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CAPÍTULO 2. CICLO HIDROLÓGICO 2.1. O Ciclo da Água É o fenômeno global de circulação fechada da água entre a superfície terrestre e a atmosfera, impulsionado fundamentalmente pela energia solar associada à gravidade e à rotação terrestre. O conceito de ciclo hidrológico (Figura 4) está ligado ao movimento e à troca de água nos seus diferentes estados físicos, que ocorre na Hidrosfera, entre os oceanos, as calotes de gelo, as águas superficiais, as águas subterrâneas e a atmosfera. Este movimento permanente deve-se ao Sol, que fornece a energia para elevar a água da superfície terrestre para a atmosfera (evaporação), e à gravidade, que faz com que a água condensada se caia (precipitação) e que, uma vez na superfície, circule através de linhas de água que se reúnem em rios até atingir os oceanos (escoamento superficial) ou se infiltre nos solos e nas rochas, através dos seus poros, fissuras e fraturas (escoamento subterrâneo). Nem toda a água precipitada alcança a superfície terrestre, já que uma parte, na sua queda, pode ser interceptada pela vegetação e volta a evaporar-se. A água que se infiltra no solo é sujeita a evaporação direta para a atmosfera e é absorvida pela vegetação, que através da transpiração, a devolve à atmosfera. Este processo chamado evapotranspiração ocorre no topo da zona não saturada, ou seja, na zona onde os espaços entre as partículas de solo contêm tanto ar como água. A água que continua a infiltrar-se e atinge a zona saturada, entra na circulação subterrânea e contribui para um aumento da água armazenada (recarga dos aquíferos). Na Figura 5 observa-se que, na zona saturada (aquífero), os poros ou fraturas das formações rochosas estão completamente preenchidos por água (saturados). O topo da zona saturada corresponde ao nível freático. No entanto, a água subterrânea pode ressurgir à superfície (nascentes) e alimentar as linhas de água ou ser descarregada diretamente no oceano. A quantidade de água e a velocidade com que ela circula nas diferentes fases do ciclo hidrológico são influenciadas por diversos fatores como, por exemplo, a cobertura vegetal, altitude, topografia, temperatura, tipo de solo e geologia. Figura 4 – Componentes do ciclo hidrológico. Figura 5 – Movimentação de água no perfil do solo. Resumo do ciclo hidrológico: a) circulação da água, do oceano, através da atmosfera, para o continente, retorno, após a detenção em vários pontos, para o oceano, através de escoamentos superficiais ou subterrâneos e, em parte pela própria atmosfera; e b) curtos-circuitos que excluem segmentos diversos do ciclo completo, como por exemplo a movimentação da água do solo e da superfície terrestre para a atmosfera, sem passar pelo oceano. 2.2. Equação Hidrológica I - O = S I = (entradas) incluindo todo o escoamento superficial por meio de canais e sobre a superfície do solo, o escoamento subterrâneo, ou seja, a entrada de água através dos limites subterrâneos do volume de controle, devido ao movimento lateral da água do subsolo, e a precipitação sobre a superfície do solo; O = saídas de água do volume de controle, devido ao escoamento superficial, ao escoamento subterrâneo, à evaporação e à transpiração das plantas; e S = variação no armazenamento nas várias formas de retenção, no volume de controle. Apesar dessa simplificação, o ciclo hidrológico é um meio conveniente de apresentar os fenômenos hidrológicos, servindo também para dar ênfase às quatro fases básicas de interesse do engenheiro, que são: precipitação; evaporação e transpiração; escoamento superficial; escoamento subterrâneo. Embora possa parecer um mecanismo contínuo, com a água se movendo de uma forma permanente e com uma taxa constante, é na realidade bastante diferente, pois o movimento da água em cada uma das fases do ciclo é feito de um modo bastante aleatório, variando tanto no espaço como no tempo. Em determinadas ocasiões, a natureza parece trabalhar em excesso, quando provoca chuvas torrenciais que ultrapassam a capacidade dos cursos d’água provocando inundações. Em outras ocasiões parece que todo o mecanismo do ciclo parou completamente e com ele a precipitação e o escoamento superficial. E são precisamente estes extremos de enchente e de seca que mais interessam aos engenheiros, pois muitos dos projetos de Engenharia Hidráulica são realizados com a finalidade de proteção contra estes mesmos extremos. 