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Melanie Klein
(1882 - 1960)
A autobiografia de Melanie Klein, em poder do Melanie Klein Trust, é 
inédita. Entretanto, em 1983, um precioso acervo de dados a respeito da 
importante psicanalista foi obtido a partir de uma coletânea de cartas 
de família descoberta no sótão da casa de seu filho mais novo, Erich. 
Coube a seus biógrafos a constatação de que o conteúdo de tais cartas 
conflita com a autobiografia que, segundo Melanie, seria sua história 
oficial. Enquanto apenas uma carta de seu marido subsiste, a maioria 
das escritas por sua mãe e seu irmão parecem ter sido conservadas. 
Destas, mãe e irmão emergem como pessoas muito diferentes daquelas 
descritas por Melanie Klein.
Melanie Klein nasceu em Viena em 30 de março de 1882, filha de Moritz 
Reizes e Libussa Deutch. Moritz Reizes era um judeu polonês nascido 
em Lemberg (hoje Lvov), na Galícia. Por muitos anos foi um estudioso do 
Talmude, mas provavelmente influenciado pelo Haskalah, um movimento 
de emancipação judaica, rompeu com a ortodoxia religiosa e formou-se 
em medicina. Culto, fluente em vários idiomas, nunca conseguiu sucesso 
em sua carreira em virtude primeiro de ser judeu e, também, de origem 
polonesa, o que significava pertencer a uma classe desfavorecida dentro 
da hierarquia social judaica. Moritz foi casado duas vezes. O primeiro 
casamento foi desfeito quando ele contava 37 anos de idade. Aos 45 
conheceu e casou-se com Libussa, também judia, de origem eslovaca, 
24 anos mais moça que ele, descrita por Melanie em sua autobiografia 
como uma jovem culta, espirituosa e interessante. Depois do casamento, 
o casal estabeleceu-se em Deutsch-Kreutz, Áustria. Em algum momento 
no período entre o nascimento das duas últimas filhas, a família mudou-
se para Viena, na esperança de melhorar sua difícil situação financeira. 
Em Viena, o Dr. Reizes trabalhou como assistente de um dentista e, 
para complementar sua renda, como consultor médico de um teatro de 
variedades.
O casal teve quatro filhos: Emilie (1876), Emanuel (1877), Sidonie (1878) 
e Melanie Reizes. Dentro da família, Emilie era a predileta do pai, Sidonie 
a mais bonita e Emanuel uma espécie de gênio. E embora a mãe tivesse 
em Melanie sua filha preferida, confessou-lhe que ela não fora desejada. 
Libussa amamentou os três primeiros filhos, mas Melanie teve uma 
ama-de-leite que, segundo ela, “me amamentava a qualquer hora que 
eu pedisse”. Ainda segundo Melanie Klein em sua autobiografia, “nessa 
época, Trub King ainda não fizera sua obra devastadora”, referindo-se ao 
pediatra neozelandês que defendia um regime alimentar severo para os 
bebês. Com relação ao pai ela diz:_”Não me lembro de alguma vez ele 
ter brincado comigo. Doía-me pensar que meu pai era capaz de afirmar 
com toda franqueza e sem consideração por meus sentimentos que 
preferia minha irmã mais velha, sua primogênita.” Desde cedo Melanie 
exibia uma notável autoconfiança. Na velhice dizia às pessoas que “não 
era tímida em absoluto” e, de fato, nunca se deixara passar despercebida 
durante toda a sua tumultuada e importante vida.
Melanie Klein sentia grande atração pela atmosfera cultural da família 
de sua mãe, filha de um rabino. Tanto o pai quanto o avô de Libussa 
eram muito respeitados tanto por seu saber quanto por sua tolerância. 
