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História antiga ocidental RESUMO

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Professor (a) ALEX DA SILVEIRA DE OLIVEIRA
AULA 1 – A HISTÓRIA DA HISTÓRIA: DISCUTINDO A ANTIGUIDADE
Por que estudar História?
A História é viva. Ela nos permite pensar, discutir independente do espaço que estejamos observando.
O que é História Antiga?
É o período que se estende desde o aparecimento da escrita até a desestruturação do Império Romano.  A invenção da escrita retira o homem da pré-história e o coloca na história...  Será?
Linha do tempo
História Antiga - +- 3.000 aC a invenção da escrita até 476 dC - desestruturação do Império Romano.
Idade Média - 476 dC do fim do Império romano do Ocidente a 1453 dC no fim do Império romano do Oriente.
Idade Moderna - De 1453, na tomada dos turcos em Constantinopla, a 1789 na queda da Bastilha.
A divisão da história existe com fins didáticos, foi elaborada pelo homem.  Não devemos nos preocupar com os marcos, mas sim, refletir sobre as relações de poder na transição destes períodos.
A linha do tempo como conhecemos foi proposta pelos iluministas. Os iluministas, homens do final do século XVII e XVIII, propunham a seguinte lógica: todo o período em que o homem foi evoluindo vamos chamar da verdadeira história do homem. Como ela estava no passado, então é antiga: da invenção da escrita até as grandes construções do Egito, Grécia e Roma. Os homens vinham num crescente, numa ideia evolutiva de sociedade.
O homem mergulha em um período em que pensa pouco, um período de trevas, em que não ocorre nada – a Idade Média - o que ficou no meio. 
No século XVI, renasce o pensamento do homem no seu auge (o homem da antiguidade com os textos greco-romanos recuperados) e tudo começa a melhorar, o homem volta a pensar até alcançar a luz dos iluministas... VERDADE?  NÃO. 
A leitura é uma busca de legitimar seu trabalho, seu grupo. As sociedades estão o tempo todo tendo continuidades e rupturas na sua estrutura social...  SEMPRE.
Historicamente, alguns autores utilizariam a noção de embate entre Ocidente e Oriente como duas áreas que de forma diversa lutaram ao longo da História.  A primeira, sem dúvida, a mítica guerra de Troia; depois as guerras de Persas e Gregos; as cruzadas; as batalhas entre turcos e Constantinopla; se possível até as guerras mundiais com alemães versus o mundo ocidental.
Só batalhas não explicam tudo, penso que Ocidente deve ser entendido como um conceito histórico, e que suas fronteiras geográficas mudam de momento para momento.
Os pais da história foram os gregos.
Precisamos ter muito cuidado, pois a história que os gregos escreviam não tem nada diretamente relacionado ao nosso olhar.  Para Homero, por exemplo, história é um exercício de observação.
A função do historiador para o grego é julgar as ações, verificar os erros e as falhas.
Outro dos famosos historiadores gregos foi Tucidides: que pensava a história de maneira direta, quem viu pode relatar, quem não viu, não.  Só existiria o historiador do tempo presente.  
O objetivo do trabalho do historiador é estudar o homem no tempo, o do arqueólogo é estudar o artefato no tempo. Ambas podem se ajudar se permanecermos com a ideia de que a Arqueologia é uma ciência autônoma.
Pontuando
Mundo Ocidental - Conceito ideológico, não geográfico. Caracteriza povos que viveram em áreas de influência da cultura Greco-romana.
 Mundo Oriental - Caracteriza povos que viveram fora da esfera da influência da cultura Greco-romana ou considerados “menos civilizados” por eles.
AULA 2 – FORMAÇÃO DO MUNDO GREGO 
A Ilíada é um poema épico grego e narra uma série de acontecimentos ocorridos durante o décimo e último ano da guerra de troia.
A Ilíada e a Odisseia são comumente atribuídas a Homero, que se acredita ter vivido por volta do século VIII a. C na Jônia, e trata-se dos mais antigos documentos literários gregos a sobreviverem aos nossos dias. Porém, até hoje se debate a existência desse poeta e se dos dois poemas foram compostos pela mesma pessoa.
Os gregos acreditavam que a guerra de Troia era um ato histórico ocorrido no período micênico, durante as invasões dóricas, por volta de 1200 a.C. Entretanto, há na Ilíada descrições de armas e técnicas de diversos períodos, do micênico ao século VIII a.C, indicando ser este o século de composição da epopeia.
A Ilíada influenciou fortemente a cultura clássica, sendo estudada e discutida na Grécia (onde era parte da educação básica) e, posteriormente, no Império Romano. Sua influência pode ser sentida nos autores clássicos, como na Eneida, de Virgílio.
Até hoje é considerada uma das obras mais importantes da literatura mundial.
A Guerra de Troia se deu quando os aqueus atacaram a cidade de Troia, buscando vingar o rapto de Helena, esposa do rei de Esparta, Meneleu, irão de Agamémnom.
Os aqueus eram o povo que hoje conhecemos como gregos e que compartilhavam elementos culturais. Na época, no entanto, não se exergavam como um só povo.
A Ilíada é um poema extenso e possui uma grande quantidade de personagens da mitologia grega. Homero assumia que seus ouvintes estavam familiarizados com esses mitos, o que pode causar confusão no leitor moderno.
Temas na Ilíada
Embora a Ilíada narre uma série de acontecimentos da guerra de Troia e se refira a uma série de outros, seu tema principal é o ciclo da ira de Aquiles, da sua causa ao seu arrefecimento. Isso fica claro logo na primeira linha do poema.
Através da consumação dessa ira, é tratada a humanização do herói e semideus Aquiles, sempre conflitado por sua dupla natureza, filho de deusa e homem e, portanto, mortal.
A questão da escolha entre valores materiais, como a segurança,  a vida longa e valores morais mais elevados, como a glória e o reconhecimento eterno é tratada na escolha com que Aquiles se defronta: lutar, morrer jovem e ser lembrado para sempre, ou permanecer seguro e ser esquecido.
As origens arqueológicas do mundo grego:
Cronologia:
Período pré-homérico: séculos XX a XII a.C.
Período homérico: séculos XII a VII a.C.
Período arcaico: séculos VIII a VI a.C.
Período clássico: séculos V a IV a.C.
No século XX a.C. os povos indo-europeus enfrentaram os Pelágios que habitavam a região e os dominaram.
Como a superficíe contínua da Grécia esra bastante limitada, os gregos passaram a habitar também as ilhas próximas que eram numerosas.
Essas ilhas constituíam a Grécia colonial, composta por terra mais distantes:
Ásia Menor (Eólia, Jônica, Dória)
Sul da Itália (Magna, Crécia)
Costa egípcia (Náucratis)
A história egeana teve suas origens na ilha de Creta, irradiando-se daí para a Grécia continental e também para a Ásia menor.
Nos tempos pré-helênicos – na época neolítica – a Grécia passou por várias ondas de povoamento. Na Tessália foram descobertos Sexklo e Dhimini importantes vestígios de comunidades agrícolas e pastoris.
De 2600 a 1900 a. C., o período dito heládico antigo corresponde ao bronze antigo. O conjunto do território grego povoou-se pouco a pouco e as relações marítimas com as ilhas do mar Egeu, estabelecidas há muito, intensificaram-se.
A idade média helênica: (do Séc. XI ao VIII a.C.) referem-se a esse período obscuro os textos de Homero e de Hesíodo. A arqueogia revelou a extensão do uso do ferro, o aparecimento de uma nova cerâmica com elementos geométricos e a prática da cremação.
Um movimento de migração e de conquista levou os gregos para as costas da Ásia menor. Foi aí, sem dúvida, que se moldaram, progressivamente, os traços da Grécia clássica, imediamente retomados e desenvolvidos no resto do mundo helênico. Nesse local apareceu também, a organização política e social da cidade (ou pólis), na qual o proprietário mais poderoso exercia a função de rei (basileu).
Os tempos arcaicos: (do Séc. VIII ao VI a.C.) - Essa época deve seu nome à arqueologia, que nela situa as priimeiras manifestações da arte grega. Um regime aristocrático estendeu-se, então, a todas as cidades gregas.