2.3. Balanço Hídrico O balanço hídrico nada mais é do que o computo das entradas e saídas de água de um sistema. Várias escalas espaciais podem ser consideradas para se contabilizar o balanço hídrico. Na escala macro, o “balanço hídrico” é o próprio “ciclo hidrológico”, cujo resultado nos fornecerá a água disponível no sistema (no solo, rios, lagos, vegetação úmida e oceanos), ou seja, na biosfera (SENTELHAS & ANGELOCCI, 2009). Em uma escala intermediária, representada por uma microbacia hidrográfica, o balanço hídrico resulta na vazão de água desse sistema. Para períodos em que a chuva é menor do que a demanda atmosférica por vapor d’água, a vazão (Q) diminui, ao passo que nos períodos em que a chuva supera a demanda, Q aumenta (SENTELHAS & ANGELOCCI, 2009). Na escala local, no caso de uma cultura, o balanço hídrico tem por objetivo estabelecer a variação de armazenamentos e, consequentemente, a disponibilidade de água no solo. Conhecendo-se qual a umidade do solo ou quanto de água este armazena é possível se determinar se a cultura está sofrendo deficiência hídrica, a qual está intimamente ligada aos níveis de rendimento dessa lavoura (SENTELHAS & ANGELOCCI, 2009). De forma didática e simples, o balanço hídrico de uma bacia hidrográfica (vamos estudar seu significado nos próximos tópicos) pode ser dado pela equação: P = Qd + Qb + T + E, sendo: - P = Precipitação (chuva); - Qd = Escoamento direto (água que deixa a bacia durante a chuva ou poucas horas após o seu encerramento); - Qb = Escoamento de base (água que infiltra no solo, alcançando camadas inferiores do solo, sendo temporariamente armazenada até contribuir para o rio na forma de escoamento de base, nas nascentes e áreas baixas); - T = Transpiração da vegetação; - E = Evaporação da água do solo e das superfícies líquidas. Exercício 1: Na bacia hidrográfica de um determinado rio, durante o ano de 2010, choveu (P) 1.400 mm (milímetros), tendo 50% como escoamento de base (Qb), 18% como escoamento direto (Qd), 15% como transpiração (T) e 17% como evaporação (E). Calcule o balanço hídrico em termos quantitativos desta área. Resolução: O exercício traz os componentes do balanço hídrico em porcentagem, temos que transformar em termos quantitativos. Esta etapa é bem simples e pode ser feita utilizando uma incógnita, veja: -> Se 1.400 mm de chuva (P) equivale a 100% e 50% de escoamento de base equivale a quanto? 1.400 – 100% x – 50% 100 * x = ( 1.400 * 50 ), sendo (*) o sinal de multiplicação 100 * x = 70.000, como o número 100 está multiplicando, ele passa dividindo x = 70.000 / 100, sendo (/) o sinal de divisão x = 700 mm de escoamento de base (Qb) Realizando a mesma conta com os outros componentes temos: - Escoamento direto (Qd) = 252 mm - Transpiração (T) = 210 mm - Evaporação (E) = 238 mm Veja como ficou o nosso balanço hídrico: P = Qd + Qb + T + E 1.400 mm = 252 mm + 700 mm+ 210 mm + 238 mm 1.400 mm = 1.400 mm (Notem que o valor de precipitação é igual a soma dos componentes do balanço hídrico, caso o seu resultado não tenha sido este, refaça suas contas, pois estão incorretas). ----------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Já para a agropecuária, o balanço hídrico para verificar a deficiência hídrica para uma determinada cultura ou para o manejo do solo pode ser resumido na equação abaixo: P = E + T, que são os termos que já conhecemos ou de forma mais resumida e prática em: P = ETP, sendo: - ETP: Evapotranspiração Potencial, a soma conjunta da evaporação e da transpiração de uma determinada área. No caso da ETP ser maior que P – há deficiência hídrica para a cultura; se a ETP for menor que P – não há deficiência hídrica para a cultura.
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