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Apostila de Teoria Geral do Crime (Bruno Romanelli) NP2

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TEORIA GERAL DO DELITO – NP2
Conceito e evolução da Teoria do Crime
NOÇÕES FUNDAMENTAIS
É a parte da ciência do direito penal que se ocupa de explicar o que é o delito em geral, quer dizer, quais são as características que devem ter qualquer delito. A Teoria do delito tem a finalidade de identificar os elementos que integram a infração penal, criando um roteiro a ser obrigatoriamente seguido pelos aplicadores do direito, que, por meio dele, poderão concluir ou não pela existência da infração penal. Embora o crime seja insuscetível de fragmentação, pois que é um todo unitário, para efeitos de estudo, faz-se necessária a análise de cada uma de suas características ou elementos fundamentais, isto é, o fato típico, a antijuridicidade e a culpabilidade, os três elementos que convertem uma ação em um delito. 
INFRAÇÃO PENAL 
Nosso sistema jurídico-penal adotou, de um lado, as palavras crime e delito como expressões sinônimas, e, de outro, as contravenções penais. Quando quisermos nos referir indistintamente a qualquer uma dessas figuras, devemos utilizar a expressão infração penal. A infração penal, portanto, como gênero, refere-se de forma abrangente aos crimes/delitos e às contravenções penais como espécies. 
Na verdade, não há diferença substancial entre contravenção e crime. O critério de escolha dos bens que devem ser protegidos pelo Direito Penal é político, da mesma forma que é política a rotulação da conduta como contravencional ou criminosa. Às contravenções penais, por serem, consideradas delitos-anões, devem, em geral, tocar as infrações consideradas menos graves, ou seja, aquelas que ofendam bens jurídicos não tão importantes como aqueles protegidos quando se cria a figura típica de um delito. 
Na verdade, se aplicássemos fielmente o princípio da intervenção mínima, não deveríamos sequer falar em contravenções, cujos bens por elas tutelados bem poderiam ter sido protegidos satisfatoriamente pelos demais ramos do Direito.
ILÍCITO PENAL E ILÍCITO CIVIL 
Ocorre que o ilícito penal, justamente pelo fato de o Direito Penal proteger os bens mais importantes e necessários à vida em sociedade, é mais grave. O legislador, fará a seleção dos bens que a este interessam mais de perto, deixando a proteção dos demais a cargo dos outros ramos do Direito. A diferença entre o ilícito penal e o civil, obviamente observada a gravidade de um e de outro, encontra-se também na sua consequência. Ao ilícito penal o legislador reservou uma pena, que pode até chegar ao extremo de privar o agente de sua liberdade, tendo destinado ao ilícito civil, contudo, como sua consequência, a obrigação de reparar o dano ou outras sanções de natureza civil.
CONCEITO
No Brasil, não existe um conceito legal de crime, ficando esse conceito a cargo da doutrina. Esse, na verdade, é um conceito que veio evoluindo ao longo dos anos, sendo que várias teorias surgiram com a finalidade de explicá-lo. 
EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE CRIME
Três são as fases do desenvolvimento da teoria do delito: o conceito clássico, o conceito neoclássico e conceito finalista de delito. Contudo, as três fases apresentam uma certa integração, na medida em que nenhuma delas estabeleceu um marco de interrupção completo. 
Lizst, Beling e Rad​bruch elaboraram o conceito clássico de delito, representado por um movimento corporal (ação), produzindo uma modificação no mundo exterior (resultado), que vinculava a conduta ao resultado através do nexo de causalidade. Este foi produto do pensamento jurídico característico do positivismo científico, que afastava completamente qualquer contribuição das valorações filosóficas, psicológicas e sociológicas. 
Ao pretender resolver todos os problemas jurídicos nos limites exclusivos do Direito positivo, deu um tratamento exageradamente formal ao comportamento humano definido como delituoso. 
A formulação clássica do conceito de delito (e todos seus elementos) sofreu profunda transformação, embora sem abandonar completamente seus princípios fundamentais, dando origem ao conceito neoclássico. O sistema	neoclássico diverge do anterior, em primeiro lugar, por seu aporte filosófico. Enquanto os clássicos se inspiraram no positivismo de	Augusto Comte, os neoclássicos se viram grandemente influenciados pelo neokantismo e pela filosofia de valores.
Este caracterizou-se pela reformulação do velho conceito de ação, nova atribuição à função do tipo, pela redefinição da culpabilidade, e transformação material da antijuridicidade, sem alterar, contudo, o conceito de crime como a ação típica, antijurídica e culpável.
Welzel, então, cunhou o conceito finalista de delito, começando pelo abandono do pensamento logicista e abstrato das concepções anteriores, corrigiu as falhas e contradições existentes, procurando conduzir a ação humana ao conceito central da teoria do delito.
A teoria mais importante no contexto da estrutura do crime no pensamento finalista é a teoria finalista da ação, onde esta não constitui um simples movimento muscular gerador de relações de causalidade, mas uma conduta humana, consciente e voluntária, movida a uma finalidade. Outro aspecto de suma importância do conceito finalista foi a “retirada” do dolo da culpabilidade, que fez com que esta passasse a ser restrita a elementos exclusivamente normativos. 
Welzel deixou claro que, para ele, o crime só estará completo com a presença da culpabilidade. Dessa forma, também para o finalismo, crime continua sendo a ação típica, antijurídica e culpável.