A realeza do tipo homérico desapareceue uma minoria de privilegiados pelo nascimento e pela fortuna (os Eupátridas) possuía a terra e a autoridade do Séc. VIII a VI a. C. Um vasto movimento de colonização levou a fundação de cidades gregas para as costas do Mediterrâneo e do ponto Euxino.
A competição entre as cidades gregas, tão presente em todos os aspectos da cultura grega, pôde ser documentada a partir da época arcaica.
A rivalidade entre as cidades também é perceptível  nos festivais  pan-helênicos, entre os quais, os Jogos Olímpicos. Era uma ocasião em que se desenvolvia o que já foi classificado de “ uma guerra sem armas” e que propiciava o exercício das disputas entre as poleis, em situação controlada, definida por regras.
É interessante apontar também que esse momento era solenemente aberto por um ritual religioso, o mais significativo da religião grega   - o sacrifício – do qual participavam, em comunhão, todos os gregos.
Assim, paralelamente à explicitação da disputa latente entre as cidades pelo reconhecimento da superioridade de umas sobre as outras, reafirmava-se a identidade grega frente aos não gregos. Estes não usavam a língua grega, não compartilhavam os cultos nem os princípios artísticos que estavam na raiz do que significava “ser grego”.
Nos jogos Olímpicos, as disputas entre atletas, somavam-se aquelas entre artistas e poetas, nos concursos que ocorriam paralelamente aos jogos. A competição entre as cidades envolvia, pois, os vários tipos de excelência entendidos como ideais na cidade grega.
Ao vencedor cabia tanto a glória individual pelo feito extraordinário realizado como, e talvez principalmente, o mérito de ter alçado a sua cidade a uma posição de destaque gente a comunidade pan-helênica.
O espírito competitivo, como aponta Antonaccio no trecho citado em epígrafe, aparece muito antes do sergimento dos santuários pan-helênicos e as próprias cidades gregas. É interessante percorrer a longa trajetória de formação das poleis e identificar como a competição é um dos traços marcantes nesse processo.
As fontes escritas não são de muita valia para os estágios iniciais do processo de formação das dicades gregas, mas a Arqueologia vem, nos últimos cinqueta anos, fornecendo um excelente conjunto de dados que nos permitem propor modelos mais sofisticados de interpretação desse processo.
Podemos citar o estudo sobre a relação entre a religião e a estruturação da cidade antiga, realizado por F. de Polignac. Esse autor baseia seu olhar em fontes de caracteristicas textual tradicionais, como Aristóteles, para as informações advindas das escavações da Grécia e área colonial ocidental.
Ele demonstrou como os santuários urbanos e especialmente os extraurbanos articulavam, por meio de cultos, laços entre população que se agrupava na asty (área que abrigava, além de habitações, as edificações de caráter público) e na chora (território arável e onde era praticado o pastoreio, também espaço habitacional) sedimentando a interdependência dos dosis espaços, um dos elementos que caracterizam a pólis.
Embora nesta obra Polignac não aborde a questão dos santuários pan-helênicos, a ênfase na relação entre os cultos e a dinâmica da vida política na Grécia antiga é uma perspectiva que se adéqua ao estudo do papel dos festivais cívico-religiosos na vida das cidades gregas.
No que diz respeito ao espírito competitivo, característico da cultura graga, dispomos de dados interessantes recuperados pelas escavalções arqueológicas de vários sítios gregos referentes ao período imediatamente anterior ao advendo das poleis. Nesta época, idadequadamente chamada de Idade Obscura e, em especial o final do séc. XI e o X (*), pôde ser documentado, com os achados das necrópoles, a competição ente famílias integrantes de elites em formação, visível na quantidade e qualidade do mobiliário funerário.
As datas citadas referem-se sempre à época antes de Cristo.
Trata-se de famílias que ostentam e reafirmam seu poder construindo monumentos funerários repletos de objetos valiosos. Inspirando-se com certeza na tradição oral relativa à época heróica, buscam reproduzir o aparato das cerimônias fúnebres devidas aos heroís e que, mais tardei, serão consolidadas por Homero na Ilíada (nos funerais de Pátroclo, pos exempo)
Nessa época, o poder estaria nas mãos daquele que ostentasse maior riqueza - em vida e na morte – e qualidades de liderança na condução dos conflitos, certamente frequentes em um momento em que as instituições aina não estavam consolidades.
Estas chefias podem ser associadas aos basileis descritos por Homero na Odisseia e cujo poder estava baseado no consensus, no uso da coerção, no carisma pessoal, riqueza em objetos, terras produtos com os quais atraíam seguidores e aliados.
A hereditariedade não é direito reconhedido pelos pares, o poder há que ser conquistado e a ostentação de riqueza é um dos procedimentos utilizados na competição pela proeminência entre os pares. Na Odisseia, as disputas entre os pretendentes ao casamento com Penélope – e por consequência à riqueza e talvez ao poder de Ulisses - e a indiferença desses aristocratas diante da figura de Telêmaco podem ser indícios do tipo de autoridade que ser instituía entre as famílias importantes e ricas.
A riqueza das oferendas funerárias – com alto índice de objetos em bronze – insere-se, pois, em processo competitivo no âmbito de uma elite que, posteriormente, como grupo, estará à frente do poder político nas poleis.
Assim, as tumbas pricipescas – como a de Lefkandi, na Eubeia – integram-se ao processo de Arqueologia vem desvendando em sítios da Idade do Ferro Inicial, a partir do final do séc. X, em várias regiões da Grécia metropolitana, e que culminará, no séc. VIII, com a emergência da pólis. Para tanto, vale relembrar rapidamente o que ocorreu na Grécia antes desse momento.
Mais uma vez, as escavações arqueológicas trazem evidências do processo em andamento:  a partir do final do séc. IX, acentuando-se significativamente no VIII, vai sendo perceptível no registro arqueológico um redirecionamento do alvo das oferendas valiosas: das tumbas familiares migram para locais de culto.
Os locais de culto se multiplicam significativamente e, ao mesmo tempo que  agrupam comunidades de fiéis em torno de cultos comuns, significam a apropriação de um território. Mais tarde, no decorrer do século VII, muitos desses centros de cultos serão dotados de uma construção monumental: o templo.
A aparição do templo documenta a existência de uma comunidade suficientemente estruturada e dotada de um poder político capaz de mobilizar recursos e mão de obra na execução de uma grande obra que se constituirá na expressão material dessa comunidade. A inserção do templo na paisagem define e demarca o espaço social apropriado pela comunidade. É um dos mais significantes sinais da emergência da pólis.
Dado o papel crucial que desempenham na vida das comunidades  gregas de todos os períodos, os santuários - sejam eles políades ou  pan-helênicos -  vão se transformando em espaços privilegiados para o exercício da competição.  Por representar materialmente uma cidade, o templo catalisa  a competição com as demais cidades.
A rivalidade de intercidades  passa a ser evidenciada na ostentação de dimensões imponentes e decoração extremamente cuidada, na encomenda a artistas famosos de estátuas das divindades protetoras.
A riqueza das oferendas votivas é um elemento a mais a caracterizar o prestígio e a riqueza de uma pólis.
As colônias – A partir do século VIII, concomitantemente com a emergência das poleis na área balcânica, os gregos espalham colônias pelo Mediterrâneo. A área colonial grega do Ocidente é um excelente estudo de caso no que tange à competição entre as cidades, incorporando, em um espectrum mais amplo, essa disputa. Poroutro lado, o caso colonial esclarece, ao esplicitar as suas diferenças, a própria situação das metrópoles.
As colònias fundadas não tinham obrigatoriamente laços de dependência política ou econômicacom as metrópoles, mas buscavam preservar e valorizavam muito a sua identidade helênica: conservavam os cultos, os padões arquitetônicos e artíticos em geral, imitavam as novas tendências em todos os campos, importavam filósofos e artistas. Ao mesmo tempo, também buscavam assegurar a sua independência.
A arte provê as colònias de meios efetivos de expressão para demonstrar seu sucesso. Especialmente nos santuários pan-helênicos criava-se o anbiente ideal pra o desenvolvimento e a exposição da arte.
