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Informativo 851-STF (12 a 19/12/2016) – Márcio André Lopes Cavalcante | 1 
Márcio André Lopes Cavalcante 
 
 
Processo excluído deste informativo por não ter sido concluído em virtude de pedido de vista: ADI 5540/MG. 
 
Julgados excluídos por terem menor relevância para concursos públicos ou por terem sido decididos com base em 
peculiaridades do caso concreto: ACO 758/SE; ARE 992066/SP; ARE 988549/RO. 
 
 
ÍNDICE 
 
DIREITO CONSTITUCIONAL 
DIREITO DE RESPOSTA 
 Sentença que nega direito de resposta por não ter havido ofensa não ofende a decisão do STF na ADPF 130/DF. 
 
CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE 
 Conversão da MP em lei antes que a ADI proposta seja julgada. 
 
MEDIDA PROVISÓRIA 
 Análise dos requisitos constitucionais de relevância e urgência e MP que trate sobre situação tipicamente 
financeira e tributária. 
 
TRIBUNAL DE CONTAS 
 Criação de Procuradoria do Tribunal de Contas e impossibilidade de que tal órgão seja responsável pela cobrança 
das multas. 
 
PODER JUDICIÁRIO 
 Análise da constitucionalidade de resolução que permite reeleição para cargos de direção no TJ. 
 
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA 
 CNJ, no exercício de controle administrativo, pode deixar de aplicar lei inconstitucional. 
 
MINISTÉRIO PÚBLICO 
 Compete ao PGR decidir conflito negativo entre MPE e MPF. 
 
DIREITO ADMINISTRATIVO 
CONFISCO DO ART. 243 DA CF/88 
 Possibilidade de o proprietário afastar a sanção do art. 243 da CF/88 se provar que não teve culpa. 
 
SERVIDORES PÚBLICOS 
 Aposentadoria compulsória não se aplica a cargos comissionados. 
 
DIREITO PROCESSUAL CIVIL 
COMPETÊNCIAS 
 Competência para julgar ação ordinária contra o CNJ e mitigação da interpretação restritiva do art. 102, I, “r”, da 
CF/88. 
 
 
Informativo 851-STF (12 a 19/12/2016) – Márcio André Lopes Cavalcante | 2 
DIREITO PENAL 
DOSIMETRIA DA PENA 
 Correto conceito de culpabilidade, princípio da não-culpabilidade e vedação ao bis in idem. 
 
FURTO 
 Causa de aumento do § 1º pode ser aplicada tanto para furto simples como qualificado. 
 
DIREITO PROCESSUAL PENAL 
PROVAS 
 Antecipação da prova testemunhal pela gravidade do crime e possibilidade concreta de perecimento. 
 
DIREITO TRIBUTÁRIO 
DEPOSITÁRIO INFIEL DE DÉBITOS TRIBUTÁRIOS 
 Inconstitucionalidade da Lei nº 8.866/94. 
 
COFINS 
 Portaria nº 655/93 e parcelamento de débitos de COFINS. 
 
 
DIREITO CONSTITUCIONAL 
 
DIREITO DE RESPOSTA 
Sentença que nega direito de resposta por não ter havido ofensa 
não ofende a decisão do STF na ADPF 130/DF 
 
Não cabe reclamação para o STF contra sentença que julgou improcedente pedido de direito 
de resposta sob o fundamento de que não houve, no caso concreto, ofensa. 
Esta sentença não afronta a autoridade da decisão do STF no julgamento da ADPF 130/DF. 
Como a sentença não violou nenhuma decisão do STF proferida em sede de controle 
concentrado de constitucionalidade, o que se percebe é que o autor, por meio da reclamação, 
deseja que o Supremo examine se a sentença afrontou, ou não, o art. 5º, V, da CF/88. 
Para isso, seria necessário reexaminar matéria de fato, o que não é possível em reclamação, 
que se presta unicamente a preservar a autoridade de decisão do STF. 
Ademais, isso significaria o exame per saltum, ou seja, "pulando-se" as instâncias recursais do 
ato impugnado diretamente à luz do art. 5º, V, CF/88. 
STF. 1ª Turma. Rcl 24459 AgR/SP, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 13/12/2016 (Info 851). 
 
A situação concreta, com adaptações, foi a seguinte: 
O Jornal Nacional, da TV Globo, divulgou reportagem narrando os fatos envolvendo uma denúncia criminal 
oferecida pelo Ministério Público contra o ex-Presidente Lula. 
Lula formulou, extrajudicialmente, pedido de direito de resposta à TV Globo, tendo este sido negado. 
Inconformado, o ex-Presidente ajuizou ação de direito de resposta, que foi julgada improcedente pelo Juiz 
de Direito da 7ª Vara Cível da Comarca de São Bernardo do Campo/SP. Na sentença, o magistrado afirmou 
que, para a concessão do direito de resposta, seria preciso “ofensa mais virulenta” e “intento deliberado 
de se transmitir apenas uma aparência de informação”. O julgador considerou que a reportagem foi 
informativa e não opinativa, não tendo havido ofensa que justificasse o direito de resposta. 
Diante disso, Lula apresentou no STF reclamação, alegando que a decisão do juiz teria afrontado o 
entendimento do Supremo Tribunal Federal firmado na ADPF 130/DF (DJE de 6.11.2009). Isso porque 
nesta decisão o STF teria afirmado que o direito de resposta possui amparo no Texto Constitucional. 
 
Informativo 851-STF (12 a 19/12/2016) – Márcio André Lopes Cavalcante | 3 
Confira o trecho da ementa invocada pelo reclamante: 
"(...) O direito de resposta, que se manifesta como ação de replicar ou de retificar matéria publicada é 
exercitável por parte daquele que se vê ofendido em sua honra objetiva, ou então subjetiva, conforme 
estampado no inciso V do art. 5º da Constituição Federal. Norma, essa, "de eficácia plena e de 
aplicabilidade imediata", conforme classificação de José Afonso da Silva. "Norma de pronta aplicação", na 
linguagem de Celso Ribeiro Bastos e Carlos Ayres Britto, em obra doutrinária conjunta. (...) 
STF. Plenário. ADPF 130, Rel. Min. Carlos Britto, julgado em 30/04/2009. 
 
O STF concordou com a reclamação proposta? 
NÃO. 
 
Direito de resposta exige demonstração de "agravo" ("ofensa") 
Na ADPF 130/DF, o STF decidiu que a antiga Lei de Imprensa (Lei nº 5.250/67), em sua inteireza, não foi 
recepcionada pela CF/88, sendo, portanto, inválida por violar a liberdade de imprensa e as liberdades de 
manifestação do pensamento, de informação e de expressão artística, científica, intelectual e 
comunicacional. 
Realmente, nesta ADPF o STF afirmou que o direito de resposta é protegido pela Constituição Federal, em 
seu art. 5º, V, tratando-se de norma de eficácia plena e aplicabilidade imediata: 
Art. 5º (...) 
V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, 
moral ou à imagem; 
 
Contudo, o fato de o STF ter reconhecido o direito de resposta não significa que a Corte tenha dito que é 
desnecessária a comprovação do “agravo” (ofensa) a que alude o dispositivo. A decisão do STF no 
julgamento da ADPF 130 não regulamentou o direito de resposta. 
O Supremo afirmou apenas que o direito de resposta deve ser assegurado, mas para isso é necessário que 
a pessoa demonstre ofensa. 
Desse modo, a sentença do juiz, ao entender que não iria conceder direito de resposta por não ter sido 
constatada ofensa, não afrontou a decisão do STF na ADPF 130/DF. A sentença teria violado o acórdão do 
STF se, por exemplo, tivesse dito que não existe direito de resposta no ordenamento jurídico brasileiro, o 
que não foi o caso. O que o magistrado decidiu foi que não houve, no caso concreto, ofensa. 
 
Lei nº 13.188/2015 
Além disso, a sentença do magistrado foi baseada na Lei nº 13.188/2015. Essa Lei regulamentou o direito 
de resposta, previsto no art. 5º, V, da CF/88. E essa Lei (de 2015) é posterior à decisão da ADPF 130/DF 
(DJE de 6.11.2009). 
 
Per saltum 
Como a sentença não violou nenhuma decisão do STF proferida em sede de controle concentrado de 
constitucionalidade, o que se percebe é que o autor, por meio da reclamação, deseja que o Supremo 
examine se a sentença afrontou, ou não, o art. 5º, V, da CF/88. 
Para isso, seria necessário reexaminar matéria de fato, o que não é possível em reclamação, que se presta 
unicamente a preservar a autoridade de decisão do STF. 
Ademais, isso significaria o exame per saltum, ou seja, "pulando-se" as instâncias recursais do ato 
impugnado diretamente à luz do art. 5º, V, CF/88. 
 
Em suma 
Não cabe reclamação para o STF contra sentença que julgou improcedente pedido de direito de respostasob o fundamento de que não houve, no caso concreto, ofensa. 
Esta sentença não afronta a autoridade da decisão do STF no julgamento da ADPF 130/DF. 
 
Informativo 851-STF (12 a 19/12/2016) – Márcio André Lopes Cavalcante | 4 
Além disso, não é possível o exame per saltum do ato impugnado (sentença) diretamente à luz do art. 
5º, V, CF/88. 
STF. 1ª Turma. Rcl 24459 AgR/SP, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 13/12/2016 (Info 851). 
 
 
 
CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE 
Conversão da MP em lei antes que a ADI proposta seja julgada 
 
Importante!!! 
Se é proposta ADI contra uma medida provisória e, antes de a ação ser julgada, a MP é 
convertida em lei com o mesmo texto que foi atacado, esta ADI não perde o objeto e poderá ser 
conhecida e julgada. 
Como o texto da MP foi mantido, não cabe falar em prejudicialidade do pedido. Isso porque 
não há a convalidação ("correção") de eventuais vícios existentes na norma, razão pela qual 
permanece a possibilidade de o STF realizar o juízo de constitucionalidade. 
Neste caso, ocorre a continuidade normativa entre o ato legislativo provisório (MP) e a lei que 
resulta de sua conversão. 
Ex: foi proposta uma ADI contra a MP 449/1994 e, antes de a ação ser julgada, houve a 
conversão na Lei nº 8.866/94. 
Vale ressaltar, no entanto, que o autor da ADI deverá peticionar informando esta situação ao 
STF e pedindo o aditamento da ação. 
STF. Plenário. ADI 1055/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 15/12/2016 (Info 851). 
 
