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Sandra Gonçalves
Da patologia à diferença linguística
Para iniciar os estudos, nada melhor do que conhecer um pouco da história da educação de surdos. Assim, é possível refletir e relacionar criticamente o modo como a sociedade lidava com a pessoa surda dentro e fora do contexto educacional.
Ao longo dos tempos, os surdos quase sempre foram excluídos. Há, entretanto, registros de que na Pérsia e no Egito, eles eram muito respeitados, pois acreditava-se que os surdos eram mediadores entre os deuses e os faraós. 
Já os gregos tinham uma visão diferente. Aristóteles, por exemplo, associou a falta da linguagem à incapacidade de raciocínio. Sócrates, por sua vez, aceitava a comunicação com as mãos e o corpo. Já para Séneca, a condenação à morte de recém-nascidos “defeituosos e monstruosos” não se devia ao ódio, mas à razão, pois ele acreditava que era uma forma de distinção entre as coisas úteis e saudáveis. 
Na Grécia Antiga e no Império Romano, as guerras exigiam homens fortes e a “imperfeição” era tida como inadmissível. Por isso, crianças surdas eram eliminadas ou abandonadas em praças, vivendo à margem da sociedade. 
Na Idade Média, período dominado pelos conceitos religiosos, muitos não reconheciam o surdo como um ser “abençoado por Deus”, uma vez que não podia ouvir ensinamentos, e nem mesmo confessar os seus pecados. O arcebispo inglês John of Beverly é tido como o primeiro educador de surdos. Em 673 d.C., ele ensina um surdo a falar, o que é então considerado um milagre. 
Em 1555, o monge beneditino Pedro Ponce de León (1520-1584) funda uma escola em Madrid (Espanha) para ensinar filhos surdos de nobres, com o objetivo de lhes assegurar privilégios legais. A partir do gestual dos monges, que faziam voto de silêncio, León desenvolve a datilologia, um alfabeto manual que permite aos surdos soletrar as palavras. Contudo, neste período a educação de surdos era restrita à elite. 
Também seguindo motivações religiosas, mas acreditando que ricos e pobres tinham direito à educação, o abade Charles Michel de L’Épée inicia um novo capítulo desta história. Em 1750, convivendo com surdos nas praças de Paris (França), ele aprendeu a Língua de Sinais.
Criou, então, os sinais metódicos, que combinavam a língua visual com a gramática francesa sinalizada. 
L´Épée transforma sua casa numa escola e passa a ensinar surdos sobre astronomia, física, engenharia, entre outros conhecimentos, abrindo perspectivas de inserção profissional e social para pessoas com deficiência auditiva. Suas principais contribuições são o reconhecimento da linguagem gestual e o método de educação coletiva.
Na mesma época, na Alemanha, surge uma corrente que acredita que a educação dos surdos deveria ser baseada apenas na língua oral. No entanto, quando comparadas as duas metodologias, concluiu-se que o método de L’Épée era mais eficiente. O ensino com o uso da Língua de Sinais tomou grande impulso e aumentou o número de escolas para surdos. Com isso, uma nova realidade se apresenta: os surdos passam a participar do mercado de trabalho.
Depois de conhecer a metodologia francesa, o professor americano Thomas Hopkins Gallaudet introduziu-a nos Estados Unidos. Em 1864, ele fundou a primeira escola para surdos naquele país, a Universidade Gallaudet.
 Com o advento de novas tecnologias na época, como os aparelhos de amplificação sonora individual, conhecidos como AASI, alguns educadores passaram a acreditar que a oralização dos surdos seria um avanço na educação, em detrimento da instrução em Língua de Sinais. Tais educadores estavam tão empolgados com a nova ideia que, em 1880, durante o Congresso de Milão, decidiram proibir o uso da Língua de Sinais na educação dos surdos, tendo sido negado aos professores surdos que participavam do congresso o direito ao voto.
A partir dessa decisão, o Oralismo – filosofia de ensino orientada à oralização nos processos de aprendizagem, que proíbe qualquer manifestação que se diferencie da fala, como gestos ou língua de sinais – passou a predominar em todo o mundo.
Essa filosofia de ensino veio a ser questionada na década de 1970 pelo pesquisador Willian Stokoe, que demonstrou que a Língua de Sinais americana é uma língua completa, com todas as características das línguas orais.
No Brasil, o imperador Pedro II deu apoio ao professor surdo francês Hernest Huet, que fundou em 1857, no Rio de Janeiro, o antigo Instituto Nacional de Surdos-Mudos, hoje Instituto Nacional de Educação dos Surdos (Ines). Nessa época, a língua de instrução era a de Sinais. No entanto, em 1911 o Ines instituiu o Oralismo em todas as disciplinas. O Oralismo imperou no Brasil até a década de 1970, quando iniciou-se a mudança para aComunicação Total e depois para o Bilinguismo.
A visão da sociedade em relação à pessoa surda mudou muito através do tempo. Hoje, felizmente há uma busca de conhecimento por parte dos professores sobre a Língua de Sinais e as metodologias adequadas para ensiná-la. Leis que promovem o uso da Libras, como a Lei Federal 10.436/2002 e o Decreto Federal 5.626/2005, que buscam eliminar barreiras de comunicação, garantindo que ouvintes e surdos exerçam plenamente seus direitos. Diferentemente do que aconteceu no passado, a pessoa surda tem, por parte do poder público e da sociedade o respeito aos seus direitos, e a oportunidade de frequentar escolas comuns e inclusivas. 
Trata-se aqui de uma mudança de paradigma. A oralização (como “reparação” da surdez) deixa de ser o foco da educação dos surdos e a Língua de Sinais (a que eles têm acesso) conquista seu devido lugar: um grande avanço!
Durante um período, os surdos, que antes podiam aprender a Língua de Sinais foram submetidos à oralização por uma decisão no Congresso de Milão, em 1880. Esta realidade só começou a mudar a partir de estudos que comprovaram que a Língua de Sinais equivale às línguas orais. No Brasil, na década de 1970, o Oralismo deu lugar à Comunicação Total e, nos dias de hoje, ao Bilinguismo.
Atualmente, as políticas de inclusão promovem a autonomia dos surdos em relação ao acesso à informação e à educação. A sociedade visa o acolhimento, o respeito às diferenças e às leis que protegem a pessoa surda. Além disso, há um estímulo à quebra de barreiras não só de comunicação, mas também de acesso aos bens culturais.
A exclusão e a segregação vêm sendo combatidas, especialmente, no campo da educação. Em todos os níveis, vem sendo promovidos programas de formação de educadores para minimizar os problemas encontrados.
Formação em Libras, cursos sobre educação inclusiva, instalação de escolas bilíngues em que Libras é a primeira língua, portanto sendo a língua de instrução, e o Português como segunda língua. Estes são exemplos de ações, tanto do poder público quanto da iniciativa privada, para que a pessoa com deficiência seja plenamente incluída na sociedade.
Referências bibliográficas
GOLDFELD, Marcia. A criança surda: linguagem e cognição numa perspectiva sociointeracionista. 2ª Ed. São Paulo: Plexus Editora, 2002.
SKLIAR, Carlos (Org). Educação & Exclusão: abordagens sócio antropológicas em educação especial. Porto Alegre: Mediação, 1997.
SANTANA, Ana Paula. Surdez e Linguagem: aspectos e implicações neolinguísticas. São Paulo: Plexus Editora, 2007.
GUARINELLO, Ana Cristina. O papel do outro na escrita de sujeitos surdos. São Paulo: Plexus Editora, 2007.

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