 
CONCEITO DE CRIME
Nosso atual Código Penal não nos fornece um conceito de crime, a definição atribuída é eminentemente doutrinária. Há diversos conceitos de crime, agrupados em diferentes categorias, cada qual com um enfoque diferente e um propósito bem definido: 
a) conceito formal: crime seria toda conduta que colidisse frontalmente contra a lei penal editada pelo Estado. Procura orientar o operador do Direito Penal à identificar no ordenamento jurídico, quais são os ilícitos penais.
b) conceito material: crime seria toda ação ou omissão, consciente e voluntária, que cria um risco juridicamente proibido e relevante a bens jurídicos considerados fundamentais para a paz e o convívio social. Tem o propósito de limitar a função seletiva do legislador, retirando​-lhe a liberdade absoluta para escolher quais comportamentos deverá criminalizar.	
c) conceito analítico: o conceito analítico, por fim, preocupa​-se	em conhecer, organizar, ordenar e sistematizar os elementos e a estrutura do crime, de modo a permitir uma aplicação racional e uniforme do Direito Penal. É ele que ensina ao juiz criminal, que deverá verificar, em primeiro lugar, se o fato é penalmente típico, para, então, analisar se é também antijurídico (ou ilícito) e, por último, examinar a culpabilidade, de modo a saber se o réu	é ou não merecedor de uma punição. 
Dada a importância do conceito analítico, diversas teorias despontaram no Brasil com vistas à determinação dos elementos constitutivos do crime:
A Teoria Bipartida: inicialmente trilhada por Dotti, Damásio, Mirabete e Capez. Filiam​-se ao entendimento segundo o qual crime é o fato típico e antijurídico, figurando a culpabilidade não como elemento do crime, mas como pressuposto de aplicação da pena;
A Teoria Tripartida: que é a predominante, não só no Brasil como também na doutrina estrangeira. Seus adeptos argumentam, entre outros, que não pode haver crime numa ação desmerecedora de reprovabilidade. A culpabilidade, desta forma, deve ser parte integrante do conceito, conferindo ao crime a conceituação de fato típico, antijurídico, culpável.
Assim, a maioria dos doutrinadores adota o conceito de crime como fato típico, antijurídico e culpável. O fato típico, segundo uma visão finalista, é composto dos seguintes elementos: 
	- conduta dolosa ou culposa, comissiva ou omissiva; 
	- resultado; 
	- nexo de causalidade entre a conduta e o resultado;
	- tipicidade (Quando um fato no mundo natural se encaixa perfeitamente com a descriçãolegal, o 	tipo penal, surge a tipicidade).
A ilicitude, expressão sinônima de antijuridicidade, é aquela relação de contrariedade, de antagonismo, que se estabelece entre a conduta do agente e o ordenamento jurídico. A licitude ou a juridicidade da conduta praticada é encontrada por exclusão, ou seja, somente será lícita a conduta se o agente houver atuado amparado por uma das causas excludentes da ilicitude previstas no art. 23 do Código Penal. 
	Art. 23 - Não há crime quando o agente pratica o fato:
	I - em estado de necessidade;
	II - em legítima defesa;
	III - em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito.
A culpabilidade é o juízo de reprovação pessoal que se faz sobre a conduta ilícita do agente. São elementos integrantes da culpabilidade, de acordo com a concepção finalista: 
	- imputabilidade; 
	- potencial consciência sobre a ilicitude do fato; 
	- exigibilidade de conduta diversa.
Assim, na precisa conceituação de Zaffaroni, "delito é uma conduta humana individualizada mediante um dispositivo legal (tipo) que revela sua proibição (típica), que por não estar permitida por nenhum preceito jurídico (causa de justificação) é contrária ao ordenamento jurídico (antijurídica) e que, por ser exigível do autor que atuasse de outra maneira nessa circunstância, lhe é reprovável (culpável).
AÇÃO:
Temos a conduta (ação ou comportamento humano) como primeiro elemento integrante do fato típico. A ação, ou conduta, compreende qualquer comportamento humano comissivo (positivo) ou omissivo (negativo), podendo ser ainda dolosa (quando o agente quer ou assume o risco de produzir o resultado) ou culposa (quando o agente infringe o seu dever de cuidado, atuando com negligência, imprudência ou imperícia). 
Não se fala em conduta de pessoa jurídica no sentido de imputar a esta a prática de alguma infração penal. Embora seja o delito o resultado de uma ação humana, nosso legislador constituinte previu expressamente em nossa Constituição Federal a possibilidade de punir penalmente a pessoa jurídica por ter ela própria praticado uma atividade lesiva ao meio ambiente.
Segundo a concepção causalista, proposta inicialmente pela teoria clássica, no sistema causal-naturalista criado por Liszt e Beling, diz ser a ação o movimento humano voluntário produtor de uma modificação no mundo exterior. Com o finalismo de Welzel, a ação passou a ser concebida como o exercício de uma atividade final. É a ação, portanto, um comportamento humano voluntário, dirigido a uma finalidade qualquer. O homem, quando atua, seja fazendo ou deixando de fazer alguma coisa a que estava obrigado, dirige a sua conduta sempre à determinada finalidade.
 CONDUTAS DOLOSAS E CULPOSAS:
Ao autor da prática do fato podem ser imputados dois tipos de condutas: dolosa ou culposa. Ou o agente atua com dolo, quando quer diretamente o resultado ou assume o risco de produzi-lo; ou age com culpa, quando dá causa ao resultado em virtude de sua imprudência, imperícia ou negligência. 
CONDUTAS COMISSIVAS E OMISSIVAS:
Além de atuar com dolo ou culpa, o agente pode praticar a infração penal fazendo ou deixando de fazer alguma coisa a que estava obrigado. As condutas, dessa forma, podem ser comissivas (positivas) ou omissivas (negativas). 
Nos crimes comissivos, o agente direciona sua conduta a uma finalidade ilícita. Por exemplo, no crime de furto, o agente atua com a finalidade de subtrair os bens móveis pertencentes à vítima. Nessas hipóteses, diz-se que a conduta praticada pelo agente é positiva. 