Nesse sentido, confira o seguinte precedente do STF: 
(...) Não prejudica a ação direta de inconstitucionalidade material de medida provisoria a sua intercorrente 
conversão em lei sem alterações, dado que a sua aprovação e promulgação integrais apenas lhe tornam 
definitiva a vigencia, com eficacia "ex tunc" e sem solução de continuidade, preservada a identidade 
originaria do seu conteudo normativo, objeto da arguição de invalidade. (...) 
STF. Plenário. ADI 691 MC, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, julgado em 22/04/1992. 
 
 
MEDIDA PROVISÓRIA 
Análise dos requisitos constitucionais de relevância e urgência 
e MP que trate sobre situação tipicamente financeira e tributária 
 
O art. 62 da CF/88 prevê que o Presidente da República somente poderá editar medidas 
provisórias em caso de relevância e urgência. 
A definição do que seja relevante e urgente para fins de edição de medidas provisórias 
consiste, em regra, em um juízo político (escolha política/discricionária) de competência do 
Presidente da República, controlado pelo Congresso Nacional. 
Desse modo, salvo em caso de notório abuso, o Poder Judiciário não deve se imiscuir na 
análise dos requisitos da MP. 
No caso de MP que trate sobre situação tipicamente financeira e tributária, deve prevalecer, 
em regra, o juízo do administrador público, não devendo o STF declarar a norma 
inconstitucional por afronta ao art. 62 da CF/88. 
STF. Plenário. ADI 1055/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 15/12/2016 (Info 851). 
 
 
Informativo 851-STF (12 a 19/12/2016) – Márcio André Lopes Cavalcante | 5 
 
TRIBUNAL DE CONTAS 
Criação de Procuradoria do Tribunal de Contas e impossibilidade 
de que tal órgão seja responsável pela cobrança das multas 
 
É constitucional a criação de órgãos jurídicos na estrutura de Tribunais de Contas estaduais, 
vedada a atribuição de cobrança judicial de multas aplicadas pelo próprio tribunal. 
É inconstitucional norma estadual que preveja que compete à Procuradoria do Tribunal de 
Contas cobrar judicialmente as multas aplicadas pela Corte de Contas. 
A Constituição Federal não outorgou aos Tribunais de Contas competência para executar suas 
próprias decisões. 
As decisões dos Tribunais de Contas que acarretem débito ou multa têm eficácia de título 
executivo, mas não podem ser executadas por iniciativa do próprio Tribunal. 
STF. Plenário. ADI 4070/RO, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 19/12/2016 (Info 851). 
 
É possível que exista, na estrutura do Tribunal de Contas, uma procuradoria jurídica? 
SIM. É possível a existência de Procuradoria do Tribunal de Contas, órgão com atribuições de 
representação judicial e de defesa dos atos e das prerrogativas da Corte de Contas. 
O STF entende que é constitucional a criação de Procuradorias próprias para atuar especificamente nas 
Assembleias Legislativas ou nos Tribunais de Contas. Tais procuradorias especiais poderão atuar: 
 nos casos em que a ALE ou o TCE necessite praticar em juízo, em nome próprio, atos processuais na 
defesa de sua autonomia e independência em face dos demais poderes (ex: um MS proposto pelo TCE 
contra Governador que não repassou o orçamento); e 
 também ficam responsáveis pela consultoria e pelo assessoramento jurídico de tais órgãos (ex: 
parecer jurídico em uma licitação realizada pelo TCE). 
 
Tais procuradorias não violam as atribuições da PGE previstas no art. 132 da CF/88. Confira precedente 
nesse sentido envolvendo a criação de uma Procuradoria para atuar na Câmara distrital: 
(...) 3. A Procuradoria Geral do Distrito Federal é a responsável pelo desempenho da atividade jurídica 
consultiva e contenciosa exercida na defesa dos interesses da pessoa jurídica de direito público Distrito 
Federal. 
4. Não obstante, a jurisprudência desta Corte reconhece a ocorrência de situações em que o Poder 
Legislativo necessite praticar em juízo, em nome próprio, uma série de atos processuais na defesa de sua 
autonomia e independência frente aos demais Poderes, nada impedindo que assim o faça por meio de um 
setor pertencente a sua estrutura administrativa, também responsável pela consultoria e assessoramento 
jurídico de seus demais órgãos. (...) 
STF. Plenário. ADI 1557, Rel. Min. Ellen Gracie, julgado em 31/03/2004. 
 
É possível que norma estadual preveja que compete à Procuradoria do Tribunal de Contas cobrar 
judicialmente as multas aplicadas em decisão definitiva do Tribunal e não saldadas no prazo? 
NÃO. 
É inconstitucional norma estadual que preveja que compete à Procuradoria do Tribunal de Contas 
cobrar judicialmente as multas aplicadas pela Corte de Contas. 
A Constituição Federal não outorgou aos Tribunais de Contas competência para executar suas próprias 
decisões. 
As decisões dos Tribunais de Contas que acarretem débito ou multa têm eficácia de título executivo, 
mas não podem ser executadas por iniciativa do próprio Tribunal. 
STF. Plenário. ADI 4070/RO, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 19/12/2016. 
 
 
Informativo 851-STF (12 a 19/12/2016) – Márcio André Lopes Cavalcante | 6 
Esse é o entendimento consolidado no STF: 
O art. 71, § 3º, da CF/88 não outorgou ao TCU legitimidade para executar suas decisões das quais resulte 
imputação de débito ou multa. A competência para isso é do titular do crédito constituído a partir da 
decisão, ou seja, o ente público prejudicado. 
STF. 2ª Turma. AI 826676 AgR, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 08/02/2011. 
 
 
PODER JUDICIÁRIO 
Análise da constitucionalidade de resolução que permite reeleição para cargos de direção no TJ 
 
É inconstitucional norma do Tribunal de Justiça que permite a reeleição de desembargadores 
para cargos de direção após o intervalo de dois mandatos. 
Esta previsão viola o art. 93, caput, da CF/88, segundo o qual a regulamentação da matéria 
afeta à elegibilidade para os órgãos diretivos dos tribunais está reservada a lei complementar 
de iniciativa do Supremo Tribunal Federal. Além disso, esta norma afronta o tratamento que 
foi dado à matéria pelo art. 102 da LOMAN (LC 35/79), que regulamenta o art. 93 da CF/88. 
STF. Plenário. ADI 5310/RJ, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 14/12/2016 (Info 851). 
 
A situação concreta, com adaptações, foi a seguinte: 
O Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro aprovou uma Resolução afirmando que os Desembargadores 
poderiam ser novamente eleitospara cargos de direção no TJ, desde que houvesse um intervalo de dois 
mandatos. Ex: o Desembargador "João" foi Presidente do TJ; ele poderia ser novamente Presidente, desde 
aguardasse dois mandatos. Assim, logo depois da Desembargadora "Maria" e do Desembargador "Pedro" 
cumprirem, cada um deles, um mandato, o Desembargador "João" já estaria novamente apto para 
concorrer ao posto. 
Eis o teor da referida Resolução TJ/TP/RJ 1/2014: 
Art. 3º Poderá o Desembargador ser novamente eleito para o mesmo cargo, desde que observado o 
intervalo de dois mandatos 
 
ADI 
O Procurador-Geral da República ajuizou ADI contra este dispositivo afirmando que o art. 93 da CF/88 
exige lei complementar para tratar sobre o tema e que o Estatuto da Magistratura atualmente em vigor 
(LC 35/79) não permite que um Desembargador volte a ocupar cargo de direção no TJ, salvo se todos os 
demais já tiverem ocupado. Confira o que diz a LOMAN: 
Art. 102. Os Tribunais, pela maioria dos seus membros efetivos, por votação secreta, elegerão dentre seus 
Juízes mais antigos, em número correspondente ao dos cargos de direção, os titulares destes, com mandato 
por dois anos, proibida a reeleição. Quem tiver exercido quaisquer cargos de direção por quatro anos, ou o 
de Presidente, não figurará mais entre os elegíveis, até que se esgotem todos os nomes, na ordem de 
antiguidade. É obrigatória a aceitação do cargo, salvo recusa manifestada e aceita antes da eleição. 
 
O que decidiu o STF? O art. 3º da Resolução nº 1/2014 do TJ/RJ é inconstitucional? 
SIM. 
É inconstitucional norma do Tribunal de Justiça que permite a reeleição de desembargadores para 
cargos de direção após o intervalo de dois mandatos. 
Esta previsão viola o art. 93, caput, da CF/88, segundo o qual a regulamentação da matéria afeta à 
elegibilidade para os órgãos diretivos dos tribunais está reservada a lei complementar de iniciativa do 
Supremo Tribunal Federal. 
STF. Plenário. ADI 5310/RJ, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 14/12/2016 (Info 851). 
 
 
Informativo 851-STF (12 a 19/12/2016) – Márcio André Lopes Cavalcante | 7 
O art. 102 da LOMAN é claro ao vedar a reeleição para cargos de direção dos tribunais de justiça. Vale 
ressaltar que a LOMAN, apesar de ser de 1979, foi recepcionada pela CF/88, sendo a lei que regulamenta o 
art. 93 da Carta Magna. 
Segundo a jurisprudência do STF, até que se elabore outro Estatuto da Magistratura, a eleição nos 
Tribunais deverá ser regulada pela LOMAN, nos termos do art. 93 da CF/88. 
Ao permitir nova eleição de desembargador para cargo no órgão diretivo do tribunal, mesmo se observado o 
intervalo de dois mandatos, o TJ-RJ inovou e, dessa forma, contrariou as balizas fixadas pela lei. 
O Poder Judiciário é um poder nacional e seus membros devem estar submetidos a regras uniformes. A 
LOMAN define regime jurídico para a magistratura, viabilizando tratamento nacional válido para todas as 
instâncias e tribunais para as questões do Judiciário, garantindo a necessária independência e autonomia 
que possibilitem a prestação jurisdicional pelos órgãos locais, mas sem deixar de se ter um estatuto 
constitucional a ser obedecido por todos. 
 
 
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA 
CNJ, no exercício de controle administrativo, pode deixar de aplicar lei inconstitucional 
 
CNJ pode determinar que Tribunal de Justiça exonere servidores nomeados sem concurso 
público para cargos em comissão que não se amoldam às atribuições de direção, chefia e 
assessoramento, contrariando o art. 37, V, da CF/88. Esta decisão do CNJ não configura 
controle de constitucionalidade, sendo exercício de controle da validade dos atos 
administrativos do Poder Judiciário. 
STF. Plenário. Pet 4656/PB, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 19/12/2016 (Info 851). 
 
