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1. INTRODUÇÃO O processo comum, nos dias atuais, é cada vez mais deixado de lado, pois já não atende mais ao principio da celeridade processual, gerando várias demandas para um Judiciário que demostrou ser moroso em resolver litígios. No decorrer dos tempos, observa-se que o individualismo no processo judicial vem sendo deixado para traz, visto que a sociedade liberal, pautada por valores individualistas, evolucionou para uma sociedade de massa, o modelo de tutela jurisdicional individual teve que ser revisto, uma vez que o advento do novo padrão trouxe consigo lesões em massa, atingindo diversas coletividades. Por isso, para uma sociedade de massa, terá que existir um processo de massa. Além disso, os direitos coletivos têm tido posição de destaque no ordenamento jurídico de vários países. É cada vez maior a preocupação com as demandas coletivas tais como, por exemplo: saúde, educação, cultura, segurança e meio ambiente, o que exige do jurista maior preparo para lidar com tais questões, já que garantirá o acesso á justiça para uma coletividade. Diante disso, o presente trabalho tem como finalidade expor uma breve evolução das tutelas coletivas no ordenamento brasileiro e conceituar os direitos metaindividuais, mostrando não só as vantagens e as desvantagens como também os conceitos e as problemáticas do dia-a-dia. 2. EVOLUÇÃO LEGISLATIVA O direito processual brasileiro tem bases eminentemente individualistas e reflete a mentalidade e as necessidades da sociedade de uma época passada. Somente no início dos anos 1980 é que tivemos uma regulamentação voltada para a proteção dos interesses coletivos. A Lei 7.347/85 que regulou a ação civil pública inovou no plano infraconstitucional juntamente com outras leis tais como a Lei 7.853/89, versando acerca da ação civil pública relativa a interesses coletivos de deficientes, e a Lei 7.913/89, que regulamentou a ação civil pública relativa à responsabilidade por danos a investidores do mercado de valores imobiliários. A Carta Maior de 1988 também trouxe em seu texto a proteção dos interesses transindividuais, sendo estes garantidos por meio do mandado de segurança coletivo, da ação popular, da ação civil pública. O Código de Defesa do Consumidor de 1990 alterou diversos institutos da Lei da Ação Civil Pública, acabando por regular a ação coletiva no ordenamento pátrio, através de seus arts. 91 a 100. Em seguida, vieram outras leis regulamentando ações coletivas tais como; a Lei de Improbidade Administrativa (Lei n. 8.429/92), o Estatuto do Idoso (Lei 10.741), e a Lei Maria da Penha (Lei n. 11.448), que visa coibir a violência doméstica e que também garantiu a tutela coletiva. No próximo item iremos abordar os princípios do direito coletivo e logo em seguida abordaremos os direitos metaindividuais e a importância do CDC, na sua classificação e abordagem. 3. PRINCÍPIOS DA TUTELA COLETIVA Antes de iniciarmos o estudo sobre as espécies de direitos coletivos em sentido lato, introduziremos alguns princípios ligados à tutela coletiva. Um dos princípios mais importantes do processo coletivo é o principio inquisitivo, pois ele o torna mais ativista em relação ao processo individual, podendo o juiz atuar de ofício, seja concedendo uma tutela de urgência, seja utilizando técnicas de distribuição e de inversão do ônus da prova. O juiz deve ser mais ativista e participativo, devendo evitar posturas mais rigorosas com formas processuais. Isso tudo, procurando dar importância qualitativa e quantitativa às tutelas coletivas. O princípio da representação adequada trata da legitimidade do autor coletivo, já que no procedimento comum a regra é outra. O princípio da efetividade real se refere à complementação ou concretização de direitos, uma vez que a tutela coletiva se dá normalmente por alguma omissão do Estado, sendo essa lacuna legislativa ou administrativa. E por último o princípio da obrigatoriedade mitigada da ação coletiva. Esse princípio diz que no caso da desistência ou abandono da ação por associação ou sindicato, o Ministério Público ou outro legitimado assumirá