Melanie herdou da família a vontade de aprender e logo se tornou uma 
estudante ambiciosa, consciente de suas notas. Sonhava em estudar 
medicina e especializar-se em psiquiatria, o que nunca se realizou em 
virtude da situação financeira da família, agravada com a morte do pai 
em 1900. Ela chegou a estudar arte e história na Universidade de Viena, 
mas não chegou a graduar-se. O irmão Emmanuel foi seu grande mentor 
intelectual. Ele iniciou o curso de medicina que abandonou para se 
dedicar às artes. Era muito doente, portador de cardiopatia conseqüente 
a doença reumática, tuberculose e depressão. No final da vida tornou-
se viciado em drogas. Emmanuel tinha para com suas irmãs um 
relacionamento com matizes incestuosos e, para com a família em geral, 
um vínculo marcado pelo êxito em provocar culpa e vitimizar-se. Para 
Melanie, ele teria sido um pai substituto, um companheiro íntimo e um 
amante imaginário e ninguém em sua vida jamais conseguiu substituí-
lo. No período compreendido entre 1887 e 1902, Melanie Klein sofreu 
grandes perdas: a irmã Sidonie, em 1887, de tuberculose; o pai, em 1900, 
de pneumonia; o irmão Emmanuel, em 1902, de cardiopatia.
Em 1903, logo após completar 21 anos, ela casou-se com Arthur Steven 
Klein, engenheiro químico de caráter sombrio e tirânico de quem estava 
noiva desde 1899. Arthur era seu primo em segundo grau por parte 
de mãe e amigo de Emmanuel. Sua família residia em Rosemberg, na 
parte eslovaca da Hungria. Nada se sabe sobre a cerimônia. Em um 
texto intitulado “Chamado de Vida”, que seus biógrafos consideram 
autobiográfico, Melanie Klein escreve sobre o choque vivido por uma 
moça, Anna, na noite de núpcias: “E, portanto, tem de ser assim, a 
maternidade tem que começar com repugnância?” O casal passou a 
lua-de-mel em Zurique e se estabeleceu na cidade do noivo. Dois meses 
depois do casamento, Melanie descobriu que estava grávida e em 19 e 
janeiro de 1904 nasceu a primeira filha, Melitta. Melanie teria dito que 
estava gostando de ser mãe, mas sua autobiografia contém o seguinte 
trecho: “Lancei-me o máximo que pude no papel de mãe e no cuidado 
de minha filha. Sabia o tempo todo que não estava feliz, mas não havia 
saída”. Em 2 de março de 1907 nasceu Hans, o segundo filho, cuja 
gravidez foi marcada por um estado de profunda depressão. Em 1908 os 
Klein mudaram-se de Rosemberg para Krappitz; no ano seguinte para 
Hermanetz e em 1910 para Budapeste, o que possibilitou a convivência de 
Melanie com a parte da família do marido estabelecida naquela cidade, 
com a qual manteria uma sólida ligação afetiva.
Durante a infância dos filhos, Melanie Klein teve vários episódios de 
depressão e se afastou da família por longos períodos, para viagens 
de repouso ou para internação em clínicas especializadas. Durante 
tais ausências, sua casa e família ficavam a cargo de sua mãe, que se 
colocava em sua vida de forma intrusiva e autoritária. A mãe a via e fazia 
com que ela própria se visse como uma pessoa doente, neurastênica e 
incapaz. Mãe e filha mantinham entre si um relacionamento estreito e 
afetuoso, porém marcado por atitudes e sentimentos ambivalentes: amor 
e ódio, apoio e intrusão, liberdade e controle, dependência e autonomia.
O ano de 1914 foi marcado por grandes acontecimentos na vida de 
Melanie Klein. Em 1º de julho nasceu seu último filho, Erich Klein. Em 
6 de novembro morreu sua mãe, Libussa. Além disso, aos 32 anos de 
idade ela encontrou-se com a psicanálise: leu o texto “Sobre os Sonhos”, 
de Sigmund Freud, e provavelmente iniciou sua análise com Sandor 
Ferenczi, buscando livrar-se da depressão. Para Melanie Klein, antes 
de se tornar uma profissão ou um interesse intelectual, a psicanálise foi 
uma experiência de crescimento e um caminho de cura pessoal.