A situação concreta, com adaptações, foi a seguinte: 
Na Paraíba, foi aprovada lei estadual criando 100 cargos comissionados de assistentes de administração no 
Tribunal de Justiça do Estado. 
O TJ/PB, com fundamento nesta lei, nomeou 100 pessoas para ocuparem estes cargos, sem concurso público. 
O CNJ, em procedimento de controle administrativo, considerou irregular a contratação e determinou que 
o TJ/PB exonerasse os comissionados, sob o argumento de que os cargos criados não se destinam às 
atribuições de direção, chefia e assessoramento, sendo utilizados para o desempenho de “atividades 
administrativas genéricas”, o que contraria o art. 37, V, da CF/88. 
O sindicato dos servidores do TJ propôs ação no STF questionando a decisão do CNJ. As duas alegações 
principais foram as seguintes: 
a) o CNJ usurpou a competência do STF porque teria, implicitamente, declarado a inconstitucionalidade da lei 
que criou os cargos, realizando controle de constitucionalidade de norma estadual, o que não lhe é permitido; 
b) o Conselho violou o princípio do contraditório, considerando que determinou ao TJ/PB a exoneração 
dos servidores sem que estes fossem previamente ouvidos. 
 
O STF manteve a decisão do CNJ? 
SIM. O STF considerou válida a atuação do CNJ. 
 
Não houve controle de constitucionalidade 
Em primeiro lugar, importante esclarecer que, realmente, o CNJ não pode fazer controle de 
constitucionalidade porque este órgão não possui atribuições jurisdicionais (mas apenas administrativas). 
Nesse sentido: 
"O Conselho Nacional de Justiça, embora seja órgão do Poder Judiciário, nos termos do art. 103-B, § 4º, II, 
da Constituição Federal, possui, tão somente, atribuições de natureza administrativa e, nesse sentido, não 
lhe é permitido apreciar a constitucionalidade dos atos administrativos, mas somente sua legalidade." 
(STF. Plenário. MS 28872 AgR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 24/02/2011). 
 
Informativo 851-STF (12 a 19/12/2016) – Márcio André Lopes Cavalcante | 8 
 
No entanto, no caso concreto, o STF entendeu que o CNJ não fez controle de constitucionalidade. Para o 
Supremo, o CNJ apenas declarou a nulidade dos atos de nomeação afirmando que, administrativamente, 
não se poderia aplicar aquela lei estadual. 
 
Nas palavras da Min. Cármen Lúcia: “concluo ter atuado o órgão de controle administrativo, financeiro e 
disciplinar da magistratura (CNJ) nos limites de sua competência, afastando a validade de atos 
administrativos e, para tanto, adotando como fundamento a invalidade da lei estadual, que ele reputou 
contrária ao princípio constitucional de ingresso no serviço público, por concurso público, pela ausência 
dos requisitos caracterizados para a criação de cargos comissionados”. 
Além disso, não houve declaração de inconstitucionalidade da qual resultasse a anulação ou revogação da 
lei discutida, com exclusão de sua eficácia. Ou seja, houve a nulidade dos atos questionados por ser 
considerada inaplicável, administrativamente, lei estadual com vício de inconstitucionalidade, com a 
vinculação apenas da atuação de órgão judicial cujos atos administrativos foram submetidos ao controle 
do CNJ. Assim, o Conselho não usurpou competência do STF. 
 
Órgãos autônomos podem deixar de aplicar leis inconstitucionais 
As leis inconstitucionais não são normas atendíveis, porque colidem com mandamento de uma lei 
superior, que é a Constituição Federal. Em virtude desse entendimento, a doutrina defende que é possível 
que o chefe do Poder Executivo se recuse a cumprir uma lei se ela for claramente inconstitucional. 
O STF afirmou que esse mesmo entendimento pode ser aplicado para órgãos administrativos autônomos, 
como o TCU, o CNMP e o CNJ. Assim, tais órgãos, ao realizarem controle de validade dos atos 
administrativos, podem determinar a não aplicação de leis inconstitucionais. 
 
Inexistência de violação ao princípio do contraditório 
O STF entendeu que não houve desrespeito ao contraditório, considerando que a exoneração dos 
servidores não se configura como punição. Se fosse uma punição, aí sim seria necessária a prévia oitiva 
dos interessados.Neste caso, contudo, a exoneração foi uma mera decorrência da declaração de nulidade 
dos atos de nomeação. 
Ademais, eram servidores comissionados, ou seja, de livre nomeação e exoneração (exoneráveis “ad nutum”). 
 
Em suma: 
CNJ pode determinar que Tribunal de Justiça exonere servidores nomeados sem concurso público para 
cargos em comissão que não se amoldam às atribuições de direção, chefia e assessoramento, 
contrariando o art. 37, V, da CF/88. Esta decisão do CNJ não configura controle de constitucionalidade, 
sendo exercício de controle da validade dos atos administrativos do Poder Judiciário. 
STF. Plenário. Pet 4656/PB, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 19/12/2016 (Info 851). 
 
 
 
MINISTÉRIO PÚBLICO 
Compete ao PGR decidir conflito negativo entre MPE e MPF 
 
Compete ao Procurador-Geral da República (e não ao STF) decidir conflito negativo de 
atribuições entre Ministério Público estadual e Ministério Público Federal. 
O PGR decide conflitos de atribuições entre MPE e MPF, seja este conflito positivo ou negativo, 
tanto em matéria cível como criminal. 
O conflito negativo ocorre quando ambos os órgãos (MPE e MPF) entendem que não possuem 
atribuição para atuar no caso; o conflito positivo é o contrário, ou seja, tanto um como o outro 
defendem que têm atribuição para a causa. 
 
Informativo 851-STF (12 a 19/12/2016) – Márcio André Lopes Cavalcante | 9 
No caso concreto, o MPE e o MPF divergiram sobre quem teria atribuição para apurar, em 
inquérito civil, irregularidades em projeto de intervenção urbana que estaria causando risco 
de danos ao meio ambiente e à segurança da população local. 
STF. Plenário. Pet 5586 AgR/RS, rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Teori Zavascki, julgado em 
15/12/2016 (Info 851). 
 
 
DIREITO ADMINISTRATIVO 
 
CONFISCO DO ART. 243 DA CF/88 
Possibilidade de o proprietário afastar a sanção do art. 243 da CF/88 se provar que não teve culpa 
 
Importante!!! 
A expropriação prevista no art. 243 da Constituição Federal pode ser afastada, desde que o 
proprietário comprove que não incorreu em culpa, ainda que in vigilando ou in eligendo. 
STF. Plenário. RE 635336/PE, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 14/12/2016 (repercussão geral) 
(Info 851). 
 
Art. 243 da CF/88 
O art. 243 da CF/88 prevê o seguinte: 
Art. 243. As propriedades rurais e urbanas de qualquer região do País onde forem localizadas culturas 
ilegais de plantas psicotrópicas ou a exploração de trabalho escravo na forma da lei serão expropriadas e 
destinadas à reforma agrária e a programas de habitação popular, sem qualquer indenização ao 
proprietário e sem prejuízo de outras sanções previstas em lei, observado, no que couber, o disposto no 
art. 5º. 
Parágrafo único. Todo e qualquer bem de valor econômico apreendido em decorrência do tráfico ilícito de 
entorpecentes e drogas afins e da exploração de trabalho escravo será confiscado e reverterá a fundo 
especial com destinação específica, na forma da lei. 
 
Confisco constitucional 
Parte da doutrina denomina este art. 243 de "desapropriação confiscatória" em virtude de não conferir ao 
proprietário direito à indenização, como ocorre com as demais espécies de desapropriação (CARVALHO 
FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo. São Paulo: Atlas, 2016, p. 1044). 
Outros autores preferem falar em "confisco" (MORAES, Alexandre. Constituição do Brasil interpretada e 
legislação constitucional. 4ª ed. São Paulo: Atlas, 2004, p. 2135). 
O STF também reafirmou que se trata de confisco. Veja o que disse o Ministro Gilmar Mendes: 
"O instituto previsto no art. 243 da CF não é verdadeira espécie de desapropriação, mas uma penalidade 
imposta ao proprietário que praticou a atividade ilícita de cultivar plantas psicotrópicas, sem autorização 
prévia do órgão sanitário do Ministério da Saúde. Portanto, a expropriação é espécie de confisco 
constitucional e tem caráter sancionatório." 
 
Pressupostos 
Existem dois motivos que geram esse confisco: 
a) o fato de no imóvel estarem localizadas culturas ilegais de plantas psicotrópicas; ou 
b) o fato de no imóvel haver exploração de trabalho escravo. 
 
Extensão da expropriação 
A expropriação irá recair sobre a totalidade do imóvel, ainda que o cultivo ilegal ou a utilização de trabalho 
 
Informativo 851-STF (12 a 19/12/2016) – Márcio André Lopes Cavalcante | 10 
escravo tenham ocorrido em apenas parte dele. Nesse sentido: STF. Plenário. RE 543974, Rel. Min. Eros 
Grau, julgado em 26/03/2009. 
 