As cidades e os Jogos Olímpicos
A emergência da cidade como uma forma de estado e uma forma de vida são contemporâneos do surgimento de um fenômeno religioso original e, ao mesmo tempo, consquente desse arranjo político: os santuários “supracidades”.
Nesta categoria, incluem-se os santuários pan-helênicos de Olímpia, Delfos, Nemeia. Localizavam-se afastados das maiores cidades da Grécia e, embora sob o controle administrativo de cidades-Estado vizinhas ou de uma anfictiônia, assumiam uma aura de neutralidade.
Assim, formavam-se em locais ideais para a interação política.
Eram locais onde gregos podiam encontrar outros gregos em condições de igualdade para competir e estabelecer pactos, consignar a superioridade em competições atléticas, ler a propaganda um do outro, sob forma de inscrições dedicatórias, interirar-se das novidades.
Sem os santuários pan-helênicos, a cultura grega poderia não ter atingido tal riqueza, deccorrente da constante exposição a estímulos e variações regionais. Gregos podiam compartilhar com outros gregos as últimas tendências em técnicas e tendências em arte, que traziam de diferentes partes do mundo.
Ou então, como afirma Spivey (Greek Art, p. 126): “Quando não estavam lutando em campos de batalha, Delfos aoferecia a estes estados um stadium para disútas atléticas”.
Os santuários pan-helênicos eram a arena perfeita para a competição entre todas as cidades integrantes da comunidade cultural grega. Se os templos gregos já eram verdadeiros museus de guerra, o mesmo pode ser dito em relação aos thesauroi, edificações que as cidades construíam no espaço dos santuários pan-helênicos.
Além da construção arquitetonicamente bem elaborada – reproduzindo um templo em tamanho menos – e da decoração bem cuidada, os tesouros estavam repletos de oferendas valiosas e botins de guerra. Sua função era claramente propagandística.
Os botins de guerra eram para serem vistos por todos e possuíam inscrições apropriadas, especificando o vencedor e o vencido. Tanto em Olímpia quando em Delos os tesouros estavam localizados em posição de destaque no santuários, próximos às áreas de maior circulação dos visitantes. Quando o grande templo de Zeus foi consagrado em Olímpia, um enorme escudo – troféu da guerra vencida pelos Eleanos – foi exposto em posição de destaque sobre o pendimento.
Os tesouros eram símbolos do poder das cidades que o erigiam, pois abrigavam, como já foi dito, botins e troféus de guerra, assinalavam, pelas inscrições, vencedores e vencidos. Em síntese, estavam em sintonia com o ambiente altamente politizado do santuário e dos jogos realizados em Olímpia.
A competição nos ansuários proporcionava oportunidades também para o estrelato político; não eta por acaso que algusn vencedores olímpicos emergiam como políticos de destaque: foi o cado de Cílos, por exemplo. Tucídides (1.126), ao descrevê-lo, destaca três pontos: sua vitória olímpica, sua origem em uma família nobre e seu poder pessoal.
Também a respeito de Cimon, atribuía-se alta popularidade em Atenas, o que gerou desconfiança a respeito de seus propósitos políticos e consequente assassinato pelos agentes de Pisístrato.
AULA 3 – A FORMAÇÃO DO MUNDO POLÍADE E SUA DESESTRUTURAÇÃO – ATENAS: UM ESTUDO DE CASO
GRÉCIA - A Arqueologia nos permite saber muito sobre os períodos mais remotos da história grega. As escavações de Sir Arthur Evans em Cnossos, na ilha de Creta, e outras explorações mais recentes revelam uma sociedade de palácios suntuosos que floresceu entre 2000 e 1450 a.C. (Essa sociedade era conhecida como Minoica por causa do lendário rei Minos).
(Na mitologia grega, o rei Minos seria filho de Zeus e da mortal Europa. Ele foi criado com seus irmãos Sarpedon e Radamanto pelo rei de Creta. Quando o rei morreu, teria deixado seu trono a Minos, que baniu os irmãos. Sua esposa, além dos filhos que lhe dera, seria mãe do mitológico Minotauro).
A ORIGEM DA GRÉCIA
IDADE DO BRONZE (2000 a.C – 1200 a.C)
Os habitantes desses lugares não eram gregos, mas sua cultura teve uma influência significativa sobre eles. Por volta de 2000 a.C, novos povos se estabeleceram em muitas áreas da Grécia e mesclaram as influências minoicas com seus elementos, originando uma nova realidade.
Nessas áreas, acabaram desenvolvendo sua própria cultura palaciana que durou de 1600 a 1200 em lugares como Micenas, Tirinto e Pilos (Período Micênico). Sabemos agora que pelo menos alguns desses povos falavam  grego, pois centenas de tábuas de argila com inscrições feitas em uma escrita conhecida como Linear B foram encontradas em Pilos (Muitos estudos indicam que essas inscrições eram uma forma de grego.)
Esses palácios teriam sido destruídos por volta de 1200 a. C e ainda não descobrimos exatamente a razão para tal devastação. Segue-se, a partir daí, um período de instabilidade: a “Idade das Trevas”(1200-800 a.C), de que os gregos se lembravam  como uma época de nomadismo e migrações.
Costumamos dividir o território grego em três partes:
Grécia Continental
Grécia Peninsular
Grécia Insular
IDADE DAS TREVAS (XII A. C –VIII A.C)
A Idade das Trevas refere-se a um período de escassez de documentação, seja material ou arqueológica. O que sabemos é que houve um grande retrocesso cultural e organizacional. Os gregos, nessa fase, viviam em habitações menores e mais distantes, o que indica uma significativa redução populacional. 
Acredita-se que os poemas de Homero – a Ilíada e a Odisseia – sejam os maiores indicativos de como vivia a população desse período, mais especificamente a aristocracia.
– Aristoi significa - em grego – belo e bem-nascido, ou seja, a elite econômica e de nascimento.
PERÍODO ARCAICO (VIII A.C –VI A.C)
A unidade política básica da Grécia era a pólis, traduzida como Cidade-Estado. As comunidades gregas eram independentes umas das outras, rivalizando-se, inclusive. Assim, devemos lembrar que ao falarmos de Grécia Antiga, não estamos nos referindo a um território possuidor de unidade geográfica e sim de comunidades “aparentadas” por elementos culturais.
As comunidades gregas tinham nesse período apenas formas simples de organização política. Aos poucos e com muita resistência, os aristocratas passaram a reconhecer a autoridade central de uma só família que detinha a realeza. Os reis eram conhecidos pelo nome de basileus.
Para justificar seu poder perante o restante da população, era comum os aristocratas criarem uma genealogia divina ou heroica. Em Atenas, por exemplo, foi o herói Teseu (responsável pela morte do Minotauro, entre outros feitos) quem, segundo a tradição, unificou a Ática e deu à cidade um Conselho Central, o Areópago, no qual os aristocratas podiam reunir-se.
Por tradição, os sucessores de Teseu governavam em Atenas como basileus. No entanto, por volta do século VII a.C, o rei (basileu) já não exercia grande poder. Era apenas um dentre um corpo de funcionários nomeados anualmente, os nove arkhontes (arcontes).
Esses arkhontes tornavam-se membros vitalícios do Conselho que se reunia de vez em quando no Areópago e decidia os destinos da comunidade. Os postos de basileu e arcontes não eram destinados a todos os habitantes da pólis. A aristocracia mantinha o seu direito exclusivo aos cargos. Além de aristoi, eles também eram conhecidos pelo nome de eupátridas (filhos de bons pais).
Ao longo dos séculos seguintes, muitos homens iriam se ressentir de serem excluídos do poder e alguns passaram a explorar os descontentamentose o poderio militar dos cidadãos para conquistar poder pessoal.
Uma primeira alternativa para tentar atenuar as insatisfações internas foi a fundação de colônias, as apoikias (colônias). A partir do século VIII a.C várias pólis gregas, entre elas Atenas, estabeleceram “colônias” na Jônia, costa da Ásia Menor. Posteriormente, a partir de 750 a.C, comerciantes e agricultores descontentes, que desejavam uma vida melhor, fundaram na Sicília, no sul da Itália, no sul da França, na Espanha, no norte da África e junto ao Mar Negro outras apoikias.
