Logo Passei Direto
Buscar
Material
páginas com resultados encontrados.
páginas com resultados encontrados.
left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

Prévia do material em texto

RESUMO DE FISIOLOGIA 
ENDÓCRINA E FISIOPATOLOGIA 
INTEGRADA 
- Para Acadêmicos de Medicina - 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Projeto de Monitoria 
Autor: Matheus Vieira Gonçalves – 109.16.058 
Orientadora: Karen de Jesus Oliveira 
Baseado nos livros: “Fisiologia Endócrina” da série Lange, “Fisiologia” de Robert Berne, 
“Tratado de Fisiologia Médica” de Arthur Guyton e “Fisiopatologia Clínica” de Fernando 
Bevilacqua 
SUMÁRIO 
HIPOTÁLAMO E NEURO-HIPÓFISE ............................ 3 
ADENO-HIPÓFISE ...................................................... 6 
TIREÓIDE ................................................................. 11 
PARATIREÓIDES E REGULAÇÃO DO CÁLCIO E DO 
FOSFATO ................................................................. 16 
GLÂNDULA SUPRA-RENAL ...................................... 21 
PÂNCREAS ENDÓCRINO ......................................... 28 
SISTEMA REPRODUTOR MASCULINO ..................... 32 
SISTEMA REPRODUTOR FEMININO ........................ 35 
 
 
 
 
 
 
 
 
*Todas as imagens deste resumo foram retiradas da Segunda Edição do livro “Fisiologia 
Endócrina, da série LANGE, com exceção da última imagem, retirada do” Tratado de Fisiologia 
Médica”, de Arthur Guyton.
 
Matheus Vieira Gonçalves 
3 Resumo de Fisiologia Endócrina e Fisiopatologia Integrada 
HIPOTÁLAMO E NEURO-HIPÓFISE 
Hipotálamo 
O hipotálamo é a região do cérebro cuja função é coordenar as respostas fisiológicas 
de diferentes órgãos que, em seu conjunto, mantêm a homeostasia. Integrando sinais do 
ambiente, viscerais e de outras regiões do cérebro dispara suas ações através de dois 
mecanismos: liberação de neuropeptídeos hipotalâmicos sintetizados em seus próprios 
neurônios e transportados para a neuro-hipófise (núcleos supra-óticos e paraventriculares) 
pelo trato hipotalâmico-hipofisário; e controle neuroendócrino da adeno-hipófise através da 
liberação dos peptídeos que medeiam a liberação dos hormônios adeno-hipofisários, os 
fatores de liberação (release hormones – RH). 
Alguns dos neurônios que compõem os núcleos do hipotálamo são de natureza neuro-
hormonal, isto é, sintetizam neuropeptídeos que atuam como hormônios, liberando esses 
neuropeptídeos das terminações axônicas em resposta à despolarização neuronal. Existem, 
portanto, dois tipos celulares importantes nessa função endócrina hipotalâmica: 
 
Entre os fatores ambientais, a luz desempenha importante papel na geração do ritmo 
circadiano da secreção hormonal. Esse ritmo endógeno é gerado através da interação entre a 
retina, o núcleo supraquiasmático do hipotálamo e a glândula pineal, por meio da liberação de 
melatonina, sintetizada e secretada pela pineal à noite. Outros sinais percebidos pelo 
hipotálamo incluem os aferentes viscerais que fornecem informações ao SNC sobre órgãos 
periféricos, como o intestino, coração, fígado e estômago. Podemos considerar o hipotálamo 
como um centro de integração de informações continuamente processadas pelo corpo. Em 
suma, a liberação hormonal do hipotálamo é regulada por fatores ambientais, neurais e 
hormonais. Os hormônios podem fornecer sinais ao hipotálamo para inibir ou estimular a 
liberação dos hormônios hipofisiotrópicos. Essa alça de controle hormonal e de regulação da 
sua própria síntese é de suma importância na manutenção da homeostasia e na prevenção de 
doença. 
Priscilla
Realce
Priscilla
Realce
Priscilla
Realce
Priscilla
Realce
Priscilla
Realce
Priscilla
Realce
Priscilla
Realce
Priscilla
Realce
Priscilla
Realce
Priscilla
Realce
Priscilla
Realce
Priscilla
Realce
Priscilla
Realce
Priscilla
Realce
Priscilla
Realce
Priscilla
Realce
 
Matheus Vieira Gonçalves 
4 Resumo de Fisiologia Endócrina e Fisiopatologia Integrada 
Ocitocina 
 A liberação da ocitocina é estimulada durante a lactação e o parto. A mama em fase 
de lactação e o útero durante a gravidez constituem os dois principais órgãos-alvo dos efeitos 
fisiológicos da ocitocina, estimulando a ejeção do leite através da contração das células 
mioepiteliais que revestem os alvéolos e ductos da glândula mamária, e produzindo 
contrações rítmicas para ajudar a induzir o trabalho de parto e promover a regressão do útero 
pós-parto. Por este último motivo, pode ser administrada durante o trabalho de parto. 
Durante o parto, ocorre uma supra-regulação dos receptores de ocitocina no músculo uterino, 
aumentando a densidade dos mesmos (podem chegar a 200 vezes mais) e, 
conseqüentemente, a sensibilidade do tecido ao hormônio. Assim, os níveis de ocitocina, que 
normalmente não são efetivos, são capazes de induzir o trabalho de parto. Outras alterações 
do músculo uterino para o parto incluem aumento das junções comunicantes entre as células 
musculares lisas, aumentando a propagação do potencial de ação por todo o tecido, e 
aumento da síntese prostaglandina, sempre visando o aumento da atividade contrátil do 
miométrio. Dentre os efeitos secundários da ocitocina, temos: a potencialização da liberação 
de ACTH pelo CRH, a interação com o receptor de ADH (produzindo vasoconstricção), a 
estimulação da liberação de prolactina bem como uma influência sobre o comportamento 
materno e amnésia. Uma observação pertinente é que a ocitocina e o ADH ligam-se ao 
receptor de ocitocina com afinidade relativamente igual. 
A estimulação mecânica do colo do útero pelo feto no final da gestação constitui o 
principal estímulo à liberação de ocitocina. Desse modo, a atividade contrátil do útero atua 
através de mecanismos de retroalimentação positiva durante o parto para estimular os 
neurônios de ocitocina, aumentando ainda mais sua secreção. Também, a liberação de 
ocitocina é desencadeada pela estimulação de receptores táteis nos mamilos da mama em 
fase de lactação durante a sucção. Além de ser liberada na hipófise posterior, também é 
secretada no hipotálamo, nos núcleos supra-óticos e paraventriculares, possibilitando o 
controle da atividade dos neurônios de ocitocina de modo autócrino, através de um 
mecanismo de retroalimentação positiva, aumentando sua liberação neuroipofisária. 
Vasopressina 
A arginina-vasopressina, ou hormônio anti-diurético (ADH, sigla em inglês), tem como 
efeitos fisiológicos principais o aumento da permeabilidade à água dos túbulos contorcidos 
distais e ductos coletores medulares do rim, diminuindo o volume de urina concentrada 
produzida; e o aumento da resistência vascular. 
O túbulo proximal responde pela reabsorção de cerca de 90% da água filtrada, 
enquanto a reabsorção dos outros 10% nos ductos coletores distais é rigorosamente 
controlada pelo ADH. Existem 4 tipos de aquaporinas no rim: a AQP1 está presente nas 
membranas apical e basolateral das células epiteliais dos túbulos proximais e ramo 
descendente da alça de Henle; a AQP2 é exclusiva dos ductos coletores, sendo a única AQP 
regulada diretamente pelo ADH (via receptor V2 – inserção na membrana luminal); e as AQP3 
e AQP4 estão expressas nas membranas basolaterais das células epiteliais dos ductos 
coletores, as quais aumentam sua atividade perante a inserção de AQP2 na membrana luminal 
sob estímulo do ADH. Quantificando a ação do ADH, um indivíduo produz, em média, 180 litros 
Priscilla
Realce
Priscilla
Realce
Priscilla
Realce
Priscilla
Realce
Priscilla
Realce
Priscilla
Realce
Priscilla
Realce
Priscilla
Realce
Priscilla
Realce
Priscilla
Realce
Priscilla
Realce
Priscilla
Realce
Priscilla
Realce
Priscilla
Realce
Priscilla
Realce
Priscilla
Realce
Priscilla
Realce
Priscilla
Realce
Priscilla
Realce
 
Matheus Vieira Gonçalves 
5 Resumode Fisiologia Endócrina e Fisiopatologia Integrada 
de filtrado glomerular por dia. Assim, sem a contribuição de 10% de reabsorção do ADH, a 
produção diária de urina estaria próxima a 18 litros, valor dez vezes maior que a quantidade 
formada em condições normais (1,5 L/dia-2 L/dia). 
O ADH também se liga ao receptor V1, encontrado no músculo liso vascular, 
produzindo a contração e aumento da resistência vascular periférica. Tal efeito é importante 
durante períodos de falta de responsividade a outros vasoconstritores, como na sepse e no 
choque hipovolêmico. 
O estímulo mais importante à liberação de ADH consiste na osmolalidade plasmática 
efetiva, detectada por neurônios osmorreceptores no hipotálamo que notam alterações na 
pressão oncótica. Quando estas ficam menos estiradas, como no caso da desidratação, 
disparam um sinal para os neurônios magnocelulares, que resulta na liberação do ADH, mesmo 
antes da sensação de sede. Também, a secreção de ADH é estimulada por uma redução da PA 
superior a 10%, detectada nos átrios cardíacos, na aorta e no seio carotídeo, que, neste caso, 
diminuem sua distensão e conseqüentemente sua taxa de disparo, o que provoca a diminuição 
da inibição tônica da liberação do ADH, e o aumento da liberação desse hormônio. A queda da 
PA é sentida também em outro setor do corpo, a mácula densa no rim, na qual ocorre maior 
liberação de renina, e, posteriormente, em uma cascata de reações, ativação da angiotensina 
II no endotélio de diversos órgãos, que é outro potente estimulador da liberação de ADH no 
hipotálamo. Além destas, a redução no volume é um importante estímulo à liberação de ADH, 
produzindo uma resposta mais pronunciada do que a alteração da osmolalidade. Entretanto, 
esta última é mais sensível que a primeira, ou seja, detecta menores alterações e por isso é o 
primeiro mecanismo a ser disparado em favor da liberação do ADH. Entre os outros fatores 
capazes de aumentar essa liberação, temos ainda o estrogênio e progesterona, os opiáceos e a 
nicotina. Por outro lado, como inibidores, temos o álcool e o fator natriurético atrial. 
Fisiopatologia Integrada 
As concentrações de ADH podem ficar alteradas em diversas condições fisiopatológicas 
crônicas, como insuficiência cardíaca congestiva, cirrose hepática e síndrome nefrítica. 
O diabetes insípido caracteriza-se pela excreção de volumes anormalmente grandes 
de urina diluída e por sede excessiva. Pode ocorrer por diminuição da liberação de ADH (tipo 
neurogênico – relação com traumatismo, inflamação ou infecção, e câncer), por 
responsividade renal diminuída ao ADH (tipo nefrogênico – relação com mutação do receptor 
V2, quando hereditário; ou relação com tratamento com lítio, hipocalemia e poliúria pós-
obstrutiva, quando adquirido), ou por ingestão excessiva de água. De acordo com cada caso, o 
nível de ADH sérico pode ser normal ou não, devendo então ser corretamente interpretado tal 
dosagem, caso seja utilizada para o diagnóstico. Outros métodos para o diagnóstico 
diferencial, além da dosagem sérica, são a administração de análogo sintético do ADH e 
administração de solução salina hipertônica. Para tal, é essencial a plena compreensão da 
fisiologia do ADH. 
A ocorrência de um aumento ou excesso na liberação de ADH pode resultar da 
produção tumoral de ADH. Essa síndrome da secreção inapropriada de ADH resulta na 
formação de volumes muito pequenos de urina concentrada, resultando em hiponatremia. 
 
Matheus Vieira Gonçalves 
6 Resumo de Fisiologia Endócrina e Fisiopatologia Integrada 
ADENO-HIPÓFISE 
 
 
Matheus Vieira Gonçalves 
7 Resumo de Fisiologia Endócrina e Fisiopatologia Integrada 
Glicoproteínas 
O TSH é uma glicoproteína sintetizada e secretada pelos tireotropos da adeno-hipófise 
(5% dos total de células), em resposta à estimulação do TRH, o qual é produzido por neurônios 
parvicelulares nos núcleos paraventriculares do hipotálamo e é liberado na eminência 
mediana, a exemplo dos outros hormônios de liberação com influência sobre a hipófise 
anterior. O TSH estimula todos os eventos envolvidos na síntese e liberação dos hormônios 
tireoidianos e, também, atua como fator de crescimento e sobrevida para a glândula tireóide. 
Sua liberação é inibida pelo hormônio tireoidiano, por retroalimentação negativa. 
Os hormônios gonadotrópicos LH e FSH são sintetizados e secretados pelos 
gonadotropos da adeno-hipófise (5% a 10% do total de células – 60% destas produzem tanto 
LH quanto FSH) em resposta à estimulação pelo GnRH, que controla sua síntese e excreção. 
Entre as células-alvo das gonadotropinas, destacam-se as células da granulosa do ovário, 
células internas da teca, células de Sertoli e células de Leydig, que, quando estimuladas pelos 
hormônios gonadotrópicos, irão promover a esteroidogênese (síntese dos hormônios sexuais), 
espermatogênese, foliculogênese e ovulação, controlando a função reprodutiva em ambos os 
sexos. Além dos feedbacks envolvidos com o GnRH, existem outros reguladores da liberação 
ou não destes hormônios, como o estradiol, que intensifica a liberação de LH e inibe a do FSH, 
enquanto as inibinas A e B (hormônios glicoprotéicos gonádicos) reduzem a secreção do FSH. 
Hormônios derivados da pró-ópiomelanocortina (POMC) 
A POMC é um pró-hormônio precursor sintetizado pelos corticotropos da adeno-
hipófise, os quais respondem por 10% das células secretoras deste órgão, e estimulada pelo 
CRH, oriundo do hipotálamo. A POMC é clivada após a tradução em ACTH, β-endorfina, e MSH, 
basicamente. 
O principal produto da POMC é o ACTH, que é liberado em resposta a estresses físicos 
(como infecção, hipoglicemia, traumatismo e cirurgia) e psicológicos. É liberado em pulsos, 
sendo seu máximo às 4 da manhã, e o mínino na parte da tarde. Os efeitos fisiológicos do 
ACTH no córtex da supra-renal consistem em estimular a produção e liberação de 
glicocorticóides (cortisol), bem como, em menor grau, de mineralocorticóides (aldosterona). A 
liberação de cortisol segue, basicamente, o mesmo ciclo circadiano do ACTH, e, através de suas 
alças de retroalimentação, regula a concentração tanto do ACTH como a do CRH. 
Em condições normais, apenas pequenas quantidades de α-MSH são produzidas na 
hipófise, apesar de também poder ser produzida perifericamente por céluas não-endócrinas. 
Através da ligação em seus receptores aumenta a síntese de melanina nos melanócitos. 
A β-endorfina, o peptídeo opióide endógeno mais abundante, é outro produto do 
processamento da POMC na hipófise. Suas ações fisiológicas incluem analgesia, efeitos 
comportamentais e funções neuromoduladoras. Sobre a função endócrina, destaca-se por 
inibir a liberação de GnRH. 
 
