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�PAGE \* MERGEFORMAT�5� DIREITO DA INFÂNCIA E DA ADOLESCÊNCIA NOTA DE AULA Nº 3 PRINCÍPIOS ORIENTADORES E CRITÉRIOS PARA INTERPRETAÇÃO PRINCÍPIOS ORIENTADORES 1. Ideias iniciais Para Miguel Cillero Bruñol: "os princípios, no marco de um sistema jurídico baseado no reconhecimento de direitos, pode-se dizer que são direitos que permitem exercer outros direitos e resolver conflitos entre direitos igualmente reconhecidos". Conforme Andréa Rodrigues Amin, os três princípios orientadores de todo o ECA, dentro do contexto da doutrina da proteção integral, são: princípio da prioridade absoluta; princípio do melhor interesse; e princípio da municipalização. Como o princípio da peculiaridade ou da condição peculiar de pessoa em desenvolvimento permeia todos os demais, ele também foi inserido entre os princípios orientadores. A par desses gerais, há outros princípios específicos, como, por exemplo, os estabelecidos no parágrafo único do art. 100 do ECA. 2. Princípio da Prioridade Absoluta O povo constitui o elemento mais importante de uma nação, e sua manutenção depende da preservação do ciclo da vida. O futuro de nosso país depende das nossas crianças e adolescentes. Trata-se de um princípio constitucional estabelecido pelo art. 227 da CF/88, e com previsão no art. 4º da Lei nº 8.069/90 (ECA). * ECA – "Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária. Parágrafo único. A garantia de prioridade compreende: a) primazia de receber proteção e socorro em quaisquer circunstâncias; b) precedência de atendimento nos serviços públicos ou de relevância pública; c) preferência na formulação e na execução das políticas sociais públicas; d) destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas com a proteção à infância e à juventude." Estabelece primazia em favor das crianças e adolescentes em todas as esferas de interesses. O princípio da prioridade para os idosos é infraconstitucional, ao passo que a prioridade absoluta para crianças/adolescentes é constitucional, tendo, assim, primazia sobre aquele. Proteção integral - o objetivo de se garantir a prioridade absoluta para crianças/adolescentes é tornar eficaz a sua proteção integral. Família, comunidade, sociedade em geral e Poder Público – todos esses entes devem assegurar os direitos da criança/adolescente com prioridade absoluta. Família – é o primeiro garantidor; onde a criança dá os primeiros passos sociais; é normal, na prática, que a família garanta instintivamente primazia para a criança (alimentar primeiramente o filho, mesmo que a mãe/pai fique sem comida). É instintivo, natural, mas também um dever legal com o advento do ECA. Comunidade – é a parcela da sociedade mais próxima da criança e do adolescente, residindo na mesma região e comungando dos mesmos costumes (contato direto). São, por exemplo, os vizinhos, membros da escola e da igreja, amigos, etc. Face à proximidade, possui melhores condições de identificar questões de violação de direitos ou comportamento desregrado. Sociedade – é mais ampla; somos todos nós. Há uma socialização da responsabilidade no Direito da Criança e do Adolescente. Poder Público – em todas as suas esferas (executiva, legislativa e judiciária) tem o dever de garantir o direito da criança/adolescente com prioridade. Infelizmente, na prática, isso nem sempre é seguido. Na cidade do Rio de Janeiro, por exemplo, em 1996, foram criadas três varas regionais da infância e da juventude, enquanto, em contrapartida, criaram-se 60 Juizados Especiais. Buscando efetivar o princípio da prioridade absoluta, o art. 4º, § único, previu um rol mínimo de situações a serem seguidas. Contudo, tal rol não é exaustivo. Proteção e socorro – a criança/adolescente deve ter primazia em quaisquer circunstâncias. É o caso, por exemplo, da prioridade que os bombeiros devem dar à criança/adolescente nas situações de resgates em calamidades. Serviços públicos – a criança/adolescente também goza de primazia. Exemplo: criança aguarda transplante de um órgão. Em igualdade de condições, a prioridade é da criança em relação ao adulto. Políticas públicas – deve ser assegurada primazia para políticas públicas destinadas à população infanto-juvenil. Exemplo: campanha de vacina contra pólio versus campanha de prevenção do câncer de mama (na falta de recursos, a prioridade é da primeira). Recursos públicos – deve ser dada destinação privilegiada de recursos públicos para proteção da criança/adolescente. Assim, na elaboração do projeto de lei orçamentária, devem ser destinados recursos, dentro dos disponíveis, com prioridade para promoção dos interesses infanto-juvenis. Conselho Tutelar – sua atuação é de fundamental importância, uma vez que, por força do art. 136, IX, do ECA, deve "assessorar o Poder Executivo local na elaboração da proposta orçamentária para planos e programas de atendimento dos direitos da criança e do adolescente". 