Nos crimes omissivos, ao contrário, há uma abstenção de uma atividade que era imposta pela lei ao agente. Constitui uma atitude psicológica e física de não-atendimento da ação esperada, que devia e podia ser praticada. Diz-se que sua conduta, aqui, é negativa. 
AUSÊNCIA DE CONDUTA:
A ação regida pela vontade é sempre uma ação final, isto é, dirigida à consecução de um fim. Se não houver vontade dirigida a uma finalidade qualquer, não se pode falar em conduta. Se o agente não atua dolosa ou culposamente, não há ação. Isso pode acontecer quando o sujeito se vir impedido de atuar, como nos casos de: 
a) força irresistível; 
b) movimentos reflexos; 
c) estados de inconsciência.
No caso de embriaguez completa, embora não tenha o agente se embriagado com o fim de praticar qualquer infração penal, mesmo que não possua a menor consciência daquilo que faz, ainda assim será responsabilizado pelos seus atos. Aqui, na verdade, o agente é responsabilizado pelos resultados ocorridos em virtude do ato de querer, voluntariamente, embriagar-se.
RESULTADO:
É a modificação do mundo exterior provocada pelo comportamento humano voluntário. Pode apresentar-se sob diversas formas: efeitos físicos, como a destruição de um objeto no crime de dano (art. 163); fisiológicos, como a morte de um homem no homicídio (art. 121), ou a perda de um membro nas lesões corporais (art. 129, § 2º, III); e psicológicos, como a percepção de uma expressão ofensiva por parte de uma pessoa na injúria e na difamação (arts. 139 e 140 do nosso CP).
NEXO DE CAUSALIDADE: 
O terceiro elemento do fato típico é o nexo de causalidade entre o comportamento humano e a modificação do mundo exterior (resultado). É o vínculo existente entre a conduta do agente e o resultado por ela produzido; examinar o nexo de causalidade é descobrir quais condutas, positivas ou negativas, deram causa ao resultado previsto em lei. Assim, para se dizer que alguém causou um determinado fato, faz-se necessário estabelecer a ligação entre a sua conduta e o resultado gerado, isto é, verificar se de sua ação ou omissão adveio o resultado. Nosso Código, ao resolver a questão do nexo de causalidade, adotou a teoria da conditio sine qua non.
TIPO PENAL:
Por imposição do princípio do nullum crimen sine lege, o legislador, quando quer impor ou proibir condutas sob a ameaça de sanção, deve, obrigatoriamente, valer-se de uma lei. Quando a lei em sentido estrito descreve a conduta (comissiva ou omissiva) com o fim de proteger determinado bem cuja tutela mostrou-se insuficiente pelos demais ramos do direito, surge o chamado tipo penal. Tipo, como a própria denominação diz, é o modelo, o padrão de conduta que o Estado, por meio de seu único instrumento - a lei-, visa impedir que seja praticada, através do legislador, que descreve legalmente as ações que considera, em tese, delitivas.
Tipo é o conjunto dos elementos do fato punível descrito na lei penal. O tipo exerce uma função limitadora e individualizadora das condutas humanas penalmente relevantes. Cada tipo possui características e elementos próprios que os distinguem uns dos outros, tornando-os inconfundíveis, inadmitindo-se a adequação de uma conduta que não lhes corresponda perfeitamente.
Portanto, quando nos referimos ao tipo penal, nos referimos ao tipo de delito, que, na definição de Welzel, “é a descrição concreta da conduta proibida. Contudo, o conceito de tipo não tem o mesmo significado de crime, pois, para identificar uma conduta como crime, é necessário, ainda, analisar se a conduta típica é antijurídica e culpável. 
Na definição de Zaffaroni, "o tipo penal é um instrumento legal, logicamente necessário e de natureza predominantemente descritiva, que tem por função a individualização de condutas humanas penalmente relevantes".
JUÍZO DE TIPICIDADE: 
Há uma operação intelectual de conexão entre a infinita variedade de fatos possíveis da vida real e o modelo típico descrito na lei. Essa operação, que consiste em analisar se determinada conduta se adapta aos requisitos descritos na lei, para qualificá-la como infração penal, chama-se “juízo de tipicidade”. Quando o resultado desse juízo for positivo significa que a conduta analisada reveste-se de tipicidade, quando o juízo for negativo estaremos diante da aticipidade da conduta.
TIPICIADE:
A tipicidade, ao lado da conduta, constitui elemento necessário ao	fato típico de qualquer infração penal. A adequação da conduta doagente ao modelo abstrato previsto na lei penal (tipo) faz surgir a tipicidade formal ou legal. Essa adequação deve ser perfeita, pois, caso contrário, o fato será considerado formalmente atípico. 
Tipicidade é a conformidade do fato praticado pelo agente com a moldura abstratamente descrita na lei penal. É a correspondência entre o fato praticado pelo agente e a descrição de cada espécie de infração contida na lei penal incriminadora. Trata​-se de uma relação de encaixe, de enquadramento. É o adjetivo que pode ou não ser dado a um fato, conforme ele se enquadre ou não na lei penal.
Deve ser analisada em dois planos: formal e material. Entende​-se por tipicidade a relação de subsunção entre um fato concreto e um tipo penal (tipicidade formal) e a lesão ou perigo de lesão ao bem penalmente tutelado (tipicidade material), ou seja, para que se possa falar em tipicidade material,é preciso que a conduta praticada pelo agente seja considerada ofensiva a bens de relevo para o Direito Penal. 
ADEQUAÇÃO TÍPICA: 
Existem, contudo, duas espécies de adequação típica: de subordinação imediata e de subordinação mediata. 