 
Priscilla
Realce
Priscilla
Realce
Priscilla
Realce
Priscilla
Realce
Priscilla
Realce
Priscilla
Realce
Priscilla
Realce
Priscilla
Realce
Priscilla
Realce
Priscilla
Realce
Priscilla
Realce
Priscilla
Realce
Priscilla
Realce
Priscilla
Realce
Priscilla
Realce
Priscilla
Realce
Priscilla
Realce
Priscilla
Realce
Priscilla
Realce
 
Matheus Vieira Gonçalves 
8 Resumo de Fisiologia Endócrina e Fisiopatologia Integrada 
Família do hormônio do crescimento e da prolactina 
O GH, ou somatotropina, um hormônio com semelhança estrutural à prolactina, é 
liberado dos somatotropos, (50% do total de células). É liberado em surtos pulsáteis, e a maior 
parte da secreção é noturna, ocorrendo em associação ao sono de ondas lentas (fase 3 e 4). Os 
principais reguladores hipotalâmicos da liberação de GH pela adeno-hipófise são o hormônio 
de liberação do GH (GHRH) e a somatostatina (produzida, também, em algumas regiões do 
cérebro), que exercem influências excitatórias e inibitórias, respectivamente,sobre os 
somatotropos. Também é inibida pelo fator de crescimento semelhante à insulina I (IGF-1), 
produzido na periferia (fígado), em resposta à estimulação dos receptores do GH, por 
retroalimentação negativa. A grelina, liberada durante a alimentação, também pode estimular 
a secreção do GH pela adeno-hipófise, sendo este o principal estímulo para sua liberação. O 
GHRH estimula a secreção do GH pelos somatotropos através de aumentos na transcrição do 
gene do GH e biossíntese e proliferação dos somatotropos. Entre outros fatores envolvidos em 
escala de menor relevância, encontramos as catecolaminas, a dopamina e os aminoácidos 
excitatórios aumentam a liberação de GHRH e diminuem a de somatostatina. Hormônios como 
o cortisol, estrogênio, androgênios e tireoidianos também podem afetar a responsividade dos 
somatotropos ao GH e à somatostatina, bem como a liberação de GH. A glicose e os ácidos 
graxos não-esterificados diminuem a liberação do GH, enquanto os aminoácidos, 
particularmente a arginina, aumentam a liberação do GH através de uma redução na liberação 
de somatostatina. Sendo assim, por ser estimulado na baixa de glicose, a hipoglicemia 
induzida por insulina é utilizada como teste clínico para provocar a secreção de GH em 
crianças e adultos com deficiência de GH nos seres humanos. Cerca de 60% do GH liberado 
liga-se à proteína de ligação do GH, que prolonga sua meia-vida ao diminuir sua taxa de 
degradação, servindo de reservatório sanguíneo ao hormônio. Possui meia-vida de 6 a 20 
minutos, e é degradado intracelularmente, nos lisossomos. 
O GH induz seus efeitos fisiológicos sobre as células-alvo diretamente através da 
ativação do receptor do GH e indiretamente através da estimulação da síntese e secreção do 
IGF-1, um pequeno peptídeo estruturalmente relacionado com a pró-insulina, que medeia 
vários dos efeitos anabólicos e mitogênicos do GH nos tecidos periféricos. O GH estimula o 
crescimento longitudinal, aumentando a formação de novo osso e cartilagem. Os efeitos do 
GH sobre o crescimento começam a ter relevância no primeiro e segundo ano de vida, 
atingindo um pico na puberdade. Antes da fusão das epífises dos ossos longos, o GH estimula a 
condrogênese e o alargamento da placa epifisária cartilaginosa, seguidos da deposição da 
matriz óssea. Além disso, no adulto, o GH promove a renovação óssea, o que aumenta a 
formação óssea e, em menor grau, a reabsorção óssea. Seu efeito direto se dá sobre a 
diferenciação dos precursores dos condrócitos e sobre o receptor dos osteoblastos; e seu 
efeito indireto é pelo aumento na produção local de IGF-1 e da responsividade a esse fator, 
que, através de sua ação autócrina ou parácrina, estimula a expansão clonal dos condrócitos 
no processo de diferenciação. 
O GH possui um efeito bifásico, aparentemente paradoxal, que é dividido de acordo 
com o período de exposição do tecido a esse hormônio. Em curto prazo, o GH exerce efeitos 
semelhantes aos da insulina, como a lipogênese e utilização periférica da glicose e dos 
aminoácidos, favorecendo a síntese protéica muscular, e os efeitos anabólicos gerais do GH. 
 
Matheus Vieira Gonçalves 
9 Resumo de Fisiologia Endócrina e Fisiopatologia Integrada 
Os efeitos semelhantes aos de insulina, cuja duração é de cerca de 2 horas, são seguidos de 
efeitos antiinsulina, em longo prazo, como a lipólise, hiperglicemia e hiperinsulinemia, nos 
permitindo enquadrar o GH como um contra-regulador, já que este segundo efeito é o 
prevalente. Isso se dá, não pelo comprometimento da liberação pancreática de insulina 
(inclusive, a produção de insulina é dependente de GH, tanto que promove a hiperinsulinemia 
em longo prazo), mas através do comprometimento da capacidade da insulina de suprimir a 
produção hepática de glicose, bem como a capacidade de estimular a captação e oxidação da 
glicose. Esse efeito bifásico tem importância durante o exercício, uma situação em que 
primeiro precisa-se da entrada de glicose na célula muscular para que desempenhe seu papel; 
e, posteriormente, disponibilize esse açúcar para os tecidos que ficaram em déficit durante a 
atividade física. No adipócito, o GH inibe a diferenciação, diminui o acúmulo de TAG bem como 
estimula a lipólise e oxidação de gordura, efeitos mediados por redução da atividade da 
lipoproteína lipase (envolvida na depuração dos VLDL e LDL, fornecendo ácidos graxos livres 
ao tecido adiposo para armazenamento e ao músculo esquelético para oxidação e produção 
de energia). De modo geral, o GH neutraliza a ação da insulina sobre o metabolismo dos 
lipídeos e da glicose. Sobre o sistema imune, tem papel de manutenção, afetando múltiplos 
aspectos da resposta imune, como as respostas das células B e a produção de anticorpos, a 
função de linfócitos e de macrófagos. 
Muitos efeitos de crescimento e metabólicos do GH são mediados pelos fatores de 
crescimento semelhante à insulina (IGF) ou somatomedinas. Sintetizados no fígado, retêm o 
peptídeo C, ao contrário da insulina, circulando na circulação em concentrações mais altas que 
a insulina, e atuando como mitógeno, através do estímulo da síntese de DNA, RNA e proteína. 
O IGF é essencial ao desenvolvimento embrionário e, depois do nascimento, desempenha 
papel predominante na regulação do crescimento. Apesar de seu principal sítio de produção 
ser o fígado, também é produzido, em menor escala, em outros tecidos como o músculo, 
agindo de forma parácrina. O IGF-1 circula de forma livre no plasma, com meia-vida de 15 a 20 
minutos, ou ligado a proteínas de ligação específica, que prolongam sua meia-vida, as IFGBP 
(binding protein - representam 80% do total de IGF no plasma), que regulam a disponibilidade 
do IGF. A semelhança estrutural com a insulina permite às IFGs a interagirem também com 
receptores de insulina para o desempenho de suas próprias funções. De modo geral, suas 
ações são: (1) estimula a formação óssea, a síntese de proteína, a captação de glicose no 
músculo, a sobrevida de neurônios e a síntese de melanina; (2) reverte o balanço nitrogenado 
negativo durante a privação de alimento e inibe a degradação de proteína no músculo (3) 
aumenta a replicação da linhagem osteoblástica, intensifica a síntese osteoblástica do 
colágeno e a taxa de aposição da matriz, bem como diminui a degradação de colágeno na 
calvária. Ao mesmo tempo, faz um balanço por estimular a reabsorção óssea por meio do 
recrutamento aumentado de osteoclastos. 
A prolactina é um hormônio polipeptídico sintetizado e secretado pelos lactotropos 
presentes na adeno-hipófise (15% a 20% do total). Tal porcentagem aumenta 
consideravelmente em resposta ao estrogênio liberado na gravidez. Circula em maior 
concentração durante o sono e em menor concentração durante as horas de vigília. A 
liberação de prolactina possui inibição tônica exercida principalmente pela dopamina, mas 
também pela somatostatina e GABA. Entre os mais potentes estímulos para sua liberação, 
encontram-se a sucção (que diminui da inibição tônica pela dopamina), o aumento dos níveis 
 
Matheus Vieira Gonçalves 
10 Resumo de Fisiologia Endócrina e Fisiopatologia Integrada 
de hormônios esteróides do ovário (primariamente o estrogênio, que estimula o crescimento 
dos lactotropos durante a gravidez bem como a expressão e liberação do gene da prolactina), 
e o estresse. Também, o TSH, a ocitocina e o VIP são capazes de estimular a liberação de 
prolactina, sendo o primeiro exercendo sua atividade apenas quando há presença do tônus 
inibitório da dopamina. 
Os principais efeitos fisiológicos da prolactina consistem na estimulação do 
crescimento e do desenvolvimento da glândula mamária, na síntese do leite e na manutenção 
da secreção do leite. Também, estimula a captação deglicose e dos aminoácidos, bem como a 
síntese das proteínas do leite (β-caseína e α-lactalbumina), o açúcar do leite lactose e as 
gorduras do leite pelas células epiteliais da mama. Durante a gravidez, a prolactina prepara a 
mama para a lactação, mas a produção do leite é impedida pelos elevados níveis de 
progesterona que predominam nesta fase. Entre outros efeitos, inibe a liberação de GnRH, a 
biossíntese de progesterona e a hipertrofia das células lúteas durante a gravidez. 
Fisiopatologia Integrada 
Os adenomas de somatotropos são os segundos adenomas de hipófise mais 
freqüentes, constituindo 20% dos mesmos. Estão associados a acromegalia e gigantismo, em 
crianças. Por outro lado, as deficiências isoladas de GH, no hipopituitarismo, são as mais 
freqüentes. Pode ocorrer por traumatismo, hipoperfusão ou lesão isquêmica. Um exemplo é a 
síndrome de Sheehan (lesão isquêmica durante o periparto, que inclui outras deficiências de 
outros hormônios hipofisários). 
O atraso no crescimento pode resultar de diminuição na liberação do GH, ação 
diminuída do GH ou síndrome de insensibilidade ao GH, também conhecida como síndrome de 
Laron (deleções ou mutações no gene do receptor do GH, com conseqüente incapacidade de 
produção da IGF). A manifestação típica consiste em baixa estatura ou nanismo, que pode ser 
evitada mediante tratamento com IGF-1. A deficiência de GH em crianças pode resultar de 
disfunção hipotalâmica, destruição hipofisária, um receptor de GHRH defeituoso, uma 
molécula receptora de GH ou um GH incompetente biologicamente, incapacidade de gerar 
somatomedinas normalmente, ou uma deficiência do receptor de GH. Baixa estatura e 
correspondentemente amadurecimento sexual e ósseo retardado são característicos. 
Obesidade leve é comum e a puberdade é normalmente atrasada. Ocorre redução da massa 
magra, da função cardíaca e da densidade óssea. 
A acromegalia é uma doença crônica caracterizada por hiperdesenvolvimento dos 
ossos, tecido conjuntivo e vísceras, decorrente do aumento excessivo e prolongado do 
hormônio somatotrópico. Quando essa hiperfunção acomete o adulto, com as cartilagens de 
conjugação já soldadas, há hiperdesenvolvimento das partes distais do corpo. Já quando o 
distúrbio ocorre antes da puberdade surge o gigantismo, já que ainda não houve consolidação 
das cartilagens de conjugação. Dentre os principais sinais e sintomas, temos: galactorréia, 
semelhança do GH à prolactina; neuropatia periférica, proliferação fibrosa peri e endovenosa, 
e por compressão pelos ossos e tecidos moles; artralgia/artrite/cifoescoliose e voz rouca, pela 
remodelagem de cartilagens em osso; visceromegalia com cardiopatia dilatada (insuficiência 
cardíaca) e hipertensão; e alterações fisionômicas, alargamento do nariz, aumento dos lábios, 
prognatismo, diastema, fronte proeminente, macroglossia, aumento dos arcos zigomáticos. 
 
Matheus Vieira Gonçalves 
11 Resumo de Fisiologia Endócrina e Fisiopatologia Integrada 
TIREÓIDE 
A síntese e liberação dos hormônios da tireóide são reguladas, por alças de feedback, 
pelo eixo hipotalâmico-hipofisário-tireoidiano, envolvendo TRH (hormônio liberado da 
tireotrofina), TSH (hormonio estimulante da tireóide) e T3/T4. A ativação do receptor de TSH 
resulta em estimulação de todas as etapas envolvidas na síntese dos hormônios tireoidianos. 
Especificamente, os efeitos biológicos do TSH incluem a estimulação da transcrição gênica dos 
seguintes fatores: simportador Na/I (NIS – presente na membrana basolateral), envolvida no 
transporte e concentração do iodeto; tireoglobulina, que atua no suporte para iodação da 
tirosina, síntese do hormônio e seu armazenamento; tireoperoxidase (TPO), envolvida na 
catálise da oxidação do iodeto, além da incorporação em resíduos da tirosina da 
tireoglobulina. O principal inibidor do TSH é o T3 convertido a nível hipofisário pela desiodase 
tipo II; também, possuem papel relevante nessa inibição a dopamina, a somatostatina e os 
glicocorticóides. 
A tireoglobulina é uma glicoproteína que contém múltiplos resíduos de tirosina, sendo 
sintetizada nas células epiteliais foliculares da tireóide e secretada, através da membrana 
apical, na luz folicular, o colóide. Ela é a base dos hormônios da tireóide, e, uma vez secretada 
no colóide, sofre importante modificação pós-tradução durante a síntese desses hormônios: 
na superfície apical das células epiteliais foliculares ocorre iodação de múltiplos resíduos de 
tirosina da tireoglobulina, seguida do acoplamento de alguns dos resíduos de iodotirosina para 
a formação do T3 ou do T4. 
O iodeto é concentrado nas células epiteliais da tireóide por um processo ativo, 
passível de saturação e dependente de energia, mediado por um simportador de sódio-iodeto 
localizado na membrana plasmática basolateral da célula folicular. Como o processo de 
iodação ocorre na membrana apical, o iodeto abandona a célula folicular através de efluxo 
apical, diretamente para o colóide. Na luz folicular os resíduos de tirosina no interior da matriz 
da tireoglobulina são iodados pela TPO, na presença do iodo. Essa iodação de tirosinas 
específicas produz resíduos monoiodados (MIT) e diiodados (DIT), enzimaticamente acoplados 
para formar a triiodotironina (T3) ou tetraiodotironina (T4). Esse acoplamento é catalisado 
pela tireóide peroxidase. Importante ressaltar que esse metabolismo do iodo no interior da 
tireóide também pode ser regulado independentemente do TSH, por um mecanismo 
importante, particularmente quando os níveis plasmáticos de iodeto estão elevados. Essa via 
auto-reguladora consiste na inibição da organificação do iodo pelos níveis circulantes elevados 
de iodeto, sendo conhecido como fenômeno de Wolff-Chaikoff. O fenômeno de escape 
resulta de uma diminuição da concentração de iodo inorgânico no interior da glândula 
tireóide, devido à infra-regulação do simportador de sódio-iodeto, permitindo que o sistema 
da peroxidase readquira sua atividade normal. 
Como a superfície apical da célula epitelial folicular é voltada para o colóide, e não 
para o espaço intersticial, essa não possui acesso à corrente sanguínea, e a liberação dos 
hormônios tireoidianos, associados à tireoiglobulinas, envolve a endocitose das vesículas, que 
ainda serão metabolizadas, a partir desta superfície da célula folicular. De um modo geral, a 
tireóide libera 40 vezes mais T4 que T3 na circulação, apesar deste último ter maior atividade 
biológica. Assim, a maior parte do T3 circulante é formada na periferia por desiodação de T4, 
um processo que envolve a remoção de iodo do carbono 5 no anel externo da T4, que pode, 
 
