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23 UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA Faculdade de Engenharia Química Fenômenos de Transporte – Graduação Eng. Química – ano 2012 Prof.: Luiz Gustavo Fluidos e a Hipótese do Contínuo 1 – Fluidos Antes da abordagem do assunto propriamente dito tratado neste capítulo, é interessante mencionar que as forças que atuam num fluido podem ser divididas em dois grandes grupos: I – Forças de Campo: são aquelas que atuam sobre a massa/volume de um corpo sem a existência de um contato físico. Matematicamente, podem ser representadas como: campo V F KdV= ρ∫ (K é o vetor intensidade do campo) (1) São exemplos de forças de campo as aquelas originadas pelo campo gravitacional (K=g), campo elétrico (K=E), campo centrífugo (K=ωR) etc. II – Forças de Superfície: são aquelas que atuam no corpo através do contato físico entre suas fronteiras. Matematicamente, podem ser representadas como: superfície S F T.n dS= ∫ (2) A atuação conjunta das forças de campo e de superfície dá origem ao que se denomina em Fenômenos de Transporte de Forças Inerciais, as quais são responsáveis pelas variações da quantidade de movimento num fluido. Isto posto, considere uma superfície “S” qualquer na qual atua uma determinada força F, conforme mostra a Figura 1. De acordo com o que fora discutido anteriormente, a força F é uma força de superfície porque interage diretamente com as fronteiras do sistema. 24 Figura 1 – Superfície “S” na qual há uma força “F” aplicada A força F pode ser decomposta em duas componentes: uma força normal (FN) e outra cisalhante (FC) em relação ao ponto de aplicação sobre a superfície “S”. Considere agora, o sistema mostrado na Figura 2. Figura 2 – Sistema dotado de um êmbolo e pistão, cujo interior há um sólido ou líquido. A força normal (FN) não caracteriza adequadamente o sistema (se sólido ou fluido) porque os fluidos, mesmo que sofram inicialmente maiores deformações do que os sólidos, atingem rapidamente o limite de compressibilidade e passam a se comportar como se sólidos fossem. Ao invés da força normal FN, a força cisalhante FC permite caracterizar e definir se um determinado sistema é sólido ou líquido. Num sólido, considere uma força cisalhante (Fc) sendo-lhe aplicada, conforme mostra a Figura 3. Figura 3 – Força cisalhante Fc aplicada sobre um sólido Fisicamente, a força cisalhante (Fc) e a tensão (τ) podem ser correlacionadas pela Lei de Hooke, em que G representa o módulo de rigidez do sólido e γ a deformação. ? FN Líquido ou Sólido? Conclusão: A força FN não caracteriza se o sistema é sólido ou líquido FC Sólido γ γ F FN FC S 25 cF G A τ = α γ ⇒ τ = γ (3) Nestes termos, considere o gráfico de tensão-deformação (Figura 4). Verifica-se que a borracha deforma-se mais do que o aço, pois apresenta o menor módulo de elasticidade (menor coeficiente angular). Figura 4 – Diagrama de tensão e deformação para distintos materiais sólidos Considere agora um volume de fluido, cuja mesma força cisalhante (Fc) é aplicada, conforme ilustra a Figura 5. Figura 5 - Força cisalhante Fc aplicada sobre um líquido Fisicamente, a força cisalhante (Fc) e a tensão (τ) podem ser, na maioria dos fluidos, correlacionadas pela Lei da Viscosidade de Newton, em que µ representa a viscosidade dinâmica da substância que se deforma. CF d d A dt dt γ γ τ = ≅ → τ = µ (4) Deve-se verificar que no caso de líquido, a deformação é contínua e irreversível com a passagem do tempo, ou seja, mesmo com a retirada de Fc, o sistema não retorna ao status quo ante. Portanto, fluido é qualquer material que se deforma de forma contínua e irreversível quando a ele é aplicada uma força cisalhante por menor que seja. Desta