Procedimento 
As regras e o procedimento para essa expropriação estão disciplinados na Lei nº 8.257/91 e no Decreto nº 
577/92. Trata-se de um rito muito célere, no qual a Lei estipula poucos dias para a realização de cada ato 
processual. Veja abaixo o resumo do procedimento: 
1. Processo judicial. Para haver a desapropriação confiscatória, é necessário processo judicial que tramita 
na Justiça Federal. 
2. Petição inicial. A União deverá propor uma demanda chamada de "ação expropriatória" contra o 
proprietário do imóvel (expropriado). Vale ressaltar que apenas a União é competente para realizar a 
expropriação de que trata o art. 243 da CF/88, não podendo ser feita pelos outros entes federativos. 
3. Citação. Recebida a inicial, o juiz determinará a citação do expropriado, no prazo de 5 dias. 
4. Perito. Ao ordenar a citação, o Juiz já nomeará um perito para fazer a avaliação do imóvel. Este deverá 
entregar o laudo em 8 dias. 
5. Audiência. O juiz determinará audiência de instrução e julgamento, que deverá ser realizada no prazo 
máximo de 15 dias, a contar da data da contestação. 
6. Mandado de imissão na posse. O juiz poderá imitir, liminarmente, a União na posse do imóvel 
expropriando, garantindo-se o contraditório pela realização de audiência de justificação. Em outras 
palavras, o magistrado poderá conceder tutela provisória de urgência determinando que o 
proprietário saia do imóvel e este fique na posse da União. Vale ressaltar que o INCRA é quem irá 
imitir-se em nome da União (art. 6º do Decreto nº 577/92). 
7. Prova testemunhal. Na audiência de instrução e julgamento, cada parte poderá indicar até 5 
testemunhas. 
8. Oitiva do Ministério Público. A Lei nº 8.257/91 não prevê, mas o Procurador da República deverá ser 
ouvido como fiscal da ordem jurídica, nos termos do art. 178, I, do CPC/2015. 
9. Sentença. Encerrada a instrução, o Juiz prolatará a sentença em cinco dias. 
10. Haverá expropriação mesmo que o imóvel esteja em garantia. A expropriação prevalece sobre direitos 
reais de garantia, não se admitindo embargos de terceiro fundados em dívida hipotecária, anticrética 
ou pignoratícia. 
11. Recurso. Da sentença, caberá apelação. 
12. Trânsito em julgado. Transitada em julgado a sentença expropriatória, o imóvel será incorporado ao 
patrimônio da União. Em seguida, a gleba será destinada à reforma agrária e a programas de 
habitação popular. 
 
O proprietário poderá evitar a expropriação se provar que não teve culpa pelo fato de estarem 
cultivando plantas psicotrópicas em seu imóvel? 
SIM. 
A expropriação prevista no art. 243 da Constituição Federal pode ser afastada, desde que o proprietário 
comprove que não incorreu em culpa, ainda que in vigilando ou in eligendo. 
STF. Plenário. RE 635336/PE, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 14/12/2016 (repercussão geral) (Info 
851). 
 
Não se exige que o proprietário tenha participado 
Para que haja a sanção do art. 243, não se exige a participação direta do proprietário no cultivo ilícito. No 
entanto, apesar disso, trata-se de medida sancionatória, exigindo-se algum grau de culpa para sua 
caracterização. 
Assim, mesmo que o proprietário não tenha participado diretamente, mas se agiu com culpa, deverá ser 
expropriado. Isso porque a função social da propriedade gera para o proprietário o dever de zelar pelo uso 
lícito do seuimóvel, ainda que não esteja na posse direta. 
 
 
Informativo 851-STF (12 a 19/12/2016) – Márcio André Lopes Cavalcante | 11 
Mesmo tendo esse dever, poderá provar que não teve como evitar 
Esse dever de zelar pelo correto uso da propriedade não é ilimitado, só podendo ser exigido do 
proprietário que evite o ilícito quando estiver ao seu alcance. 
Assim, o proprietário pode afastar sua responsabilidade demonstrando que não incorreu em culpa. Ele 
pode provar, por exemplo, que foi esbulhado ou até enganado pelo possuidor ou pelo detentor. 
 
Se agiu com culpa, aplica-se o art. 243 
Vale ressaltar, mais uma vez, que, se o proprietário agiu com culpa, deverá ser expropriado. 
Essa culpa pode ser in vigilando ou in eligendo: 
 Culpa in vigilando é a falta de atenção com a conduta de outra pessoa. Ocorre quando não há uma 
fiscalização efetiva. 
 Culpa in eligendo consiste na má escolha daquele a quem se confia a prática de um ato. Também 
chamada de “responsabilidade pela má eleição”. 
 
Desse modo, se o proprietário agiu com culpa in vigilando ou in eligendo, deverá incidir o art. 243 da CF/88. 
 
A responsabilidade do proprietário é subjetiva ou objetiva? 
A responsabilidade do proprietário é subjetiva, no entanto bastante próxima da objetiva. 
 
E se houver mais de um proprietário, o que fazer neste caso? 
Se o imóvel pertencer a dois ou mais proprietários (condomínio), haverá a expropriação mesmo que 
apenas um deles tenha participação ou culpa. Restará apenas ao proprietário inocente buscar reparação 
daquele que participou ou teve culpa. 
 
Ônus da prova 
Importante destacar que cabe ao proprietário (e não à União) o ônus da prova. Em outras palavras, caberá 
ao proprietário provar que não agiu com culpa. 
 
 
SERVIDORES PÚBLICOS 
Aposentadoria compulsória não se aplica a cargos comissionados 
 
Importante!!! 
Os servidores ocupantes de cargo exclusivamente em comissão não se submetem à regra da 
aposentadoria compulsória prevista no art. 40, § 1º, II, da CF, a qual atinge apenas os 
ocupantes de cargo de provimento efetivo, inexistindo, também, qualquer idade limite para 
fins de nomeação a cargo em comissão. 
Ressalvados impedimentos de ordem infraconstitucional, não há óbice constitucional a que o 
servidor efetivo, aposentado compulsoriamente, permaneça no cargo comissionado que já 
desempenhava ou a que seja nomeado para cargo de livre nomeação e exoneração, uma vez 
que não se trata de continuidade ou criação de vínculo efetivo com a Administração. 
STF. Plenário. RE 786540/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 15/12/2016 (repercussão geral) (Info 851). 
 
Aposentadoria 
No serviço público (regime próprio de previdência) existem três espécies de aposentadoria: 
Aposentadoria por invalidez 
(art. 40, § 1º, I) 
Aposentadoria voluntária 
(art. 40, § 1º, III) 
Aposentadoria compulsória 
(art. 40, § 1º, II) 
Ocorre quando o servidor 
público for acometido por uma 
Ocorre quando o próprio 
servidor público, mesmo tendo 
A CF previu que, atingida 
determinada idade, o servidor 
 
Informativo 851-STF (12 a 19/12/2016) – Márcio André Lopes Cavalcante | 12 
situação de invalidez 
permanente, atestada por laudo 
médico, que demonstre que ele 
está incapacitado de continuar 
trabalhando. 
condições físicas e jurídicas de 
continuar ocupando o cargo, 
decide se aposentar. 
Para que o servidor tenha 
direito à aposentadoria 
voluntária ele deverá cumprir os 
requisitos que estão elencados 
na Constituição. 
público, independentemente de 
ainda possuir condições físicas e 
mentais de continuar exercendo 
o cargo, deveria ser 
obrigatoriamente aposentado. 
Atualmente, a idade da 
aposentadoria compulsória é de 
75 anos. 
 
APOSENTADORIA COMPULSÓRIA NÃO SE APLICA PARA CARGO EM COMISSÃO 
Não há dúvidas de que a aposentadoria compulsória vale para os servidores públicos efetivos. Ela foi 
criada pensando nessa hipótese. A dúvida que surge, no entanto, é a seguinte: 
A aposentadoria compulsória aplica-se também aos servidores ocupantes exclusivamente de cargo em 
comissão? Ex1: João, 69 anos, foi nomeado para ser assessor de um órgão estadual; trata-se de cargo 
em comissão, ou seja, de livre nomeação e exoneração (art. 37, II, da CF/88), sem necessidade de 
concurso público; quando João atingir 75 anos, ele terá que deixar este cargo por força da 
aposentadoria compulsória? Ex2: Pedro tem 76 anos; por conta de sua idade, ele está impedido de 
exercer cargo em comissão na Administração Pública? 
NÃO. A resposta para as três perguntas é não. 
Os servidores ocupantes de cargo exclusivamente em comissão não se submetem à regra da 
aposentadoria compulsória prevista no art. 40, § 1º, II, da CF/88. Este dispositivo atinge apenas os 
ocupantes de cargo de provimento efetivo. Por conta disso, não existe qualquer idade limite para fins de 
nomeação a cargo em comissão. 
STF. Plenário. RE 786540, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 15/12/2016 (repercussão geral) (Info 851). 
 
Art. 40 aplica-se aos servidores efetivos 
O art. 40, caput, é expresso ao afirmar que ele se aplica aos servidores efetivos. Veja: 
Art. 40. Aos servidores efetivos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, incluídas suas 
autarquias e fundações (...) 
 
Repare que a atual redação do art. 40 não fala "aos servidores da União, dos Estados...". Ela é explícita ao 
restringir sua hipótese de incidência: "aos servidores efetivos". 
A aposentadoria compulsória está prevista no § 1º do art. 40. Como se sabe, os parágrafos estão 
relacionados e devem ser interpretados em conjunto com o caput. Logo, a regra do § 1º, por não trazer 
qualquer exceção, significa que vale para as situações trazidas no caput (servidores efetivos). 
Além disso, o § 1º também é expresso ao fazer remissão ao art. 40 (que trata sobre servidores efetivos): 
§ 1º Os servidores abrangidos pelo regime de previdência de que trata este artigo serão aposentados, 
calculados os seus proventos a partir dos valores fixados na forma dos §§ 3º e 17: 
(...) 
II – compulsoriamente, com proventos proporcionais ao tempo de contribuição, aos 70 (setenta) anos de 
idade, ou aos 75 (setenta e cinco) anos de idade, na forma da lei complementar; 
 
O § 13, por sua vez, trata sobre os cargos em comissão. Neste dispositivo, o legislador constituinte deixou 
claro que se aplica aos servidores ocupantes de cargo em comissão o regime geral de previdência social, 
administrado pelo INSS (e não o regime próprio dos servidores efetivos): 
§ 13 Ao servidor ocupante, exclusivamente, de cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação e 
exoneração bem como de outro cargo temporário ou de emprego público, aplica-se o regime geral de 
previdência social. 
 
Informativo 851-STF (12 a 19/12/2016) – Márcio André Lopes Cavalcante | 13 
 
Não existe aposentadoria compulsória no RGPS 
Como vimos acima, o §13 do art. 40 determina que os servidores ocupantes de cargo exclusivamente em 
comissão deverão estar vinculados ao Regime Geral de Previdência Social, que é gerido pelo INSS e 
regulado pelo art. 201 da CF/88 e pela Lei nº 8.213/90. 
No RGPS não existe aposentadoria compulsória. A aposentadoria compulsória é um instituto que só está 
presente no RPPS, sendo voltada para servidores efetivos. 
 
Diferença de lógica na sistemática dos cargos efetivos e em comissão 
Os servidores efetivos ingressam no serviço público mediante concurso. Adquirem estabilidade e tendem a 
manter longo vínculo com a Administração, o que torna admissível a expulsória (aposentadoria 
compulsória) como forma de renovação dos quadros. 
Os servidores comissionados, por sua vez, adentram no serviço público para o desempenho de cargos de 
chefia, direção ou assessoramento, havendo a premissa de que eles gozam de uma relação de confiança e 
de especialidade incomum. Sendo esse ofundamento da nomeação, não há motivo para submeter o 
indivíduo à compulsória quando, além de persistirem a relação de confiança e a especialização, o servidor 
é exonerável a qualquer momento, independentemente de motivação. 
 
