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Gabarito_AP1_-_2013-2

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO 
Centro de Ciências Humanas e Sociais – CCH 
 
Licenciatura em História - EAD 
UNIRIO/CEDERJ 
 
PRIMEIRA AVALIAÇÃO PRESENCIAL- 2013-2 
DISCIPLINA: PATRIMÔNIO CULTURAL 
Coordenação: Márcia Chuva 
Primeira Avaliação Presencial- 2013-2 
DISCIPLINA: PATRIMÔNIO CULTURAL 
Coordenação: Márcia Chuva 
 
 
GABARITO 
 
 
QUESTÃO 1: ESCOLHA APENAS UM DOS ITENS PARA RESPONDER (3,5) 
Se todo patrimônio é constituído a partir dos valores a ele atribuídos, o patrimônio é 
uma invenção. 
a. Explique a assertiva acima, associando, no caso brasileiro, às diferentes 
interpretações da obra de Aleijadinho, desde os anos 1920 até a sua consagração 
nos anos 1930. 
 
A institucionalização da preservação do patrimônio cultural no Brasil 
ocorre na década de 1930, entretanto ela é fortemente influenciada pelo 
contexto de modernização da década de 1920 e da concepção de 
modernidade de então. Estas ideias permeiam o pensamento 
nacionalista, presente nos intelectuais que buscavam entender o Brasil. 
Ainda que nos 1930, o barroco mineiro tenha sido hegemônico nas 
ações de tombamento do patrimônio cultural do Brasil, na década 
anterior percebia-se um debate. 
O mesmo deve ser levado em consideração quando pensamos sobre as 
obras valorizadas ou não em determinado momento. A obra de 
Aleijadinho é um bom exemplo, pois se hoje a reconhecemos como de 
grande valor, na década de 1920 era tratado como algo a ser superado. 
Foi com a valorização do barroco mineiro na primeira década de 
trabalho do SPHAN que a obra de Aleijadinho passa ser reconhecida 
como exemplar de uma arte genuinamente nacional. Este é um sinal da 
valorização do período colonial e também das artes com expressão dos 
bens que poderiam representar a nacionalidade. 
 
 
b. Explique a assertiva acima, considerando que durante o processo revolucionário 
vivenciado na França a partir de 1789, as origens da nação francesa foram sendo 
interpretadas diferentemente, na medida em que se institucionalizava a nova ordem 
burguesa. 
 
A França tem papel de destaque no início das práticas de preservação 
do que se convencionou como patrimônio cultural. Desde o uso do termo 
nação, no sentido atual, a implantação de uma prática sistemática de 
defesa do patrimônio cultural. As práticas francesas são tidas como 
referência de um modelo de relação do Estado e as práticas de 
preservação. A princípio a história da arte marcou fortemente o início 
das práticas de preservação, ao logo do século XIX, assim como as 
técnicas de restauração arquitetônica também desenvolveram-se 
fortemente Ainda que em meio a discussões e críticas às disciplinas da 
história da arte e restauração arquitetônicas, durante o século XIX 
houve uma consagração do monumento histórico no campo da 
preservação do patrimônio cultural. 
Importante destacar que estas práticas preservacionistas surgem no 
momento revolucionário iniciado com a Revolução Francesa, momento 
onde redefine-se o que deve ser lembrado e esquecido. As primeiras 
ações preservacionistas estavam relacionadas a prática dos antiquários 
e colecionadores. Nestes lugares a antiguidade clássica era valorizada e 
o período medieval, entendido como de trevas, era desvalorizado. 
Paralelamente ao trabalho dos antiquários surge também a afirmação 
da tradição cristã como uma referência para a nação, com a 
valorização da arte gótica. Com o processo revolucionário as ações 
oscilavam entre tentativas de ruptura com o passado do antigo regime e 
ações e preservação do que era tido como patrimônio da nação. 
 
 
QUESTÃO 2: ESCOLHA APENAS UM DOS ITENS PARA RESPONDER (3,5) 
O Decreto-lei 25/1937, que regulamentou as ações de proteção ao patrimônio cultural 
brasileiro, permanece em vigor na atualidade. Esse decreto-lei criou o instituto do 
tombamento, aplicável a bens móveis e imóveis. 
 
a) Podemos afirmar que o tombamento da cidade de Diamantina em 1938 considerou-a 
uma cidade-monumento. Contudo, em 1998, quando foi inventariada e inscrita na Lista 
de Patrimônio Mundial, ela foi considerada uma cidade-documento. Explique como 
uma mesma cidade pode ser compreendida com base em duas concepções diferentes, 
conforme o exemplo citado. 
 
