente que é privado à estímulos e comportamentos privados do indivíduo. Dor de cabeça à buscar um remédio Regras e autorregras: provenientes da história de aprendizagem do indivíduo Nervo inflamado à Dor de dente “cachorros transmitem doenças” Me afasto do cachorro Biológico Histórico Comportamentos Operantes “Os homens agem sobre o mundo, modificando-o, e, por sua vez, são modificados, pelas consequências de sua ação” (Skinner, 1957, p. 15) Homem Mundo O Organismo é modificado pelas suas experiências “Essas interações entre organismo-ambiente são descritas por meio de relações de contingências, que são relações de dependência entre eventos, ou relações de dependência entre comportamento e eventos ambientais” Antecedente Resposta Conse- quência Contingências Aula de TTP O Aluno faz uma pergunta ao professor O Professor responde a pergunta e valoriza o questionamento O Professor não responde e ainda comenta ‘Que pergunta besta!’ Aula de TTP O Aluno faz uma pergunta ao professor Mas e na clínica? Comportamentos Respondentes “Toda vez que meu chefe se aproxima de mim” “Sinto meu coração bater mais rápido; Suo excessivamente; Estímulo Antecedente Resposta Comportamentos Operantes “Toda vez que meu chefe se aproxima de mim” Estímulo Antecedente Comportamento Levanto da cadeira, e saio do ambiente Consequência Me sinto aliviada por ter escapado da situação O Cliente pode aprender novos comportamentos mais funcionais. • Voltada para a ação do cliente sobre sua vida. São as ações que modificam o mundo! TAC • Assim como o indivíduo aprendeu a se comportar de forma ‘disfuncional’, ele pode aprender novos comportamentos através das interações organismo-ambiente. Visão Contextualista O Comportamento-no-contexto O Comportamento deve ser compreendido no contexto em que ele ocorre. Ao mudar o contexto, o comportamento pode mudar também Compreender um comportamento no contexto envolve entender o comportamento em funçao das contingências atuais e da história de aprendizagem do indivíduo Criança pede doce para mãe antes do almoço Mãe não deixa! Criança pede doce para avó antes do almoço Vó deixa! Na clínica… Um terapeuta comportamental não está interessado na ação em si, mas nas condições em que ela ocorre, seus antecedentes e consequentes, sua história de reforçamento/punição. • Terapeuta ajudará essa pessoa a identificar: - Em quais situações esses comportamentos são mais prováveis; - quais são suas funções - quais condições históricas favoreceram suas aquisições; - quais contextos os mantêm Visão Externalista O que determina as dificuldades do cliente não é o que está dentro dele (baixa auto-estima, crenças distorcidas, processos mentais), mas sim o que é EXTERNO A ELE (p.ex: contingências aversivas, punições constantes, críticas, etc.) Variáveis Dependentes e Variáveis Independentes VI VD Na clínica, as VIs influenciam as VDs. São as variáveis que esclarecem o ‘porquê dos comportamentos’. São fundamentais para explicar a aquisição e manutenção do comportamento – problema Sãotambém os próprios instrumentos de mudanças Na clínica, as VDs referem-se ao comportamento-alvo ou comportamento-problema, ou dificuldades apresentadas pelo C Busca-se identificar as mudanças nas VDs a partir de alterações nas VIs Rejeições, desvalorização das pessoas Baixa auto-estima Para entender um pouquinho melhor… Vamos conhecer a história de Caco? Caco vira adulto… - Constantes punições; - Excesso de cobranças; - Punição ao tomar iniciativa e realizar as próprias decisões - Pais pouco afetivos e muito autoritários; - Dificuldade de expor sua opinião; - Dificuldade de enfrentar situações aversivas; - Sentimentos de insegura, baixa auto-estima - Dificuldade de iniciar relações sociais - Auto-cobrança no trabalho - Dificuldade de tomar as próprias decisões … História de vida Comportamentos na vida atual O Cliente aprende que suas formas de agir não sao determinadas pela sua baixa auto-estima, mas que os comportamentos que configuram a baixa auto-estima são decorrentes de uma história de poucos reforços sociais (p.ex: rejeições, desvalorização por pessoas significativas, etc). Há um ambiente EXTERNO ao Caco, que possibilitou que ele desenvolvesse esses sentimentos e essas dificuldades. O psicólogo precisa compreender quais variáveis contribuiram para o desenvolvimento e manutenção das difculdades do cliente, e precisa ajudar ele a fazer o mesmo. Não é a angústia que faz alguém deixar um relacionamento, ou a personalidade que faz alguem agir de forma impulsiva Visão Selecionista Skinner ao falar que o comportamento é selecionado por consequências, embasou-se na Teoria Evolucionista da Seleção Natural de Charles Darwin Membros de uma mesma espécie que possuem características mais adaptativas ao ambiente que vivem tem mais chances de sobreviver e de passar suas características aos seus descendentes No raciocínio selecionista “um evento tem a sua probabilidade futura de ocorrência afetada por um evento que ocorre posterior a ele”. Isto significa que as consequências podem alterar a probabilidade do comportamento ocorrer novamente no futuro. O Comportamento é selecionado por suas consequências Para Skinner, o comportamento é explicado através da interação da: *a história filogenética (história da espécie), *história de reforçamento do indivíduo (história ontogenética); * a cultura (o ambiente que o sujeito é envolvido; as praticas culturais de sua comunidade) Filogênese Características mais adaptativas de uma mesma espécie são selecionadas pelo ambiente, por favorecerem a sobrevivência. O primeiro nível de seleção Ontogênese A evolução também atua sobre os repertórios comportamentais, necessários para a interação dos indivíduos com o ambiente. Os comportamentos emitidos pelo organismo são selecionados ou não pelas suas consequências. Reforçamento fortalece a probabilidade de ocorrência de uma classe de repostas, enquanto a punição enfraquece. O segundo nível de seleção A seleção operante estabelece as diferenças comportamentais individuais e as mudanças comportamentais ocorridas durante a vida de um indivíduo Gu, didi, gada, bu, dé, bi… Variabilidade comportamental MÃN… A mãe está acostumada com esses diferentes sons emitidos pela criança A mãe faz a maior festa, pois o filho acabou de dar o primeiro passo para falar a palavra mamãe As reações da mãe (alegria, carinho) podem ter um efeito fortalecedor sobre o comportamento do bebe, tornando mais provavel a emissão daquele som Cultural Práticas embasadas em reforçamento social, que dependem da participação de mais de um indivíduo – selecionando aquelas práticas que permitem a sua própria sobrevivência e a do grupo praticante. Ex: Leis, regras, costumes (tudo aquilo que é aprendido culturamente) O terceiro nível de seleção O Homem passa a ser capaz de adquirir repertórios transmitidos socialmente A cultura permite não apenas a sobrevivência de um grupo praticamente, mas certamente toma este um grupo especial: um grupo capaz de transmitir o que foi aprendido através do tempo, através de indivíduos, e até mesmo através de lugares. Na clínica… O Clínico emprega o raciocínio selecionista na compreensão de como os comportamentos dos clientes foram adquiridos e estão sendo mantidos. Ex: Fobia Social Informações sobre o comportamento-problema e sobre as contingências atuais que mantem o comportamento são muito relevantes, porém não explicam como os comportamentos foram adquiridos. Necessário invetigar as contingências históricas que selecionaram tais cptos. PORÉM… Comportamentos selecionados anteriormente podem não ser funcionais