Inexistência de limite de idade para nomeação para cargo em comissão 
Se não há aposentadoria compulsória para cargos exclusivamente em comissão, significa dizer que 
também não há idade limite para o ingresso em cargo comissionado. 
Os motivos que justificam a não incidência do art. 40, § 1º, II, da CF/88 servem como argumentos para não se 
proibir que o maior de 75 anos seja nomeado para o exercício de cargo em comissão na Administração Pública. 
 
SERVIDOR EFETIVO APOSENTADO COMPULSORIAMENTE PODE SER NOMEADO PARA CARGO EM COMISSÃO 
Outro tema correlato e que precisa ser enfrentando é o seguinte: 
O servidor efetivo que foi aposentado compulsoriamente pode ser nomeado ou permanecer em cargo 
em comissão? Ex1: Carlos era servidor público efetivo; ao completar 75 anos, foi obrigado a se 
aposentar; ele poderá ser nomeado para um cargo exclusivamente em comissão? Ex2: Ricardo é servidor 
público efetivo, mas ocupa um cargo em comissão; ao complementar 75 anos, Ricardo terá que se 
aposentar do cargo efetivo, mas poderá continuar no cargo em comissão? 
SIM, desde que não exista nenhuma vedação na respectiva lei que rege a carreira. Do ponto de vista 
constitucional, não há nenhum óbice. 
Ressalvados impedimentos de ordem infraconstitucional, não há óbice constitucional a que o servidor 
efetivo aposentado compulsoriamente permaneça no cargo comissionado que já desempenhava ou a 
que seja nomeado para cargo de livre nomeação e exoneração, uma vez que não se trata de 
continuidade ou criação de vínculo efetivo com a Administração. 
STF. Plenário. RE 786540, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 15/12/2016 (repercussão geral) (Info 851). 
 
O servidor efetivo que foi aposentado compulsoriamente, quando é nomeado para um cargo em 
comissão, inaugura, com essa última investidura, uma segunda e nova relação jurídica com a 
Administração, agora relacionada com um cargo comissionado. 
Desse modo, não se trata da criação de um segundo vínculo efetivo, o que é terminantemente vedado 
pelo texto constitucional, salvo nas exceções por ele próprio declinadas, mas da coexistência de um 
vínculo funcional efetivo e de um cargo em comissão sem vínculo efetivo, para o que não se vislumbra 
vedação, inclusive sob o ponto de vista previdenciário. 
Não se trata, também, por óbvio, de forma irregular de continuidade do vínculo efetivo, visto que 
comissionados e efetivos são espécies diferentes do gênero servidor público. 
 
 
 
Informativo 851-STF (12 a 19/12/2016) – Márcio André Lopes Cavalcante | 14 
DIREITO PROCESSUAL CIVIL 
 
COMPETÊNCIAS 
Competência para julgar ação ordinária contra o CNJ 
e mitigação da interpretação restritiva do art. 102, I, “r”, da CF/88 
 
De quem é a competência para julgar demandas contra o CNJ e o CNMP: 
• Ações ordinárias: Juiz federal (1ª instância) 
• Ações tipicamente constitucionais (MS, MI, HC e HD): STF. 
No entanto, houve um caso concreto no qual o STF conheceu e julgou uma ação ordinária 
proposta por sindicato de servidores públicos contra uma decisão do CNJ. Foram invocados 
dois argumentos para fixar a competência no STF: 
1) O caso concreto discutia os poderes do CNJ para afastar lei inconstitucional. Se o STF não 
julgasse a causa, isso significaria conferir à Justiça Federal de 1ª instância a possibilidade de 
definir os poderes atribuídos ao CNJ para o cumprimento de sua missão, subvertendo, assim, a 
relação hierárquica constitucionalmente estabelecida. 
2) Além da ação ordinária proposta pelo Sindicato, diversos servidores impetraram mandados 
de segurança contra a decisão do CNJ. Assim, mesmo que a ação ordinária fosse remetida para 
a Justiça Federal de 1ª instância, continuariam no STF os mandados de segurança individuais. 
Desse modo, o mais recomendável seria a reunião dessas ações a fim de garantir, com a 
tramitação e o julgamento conjuntos, a prolação de decisões harmônicas sobre a legitimidade 
da situação jurídica afetada pelo CNJ. 
Obs: em concursos públicos, é provável que seja indagada apenas a regra geral considerando 
que este julgado foi muito específico e baseado no caso concreto; contudo, é importante que 
você conheça a existência deste precedente para a eventualidade de ele ser cobrado; vale 
ressaltar que você somente deverá adotar o entendimento excepcional se isso for 
expressamente perguntado. 
STF. Plenário. Pet 4656/PB, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 19/12/2016 (Info 851). 
 
Competência para julgar demandas contra o CNJ e o CNMP 
A CF/88 prevê, em seu art. 102, I, “r”, que compete ao Supremo Tribunal Federal processar e julgar 
originariamente: “as ações contra o Conselho Nacional de Justiça e contra o Conselho Nacional do 
Ministério Público”. 
A jurisprudência do STF, no entanto, confere interpretação estrita a esse dispositivo, de forma que 
somente compete ao STF as demandas em que o próprio CNJ ou CNMP — que não possuem personalidade 
jurídica própria — figurarem no polo passivo. É o caso de mandados de segurança, mandados de injunção, 
habeas corpus e habeas data contra os Conselhos. 
Assim, a competência do STF para processar e julgar ações que questionam atos do CNJ e do CNMP limita-
se às ações tipicamente constitucionais: MS, MI, HC e HD. 
No caso de serem propostas ações ordinárias para impugnar atos do CNJ e CNMP, quem irá figurar como 
ré no processo é a União, já que os Conselhos são órgãos federais. Logo, tais demandas serão julgadas pela 
Justiça Federal de 1ª instância, com base no art. 109, I, da CF/88. 
Resumindo: 
 MS, MI, HC e HD  STF 
 Ações ordinárias  Juiz federal (1ª instância) 
 
Mitigação da interpretação restritiva do art. 102, I, “r”, da CF/88 
O entendimento acima continua válido. No entanto, foi noticiado no Informativo 851 um julgado em que o 
STF, com base nas peculiaridades do caso concreto, decidiu mitigar a interpretação restritiva do art. 102, I, 
“r”, da CF/88 e julgar uma ação ordinária proposta contra o CNJ. 
 
Informativo 851-STF (12 a 19/12/2016) – Márcio André Lopes Cavalcante | 15 
A situação concreta, com adaptações, foi a seguinte: 
Na Paraíba, foi aprovada lei estadual criando 100 cargos comissionados de assistentes de administração no 
Tribunal de Justiça do Estado. 
O TJ/PB, com fundamento nesta lei, nomeou pessoas para ocuparem estes cargos, sem concurso público. 
O CNJ, em procedimento de controle administrativo, considerou irregular a contratação e determinou que 
o TJ/PB exonerasse os comissionados, sob o argumento de que os cargos criados não se destinam às 
atribuições de direção, chefia e assessoramento, sendo utilizados para o desempenho de “atividades 
administrativas genéricas”, o que contraria o art. 37, V, da CF/88. 
O sindicato dos servidores do TJ propôs ação no STF questionando a decisão do CNJ. As duas alegações 
principais foram as seguintes: 
a) o CNJ usurpou a competência do STF porque teria, implicitamente, declarado a inconstitucionalidade da 
lei que criou os cargos, realizando controle de constitucionalidade de norma estadual, o que não lhe é 
permitido. 
b) o Conselho violou o princípio do contraditório, considerando que determinou ao TJ/PB a exoneração 
dos servidores sem que estes fossem previamente ouvidos. 
 
Ora, segundo a interpretação restritiva do art. 102, I, “r”, da CF/88, acima exposta, a competência para 
julgar ação ordinária não é do STF, mas sim da Justiça Federal de 1ª instância. No entanto, no caso 
concreto, o STF decidiu que deveria conhecer e julgar a causa. 
A Min. Relatora Cármen Lúcia invocou dois argumentos para fixar a competência no STF: 
1) O caso concreto discutia os poderes do CNJ para afastar lei inconstitucional. Se o STF não julgasse a 
causa,isso significaria conferir à Justiça Federal de 1ª instância a possibilidade de definir os poderes 
atribuídos ao CNJ para o cumprimento de sua missão, subvertendo, assim, a relação hierárquica 
constitucionalmente estabelecida. 
2) Além da ação ordinária proposta pelo Sindicato, diversos servidores impetraram mandados de 
segurança contra a decisão do CNJ. Assim, mesmo que a ação ordinária fosse remetida para a Justiça 
Federal de 1ª instância, continuariam no STF os mandados de segurança individuais. Desse modo, o mais 
recomendável seria a reunião dessas ações a fim de garantir, com a tramitação e o julgamento conjuntos, 
a prolação de decisões harmônicas sobre a legitimidade da situação jurídica afetada pelo CNJ. 
 
O que fazer em concursos? 
A regra geral continua a mesma. Assim, as ações ordinárias propostas contra o CNJ são de competência do 
Juiz federal (1ª instância). Se for cobrada essa afirmação na prova, ela estará correta. No entanto, é 
possível que em algum concurso seja exigido este julgado no qual houve uma mitigação da interpretação 
restritiva do art. 102, I, “r”, da CF/88. Neste caso, contudo, o concurso provavelmente irá descrever a 
situação acima explicada. 
 
 
 
DIREITO PENAL 
 
DOSIMETRIA DA PENA 
Correto conceito de culpabilidade, princípio da não-culpabilidade e vedação ao bis in idem 
 
Determinado réu foi condenado por furto qualificado por rompimento de obstáculo (art. 155, 
§ 4º, I, do CP). 
O STF considerou incorreta a sentença do juiz que, na 1ª fase da dosimetria da pena, aumentou 
a pena-base com fundamento em três argumentos: 
a) Culpabilidade. O magistrado afirmou que era patente a culpabilidade do réu considerando 
que ele tinha plena consciência da ilicitude de seu ato. 
 