Matheus Vieira Gonçalves 
12 Resumo de Fisiologia Endócrina e Fisiopatologia Integrada 
portanto, ser considerado um pró-hormônio de T3. A desiodação periférica ocorre 
principalmente no fígado, mas também possui relevância aquela que se dá na própria célula 
epitelial folicular da tireóide. Ainda relacionada à atividade e armazenamento, temos que T4 é 
considerada, em níveis fisiológicos, inativa, tendo em vista sua afinidade 100 vezes menor que 
a de T3 pelos receptores de hormônios tireoidianos, além de não penetrar no núcleo da célula 
em concentrações altas o suficiente para ocupar o local de ligação do ligante do receptor de 
hormônio tireoidiano. Outro fator importante de ser destacado, é a capacidade de 
armazenamento peculiar da tireóide que pode durar de 2 a 3 meses com o reservatório de 
tireoglobulina. 
Cerca de 70% destes estão ligados à globulina de ligação da tireóide, e o restante está 
associado à transtiretina ou à albumina. Apenas uma pequena fração de cada hormônio 
circula na forma livre no plasma (0,03% de T4 e 0,3% de T3), e é justamente essa parcela que é 
biodisponível, podendopenetrar na célula para ligar-se ao receptor do hormônio tireoidiano. 
T4 liga-se mais firmemente às proteínas de ligação que T3 e, por isso, apresenta menor taxa de 
depuração metabólica e meia-vida mais longa (7 dias) que T3 (1 dia). Assim, a ligação à 
proteínas plasmáticas assegura uma reserva circulante e retarda a sua depuração. Alterações 
na quantidade total de proteínas plasmáticas disponíveis para a ligação desses hormônios têm 
impacto sobre a quantidade total de hormônio tireoidiano circulante devido a um constante 
ajuste homeostático a alterações nos níveis de hormônio livre. Por exemplo, a hepatopatia 
está associada a uma redução na síntese das proteínas de ligação, enquanto os níveis elevados 
de estrogênio aumentam a síntese dessas mesmas proteínas. 
Conforme supracitado, a principal fonte de T3 circulante consiste na desiodação 
periférica da T4 por desiodases. Cerca de 80% da T4 produzida pela tireóide sofre desiodação 
na periferia, sendo aproximadamente 40% transformados em T3, mais ativa, principalmente 
no rim e no fígado. Por volta de 33% dos casos, acontece do iodo ser removido do carbono 5 
do anel interno, produzindo o T3 reverso (T3r), a qual nenhuma atividade metabólica, 
apresentando maior taxa de depuração e menor concentração sérica do que T3 normal. O 
metabolismo periférico dos hormônios da tireóide consiste em um processo seqüencial de 
desiodação, que leva, primeiro, a uma forma mais ativa do hormônio da tireóide (T3) e, depois, 
à inativação completa do hormônio, por meio de outra desiodação, resultando em T2, 
hormônio com atividade biológica sobre a mitocôndria. Essa desiodação progressiva 
extratireoidiana dos hormônios da tireóide, catalisada pelas desiodases, desempenha 
importante papel no metabolismo desses hormônios e requer o oligoelemento selenocisteína 
para uma atividade enzimática ótima. 
A desiodase tipo I: catalisa a desiodação do anel externo e anel interno da T4, bem 
como da T3r; é encontrada predominantemente no fígado, rim e tireóide; é responsável pela 
maior parte da conversão de T4 em T3 na periferia, e também converte T3 em T2. A desiodase 
tipo II: expressa no cérebro, na hipófise, no tecido adiposo marrom, na tireóide, na placenta e 
nos músculos esquelético e cardíaco; só possui atividade no anel externo e converte T4 em T3; 
constitui relevante fonte de T3 intracelular; atua em tecidos que produzem uma proporção 
relativamente alta da T3 ligada a receptor, mais do que a da T3 derivada do plasma; é 
importante a nível de feedback negativo sobre o TSH na hipófise, sendo este seu papel 
fundamental. A desiodase tipo III: expressa no cérebro, na placenta e na pele; possui atividade 
 
Matheus Vieira Gonçalves 
13 Resumo de Fisiologia Endócrina e Fisiopatologia Integrada 
apenas no anel interno, inativando T4 e T3, seja em T3r, seja em T2; diminui o fluxo de T3 da 
mãe para o feto, e assim, o T4 transferido pela mãe é transformado em T3 no cérebro do feto, 
prevenindo o hipotireodismo, já que esse hormônio é essencial ao desenvolvimento do SNC, 
também na vida extra-uterina. Ou seja, a desativação ocorre por meio da desiodase I e III, 
enquanto a ativação se dá pelos tipos I e II. Os hormônios tireoidianos podem ser excretados 
após conjugação hepática com sulfato e glicuronídio, bem como excreção biliar. 
Os efeitos do hormônio tireoidiano são mediados primariamente pela regulação 
transcricional de genes-alvo, apesar de também possuírem efeitos não-genômicos. Os 
receptores desses hormônios são receptores nucleares intimamente associados à cromatina, 
atuando como fatores de transcrição, e ligando-se com baixa capacidade, porém alta afinidade 
pela T3 (cerca de 85% do hormônio tireoidiano nuclear ligado consiste de T3). Esse receptor 
pode ativar ou reprimir a transcrição gênica, dependendo do contexto do promotor e do 
estado de ligação do ligante. Como esses receptores são multissistêmicos, os hormônios 
tireoidianos desempenham papel vital no metabolismo celular. Entre os eventos celulares que 
decorrem em virtude da ação de T3/T4, temos: o aumento do consumo de oxigênio; o 
aumento da oxidação de ácidos graxos e a geração de calor sem a produção de ATP; a síntese 
e degradação de proteínas, contribuindo para o crescimento e diferenciação; a glicogenólise e 
gliconeogênese induzidas por epinefrina, afetando a ação da insulina sobre a célula; e a 
síntese e regulação do colesterol e do receptor de LDL. 
É indubitável o quão essencial são estes hormônios para o crescimento e 
desenvolvimento normais, e para o controle da intensidade desse metabolismo, já que afetam 
a função de praticamente todos os tecidos. No osso, estimulam o crescimento e 
desenvolvimento através da ativação dos osteoblastos e osteoclastos. No coração, são 
inotrópicos e cronotrópicos, aumentando o débito cardíaco, o volume sangüíneo e diminuindo 
a resistência vascular sistêmica. Induzem a diferenciação do tecido adiposo branco, as enzimas 
lipogênicas e o acúmulo intracelular de lipídios, estimulam a proliferação dos adipócitos, 
estimulam as proteínas de desacoplamento, desacoplam a fosforilação oxidativa, e induzem a 
lipólise, mediada pelas catecolaminas, via aumento do número de receptores β-adrenérgicos e 
diminuição da ativadade da fosfodiesterase, aumentando os níves de AMPc e a atividade da 
lipase sensível a hormônio. No fígado, regulam o metabolismo dos triglicerídios e do 
colesterol, bem como da homeostasia das lipoproteínas. Na hipófise, regulam a síntese dos 
hormônios hipofisários, estimulam a liberação do GH e inibem o TSH. Por fim, no cérebro, 
estimualm o crescimento e desenvolvimento dos axônios. 
Fisiopatologia Integrada 
A disfunção tireoidiana pode resultar de três fatores: alterações nos níveis circulantes 
nos hormônios da tireóide, comprometimento do metabolismo dos hormônios da tireóide na 
periferia e resistência às ações dos hormônios da tireóide em nível tecidual. As respostas 
imunes anormais dirigidas às proteínas relacionadas com a tireóide resultam em dois 
processos patogênicos opostos: aumento da glândula tireóide na doença de Basedow-Graves 
e destruição da mesma na tireoidite de Hashimoto. 
O hipotireoidismo é um distúrbio que resulta da deficiência da ação dos hormônios da 
tireóide. É mais prevalente em mulheres e divide-se em primário e secundário. De um modo 
 
Matheus Vieira Gonçalves 
14 Resumo de Fisiologia Endócrina e Fisiopatologia Integrada 
geral, no início cursa com cansaço, letargia, prisão de ventre, diminuição do apetite, 
intolerância ao frio, fluxo menstrual anormal, queda de cabelos, unhas quebradiças, pele seca 
e áspera, bem como voz rouca. Na fase crônica, há o mixedema, espessamento da pele, edema 
periorbitário, edema das mãos e dos pés sem indentação, contração e relaxamento 
musculares tardios, reflexos retardados, redução do cronotropismo e inotropismo, derrame 
pericárdico, acúmulo de líquidos nas cavidades pleural e periotoneal, lentidão da função 
mental, comprometimento da memória, fala lenta, diminuição da iniciativa, sonolência e 
hiportemia (diminui a geração de calor provocada por este hormônio). De modo geral, os 
sintomas relacionam-se com a dependência do metabolismo basal e do sistema nervoso com 
os hormônios tireoidianos para funcionar. Além disso, todo o extravasamento de líquidos 
(derrames e edema) são oriundos da infiltração de substância mucopolissacarídea (liberada na 
resposta auto-imune) nos diversos tecidos, característico do hipotireoidismo. 
O primário consiste de doença na própria tireóide. Quando ocorre a diminuição da 
função tireoidiana intra-útero, há um grave retardo mental, ou cretinismo. Em adultos, pode 
resultar de uma destruição auto-imune do parênquima da glândula, de uma cirurgia, oude 
tratamento com iodo radioativo. Entretanto, pode , também, estar associado à um aumento 
da glândula em conseqüência de infiltração linfocítica, como na doença de Hashimoto ou 
deficiência dietética de iodo, uma tentativa da tireóide de captar mais iodo para suprir sua 
ausência. 
O hipotireoidismo secundário caracteriza-se por diminuição da secreção do TSH, e 
conseqüentemente também do hormônio tireoidiano, resultando de distúrbios da adeno-
hipófise ou do hipotálamo. Pode ocorrer uma resistência ao hormônio da tireóide, distúrbio 
hereditário raro, no qual observa-se menor responsivade dos tecidos à este hormônio. 
Clinicamente, esses pacientes podem apresentar sinais e sintomas do hipotireoidismo, mas 
sem a redução dos níveis circulantes dos hormônios da tireóide. 
O hipertireoidismo é definido como um estado de atividade funcional excessiva da 
tireóide, caracterizado por aumento do metabolismo basal, distúrbios do sistema nervoso 
autônomo, e reflexos da hiperestimulação cardíaca em conseqüência da produção excessiva 
dos hormônios tireoidianos. Tem como quadro clínico palpitações, comprometimento do 
exercício físico, alargamento da pressão de pulso, taquicardia em repouso e durante o 
exercício, aumento do volume sanguineo, aumento palpável da glândula tireóide, oftalmopatia 
infiltrativa, nervosismo, irritabilidade, hiperatividade, instabilidade emocional, ansiedade, 
intolerância ao calor, perda ponderal apesar do aumento da ingestão de alimentos, diminuição 
ou ausência do fluxo menstrual, aumento no número de evacuações, pele quente e úmida ou 
com textura aveludada, fraqueza muscular proximal, cabelos finos, tremor fino e sudorese 
excessiva. 
A doença de Basedow-Graves é uma afecção auto-imune que leva à secreção 
autônoma do hormônio da tireóide devido à estimulação dos receptores de TSH pela 
imunoglobulina G. essa estimulação contínua do receptor de TSH por anticorpos semelhantes 
ao TSH resulta em produção excessiva de T4 e T3. Pode haver protusão do globo ocular, a 
exoftalmia, em virtude da infiltração dos tecidos e músculos extra-oculares por linfócitos e 
 
Matheus Vieira Gonçalves 
15 Resumo de Fisiologia Endócrina e Fisiopatologia Integrada 
fibroblastos, bem como acúmulo de glisoaminoglicanos produzidos por estes fibroblastos nos 
tecidos. 
O hipertireoidismo secundário é devido a um aumento na liberação dos hormônios da 
tireóide pela glândula em resposta a níveis elevados de TSH produzidos por adenomas 
hipofisários secretores de TSH. 
Os pacientes com tireoidite aguda apresentam uma glândula tireóide dolorosa, 
quente, aumentada e palpável, febre, calafrios e hipertireoidismo no início. Já a tireoidite 
crônica, a tireoidite de Hashimoto, é uma doença auto-imune da tireóide, caracterizada por 
infiltração dos linfócitos e anticorpos auto-imunes circulantes, os quais inibem o simportador 
de Na/I, impedindo a captação de iodeto e, consequentemente, a síntese de hormônios 
tireoidianos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Matheus Vieira Gonçalves 
16 Resumo de Fisiologia Endócrina e Fisiopatologia Integrada 
PARATIREÓIDES E REGULAÇÃO DO CÁLCIO E DO FOSFATO 
Paratormônio 
À semelhança dos outros hormônios peptídicos, o PTH é sintetizado na forma de pré-
pró-peptídeo. Sua síntese consiste de um processo contínuo, e assim também é sua liberação, 
com cerca de seis ou sete pulsos superpostos a cada hora. É metabolizado no fígado e no rim 
em fragmentos carboxiterminais e aminoterminais antes de ser eliminados. 
O principal efeito fisiológico do PTH consiste em manter a homeostasia do cálcio 
sérico, e, assim, sua liberação é controlada através de um estreito sistema de 
retroalimentação pelas concentrações plasmáticas do íon. A ocorrência de pequenas 
oscilações nos níveis plasmáticos de cálcio é detectada pelo receptor paratireóideo sensor de 
cálcio (receptor acoplado às proteínas Gq e Gi nas células principais das paratireóides) que, 
numa hipocalcemia, fica relaxado e não há restrição ao PTH, disparando uma liberação do pró-
hormônio a curto prazo, e uma maior produção a longo prazo. De um modo geral, constituem 
estímulos para a secreção de PTH a hipocalcemia, a hiperfosfatemia e as catecolaminas; ao 
passo que hipercalcemia, vitamina D e hipomagnesemia grave são capazes de inibir a secreção 
do PTH. É interessante assinalar que a inibição da secreção do PTH pelos níveis elevados de 
cálcio não se deve a uma alteração na velocidade de síntese do hormônio, porém a um 
aumento na degradação de hormônio pré-formado, levando a formação de fragmentos de PTH 
carboxiterminais inativos, liberados na circulação ou degradados ainda mais nas paratireóides. 
Diferentemente, a inibição a liberação de PTH pela forma ativa da vitamina D resulta da 
diminuição da expressão do gene do PTH. 
Os rins e o osso constituem os principais órgãos-alvo dos efeitos fisiológicos do PTH. 
Sua principal resposta é a elevação dos níveis plasmáticos de cálcio através do aumento da 
reabsorção renal de cálcio, reabsorção óssea e absorção intestinal indiretamente, através da 
ativação da vitamina D. Também aumenta a atividade da 1α-hidroxilase (enzima responsável 
pela formação da forma ativa da vitamina D) e da excreção renal de fosfato. Os efeitos 
fisiológicos importantes do PTH são mediados pelo PTHR1, seu receptor de membrana 
acoplado à proteína G. Esse receptor é expresso nos osteoblastos ósseos e no rim. 
O PTH regula o componente transcelular ativo da reabsorção de cálcio no rim, no 
segmento ascendente espesso e no túbulo distal, sendo este último também regulado pela 
vitamina D e pela calcitonina. Seu efeito é consumado através da inserção e abertura do canal 
de cálcio apical, facilitando a entrada do íon na célula, que é direcionado graças à polarização 
que existem nessas células do néfron, garantindo um fluxo unidirecional. Ainda, o PTH diminui 
a reabsorção renal e intestinal de fosfato através da diminuição na expressão dos co-
transportadores de Na/Pi do tipo II. A internalização desse tipo de receptor é irreversível. No 
sistema esquelético, provoca o aumento da degradação óssea, resultando na rápida liberação 
de cálcio da matriz óssea, efeito esse mediado nos osteoblastos através da síntese ou atividade 
de várias proteínas, como o fator de diferenciação dos osteoclastos. Seus efeitos ósseos 
globais consistem na ativação do osteoblasto, estimulação dos genes essenciais aos processos 
de degradação da matriz extracelular, bem como remodelagem óssea (colagenase-3), 
produção dos fatores de crescimento, além da estimulação e recrutamento dos osteoclastos. 
 