Internamente, aproveitando do clima de perturbação, alguns homens deram golpes e tomaram o poder. Esses usurpadores eram conhecidos como tiranos – palavra de origem não grega que não tinha necessariamente conotação de crueldade e opressão. (Muitos foram bons administradores, com aprovação popular). Os tiranos eram indivíduos que centralizavam o poder em suas mãos.
Segundo a tradição, em 621-620 a.C. o legislador ateniense Drácon publicou um código de leis que se tornou proverbial por sua severidade. Esse código pode representar uma tentativa de resposta dos eupátridas ao descontentamento geral.
O Código Draconiano regularizou os procedimentos que tratam do assassinato e, em certa medida, limitou os poderes da família de um morto, no que dizia respeito ao seu direito de vingança. O significado desse código é mais simbólico, pois, a partir dele, percebemos os primeiros indícios da afirmação do controle central sobre os laços de lealdade locais.
Além de todos os problemas que atingiam os atenienses no final do século VII a.C, a questão da propriedade agrícola era cada vez mais significativo. Os camponeses eram muito prejudicados pelas dívidas. Para manter sua propriedade, muitos contraíam débitos que não conseguiam pagar. Como solução, eram convertidos ao status de escravos (Essa instituição era conhecida como escravidão por dívidas).
A crescente insatisfação e instabilidade criava as condições para a tirania. Como alguns tiranos tinham o discurso da redistribuição das terras e o cancelamento das dívidas, recorrer a eles podia parecer solução atraente.
Nesse momento, em 594-93 a.C, Sólon foi nomeado arconte em Atenas e tentou oferecer soluções para os problemas da época. Aliviou a pressão das dívidas que levavam à escravidão. Sua solução foi chamada de seisákhteia. Definiu quatro classes com base na riqueza agrícola (pentacossiomedinos, zeugitas, tetes e hippeis).  
A partir desse momento, os mais ricos na sociedade, fossem ou não eupátridas, passaram a poder ocupar os principais cargos da cidade. Isso significava que, não apenas os nascidos nas famílias tradicionais teriam acesso à política. Sólon foi responsável também pela instituição de um Conselho popular (Boulé), com quatrocentos membros. Esse Conselho convivia paralelamente com o Areópago.
A despeito das reformas de Sólon, os aristocratas de Atenas continuaram a lutar por seu direito à liderança na comunidade ateniense. Em 561-560 a.C, um desses homens, Pisístrato, herói militar, ganhou o apoio popular e tomou o poder em Atenas como tirano. 
Seu controle esteve longe de ser inquestionável. Foi derrubado do poder duas vezes por seus inimigos políticos. Consolidou a tirania em Atenas anos mais tarde e, a partir de então, conseguiu permanecer no poder até sua morte, em 528-27.
Seu governo não pode ser reconhecido como realizador de mudanças radicais no âmbito da política. Garantiu apenas que seus amigos estivessem entre os arcontes. Em outras áreas, no entanto, obteve grandes êxitos: grandiosos projetos de edificações, a bela cerâmica de figuras negras das oficinas atenienses e a remodelação do festival das Grandes Panateneias.
Pisístrato conseguiu deixar um sucessor, seu filho, Hípias. O jovem enfrentou uma crescente oposição aristocrática, mesmo por parte de homens que haviam colaborado com  seu pai.
Em 514 a.C, dois amantes aristocratas, Harmódio e Aristogíton, tramaram o assassinato de Hiparco (irmão de Hípias). Na procissão das Panateneias, os conspiradores entraram em pânico. Hiparco foi assassinado, mas Harmódio foi morto no atentado e depois Aristogiton morreu sob tortura. Hípias sobreviveu e sua tirania tornou-se ainda mais severa. Isso fez com que a oposição a seu governo crescesse e ele acabasse deposto. 
Os aristocratas atenienses solicitam ajuda de Esparta para derrubar o tirano e as rivalidades entre facções aristocratas aumentaram.  O vitorioso dessa contenda foi Clístenes, que empreendeu uma série de reformas que permitiram o nascimento da democracia. No entanto, não podemos considerá-lo o criador da democracia, pois não foi um processo deliberado.
Ele criou o conceito de isonomia. Todos os cidadãos passaram a ser considerados iguais perante a lei. Implantou ainda a participação direta do povo, a partir do comparecimento na Assembleia - Eclésia, que votava nas leis preparadas pela Bulé ou Conselho dos 500. A justiça era distribuída pela Heliae, formada por 12 tribunais e o comando do exército cabia ao estrategos, em número de dez, escolhidos pela Eclésia para um mandato anual. 
Com a finalidade de preservar a cidade de Atenas, Clístenes instituiu o ostracismo, que consistia em um exílio forçado dos maus cidadãos. Para isso, o nome do indivíduo era escrito em um pedaço de argila chamado ostrakon, Quando a maioria votava pela expulsão, o cidadão perdia seus direitos políticos, sem perda dos bens. Depois de dez anos, a pessoa banida podia voltar à cidade e recuperar todos os seus direitos de cidadão. Esse costume  prevaleceu até o final do século V a.C.
“Entenda que, para os atenienses, ser cidadão significava ser homem, maior de 25 anos, filho de pai e mãe atenienses e livre. Dessa forma estavam excluídas mulheres, estrangeiros (METECOS) e escravos, além dos menores de 25 anos.
Isso não quer dizer que Atenas fosse uma democracia deformada. Não podemos esquecer que é equivocado comparar sociedades antigas com valores atuais. Logo, dentro da lógica estabelecida, os cidadãos eram iguais perante as leis sim. 
Outro elemento importante da democracia ateniense é o modo de escolha de seus magistrados. Na maioria das funções, a maneira de acesso é o sorteio do qual qualquer cidadão poderia participar.”
GUERRAS MÉDICAS
No decorrer da formação de seu amplo império, os persas tiveram o domínio sobre várias regiões. Em seu processo de expansionismo, a partir do século V a.C, começaram a esbarrar nos interesses gregos, na Àsia Menor.  Os jônios, colonos gregos dessa região, solicitaram apoio militar das polieis de Erétria e Atenas contra seus inimigos e o resultado foi o início dos conflitos genericamente conhecidos como Guerras Médicas. O que estava em jogo era o controle marítimo-comercial na região.
No primeiro confronto, surpreendentemente, 10 mil gregos, liderados pelo ateniense Milcíades, conseguiram impedir o desembarque de 50 mil persas, vencendo-os na Batalha de Maratona, no ano de 490 a.C. Os persas, entretanto, não desistiram. Dez anos depois voltaram. As poleis gregas esqueceram suas divergências internas e se uniram contra o inimigo comum. Os persas foram vencidos em Salamina (480 a.C) e Plateia (479 a.C).
Apesar do êxito, o temor de que houvesse um novo ataque persa persistiu, o que levou as poleis a se unirem em uma confederação, a Liga de Delos. Cada pólis deveria contribuir com navios, soldados e dinheiro. Atenas aproveitou sua liderança sobre a liga e passou a utilizar o dinheiro em benefício da comunidade. Várias construções foram realizadas. Atenas entrou em uma fase de grande prosperidade.
Nessa época, se destaca o governo de Péricles, responsável pelo aprimoramento da democracia ateniense. A ação dos atenienses de utilizar os recursos da Liga de Delos e punir aquelas poleis que se rebelaram, logo motiva uma articulação.
Lideradas por Esparta, várias cidades da Grécia Antiga fundaram a Liga do Peloponeso. Tal associação visava combater a hegemonia de Atenas e da Liga de Delos. Entre 431 e 417 a.C., asvárias cidades-Estado gregas se envolveram em um penoso conflito que ficou conhecido como a Guerra do Peloponeso. 
Após a vitória na Batalha de Egos Pótamos, os espartanos exerceram uma política semelhante a de Atenas causando novos conflitos. Essa constante hostilidade no mundo grego esgotou seu poderio militar e os tornou vulneráveis a ataques externos e, nesse momento, do rei Felipe II da Macedônia. Teve fim a autonomia das poleis gregas que passaram a integrar o Império Macedônio.