constatação, decorre a noção de Escoamento. Enquanto que nos corpos rígidos (Sólido), todas as suas partículas locomovem-se com o mesmo vetor velocidade (Deslocamento), nos Fluidos (gases e líquidos), as respectivas FC Líquido 1 – Borracha 2 – Aço 111 G γ=τ 222 G γ=τ Se 21 τ=τ , então: 2211 GG γ=γ 1 G G 2 1 1 2 > γ γ = ⇒ 12 GG > γ τ Borracha ou Aço? Borracha ou Aço? 26 partículas locomovem-se com distintas velocidades entre seus diversos pontos (Escoamento), ou seja, com diversas velocidades relativas. Considere o gráfico de tensão-deformação para a água e o mel (Figura 6). Figura 6 - Diagrama de tensão e deformação para distintas substâncias líquidas Verifica-se que a água deforma-se mais do que o mel, pois apresenta a menor viscosidade dinâmica (menor coeficiente angular). 2 – A Hipótese do Contínuo A Hipótese do Contínuo considera que existe um volume crítico de fluido (por menor que seja), onde neste volume (que tende a um ponto), o fluido ainda preserva corretamente todas as características físicas do material. Abaixo desse volume crítico, as partículas possuem movimento aleatório e o número de moléculas fica dependente do tempo, resultando descontinuidade da propriedade. Figura 7 – Hipótese do Contínuo para a densidade 1 – água 2 – mel dt d 1 11 γµ=τ dt d 2 22 γµ=τ Se 21 τ=τ , então: dt d dt d 2 2 1 1 γµ=γµ 1 dt d dt d 2 1 1 2 >γ γ = µ µ ⇒ 12 µ>µ dt dγ τ Água ou Mel? Água ou Mel ? V ρ VC T e P constantes dV dm =ρ ? dV dmlim 0V = →∆ ρ= →∆ dV dm clim VV 27 3 – Reologia Reologia é a parte dos Fenômenos de Transporte que estuda a viscosidade dos Fluidos. Tecnicamente falando, representa o estudo do comportamento da deformação dos fluidos frente à tensão cisalhante aplicada. Antes de algumas considerações sobre fluidos, convém a revisão de alguns conceitos: Fluido é o material que se deforma contínua e irreversivelmente quando sobre ele atua uma força cisalhante. Assim, a continuidade e a irreversibilidade são características do escoamento apenas de fluidos (gases e líquidos). Os sólidos também se deformam quando uma tensão de cisalhamento lhes é aplicada, mas não continuamente. Condição de não-deslizamento ou Aderência é quando um fluido em contato direto com uma fronteira sólida adquire a velocidade da própria fronteira. Tal condição também é conhecida como aderência e baseia-se em numerosas observações experimentais a respeito do escoamento dos fluidos sobre superfícies sólidas. Hipótese do Contínuo considera que existe um volume crítico de fluido (por menor que seja), onde neste volume (que tende a um ponto), o fluido ainda preserva corretamente todas as propriedades físicas. Assim, o fluido pode ser dividido em outras parcelas de fluido cada vez menores, desde que não ultrapasse o volume crítico. Lei da Viscosidade de Newton é a equação de transporte da quantidade de movimento (QM) através dum fluido, na qual são relacionadas a tensão de cisalhamento (τ) com a taxa de deformação de deformação (γ): d dt γ τ = µ (5) Viscosidade dinâmica (µµµµ) é uma propriedade física dos fluidos e representaa resistência dos mesmos à deformação por causa das forças intermoleculares de coesão. É uma propriedade que depende da natureza da química da substância fluida, bem como de fatores físicos externos (pressão, temperatura e composição). Algumas propriedades físicas do ar, água e alguns fluidos podem ser encontradas no final deste tópico, dentre elas, a viscosidade dinâmica. Na lei da 28 Viscosidade de Newton, a viscosidade dinâmica representa a constante de proporcionalidade entre a tensão de cisalhamento e o gradiente de velocidade existente no fluido. 