Adequação típica por subordinação imediata: dá​-se quando a adequação entre o fato e a norma penal incriminadora é imediata, direta; não é preciso que se recorra a nenhuma norma de extensão do tipo. Exemplo: alguém efetua dolosamente vários disparos contra a vítima – esse fato se amolda diretamente ao tipo penal incriminador do art. 121 do CP. 
Adequação típica por subordinação mediata: o enquadramento fato/norma não ocorre diretamente, exigindo-se o recurso a uma norma de extensão para haver subsunção total entre fato concreto e lei penal. Exemplo: se alguém, com intenção homicida, efetua vários disparos de arma de fogo contra outrem e foge, sendo a vítima socorrida e salva a tempo, esse fato não se amolda ao tipo penal do art. 121 (não	houve morte). Seria o fato atípico? Não, contudo será preciso recorrer a uma norma de extensão; no caso, o art. 14, II, que descreve a tentativa.
ELEMENTOS ESTRUTURAIS DO TIPO:
Como o tipo penal abrange todos os elementos que fundamentam o injusto, ele não se compõe somente de elementos puramente objetivos, mas é integrado, também de elementos normativos e subjetivos. Assim, o tipo compõe-se de elementos descritivos, normativos (objetivos) e subjetivos.
Os elementos objetivos do tipo, têm a finalidade de descrever a ação, o objeto da ação e, em sendo o caso, o resultado, as circunstâncias externas do fato e a pessoa do autor. A finalidade básica dos elementos objetivos do tipo é fazer com que o agente tome conhecimento de todos os dados necessários à caracterização da infração penal. Na categoria dos elementos objetivos, ainda podemos subdividi-los em elementos descritivos e elementos normativos.
Elementos descritivos são aqueles que têm a finalidade de traduzir o tipo penal, isto é, de evidenciar aquilo que pode, com simplicidade, ser percebido pelo intérprete, identificados pela simples constatação sensorial. Referem-se a objetos, seres, animais, coisas ou atos perceptíveis pelos sentidos. 
Elementos normativos são aqueles criados e traduzidos por uma norma ou que, para sua efetiva compreensão, necessitam de uma valoração por parte do intérprete. São circunstâncias que não se limitam a descrever o natural, mas implicam um juízo de valor. O legislador penal pode valer-se de elementos normativos para descrever objetos, situações, circunstâncias ou estados que somente podem ser compreendidos através deste juízo de valor. Ex: “fútil”, “alheio”, “vulnerável”, “dignidade”, “decoro” etc.
Os elementos subjetivos do tipo permitem compreender a ação ou omissão típica não só como um processo causal cego, mas como um processo causal dirigido pela vontade humana para o alcance de um fim. São dados ou “circunstâncias que pertencem ao campo psíquico-espiritual e manifestam-se como vontade regente da ação. O dolo é o principal elemento subjetivo do tipo, mas às vezes, ao lado do dolo, aparecem elementos subjetivos especiais, como intenções ou tendências de ação, ou mesmo motivações excepcionais, que também integram o tipo subjetivo.
ELEMENTOS ESPECÍFICOS DO TIPO:
Conforme verificamos no tópico anterior, os tipos penais são compostos por elementos objetivos (descritivos e normativos) e subjetivos. Analisaremos agora, de forma isolada, cada um de seus elementos.
Núcleo do tipo é o verbo que descreve a conduta proibida pela lei penal. Todos os tipos devem vir acompanhados de seu núcleo, pois o verbo tem a finalidade de evidenciar a ação que se procura evitar ou impor. Há tipos penais que possuem um único núcleo (uninucleares), como no caso do art. 121 do Código Penal, e outros que possuem vários núcleos (plurinucleares).
Sujeito ativo é aquele que pode e pratíca a conduta descrita no tipo. Muitas vezes o legislador limita a prática de determinadas infrações penais a certas pessoas e, para tanto, toma o cuidado de descrever no tipo penal o agente que poderá praticá-la. Quando estamos diante dos chamados crimes comuns, o legislador não se preocupa em apontar o sujeito ativo, uma vez que as infrações dessa natureza podem ser cometidas por qualquer pessoa. Surge essa necessidade quando o delito é próprio, ou seja, aquele que somente pode ser praticado por um certo grupo de pessoas em virtude de determinadas condições pessoais. Quando estivermos diante de delitos próprios, o legislador terá de apontar, no tipo penal, o seu sujeito ativo.
Em regra, o Sujeito ativo do crime só pode ser o homem. A pessoa jurídica não comete crime. Quem os pratica são os seus sócios, diretores etc. Mas nunca ela própria. Apesar desse entendimento quase unânime entre os doutrinadores, nossa Constituição Federal fez previsão expressa no § 3o do seu art. 225 dizendo: 
	§ 3o As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas 	físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os 	danos causados." 
O sujeito passivo pode ser considerado formal ou material. Sujeito passivo formal será sempre o Estado, que sofre toda vez que suas leis são desobedecidas. Sujeito passivo material é o titular do bem ou interesse juridicamente tutelado sobre o qual recai a conduta criminosa, que, em alguns casos, poderá ser também o Estado. Vale dizer que pessoas jurídicas podem ser sujeitos passivos de delitos, mas com ressalvas legais. 
Objeto material é a pessoa ou a coisa contra a qual recai a conduta criminosa do agente. No furto, o objeto do delito será a coisa alheia móvel subtraída pelo agente; no homicídio, será o corpo humano etc. Muitas vezes o sujeito passivo se confunde com o próprio objeto material, como no caso do homicídio. Não podemos confundir, contudo, objeto material com bem jurídico.
FUNÇÕES DO TIPO:
Podemos destacar três importantes funções do tipo:
a) função de garantia (ou garantidora); 
b) função fundamentadora;
c) função selecionadora de condutas. 