Matheus Vieira Gonçalves 
17 Resumo de Fisiologia Endócrina e Fisiopatologia Integrada 
A remodelagem óssea envolve a remoção contínua de osso (reabsorção óssea) seguida 
da síntese de nova matriz óssea e mineralização subseqüente (formação óssea). A atividade 
osteoclástica induzida pelo PTH é mediada indiretamente através da ativação dos 
osteoblastos, que secretam moléculas que induzem e controlam a diferenciação dos 
osteoclastos. Estes criam vesículas de caráter ácido que dissolvem o mineral ósseo, que será 
liberado para o organismo. Durante o processo de degradação óssea, enzimas intracelulares, 
como a fosfatase alcalina, também são liberadas no espaço intersticial para a circulação. 
Clinicamente, pode-se utilizar a elevação dos níveis circulantes dessa fosfatase alcalina como 
marcador do aumento da atividade osteoclástica. 
Homeostasia do Cálcio 
Do cálcio total do corpo, apenas 1% está no plasma, e este é dividido da seguinte 
forma: 50% é cálcio ionizado, 40% está ligado a proteínas plasmáticas e 10% forma complexos 
solúveis com citrato e fosfato.A maioria do cálcio ligado relaciona-se com a albumina e esta 
interação mostra-se sensível a mudanças do pH. A acidose resulta na diminuição da ligação do 
cálcio às proteínas e aumento da fração livre no plasma, ao passo que a alcalose tem efeito 
contrário. 
Os íons cálcio desempenham diversas funções fisiológicas. Pode atuar como 
mensageiro intracelular essencial, é um co-fator para várias enzimas, atua na coagulação 
sanguínea, mantem a integridade do esqueleto, modula a excitabilidade neuromuscular, etc. 
Por conseguinte, a estabilidade dos níveis de cálcio é fundamental à função fisiológica normal. 
Clinicamente, a irritabilidade neuromuscular pode ser demonstrada pela estimulação 
mecânica do nervo hiperexcitável, resultando em contração muscular do tipo tetânica pela 
produção do sinal de Chvostek (contração ipsilateral dos músculos faciais induzida pela 
percussão da pele sobre o nervo facial) ou sinal de Trousseau (espasmo carpal induzido pela 
inflação do manguito de pressão arterial para 20 mmHg acima da sistólica do paciente durante 
3 a 5 minutos). 
O cálcio no osso encontra-se distribuído em um reservatório rapidamente 
intercambiável e em um reservatório estável. No rim, praticamente todo o cálcio filtrado é 
reabsorvido, sendo 40% dessa reabsorção responsabilidade do PTH. O transporte transcelular 
do cálcio é facilitado pela vitamina D através de um aumento na proteína de ligação do cálcio e 
na expressão dos transportadores de cálcio na membrana basolateral. No intestino, em 
situações normais, apenas 30% do cálcio ingerido na dieta são absorvidos, sendo esta condição 
significativamente aumentada pela ação da vitamina D (como na gestação, lactação e 
crescimento), que atua apenas sobre a via transcelular ativa saturável, e não sobre a via 
paracelular não-saturável. Após o término da fase de crescimento do indivíduo, não há ganho 
nem perda efetiva de cálcio no osso apesar da renovação contínua da massa óssea, de modo 
que a quantidade de cálcio perdida na urina é aproximadamente igual à absorção no intestino. 
Vitamina D 
Além de promover a reabsorção do cálcio no rim, outra ação importantíssima do PTH 
nesse órgão é a promoção da hidroxilação da 25-hidroxivitamina D3 na posição 1, levando à 
formação da vitamina D ativa, o calcitriol. Além de suas ações renais e intestinais supra-
 
Matheus Vieira Gonçalves 
18 Resumo de Fisiologia Endócrina e Fisiopatologia Integrada 
citadas, no osso aumenta o número de osteoclastos e estimula a reabsorção óssea, com o 
conseqüente aumento da calcemia. 
A vitamina D é um hormônio lipossolúvel, que pode ser sintetizado a partir dos 
precursores de origem vegetal, ou através da ação da luz solar a partir dos precursores do 
colesterol encontrados na pele. O calcitriol é produto de duas etapas consecutivas de 
hidroxilação, no fígado e no rim, respectivamente, nas posições 1 e 25 do hormônio. Caso seja 
hidroxilado na posição, a vitamina D perde sua função biológica, sendo esta uma maneira de 
inibir sua atividade. A título de retroalimentação realizada pela vitamina D, podemos pensar 
que esta reprime a produção do PTH nas paratireóides e inibe a atividade da 1α-hidroxilase. 
Quanto ao metabolismo do fosfato, à semelhança de suas ações sobre o cálcio, a 
vitamina D atua no sentido de aumentar a absorção desse fosfato no rim e no intestino. 
 
Calcitonina 
A elevação dos níveis de cálcio ionizado livre diminui a liberação de PTH da glândula 
paratireóide, diminui a ativação da vitamina D no rim e estimula a liberação do hormônio 
calcitonina pelas células parafoliculares da tireóide. A calcitonina contrabalança os efeitos do 
 
Matheus Vieira Gonçalves 
19 Resumo de Fisiologia Endócrina e Fisiopatologia Integrada 
PTH: inibe a atividade dos osteoclastos, diminuindo a reabsorção óssea e aumentando a 
excreção renal de cálcio. Ela inibe direta e rapidamente a motilidade dos osteoclastos, impede 
a sua diferenciação, provoca a perda da borda pregueada destes, inibe a atividade secretora 
dessas células e reduz seu número no osso a longo prazo. No rim, inibe a reabsorção tubular 
tubular do íon. 
Outros reguladores da homeostasia 
Além de PTH, vitamina D e calcitonia, contamos ainda com outros reguladores com 
funções secundárias que também interferem no balanço de cálcio no organismo. Os esteróides 
sexuais (androgênios e estrogênios) aumentam a 1α-hidroxilase, diminuem a reabsorção óssea 
e aumentam a síntese da osteoprotegerina, o fator inibidor da osteoclastogênese. O 
estrogênio estimula a proliferação dos osteoblastos e diminui a dos osteoclastos, de uma 
forma geral. Daí temos a maior ocorrência de osteoporose em mulheres pós-menopausa, 
quando o nível de seus hormônios sexuais está diminuído. O GH e a IGF-1 estimulam a síntese 
e o crescimento dos ossos, através da diferenciação dos osteoblastos, bem como a síntese da 
proteína do osso e inibição da degradação do colágeno tipo I. O hormônio tireoidiano em 
excesso aumenta a reabsorção óssea. A prolactina aumenta a reabsorção de cálcio e a 
atividade da 1α-hidroxilase. Os glicocorticóides desempenham um papel catabólico geral no 
metabolismo ósseo, visto que aumentam a reabsorção óssea e diminuem a síntese do osso, 
resultando no aumento do risco de fraturas. As citocinas, como o fator de necrose tumoral e 
as interleucinas, aumentam a proliferação e diferenciação dos precursores dos osteoclastos e 
sua atividade osteoclástica, atuando, portanto, como potentes estimuladores da reabsorção 
óssea. 
Fisiopatologia Integrada 
A deficiência de vitamina D pode resultar de ingestão dietética diminuída ou da falta 
de luz solar e, portanto, da conversão diminuída a partir do precursor inativo na pele à forma 
ativa do hormônio. Esse déficit resulta em deformidades ósseas (raquitismo) nas crianças e 
diminuição da massa óssea (osteomalácia) em adultos. Essas doenças são associadas à 
fraqueza, arqueamento dos ossos de sustentação do peso, defeitos dentários e hipocalcemia. 
É comum em países muitos frios, em que se usa muita roupa e se expõe pouco ao sol, ou em 
países com determinadas latitudes, que não possuem sol o ano todo. Com menos freqüência, 
pode acontecer também uma mutação na 1α-hidroxilase como fator causal da doença. 
A calcitonina não parece ser fundamental à regulação da homeostasia do cálcio: a 
remoção total da tireóide não provoca alterações significativas nessa homeostasia; e nenhum 
achado clínico significativo tem sido associado a um excesso ou deficiência de calcitonina. 
A produção excessiva de PTH é frequentemente causada por hiperplasia, adenoma ou 
carcinoma das paratireóides, o chamado hiperparatireoidismo primário. As manifestações 
clínicas consistem de níveis elevados de PTH intacto, hipercalcemia, hipercalciúria, urolitíase 
(maior formação de cálculos renais) e hipofosfatemia. A insuficiência renal crônica pode levar 
ao quadro de hiperplasia, ou a um hiperparatireoidismo secundário, pela redução da vitamina 
D ativa (reduzindo a retroalimentação negativa sobre as paratireóides) e pela hipocalcemia 
resultante (rim não consegue reabsorver plenamente o cálcio). 
 
Matheus Vieira Gonçalves 
20 Resumo de Fisiologia Endócrina e Fisiopatologia Integrada 
O hipoparatireoidismo, resultante do comprometimento na produção de PTH, pode 
estar associado a outros distúrbios endócrinos e neoplasias, ou resultar da remoção cirúrgica 
das paratireóides. Devido ao importante papel do PTH na regulação aguda dos níveis 
plasmáticos de cálcio, a tetania hipocalcêmica constitui manifestação precoce dessa remoção. 
O sinal clínico clássico é o chamado sinal de Chvostek, já explicado anteriormente. 
O pseudo-hipoparatireoidismo não é devido a uma redução dos níveis de PTH, poréma uma resposta anormal do hormônio, em virtude de defeito congênito da proteína G 
associada ao PTHR1. O pseudo-hipoparatireoidismo tipo Ia caracteriza-se por resistência 
hormonal generalizada ao PTH, TSH, LH e FSH, estando associado a manifestações físicas 
anormais, como baixa estatura e anomalias esqueléticas. O pseudo-hipoparatireoidismo tipo Ib 
caracteriza-se por resistência renal ao PTH e aspecto normal. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Matheus Vieira Gonçalves 
21 Resumo de Fisiologia Endócrina e Fisiopatologia Integrada 
GLÂNDULA SUPRA-RENAL 
 
Glicocorticóides 
As células da zona fasciculada e da zona reticular do córtex da supra-renal sintetizam 
e secretam os glicocorticóides cortisol ou corticosterona através da seguinte via: a 
pregnenolona, presente nas mitocôndrias, é convertida em 17α-OH-pregnenolona pela 17α-
hidroxilase; então, a 17α-OH-pregnenolona é convertida em 17α-OH-progesterona pela 3β-
OH-esteróide desidrogenase, e depois, convertida em 11-desoxicortisol, mediada pela 21-
hidroxilase; finalmente, 11-desoxicortisol é transformado em cortisol pela 11β-hidroxilase. A 
deficiência de uma dessas enzimas leva a baixa produção de cortisol, com falta de 
retroalimentação negativa sobre a hipófise, aumentando o ACTH e o consumo do colesterol, 
que origina a pregnenolona. Assim, há um desvio dos metabólitos intermediários para síntese 
de outros hormônios esteróides, podendo haver hipertensão, masculinização, e outros 
sintomas de acordo com o hormônio afetado secundariamente. Resumidamente, temos a 
síntese dos hormônios esteróides: 
 
Matheus Vieira Gonçalves 
22 Resumo de Fisiologia Endócrina e Fisiopatologia Integrada 
 
A liberação do cortisol é pulsátil, seguindo o ritmo circadiano, e estimulada 
diretamente pelo ACTH liberado da adeno-hipófise, que é sintetizado a partir da POMC (pró-
opiomelanocortina). Ainda, é sensível à luz, ao sono, ao stress, sendo maior concentrado no 
sangue durante as primeiras horas da vigília e essa concentração vai declinando ao longo do 
dia. O ACTH tem de 7 a 15 picos por dia, e os picos de cortisol ocorrem cerca de 15 minutos 
após as altas desse ACTH. O ACTH liga-se a receptores na adrenal, e, via proteína G, ativa a 
proteinocinase A, que catalisa a liberação de colesterol para a síntese dos hormônios 
esteróides; e também estimula o transporte desse colesterol para a membrana mitocondrial, 
onde será convertida em pregnenolona no citocromo P450. 
Por sua natureza lipofílica, o cortisol difunde-se facilmente pelas membranas celulares 
apresentando grande volume de distribuição, e é encontrado nos líquidos biológicos sob a 
forma conjugada ou ligado à proteínas (principalmente à alfa-globulina de ligação aos 
glicocorticóides, a transcortina). O resto do cortisol liga-se à albumina (20% a 50%) ou fica livre 
no plasma (1% a 10%), sendo a fração ativa do hormônio. Essas proteínas plasmáticas 
funcionam como tampões, já que uma simples diminuição da concentração livre do hormônio 
já promove a dissociação protéica. Tem meia-vida de 70 a 90 minutos. Seus receptores 
intracelulares são mais presentes no tecido adiposo, que participa ativamente no metabolismo 
dos hormônios esteroides pela conversão destes em outros. 
O fígado, principalmente, e os rins são os locais de inativação e eliminação ou 
catabolismo desses hormônios, sendo eliminados na forma conjugada, em compostos 
hidrofílicos. A forma de metabolização tem como produto final o tetraidrocortisol, um 17-
hidrocorticosteróide, podendo ser detectado na urina a fim de avaliar o estado da produção 
dos esteróides pela supra-renal. 
O cortisol penetra nas células por difusão passiva e liga-se ao receptor de 
glicocorticóides tipo II, alterando a transcrição de genes. Como todas as células possuem tal 
receptor, o efeito do cortisol é multissistêmico, envolvendo os sistemas metabólico, 
hemodinâmico, imunológico e o nervoso central. 
Quanto aos seus efeitos metabólicos, o cortisol: degrada proteína muscular e aumenta 
a excreção de nitrogênio, aumenta a gliconeogênese e os níveis plasmáticos de glicose, 
 