a ação. 4. DIREITOS METAINDIVIDUAIS O Código de Defesa do Consumidor foi um marco no nosso ordenamento jurídico na sistematização da tutela coletiva, pois ele positivou o esboço do conceito dos interesses transindividuais, gerando uma divisão tricotômica, apresentando as três espécies de direitos coletivos em sentido lato: o difuso; coletivo em sentido estrito; individual homogêneo. Os direitos metaindividuais são conceituados no art. 81, parágrafo único, nos seus três incisos. Vale ressaltar que a regulamentação desses direitos teve como razão a proteção de várias pessoas, já que permitiu o acesso á justiça de forma mais eficaz, tutelando uma coletividade ao invés de um único individuo. Além disso, prestigiou o princípio da economia processual, que deixa de existir várias demandas, que procuravam o mesmo direito, para se ter apenas um processo que tratará do mesmo objeto, protegendo também o principio da segurança jurídica, visto que não haverá decisões judiciais contraditórias e sim apenas uma decisão que abarcará a todos submetidos a lide. O primeiro deles é o direito ou interesse difuso que é conceituado no art. 81, parágrafo único, inciso I, do CDC como sendo aquele em que pessoas indeterminadas e ligadas pela mesma circunstância de fato são atingidas nos seus direitos de natureza indivisível. As suas características são a indeterminação dos sujeitos, a indivisibilidade do objeto, a sua duração efêmera, a intensa conflituosidade. Com relação à indeterminação dos sujeitos, os interesses difusos se referem a um grupo indeterminado ou dificilmente determinável de sujeitos, sendo que a lesão a esses direitos atingirá um número indeterminado de pessoas que poderá ser um país ou até as pessoas do mundo inteiro. A indivisibilidade do objeto quer dizer que não tem como mensurar com precisão quanto do direito pertence a cada um dos indivíduos do grupo indeterminado. Já a duração efêmera que dizer que surgem e desaparecem no tempo e no espaço, ás vezes, em situações imprevisíveis. A última característica se refere à intensa conflituosidade que ocorre por não ter um vínculo jurídico definido nas pretensões judiciais, entretanto de situações de fato, podendo ser ocasionais. O segundo direito ou interesse conceituado no CDC, no art. 81, parágrafo único, inciso II, é o direito coletivo em sentido estrito, sendo de natureza indivisível que pertence a um grupo ou classe de pessoas, ou seja, pessoas determináveis ligadas entre si ou a parte contraria do litigio por uma relação jurídica-base. Podemos citar como exemplo os membros de uma associação de classe ou até mesmo os condôminos que estão ligados por uma relação jurídica-base e não uma circunstancia de fato como nos direitos difusos. Segundo Humberto Dalla Bernardina de Pinho, no seu livro Direito Processual Civil Contemporâneo, 7° edição, podem citar como características do direito coletivo em sentido estrito a não condição de apropriação individual, de renúncia ou de transação e a intransmissibilidade. O terceiro e último direito ou interesse metaindividual conceituado no art. 81, parágrafo único, inciso III, do CDC, são os direitos individuais homogêneos, sendo eles divisíveis, ou seja, podem ser atribuídos aos seus titulares. Além disso, os titulares são determinados. Esses direitos poderão advir de uma situação de fato ou de uma relação jurídica. Na verdade, o direito individual homogêneo é um direito que em tese seria difuso ou coletivo, todavia em algum instante passou a ser divisível, respeitando de agora emdiante regras próprias. Outro fator que merece ser ressaltado é que o direito coletivo não é estritamente público e nem privado, mas que tutela causas de interesse público, sendo uma terceira espécie que não se encaixa nessas duas anteriores. Esses direitos visam assegurar a tutela jurisdicional à sociedade de massa cujos direitos estão globalizados e interligados por vezes, deixando claro que o processo individual nesses casos apenas tardaria a resolução de conflitos e não conseguiria a pacificação social. Por isso, a tutela coletiva é eficaz por dar uma resposta mais célere e igualitária aos litigantes, garantindo o pleno acesso á justiça. 