AULA 4 – A CULTURA NO MUNDO GREGO
Todas as sociedades antigas nos legaram contribuições culturais. No entanto, os gregos são sempre citados pois, certamente, nenhuma dessas sociedades apresentou a diversidade por eles experimentada. Enquanto nos lembramos dos egípcios por suas pirâmides e monumentos, podemos associar aos gregos conhecimentos de vários matizes. A eles atribuímos a criação da filosofia, do teatro, da história, além de descobertas no âmbito da matemática, das artes plásticas, da literatura.
Para não sermos injustos, devemos considerar a problemática da conservação e difusão cultural. Isso significa que não sabemos muito sobre outros povos da Antiguidade  porque, provavelmente, muita coisa se perdeu ao longo dos séculos. No entanto, os  gregos também passaram pelas intempéries temporais. Então, por que sabemos tanto sobre sua cultura?
Bem, esse é o primeiro conceito com que você deve se familiarizar; conhecemos tanto sobre eles graças ao HELENISMO.
Alexandre, o grande, rei da Macedônia, conquistou vários territórios, dentre eles, a Grécia. Por admirar profundamente a cultura grega, em cada território dominado, criava centros de irradiação cultural que promoviam a divulgação do saber científico e das formas artísticas e literárias do mundo grego. Houve, é claro, uma mistura com os valores culturais desses outros povos. O resultado é o HELENISMO.
(A Grécia era conhecida pelo nome de Hélade, ou seja, terra dos  helenos. Seria uma referência a um personagem mítico, Heleno, cujos filhos seriam os primeiros ocupantes do território. A Macedônia de Alexandre era um território imediatamente acima da Grécia, portanto, tinha traços culturais semelhantes. Por conta disso, o período de dominação macedônia sobre os gregos, que durou de 336 a. C até a conquista romana, em 146 a. C é chamado de Período Helenístico. Alexandre, que havia sido educado pelo filósofo Aristóteles, como vimos, cuidou da difusão desse conhecimento. Dessa forma, a religiosidade, os costumes, a literatura e a língua grega se transformaram no padrão para as pessoas cultas de então).                   
Ao longo dos séculos, muitos componentes da cultura grega ainda serviram de referência. Nos séculos XIV-XV, por exemplo, houve uma retomada dos padrões clássicos durante o Renascimento.
Renascimento foi um movimento cultural dos séculos XIV - XV e XVI, cujo berço foi a Itália, e que produziu nomes como Leonardo da Vinci, Michelangelo, Rafael, entre outros. Um dos princípios seguidos pelos artistas era o chamado Classicismo, ou seja, valorização da Antiguidade Clássica como padrão por excelência do sentido estético. Vamos conhecer então essa cultura maravilhosa a partir de seus tópicos principais.
RELIGIOSIDADE
A religiosidade grega era baseada na MITOLOGIA (conjunto de narrativas dos antigos gregos sobre seus deuses e heróis, através das quais eram explicados fatos do cotidiano, ritos e até a criação do mundo. Essas narrativas, que durante séculos foram transmitidas oralmente, apresentaram variações e serviram de material para as peças teatrais).
Politeísmo é a crença em vários deuses. Os deuses gregos eram homens superlativizados, ou seja, possuíam os mesmos defeitos e qualidades dos humanos, no entanto, se distinguiam deles por serem ATHANATOI (imortais) e poderosos. Devemos observar que sua definição é menos automática do que parece. Temos exemplos que nos permitem notar o conceito de politeísmo associado ao monoteísmo de grupo, existem muitos deuses, mas somente um nos representa. O politeísmo aparece bastante em estruturas sociais com múltiplas origens, constituindo panteões específicos.
O Panteão grego era formado por uma grande variedade de deuses, dentre os quais podemos citar:
Zeus – Senhor do Olimpo. (Nome latino: Júpiter)
Hera – esposa e irmã de Zeus, deusa da família e do matrimônio. (Nome latino: Juno)
Ares – deus da guerra. (Nome latino: Marte)
Afrodite – deusa do amor. (Nome latino: Vênus)
Atená – deusa da sabedoria. (Nome latino: Minerva)
Deméter – deusa da fertilidade. (Nome latino: Ceres)
Hermes – mensageiro dos deuses. (Nome latino: Mercúrio)
Artémis – deusa da caça. (Nome latino: Diana)
Hefaistos ou Hefestos: deus da metalurgia. (Nome latino: Vulcano)
Hades – deus do mundo subterrâneo. (Nome latino: Plutão)
Poseidon – deus dos mares e oceanos. (Nome latino: Netuno)  
Além dos deuses, os gregos também acreditavam nos heróis ou semideuses, filhos de deuses e deusas com humanos, tais como: Herácles ou Hércules, Odisseus, Aquiles, Teseu e em entidades como faunos, musas e ninfas.
A religiosidade dos gregos era vivenciada em público, ou seja, através de festivais, procissões. A base do relacionamento entre homens e deuses era a permuta, ou seja, o mortal reconhece seu poder e consegue, por isso, ser agraciado.
O templo era a morada dos deuses, não lugar de reunião entre os crentes. Em geral,  possuíam em seu interior uma imagem do deus ali adorado ou algo que o simbolizasse. A adoração aos deuses era processada no exterior do templo, ao leste. Essa é uma das razões para o exterior dos templos ser o lugar das decorações arquitetônicas mais elaboradas - homenagem aos deuses.
Na religiosidade grega, não havia culto estabelecido com rígidas regras, não havia verdade revelada, nem livro sagrado. Os sacerdotes eram sorteados anualmente entre os cidadãos.Quando desejavam conhecer a vontade dos deuses, os cidadãos iam a um vidente (Mânthis) ou aos oráculos. O mais famoso deles foi o Oráculo de Delfos.   
A ideia de culpa, pecado, bem como a preocupação com a vida após a morte eram totalmente desconhecidos pelos gregos. Apenas alguns grupos minoritários as utilizavam, tal como o Orfismo.
Orfismo era uma crença criada a partir dos séculos VII e V a.C. Seu fundador teria sido o poeta Orfeu que desceu ao Hades e retornou. Os mistérios órficos prometiam uma vida melhor após a morte. 
Quando morriam, os gregos acreditavam que os indivíduos passavam a habitar o mundo subterrâneo, denominado Hades, cuja entrada era protegida pelo cão Cérbero. A entrada era separada do interior pelo rio Estige, cuja travessia era feita pelo barqueiro Caronte. Os recém chegados tinham que pagar para fazer a travessia, por isso, os mortos eram enterrados ou cremados com moedas sobre os olhos para que tivessem com que pagar o barqueiro.
Para agradar aos deuses, os gregos faziam sacrifícios, geralmente, os primeiros frutos de uma colheita ou uma novilha. Oferecendo-se o melhor aos deuses, eles acreditavam que estabeleciam uma relação de reciprocidade e assim, esperavam receber também o melhor. 
Os festivais aumentaram em número e grandiosidade no século V a.C. Ocupavam grande parte do ano cívico de cada pólis. Embora fosse prática cada comunidade ter seu deus protetor, eles costumavam homenagear outros deuses também. O Teatro, que veremos à frente, surgiu desses festivais, ou seja, tinham uma função religiosa.
Em geral, participavam dos festivais todos os habitantes da pólis, mesmo os escravos e estrangeiros (metecos).
Em todas as sociedades, os indivíduos narram histórias, seja verídicas ou ficcionais. Os gregos não eram diferentes e, no início de sua civilização, as transmitiam uns aos outros oralmente.
Os autores dessas narrativas eram chamados de rapsodos e, um dos mais conhecidos era HOMERO.
Homero é um personagem controverso. Alguns historiadores questionam, inclusive, se existiu de fato. Como sem seu tempo as obras eram transmitidas oralmente, muitos acreditam queo versos a ele atribuídos, na verdade, foram a condensação de contribuições de diferentes indivíduos.
Homero teria escrito duas obras que nos ajudam a remontar períodos bem remotos da História grega. O gênero literário por ele desenvolvido era chamado de EPOPEIA.
Gênero narrativo em que são descritas as aventuras de heróis; poema épico em que são mesclados fatos históricos entrelaçados com lendas, as duas mais conhecidas foram a ILÍADA e a ODISSEIA. Ambas descreviam fatos ligados à Guerra de Troia.