Matheus Vieira Gonçalves 
23 Resumo de Fisiologia Endócrina e Fisiopatologia Integrada 
aumenta a síntese hepática de glicogênio, diminui a utilização da glicose (ação antiinsulina), 
diminui a utilização de AAs, aumenta a mobilização de gorduras, redistribui a gordura, e tem 
efeitos permissivos sobre o glucagon e efeitos catecolamínicos. 
Sobre o sistema hemodinâmico ele mantém a integridade vascular e a reatividade, a 
responsividade aos efeitos pressores das catecolaminas e o volume hídrico. 
No sistema imune, o cortisol: aumenta a produção de citocinas antiinflamatórias, 
diminui a produção de citocinas pró-inflamatorias, diminui a inflamação ao inibir a produção 
de prostaglandinas e leucotrienos, inibe os efeitos inflamatórios da bradicinina e serotonina, 
diminui as contagens circulantes de eosinófilos, basófilos e linfócitos (efeito de redistribuição), 
compromete a imunidade mediada por célula, e aumenta as contagens dos neutrófilos, 
plaquetas e eritrócitos. 
No sistema nervoso central ele modula a percepção e emoção, além de diminuir a 
liberação do CRH, ACTH, GnRH, TSH e GH. 
Assim, afeta o metabolismo intermediário, estimula proteólise e gliconeogênese, inibe 
a síntese de proteínas musculares e aumenta a mobilização de AGs. Por seus efeitos no 
sistema imunológico, são usados no tratamento de doenças inflamatórias crônicas. 
Mineralocorticóides 
As células da zona glomerulosa da supra-renal sintetizam e secretam 
preferencialmente o mineralocorticóide aldosterona. Essa região não possui atividade da 17α-
hidroxilase, nem da 11β-hidroxilase, mas apresenta atividade da aldosterona sintase, 
responsável pela síntese do principal produto dessa zona. O controle da síntese e secreção da 
aldosterona é mediado pela angiotensina II e pelo potássio extracelular, bem como, em menor 
grau, pelo ACTH. 
Esse hormônio faz parte do sistema renina-angiotensina-aldosterona, responsável pela 
preservação da homeostasia circulatória em resposta a uma perda de sal e água. Assim, o 
principal estímulo fisiológico à liberação de aldosterona consiste em uma redução do volume 
sanguíneo intravascular efetivo. A ocorrência de declínio do volume sanguíneo leva à redução 
da pressão de perfusão renal, percebida pelo aparelho justaglomerular, deflagrando a 
liberação de renina, também regulada pela concentração de NaCl na mácula densa, pelas 
concentrações plasmáticas dos eletrólitos, pelos níveis de angio II e pelo tônus simpático. A 
renina catalisa a conversão do angiotensinogênio, uma proteína derivada do fígado, em 
angiotensina I. Esta é convertida em angiotensina II pelas células endoteliais, primariamente 
nos pulmões. O aumento da angio II circulante produz vasoconstrição arteriolar direta, mas 
também se liga ao receptor de angio II nas células adrenocorticais da zona glomerulosa, 
estimulando a liberação de aldosterona. 
A principal função fisiológica da aldosterona consiste em regular a reabsorção renal de 
sódio, interagindo no túbulo distal e ducto coletor do néfron, produzindo, também, aumento 
na excreção de potássio. Essa hipocalemia pode ser induzida pela ação da aldosterona através 
da excreção na urina, fezes, suor e saliva. Os efeitos específicos da aldosterona consistem em 
aumentar a síntese dos canais de Na+ na membrana apical, aumentar a síntese e atividade da 
 
Matheus Vieira Gonçalves 
24 Resumo de Fisiologia Endócrina e Fisiopatologia Integrada 
Na+/K+-ATP na membrana basolateral (que arrasta o Na+ citosólico para o interstício em troca 
de K+) e aumento da expressão da H+-ATPase na membranaapical e do trocador Cl+/HCO3- na 
basolateral das células intercaladas. Tais células expressam a anidrase carbônica e contribuem 
para a acidificação da urina e alcalinização do plasma. 
Androgênios 
As etapas iniciais na biossíntese da DHEA (desidroepiandrosterona) a partir do 
colesterol assemelham-se às envolvidas na síntese dos hormônios glicocorticóides e 
mineralocorticóides. Pode ser sintetizada diretamente a partir da 17α-pregnenolona, na zona 
reticulada, ou a partir da 17α-OH-progesterona em adrostenediona, na zona fasciculada. 
A DHEA é o hormônio circulante mais abundante do corpo, facilmente conjugado a seu 
éster sulfato DHEAS. Apesar de o ACTH estimular a secreção do DHEA, existe uma discrepância 
entre a secreção de glicocorticóides e androgênios, o que sugere a existência de um hormônio 
regulador adicional, ainda não caracterizado (estudos apontam para prolactina, IGF-I, 
derivados da POMC, entre outros). Exemplos dessa separação de regulação são a supressão de 
cortisol com dexametasona, na qual a DHEA cai somente 20%; e a adrenarca, que aumenta 
DHEA, mas não altera o cortisol. Os androgênios da supra-renal são convertidos em 
androstenediona e, a seguir, em potentes androgênios ou estrogênios nos tecidos periféricos. 
A importância dos androgênios derivados das glândulas supra-renais na produção global dos 
hormônios esteróides sexuais é ressaltada pelo fato de que cerca de 50% dos androgênios 
totais na próstata do homem adulto derivam de precursores esteróides supra-renais. 
Os conhecimentos atuais indicam que a presença de baixos níveis de DHEA está 
associada a doença cardiovascular nos homens e a risco aumentado de cânceres de mama e de 
ovário em mulheres na pré-menopausa. Por outro lado, os elevados níveis de DHEA podem 
aumentar o risco de câncer de mama pós-menopausa. De um modo geral, os efeitos 
fisiológicos da DHEA e do DHEAS ainda não foram totalmente elucidados e o benefício clínico 
de sua infusão no idoso aumentar os níveis de vários hormônios (como IGF-1, testosterona, e 
estradiol) também não foram claramente definidos. 
Hormônios da medula supra-renal 
 A medula pode ser considerada um gânglio do sistema nervoso simpático que, em 
resposta à estimulação neuronial pela acetilcolina, estimula a produção e liberação de 
catecolaminas. Os feocromócitos sintetizam e secretam a norepinefrina, epinefrina e, em 
menor grau, a dopamina, sendo a segunda secretada em maior escala que a primeira. As 
catecolaminas são sintetizadas a partir da tirosina, transportada ativamente nas células, onde 
sofre quatro reações citossólicas enzimáticas para sua conversão em epinefrina, que são: 
hidroxilação da tirosina em L-dopa, pela tirosina hidroxilase; descaborxilação da L-dopa em 
dopamina pela dopa descarboxilase; a hidroxilação da dopamina em norepinefrina pela 
dopamina β-hidroxilase; e a metilação da norepinefrina pela feniletanolamina N-
metiltransferase. Lembrando que há um controle de retroalimentação da atividade enzimática 
por seus produtos. 
 
Matheus Vieira Gonçalves 
25 Resumo de Fisiologia Endócrina e Fisiopatologia Integrada 
A liberação das catecolaminas representa uma resposta direta à estimulação nervosa 
simpática da medula supra-renal. A meia-vida das catecolaminas circulantes é curta e, uma 
fração destas circula ligada à albumina com baixa afinidade. O metabolismo das catecolaminas 
ocorre principalmente no citoplasma das mesmas células onde são sintetizadas após a 
liberação das vesículas citoplasmáticas, através da ação da MAO e da COMT, principalmente. O 
principal produto final dessa metabolização é o ácido vanililmandélico, que é, então, excretado 
na urina, sendo então importantes na detecção clínica dos tumores que produzem 
catecolaminas em excesso. 
A maioria dos receptores α-adrenérgicos exibem maior afinidade pela epinefrina do 
que pela norepinefrina ou isoproterenol, um agonista sintético. São subdivididos em α1 e α2, 
sendo cada um destes divididos, ainda, em três grupos. Os receptores β-adrenérgicos foram 
subclassificados em β1, β2 e β3, exibindo maior afinidade pelo isoprotenolol do que pela 
epinefrina (mais afinidade por esta que os receptores α) ou norepinefrina. Dentre os efeitos 
fisiológicos desencadeados, temos: 
α-adrenérgico β-adrenérgico 
Vasoconstrição Vasodilatação 
Broncoconstrição Broncodilatação 
Contração dos esfíncteres intestinais Relaxamento das paredes intestinais 
Contração dos esfíncteres vesicais Relaxamento das paredes vesicais 
Contração do músculo liso uterino Relaxamento do útero 
Produção hepática de glicose Glicogenólise 
Inotropismo Cronotropismo 
Contração pilomotora Calorigênese 
Dilatação da íris Lipólise 
 
As catecolaminas são liberadas como parte da resposta de estresse a uma agressão 
física ou psicológica, como perda grave de sangue, diminuição do nível da glicemia, lesão 
traumática, intervenção cirúrgica ou experiência desagradável. Como fazem parte do 
mecanismo de luta ou fuga, seus efeitos consistem em reatividade, alerta, dilatação das 
pupilas, piloereção, sudorese, dilatação brônquica, taquicardia, inibição da atividade do 
músculo liso do trato gastrointestinal, constrição dos esfíncteres e relaxamento do músculo 
uterino. A maioria dos eventos envolvidos no processo de lidar com uma situação estressante 
exige o gasto de energia. As catecolaminas asseguram a mobilização de substrato do fígado, 
músculo e da gordura, estimulando a degradação de glicogenólise e lipólise. Associa-se, então, 
o aumento de catecolaminas séricas com a elevação dos níveis plasmáticos de glicose e ácidos 
graxos. 
Fisiopatologia Integrada 
Um tumor de supra-renal (Cushing indepedente de corticotropina) ou a estimulação 
excessiva por ACTH endógeno ou sintético (Cushing dependente de corticotropina) pode 
causar um excesso de glicocorticóides, a síndrome de Cushing. Na síndrome de Cushing 
dependente de corticotropina, observamos hiperplasia bilateral de supra-renal, já que há uma 
estimulação excessiva do ACTH, ou da corticotropina, que pode ser produzida por carcinomas 
de pulmão. O termo doença de Cushing é reservado à síndrome de Cushing causada pela 
 
Matheus Vieira Gonçalves 
26 Resumo de Fisiologia Endócrina e Fisiopatologia Integrada 
secreção excessiva de corticotropina por tumores de corticotropos hipofisários e constitui a 
forma mais comum da síndrome. 
Clinicamente, a manifestação inicial mais comum do excesso de glicocorticóides 
consiste no início súbito de ganho ponderal, que costuma ser central, espessamento da 
gordura facial, conferindo a fáscies em lua cheia, aumento do coxim adiposo dorsocervical, a 
giba de búfalo, e aumento da gordura que sobressai da fossa supraclavicular. Também, 
observamos HAS, intolerância à glicose, diminuição da libido no homem e equimoses 
espontâneas, debilidade e fraqueza musculares. Para o diagnóstico, devemos nos atentar no 
exame de urina 24 horas, já que o cortisol apresenta picos durante o dia. O fármaco 
dextametasona é usado para determinação de qual o tipo de Cushing. Por ser um análogo 
sintético dos glicocorticóides, a diminuição dos níveis de ACTH irá determinar um Cushing 
dependente de corticotropina. Assim, observamos o seguinte quadro clínico do Cushing: 
 Obesidade de distribuição centrípeta (Tórax de búfalo; fácies em lua cheia): ação do 
cortisol sobre o metabolismo dos lipídeos promovendo a redistribuição centrípeta de 
gordura 
 Hipotrofia muscular: depleção de proteína do músculo. Ação antianabólica protéica 
 Estrias violáceas: estiramento da pele pela obesidade; adelgaçamento de pele e 
policitemia 
 Osteoporose: antagonismo à vitamina D; aumento de excreção de cálcio pelo rim; 
defeito na formação da matriz óssea protéica pela ação antianabolizante Arteriosclerose: aumento dos lipídeos e colesterol circulantes 
 Diabetes mellitus: aumento da gliconeogênese e antagonismo periférico à atuação da 
insulina 
 Distúrbios do comportamento, psicoses: ação sobre o SNC diminuindo o limiar de 
excitabilidade da célula nervosa 
 Dificuldade nas cicatrizações; tendências à infecções: diminuição da anticorpogênese; 
inibição da formação do fibroblasto 
 Equimoses: diminuição da espessura da pele tornando-a mais vulnerável aos 
traumatismos; Diminuição da resistência vascular 
 Alcalose com hipopotassemia: ação mineralocorticóide do cortisol retendo sódio e 
espoliando potássio 
 HAS: pela arteriosclerose, sensibilização das arteríolas às aminas pressoras e por 
aumento da volemia pela retenção de sódio 
 Sintomas dispépticos dolorosos (úlcera péptica): aumento da acidez gástrica e 
hiperprodução de pepsina 
 Virilismo e alterações do ciclo menstrual: ação dos androgênios; conversão do excesso 
de androgênios em testosterona 
 Déficit de crescimento: na infância; falência do cresimento longitudinal do osso por 
efeito antianabolizante na matriz óssea protéica 
 Tromboembolismo: aumento dos fatores V, VIII e protrombina 
A deficiência de glicocorticóides pode resultar da falta de estimulação da produção 
supra-renal de glicocorticóides pelo ACTH (secundária) ou de disfunção supra-renal (primária). 
 
Matheus Vieira Gonçalves 
27 Resumo de Fisiologia Endócrina e Fisiopatologia Integrada 
O tratamento consiste na administração de análogos glicocorticóides. Entretanto, a retirada do 
medicamento não pode ser súbita, pois causaria insuficiência supra-renal (pelo baixo ACTH). A 
deficiência de glicocorticóides devido a uma hipofunção da supra-renal é conhecida como 
doença de Addison, que pode resultar da destruição auto-imune da glândula supra-renal ou 
de erros inatos na síntese dos hormônios esteróides. O quadro segue com: 
 Pigmentação: diminuição da secreção de cortisol e conseqüente aumento da liberação 
do hormônio estimulante de melanócitos, derivado da POMC, e, também, pelo 
estímulo do ACTH, que possui seqüência de aminoácidos inicial igual à do MSH. 
 Astenia e fatigabilidade: deficiência de cortisol; anemia; hipotensão 
 Emagrecimento: anorexia e desidratação por perda de sal por deficiência de 
mineralocorticóides 
 Hipotensão arterial: hipovolemia por perda de sal – hipoaldoteronismo primário 
 Manifestações hipoglicêmicas: deficiência de cortisol; diminuição do limiar para 
hipoglicemias 
 Sintomas gastrintestinais: deficiência de cortisol promovendo diminuição marcada das 
células parietais e conseqüente hipocloridria. Aumento da incidência de 
colecistopatias; alteração da motilidade intestinal com diarréia ou prisão de ventre 
 Estados sincopais ou vertiginosos: hipovolemia 
 Diminuição de pêlos: diminuição de androgênios 
 Amenorréia: perda de peso – caquexia 
 Impotência: debilidade orgânica 
O hiperaldosteronismo primário (ou síndrome de Conn) é um distúrbio em que 
tumores benignos autônomos da supra-renal hipersecretam aldosterona. Desenvolve-se 
hipertensão e hipocalemia. O hiperaldo secundário é fenômeno dependente de renina. Uma 
redução do volume arterial efetivo, em decorrência de outros estados patológicos, como ascite 
ou insuficiência cardíaca, leva a uma estimulação contínua do sistema RAA. Já o hiperaldo 
terciário (ou síndrome de Bartter) é devido ao hiper-reninismo reativo, distúrbio genético 
renal, que leva à perda de NaCl, levando a um aumento de renina compensatório. O pseudo-
hiperaldosteronismo refere-se à ativação permanente dos receptores de mineralocorticóides 
por substâncias diferentes da aldosterona, sendo conhecida como síndrome do excesso 
aparente de mineralocorticóides. 
O hipoaldosteronismo primário está acoplado à doença de Addison, já descrita. O 
secundário pode ser devido à estimulação inadequada da secreção de aldosterona 
(hipoaldosteronismo hiporreninêmico), apesar da função supra-renal normal. Tal condição é 
habitualmente associada à insuficiência renal. O pseudo-hipoaldosteronismo é uma doença 
herdada, caracterizada por grave perda de sal neonatal, hipercalemia, acidose metabólica e 
não-responsividade à ação dos hormônios mineralocorticóides. 
Com base na coloração histoquímica, as células endócrinas do sistema 
simpaticoadrenal são denominadas células cromafins, e os tumores que surgem a partir de tais 
células são conhecidos como feocromocitomas, os quais produzem catecolaminas, e os 
pacientes apresentam sinais dos efeitos de excesso de catecolaminas, como hipertensão 
sustentada ou paroxística associada com cefaléia, sudorese ou palpitações. 
 
