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Livro OI Cap 2

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1
 Nota: Este material foi desenvolvido pelo prof. Roland Veras Saldanha Jr, e representa 
uma primeira versão de material a ser transformado em livro didático. Reservam-se os 
direitos autorais sobre o mesmo, mas comentários e sugestões são bem vindas no e-mail 
rsaldanha@actiomercatoria.com.br. 
 
 
Cap 2 A Firma: Natureza, Objetivos e 
Custos 
 
 
 
Introdução 
 
Os complexos desafios enfrentados pela Organização Industrial não 
demoraram a expor diversas fragilidades e limites da teoria da firma tradicional 
(neoclássica), conforme esboçada nos estudos microeconômicos de cunho geral e 
abstrato desenvolvidos até a década de 1940. 
Efetivamente, a abordagem neoclássica enfatiza a importância dos preços na 
alocação dos recursos e dá pouca ou nenhuma atenção aos aspectos 
administrativos e aos problemas econômicos existentes no interior da firma. É por 
esta razão que a firma neoclássica é frequentemente associada a uma “caixa 
preta”, na qual entram recursos e saem bens ou serviços em resposta a sinais de 
mercado, sem que se realize um tratamento mais rigoroso para a explicação dos 
processos internos mediante os quais a transformação produtiva ocorre. 
É certo que uma análise cuidadosa das firmas não pode menosprezar a 
importância das tecnologias, custos produtivos e reações da produção às 
mudanças nos preços relativos destes insumos e produtos. Dificilmente quem já 
tomou contato com a teoria neoclássica da firma conseguiu identificar naqueles 
modelos aplicabilidade imediata a grandes empresas como a Wal-Mart Stores, a 
British Petroleum (BP) ou a Toyota Motor. Na verdade, o problema não é de 
 2 
tamanho, pois o quadro minimalista desenhado pela análise neoclássica mostra-
se insuficiente mesmo à análise de firmas médias e pequenas, como a empresa 
de aviação regional ou o consultório de um dentista. De fato, associar qualquer 
uma destas firmas aos modelos abstratos dos manuais de Microeconomia exige 
um imenso esforço de idealização, normalmente excessivo quando se pretende 
aplicações destes conhecimentos a casos concretos e específicos. 
Como colocado no Capítulo 1, o desenvolvimento da OI é marcado pela 
tentativa de aproximação à realidade das firmas e indústrias com finalidades 
práticas bem definidas, numa estratégia que vêm esbarrando em problemas como 
o da caixa preta neoclássica e, a partir deles, detectando novas e interessantes 
questões. Frequentemente, estes esforços culminam na identificação de linhas de 
pesquisa e soluções alternativas, num processo que enriquece o ferramental 
técnico da Economia. 
Sem pretender separar o que é indivisível, já que os tradicionais argumentos 
neoclássicos sobre as firmas e indústrias integram a moderna OI, por motivos 
didáticos opta-se por iniciar a apresentação pelos conceitos microeconômicos 
básicos para então, progressivamente, incorporar os aperfeiçoamentos ou 
inovações teóricas mais recentes. Desta forma, divide-se este capítulo em dois 
blocos, o primeiro em que se discutem os conceitos de tecnologia e custos da 
firma, e o segundo no qual os desenvolvimentos mais modernos e associados à 
percepção destas firmas como organizações em que ocorrem inúmeros problemas 
de conflitos de interesse, agrupamento e coordenação de recursos são 
apresentados. 
Mesmo na parte voltada aos conceitos microeconômicos, adequações e 
ajustes na apresentação serão realizados. É assim que surgirá a distinção entre 
custos evitáveis e inevitáveis, incomum em manuais de Microeconomia, bem 
como a extensão dos indicadores de custos para o caso das firmas multiproduto. 
A segunda parte iniciará com a apresentação das célebres considerações feitas 
por Ronald Coase (1937) a respeito da natureza das firmas, aproveitando para 
detalhar e estender o raciocínio mais geral hoje conhecido como teoria dos custos 
de transação. Em prosseguimento, serão analisados os problemas associados aos 
 3
incentivos internos às firmas sob perspectiva informacional e, em conclusão, à 
teoria dos direitos de propriedade. 
 
 
 
2.1 A Firma Neoclássica: Tecnologia e Custos 
 
A definição abrangente de firma como uma organização voltada à produção 
de bens ou serviços para a satisfação das necessidades ou vontades dos 
demandantes nos mercados. já foi proposta no Capítulo I, estabelecendo um 
conveniente ponto de partida para a caracterização da firma neoclássica. 
Buscando com um alto grau de generalidade e fortemente influenciada pela 
importância dos preços de mercado na solução dos problemas de alocação de 
recursos, a abordagem neoclássica estuda a firma sob uma perspectiva externa, 
observado os insumos que nela entram e os produtos que dela saem, como se a 
firma fosse uma caixa preta. Com estas lentes, as explicações para as atividades 
da firma precisam se restringir àquilo que se observa fora da mesma, vale dizer, 
às relações entre inputs e outputs e aos seus preços de mercado. Não causa 
estranheza, desta forma, o fato de se encontrar nesta teoria da firma argumentos 
estruturados quase que exclusivamente sobre as tecnologias e custos de 
produção, havendo autores como Hart (1996:15) que afirmam que a teoria 
neoclássica percebe a firma “principalmente em termos tecnológicos”. 
 