Informativo 851-STF (12 a 19/12/2016) – Márcio André Lopes Cavalcante | 16 
O juiz confundiu os conceitos. Para fins de dosimetria da pena, culpabilidade consiste na 
reprovação social que o crime e o autor do fato merecem. Essa culpabilidade de que trata o art. 
59 do CP não tem nada a ver com a culpabilidade como requisito do crime (imputabilidade, 
potencial consciência da ilicitude do fato e inexigibilidade de conduta diversa). 
b) Antecedentes. O juiz aumentou a pena pelo fato de o agente já responder a quatro outros 
processos criminais. 
A jurisprudência entende que, em face do princípio da presunção de não culpabilidade, os 
inquéritos policiais e ações penais em curso não podem ser considerados maus antecedentes 
(Súmula 444-STJ e STF RE 591054/SC). 
c) Circunstâncias do crime. O julgador considerou que as circunstâncias do crime eram 
negativas porque o crime foi praticado com rompimento de obstáculo à subtração da coisa. 
Aqui, o erro do magistrado foi utilizar como circunstância judicial (1ª fase da dosimetria) um 
elemento que ele já considerou como qualificadora (inciso I do § 4º do art. 155). Houve, 
portanto, bis in idem (dupla punição pelo mesmo fato). 
STF. 2ª Turma. HC 122940/PI, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 13/12/2016 (Info 851). 
 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
João arrombou a porta de um comércio, de onde subtraiu uma televisão. Ficou provado que ele danificou 
uma grade e a porta do estabelecimento. 
O agente foi processado e condenado pela prática de furto qualificado (art. 155, § 4º, I, do CP). 
Até aqui, tudo bem. A polêmica começou na dosimetria da pena. 
Na 1ª fase, o juiz aumentou a pena-base invocando três circunstâncias judiciais que seriam negativas: 
a) Culpabilidade. O magistrado afirmou que era patente a culpabilidade do réu considerando que ele tinha 
plena consciência da ilicitude de seu ato. 
b) Antecedentes. O juiz aumentou a pena pelo fato de o agente já responder a quatro outros processos 
criminais. 
c) Circunstâncias do crime. O julgador considerou que as circunstâncias do crime eram negativas porque o 
crime foi praticado com rompimento de obstáculo à subtração da coisa. 
 
Agiu corretamente o magistrado na dosimetria da pena? 
NÃO. 
 
a) Culpabilidade 
Aqui o magistrado confundiu os conceitos. 
Para fins de dosimetria da pena, culpabilidade consiste na reprovação social que o crime e o autor do fato 
merecem. Ex: a culpabilidade (reprovabilidade) do crime de furto é intensa (elevada) se o agente, além de 
furtar os bens da casa, ainda urina no chão da residência ou nos móveis do proprietário. Neste caso, a 
pena-base poderia ser aumentada por causa disso. 
Essa culpabilidade de que trata o art. 59 do CP não tem nada a ver com a culpabilidade como requisito do 
crime (imputabilidade, potencial consciência da ilicitude do fato e inexigibilidade de conduta diversa). 
 
b) Antecedentes 
A jurisprudência entende que, em face do princípio da presunção de não culpabilidade, os inquéritos 
policiais e ações penais em curso não podem ser considerados maus antecedentes. 
Súmula 444-STJ: É vedada a utilização de inquéritos policiais e ações penais em curso para agravar a pena-base. 
 
Esse é também o entendimento do STF: 
Ante o princípio constitucional da não culpabilidade, inquéritos e processos criminais em curso são 
neutros na definição dos antecedentes criminais. 
STF. Plenário. RE 591054/SC, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 17/12/2014 (repercussão geral) (Info 772). 
 
Informativo 851-STF (12 a 19/12/2016) – Márcio André Lopes Cavalcante | 17 
 
c) Circunstâncias do crime 
“São elementos acidentais que não participam da estrutura própria de cada tipo, mas que, embora 
estranhas à configuração típica, influem sobre a quantidade punitiva para efeito de agravá-la ou abrandá-
la. [...] Entre tais circunstâncias, podem ser incluídos o lugar do crime, o tempo de sua duração, o 
relacionamento existente entre o autor e a vítima, a atitude assumida pelo delinquente no decorrer da 
realização do fato criminoso etc.” (SILVA FRANCO, Alberto. Código Penal e sua interpretação 
jurisprudencial — Parte Geral. v. I, t. I, São Paulo : RT, 1997, p. 900). 
Aqui, o erro do magistrado foi utilizar como circunstância judicial (1ª fase da dosimetria) um elemento que 
ele já considerou como qualificadora (inciso I do § 4º do art. 155). Houve, portanto, bis in idem (dupla 
punição pelo mesmo fato). 
 
 
 
FURTO 
Causa de aumento do § 1º pode ser aplicada tanto para furto simples como qualificado 
 
Importante!!! 
É legítima a incidência da causa de aumento de pena por crime cometido durante o repouso 
noturno (art. 155, § 1º) no caso de furto praticado na forma qualificada (art. 155, § 4º). 
Não existe nenhuma incompatibilidade entre a majorante prevista no § 1º e as qualificadoras 
do § 4º. São circunstâncias diversas, que incidem em momentos diferentes da aplicação da 
pena. 
Assim, é possível que o agente seja condenado por furto qualificado (§ 4º) e, na terceira fase da 
dosimetria, o juiz aumente a pena em 1/3 se a subtração ocorreu durante o repouso noturno. 
A posição topográfica do § 1º (vem antes do § 4º) não é fator que impede a sua aplicação para 
as situações de furto qualificado (§ 4º). 
STF. 2ª Turma. HC 130952/MG, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 13/12/2016 (Info 851). 
STJ. 6ª Turma. HC 306.450-SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 4/12/2014 (Info 554). 
 
ESTRUTURA DO FURTO 
O crime de furto encontra-se tipificado no art. 155 do CP, que tem cinco parágrafos. 
Vejamos o que dispõe cada um deles: 
Caput: furto simples. 
§ 1º: causa de aumento de pena para os casos em que o furto é praticado durante o repouso noturno. 
§ 2º: causa de diminuição de pena, chamada pela doutrina de “furto privilegiado”. 
§ 3º: a energia elétrica ou qualquer outra que tenha valor econômico é equiparada à coisa móvel. 
§ 4º: hipóteses de “furto qualificado”. 
§ 5º: qualificadora para as hipóteses em que a subtração for de veículo automotor que venha a ser 
transportado para outro Estado ou para o exterior. 
 
AUMENTO DE PENA PELO FURTO NOTURNOExiste uma causa de aumento caso o furto seja praticado no período noturno. Veja: 
§ 1º - A pena aumenta-se de um terço, se o crime é praticado durante o repouso noturno. 
 
Essa causa de aumento de pena do § 1º, além de se aplicar para os casos de furto simples (caput), pode 
também incidir nas hipóteses de furto qualificado (§ 4º)? 
 
Informativo 851-STF (12 a 19/12/2016) – Márcio André Lopes Cavalcante | 18 
SIM. 
É legítima a incidência da causa de aumento de pena por crime cometido durante o repouso noturno 
(art. 155, § 1º) no caso de furto praticado na forma qualificada (art. 155, § 4º). 
Não existe nenhuma incompatibilidade entre a majorante prevista no § 1º e as qualificadoras do § 4º. 
São circunstâncias diversas, que incidem em momentos diferentes da aplicação da pena. 
Assim, é possível que o agente seja condenado por furto qualificado (§ 4º) e, na terceira fase da 
dosimetria, o juiz aumente a pena em 1/3 se a subtração ocorreu durante o repouso noturno. 
A posição topográfica do § 1º (vem antes do § 4º) não é fator que impede a sua aplicação para as 
situações de furto qualificado (§ 4º). 
STF. 2ª Turma. HC 130952/MG, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 13/12/2016 (Info 851). 
STJ. 6ª Turma. HC 306.450-SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 4/12/2014 (Info 554). 
 
Exemplo: 
Se João e Pedro, durante a madrugada, invadem a residência da vítima enquanto esta dormia, e de lá 
subtraem a televisão, eles irão ter praticado furto qualificado: 
§ 4º - A pena é de reclusão de dois a oito anos, e multa, se o crime é cometido: 
IV - mediante concurso de duas ou mais pessoas. 
 
Além disso, na 3ª fase da dosimetria da pena, ao analisar as causas de aumento, o juiz irá aumentar a pena 
em 1/3 pelo fato de o crime ter sido cometido durante o repouso noturno, conforme prevê o § 1º. 
 
 
 
DIREITO PROCESSUAL PENAL 
 
PROVAS 
Antecipação da prova testemunhal pela gravidade do crime e possibilidade concreta de perecimento 
 
A antecipação da prova testemunhal prevista no art. 366 do CPP pode ser justificada como 
medida necessária pela gravidade do crime praticado e possibilidade concreta de 
perecimento, haja vista que as testemunhas poderiam se esquecer de detalhes importantes 
dos fatos em decorrência do decurso do tempo. 
Além disso, a antecipação da oitiva das testemunhas não traz nenhum prejuízo às garantias 
inerentes à defesa. Isso porque quando o processo retomar seu curso, caso haja algum ponto 
novo a ser esclarecido em favor do réu, basta que seja feita nova inquirição. 
STF. 2ª Turma. HC 135386/DF, rel. orig. Min. Ricardo Lewandowski, red. p/ o ac. Min. Gilmar Mendes, 
julgado em 13/12/2016 (Info 851). 
 
Se o acusado é citado por edital, mesmo assim o processo continua normalmente? 
O art. 366 do CPP estabelece que: 
 se o acusado for citado por edital e 
 não comparecer ao processo nem constituir advogado 
 o processo e o curso da prescrição ficarão suspensos. 
 
Se o réu comparecer ao processo ou constituir advogado, o processo e o prazo prescricional voltam a 
correr normalmente. 
O objetivo do art. 366 é garantir que o acusado que não foi pessoalmente citado não seja julgado à revelia. 
 
 
 
Informativo 851-STF (12 a 19/12/2016) – Márcio André Lopes Cavalcante | 19 
Produção antecipada de provas urgentes e prisão preventiva 
O art. 366 do CPP afirma que se o acusado, citado por edital, não comparecer nem constituir advogado, o 
juiz poderá determinar: 
 a produção antecipada de provas consideradas urgentes e 
 decretar a prisão preventiva do acusado se estiverem presentes os requisitos do art. 312 do CPP (o simples 
fato do acusado não ter sido encontrado não é motivo suficiente para decretar sua prisão preventiva). 
 