4 – Classificação dos Fluidos Os fluidos podem ser classificados segundo várias terminologias. Dentre elas, algumas mais importantes são: Fluidos Ideais: são aqueles cuja viscosidade é nula (µ = 0). Por definição, conclui-se que é um fluido que escoa sem perdas de energia por atrito. Fisicamente falando, nenhum fluido possui essa propriedade. Porém, pode representar, às vezes, uma hipótese útil nos cálculos em Engenharia. Obs.: Há também os sólidos ideais. São aqueles que não se deformam seja qual for a força aplicada. Fluidos Perfeitos: são aqueles cujo gradiente de velocidade é zero (dv/dy = 0). Por definição, são fluidos nos quais a quantidade de movimento é transportada eficazmente, invariando com a posição. Novamente, nenhum fluido possui essa propriedade. Porém, pode representar, às vezes, uma hipótese útil nos cálculos em Engenharia. Fluidos Incompressíveis: são aqueles, cuja densidade sofre variações insignificantes com a pressão. Praticamente todos os líquidos são incompressíveis. Fluidos Compressíveis: são aqueles, cuja densidade sofre variações significativas com a pressão. Nessa categoria estão os gases. Fluidos Newtonianos: são aqueles cujo comportamento pode ser descrito pela Lei da Viscosidade de Newton, ou seja, em condições físicas constantes (temperatura, pressão e/ou concentração) a viscosidade é constante, independentemente da tensão que atua sobre o sistema. d dt γ τ = µ (6) Fluidos não-Newtonianos: são aqueles que não atendem à Lei da Viscosidade de Newton. Mesmo em condições de pressão, temperatura e/ou concentração fixas, a viscosidade é variável com a 29 tensão atuante sobre o sistema. Nesta categoria estão inclusos os fluidos pseudoplásticos, os fluidos dilatantes e os fluidos de Bingham. No que tange à viscosidade, são apresentados na Figura 8, os comportamentos reológicos genéricos para fluidos newtonianos, não-newtonianos e ideais. Figura 8 – Reograma para fluidos newtonianos e não-newtonianos De acordo com a figura anterior, pode-se chegar às seguintes conclusões: - Nos Fluidos Newtonianos (curva I), a viscosidade é constante durante todo o escoamento (desde que temperatura, pressão e concentração sejam constantes). Exemplos: ar, água, gasolina, diesel, álcool etílico, glicerina etc. – Nos Fluidos Pseudoplásticos (curva II), a viscosidade diminui à medida que a tensão sobre ele é aumentada (conforme mais o fluido se deforma, menos viscoso ele se torna). Exemplos: soluções polimérica, suspensões coloidais, polpa de papel em água, tintas etc. - Nos Fluidos Dilatantes (curva III), a viscosidade aumenta à medida que a tensão sobre ele é aumentada (conforme mais o fluido se deforma, mais viscoso ele se torna). Exemplo: suspensões de amido, suspensões de areia, suspensão de silicato de potássio etc. – Nos Fluidos de Bingham (curva IV), a viscosidade é constante durante todo o escoamento, como se fosse um fluido newtoniano. A diferença é que para que ele seja posto em movimento, ou seja, comece a escoar, é necessário o fornecimento de uma tensão superior à tensão inicial (τo), sem a qual, o fluido de Binghan comporta-se como se fosse um sólido. Exemplos: creme dental, maionese, catchup, chantilly, clara em neve, lamas de argila e de poços de perfuração de petróleo etc. (I) Fluido Newtoniano (II) Fluido Pseudoplástico (III) Fluido Dilatante (IV) Fluido de Bingham (V) Fluido Ideal (VI) Sólido τ d dt γ I II III IV τo V VI 30 Os Fluidos Pseudoplásticos e Dilatantes são conhecidos como fluidos de “Ostwald de Waele” ou Fluidos “Power-Law”. O estudo de fluidos não-newtonianos é mais complexo porque a viscosidade aparente (η) além de depender da taxa de deformação (dv/dy), pode ainda depender, conforme o caso, do tempo. A dependência da viscosidade aparente com o tempo (considerando tensão cisalhante, temperatura, pressão e concentração constantes) leva à seguinte classificação: Fluidos Tixotrópicos são fluidos cuja viscosidade aparente diminui com o tempo. Algumas tintas são tixotrópicas. Fluidos Reopéticos são fluidos cuja viscosidade aparente aumenta com o tempo. Um exemplo típico de fluido reopético é o creme de leite que sob uma mesma tensão se transforma em chantilly e depois em manteiga. Fluidos Viscoelástico são fluidos cuja viscosidade aparente permanece quase que inalterada com o passar do tempo. 