A partir do século VIII a.C, os gregos desenvolveram seu próprio sistema de escrita, o primeiro totalmente fonético, ou seja, com símbolos que representavam as consoantes e vogais. Isso facilitou significativamente a materialização das histórias anteriormente cantadas.
Outro autor digno de nota desse período é Hesíodo. Através de suas obras conhecemos um pouco mais sobre o período arcaico. Três poemas são, em geral, a ele atribuídos: A TEOGONIA, O TRABALHO E OS DIAS e O ESCUDO DE HÉRCULES.
A literatura grega sobreviveu até hoje graças às cópias e recopias que foram feitas ao longo dos séculos. Esse processo, como sabemos, levou à perda de muitas obras porque os copistas inseriam observações pessoais, novos versos, faziam as chamadas interpolações. Além disso, muito se perdeu porque não foi considerado adequado e digno de preservação.
De alguns autores, citados como bastante profícuos por seus contemporâneos, temos somente fragmentos ou apenas a lembrança de seus nomes. É o caso, por exemplo, da poetisa Safos, da ilha de Lesbos.
Nos séculos seguintes, foram desenvolvidos dois novos gêneros literários: a tragédia e a comédia. Essas obras eram apresentadas nos teatros por ocasião da celebração dos festivais em homenagem a Dionísios, o deus do vinho.
O ápice do teatro, criado durante o governo do tirano de Atenas, Pisístrato (século VI a.C), foi chamado período clássico, ou seja, o período seguinte.
O Teatro na Antiguidade tinha muitas mais funções que o Teatro Moderno. Além de entretenimento, era uma festa religiosa, uma oportunidade de convívio social e uma forma de educar bons cidadãos.
Em Atenas, as peças eram encenadas no teatro de Dionisos, logo abaixo da Acrópole e chegavam a ser assistidas por quase 14 mil pessoas.
Nos festivais cômicos, eram apresentadas cinco peças de cinco autores distintos. Nos festivais trágicos, três autores encenavam quatro peças cada: três tragédias e um drama satírico. Os autores competiam nesses festivais.
Os principais autores trágicos foram: 
Ésquilo (525-456 a.C) – de quem nos restam sete obras, sendo as principais: PROMETEU e OS SETE CONTRA TEBAS.
Sófocles (496-406 a.C) – de quem nos restam sete obras, sendo as principais: ANTÍGONA e ÉDIPO-REI.
Eurípides (485-406 a.C) – de quem nos restam dezenove obras, sendo as principais: MEDEIA e AS TROIANAS.
Nas comédias, o principal nome é Aristófanes que, em suas peças, fazia críticas à sociedade, indivíduos e política ateniense.
As encenações eram custeadas por homens abastados e os atores eram sempre homens, que representavam vários papéis na mesma peça. Eles usavam máscaras  que cobriam seus rostos e indicavam se estavam felizes ou tristes. O público sabia o sexo do personagem pelas roupas e perucas que portavam.  As peças, a partir do século IV a.C passaram a ser repetidas, sobretudo, após o domínio macedônio.
MATEMÁTICA
Pitágoras (525 a.C),  para escapar da tirania em sua terra, migrou para o sul da Itália, onde fundou uma escola em que ensinava um novo mundo, um novo modo de vida. Lá, ele fez uma série de descobertas sobre a relação da natureza com o mundo.
Os pitagóricos sugeriram que o número está no centro da realidade. Uma das grandes contribuições de Pitágoras foi seu teorema, que todos estudamos na escola até hoje: a soma do quadrado dos catetos é igual ao quadrado da hipotenusa.
Os gregos eram seduzidos pela Matemática por sua precisão e também eram fascinados pelo problema do infinito. Um outro matemático, Zenão de Eleia (490 a.C) afirmou que se cortássemos uma linha ao meio, isso poderia ser feito indefinidamente. Outros estudiosos que podem ser citados: Tales de Mileto e Parmênides.
MEDICINA
Até onde sabemos, os gregos foram os primeiros a transformar a medicina em algo mais sistematizado. O principal defensor dessa medicina racional foi Hipócrates. Ele fundou uma “escola” de medicina e escreveu alguns tratados como SOBRE A DOENÇA SAGRADA.  Seu juramento é proferido até hoje pelos formados em medicina.
Para os gregos, as doenças eram resolvidas a partir do equilíbrio entre os elementos que compunham o corpo, os chamados humores. Através de dietas, sangrias, purgativos e cirurgias, esses humores eram reequilibrados e as doenças sanadas.
A força da medicina grega estava no prognóstico, isto é, na cuidadosa observação dos rumos que a doença tomava, de modo que, quando surgiam sintomas semelhantes, os médicos poderiam prever a evolução da doença.
Eles já possuíam conhecimento de cirurgia, especialmente do tratamento de ferimentos de guerras  e da comparação de dados conseguidos com a dissecação de animais. Eles não dissecavam humanos por questões religiosas.
HISTÓRIA
Os gregos consideravam o próprio passado e passaram a repensá-lo inventando a História (significa pesquisa, indagação). Quando os gregos passaram a colonizar outras regiões, houve a necessidade de criar uma espécie de guia para os colonos onde eram informados os costumes locais, a descrição da geografia, enfim, narrativas sobre aquele povo. Assim, nasceu a História. 
Heródoto, que descreveu os fatos das guerras médicas, era considerado o Pai da História. Seu método de narrativa era totalmente inusitado. Ele introduziu perguntas: Como? Por quê?
Em relação aos eventos sobre os quais dissertava. 
Além disso, integrou em sua obra os costumes, a cultura dos povos que haviam entrado em contato com os gregos. Ao introduzir esses elementos, ele estabeleceu uma “postura” histórica: os indícios devem ser, na medida do possível, verificados por indagações e pesquisas.  
Outro nome digno de menção é o de Tucídides, que narrou em sua História da Guerra do Peloponeso, todos os fatos que cercaram essa luta fratricida. Nessa obra, ele excluiu o “romance”, as conversas e priorizou os aspectos militares e políticos da guerra. Iniciou uma tradição analítica, pois  considerou as mudanças ano a ano do conflito.
FILOSOFIA:
A palavra Filosofia significa amor à sabedoria. Muitos homens, desde os primórdios da História grega, passaram a refletir sobre a natureza humana, o universo e fizeram descobertas que permanecem até os nossos dias.
A Filosofia surgiu no período arcaico com a Escola de Mileto. Para os seguidores dessa escola, todos os elementos da natureza vinham de um elemento básico (a água, o ar ou a matéria). Nessa escola destacaram-se Anaxímenes e Anaximandro. Tales de Mileto e Pitágoras, já citados, eram filósofos matemáticos.
No século V a.C surgiram os sofistas, que se dedicavam ao ensino da retórica e os outros assuntos aos jovens atenienses abastados. Muito os viam com maus olhos, mas o fato é que eles estiveram  à frente de um movimento que considerava o homem e não o mundo físico como centro do debate intelectual.
Um dos grandes nomes do sofismo era Protágoras que afirmava: “O homem é a medida de todas as coisas”. Eles não acreditavam em verdades absolutas e defendiam que havia diferentes visões sobre o mundo e as coisas.
No final do século V a.C, a ciência e a filosofia começaram a formar ramos distintos de conhecimento. A filosofia passou a se preocupar especialmente com o homem, a ética e a estética. Surgiu então a chamada Escola Socrática, baseada em seus ensinamentos. 
Sócrates não deixou seu conhecimento escrito e o que sabemos de seu pensamento foi o que seus discípulos citavam. Como educador era preocupado em conhecer o indivíduo e os segredos do universo. Foi o autor da célebre frase: “Só sei que nada sei”
Sendo um dos maiores filósofos de todos ostempos, morreu em 399 a.C condenado pela democracia a tomar cicuta. Foi acusado de tentar corromper a juventude ateniense  e introduzir novos deuses .
Criou um método chamado Maiêutica (parto em grego), pois partia do pressuposto de que o conhecimento estava em cada um e devia ser “parido”. Dizia que, como sua mãe era parteira, ele também era, mas que fazia nascer a sabedoria.
Desinteressado da física e preocupado apenas com as coisas morais, Sócrates em sua obra era capaz de regular a conduta humana e orientá-la no sentido do bem. A virtude supõe o conhecimento racional do bem, razão pela qual se pode ensinar. Teve muitos seguidores, dentre os quais podemos citar Platão, e Xenofonte.