Produção antecipada das provas consideradas urgentes: 
No caso do art. 366 do CPP, o juiz poderá determinar a produção antecipada de provas consideradas 
urgentes. 
Para que o magistrado realize a colheita antecipada das provas, exige-se que seja demonstrada a real 
necessidade da medida. 
Assim, toda produção antecipada de provas realizada nos termos do art. 366 do CPP está adstrita à sua 
necessidade concreta, devidamente fundamentada. 
Nesse sentido, existe, inclusive, entendimento sumulado do STJ: 
Súmula 455-STJ: A decisão que determina a produção antecipada de provas com base no artigo 366 do 
CPP deve ser concretamente fundamentada, não a justificando unicamente o mero decurso do tempo. 
 
A oitiva de testemunhas pode ser considerada prova urgente para os fins do art. 366 do CPP? 
Sim, desde que as circunstâncias do caso revelem a possibilidade concreta de perecimento. 
Ex: a testemunha possui idade avançada e se encontra enferma, com possibilidade concreta de morte. 
 
Feitos os devidos esclarecimentos, imagine a seguinte situação analisada pelo STF: 
O réu foi denunciado pela prática de homicídio culposo na direção de veículo automotor (art. 302 do CTB). 
Como estava foragido, foi citado por edital, com a consequente suspensão do processo (art. 366 do CPP). 
O juiz determinou, em seguida, a realização de audiência de produção antecipada de prova. 
A Defensoria Pública, que fazia a assistência jurídica do réu, impetrou habeas corpus alegando haver 
cerceamento de defesa em virtude de a antecipação de prova ter tido como único fundamento o decurso 
do tempo. 
 
O STF concordou com o argumento da defesa? 
NÃO. 
A 2ª Turma do STF entendeu que a antecipação da prova testemunhal foi medida necessária pela 
gravidade do crime praticado e possibilidade concreta de perecimento, haja vista que as testemunhas 
poderiam se esquecer de detalhes importantes dos fatos em decorrência do decurso do tempo. 
Além disso, a antecipação da oitiva das testemunhas não traz nenhum prejuízo às garantias inerentes à 
defesa. Isso porque quando o processo retomar seu curso, caso haja algum ponto novo a ser esclarecido 
em favor do réu, basta que seja feita nova inquirição. 
Portanto, segundo decisão da Turma, o magistrado utilizou-se da prudência necessária a fim de 
resguardar a produção probatória e, em última análise, o resultado prático do processo penal. 
STF. 2ª Turma. HC 135386/DF, rel. orig. Min. Ricardo Lewandowski, red. p/ o ac. Min. Gilmar Mendes, 
julgado em 13/12/2016 (Info 851). 
 
Esta decisão do STF neste HC 135386/DF vai de encontro à Súmula 455 do STJ? 
NÃO. O STF entendeu que havia possibilidade concreta de perecimento. Desse modo, para o Tribunal, a 
decisão foi concretamente fundamentada. No caso, o juiz não decidiu apenas com base no decurso do 
tempo, tendo ele também suscitado outros argumentos, como o fato de que houve dificuldade na 
localização das testemunhas e que os endereços que havia nos autos eram apenas profissionais (e não 
residenciais). 
Assim, não significa que neste HC 135386/DF tenha havido mudança de entendimento sobre o tema. 
 
Informativo 851-STF (12 a 19/12/2016) – Márcio André Lopes Cavalcante | 20 
Vale ressaltar, inclusive, que a defesa, antes de impetrar o HC no STF, já havia manejado o writ no STJ, 
tendo ali sido igualmente negado o pedido de nulidade, conforme se pode observar pela ementa abaixo: 
(...) 1. A antecipação da produção de prova, com base no art. 366 do Código de Processo Penal, 
encontra-se, no caso em exame, concretamente fundamentada em razão do decurso do tempo aliado 
à condição de policial militar de uma das testemunhas, circunstância fática relevante que autoriza a 
medida antecipatória e que não implica ofensa ao teor do Enunciado n. 455 da Súmula do STJ. 
2. Em relação às demais testemunhas, também há motivação concreta a justificar a oitiva antecipada, 
uma vez que as instâncias ordinárias embasaram-se na dificuldade de localização, por não possuírem 
vínculo com a vítima ou com o acusado, especialmente porque constam dos autos apenas os endereços 
profissionaise não residenciais. (...) 
STJ. 6ª Turma. HC 346.603/DF, Rel. Min. Nefi Cordeiro, Rel. p/ Acórdão Min. Antonio Saldanha Palheiro, 
julgado em 24/05/2016. 
 
 
 
DIREITO TRIBUTÁRIO 
 
DEPOSITÁRIO INFIEL DE DÉBITOS TRIBUTÁRIOS 
Inconstitucionalidade da Lei nº 8.866/94 
 
É inconstitucional a Lei nº 8.866/94, que estabelece a possibilidade de prisão do depositário 
infiel de débitos tributários. 
Esta é uma ferramenta desproporcional de aumento de arrecadação, que viola os princípios do 
devido processo legal, do contraditório, da ampla defesa e as súmulas vinculantes 28 e 25. 
STF. Plenário. ADI 1055/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 15/12/2016 (Info 851). 
 
Lei nº 8.866/94 
A Lei nº 8.866/94 trata sobre o depositário infiel de valor pertencente à Fazenda Pública. 
Segundo esta Lei, é considerado depositário da Fazenda Pública a pessoa a que a legislação tributária ou 
previdenciária imponha a obrigação de reter ou receber de terceiro, e recolher aos cofres públicos, 
impostos, taxas e contribuições, inclusive à Seguridade Social (art. 1º). 
Desse modo, pelo texto legal, se a pessoa tiver a responsabilidade de reter o tributo pago por um terceiro 
(ex: empregador em relação às contribuições previdenciárias do empregado), esta pessoa seria 
considerada depositária da Fazenda Pública. 
Ainda de acordo com a Lei, se a pessoa não entregasse à União esses valores que ela deveria recolher, 
seria considerada depositária infiel, podendo ser presa. 
Pela Lei, a União poderia ajuizar ação de depósito fiscal contra o depositário e se ele não depositasse o 
valor referente à divida na contestação, ou após a sentença, no prazo de 24 horas, seria preso. Vale 
ressaltar que o devedor poderia sofrer este processo judicial de depósito mesmo sem que tivesse chegado 
ao fim o processo administrativo fiscal. 
 
Esta Lei é compatível com a Constituição Federal? 
NÃO. O STF declarou a inconstitucionalidade da Lei nº 8.866/94. 
É inconstitucional a Lei nº 8.866/94, que estabelece a possibilidade de prisão do depositário infiel de 
débitos tributários. 
Esta é uma ferramenta desproporcional de aumento de arrecadação, que viola os princípios do devido 
processo legal, do contraditório, da ampla defesa e as súmulas vinculantes 28 e 25. 
STF. Plenário. ADI 1055/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 15/12/2016 (Info 851). 
 
 
Informativo 851-STF (12 a 19/12/2016) – Márcio André Lopes Cavalcante | 21 
Violação ao princípio da proporcionalidade 
O Fisco já dispõe de mecanismos para a execução fiscal, como a possibilidade de penhora de bens e a 
inscrição do devedor em cadastro de inadimplentes, sendo desnecessária a ferramenta prevista na Lei nº 
8.866/94. Na verdade, esta Lei cria uma situação desproporcional para maximizar a arrecadação. 
 
Ofensa aos princípios do devido processo legal, contraditório e ampla defesa 
Além disso, a lei questionada permitia o ajuizamento de ação judicial apenas com base em “declaração 
feita pela pessoa física ou jurídica, do valor descontado ou recebido de terceiro, constante em folha de 
pagamento ou em qualquer outro documento fixado na legislação tributária ou previdenciária, e não 
recolhido aos cofres públicos” (Lei 8.866/94, art. 2º, I), sem exigir a o término do processo administrativo 
fiscal, o que fere o devido processo legal, o contraditório e a ampla defesa (art. 5º, LIV e LV, da CF/88). 
 
Exigência de depósito da quantia para contestar viola a SV 28 
A Lei nº 8.866/94, ao exigir que a contestação seja apresentada com o depósito do numerário sob pena de 
revelia, equivale a exigir depósito prévio como requisito de admissibilidade de ação judicial, o que é 
manifestamente proibido pelo STF, nos termos da Súmula Vinculante 28 ("É inconstitucional a exigência de 
depósito prévio como requisito de admissibilidade de ação judicial na qual se pretenda discutir a 
exigibilidade de crédito tributário"). 
Vale ressaltar, ainda, que a jurisprudência do STF veda a utilização de meios coercitivos indiretos de 
cobrança de dívida. 
 
Inconvencionalidade da prisão por dívida do depositário infiel 
Outros Ministros que acompanharam o voto mencionaram, ainda, um outro fundamento de ordem 
convencional: o fato de o Brasil ser signatário do Pacto de San José da Costa Rica, que veda a prisão por 
dívida. Foi justamente com base neste tratado internacional que, em 2008, o STF declarou a 
impossibilidade de prisão por dívida do depositário infiel. Esta decisão resultou, posteriormente, na edição 
da Súmula Vinculante 25, que tem a seguinte redação: "É ilícita a prisão civil de depositário infiel, qualquer 
que seja a modalidade do depósito." 
 
Ações de depósito em curso 
Em suma, a Lei nº 8.866/94 foi declarada inconstitucional. No entanto, para evitar insegurança jurídica ou 
qualquer prejuízo ao erário em relação aos prazos prescricionais, o STF definiu que as ações de depósito 
fiscal em curso que haviam sido propostas com base nessa legislação deverão ser transformadas em ação 
de cobrança, de rito ordinário, com oportunidade ao Poder Público para a sua adequação ou para requerer 
a sua extinção. 
 
DEVER FUNDAMENTAL DE PAGAR TRIBUTOS 
Os contribuintes possuem uma série de direitos fundamentais, que estão previstos nos arts. 150 a 152 da 
CF/88 e que se constituem em limitações impostos aos poder de tributar. 
Existe, no entanto, uma corrente de pensamento no Direito Tributário que defende que, por outro lado, os 
contribuintes possuem também um dever fundamental de pagar os tributos. 
Desse modo, é como se fosse um outro lado da moeda. Se por um lado, os contribuintes possuem 
garantias, por outro, possuem também um dever: o de pagar regularmente os tributos cobrados. 
Existe, inclusive, um livro muito famoso sobre o tema chamado "O dever fundamental de pagar impostos" 
(Editora Almedina), de autoria do Professor português José Casalta Nabais. 
Quando se entende que existe um dever fundamental de pagar tributos, isso traz algumas consequências 
jurídicas, como por exemplo: 
a) é possível, em tese, utilizar isso como argumento para declarar constitucional uma lei que imponha 
enorme controle para evitar sonegação; 
b) é possível, em tese, declarar inconstitucional uma lei que conceda isenções de impostos de forma 
desproporcional, sem justificativas. 
 