Matheus Vieira Gonçalves 
28 Resumo de Fisiologia Endócrina e Fisiopatologia Integrada 
PÂNCREAS ENDÓCRINO 
Insulina 
A pré-pró-insulina sofre clivagem de seu peptídeo sinalizador durante a inserção no 
retículo endoplasmático, gerando pró-insulina, que possui um peptídeo de conexão na parte 
central, conhecido como peptídeo C. Este liga as cadeias α e β de cada extremidade da pró-
insulina, permitindo, sobre seu próprio eixo, o dobramento apropriado da molécula e a 
formação de pontes de dissulfeto. Os pró-hormônios convertases, endopeptidases específicas 
presentes no retículo endoplasmático, clivam o peptídeo C deixando uma estrutura apenas 
com as cadeias supracitadas ligadas por interações químicas, também já mencionadas, nos 
dando, finalmente, a insulina. O peptídeo C junto à insulina é armazenado juntos em vesículas 
formadas pelo complexo de Golgi, e apenas 5% desses grânulos estão disponíveis a serem 
liberados instantaneamente sob estímulo. Em conseqüência, a liberação de insulina em 
resposta à glicose é bifásica com a rápida liberação inicial de insulina pré-formada e 
armazenada nos grânulos, seguida de liberação mais sustentada de insulina recém-sintetizada, 
que ainda será processada no complexo de Golgi. A insulina circula livre no plasma, tem meia-
vida de 3 minutos, e é degradada, principalmente, pelo fígado, que extrai de 40% a 80% do 
hormônio em sua primeira passagem. O restante é degradado nos rins e no meio intracelular. 
A liberação de insulina durante o dia é de natureza pulsátil e rítmica, sendo esta 
característica essencial à supressão da produção hepática de glicose e ao processamento da 
glicose mediado pela insulina no tecido adiposo. Ainda, sua liberação aumenta após uma 
refeição, em reposta à elevação dos níveis plasmáticos de glicose e aminoácidos. Assim, as 
células β do pâncreas funcionam como sensores de energia que respondem a mudanças nos 
níveis plasmáticos dos substratos energéticos, liberando insulina em resposta a sinais 
integrados dos nutrientes (glicose, aminoácidos, e, com menor efeito secretagogo, os ácidos 
graxos), hormônios (insulina, peptídeo semelhante ao glucagon-1, somatostatina e epinefrina) 
e neurotransmissores (norepinefrina e acetilcolina). Além de ser o principal estímulo para a 
insulina, a glicose tem efeitos permissivos sobre os outros reguladores do hormônio. A glicose 
penetra na célula β através da GLUT 2, entrando no processo de glicólise e formando acetil 
CoA e ATP. O aumento dos níveis de ATP fecha os canais de potássio sensíveis ao ATP, 
reduzindo o efluxo do íon, e desencadeando um potencial de membrana, que com a 
despolarização irá aumentar o influxo de cálcio, que promoverá a exocitose das vesículas com 
insulina para a circulação. Entre as substancias que aumentam a liberação de insulina em 
resposta à glicose, encontramos a acetilcolina, a colecistocinina, o peptídeo gastrintestinal e o 
peptídeo semelhante ao glucagon-1 (GLP-1). Enquanto isso, as catecolaminas e a 
somatostatina inibem essa secreção. Quanto à resposta bifásica, é dividida emsecreção de 
primeira fase, que dura minutos e atinge um pico e declina muito rapidamente; e secreção de 
segunda fase, que estende-se por horas e atinge um platô. 
Dentre os efeitos sobre o metabolismo dos carboidratos, a insulina estimula o 
transporte da glicose através da membrana celular do tecido adiposo e no músculo, aumenta a 
taxa de glicólise nesses mesmos tecidos, e a síntese de glicogênio no fígado e tecido muscular; 
inibe a glicogenólise no músculo, tecido adiposo e no fígado, que também tem sua 
gliconeogênese diminuída. Sobre o metabolismo de lipídeos, aumenta a síntese de ácidos 
graxos e triacilglicerol nos tecidos, além da captação desses mesmos a partir do sangue no 
 
Matheus Vieira Gonçalves 
29 Resumo de Fisiologia Endócrina e Fisiopatologia Integrada 
músculo e no tecido adiposo (realiza essas ações no sentido de armazenamento, sob a forma 
de triglicerídeos), e aumentar a velocidade de síntese do colesterol no fígado; inibe a lipólise 
no tecido adiposo, diminuindo os níveis plasmáticos de ácidos graxos, reduz a oxidação desses 
ácidos no músculo e no fígado, e inibe a cetogênese. Já sobre o metabolismo de proteínas, 
aumenta o transporte de aminoácidos para os tecidos, e também aumenta a síntese protéica 
no músculo, tecido adiposo, fígado e outros tecidos; inibe a degradação protéica no músculo e 
a formação de uréia. Como efeitos secundários e menos relevantes, ainda, a insulina promove 
vasodilatação, através do aumento da produção de NO, aumenta a reabsorção de sódio, e 
ativa o simpático, via sistema nervoso central, gerando um equilíbrio no controle da pressão 
arterial. 
O número de receptores disponíveis de insulina é modulado pelo exercício, pela dieta, 
pela insulina e por outros hormônios. A exposição crônica a níveis elevados de insulina, a 
obesidade e o excesso de hormônio do crescimento levam a uma infra-regulação desses 
receptores, enquanto o exercício e a inanição exercem uma supra-regulação no número de 
receptores. A afinidade do receptor pela insulina aumenta depois de um período de níveis 
diminuídos do hormônio, bem como durante a insuficiência supra-renal, reforçando a idéia 
que o cortisol diminui a sensibilidade à insulina. Segue um quadro com os transportadores de 
glicose no organismo: 
Transportador Expressão Função 
GLUT-1 Onipresente, com níveis particularmente 
elevados nos eritrócitos humanos e nas 
células endoteliais que revestem os vasos 
sanguíneos do cérebro. Expresso no músculo 
esquelético e no tecido adiposo. 
Captação de glicose pelo 
músculo esquelético e 
gordura em condições 
basais. 
GLUT-2 Transportador de glicose de baixa afinidade, 
presente nas células β do pâncreas, fígado, 
intestino e rins. 
Funciona no sistema 
sensor de glicose e 
assegura que a captação 
de glicose pelas células β 
do pâncreas e pelos 
hepatócitos só ocorra 
quando os níveis 
circulantes de glicose 
estiverem elevados. 
GLUT-3 Primariamente nos neurônios Juntos, GLUT-1 e GLUT-3 
são cruciais para que a 
glicose possa atravessar a 
barreira hematoencefálica 
e penetrar nos neurônios. 
GLUT-4 Predominantemente no músculo estriado e no 
tecido adiposo. Diferentemente das outras 
GLUTs, primariamente localizadas na 
membrana celular, as GLUT-4 são 
seqüestradas em vesículas de armazenamento 
especializadas que permanecem no interior da 
célula em condições basais. 
Principal transportador 
responsivo à insulina. 
GLUT-5 Espermatozóide e intestino delgado Predominantemente um 
transportador de frutose. 
 
Matheus Vieira Gonçalves 
30 Resumo de Fisiologia Endócrina e Fisiopatologia Integrada 
Glucagon 
Hormônio polipeptídico secretado pelas células α das ilhotas de Langerhans, 
desempenha um importante papel na regulação da homeostasia dos nutrientes através de 
efeitos antagonistas sobre a ação da insulina. É sintetizado na forma de pró-glucagon, e sua 
clivagem pode originar o próprio glucagon, como acontece nas células α, ou gerar o GLP-1, nas 
células intestinais, que é produzido em resposta a uma concentração elevada de glicose no 
lúmen intestinal e amplifica a liberação de insulina em resposta a essa carga de glicose. 
A liberação do glucagon é estimulada pela hipoglicemia, pela epinefrina (via 
mecanismo β2-adrenérgico, que concomitantemente inibe a liberação de insulina nas células 
β, por um mecanismo α2-adrenérgico) e pela estimulação vagal (parassimpático); e é inibida 
pela hiperglicemia, pela somatostatina e por refeições ricas em carboidratos. Por outro lado, 
uma refeição rica em aminoácidos estimula a liberação do glucagon. 
O fígado e o tecido adiposo constituem os principais tecidos-alvo do glucagon, e seu 
principal efeito fisiológico é de aumentar as concentrações plasmáticas de glicose, estimulando 
a gliconeogênese e a glicogenólise, e inibindo a glicólise ou glicogênese, através de ações sobre 
as enzimas envolvidas nesses processos no fígado. No tecido adiposo, ativa a lipase sensível a 
hormônio, que degrada os triglicerídeos armazenados em ácidos graxos livres e glicerol que 
são liberados no sangue. esse glicerol será utilizado no fígado para a produção de nova glicose 
ou para sofrer β-oxidação, e serem convertido em corpos cetônicos. 
Somatostatina 
Hormônio peptídico produzido pelas células δ do pâncreas, estimulada por refeições 
ricas em carboidratos, em gorduras e em proteínas, sendo inibida pela insulina. Exerce efeito 
inibitório generalizado em praticamente todas as funções gastrintestinais e dos pâncreas 
endócrino e exócrino. 
Polipeptídeo Pancreático 
 Produzido nas células F, localizadas na periferia das ilhotas, é liberado na circulação 
após ingestão de alimento, exercício e estimulação vagal. Entre seus efeitos, temos a inibição 
da secreção pancreática exócrina, contração da vesícula biliar, estimulação de glicocorticóides, 
modulação da secreção de ácido gástrico e da motilidade gastrintestinal. Por atravessar a 
barreira hematoencefálica, parece ter conexão com o comportamento alimentar. 
Amilina 
 Hormônio peptídico que é armazenado em grânulos nas células β juntamente à 
insulina e ao peptídeo C. As concentrações de amilina aumentam após refeição ou infusão de 
glicose, atuando com a insulina na regulação da glicemia, supressão da liberação pós-prandial 
de glucagon e diminuição do tempo de esvaziamento gástrico. No músculo, opõe-se à 
glicogênese, bem como ativa a glicogenólise e a glicólise aumentando, assim, a produção de 
lactato. Apresenta-se aumentada na obesidade, na hipertensão e na diabetes gestacional, 
enquanto está em baixa na diabetes tipo I. 
 
Matheus Vieira Gonçalves 
31 Resumo de Fisiologia Endócrina e Fisiopatologia Integrada 
Fisiopatologia Integrada 
 Entre os tumores produtores de hormônios, o mais comum é o insulinoma, que pela 
quantidade excessiva de insulina produzida, temos, como resposta compensatória, liberação 
de catecolaminas, glucagon, cortisol e GH. Desse modo, os sintomas apresentados são 
epsódios de hipoglicemia, confusçao, agressividade, palpitações, sudorese, convulsões e 
mesmo a perda de consciência, sendo observados normalmente antes do desjejum e após 
exercícios físicos. 
O diabetes tipo I, ou diabetes melito insulino-dependente, resulta da destruição das 
células β. Caracteriza-se pelo desenvolvimento da cetoacidose diabética na ausência de 
insulinoterapia. Já o diabetes tipo II resulta da perda da regulação normal da secreção de 
insulina e, em geral, ocorre em adultos obesos, caracterizando-se por leve hiperglicemia, 
raramente levando à cetoacidose. Com freqüência, está relacionada com a síndrome 
metabólica, doença caracterizada por hipertensão, aterosclerose e obesidade central. O 
diagnóstico de diabetes baseia-se nos níveis plasmáticos deglicose obtidos em jejum 
superiores a 126 mg/dL, ou glicose randômica de 200 mg/dL em associação a sintomas de 
diabetes, como poliúria, polifagia e polidipsia. O comprometimento da entrada de glicose na 
célula eleva a glicemia, o que resulta no aumento da osmolaridade plasmática e perda de 
glicose na urina (glicosúria), que é acompanhada de uma perda excessiva de água (poliúria). 
Temos, consequentemente, uma desidratação, que será percebida pelo centro da sede no 
hipotálamo, gerando sede (polidipsia). Apesar da hiperglicemia, essa glicose não penetra na 
célula, gerando um estado de inanição celular, que é traduzido pelo corpo como fome 
(polifagia). Assim, disparam-se respostas de liberação de outros substratos energéticos, como 
ácidos graxos e aminoácidos, que excedem a capacidade hepática de metabolização, o que 
leva a formação de corpos cetônicos. Sua elevação sérica aumentará sua excreção urinária e 
induzirá a cetoacidose diabética. 
A cetoacidose diabética é um evento patológico agudo caracterizado por níveis 
elevados de glicemia, corpos cetônicos e acidose metabólica, que resulta diretamente de um 
disponibilidade diminuída de insulina e elevações simultâneas dos hormônios contra-
reguladores. Pode ser precipitada por infecções, interrupção ou uso inadequado da insulina, 
diabetes de início recente, não-tratada, e outros eventos, como estresse associado à cirurgia. A 
fim de combater a acidose metabólica, observa-se uma hiperpnéia reacional típica, a 
respiração de Kussmaul, que são inspirações e expirações profundas, intercaladas com 
períodos de apnéia. 
A resistência insulínica refere-se à incapacidade dos tecidos-alvo periféricos de 
responder apropriadamente a concentrações circulantes normais de insulina. Para manter a 
euglicemia, o pâncreas compensa através da secreção de quantidades aumentadas de insulina, 
o que só é efetivo temporariamente, já que gradativamente irá haver uma falência das células 
β, culminando numa diabetes tipo II. A resistência insulínica é a base fisiopatológica da 
síndrome metabólica. 
 
