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APOSTILA Estruturas Cristalinas - Difração de Raios x Elaboração: Francisco Alves Vicente Ana Maria Maliska Patrícia Bodanese Prates Florianópolis, Setembro de 2017 Universidade Federal de Santa Catarina Departamento de Engenharia Mecânica Curso de Engenharia de Materiais 1 Raios x e Difração 1.1 Os Raios x Os raios x são uma forma de radiação eletromagnética de alta energia com comprimento de onda entre 0,01 e 15 nm, sendo mais energéticos que os raios ultravioleta e menos energéticos que os raios gama. Os raios x propagam-se em linha reta e são invisíveis ao olho humano. Devido ao baixo comprimento de onda, a radiação atravessa facilmente o corpo humano, madeira, metais e outros materiais opacos. Figura 1.1: Espectro eletromagnético. FONTE: Adaptado de FURIAN, [s.d.]. A energia Ε dos fótons é proporcional à frequência ν da onda, como descrito na Equação 1,onde a constante de proporcionalidade é a constante de Planck h (4,136 x 10-15 eV·s): 𝛦 = ℎ𝜈 A frequência de uma onda eletromagnética é relacionada ao seu comprimento de onda λ através da velocidade da luz c (2,998 x 108 m/s), portanto podemos descrever o comprimento de onda do fóton de raio x através da Equação 2: 𝜆 = ℎ𝑐 𝛦 O comprimento de onda é, portanto, inversamente proporcional à energia da onda. Na difração de raios x, o comprimento de onda da radiação utilizada varia entre 0,05 e 0,25 nm, sendo que o espaço interatômico em cristais geralmente é em torno de 0,2 nm (2 Å). 1.2 A Produção dos Raios x No Difratômetro, os raios x são produzidos em um tubo que consiste de um cátodo e de um ânodo, fechados em uma câmara de vácuo, como mostrado na Figura 1.2. Elétrons são produzidos ao aquecer um filamento de tungstênio (cátodo), e estes são acelerados em direção a uma barra de metal (ânodo). Os elétrons, a altas velocidades, colidem com o ânodo, e a energia perdida pelos elétrons nessa colisão gera os raios x. Apenas uma pequena porcentagem do feixe de elétrons é convertida em raios x, sendo a maioria da energia dissipada por calor no ânodo metálico, que é refrigerado com água. Figura 1.2: Esquema do tubo de produção dos raios x. FONTE: Adaptado de SCHMAHL, 1984. As diferentes colisões dos elétrons com os átomos do metal geram um espectro contínuo de raios x com uma variedade de comprimentos de onda (chamado de espectro branco), como mostrado na Figura 1.3. Para a técnica de difração de raios x não se utiliza o espectro contínuo, mas sim o comprimento específico do metal do ânodo. Figura 1.3: Espectro contínuo de raios x. FONTE: Adaptado de FURIAN, [s.d.]. Se um elétron incidente tem energia o suficiente para retirar um elétron de uma camada interna (a), o átomo fica em um estado excitado, com um buraco em suas camadas eletrônicas (b). Quando esse buraco é preenchido por um elétron de outra camada (c), um raio x com energia igual à diferença de energia das camadas é emitido. Esse processo é ilustrado na Figura 1.4. A energia desse fóton é característica do metal atingido, e esses fótons são emitidos com mais frequência que os fótons emitidos pelos outros da banda. Desse modo, são observados picos no espectro nessas energias, que são chamados de linhas características, como observado na Figura 1.3 (Kβ e Kα). Essas radiações são as radiações utilizadas na técnica de difração de raios x. Figura 1.4: Processo de ionização do átomo e emissão do raio x característico. FONTE: Adaptado de SURYANARAYANA; NORTON, 1998. Transições entre diferentes níveis energéticos geram diferentes linhas características no espectro, sendo a terminologia das radiações relacionada com o modelo atômico de Bohr. O nível mais interno dos elétrons é chamado de K, o segundo de L, o próximo de M, etc. Se um buraco na camada K é preenchido com um elétron da camada L, é gerado um raio x Kα. Caso esse buraco seja preenchido por um elétron da camada M, um raio x Kβ é gerado. Se um buraco na camada L é preenchido com um elétron da camada M, gera-se radiação Lα, e assim por diante, como ilustrado na Figura 1.5. As diferentes transições eletrônicas possuem probabilidades diferentes de acontecer. A transição Kα, por exemplo, possui probabilidade 10 vezes maior de acontecer que a transição Kβ. Figura 1.5: Transições eletrônicas em um átomo. Adaptado de A practical approach. Para que o estudo da difração seja possível, é preciso que o raio x utilizado na análise seja monocromático. Para tal, utiliza-se um filtro metálico, que deve ser capaz de absorver as radiações não desejadas. O material do filtro varia com o metal do tubo, sendo utilizados elementos específicos para que reste apenas a radiação específica desejada. A radiação Kα é a mais utilizada na técnica; é mais energética que a Lα, sendo menos absorvida pela amostra, e ocorre com mais frequência que a Kβ. Para filtrar os outros comprimentos de onda gerados pelo Cobre, por exemplo, utiliza-se um filtro de Níquel, pois suas propriedades de absorção eliminam a radiação Kβ, mas permitem a passagem da Kα. Um tubo de Mo, por outro lado, utiliza um filtro de Zr, visto que os raios x gerados são mais energéticos, necessitando um metal capaz de absorver essa radiação (KαCu = 0,1542 nm). 