Exerce o tipo uma função de garantia, uma vez que o agente somente poderá ser penalmente responsabilizado se cometer uma das condutas proibidas ou deixar de praticar aquelas impostas pela lei penal. Isso porque é lícito fazer tudo aquilo que não for proibido pela lei penal. O tipo exerce essa função de garantia, uma vez que temos o direito de, ao analisá-lo, saber o que nos é permitido fazer.
Também é certo afirmar que o Estado, por intermédio do tipo penal, fundamenta suas decisões, fazendo valer o seu ius puniendi. A relação entre essas funções do tipo - garantista e fundamentadora - é como se fosse duas faces de uma mesma moeda. Numa das faces está o tipo garantista, vedando qualquer responsabilização penal que não seja por ele expressamente prevista; na outra, a função fundamentadora por ele exercida, abrindo-se a possibilidade ao Estado de exercitar o seu direito de punir sempre que o seu tipo penal for violado.
Podemos dizer, também, que ao tipo cabe outra, qual seja, a função de selecionar as condutasque deverão ser proibidas ou impostas pela lei penal, sob a ameaça de sanção. Nessa seleção de condutas feita por intermédio do tipo penal, o legislador, em atenção aos princípios do Direito Penal, traz para seu âmbito de proteção somente aqueles bens de maior importância, deixando de lado as condutas consideradas socialmente adequadas ou que não atinjam bens de terceiros.
CLASSIFICAÇÃO DOS TIPOS PENAIS:
TIPO BÁSICO E TIPOS DERIVADOS:
Entende-se por tipo básico ou fundamental a forma mais simples da descrição da conduta proibida ou imposta pela lei penal. A partir dessa forma mais simples, surgem os chamados tipos derivados que, em virtude de determinadas circunstâncias, podem diminuir ou aumentar a reprimenda prevista no tipo básico. No homicídio, por exemplo, temos como sua modalidade mais simples a descrição contida no caput do art. 121 do CP. (“matar alguém”). Logo em seguida, temos suas formas derivadas. No § 2º podemos concluir que o legislador, em virtude de algumas situações por ele previstas, aumentou a pena cominada no caput do artigo, qualificando, dessa forma, o delito. 
TIPOS FECHADOS E TIPOS ABERTOS:
Tipos fechados são aqueles que possuem a descrição completa da conduta proibida pela lei penal. O legislador, de forma clara e precisa, descreveu a conduta a que visou proibir. Contudo, em determinadas situações, o legislador, por impossibilidade de prever e descrever todas as condutas possíveis de acontecer em sociedade, criou os chamados tipos abertos, nos quais não há a descrição completa e precisa do modelo de conduta proibida ou imposta. Nesses casos, faz-se necessária sua complementação pelo intérprete. É o que ocorre, v.g., com os delitos culposos. Os tipos de imprudência, por exemplo, devido à variabilidade das condições ou circunstâncias de sua realização, são tipos abertos que devem ser preenchidos ou completados por uma valoração judicial e, por isso, não apresentam o mesmo rigor de definição legal dos tipos dolosos.
TIPOS CONGRUENTES E TIPOS INCONGRUENTES:
Se a parte subjetiva da ação se corresponde com a parte objetiva, concorre um tipo congruente. É o que normalmente ocorre com os tipos dolosos, em que a vontade alcança a realização objetiva do tipo. Quando a parte subjetiva da ação não se corresponde com a objetiva nos encontramos na presença de um tipo incongruente.
TIPO SIMPLES E TIPO MISTO:
Entende-se por tipo simples aquele em que no tipo penal prevê tão somente um único comportamento, vale dizer, um único núcleo. Ex: Art. 121, “matar alguém”.
Por outro lado, existem outros tipos penais que preveem mais de um comportamento, ou seja, mais de um núcleo em seu preceito primário, razão pela qual, podemos denominá-los de tipos mistos. 
TIPO DOLOSO
DISPOSITIVO LEGAL
Art. 18. Diz-se o crime: I - doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo.
CONCEITO DE DOLO
Dolo é a vontade livre e consciente de realizar a conduta prevista no tipo penal incriminador.
Conforme preleciona Welzel, toda ação consciente é conduzida por 2 momentos:
- o momento intelectual: o sujeito toma a decisão da ação pela consciência do que se quer
- o momento volitivo: o sujeito toma a decisão de querer realizá-la.
Ambos os momentos, conjuntamente, como fatores configuradores de uma ação típica real, formam o dolo. Ou, ainda, na lição de Zaffaroni, "dolo é uma vontade determinada que, como qualquer vontade, pressupõe um conhecimento determinado". Assim, podemos perceber que o dolo é formado por um elemento intelectual e um elemento volitivo. O agente deve ter consciência, isto é, deve saber exatamente aquilo que faz, para que se lhe possa atribuir o resultado lesivo a título de dolo.
O DOLO NO CÓDIGO PENAL
Dispõe o parágrafo único do art. 18 do Código Penal: “Salvo os casos expressos em lei, ninguém pode ser punido por fato previsto como crime, senão quando o pratica dolosamente”. A regra contida nesse parágrafo é a de que todo crime é doloso, somente havendo a possibilidade de punição pela prática de conduta culposa se a lei assim o previr expressamente. Em síntese, o dolo é a regra; a culpa, a exceção. 
TEORIAS DO DOLO 
a) Teoria da vontade: Segundo a teoria da vontade, dolo seria tão somente a vontade livre e consciente de querer praticar a infração penal, isto é, de querer levar a efeito a conduta prevista no tipo penal incriminador. 
b) Teoria do assentimento: A teoria do assentimento diz que atua com dolo aquele que, antevendo como possível o resultado lesivo com a prática de sua conduta, mesmo não o querendo de forma direta, não se importa com a sua ocorrência, assumindo o risco de vir a produzi-lo. Aqui o agente não quer o resultado diretamente, mas o entende como possível e o aceita. 