5 – Fluidos Não-Newtonianos Os fluidos não-newtonianos podem ser matematicamente descritos como: d dt γ τ = η ou Dτ = η (η é a viscosidade aparente) (7) Enquanto que nos fluidos newtonianos, a viscosidade dinâmica (µ) durante o escoamento é constante, nos fluidos não-newtonianos, a viscosidade varia de acordo com a deformação sofrida pelo fluido, ou seja: ( )f Dη = (8) Para os fluidos de Power-Law ou Ostwald de Waele a viscosidade pode ser escrita como: n 1 0D −η = η (η0 é a viscosidade aparente inicial e n é uma constante) (9) Então: 31 ( )n 10D D−τ = η (10) De acordo com a Eq. (9), pode ser concluído que: I – Se n = 1, η = ηo (constante) e o fluido comporta-se como um fluido newtoniano; II - Se n < 1, 01 nD − ηη = e o fluido comporta-se como um fluido pseudoplástico; III - Se n > 1, 1no D −η=η e o fluido comporta-se como um fluido dilatante; Para os Fluidos de Bingham, a tensão cisalhante versus deformação pode ser simplesmente descrita como: 0 0Dτ = τ + η (11) Na situação anterior, o fluido de Bingham também é conhecido como Fluido Plástico Ideal (viscosidade aparente inicial é constante durante o escoamento). Se não for constante, o Fluido de Bingham é conhecido como Fluido Plástico Real, sendo escrito como: 0 Dτ = τ + η (12) Recapitulando, o estudo da determinação da viscosidade de qualquer fluido e sua respectiva classificação é realizada por um campo da Física denominado Reologia. Assim, nos projetos de engenharia ou escoamentos industriais que envolvam algum tipo de fluido, deve-se necessariamente determinar o comportamento reológico do material, se não conhecido. Por fim cabe mencionar que nem sempre o engenheiro tem facilidades técnicas para determinar a taxa de deformação (D) quando escrita como a variação da deformação do fluido pelo 32 tempo d dtγ . Para tanto, seria mais conveniente expressar esta taxa de deformação em função de variáveis mais fáceis de serem mensuradas. Para tanto, considere agora o seguinte sistema para o Fluxo de Quantidade de Movimento: Figura 9 – Fluxo de Quantidade de Movimento A tensão que o fluido sente em virtude da força cisalhante que a placa lhe aplica (Figura 9) pode ser descrita como: dt dFx γ α ⇒ dt d yx γ ατ (13) A deformação do fluido pode ser representada como: [ ] dy dxdtg =γ (14) Mas para pequenos ângulos [ ] γ≅γ ddtg , substituindo em (14): dy dxd =γ (15) A velocidade da placa na forma diferencial pode ser calculada pela equação (16): dt dxdvx = ou dtdvdx x= (16) Substituindo a equação (16) em (15): dy dx y x QM dγ 33 dy dtdvd x=γ (17) Substituindo (17) em (13): dtdy dtdvx yx ατ ⇒ dy dv x yx ατ ⇒ dy dvx yx µ−=τ (18) A Equação (16) é denominada “Lei da Difusão de Newton” ou “Lei da Viscosidade de Newton” e a constante “µµµµ” é a viscosidade dinâmica do fluido (cada fluido possui uma viscosidade dinâmica própria, numa determinada temperatura, pressão e concentração). Se o fluido apresenta densidade constante (∆ρ = 0), então a Lei da Viscosidade de Newton pode ser escrita como: ( ) dy vd x yx ρ ρ µ −=τ ou ( ) dy vd x yx ρ ν−=τ (19) A constante “νννν” é conhecida como viscosidade cinemática ou difusividade de QM, cuja dimensão é [L2.T-1]. Já o termo ρρρρvx representa a quantidade de movimento por unidade de volume. A Eq. 19 representa apenas uma das 9 componentes do vetor τ. Assim, generalizando: ( )vρ∇ν−=τ (20) 6 – Efeito da Temperatura e da Pressão na Densidade e na Viscosidade de Gases e Líquidos Na Tabela 1, são apresentadas as influências que a temperatura e a pressão desempenham sobre a densidade e viscosidade dos líquidos e gases. 