Seu discípulo Platão, nascido em 428 a.C, vinha de uma família aristocrática. Depois da morte de seu mestre, empreendeu uma série de viagens. Voltando a Atenas, fundou a Academia, sua célebre escola.
Era vivamente interessado pela vida política de sua pólis e fazia sérias críticas à democracia. Costumava dizer que o homem comum era incapaz de tomar decisões políticas inteligentes e que, para liderar, deveria haver conhecimento intelectual. Segundo Platão, o conhecimento humano era dividido em duas partes: o conhecimento sensível, particular, mutável e relativo, e o conhecimento intelectual, universal, imutável, absoluto, que ilumina o primeiro conhecimento, mas que dele não se pode derivar. Pregava, ainda, que a moral individual deveria ser acompanhada de uma mudança na sociedade, afirmando existir um mundo perfeito, o mundo das ideias.
Escreveu várias obras das quais destacamos a República, onde explicava as regras para um governo perfeito, criando ainda uma hierarquia para as formas de poder existentes, dividindo-as em perfeitas e imperfeitas... 
O principal discípulo de Platão foi Aristóteles. É considerado o filósofo que mais influência exerceu no mundo Ocidental. Defendia o escravismo ao afirmar que alguns indivíduos nasceram para ser escravos. Em 343 foi convidado por Filipe II da Macedônia, para tornar-se preceptor de  Alexandre, então com treze anos. Lá permaneceu por três anos. De volta a Atenas, em 335, Aristóteles fundou sua escola.
O filósofo valorizava a inteligência humana, única forma de alcançar a verdade. Fez escola e seus pensamentos foram seguidos e propagados pelos discípulos. Pensou e escreveu sobre diversas áreas do conhecimento: política, lógica, moral, ética.
O Liceu, também chamado de Escola Peripatética, devido ao costume de dar lições, em amena palestra, passeando pelos jardins do ginásio de Apolo, foi muito frequentado. Esta escola seria a grande rival e a verdadeira herdeira da velha e gloriosa academia platônica. Publicou muitas obras de cunho didático, principalmente para o público geral. Valorizava a educação e a considerava uma das formas de crescimento intelectual e humano. Sua grande obra é o livro Organon, que reúne grande parte de seus pensamentos.
AULA 5: A CRISE DE SISTEMA POLÍADE E ASCENSÃO DOS MACEDÔNIOS
GUERRA DO PELOPONESO
Como conhecemos a história da Guerra do Peloponeso?
Temos um cronista de guerra, alguém capaz de nos contar com detalhes das batalhas, dos feitos, realizados pelos gregos. Será?
Será que estudar a história é isso? Achar o relato de um contemporâneo e usar o que ele nos conta para sabermos com detalhes o que aconteceu no passado?
Isso passa pela compreensão do que é história, de qual é o seu objetivo... Antes de passarmos para a Guerra propriamente dita, vamos conhecer um pouco a grande opositora de Atenas: Esparta???
Esparta era uma pólis situada na região conhecida como Lacedemônia. Baseava seu modelo político em uma oligarquia governada por dois reis. Após o século VI a.C, houve uma diminuição de sua produção cultural e fortalecimento de um modelo militarista.
Os espartanos chamavam seus cidadãos de esparciatas. Sua educação iniciava-se por volta dos 7 anos, quando eram obrigados a viver com os demais cidadãos da pólis em um regime de caserna. Eram fisicamente habilitados à luta, aprendendo a sobreviver ao frio e à fome. As meninas também eram obrigadas à prática da atividade física para se tornarem boas “parideiras”.
Ao nascerem, as crianças eram conduzidas aos éforos, que avaliavam suas características físicas. Caso possuíssem algum tipo de deformidade, eram jogadas do Monte Taigeto por não servirem aos interesses da comunidade. Para manter esse modelo, os espartanos submeteram populações vizinhas da Lacônia e constituíram duas formas de submissão: os periecos e os hilotas. Os periecos poderiam se dedicar às atividades comerciais e ao artesanato.
Não possuíam direitos políticos e gozavam de autonomia limitada. Contribuíam com impostos e eram obrigados a servir o exército espartano em unidades diferenciadas. Os hilotas eram subordinados, exerciam atividades bastante pesadas e pagavam tributos. Eram mantidos em suas terras o que os faziam ainda mais revoltados. Os espartanos viviam temerosos de uma rebelião desse grupo.
Atenas, como vimos na última aula, vem de um grande desenvolvimento cultural. A cidade (pólis) é construída em torno da valorização da escrita. Seus referenciais de poder passam necessariamente pelo desenvolvimento da filosofia e do pensamento escrito. Esse elemento é central dentro de Atenas.
Após as vitórias diante dos persas, Atenas passa a ser o centro do poder grego, a liderança da liga de Delos. Cobra impostos, o que garante sua posição de representante máxima dos exércitos.
Esparta, tradicional potência militar da região do Peloponeso, inicia uma sistemática resistência ao crescimento ateniense. O ponto crítico se dá quando os Coríntios se recusam a permanecer na liga de Delos e os espartanos afirmam que, se houvesse qualquer ataque a esses, a guerra começaria.
E assim se fez. Certeza?
A guerra do Peloponeso é diferente de outras guerras da antiguidade, como afirma Finley. Ela se torna famosa não pelos seus efeitos de maneira direta, mas sim pelo fato de ser narrada por Tucídides.
Tucídides e os seus contemporâneos entende que a história só pode ser escrita por aqueles que viveram a história, não existe história pela observação do passado e o autor cumpre isso na prática. Seu trabalho, ao narrar os eventos da Guerra do Peloponeso, era manter informados seus contemporâneos e deixar para a posteridade a verdade dos fatos.
Claro que devemos relativizar, Tucídides era um ateniense relatando os eventos da guerra do Peloponeso, financiado por um dos principais líderes atenienses, Péricles. Finley, em O Uso e o Abuso da História, mais especificamente no artigo os gregos antigos e sua nação, sinaliza para desconstruir a ideia de que a Guerra do Peloponeso foi uma guerra civil ou coisa que o valha.  É essencial captar o tom contextual exato. Todo grego antigo, vivendo numa sociedade complexa, pertencia a uma multiplicidade de grupos. Sabemos que as poleis guardavam grande proximidade cultural, mas isso não fazia dela uma nação no sentido moderno.
Após a perda da última frota no final do extenuante conflito com Esparta, os atenienses concederam - num gesto sem precedentes - a cidadania ática a Samos, o aliado mais fiel, isto é, fizeram uma tardia e desesperada tentativa para se duplicar como comunidade.A efêmera medida foi revertida pela rendição de Atenas em abril de 404 e pela expulsão, uns meses depois, dos democratas de Samos por parte do golpista ateniense, Lisandro. Pouco tempo depois, foi de novo posta em prática pela democracia restaurada no arcontado de Euclides. Era uma maneira de honrar os democratas exilados de Samos. Setenta anos mais tarde, quando Filipe da Macedônia derrotou, em Queroneia, a coligação chefiada por Atenas e pareceu por momentos que o vencedor, famoso por ser capaz de arrasar totalmente as cidades vencidas, se dirigia para uma Atenas praticamente indefesa, um político democrático tão irregular na militância como original na sua vida privada. Hipérides, propôs a libertação de cento e cinquenta mil escravos agrícolae mineiros. Todavia, acabou por se julgado pela sua ilegal iniciativa, acusado de ser agitador.
Cânfora sinaliza que, no final do século V, mais precisamente no último trintênio, iniciara-se no mundo grego uma fase de conflitos extremamente sangrenta: uma guerra que envolvera quase todas as cidades deixando pouco espaço aos neutrais - uma guerra entre todos as cidades estado da Grécia antiga, isto transforma os espaços da Grécia antiga, trabalha com a própria concepção do poder no mundo ateniense.
Péricles, naturalmente, conhecia bem as etapas e os truques de uma carreira. Quando Ésquilo pôs em cena Os Persas, a tragédia que exaltava Temístocles, foi ele quem se responsabilizou pelas despesas de instrução do coro. A imagem corrente é que Péricles corrompeu as massas introduzindo pagamentos estatais para a participação nos espetáculos e para a participação nos júris do tribunal, além de outras remunerações públicas e festas. A adoção sistemática destas formas de salário estatal moldou a democracia ateniense no período de seu maior florescimento, consolidando a imagem de liderança aristocrática.