Pela redação do art. 18, I, do Código Penal, podemos concluir que o Código Penal adotou as teorias da vontade e do assentimento. Para a nossa lei penal, portanto, age dolosamente aquele que, diretamente, quer a produção do resultado, bem como aquele que, mesmo não o desejando de forma direta, assume o risco de produzi-lo.
ESPÉCIES DE DOLO
Costuma-se distinguir o dolo em direto e indireto. 
a) Dolo Direto: Diz-se direto o dolo quando o agente quer, efetivamente, cometer a conduta descrita no tipo. O agente quer praticar a conduta descrita no tipo. É o dolo por excelência. Ex: João, almejando causar a morte de Paulo, seu desafeto, saca seu revólver e o dispara contra este último, vindo a matá-lo. 
O dolo direto pode, ainda, ser classificado em dolo direto de primeiro grau e dolo direto de segundo grau. O dolo direto em relação ao fim proposto e aos meios escolhidos é classificado como de primeiro grau, e em relação aos efeitos colaterais, representados como necessários, é classificado como de segundo grau. 
Exemplos: Dolo Direto de Primeiro Grau: Suponhamos que A queira matar B. Para tanto, adquire uma pistola, meio tido como necessário e suficiente para o sucesso do plano criminoso. Quando B passa pelo local onde A havia se colocado de emboscada, este efetua o disparo, que causa a morte da vítima.
	Dolo Direto de Segundo Grau: Imagine-se que o agente, terrorista internacional, queira causar a morte de uma importante autoridade pública. Sabendo que a vítima faria uma viagem, coloca um explosivo no avião no qual esta seria transportada. Nesse caso, não somente ocorre a morte da autoridade pública, como também de todas as outras pessoas. O dolo referente à autoridade pública poderá ser considerado direto de primeiro grau e às demais pessoas que estavam a bordo, de segundo grau.
b) Dolo Indireto: Diz-se indireto o dolo que ocorre quando o agente atua sem vontade efetiva de causar resultado danoso, mas assume o risco de produzi-lo. O dolo indireto pode, ainda, ser dividido em alternativo e eventual. 
Dolo Indireto Alternativo: apresenta-se quando a vontade do agente se encontra direcionada, de maneira alternativa, seja em relação ao resultado ou em relação à pessoa contra qual o crime é cometido. Ex: Um agente, a certa distância, efetua disparos com sua arma de fogo contra duas pessoas, querendo matar uma ou outra.
Dolo Indireto Eventual: Fala-se em dolo eventual quando o agente, embora não querendo diretamente praticar a infração penal, não se abstém de agir e, com isso, assume o risco de produzir o resultado que por ele já havia sido previsto e aceito. O sujeito representa o resultado como de produção provável e, embora não queira produzi-lo, continua agindo e admitindo a sua eventual produção, agindo de forma indiferente quanto ao resultado. [FODA-SE]
AUSÊNCIA DE DOLO EM VIRTUDE DE ERRO DE TIPO
O dolo é a vontade livre e consciente de praticar a infração penal. É, portanto, a conjugação da vontade com a consciência do agente. O erro é a falsa percepção da realidade. Aquele que incorre em erro imagina uma situação diversa daquela realmente existente. O erro de tipo, na precisa lição de Zaffaroni, "é o fenômeno que determina a ausência de dolo quando, havendo uma tipicidade objetiva, falta ou é falso oconhecimento dos elementos requeridos pelo tipo objetivo". No exemplo do caçador que atira em seu companheiro supondo-o um animal, não podemos, mesmo sendo inescusável o erro, vislumbrar o dolo em sua conduta. Isso porque, pelo exemplo fornecido, a vontade do agente não era dirigida a matar alguém, e sim a um animal que ele supunha estar naquele local. Dessa forma, a consequência natural do erro de tipo é a de, sempre, afastar o dolo do agente, permitindo, contudo, a sua punição pela prática de um crime culposo, se houver previsão legal, conforme determina o caput do art. 20 do Código Penal, assim redigido: 
	O erro sobre elemento constitutivo do tipo legal de crime exclui o dolo, mas permite a punição por 	crime culposo, se previsto em lei. 
Concluindo, sempre que o agente incorrer em erro de tipo seu dolo será afastado, pois, em tais casos, não atua com vontade e consciência de praticar a infração penal. 
TIPO CULPOSO
DISPOSITIVO LEGAL 
Nos termos do inciso II do art. 18 do Código Penal, 
Diz-se o crime: II - culposo, quando o agente deu causa ao resultado por imprudência, negligência ou imperícia. Parágrafo único. Salvo os casos expressos em lei, ninguém pode ser punido por fato previsto como crime, senão quando o pratica dolosamente. 
CONCEITO E ELEMENTOS DO DELITO CULPOSO
A conduta humana que interessa ao Direito Penal só pode ocorrer de duas formas: ou o agente atua dolosamente, querendo ou assumindo o risco de produzir o resultado, ou, culposamente, dá causa a esse mesmo resultado, agindo com imprudência, imperícia ou negligência. A ausência de conduta dolosa ou culposa faz com que o fato cometido deixe de ser típico, afastando-se, por conseguinte, a própria infração penal cuja prática se quer imputar ao agente. 
Na lição de Mirabete, o crime culposo é "a conduta humana voluntária (ação ou omissão) que produz resultado antijurídico não querido, mas previsível, e excepcionalmente previsto, que podia, com a devida atenção, ser evitado".