34 Tabela 1 – Influências da Temperatura e Pressão na Densidade e Viscosidade de Fluidos Densidade Viscosidade Líquido Gases Líquido Gases Temperatura ↑↑↑↑ ↓↓↓↓ ↓↓↓↓ ↓↓↓↓ ↑↑↑↑ Pressão ↑↑↑↑ ↑↑↑↑ ↑↑↑↑ ↑↑↑↑ ↑↑↑↑ Obs.: Fisicamente, a densidade e a viscosidade dos líquidos variam diretamente com a pressão. Todavia, tais variações são irrelevantes frente àquelas verificadas para os gases. Portanto, em muitos projetos e sistemas de controle, o efeito da pressão sobre as densidades e viscosidades dos líquidos é negligenciado. 7 – Densidades e Viscosidades para alguns Líquidos e Gases Nas Tabelas 2, 3, 4 e 5 são apresentadas os valores de densidade e viscosidade para alguns gases e líquidos utilizados industrialmente. Tabela 2 - Densidade e viscosidade dinâmica do ar em função da temperatura Temperatura (ºC) ρ (kg.m-3) µ (N.s.m-2) x 105 0 1,29 1,72 10 1,25 1,77 20 1,20 1,81 30 1,16 1,86 40 1,13 1,91 50 1,09 1,95 60 1,06 1,99 70 1,03 2,04 80 1,00 2,09 90 0,972 2,19 100 0,946 2,30 Tabela 3 - Densidade e viscosidade dinâmica da água em função da temperatura Temperatura (ºC) ρ (kg.m-3) µ (N.s.m-2) x 104 0 1000 17,5 10 1000 13,0 20 998 10,2 30 996 8,0 40 992 6,51 35 50 988 5,41 60 984 4,60 70 978 4,02 80 971 3,50 90 965 3,11 100 958 2,82 Tabela 4 - Densidade e viscosidade dinâmica de alguns gases industriais T (ºC) ρ (kg.m-3) µ (N.s.m-2) x 105 Ar 15 1,23 1,79 CO2 20 1,83 1,47 He 20 0,166 1,94 H2 20 0,0838 0,88 CH4 20 0,667 1,10 N2 20 1,16 1,76 O2 20 1,33 2,04 Tabela 5 - Densidade e viscosidade dinâmica de alguns líquidos industriais T (ºC) ρ (kg.m-3) µ (N.s.m-2) Tetracloreto de Carbono (CCl4) 20,0 1590 9,58.10-4 Álcool Etílico (C2H5OH) 20,0 789 1,19.10-3 Gasolina 15,6 680 3,10.10-4 Glicerina 20,0 1260 1,50 Mercúrio (Hg) 20,0 13600 1,57.10-7 Óleo SAE 30 15,6 912 3,80.10-1 Água do mar 15,6 1030 1,20.10-3 8 – Forças atuantes num Fluido em Movimento e Números Adimensionais Relevantes As forças que atuam sobre um fluido em movimento são: - Forças de Campo (Fc): são forças que atuam devido ao campo que age no sistema (campo gravitacional, campo elétrico, campo magnético). - Forças Viscosas (Fv): são forças que atuam devido à deformação do fluido. São originadas pelo atrito que uma molécula desempenha sobre a outra durante o escoamento. - Forças de Superfície (Fp): são forças que atuam na superfície do sistema, como aquelas devido à pressão. - Forças Elásticas (Fe): são aquelas oriundas de sistemas em altas velocidades. 36 - Forças de Coesão (Fσσσσ): são aquelas oriundas da tensão superficial dos fluidos, ou seja, forças de coesão intermolecular. - Forças Inerciais (Fi): são as forças resultantes que definem a quantidade de movimento do sistema. Das definições acima se pode concluir que: σ++++= FFFFFF epvci (21) em que: ma dt dv m dt )mv(dFi === (22) Efetuando a divisão pelas forças inerciais: ii e i p i v i c F F F F F F F F F F1 σ++++= (23) As frações do segundo membro da Eq.