Quando o Péricles de Tucídides descreve o sistema político ateniense, opõe democracia à liberdade: a falta de outro termo - diz ele - costumamos atribuir a este regime a designação de democracia porque envolve a maioria na pleiteia: trata-se, porém, de um sistema político livre. Em certo sentido, o orador estabelece uma antítese entre democracia e liberdade.
Então a própria guerra transforma e enfraquece a organização do mundo grego. As oligarquias estão ampliadas, a relação com os estrangeiros será revista, uma vez que Macedônios, por exemplo, já estão incorporados à Hélade.
Mossé, em seu livro O Processo de Sócrates é bem dramático sobre esse momento: "Se Atenas, com efeito, durante a maior parte do século V foi a cidade-Estado mais poderosa do mundo grego, se no momento em que Péricles pronunciava o elogio da democracia, a guerra, que durava há um ano, ainda não tinha calado suas forças atuantes, não ia mais fazê-lo no início do século IV.  Um quarto de século de conflitos, que para simplificar, chamamos de guerra do Peloponeso, tinha feito dela uma cidade vencida, uma cidade assassinada, uma cidade dilacerada.
Xenofontes, continuador do relato de Tucídides, comemora a vitória de Esparta como uma vitória da liberdade. Não devemos entender que o domínio oligárquico espartano tenha sido melhor que o ateniense. No entanto, significou o distanciamento de Atenas do centro de poder. Claude Mossé demonstra a substituição dos modelos políticos da Hélade por centros oligárquicos e pela ascensão dos macedônios no mundo grego.
Os macedônios não eram estranhos no mundo ateniense. Eles participavam no século V das Olimpíadas e participaram em alguns momentos de batalhas do mundo grego.
Acontece que a Macedônia era uma região maior que as principais cidades-Estado, tinha uma economia e um sistema de guerra. No entanto, o mundo grego era referência cultural mais importante, tinha sistemas complexos e construções que geravam admiração dos grupos tratados como bárbaros, como os macedônios.
Alexandre da Macedônia ganha notoriedade durante o período tebano, ou seja, após a derrota de Esparta em novo embate entre as poleis gregas. As tradicionais cidades-Estado estavam enfraquecidas, empobrecidas e precisavam do apoio militar de Felipe. Ele envia então, nobres para serem educados nos valores do mundo grego. Um deles é seu filho, Alexandre.
Felipe II da Macedônia apaixonou-se pela bela sacerdotisa tebana, a princesa Olímpia, no século IV. Boa parte da história sobre Alexandre é escrita por Plutarco, grego do século II. A distância temporal em sua narrativa faz com que tenhamos cuidado em apreciar seus relatos.
Alexandre, o Grande, é a figura do marco decisivo entre o período chamado helenístico (até o século II d.C.) e o que o precedeu. O relacionamento entre macedônios e gregos é historicamente complexo. Embora as cidades-Estados gregas fossem primeiramente democracias ou oligarquias, Macedônia era um reino composto por cantões separados governados por líderes locais poderosos.
Ao iniciar seu relacionamento com os Macedônios, os gregos começaram a repensar seus padrões culturais. Os gregos esperaram determinados comportamentos para demonstrar que você era grego: participação nos jogos e consulta aos oráculos, por exemplo. Os macedônios participavam nesses eventos, mas eram geralmente os reis macedônios que afirmaram ser gregos.
Filipe II foi visto como o homem que transformou a Macedônia e fez dos macedônios, gregos. Filipe certamente nunca esperou assentar ao trono de rei. Seu pai, Amyntas III (393-370 BC), tinha dois filhos mais velhos que precederam Filipe II no trono. Alexander II (370-368 BC), que foi assassinado por seu cunhado e Perdiccas III, que governou entre 360-359.
O reinado de Alexandre foi marcado por guerras nas fronteiras, em especial contra as tribos do norte que pacificou usando técnicas bastante gregas: diplomacia, corrupção e aliança militar.
Após ter fixado as fronteiras do norte de seu reino, as ambições de Felipe se moveram para o sul e o leste. Uma vez que tinha capturado as minas de ouro de Mt. Pangaion, a etapa seguinte era tratar das cidades do Chalcidice: Torone, Olynthus, e Amphipolis. Esse movimento acabou por envolvê-lo em um conflito com Atenas que considerava Amphipolis como sua própria colônia.
Filipe II expandiu seu território ora apoiando, ora atacando as poleis gregas, valendo-se de suas próprias disputas, até os limites de Termópolis. Filipe torna-se um dos poderes mais importantes do mundo grego, a ponto de no século IV, Demóstenes, um orador ateniense, defender claramente na Ágora a aliança com Felipe.
Em 338, o último exército livre dos gregos foi destruído pelos macedônios, com o Felipe comandando diretamente o exército com seu filho de 16, Alexandre, na frente de batalha. Em Coríntios, Felipe estabelece a liga helênica, mas não reivindica um poder rela frente aos gregos.
Dois anos mais tarde, em 336, Felipe foi assassinado e sucedido por seu filho, Alexandre. A vitória macedônica iniciaria uma era nova, em que os exércitos de Alexandre levariam elementos da cultura grega de Atenas a Afeganistão, mas não até a guerra da independência de encontro aos turcos, 2.100 anos mais tarde, os gregos estariam livres.
A construção mítica trabalha a ideia de que na noite de núpcias, antes de Felipe possuir Olímpia fisicamente, Zeus desce como um raio e a engravida. Felipe, desconfiado, prende Olímpia em uma torre na floresta até que seu filho a reconduz ao trono ao seu lado. Caros, não podemos pensar no mito de maneira dura, mas entender sua representatividade.
Primeiro, a união de Felipe com o mundo grego, foi feita através de uma aliança humana. O “bárbaro” e da bela sacerdotisa, a representante divina. Alexandre, como sucessor do trono macedônio, teria sido concebido por Zeus, ou seja, era, antes de tudo, filho do mundo grego e de sua tradição.
Nesse sentido, é que entendemos a legitimidade alcançada por Alexandre. Sem dúvida um domínio aristocrático nas póleis, que não representavam uma monarquia, como a compreendemos, mas um reconhecimento aristocrático do poder macedônico em torno de Alexandre. Educado por Aristóteles, a legitimidade Alexandrina fica ainda maior. Em 336 a.C., Alexandre ascende ao poder, após o assassinato de seu pai em uma disputa interna entre os macedônios.
Primeiro combateu vitoriosamente os Trácios que se opunham ao poder de Alexandre. Em uma assembleia em 335 a.C. em Coríntios é escolhido como o líder militar dos gregos para uma nova campanha conta os persas. Reprimiu ainda revoltas como Ilírios a norte e em Tebas contra seu domínio.
As vitórias sobre os persas foram emblemáticas, nas imediações de onde provavelmente era Troia cumpriu-se oferendas aos guerreiros que por ali passaram, Dário III depois de uma série de derrotas militares foi vencido. Alexandre,e o modelo de governo macedônico, bebeu de maneira singular na organização persa. Suas vitórias sobre a Babilônia e Egito fazem com que o próprio Alexandre assuma o título de rei da Pérsia. O conceito de rei dos reis é reformulado.
Para marcar seu poder, Alexandre manda construir grandes cidades no Oriente, sempre com a visão de dialogar com as duas culturas. O helenismo sem dúvida nenhuma é a relação entre estes dois mundos.
Existe muito de personificação neste momento, mas, por favor, evitemos. Não é Alexandre capaz de tudo como Plutarco defendeu, nem tão pouco, outros heróis que a história inventa, tenhamos sempre cuidado.
Vale a pena sinalizar que não devemos acreditar no discurso fílmico como verdade, é licença poética e para o historiador ajuda a visualizar, pensar. O discurso do filme, por exemplo, é claramente afirmar que a opção sexual não invalida ninguém de ser um herói... O que no mundo grego é uma prática bem diferente, uma leitura não sexualizada como pensada na prática contemporânea.
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