3. Princípio do Melhor Interesse ou do Interesse Superior Trata-se de princípio orientador tanto para o legislador como para o aplicador, determinando a primazia das necessidades da criança/adolescente como critério de interpretação da lei, deslinde de conflitos, ou mesmo para elaboração de futuras regras. Assim, na análise do caso concreto, acima de todas as circunstâncias fáticas e jurídicas, deve pairar o princípio do melhor interesse, como garantidor do respeito aos direitos da criança/adolescente. Busca, no caso concreto, saber qual é o melhor interesse da criança/adolescente. Vai se buscar o melhor interesse da criança e não o interesse dos pais, avós, etc. Exemplo: dar a guarda de criança à avó; deve-se considerar o interesse da criança. Se a avó não tiver condições de criar, é melhor a criança ser adotada. É indispensável que todos os atores da área infanto-juvenil tenham claro que o destinatário final de sua atuação é a criança/adolescente; o direito deles é que goza de proteção constitucional em primazia, ainda que colidente com o direito da própria família. O princípio do melhor interesse está previsto na Convenção Internacional sobre os Direitos da Criança, de 1989, que foi incorporada ao ordenamento jurídico nacional. * "Artigo 3º, 1. Todas as ações relativas às crianças, levadas a efeito por instituições públicas ou privadas de bem estar social, tribunais, autoridades administrativas ou órgãos legislativos, devem considerar, primordialmente, o interesse maior da criança." 4. Princípio da Municipalização ou da Descentralização A CF/88, nos arts. 203 e 204, descentralizou e ampliou a política assistencial. * "Art. 204. As ações governamentais na área da assistência social serão realizadas com recursos do orçamento da seguridade social, previstos no art. 195, além de outras fontes, e organizadas com base nas seguintes diretrizes: I - descentralização político-administrativa, cabendo a coordenação e as normas gerais à esfera federal e a coordenação e a execução dos respectivos programas às esferas estadual e municipal, bem como a entidades beneficentes e de assistência social;" Dessa forma, a CF/88 resguardou para a União a competência para dispor sobre as normas gerais e a coordenação, e reservou a execução dos programas de assistência social à esfera estadual e municipal, bem como a entidades beneficentes e de assistência social. A política assistencial deve ser coordenada em rede, envolvendo União, Estados e Municípios, bem como entidades beneficentes, todos com responsabilidade na sua implementação. É mais simples fiscalizar a implementação e o cumprimento das metas se o poder público estiver próximo. Por essa razão, torna-se relevante o papel dos Municípios na realização das políticas públicas assistenciais. A relevânciado poder público municipal no ECA pode ser verificada no art. 88, que elenca as diretrizes da política de atendimento: * "Art. 88. São diretrizes da política de atendimento: I - municipalização do atendimento; II - criação de conselhos municipais, estaduais e nacional dos direitos da criança e do adolescente, órgãos deliberativos e controladores das ações em todos os níveis, assegurada a participação popular paritária por meio de organizações representativas, segundo leis federal, estaduais e municipais; III - criação e manutenção de programas específicos, observada a descentralização político-administrativa; IV - manutenção de fundos nacional, estaduais e municipais vinculados aos respectivos conselhos dos direitos da criança e do adolescente; V - integração operacional de órgãos do Judiciário, Ministério Público, Defensoria, Segurança Pública e Assistência Social, preferencialmente em um mesmo local, para efeito de agilização do atendimento inicial a adolescente a quem se atribua autoria de ato infracional; VI - integração operacional de órgãos do Judiciário, Ministério Público, Defensoria, Conselho Tutelar e encarregados da execução das políticas sociais básicas e de assistência social, para efeito de agilização do atendimento de crianças e de adolescentes inseridos em programas de acolhimento familiar ou institucional, com vista na sua rápida reintegração à família de origem ou, se tal solução se mostrar comprovadamente inviável, sua colocação em família substituta, em quaisquer das modalidades previstas no art. 28 desta Lei; VII - mobilização da opinião pública para a indispensável participação dos diversos segmentos da sociedade." A municipalização, seja na formulação de políticas locais pelo Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, seja solucionando seus conflitos mais simples e resguardando diretamente os direitos infanto-juvenis por sua própria gente, escolhida para integrar o Conselho Tutelar, seja, por fim, pela rede de atendimento formada pelo poder público, agências sociais e ONG's, busca alcançar eficiência e eficácia na prática da doutrina da proteção integral. 5. Princípio da Peculiaridade ou da Condição Peculiar de Pessoa em Desenvolvimento Esse princípio, como estabelece o art. 6º da Lei n.º 8.069/90, serve como norte na interpretação dos dispositivos constantes na referida norma, mas também como fundamento do investimento prioritário que família, Estado e sociedade devem fazer com relação às crianças e aos adolescentes. * "Art. 6º Na interpretação desta Lei levar-se-ão em conta os fins sociais a que ela se dirige, as exigências do bem comum, os direitos e deveres individuais e coletivos, e a condição peculiar da criança e do adolescente como pessoas em desenvolvimento." Na verdade, trata-se de um axioma que legitima todos os demais princípios. A condição peculiar de pessoa em desenvolvimento, juntamente com a condição de sujeito de direitos e a prioridade absoluta constituem o tripé que configura a concepção de criança/adolescente. A condição peculiar de pessoa em desenvolvimento implica o reconhecimento de que a criança e o adolescente não conhecem inteiramente seus direitos, não têm condições de defendê-los e fazê-los valer de modo pleno, não sendo ainda capazes, principalmente as crianças, de suprir, por si mesmas, as suas necessidades básicas. Ou seja, são vulneráveis e há necessidade de que a família, a sociedade e o Estado garantam por elas. Essa condição peculiar não pode ser definida apenas a partir do que a criança não sabe, não tem condições e não é capaz. Cada fase do desenvolvimento deve ser reconhecida como revestida de singularidade e de completude relativa, ou seja, a criança e o adolescente não são seres inacabados, a caminho de uma plenitude a ser consumada na idade adulta. Cada etapa é, à sua maneira, um período de plenitude que deve ser compreendida e acatada pelo mundo adulto (Antônio Carlos Gomes da Costa). Esta peculiaridade tem especial relevância no sentido de ser um comando ao gestor quando da formulação das políticas públicas para crianças/adolescentes. Todos os questionamentos, angústias e descobertas que são possíveis às pessoas que estão em desenvolvimento devem ser considerados na construção dos serviços pelos técnicos envolvidos em sua prestação. Serviços como o do acolhimento institucional, o das medidas socioeducativas e do tratamento do alcoolismo e da toxicodependência devem levar em consideração esse estado, sob pena de serem infrutíferos. Assim, a consequência prática de tudo isto reside no reconhecimento de que as crianças/adolescentes são detentores de todos os direitos dos adultos e que lhes sejam aplicáveis, acrescidos daqueles inerentes à sua condição peculiar. � CRITÉRIOS PARA INTERPRETAÇÃO DO ECA (art. 6º) Fim social - O ECA tem finalidade social, que é a proteção integral da criança/adolescente. - Os fins sociais se vinculam à promoção, defesa e atendimento dos direitos da criança/adolescente. Bem comum - É aquele que atende aos interesses de toda a sociedade. Direitos e Deveres da criança/adolescente - Os direitos da criança/adolescente são deveres da família, da sociedade e do Estado. - Essa articulação direito-dever perpassa todo o corpo do Estatuto. Condição peculiar da criança/adolescente como pessoas em desenvolvimento - Já visto no tópico "princípios".
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