(23) são adimensionais e recebem nomes especiais conforme descreve está descrito na Tabela 6. Tabela 6 – Adimensionais Importantes no Escoamento de Fluidos Adimensional Símbolo Nomenclatura Aplicação c i F F Fr Froude Distinção entre escoamentos rápidos e tranqüilos em sistemas que possuem superfícies livres, tais como projetos de navios e estruturas hidráulicas v i F F Re Reynolds Distinção entre regimes de escoamentos laminares, transitórios e turbulentos. Amplamente utilizado em projetos hidráulicos e desempenho sobre corpos submersos (carros, submarinos e aeronaves) p i F F Ru Ruarke Útil para escoamentos compressíveis e na relação entre pressão estática e dinâmica de sistemas como tubulações e equipamentos 37 i p F F Eu Euler Importante para prever capacidade de um sistema em função do consumo energético, aplicado no projeto de bombas, compressores, separadores etc. e i F F Ma Mach Distinção entre regimes de escoamentos nos problemas com escoamentos internos e externos compressíveis, tais como o subsônico, o transônico e o hipersônico aplicado à aerodinâmica de aeronaves,carros, navios, projéteis etc. σF Fi We Weber Importante no estudo de interfaces líquido-líquido e gás-líquido principalmente para os estudos que envolvem transferência de massa (secagem, umidificação etc.) e perfuração de poços de petróleo. Os Números Adimensionais Fr, Re, Ru, Eu, Ma e We podem ser expressos em termos de algumas propriedades físicas importantes para o escoamento dum fluido, tais como: comprimento ou dimensão característica (L), densidade (ρ), velocidade (v), viscosidade (µ), pressão (P), aceleração gravitacional (g), tensão superficial (σ) e velocidade do som (c). Se: 2223 i vLv. t L .L t v .LmaF ρ=ρ=ρ== (24) gLmgF 3c ρ== (25) 2 p PLF = (26) vLL L vA dy dvF 2xv µ=µ=µ= (27) 2 eF cvL= ρ (28) LF σ=σ (29) 38 Então: gL vLFr 3 22 ρ ρ = ⇒ Lg vFr 2 = (30) 2 22 PL vLRu ρ= ⇒ P vRu 2ρ = (31) 22 2 vL PLEu ρ = ⇒ 2v PEu ρ = (32) 2 2 2 L vMa cvL ρ = ρ ⇒ c vMa = (33) L vLWe 22 σ ρ = ⇒ σ ρ = 2LvWe (34) Os Números Adimensionais têm inúmeras aplicações em engenharia devido às vantagens que apresentam. Dentre elas: 1 – Reduzem o esforço experimental, pois englobam em si mais de uma variável; 2 – Representam uma alternativa mais simples e interessante do que enfrentar a resolução de um sistema de Equações Diferenciais Parciais sobre os fenômenos de transferência de momento, calor e massa; 3 – Possibilitam o uso de Similaridade, ou seja, a partir do estudo dum protótipo de laboratório é possível fazer previsões para um sistema análogo, inclusive em tamanho real (scale-up). 39 9 – A experiência de Reynolds Considere um fluido qualquer escoamento numa tubulação em que é possível inserir um corante, conforme ilustra a Figura 10. Figura 10 – Regimes de Escoamento de Fluido Tomando como base uma seção transversal do tubo no qual escoa um determinado fluido, os respectivos perfis de velocidade para o regime laminar (I), de transição (II) e turbulento (III) podem ser visualizados na Figura 11. Figura 11 – Regime Laminar (I), de Transição (II) e Turbulento (III) Região de Análise Reservatório de Corante Fluido Tubo I II III (I) O fluido escoa como se fosse lâminas sobrepostas, ou seja, a parcela de fluido de uma lâmina não se mistura com a de outra durante o escoamento. Nessa situação, as forças viscosas sobressaem em relação às demais. Nesse caso, têm-se baixos Re e o regime de escoamento é dito LAMINAR. (II) A velocidade é majorada e as lâminas de fluido tendem a se perturbar. Nessa situação, o regime de escoamento é dito TRANSITÓRIO ou DE TRANSIÇÃO. (III) Com o incremento ainda mais da velocidade, as parcelas de fluido misturam-se aleatoriamente (turbilhões ou vórtices). Nesse caso, têm-se altos Reynolds e o regime de escoamento é dito TURBULENTO. vI vII vIII v vI < vII < vIII I II III 40 Para cada situação contida na Figura 11, é possível calcular um número de Reynolds (Re) representativo, conforme ilustra a Tabela 7. Tabela 7 – Número de Reynolds em função do Regime de Escoamento Laminar 0 Re 2000≤ < Transição 2000 Re 2300≤ ≤ Turbulento Re 2300> 10 – Escoamento de um fluido – Analogia entre Transferência de Momento, Calor e Massa