Matheus Vieira Gonçalves 
32 Resumo de Fisiologia Endócrina e Fisiopatologia Integrada 
SISTEMA REPRODUTOR MASCULINO 
Os testículos secretam diversos hormônios sexuais masculinos, os androgênios, entre 
eles destacam-se a testosterona, a diidrotestosterona (DHT) e androstenediona. A 
testosterona é a mais abundante, embora quase toda ela seja convertida nos tecidos-alvo em 
DHT, pela 5alfa-redutase intracelularmente, um andrógeno mais ativo. A testosterona é 
formada pelas células intersticias de Leydig, que se situam no interstício entre os túbulos 
seminíferos e constituem aproximadamente 20% da massa dos testículos adultos. Os 
androgênios também podem ser produzidos em outros locais do corpo, como na adrenal, mas 
com pouco efeito masculinizante. Todos os androgênios são compostos esteroidais, e podem 
ser sintetizados a partir do colesterol ou diretamente a partir da acetilcoenzima A. 
Após a secreção pelos testículos, aproximadamente 97% da testosterona liga-se 
fracamente à albumina plasmática ou se liga mais fortemente a uma betaglobulina chamada 
de globulina ligada ao hormônio sexual. Circula de 30 minutos a várias horas e, então, é 
transferida para os tecidos ou é degradada. No fígado é metabolizada, e excretada pela bile ou 
pela urina. Os hormônios femininos têm distribuição e metabolização semelhantes. 
A diferenciação sexual masculina é determinada pela ativação do gene da região de 
determinação do sexo no cromossomo Y, o SRY, que diferencia a gônada bipotencial em 
testículo. Na 7ª semana de vida, sob o estímulo da gonadotropina coriônica proveniente da 
placenta, a testosterona começa a ser elaborada pelos testículos fetais masculinos. Nessa fase 
fetal, a testosterona tem a simples função de desenvolver os caracteres sexuais masculinos 
primários, ao invés dos femininos, através do desenvolvimento e diferenciação dos ductos de 
Wolff, que originarão o epidídimio, as vesículas seminais e o ducto deferente. Enquanto isso, 
as células de Sertoli produzem o hormônio antimülleriano, que induzem a regressão dos 
ductos de Müller, que dariam origem ao útero, tubas uterinas, colo do útero e vagina. Nos 
últimos 2 a 3 meses de gestação, a testosterona e o fator de crescimento semelhante à 
insulina 3 (também produzido nas células de Leydig) promovem a descida dos testículos pelo 
canal inguinal. 
Após a puberdade, quantidades crescentes de secreção de testosterona fazem com 
que o pênis, o saco escrotal e os testículos aumentem de tamanho. Ainda, induz o crescimento 
de pêlos sobre o púbis, no abdome e tórax, na face, axila e costas. A testosterona reduz o 
crescimento de cabelos no topo da cabeça, mas a calvície depende também de fatores 
genéticos. Produz hipertrofia da mucosa laríngea e alargamento da laringe. Aumenta a 
espessura da pele de todo o corpo, a rigidez do tecido subcutâneo, a taxa de secreção das 
glândulas sebáceas (podendo levar à acne). Aumenta a formação de proteínas por todo o 
corpo (inclusive no músculo, levando ao desenvolvimento muscular). Aumenta a matriz óssea 
e induz a retenção de cálcio no osso (alongando rapidamente e acelerando o processo de 
união da epífise com o resto do osso). Aumenta a taxa basal de metabolismo (resultado do 
anabolismo protéico), e assim, aumenta o número absoluto de hemácias. Por último, aumenta 
a reabsorção de sódio nos túbulos distais renais. Desse modo, podemos dizer que a maioria 
dos efeitos da testosterona resulta basicamente da taxa aumentada de formação de 
proteínas nas células-alvo. 
 
Matheus Vieira Gonçalves 
33 Resumo de Fisiologia Endócrina e Fisiopatologia Integrada 
O GnRH é produzido pelo núcleo arqueado e liberado na eminência mediana do 
hipotálamo na circulação porta hipotalâmico-hipofisário, chegando à adeno-hipófise e 
estimulando a liberação de LH e FSH. É secretado durante poucos minutos, 
intermitentemente, a cada 1 a 3 horas, e o LH segue fielmente essa alteração, enquanto o FSH 
varia ligeiramente com essa liberação. 
A quantidade de testosterona aumenta diretamente proporcional à quantidade de LH, 
já que este é seu principal estímulo de liberação. Além disso, o LH também induz a formação 
de novas células de Leydig, de modo a aumentar a secreção da testosterona. Essa 
testosterona, quando em grandes quantidades, tem sua alça de feedback negativo 
principalmente sobre o GnRH, no hipotálamo. Enquanto isso, o FSH liga-se a receptores 
específicos associados às células de Sertoli nos túbulos seminíferos. Isto faz com que essas 
células cresçam e secretem várias substâncias espermatogênicas. Também, a testosterona 
que se difunde para o interstício do túbulo seminífero também estimula a espermatogênese. 
Quando o fenômeno da espermatogênese ocorre, há produção do hormônio inibina pelas 
células de Sertoli, podendo até ser utilizada como índice dessa espermatogênese. Essa inibina 
atua num feedback negativo sobre a hipófise anterior, exatamente sobre o FSH, seu principal 
estímulo. 
Na infância, a pequena produção de qualquer hormônio esteroidal exerce um efeito 
inibitório intenso sobre o GnRH, de modo que a testosterona não é produzida. Entre 10 e 13 
anos, o GnRH consegue vencer a inibição infantil e dispara a puberdade. 
Fisiopatologia Integrada 
O excesso de atividade androgênica na infância leva à puberdade precoce, definida 
pelo aparecimento de caracteres sexuais secundários masculinas antes dos 9 anos de idade, 
podendo isto ser causado por tumores hipotalâmicos, mutações de ativação do receptor de 
LH, hiperplasia de supra-renal congênita e tumores produtores de androgênios. 
Em contrapartida, a baixa produção de hormônios sexuais masculinos podem ser 
divididas em duascategorias: o hipogonadismo hipergonadotrófico, ou primário, por déficit 
de produção no próprio testículo, com altos níveis de GnRH; e o hipogonadismo 
hipogonadotrófico, ou secundário, quando a produção do GnRH está deficiente. O 
hipogonadismo se manifestando no início da puberdade resulta em baixa estatura, ausência da 
mudança de voz, distribuição feminina dos pêlos secundários, anemia, músculos 
subdesenvolvidos e genitália com início tardio ou ausente da espermatogênese e função 
sexual. Já a deficiência de androgênios no adulto, após a virilização normal, leva a uma 
diminuição da densidade óssea, redução da atividade da medula óssea com conseqüente 
anemia, alterações da composição corporal associadas à fraqueza e atrofia musculares, 
alterações do humor e da função cognitiva, bem como regressão da função sexual e 
espermatogênese. Há, ainda, diminuição das ereções noturnas e da libido. 
A síndrome de Klinefelter constitui o distúrbio mais comum dos cromossomos sexuais, 
em que os indivíduos do sexo masculino afetados apresentam um cromossomo X adicional. É a 
causa genética mais comum de infertilidade nos seres humanos, e cursa com hipogonadismo 
masculino, deficiência de androgênio e comprometimento da espermatogênese. 
 
Matheus Vieira Gonçalves 
34 Resumo de Fisiologia Endócrina e Fisiopatologia Integrada 
A hiperprolactinemia de qualquer etiologia resulta em disfunção tanto reprodutora 
quanto sexual devido à inibição da liberação de GnRH pela prolactina, resultado em 
hipogonadismo hipogonadotrópico. 
Uma observação pertinente de se fazer neste momento é que grande parte dessa 
fisiopatologia pode ocorrer também para o sexo feminino, guardada as devidas alterações. O 
hipogonadismo hiper ou hipogonadotrófico é comum à ambos os sexos, mas eles são mais 
discutidos nesse capítulo, deixando uma abordagem superficial para o próximo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Matheus Vieira Gonçalves 
35 Resumo de Fisiologia Endócrina e Fisiopatologia Integrada 
SISTEMA REPRODUTOR FEMININO 
Regulação da função ovariana pelas gonadotropinas 
A liberação pulsátil do hormônio de liberação das gonadotropinas (GnRH) do 
hipotálamo estimula a liberação hipofisária pulsátil do hormônio luteinizante (LH) e do 
hormônio folículo estimulante (FSH), que estimulam a produção de hormônios ovarianos, o 
estradiol e a progesterona. Assim, temos uma resposta cíclica da função ovariana, com cada 
ciclo durando, geralmente, 28 dias. O FSH é responsável pelo recrutamento e crescimento dos 
folículos, bem como pela síntese do estrogênio durante a fase folicular do ciclo ovariano. 
Antes da seleção do folículo para ovulação, as células da granulosa respondem apenas ao FSH. 
À medida que progride a maturação folicular, ocorre um aumento do AMPc no interior da 
célula, o que promove uma supra-regulação dos receptores de LH, permitindo a este atuar 
como substituto do FSH nas células da granulosa. O LH é responsável pela ovulação e pela 
formação do corpo lúteo, bem como pela produção de progesterona e estrogênio por este 
corpo durante o início e a metade da fase lútea do ciclo menstrual. 
Síntese dos hormônios ovarianos 
 A produção de estrogênio envolve as atividades enzimáticas coordenadas entre as 
células da granulosa e as células da teca do folículo ovariano, que se associam durante o 
crescimento do folículo. Desse modo, os androgênios sintetizados pelas células da teca são 
aromatizados em estradiol pelas células da granulosa. 
Os androgênios femininos derivam das glândulas supra-renais, dos ovários e da 
conversão periférica. Essa conversão de testosterona em diidrotestosterona nos tecidos 
periféricos é limitada nas mulheres devido a níveis mais elevados da globulina de ligação dos 
hormônios sexuais em comparação com os homens, bem como à conversão periférica em 
estrogênio pela aromatase, protegendo a mulher da virilização pela diidrotestosterona. 
O surto pré-ovulatório do LH resulta em luteinização das células da granulosa e da 
teca, alterando a via da esteroidogênese, de modo que a progesterona constitui o principal 
hormônio esteróide sintetizado por cada um desses tipos celulares após a luteinização. Isso se 
dá pelo aumento da expressão das enzimas envolvidas na conversão do colesterol em 
progesterona, e pela expressão diminuída das enzimas que convertem a progesterona em 
estrogênios. 
A produção de inibina pelas células da granulosa dos folículos maduros é regulada pelo 
FSH e LH, bem como, localmente, de modo autócrino e parácrino por fatores de crescimento e 
hormônios. As inibinas contribuem para a regulação da liberação de LH e FSH através de 
retroalimentação na adeno-hipófise. Na prática clínica, a inibina B é um bom marcador de 
função das células da granulosa sob o controle do FSH, enquanto a inibina A é um marcador da 
função do corpo lúteo sob controle do LH. A produção de ativina pelas células da granulosa 
modifica-se durante a foliculogênese, e seus efeitos são basicamente parácrinos, promovendo 
a proliferação das células da granulosa, supra-regulando a expressão de receptores de FSH 
sobre as células da granulosa e modulando a esteroidogênese nas células da granulosa e da 
teca. A folistatina, proteína de ligação da ativina, é produto das células da granulosa; neutraliza 
os efeitos da ativina sobre a esteroidogênese. 
 
Matheus Vieira Gonçalves 
36 Resumo de Fisiologia Endócrina e Fisiopatologia Integrada 
Ciclo Ovariano 
A maior parte dos ovócitos humanos presentes durante o desenvolvimento uterino 
sofre atresia através do processo de apoptose, liberando apenas um único ovócito maduro por 
mês. A fase folicular começa no primeiro dia do ciclo (primeiro dia de menstruação) e 
corresponde ao crescimento e desenvolvimento de um folículo dominante. Na metade do 
ciclo, os níveis crescentes de estrogênio estimulam um surto de liberação de LH, resultando 
em ovulação em 36 horas. Após a ovulação, na fase lútea, os remanescentes do folículo 
ovulatório formam o corpo lúteo, órgão endócrino transitório que produz estradiol, 
progesterona e inibina A, e que se encontra sob a regulação do LH. O término da fase lútea 
caracteriza-se pela regressão do corpo lúteo e a respectiva queda de seus hormônios. 
Na fase folicular, o folículo dominante produz altas concentrações de 17β-estradiol e 
de inibina B. À medida que aumentam, as concentrações de estradiol atuam sobre o 
hipotálamo e a hipófise, bem como estimulam os pulsos de LH, que vai estimular o 
desenvolvimento folicular, induzir a ovulação, e diminuir a secreção de FSH pela hipófise. O 
surto de LH que ocorre na metade do ciclo resulta da retroalimentação positiva do estradiol 
em decorrência do aumento da responsividade das células gonadotrópicas ao GnRH, aumento 
do número de receptores do GnRH e surto de GnRH, desencadeado pelo efeito da elevação do 
estradiol sobre o hipotálamo. A progesterona também exerce retroalimentação positiva. 
O surto nos níveis de LH induz à ovulação e promove a sobrevida do corpo lúteo 
durante a fase lútea. Após a ovulação, com o desenvolvimento do corpo lúteo, as 
concentrações circulantes elevadas de progesterona, produzidas pelo corpo lúteo, suprimem a 
freqüência e amplitude de liberação do LH, a nível hipotalâmico, pela inibição da liberação de 
GnRH, e a nível hipofisário, pela diminuição na expressão dos receptores de GnRH nessa 
glândula, resultando em seu declínio global. Assim, com a queda de GnRH e LH, é possível um 
enriquecimento das células gonadotrópicas com FSH, secretado após a lise do corpo lúteo. É 
importante notar que a progesterona apenas retarda, e não impede, a luteólise, por suprimir 
os surtos de LH; por conseguinte,a não ser que o corpo lúteo seja estimulado pela 
gonadotropina coriônica humana, cedo ou tarde haverá regressão desse corpo. 
Antes de começarmos a falar de ovulação, formação do corpo lúteo e luteólise, 
recomenda-se ao aluno que releia sobre a ovogênese. Como são assuntos muito mais 
embriológicos do que fisiológicos, não serão abordados aqui. Ainda, não será discutida a 
fertilização e a implantação do embrião. 
A ovulação envolve a ruptura da parede do folículo na superfície do ovário, liberando o 
ovócito e a coroa radiada na cavidade peritoneal, próximo à abertura das tubas uterinas. 
Durante todo o estágio pré-ovulatório, o ovócito torna-se competente para sofrer meiose, as 
células da granulosa adquirem a capacidade de produzir estrogênios e responder ao LH através 
do receptor de LH, e as células da teca começam a sintetizar quantidades de androgênios que 
atuam como substratos para a enzima aromatase nas células da granulosa. O surto pré-
ovulatório de LH começa 36 horas antes da ovulação, e estimula a retomada da meiose até a 
segunda metáfase meiótica após a expulsão do primeiro corpúsculo polar antes da ovulação. A 
meiose é novamente interrompida e, a seguir, concluída com a liberação do segundo 
corpúsculo polar após a fertilização. 
 