5. OS MEIOS DE TUTELA COLETIVA Os meios pelos quais são tutelados os direitos abordados no item anterior são o Mandado de Segurança Coletivo, a Ação Popular, Ação Civil Pública, entre tantos outros dispositivos espalhados pelo ordenamento jurídico brasileiro. Este item visa citar os principais meios de tutela coletiva, não abrangendo totalmente a matéria, porém trazendo uma breve exposição dos meios mais comuns e o seu cabimento. O Mandado de Segurança Coletivo é o meio constitucional pelo qual um determinado grupo de pessoas visa proteger direito líquido e certo, lesado ou ameaçado de lesão por ato de autoridade, não amparado por habeas corpus ou habeas data. Este grupo deve ser categoria representada por partido político, por organização sindical, por entidade de classe ou por associação legalmente constituída há pelo menos um ano. A Ação Popular é o meio constitucional posto a disposição de qualquer cidadão para obter a invalidação de atos ou contratos administrativos ou a estes equiparados. É um instrumento de defesa dos interesses da coletividade, utilizável por qualquer de seus membros, sendo amparados os interesses da comunidade. A Ação Civil Pública visa reprimir ou impedir danos ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico e paisagístico e por infrações da ordem econômica, à ordem urbanística e à honra e à dignidade de grupos raciais, étnicos, ou religiosos, protegendo, assim, os interesses coletivos, difusos, e individuais homogêneos, desde que socialmente relevantes. A Ação Civil Pública surgiu com seu campo de aplicação restrito. Logo depois do surgimento do CDC a ação teve seu campo ampliado para proteger não os direitos difusos e coletivos, mas também os individuais homogêneos, desde que configurado interesse social relevante. 6. CONCLUSÃO A lesão de interesses ou direitos de grupos, classes ou categorias de pessoas ficaria difícil de ser reparada se tivéssemos de sempre nos recorrer à legitimação ordinária, deixando a cada indivíduo lesado a iniciativa de procurar o Judiciário para pleitear o seu direito o que acabaria de aumentar o ônus de caráter probatório e de custeio. Quando um grupo de pessoas é lesado, se cada indivíduo pleiteia individualmente o seu direito, teríamos o problema de decisões contraditórias e por que não dizer que poucas pessoas desse grupo realmente iriam buscar a tutela jurisdicional, deixando claro que com decisões contrárias ocorreria um descrédito no sistema e a iniciativa individual seria um fracasso, pois a grande maioria dos lesados desistiria do acesso á justiça. Portanto, a sociedade atual com a sua complexidade precisa de uma atuação jurídica que lhe propõe uma tutela diferenciada no que se refere aos direitos coletivos. A tutela coletiva pode servir de instrumento para a concretização do acesso á justiça, pois, diferente do processo individual, a atuação dos legitimados para propor a tutela coletiva pode resguardar direitos aos cidadãos sem mesmo que alguns desses tenham ido ao Judiciário, gerando uma tutela mais eficiente para todos com um processo garantidor de direitos. 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CINTRA, Antônio Carlos de Araújo; GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO, Cândido Rangel. Teoria Geral do Processo. 23ª ed. São Paulo: Malheiros. DIDIER JR, Freddie, ZANETI JR, Hermes. Curso de Direito Processual Civil .Processo Coletivo. Volume 4: Editora Podium . 7ª Ed. LANGER, Otaviano. A tutela coletiva como instrumento de acesso á justiça. Revista Eletrônica Direito e Política, Programa de Pós-graduação Stricto Sensu em Ciência Jurídica da Univale, Itajaí, v.5, n. 2. Disponível em: www.univale.br/direitoepolitica - ISSN 1980-7791. PINHO, Humberto Dalla Bernardina de. Direito Processual Civil Contemporâneo; Teoria Geral do Processo. 7. Ed. São Paulo: Saraiva 2017. FACULDADE METROPOLITANA DA GRANDE FORTALEZA MOACYR WEYNER GARCIA RAMOS TAINARA VIERA ALVEZ DIR6N1 “A TUTELA COLETIVA COMO INSTRUMENTO PARA O ACESSO Á JUSTIÇA” Fortaleza/CE 2017.2
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