O ano de 1918 foi importante para o início da carreira de psicanalista. Foi 
realizado em Budapeste o 5º Congresso Internacional de Psicanálise e 
Sandor Ferenczi foi escolhido para a presidência. Durante o Congresso, 
encantada, Klein ouviu Freud ler “Linhas de Avanço em Terapia 
Psicanalítica”. Já no ano seguinte, em julho, ela apresentou à Sociedade 
Húngara de Psicanálise seu primeiro artigo, “Der Familienroman in statu 
nascendi”, relato da análise de uma criança, depois do qual foi admitida 
como membro. O aspecto insólito do artigo era que descrevia a análise 
de Erich, seu último filho, cuja identidade foi encoberta nas versões 
posteriores. O objetivo era mostrar os resultados obtidos quando uma 
mãe cria o filho de acordo com conceitos psicanalíticos esclarecidos. 
A Sociedade de Psicanálise de Budapeste,considerada por Freud o 
principal centro de psicanálise da época, seria dizimada pouco tempo 
depois por razões políticas. A queda do Império Austro-Húngaro foi 
seguida por um regime comunista de duração breve que, por sua vez, deu 
lugar a um regime branco, o Terror Branco, francamente anti-semita, 
o que teve como consequência a expulsão dos psicanalistas judeus da 
Sociedade e sua dissolução. Assim, em 1919, Melanie Klein saiu de 
Budapeste com os filhos para estabelecer-se por um curto período em 
Rosemberg com os sogros. Seu marido, do qual se divorciaria em 1923, 
mudou-se por razões profissionais para a Suécia, onde permaneceu até 
1937, novamente casado e depois divorciado. Morreu na Suíça em 1939.
Em 1921, Melanie Klein mudou-se para Berlim, também um importante 
centro tanto de atividade como de formação psicanalítica. Em 1922, aos 
40 anos, tornou-se membro associado da Sociedade Psicanalítica daquela 
cidade. Em 1924, iniciou sua segunda análise, com Karl Abraham, como 
Ferenczi, um destacado discípulo de Freud. A morte precoce de Abraham 
(1925) privaria Melanie de seu analista e protetor, encorajando seus 
detratores a se declararem abertamente, mostrando desprezo pela 
ascendência polonesa, ênfase na falta de estudos universitários e ironia 
perante uma mulher que se pretendia mestra e, além disso, analista 
de crianças. Sem Abraham, ela ficaria exposta às críticas dos membros 
mais conservadores da Sociedade de Berlim, contrários, sobretudo, às 
suas idéias relativas ao atendimento de crianças, originais e ousadas. 
Tais idéias contrariavam o pensamento de Sigmund Freud e de sua filha 
Anna, a qual também se dedicava à psicanálise infantil. Enquanto Anna 
via a psicanálise numa perspectiva pedagógica, Melanie Klein mostrava-
se determinada a explorar o inconsciente infantil. Para isso, introduziu 
uma modificação técnica essencial, substituindo a palavra pelo brincar, 
garantindo a maior proximidade possível entre a psicanálise de adultos e 
de crianças. Na época, o assassinato de Hermine von Hug-Hellmuth, por 
um sobrinho que havia sido seu paciente, também serviu para reforçar a 
oposição à psicanálise de crianças.
Numa postura diferente da adotada pelos alemães, os ingleses 
receberam a proposta de trabalho de Melanie Klein com respeito, 
curiosidade e entusiasmo. Ainda no ano de 1925, avisado de suas 
qualidades por James Strachey, o célebre tradutor e editor de texto da 
Standard Edition das Obras de Freud e um dos animadores do famoso 
grupo londrino de Bloomsbury, Ernest Jones a convidou a proferir 
palestras em Londres. Para essa cidade mudou-se no ano seguinte e 
ali viveu até o fim de sua vida, desenvolveu-se plenamente no âmbito 
profissional e fundou uma escola frutífera até os dias atuais. Em 1927, 
tornou-se membro da Sociedade Psicanalítica Britânica.
Em 1932, Melanie Klein publicou seu primeiro livro, a coletânea “A 
Psicanálise de Crianças”, ao qual fará referências ao longo de toda a sua 
obra. Mas, no âmbito afetivo, a década de 30 lhe traria duas experiências 
devastadoras: a morte de seu segundo filho, Hans, ao escalar uma 
montanha, e a deterioração definitiva de seu relacionamento com a 
primogênita Melitta, que se tornara analista e também ingressara na 
Sociedade Britânica. Na elaboração da perda de Hans, Melanie Klein 
escreveu o texto “Uma contribuição para a psicogênese dos Estados 
Maníaco-Depressivos” (1935). Em 1940, publicou “O Luto e suas Relações 
com os Estados Maníaco-depressivos”.