2.1.1 Tecnologias de Produção 
 
Na Figura 2.1 encontra-se uma ilustração genérica de uma firma neoclássica, 
na qual n inputs, ( )1 2, , , nx x x… , são transformados em m outputs ( )1 2, , , mq q q… . A 
transformação produtiva decorre do uso de fatores de produção como máquinas 
de costura, teares e mão de obra sobre matérias primas ou produtos semi-
 4 
elaborados, como fios de algodão, botões, tecidos e corantes, de forma a 
transformá-las em produtos qualitativamente distintos. Com a produção, as 
matérias primas assumem nova forma, passando a ser produtos diferentes, 
(outputs) destinados ao consumidor final, ao uso como matérias primas ou como 
fatores de produção em outros processos produtivos. 
 
 
 
 
O processo esboçado na Figura 2.1 tanto pode representar uma firma de 
vestuário ou de tecidos, conforme insinuam os exemplos de inputs e outputs 
apresentados no parágrafo anterior, como serve para ilustrar o que ocorre com 
uma firma prestadora de serviços ou uma empresa agrícola. Uma maneira mais 
precisa e usual de expressar relações produtivas como estas se dá através do uso 
de funções de produção. Seja ( )1 2, , , mq q q=q … um vetor que representa o 
conjunto de quantidades de outputs ou produtos obtidos com o uso das 
quantidades de insumos elencadas no vetor ( )1 2, , , nx x x=x … . A função de 
produção será a regra, ( )f ⋅ , que indica algebricamente a relação entre q e x , 
vale dizer: 
 
x1 
 
 
 
 Firma 
 
 
q1 
x2 
x3 
... 
xn 
q2 
... 
qm 
Figura 2.1: A Firma Neoclássica 
 5
(2.1) ( )f=q x 
 
Como é evidente, funções de produção são formas algébricas que 
representam tecnologias produtivas. Pode-se definir uma tecnologia de 
produção, desta forma, como uma regra que relaciona o uso de inputs à 
produção de outputs. Variáveis mensuradas como quantidades por unidade de 
tempo são denominadas variáveis de fluxo. O uso de insumos e a produção 
exigem um período de tempo positivo para se concretizar na prática, razão pela 
qual se fala em fluxos de insumos e produtivos. 
Ainda que o processo de desenvolvimento e aperfeiçoamento tecnológico seja 
objeto de estudos econômicos, não é tarefa da Economia a criação ou 
melhoramento das técnicas de produção. Desta forma, na maior parte das 
situações as informações tecnológicas são consideradas dados exógenos nos 
modelos de teoria da firma. Aos engenheiros, designers, administradores e 
inventores cabe o desenvolvimentodas tecnologias observadas e usadas na 
produção. Não obstante, em diversas situações os economistas usarão funções 
de produção que se mostram analiticamente convenientes à construção de seus 
argumentos didáticos ou teóricos. Apesar de artificiais, estas tecnologias 
costumam permitir a adequação às situações concretamente observadas através 
da manipulação de seus parâmetros, conforme se observará frequentemente nos 
modelos discutidos neste manual. 
Considerando inicialmente uma firma simples, que usa apenas dois insumos, x1 
e x2 na produção, digamos capital físico e mão de obra, pode-se ilustrar com mais 
facilidade alguns conceitos recorrentes na discussão da teoria da firma. Supõe-se 
que esta firma seja “uniproduto”, quer dizer, que produza um único tipo de bem ou 
serviço, (q) com estes inputs que utiliza. Usando (2.1), têm-se: 
 
(2.2) ( )1 2,q f x x= 
 
Conforme expõe a função de produção acima, a quantidade do bem ou serviço 
produzida por intervalo de tempo depende das quantidades de insumos utilizadas 
 6 
neste mesmo período. Para facilitar a visualização, imagine-se que a quantidade 
de x1 empregada por intervalo de tempo seja constante e igual a 01x , talvez porque 
haja alguma limitação posta pelo número de máquinas e equipamentos 
atualmente disponíveis para uso da empresa. Desta forma, para 01 1x x= , uma 
representação gráfica de (2.2) pode ser resumida às combinações das diferentes 
quantidades produzidas à medida que se varia as quantidades de 2x usadas por 
intervalo de tempo, conforme ilustra a Figura 2.1. 
 