1.3 Difração A difração ocorre quando uma onda encontra uma série de obstáculos regularmente espaçados que (1) são capazes de espalhar a onda, e (2) tem espaçamentos de magnitude comparável ao comprimento de onda da mesma (CALLISTER; RETHWISCH, 2010), como representado na Figura 1.6. Figura 1.6: Interação das ondas ao encontrar um obstáculo. (a) Se não há espalhamento, as ondas não interagem entre si. (b) se a fenda é da magnetude do comprimento de onda, as ondas espalham. Adaptado de: CALLISTER; RETHWISCH, 2010. Um fóton de raio x possui campo elétrico e magnético e, ao incidir em um átomo, interage com o campo elétrico desse. Caso haja uma interação inelástica, o fóton emitido possui energia menor do que o incidente (Efeito Compton), e não são observados picos de difração. Caso ocorra o espalhamento elástico, o fóton emitido possui a mesma quantidade de energia que o incidente, o que torna possível a obtenção e picos de difração caso ocorra interação construtiva entre as ondas difratadas. A interferência consiste na superposição de ondas no espaço. Caso as ondas estejam em fase, suas intensidades se somam, como demonstrado na Figura 1.7a). Essa interação é necessária para que sejam observados os picos de difração. No caso oposto, com as ondas fora de fase, a interferência faz com que a intensidade resultante seja diminuída, podendo até ser nula, impedindo a obtenção de picos de difração. Desse modo, a difração é a combinação de dois fenômenos: o espalhamento coerente (elástico) e a interferência construtiva. Figura 1.7: Interferências entre ondas. a) construtiva; b) destrutiva. Adaptado de: CALLISTER; RETHWISCH, 2010. 2 Difração de Raios x em Cristais 2.1 Lei de Bragg Como mostrado anteriormente, os raios x são uma forma de radiação de alta energia e pequenos comprimentos de onda, com λ na ordem dos espaçamentos atômicos em sólidos. Um feixe de raios x interage com os átomos do material ao incidir sobre uma amostra, e é possível analisar as condições de difração de raios x em um arranjo periódico de átomos através da Lei de Bragg. Suponha que dois planos atômicos paralelos são separados por uma distância interatômica d, como mostrado na Figura. Assume-se que um feixe paralelo, monocromático e coerente (em fase) incide nesses planos a um ângulo ϴ e é então difratado.Ao observar os dois primeiros raios difratados, percebe-se que o segundo atravessa uma distância 2a a mais que o primeiro raio quando dentro do material: Para que os raios difratados continuem em fase, é necessário que essa distância seja igual a um número inteiro n de comprimentos de onda λ (2a = nλ). Caso a distância 2a não seja igual a um número inteiro de comprimentos de onda, ocorrerá interferência destrutiva. Através da trigonometria é possível determinar essa distância a em termos de espaçamento d, relacionando assim as distâncias interplanares, o comprimento de onda dos raios x e seus ângulos de incidência através da Lei de Bragg: 2𝑎 = 𝑛λ 𝑎 = 𝑑 𝑠𝑒𝑛ϴ 𝒏𝝀 = 𝟐𝒅 𝒔𝒆𝒏𝜭 Desse modo, com a difração de raios x é possível medir a distância entre os diversos planos cristalinos de um material. 3 A Técnica de DRX Através da análise de difração de raios x é possível determinar a distância entre os diversos planos cristalinos de uma amostra e, desse modo, determinar com precisão a estrutura cristalina do material analisado. A análise de DRX é comumente utilizada para caracterizar as fases de um material: cada material possui um conjunto específico de distâncias interplanares, possuindo sua própria estrutura cristalina, como uma “impressão digital”. Desse modo, é possível determinar quais fases estão presentes em uma amostra, sendo diferente de uma análise química, que indicaria apenas quais elementos estão presentes. Além disso, através do Difratômetro podemos obter informações como cristalinidade, tamanho de cristalito, análise quantitativa de fases, além de indícios de alteração na estrutura do material, como tensões residuais. Os diferentes usos da técnica serão aprofundados posteriormente na apostila.
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