Para que ocorra o transporte de uma determinada grandeza é necessário haver um “Gradiente Potencial”. Matematicamente: PB ∇α ⇒ PCB ∇−= (35) Na equação acima, “B” é a grandeza transportada, “∇P” é o gradiente de uma propriedade física que promove o transporte e “C” é uma constante de proporcionalidade. Fisicamente, uma grandeza é transportada espontaneamente de um maior para um menor potencial. O gradiente “∇” é um vetor e nas equações de transporte é representado da seguinte forma: z k y j x i ∂ ∂ + ∂ ∂ + ∂ ∂ =∇ ou z e y e x e zyx ∂ ∂ + ∂ ∂ + ∂ ∂ =∇ (36) Feitas as considerações iniciais, considere o sistema representado pela Figura 12. Figura 12 – Transporte de Quantidade de Movimento devido ao movimento de uma placa sobre um fluido Fluido Placa Inferior Estática Placa Superior Estática t = 0 v = 0 Fluido Placa Inferior Estática t > 0 v > 0 v vfluido = vplaca = 0 vfluido = vplaca 41 Ao colocar a placa superior em movimento, a camada de fluido adjacente a ela entra em movimento. As moléculas dessa camada (1) chocam-se com as da camada adjacente inferior (camada 2), transferindo um determinado fluxo de Quantidade de Movimento. As moléculas da camada 2 chocam-se com a adjacente inferior (camada 3), transferindo novamente uma parcela de Quantidade de Movimento e assim sucessivamente, até chegar à placa inferior. Por sua vez, o fluido imediatamente próximo à placa inferior (estática) possui velocidade também nula (condição de aderência). Como demonstrado anteriormente, o Fluxo de Quantidade de Movimento na situação apresentada pode ser genericamente representada por: ( )vρ∇ν−=τ (37) Fazendo a analogia para o Fluxo de Calor (Fig. 13), tem-se a Eq. (38): Figura 13 – Fluxo de Calor dy dTkq y −= (38) A Equação (36) é denominada de “Lei da Difusão de Fourier” e a constante “k” é chamada de condutividade térmica. Se a densidade (ρ) e o calor específico (cp) do sistema forem constantes, a Lei de Difusão de Fourier pode ser escrita como: ( ) dy Tcd c kq p p y ρ ρ −= ( )p y d c T q dy ρ = −α (39) A constante α é chamada de difusividade térmica, cuja dimensão é [L2.T-1]. Já o termo “ρρρρcpT” representa a quantidade de energia por unidade de volume. Generalizando a Lei da Difusão de Fourier: y x T1 T2 qy T2 > T1 42 ( )Tc ckq p p ρ∇ ρ −= (40) Fazendo a analogia para o Fluxo de Massa (Fig. 14), tem-se a Eq. (41): Figura 14 – Fluxo de Massa dy dC DJ OHArOHOH 222 −−= (41) A Equação (41) é denominada de “Lei da Difusão de Fick” e a constante “D” é chamada de difusividade mássica. O termo ρρρρH2O representa a quantidade de massa por unidade de volume, ou seja, concentração de determinada espécie. Generalizando a Lei de da Difusão de Fick: CDJ ∇−= (42) Por fim, em fenômenos de transporte, pode-se resumir os processos de transferência de quantidade de movimento, calor e massa (por difusão) conforme está descrito na Tabela 8. Tabela 8 – Considerações Finais sobre Transferência de Momento, Calor e Massa Grandeza Transportada Difusividade do Fluxo Grandeza que promove o Transporte (gradiente) Quantidade de Movimento τ ν Velocidade Calor q α Temperatura Massa J D Concentração y x Placa Higroscópica Placa úmida JH2O Ar CH2O 43 Referências Bibliográficas: Bennet, C.O., Myers, J.E., Fenômeno de Transporte – Quantidade de Movimento, Calor e Massa, 1978. Bird, R. B, Stewart, W.E., Lightfoot, E.N, Fenômenos de Transporte, 2ª Ed. LTC, 838 p. 2004. Damasceno, J.J.R. Lições sobre Fenômenos de Transporte para Engenheiros Químicos: Transporte de Quantidade de Movimento em Fluidos, 190 p., 2005. Livi, C.P, Fundamentos de Fenômenos de Transporte, LTC, 2004. Sisson, L.E., Pitts, D.R, Fenômenos de Transporte, Guanabara Dois, 1979.
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