Matheus Vieira Gonçalves 
37 Resumo de Fisiologia Endócrina e Fisiopatologia Integrada 
O surto de liberação de LH determina a reorganização do folículo e a formação do 
corpo lúteo. Com a ruptura do folículo (após a ovulação), a ocorrência de pequena quantidade 
de sangramento na cavidade antral provoca a formação do corpo hemorrágico e invasão por 
macrófagos e células mesenquimais, levando à revascularização do corpo lúteo. Essa glândula 
endócrina temporária continua produzindo e secretando progesterona e estradiol, 
desempenhando um papel-chave na regulação do tempo do ciclo ovariano, mantendo a 
gestação nos estágios iniciais e suprimindo a liberação de LH e FSH através da inibição da 
liberação de GnRH. 
A luteólise refere-se ao processo de lise ou regressão do corpo lúteo, marcando o 
término do ciclo reprodutivo feminino. Envolve um declínio inicial da secreção de 
progesterona, seguido de alterações na estrutura celular, levando à involução gradual do 
corpo lúteo com a formação de uma pequena cicatriz de tecido conjuntivo conhecida como 
corpo albicans. Isso se não houver fertilização em 1 a 2 dias após a ovulação. 
Ciclo Endometrial 
O ciclo ovariano é acompanhado de crescimento cíclico e descamação do endométrio, 
controlados pelo estrogênio e pela progesterona. Podem-se identificar três fases distintas no 
endométrio durante o ciclo menstrual. 
A fase proliferativa corresponde à fase folicular do ovário, caracterizando-se pela 
proliferação das células epiteliais do endométrio induzida pelos estrogênios e supra-regulação 
da expressão dos receptores de estradiol e progesterona para atingir um pico por ocasião da 
ovulação. É começo da maturação endometrial para a implantação do embrião. Cursa com 
hipertrofia relativa da mucosa do útero. 
A fase secretora corresponde à fase lútea do ovário e caracteriza-se pela diferenciação 
induzida pela progesterona das células epiteliais endometriais em células secretoras. Observa-
se um curto período bem definido de receptividade do útero para a implantação do embrião, a 
janela de implantação. 
A fase menstrual caracteriza-se pela descamação do endométrio em decorrência de 
proteólise e isquemia de sua camada superficial, graças à perda da integridade das membranas 
dos lisossomas, que ataca a mucosa hipertrofiada. A vasoconstrição que gera a isquemia, 
resulta em ruptura dos capilares, levando ao sangramento. 
Síntese do Ciclo Mensal Feminino 
Em virtude de sua alta complexidade, faz-se necessária uma revisão sobre todo o ciclo, 
apesar de ser um pouco repetitivo. 
Durante os primeiros dias do ciclo, as concentrações dos hormônios hipofisários 
aumentam leve a moderadamente, sendo o aumento do FSH maior. Esse mesmo hormônio 
estimula o crescimento acelerado de 6 a 12 folículos primários por mês. Esse desenvolvimento 
rápido leva ao surgimento de várias novas camadas celulares, entre elas a teca interna (que 
secreta progesterona e androgênio, sendo este posteriormente convertido em estrogênio na 
granulosa) e a teca externa (cápsula do folículo altamente vascularizada). Tal crescimento 
 
Matheus Vieira Gonçalves 
38 Resumo de Fisiologia Endócrina e Fisiopatologia Integrada 
inicial provocado exclusivamente pelo FSH, depois da fase antral ganha um reforço. O 
estrogênio acumulado no folículo aumenta a sensibilidade das células granulosas ao FSH 
(maior número de receptores), fazendo um feedback positivo para tal hormônio; além desse 
mesmo estrogênio se combinar a esse FSH para promover receptores de LH nas células 
granulosas, o que acelera ainda mais o crescimento e secreção desse folículo, já que o LH 
passa a atuar no desenvolvimento também. Também, o estrogênio se combina agora com o LH 
causando a proliferação das células tecais foliculares, que também aumentam a sua secreção. 
 
Após uma semana ou mais de crescimento, um dos folículos começa a crescer mais do 
que os outros, que sofrem atresia. Isso porque os níveis altos dos hormônios produzidos pelo 
folículo mais desenvolvido irá, por feedback negativo a nível sistêmico, reduzir os níveis de FSH 
e LH, atrasando o desenvolvimento dos outros folículos; enquanto que, por seus feedbacks 
intrínsecos, o folículo maior irá continuar se desenvolvendo. 
O LH é fundamental para o crescimento folicular final e para a ovulação. Cerca de 2 
dias antes de tal fenômeno, a taxa de secreção de LH pela hipófise anterior aumenta bastante, 
subindo 6 a 10 vezes e com um pico em torno de 16 horas antes da ovulação. Também, o FSH 
aumenta 2 a 3 vezes, e age sinergicamente junto ao LH causando rápida dilatação do folículo 
durante os últimos dias antes da ovulação. Ainda, o LH tem um efeito específico sobre as 
células granulosas e tecais, convertendo-as principalmente em células secretoras de 
progesterona. Portanto, a taxa de secreção de estrogênio começa a cair cerca de 1 dia antes da 
ovulação, enquanto quantidades cada vez maiores de progesterona começam a ser 
secretadas. Assim, com o crescimento rápido do folículo, queda de estrogênio após excessiva 
exposição e aumento de progesterona, que temos a ovulação. Tudo isso depende, então, do 
LH, que vai desencadear um enfraquecimento da teca externa e vasodilatação (ação de 
prostaglandinas), fatores que irão contribuir para a dilatação do folículo e rompimento do 
estigma, com a conseqüente liberação do óvulo. 
Durante as primeiras horas após a ovulação, observamos o processo de luteinização, 
com a transformação das células granulosas e tecais internas para células luteínicas, formando 
o corpo lúteo. Esse corpo produz grandes quantidades de progesterona (maior produção) e 
estrogênio. As células tecais produzem hormônios masculinos, mas que são convertidos pelas 
 
Matheus Vieira Gonçalves 
39 Resumo de Fisiologia Endócrina e Fisiopatologia Integrada 
células granulosas em femininos. Após 7 a 8 dias depois da ovulação, o corpo lúteo começa a 
involuir e torna-se corpo albicans, após 12 dias. 
A secreção de estrogênio (principal), progesterona e inibina mantêm taxas reduzidas 
dos hormônios hipofisários. Com a involução do corpo lúteo, os 3 primeiros hormônios 
supracitados começam a declinar no sangue, interrompendo seu feedback negativo sobre a 
hipófise anterior e causando a menstruação. Assim, no 26º dia (formação do corpo albicans) 
começa a subir a concentração de FSH e LH, dando início, posteriormente, a um novo ciclo 
ovariano. Acredita-se que o pico pré-ovulatório do LH seja causada poruma paradoxal 
retroalimentação positiva do estrogênio nesse momento singular. 
Efeitos Fisiológicos dos Hormônios Ovarianos 
As células da granulosa constituem a principal fonte de estradiol nas mulheres. 
Entretanto, tanto estas células, como as da teca, e ambas as gonadotropinas (FSH e LH) são 
necessárias à produção de estrogênio. As células da teca secretam androgênios, que se 
difundem para as células da granulosa, onde são aromatizados em estrogênios. A maior parte 
do estradiol liberado no sangue circula ligada à globulina de ligação dos hormônios sexuais e à 
albumina, e apenas 2-3% circulam na forma livre. Os receptores de estrogênio são, em sua 
maior parte, nucleares; o estrogênio livre sofre difusão para o interior da célula e associa-se a 
seu receptor. No útero, promove a proliferação do endométrio ao estimular a mitose do 
estrato basal e a angiogênese do estrato funcional, promove a sensibilização à ocitocina, e 
aumenta a produção de muco cervical aquoso. Nos ovários, promove efeitos mitóticos sobre 
as células da granulosa. Na mama, estimula o crescimento e a diferenciação do epitélio dos 
ductos, induz à atividade mitótica das células cilíndricas dos ductos e estimula o crescimento 
do tecido conjuntivo. A expressão de seus receptores na mama é maior na fase folicular do 
ciclo. No fígado, age de modo a diminuir a concentração sérica de colesterol total e colesterol 
da LDL, e aumento do colesterol no HDL, de modo a proteger contra o desenvolvimento de 
aterosclerose (motivo pelo qual há menor incidência de infarto agudo do miocárdio em 
mulheres de idade fértil). No SNC, possui ação neuroprotetora, e seu declínio relacionado com 
a idade está associado a um declínio da função cognitiva. No osso, promove a maturação óssea 
e o fechamento das placas epifisárias nos ossos longos. Conservam a massa óssea ao suprimir 
a renovação óssea e manter uma taxa equilibrada de formação e reabsorção. Diminui a 
formação e atividade de osteoclastos, assim como aumenta a apoptose dos mesmos. 
A progesterona é produzida por células tanto da teca quanto da granulosa e constitui 
o hormônio ovariano predominante sintetizado na fase lútea. Produzido no corpo lúteo, 
principalmente após a estimulação pelo LH. Em geral, a progesterona atua sobre o trato 
reprodutor, preparando-o para o início e a manutenção da gravidez. Estimula a liberação de 
ovócito maduro, facilita a implantação e mantém a gravidez através da estimulação do 
crescimento e diferenciação do útero, bem como supressão da contratilidade do miométrio. 
Modula o comportamento sexual e a temperatura corporal, que é mais alta na fase lútea do 
ciclo. No início da gravidez, induz à diferenciação do estroma, estimula as secreções 
glandulares, e aumenta a sensibilidade celular aos fatores de crescimento, produzindo um 
ambiente capaz de sustentar o desenvolvimento inicial do embrião. Além disso, promove e 
mantém a implantação do ovo fertilizado. Na glândula mamária, estimula o desenvolvimento 
 
Matheus Vieira Gonçalves 
40 Resumo de Fisiologia Endócrina e Fisiopatologia Integrada 
lobular-alveolar na preparação e secreção de leite, porém suprime a síntese das proteínas do 
leite antes do parto, por antagonizar as ações da prolactina na metade final da gestação. 
Possui importantes efeitos anti-estrogênio. 
Placenta 
As funções fisiológicas da placenta podem ser classificadas da seguinte maneira: de 
sustentação, permitindo a implantação do embrião no útero bem como o transporte dos 
nutrientes e oxigênio necessários ao crescimento fetal; imunes, suprimindo a imunidade local 
para impedir rejeição do feto pela mãe; e endócrinas, incluindo a síntese, transporte e 
metabolismo dos hormônios para promover o crescimento e a sobrevida do feto. 
A gonadotropina coriônica humana (hCG) é sintetizada pelo sinciciotrofoblasto e 
liberada na circulação fetal e na materna (aparece no soro materno 6-8 dias após implantação, 
constituindo a base do teste de gravidez). Possui semelhança estrutural e funcional com o LH, 
mas com meia-vida mais longa, interagindo com os receptores do próprio LH. Sua principal 
função consiste de manter o corpo lúteo produzindo progesterona até ocorrer a produção 
placentária, de modo a evitar aborto. Desempenha importante papel no desenvolvimento do 
feto através da regulação da síntese de testosterona pelas células de Leydig fetais. Os níveis de 
maternos de hCG, ainda, constituem índice útil do estado funcional do trofoblasto, a saúde da 
placenta. 
O lactogênio placentário humano (hPL) é sintetizado pelo sinciciotrofoblasto e 
secretado na circulação fetal e materna após 6 semanas de gestação. Modula o 
desenvolvimento embrionário, regula o metabolismo intermediário, e estimula a produção de 
IGF, de insulina, de hormônios adrenocorticais e de surfactante pulmonar. 
A partir da 15ª-20ª semana de gravidez até o parto, o GH placentário substitui 
gradualmente o GH da hipófise materna, que se torna indetectável. Não atinge a circulação 
fetal. Estimula a produção de IGF-1 e modula o metabolismo intermediário materno, 
aumentando a disponibilidade de glicose e aminoácidos para o feto. 
Com cerca de 8 semanas, a placenta passa a constituir a principal fonte de 
progesterona, levando a níveis crescentes de progesterona materna. Essa progesterona 
desempenha importante papel na manutenção da quiescência do útero durante a gravidez, 
inibindo a síntese das prostaglandinas e modulando a resposta imune para preservar a 
gestação. Depois de um tempo, a placenta também asssume o controle principal da produção 
de estrogênio que, durante a gravidez, estimula o crescimento do útero, o espessamento do 
epitélio vaginal, a sensibilização aos efeitos da ocitocina, a síntese de prostaglandinas, o 
crescimento e desenvolvimento do epitélio mamário, bem como a inibição da produção de 
leite. 
A concentração de CRH, produzido também pela placenta, aumenta exponencialmente 
durante a gravidez e atinge um pico durante o trabalho de parto. Induz a produção de 
prostaglandinas e manutenção do fluxo sanguíneo placentário, sendo essencial para esse 
momento final da gestação. 
 
 
Matheus Vieira Gonçalves 
41 Resumo de Fisiologia Endócrina e Fisiopatologia Integrada 
Gravidez e Lactação 
A contratilidade do útero durante a gravidez e o parto pode ser dividida em quatro 
fases distintas. A fase 0, se dá durante a gravidez, e representa a fase quiescente do útero 
promovida pela progesterona, principalmente. A fase 1, acontece a ativação uterina e 
caracteriza-se pela liberação de mecanismos inibidores responsáveis pela manutenção do 
estado de quiescência do útero durante a gravidez, e ativação dos fatores que promovem a 
atividade uterina. O estiramento mecânico ou a preparação hormonal levam à supra-regulação 
da expressão gênica das proteínas que facilitam a contração muscular lisa. A fase 2 consiste de 
uma ativa contração uterina, sendo estimulada por prostaglandinas, ocitocina e CRH. A fase 3 
é pós-parto e envolve a involução do útero após o nascimento e o delivramento da placenta, 
sendo principalmente decorrentes dos efeitos da ocitocina. 
A maior parte do desenvolvimento das mamas ocorre no período pós-natal e envolve 
a ramificação e extensão dos pontos de crescimento dos ductos e lóbulos secretores em um 
estroma de gordura. A progesterona estimula a ramificação lateral dos ductos e o 
desenvolvimento dos alvéolos. A prolactina atua diretamente sobre o epitélio mamário, 
induzindo ao desenvolvimento dos alvéolos. Durante a gravidez, a progesterona, os 
estrogênios, a prolactina, o hPL e o GH atuam de modo sinérgico, preparando a mama para a 
lactação ao promover o desenvolvimento lóbulo-alveolar. Os níveis elevados de progesterona 
impedema lactogênese durante esse período. Com a progressão da gravidez, os níveis de 
prolactina vão aumentando, resultado do aumento dos lactotropos na adeno-hipófise induzido 
pelos estrogênios. Com a queda brusca de progesterona pós-parto, a prolactina, a insulina e os 
glicocorticóides estimulam a síntese das proteínas do leite. O desmame é seguido da involução 
das unidades lobulares dos ductos terminais mediada pela apoptose das células alveolares e 
remodelagem glandular, com o conseqüente retorno da mama a seu estado quiescente. 
A secreção de leite pelas glândulas mamárias é desencadeada pela estimulação de 
receptores táteis nos mamilos após sucção, o que resulta na liberação de ocitocina, que 
promove a contração dos ductos lactíferos, seios e alvéolos do tecido mamário. O processo 
imediato de fluxo de leite em resposta à sucção é denominado reflexo da ejeção do leite e 
persiste durante todo o período de lactação. 
Fisiopatologia Integrada 
Por meras questões didáticas, a menopausa foi incluída nesta seção, mas atenção: a 
menopausa não é uma doença, é um processo fisiológico normal, inerente a qualquer mulher. 
A menopausa refere-se à cessação permanente da menstruação em conseqüência da perda da 
atividade folicular ovariana, por apoptose. É precedida de irregularidade nos sangramentos 
menstruais e de sua freqüência, se estendendo por pelo menos um ano. Os níveis de FSH ficam 
acentuadamente elevados, os de LH moderadamente altos, e os níveis de estradiol e de inibina 
baixos ou indetectáveis. Então, a androstenediona da supra-renal constitui a principal fonte de 
estrogênio. Os sintomas comuns consistem de ondas de calor, sudorese noturna, 
ressecamento vaginal e dispareunia (dor à relação sexual), perda da libido, perda da massa 
óssea com desenvolvimento subseqüente de osteoporose e anormalidades da função 
cardiovascular, incluindo aumento considerável no risco de cardiopatia isquêmica. 
 
Matheus Vieira Gonçalves 
42 Resumo de Fisiologia Endócrina e Fisiopatologia Integrada 
Em geral, as anormalidades do desenvolvimento e da função dos ovários são causadas 
por disgenesia gonadal e, raramente, por defeitos na síntese dos esteróides ovarianos. 
Normalmente, a produção aumentada de hormônios ovarianos pode ser decorrente de um 
hipergonadismo hipergonadotrópico, hipogonadotrópico ou por tumores ovarianos 
propriamente ditos, a exemplo do que acontece na fisiopatologia do sistema reprodutor 
masculino. Por outro lado, a diminuição da produção desses hormônios pode ser genética ou 
adquirida, apesar da liberação adequada das gonadotropinas. Enquanto isso, o hipogonadismo 
hipogonadotrópico é raro.

Mais conteúdos dessa disciplina