Nota-se, portanto, que para a caracterização do delito culposo é preciso a conjugação de vários elementos, a saber: 
a) conduta humana voluntária, comissiva ou omissiva; 
b) inobservância de um dever objetivo de cuidado (negligência, imprudência ou imperícia); 
c) o resultado lesivo não querido, tampouco assumido, pelo agente; 
d) nexo de causalidade entre a conduta do agente que deixa de observar o seu dever de cuidado e o resultado lesivo dela advindo;
f) previsibilidade; 
g) tipicidade. 
A conduta, nos delitos de natureza culposa, é o ato humano voluntário dirigido, em geral, à realização de um fim lícito, mas que, por imprudência, imperícia ou negligência, isto é, por não ter o agente observado o seu dever de cuidado, dá causa a um resultado não querido, nem mesmo assumido, tipificado previamente na lei penal. 
Como segundo elemento necessário à caracterização do crime culposo temos a chamada inobservância de um dever objetivo de cuidado. A vida em sociedade impõe-nos determinadas regras de conduta que devem ser obedecidas por todos, sob pena de gerar o caos social. Esse dever de cuidado objetivo, dirigido a todos nós, faz com que atentemos para determinadas regras de comportamento, mesmo que não escritas ou expressas. Essa falta de observância ao dever de cuidado pode ocorrer em virtude de imprudência, negligência ou imperícia do agente. 
Imprudente seria a conduta positiva praticada pelo agente que, por não observar o seu dever de cuidado, causasse o resultado lesivo que lhe era previsível. Consiste na prática de um ato perigoso sem os cuidados que o caso requer. cia na prática de um ato perigoso sem os cuidados que o caso requer". Por exemplo, imprudente é o motorista que imprime velocidade excessiva em seu veículo.
A negligência, é um deixar de fazer aquilo que a diligência normal impunha, uma omissão. É o caso, por exemplo, do motorista que não conserta os freios já gastos de seu automóvel.
Fala-se em imperícia quando ocorre uma inaptidão técnica, momentânea ou não, do agente para o exercício de arte, profissão ou ofício. Diz-se que a imperícia está ligada, basicamente, à atividade profissional do agente.
CULPA CONSCIENTE E CULPA INCONSCIENTE 
A previsibilidade é um dos elementos que integram o crime culposo. Quando o agente deixa de prever o resultado que lhe era previsível, fala-se em culpa inconsciente ou culpa comum. Culpa consciente é aquela em que o agente, embora prevendo o resultado, não deixa de praticar a conduta acreditando, sinceramente, que este resultado não venha a ocorrer. O resultado, embora previsto, não é assumido ou aceito pelo agente, que confia na sua não ocorrência. 
DIFERENÇA ENTRE CULPA CONSCIENTE E DOLO EVENTUAL 
Na culpa consciente, o agente, embora prevendo o resultado, acredita sinceramente na sua não ocorrência; o resultado previsto não é querido ou mesmo assumido pelo agente. Já no dolo eventual, embora o agente não queira diretamente o resultado, assume o risco de vir a produzi-lo. Na culpa consciente, o agente, sinceramente, acredita que pode evitar o resultado; no dolo eventual, o agente não quer diretamente produzir o resultado, mas, se este vier a acontecer, pouco importa. 
Culpa Consciente = IH… FERROU! / Dolo Eventual = FODA-SE!
CONSUMAÇÃO E TENTATIVA
Determinar o momento consumativo do crime é operação que tem extrema relevância, pois se reflete no termo inicial da prescrição e na competência territorial. Consuma-se o crime quando o tipo está inteiramente realizado, ou seja, quando o fato concreto se subsume no tipo abstrato da lei penal. A tentativa é a realização incompleta do tipo penal, do modelo descrito na lei. Na tentativa há prática de ato de execução, mas o sujeito não chega à consumação por circunstâncias independentes de sua vontade. O art. 14 do Código Penal é o dispositivo legal que diz respeito à tentativa e consumação, verbis:
Art. 14 - Diz-se o crime:
I - consumado, quando nele se reúnem todos os elementos de sua definição legal; 
II - tentado, quando, iniciada a execução, não se consuma por circunstâncias alheias à vontade do agente. 
Parágrafo único. Salvo disposição em contrário, pune -se a tentativa com a pena correspondente ao crime consumado, diminuída de um a dois terços.
ITER CRIMINIS
Como em todo ato humano voluntário, no crime a ideia antecede a ação. Há um caminho que o crime percorre, desde o momento em que germina, como ideia, no espírito do agente, até aquele em que se consuma no ato final. A esse conjunto de etapas que se sucedem, cronologicamente, no desenvolvimento do delito, desde o momento da concepção até aquele em que ocorre a consumação, chama-se iter criminis.
O iter criminis compõe-se de duas fases: uma fase interna (cogitação) e de uma fase externa (atos preparatórios, executórios e consumação). 
COGITAÇÃO 
O primeiro momento é a chamada cogitatio, é o início do movimento delituoso na mente do ser humano, com a elaboração mental da resolução criminosa que começa a ganhar forma. Essa fase é totalmente irrelevante para o Direito Penal.
PREPARAÇÃO 
O passo seguinte é a preparação da ação delituosa que constitui os chamados atos preparatórios, os quais são externos ao agente, que passa da cogitação à ação objetiva. Os atos preparatórios verificam​-se quando a ideia extravasa a esfera mental e se materializa mediante condutas voltadas ao cometimento do crime. Nessa etapa, como regra, o Direito Penal não atua. Atos considerados meramente preparatórios não são punidos criminalmente.