A mudança da família Freud de Viena para Londres, no final dos anos 
30, em virtude da Segunda Grande Guerra, faria com que a Sociedade 
Britânica se dividisse ideologicamente em dois grandes grupos: o 
dos adeptos de Melanie Klein, que tinha à frente Susan Isaacs, Paula 
Heimann e Joan Rivière, e o dos adeptos do freudismo clássico, entre 
os quais figurava Melitta. Um terceiro grupo, composto por analistas 
independentes, não alinhados com nenhum dos dois anteriores, 
se formaria depois, num período marcado pela polêmica. Apesar 
da contundência dos debates, Klein e seu grupo permaneceram na 
Sociedade Britânica e na Associação Internacional de Psicanálise (IPA). 
Não foram expulsos, como viria a acontecer com Lacan na década 
seguinte, nem abriram uma dissidência contra Freud, como haviam feito 
Adler e Jung anteriormente.
Na verdade, a escola kleiniana expandiu conceitos freudianos e, em 
meio à turbulência da época, definiu um período de produção teórica 
exuberante. A década de 30 ficaria marcada pelo conceito de posição 
depressiva e a de 40 pela posição esquizoparanóide. Em 1946, Melanie 
Klein publicou um de seus textos mais importantes: “Notas sobre 
os Mecanismos Esquizóides”. No início da década seguinte o grupo 
kleiniano lançou o livro “Desenvolvimentos em Psicanálise”. Em 1957, 
Melanie Klein publicou “Inveja e Gratidão”, seu último livro com grandes 
novidades teóricas. O texto “Narrativa da Análise de uma Criança, no qual 
Melanie Klein trabalhou até poucos dias antes de sua morte, em 22 de 
setembro de 1960, seria editado logo em seguida.
Ao longo de sua obra, Melanie Klein formulou uma teoria que possibilitou 
a compreensão da vida mental primitiva e abriu novos horizontes dentro 
do campo da psicanálise. Para Julia Kristeva, que dedicou à psicanalista o 
segundo volume da coleção “O Gênio Feminino”, a clínica da infância, da 
psicose e do autismo, em que predominam nomes como Bion, Winnicott 
e Frances Tustin, seria inconcebível sem a inovação kleiniana. Melanie 
Klein seria em seu entender a refundadora mais ousada da psicanálise 
moderna. Segundo Luís Cláudio Figueiredo e Elisa Maria de Ulhôa Cintra, 
“se perguntássemos aos estudiosos da área qual teria sido, depois de 
Freud (1856-1939) e ultrapassando-o, o autor que mais contribuiu para 
que se compreenda o funcionamento psíquico inconsciente, não haveria 
dúvida: Melanie Klein, seguida de seus discípulos Wilfred Bion (1897-
1979) e Donald Winnicott (1896-1971). A estranheza das formações do 
inconsciente e das primeiras experiências desafia todas as medidas de 
bom senso. Melanie Klein ensinou a por de lado a razão e o senso de 
medida para compreender o caráter autônomo e demoníaco das fantasias 
inconscientes e angústias.”
Referências Bibliográficas
Figueiredo, L. C.; Cintra, E. M. U. Melanie Klein. Estilo e Pensamento. São 
Paulo: Escuta, 2004.
Figueiredo, L. C.; Cintra, E. M. U. Melanie Klein. São Paulo: Publifolha, 
2008.
Grosskurth P. O Mundo e a Obra de Melanie Klein. Rio de Janeiro: Imago 
Ed., 1992.
Kristeva, J. O Gênio Feminino. A vida, a loucura, as palavras. Rio de 
Janeiro: Ed. Rocco Ltda, 2002.
http://psicanalisekleiniana.vilabol.uol.com.br/biografia.html
Resenha elaborada por Regina Trindade, psicanalista em formação pelo 
Instituto Virgínia Leone Bicudo, da Sociedade de Psicanálise de Brasília.

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