Podemos afirmar que a trajetória de patrimonialização das cidades no 
Brasil teve, em diferentes momentos, concepções diferentes de cidades 
enquanto patrimônios culturais e das formas de entender seus significados 
e sua preservação. A distinção entre cidade-monumento e cidade-
documento não deve ser compreendida como substituições ocorridas ao 
longo do tempo, sendo importante afirmar que seus defensores disputavam 
posições, buscando tornar suas concepções hegemônicas nos processos de 
preservação. 
Até os anos de 1970 predominava no Brasil a concepção de cidade-
monumento nos processos de seleção para tombamento. Valorizava-se 
então, nesta perspectiva, características arquitetônicas como fachadas, 
caimento das águas do telhado e seus beirais, o desenho dos vãos das 
janelas e portas, com ênfase nos aspectos estéticos e estilísticos 
tradicionais dos imóveis, em geral do período colonial, especialmente do 
século XVIII. No caso da cidade-documento é importante perceber que o 
início dos anos 1980 caracteriza-se como um momento de revisão das 
possibilidades de aplicação do tombamento, a partir da redefinição do 
valor histórico, devido às ideias e conceitos da Nova História. 
Influenciada pela nova historiografia posterior a também renovação das 
Escolas dos Annales, passa-se a entender as cidades como um documento 
dos processos socioeconômicos definidores do espaço. 
 
b) Apresente dois pontos do Decreto-lei n. 25/1937 a serem considerados quando é feita 
a indicação do tombamento de uma cidade. 
 
O Decreto-Lei 25 de 1937, em vigor até hoje, institui o instrumento 
do tombamento e foi utilizado pelas instâncias de poder como 
principal instrumento legal de proteção do patrimônio cultural no 
Brasil. Ele dá ao Estado a tutela do Patrimônio Histórico e Artístico 
Nacional, impõe limites à propriedade privada ou pública, proibindo 
sua demolição ou reforma sem as devidas autorizações. Sua ação 
sobre a propriedade é limitada permitindo ainda a comercialização. 
Exige a integridade e conservação do bem tombado, mas impõe ao 
Estado também responsabilidades, dando poder de polícia 
administrativa para fiscalizar os bens. Este direito baseia-se no 
princípio do "interesse coletivo". 
 
QUESTÃO 3: (3,0) 
Sérgio Buarque de Holanda, (Ladrilhadores e Semeadores, publicado em Raízes do Brasil, de 
1936), afirmava que os portugueses não tiveram projeto para suas cidades, fundadas ao 
acaso, como sementes jogadas ao vento, fruto também de um poder imperial português 
enfraquecido. 
Explique as teses que se contrapuseram às idéias de Holanda acerca da formação das 
cidades no Brasil colonial, desenvolvidas por Nestor Goulart Reis Filho (em Contribuição 
ao estudo da evolução urbana do Brasil – 1500 a 1720) e Paulo Santos (em Formação do Brasil 
Colonial), no final dos anos 1960. 
Sérgio Buarque, em Raízes do Brasil, pensa as cidades brasileiras em 
oposição às cidades de colonização espanhola. Neste caminho afirma 
que enquanto os espanhóis partiam de planejamento racional, os 
portugueses não tinham planejamento algum, sendo construídas ao 
acaso. Assim seguindo crescimento desordenado. Esta concepção dual 
entre cidades planejadas e espontâneas exercerá grande impacto nas 
formas de pensar a patrimonilização de cidades no Brasil, entretanto a 
partir dos estudos Nestor Goulart Reis Filho uma nova visão será posta. 
Destaca este último autorque há regularidades, com elementos sendo 
repetidos nas cidades brasileiras, tais como a localização em cima de 
morros com nascentes de água limpa. Paulo Santos irá propor que se 
desenvolveram no Brasil dois tipos de cidades, uma a "cidade informal" 
apontada como a "medieval", outra a formal ou planejada, semelhante à 
do período da Renascença.

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