Informativo 851-STF (12 a 19/12/2016) – Márcio André Lopes Cavalcante | 22 
 
Este dever fundamental de pagar tributos existe porque o Estado possui obrigações para com as pessoas e 
estas somente podem ser atendidas se houver arrecadação. Assim, o Poder Público precisa fornecer 
saúde, educação, segurança, direitos sociais e isso é custeado, em sua grande parte, pelos recursos 
arrecadados com os tributos. 
 
O dever fundamental de pagar tributos está previsto na CF/88? 
SIM. Esta é a opinião do Ministro Gilmar Mendes. Em seu voto, ele afirma que tal dever está previsto no 
art. 145, § 1º, que tem a seguinte redação: 
§ 1º - Sempre que possível, os impostos terão caráter pessoal e serão graduados segundo a capacidade 
econômica do contribuinte, facultado à administração tributária, especialmente para conferir efetividade a 
esses objetivos, identificar, respeitados os direitos individuais e nos termos da lei, o patrimônio, os 
rendimentos e as atividades econômicas do contribuinte. 
 
Isso tem grande importância para o debate acadêmico sobre o tema e poderá também ser cobrado na sua 
prova. Por essa razão, fique atento. Confira o trecho do Informativo que transcreve as palavras do 
Ministro: 
"É cediço que há o dever fundamental de pagar tributos, entretanto os meios escolhidos pelo Poder 
Público devem estar jungidos à necessidade da medida, à adequação e à proporcionalidade, em sentido 
estrito, de restringir os meios de adimplemento em caso de cobrança judicial, as quais não estão presentes 
na apreciação da legislação ora questionada. 
O Estado brasileiro baseia-seem receitas tributárias. Um texto constitucional como o nosso, pródigo na 
concessão de direitos sociais e na promessa de prestações estatais aos cidadãos, deve oferecer 
instrumentos suficientes para que possa fazer frente às inevitáveis despesas que a efetivação dos direitos 
sociais requer. O tributo é esse instrumento. Considera-se, portanto, a existência de um dever 
fundamental de pagar impostos. No caso da Constituição, esse dever está expresso no § 1º do art. 145." 
 
 
 
COFINS 
Portaria nº 655/93 e parcelamento de débitos de COFINS 
 
Não viola o princípio da isonomia e o livre acesso à jurisdição a restrição de ingresso no 
parcelamento de dívida relativa à Contribuição para Financiamento da Seguridade Social - 
COFINS, instituída pela Portaria nº 655/93, dos contribuintes que questionaram o tributo em 
juízo com depósito judicial dos débitos tributários. 
STF. Plenário. RE 640905/SP, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 15/12/2016 (repercussão geral) (Info 851). 
 
Programa de parcelamento para contribuintes da COFINS 
A COFINS (Contribuição para Financiamento da Seguridade Social) é uma espécie de tributo instituída pela 
Lei Complementar 70/91, nos termos do art. 195, I, “b”, da CF/88. 
Em 1993, o Ministério da Fazenda editou uma portaria (Portaria nº 655/93) possibilitando que as pessoas 
que estivessem devendo COFINS pudessem parcelar estes débitos. Veja o que disse o art. 1º: 
Art. 1º Os débitos para com a Fazenda nacional, decorrentes da Contribuição para o Financiamento da 
Seguridade Social-COFINS, instituída pela Lei Complementar nº 70, de 30 de dezembro de 1991, vencidos 
até 30 de novembro de 1993, poderão ser objeto de parcelamento em até oitenta prestações mensais e 
sucessivas, se requerido até 15 de março de 1994. 
 
 
 
Informativo 851-STF (12 a 19/12/2016) – Márcio André Lopes Cavalcante | 23 
Ocorre que o art. 4º da Portaria afirmou que os débitos que fossem objeto de depósito judicial, em razão 
do questionamento do tributo na Justiça, não seriam incluídos no parcelamento. 
Art. 4º Os débitos que foram objeto de depósito judicial não poderão ser parcelados. 
 
Diversos contribuintes que ficaram impedidos de aderir ao parcelamento por conta desta vedação 
ingressaram com ações judiciais questionando a constitucionalidade do art. 4º da Portaria. Argumentavam 
que este ato violou os princípios da isonomia e da universalidade do acesso à jurisdição, considerando que 
deram tratamento diferente aos contribuintes pelo simples fato de eles terem recorrido ao Poder 
Judiciário para questionar o tributo. 
 
O argumento dos contribuintes foi aceito pelo STF? O art. 4º da Portaria nº 655/93 é inconstitucional? 
NÃO. 
Não viola o princípio da isonomia e o livre acesso à jurisdição a restrição de ingresso no parcelamento de 
dívida relativa à Contribuição para Financiamento da Seguridade Social - COFINS, instituída pela Portaria 
nº 655/93, dos contribuintes que questionaram o tributo em juízo com depósito judicial dos débitos 
tributários. 
STF. Plenário. RE 640905/SP, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 16/12/2016 (repercussão geral) (Info 851). 
 
A exceção feita ao parcelamento do débito fiscal, prevista no art. 4º da Portaria, não ofende os princípios 
da isonomia e do livre acesso à Justiça. 
 
Isonomia 
Não se pode aplicar um regime isonômico para pessoas em situação desigual perante o Fisco. 
Em outras palavras, não se pode tratar igualmente o contribuinte que deposita os valores em discussão e o 
contribuinte que nada faz. 
A portaria em questão não afronta o princípio da isonomia, uma vez que se distinguem duas situações 
completamente diferentes: a do contribuinte que voluntariamente efetuou o depósito judicial do débito, 
ficando imune aos consectários legais decorrentes da mora, e a do contribuinte que se quedou inerte em 
relação aos débitos que possuía com o fisco. São pessoas que estão em situação jurídica absolutamente 
diferentes. 
Se fosse aceita a tese do contribuinte, ele seria autorizado a retirar o dinheiro que depositou judicialmente 
com o objetivo de poder ir para a via extrajudicial parcelar o débito. No entanto, se ele não conseguisse 
pagar as parcelas, a Fazenda Pública teria que voltar a acioná-lo judicialmente, havendo, no caso, um 
desperdício de força processual imenso. 
 
Acesso ao judiciário 
Também não se pode falar em afronta ao princípio do livre acesso à jurisdição, uma vez que não se impõe 
o depósito judicial para ingressar em juízo. 
O contribuinte poderia ter questionado a COFINS sem fazer o depósito judicial. Ele opta por fazer o 
depósito judicial para ficar imune aos consectários legais decorrentes da mora. 
 
 
 
EXERCÍCIOS 
 
Julgue os itens a seguir: 
1) Não cabe reclamação para o STF contra sentença que julgou improcedente pedido de direito de 
resposta sob o fundamento de que não houve, no caso concreto, ofensa. ( ) 
2) Se é proposta ADI contra uma medida provisória e, antes de a ação ser julgada, a MP é convertida em 
lei esta ADI perde o objeto. ( ) 
 
Informativo 851-STF (12 a 19/12/2016) – Márcio André Lopes Cavalcante | 24 
3) (TRF1 - prova oral - 2013) O STF se permite fazer o controle dos pressupostos de relevância e urgência 
da MP, em se tratando de um controle político? 
4) É constitucional a criação de órgãos jurídicos na estrutura de Tribunais de Contas estaduais, vedada a 
atribuição de cobrança judicial de multas aplicadas pelo próprio tribunal. ( ) 
5) É inconstitucional norma estadual que preveja que compete à Procuradoria do Tribunal de Contas 
cobrar judicialmente as multas aplicadas pela Corte de Contas. ( ) 
6) Não é possível a existência de Procuradoria do Tribunal de Contas considerando que a atribuição para a 
representação judicial é privativa das Procuradorias do Estado, nos termos do art. 132 da Constituição 
Federal. ( ) 
7) (Juiz TRF1 2015 CESPE) O TCU, no exercício de suas atribuições, pode apreciar a constitucionalidade dos 
atos administrativos do poder público, mas não a constitucionalidade das leis. ( ) 
8) Compete ao STJ decidir conflito negativo de atribuições entre Ministério Público estadual e Ministério 
Público Federal. ( ) 
9) A expropriação prevista no art. 243 da Constituição Federal pode ser afastada, desde que o proprietário 
comprove que não incorreu em culpa, ainda que in vigilando ou in eligendo. ( ) 
10) Os servidores ocupantes de cargo exclusivamente em comissão não se submetem à regra da 
aposentadoria compulsória prevista no art. 40, § 1º, II, da CF, a qual atinge apenas os ocupantes de 
cargo de provimento efetivo, inexistindo, também, qualquer idade limite para fins de nomeação a 
cargo em comissão. ( ) 
11) Ressalvados impedimentos de ordem infraconstitucional, não há óbice constitucional a que o servidor 
efetivo aposentado compulsoriamente permaneça no cargo comissionado que já desempenhava ou a 
que seja nomeado para cargo de livre nomeação e exoneração, uma vez que não se trata de 
continuidade ou criação de vínculo efetivo com a Administração. ( ) 
12) (Juiz Substituto TJDFT 2016 CESPE) Conforme entendimento do STF, sua competência originária contra 
atos do CNJ deve ser interpretada de forma restrita e se limita às ações tipicamente constitucionais. ( ) 
13) É legítima a incidência da causa de aumento de pena por crime cometido durante o repouso noturno 
(art. 155, § 1º) no caso de furto praticado na forma qualificada (art. 155, § 4º). ( ) 
14) (Juiz TRF1 2015 CESPE) Será válida a decisão que autorizar a produção antecipada de provas 
fundamentada no mero decurso do tempo, quando estiverem suspensos o processo penal e a 
prescrição diante da ausência de citação pessoal do réu. ( ) 
15) Em que consiste o chamado dever fundamental de pagar tributos? Ele está previsto na CF/88? 
 
 
Gabarito 
1. C 2. E 3. - 4. C 5. C 6. E 7. E 8. E 9.

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