Assim, o sujeito que, pretendendo matar seu inimigo (cogitação) e	possuindo porte de arma de fogo, apodera​-se do instrumento bélico (preparação) e, em seguida, desloca​-se até as proximidades da residência do ofendido, sendo surpreendido pela polícia antes de sacar a arma ou mesmo	de encontrar​- se com a vítima visada, não comete crime algum.
É de ver, contudo, que eventualmente o legislador transforma em crimes autônomos condutas que configuram meros atos preparatórios de outros delitos. Referida técnica denomina​-seantecipação da tutela	 penal. Justifica​-se sempre que os atos representarem, em	si mesmos, um perigo à ordem jurídica. A punibilidade de atos preparatórios não se dá senão mediante sua expressa tipificação, jamais pela extensão	do caráter punível do delito cogitado. Essa regra foi acolhida em nossa legislação penal, que, ao tratar do delito tentado (art. 14, II), demanda, como requisito indispensável, a presença do início da execução.
EXECUÇÃO
A terceira etapa do Iter Criminis se atinge com o primeiro ato de execução. Trata​-se de problema de suma importância estabelecer a exata fronteira entre os atos preparatórios e os executórios, pois, enquanto os atos preparatórios são, como regra, penalmente irrelevantes, os exe​cutórios são penalmente típicos, tanto que, se o sujeito os iniciar, será punido ainda que haja a interrupção involuntária de seu agir (dar​-se​-á, nesse caso, a tentativa - art. 14, II, do CP). A doutrina andou insistentemente em busca de regras gerais que distinguissem atos preparatórios e executórios com alguma precisão, mas não há consenso. Em regra, o critério válido de delimitação entre atos preparatórios e atos executórios (início da execução) será aquele que permita identificar a tentativa como “início da execução da conduta típica”. É certo que só será possível falar em execução se estivermos diante de um ato idôneo e inequívoco tendente à consumação do crime.
Iniciada a fase executória, o movimento criminoso pode: a) interromper-se no curso da execução; b) parar na execução completa, faltando somente a consumação; c) chegar à consumação. Dependendo do momento em que a atividade criminosa cessar, ocorrerá uma das três figuras, doutrinariamente denominadas tentativa imperfeita, tentativa perfeita e crime consumado.
Tentativa imperfeita: Quando o agente não consegue praticar todos os atos executórios necessários à consumação, por interferência externa, diz-se que há tentativa imperfeita ou tentativa propriamente dita.
Tentativa perfeita: Por outro lado, quando o agente realiza todo o necessário para obter o resultado desejado, mas mesmo assim não o atinge, diz-se que há tentativa perfeita ou crime falho. A fase executória realiza-se integralmente, mas o resultado visado não ocorre, por circunstâncias alheias à vontade do agente. A execução se conclui de acordo com o que o agente havia planejado, mas o crime não se consuma.
CONSUMAÇÃO
Há consumação, de acordo com o Código Penal, quando se fazem presentes todos os elementos da definição legal do delito (art. 14, I). Em outras palavras: total subsunção da conduta do sujeito com o modelo legal abstrato. Pode​-se dizer, ainda, que essa fase final do iter criminis é atingida com a produção da lesão ao bem jurídico protegido. 
TENTATIVA
Para que se possa falar em tentativa, é preciso que: 
a) a conduta seja dolosa, isto é, que exista uma vontade livre e consciente de querer praticar determinada infração penal (O ITER CRIMINIS só se refere aos crimes Dolosos, não existindo a conduta do agente for de natureza culposa);
b) o agente ingresse, obrigatoriamente, na fase dos chamados atos de execução; 
c) não consiga chegar à consumação do crime, por circunstâncias alheias à sua vontade.
Podemos falar que o crime admite tentativa toda vez que pudermos fracionar o iter criminis. Assim, se o agente, percorrendo o iter criminis, der início à execução de um crime que não se consuma por circunstâncias alheias à sua vontade, ocorre a tentativa. Alguns delitos, contudo, não admitem a tentativa:
■ crimes culposos – O crime culposo dá​-se quando o agente produz o resultado de maneira acidental, o que o torna totalmente incompatível com a forma tentada, em que o sujeito dá início à execução de um crime.
■ crimes preterdolosos – Pelas mesmas razões em que não há tentativa nos crimes culposos, também não pode haver em delitos preterdolosos. Nestes, o agente realiza um comportamento doloso, mas o crime se consuma com a produção de um resultado agravador, que decorre de imprudência, negligência ou imperícia.
■ crimes unissubsistentes – São aqueles cuja conduta típica não admite qualquer fracionamento; vale dizer, o comportamento definido no verbo núcleo do tipo penal constitui​-se de uma ação ou omissão indivisível. Nesses casos, ou o agente praticou o fato (e o crime consumou​-se) ou nada fez (e não há qualquer fato penalmente relevante).
■ contravenções penais – A tentativa de contravenção penal, por força de lei, não é punível. É o que estabelece expressamente o art. 4º da LCP.
■ crimes que a lei pune somente quando ocorre o resultado – Há infrações penais	cuja existência é condicionada à existência de um resultado. Sem	este, o fato	é atípico.
■ crimes de atentado ou de empreendimento – Os crimes de atentado ou de empreendimento são aqueles em que a lei equipara	a tentativa e a consumação. Vale dizer, tentar praticar a conduta descrita no tipo já representa realizar a norma por completo, isto é, o crime já estará consumado.
Bibliografia consultada:
Tratado de Direito Penal – Parte Geral, vol. 1 (Cezar Roberto Bittencourt)
Direito Penal Esquematizado – Parte Geral (André Estefam e Victor Eduardo Rios Gonçalves)
Curso de Direito Penal – Parte Geral, vol. 1 (Rogério Grecco)
Manual de direito penal brasileiro – Parte geral (Eugenio Raul Zaffaroni)
Código Penal Comentado (Rogério Grecco)

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