nos contextos atuais…. Isto é… Formas efetivas de se comportar em contextos anteriores podem não ser apropriadas a novos contextos, e podem passar a produzir pouco ou nenhum reforçamento, ou ainda, produzir consequências aversivas… E aí entra a necessidade de quê? Variabilidade Comportamental! A pessoa precisará treinar novos comportamentos que sejam mais adaptativos ao seu ambiente! Tarefa difícil….. Por exemplo: Lúcia Ao longo de sua vida foi: - Tranquila - Quieta - Sorridente - Meiga - Não criou atrito com as pesoas - Foi correta no sentido de agir conforme as regras sociais da sua cultura Por ser assim ganhava: - carinho, - afeto, - respeito, admiração - privilégios, - consideração das demais pessoas Regras a respeito de si foram formadas a partir dessas experiências e também passaram a controlar seus comportamentos Lúcia é meiga… Lúcia é um amor de pessoa… A Lúcia jamais seria capaz de matar uma formiga, de tão doce que é… Os outros…. Ser mais rígida? Essa atitude não combina comigo… Não gostei do que ela falou, mas não vou dizer nada.. Não quero parecer chata Lúcia cresce e passa a ter algumas dificuldades Seus filhos a desafiam, e a desobedecem… Lúcia não fala nada pois tem dificuldade em ser “dura” com eles…. Lúcia assumiu um cargo de chefia, com melhor remuneração, mas que exige atitudes de rigidez com os funcionários…. Esses contextos exigem de Lúcia um comportamento pouco fortalecido/selecionado ao longo da sua vida: - Impor limites, - Contrariar as pessoas; - Ser rígida com elas Talvez Lúcia não discordava das pessoas, não falava o que sentia, pois seus pais/colegas/ amigos agissem assim por ela, como uma forma de proteção…. Assim, ela não precisava falar o que pensava, pois os outros faziam isso por ela…. Talvez Lúcia tenha sido punida quando agiu de forma diferente: “Essa não é a Lucia que conhecemos” “O que é isso Lucia? Não acredito que você fez isso”. De uma forma ou outra, seus repertórios não foram modelados efetivamente…. Lúcia sofre, sente-se constantemente angustiada e impotente diante das situações Pedir que Lúcia se imponha diante das pessoas não é efetivo, pois ela não tem repertório para isso. 1oà É importante que Lúcia compreenda como sua características foram adquiridas, como tais situações foram aversivas ou reforçadoras Esse processo de conscientização pode ajudá-la a se engajar em situações que favoreçam a emissão de comportamentos desejados. Além da conscientização será necessário treinar o repertório de comportamentos alternativos (discordar do outro, impor limites, expor sua opinião, defender seu direito etc.). A VARIABILIDADECOMPORTAMENTAL É UM REQUISITO NECESSÁRIO PARA QUE O SUJEITO POSSA SE ADAPTAR A NOVOS AMBIENTES Ser RÍGIDO, ou seja, apresentar PADRÕES RESTRITOS, ESTEREOTIPADOS DE COMPORTAMENTOS dificultam a adaptação em um mundo em constantes mudanças UM DOS PRINCIPAIS OBJETIVOS DA PRÁTICA CLÍNICA É: - PRODUZIR VARIABILIDADE COMPORTAMENTAL; AUMENTAR O LEQUE DE POSSIBILIDADES PARA CONSEGUIR REFORÇAMENTO EM AMBIENTES VARIADOS Referência Básica: Marçal, J.V.S. (2010) Behaviorismo Radical e Prática clínica. Em: De- Farias, A.K.C.R. (org.) Análise Comportamental Clínica: aspectos teóricos e estudos de caso. Porto Alegre: Artmed, pp.30-48. Andery, M. A. (1997). O modelo de seleção por consequências e a subjetividade. In: Banaco, R. A. Sobre Comportamento e Cognição. V1. Santo André, Arbytes, p. 199-208. Referência Complementar: Moreira, M. B., & Hanna, E. S. (2012). Bases Filosóficas e noção de ciência em Análise do Comportamento. In: Silvares, E. F. M., Junior, F. B. A., & Priszkulnik, L. Temas clássicos da psicologia sob a ótica da análise do comportamento. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, p.1-19.
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