 
Figura 2.1 – Função de Produção 
 
Este gráfico da função de produção foi construído com intuito didático, 
apresentando um formato que facilita a apresentação de alguns conceitos sem 
que, entretanto, se deva esperar que as firmas no mundo real se deparem com 
funções de produção assim tão bem comportadas. Como se sabe, as tecnologias 
variam conforme a indústria considerada e mesmo dentro de uma indústria 
costumam ser diferentes entre as firmas, quer por envolverem a produção de bens 
e serviços distintos, quer em razão das diferenças nos recursos à disposição de 
cada empresa. Para melhor lidar com esta variedade, algumas medidas são úteis 
para tentar resumir as características destas tecnologias e facilitar sua análise. 
Função de Produção
0
50
100
150
200
250
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11
x 2
q
( )10 2,q f x x=
 7
Sendo as tecnologias relações entre uso de insumos e produção, uma primeira 
medida interessante é a do produto médio (= produtividade média) do insumo. 
Para firmas que produzem um único produto, a produtividade média é de 
quantificação bastante simples, bastando dividir a quantidade do bem ou serviço 
produzida pela quantidade do insumo utilizada. A fórmula da produtividade média 
do insumo i é i
i
qPMe
x
= , sendo evidente que esta produtividade média irá variar à 
medida que se utilizam diferentes quantidades deste insumo i, a menos que ele 
seja empregado em proporções fixas por unidade produzida – caso em que a 
função de produção seria linear no uso deste insumo1. 
Outra medida fundamental à caracterização das tecnologias é o produto (ou 
produtividade) marginal de i. O que este índice mede é a variação na quantidade 
produzida trazida por uma alteração na quantidade do insumo i. Intuitivamente é 
possível apresentar esta medida de produtividade pelo quociente 
i
q
x
∆
∆ . Mantendo 
constantes as quantidades utilizadas de todos os demais insumos, se o aumento 
de uma unidade no uso do insumo i, 1ix∆ = , fizer com que a produção passe de 
20 para 60 unidades, 40q∆ = , o valor deste quociente será 40 40
1i
q
x
∆ = =∆ . Para 
uma compreensão mais precisa do conceito, entretanto, algum rigor adicional é 
necessário, pois no cálculo da produtividade marginal se está imaginando o 
impacto de variações bastante pequenas (marginais) no uso do insumo i sobre a 
quantidade produzida. Desta forma, o que se procura matematicamente é o valor 
da razão 
i
q
x
∆
∆ quando ix∆ tende a zero, ou seja, o 0limii x i i
q qPMg
x x∆ →
∆ ∂= =∆ ∂ . 
 
1 Coeficientes de utilização de insumos fixos são comuns quando se trata de matérias primas, já que as 
mesmas quantidades destes insumos costumam ser usadas por unidade do produto final, 
independentemente da escala de produção. Quer se produzam camisas de forma artesanal ou em 
confecções modernas e automatizadas, sempre se usará a mesma quantidade de botões a cada modelo 
produzido. O desenho de uma função de produção como feito na Figura 2.1, neste caso, seria o de uma reta 
partindo da origem, já que para produzir 1 camisa se usariam 6 botões, 2 camisas seriam feitas com 12 
botões, e assim por diante. Para este mesmo exemplo, o PMe dos botões seria constante e igual a 1/6 (1 
camisa a cada 6 botões). 
 8 
Os raciocínios marginalistas são centrais na análise econômica, apresentando 
diversas vantagens analíticas e sendo de compreensão simples. A idéia básica 
por detrás deles é a da comparação sistemática de uma posição ou situação 
econômica com outras alternativas (próximas) possíveis. Assim, quando se está 
produzindo 20 unidades de um bem com o uso de 1 unidade do insumo i, o que se 
quer saber através da iPMg é o que aconteceria com a quantidade produzida em 
decorrência de uma pequena variação, para mais ou para menos, na utilização de 
i. Caso se decida alterar a quantidade produzida, repete-se o raciocínio 
marginalista, prosseguindo repetidamente até que se chegue a uma situação em 
que a mudança deixe de ser desejável. 
Da comparação entre os valores dos PMe e PMg de um insumo encontra-se 
uma relação importante e sutil, que reaparecerá na análise dos custos e das 
receitas das firmas. Na Figura 2.2 reproduz-se o gráfico da função de produção 
exibido na figura anterior, a ele superpondo as curvas de produto médio e 
marginal de x2. Para facilitar a visualização, os valores do 2PMe e da 2PMg foram 
colocado no eixo vertical direito, podendo-se notar facilmente que 2PMe é 
crescente até a utilização de 4 unidades de x2, passando então a diminuir quando 
sucessivas unidades de x2 são empregadas na produção. Observa-se, ainda, que 
até 2 4x = a produtividade marginal exibe valores maiores do que a produtividade 
média, padrão que se inverte quando 2 4x > . 
 9
 
 Figura 2.2 – Função de Produção, Produtos Médio e Marginal de x2 
 
 
Não há uma mera coincidência nos dados plotados na Figura 2.2. Sempre que 
2 2PMg PMe> , a 2PMe estará aumentando, o contrário ocorrendo se 2 2PMg PMe< . 
Esta é uma relação bastante geral, afinal para se aumentar uma média, é 
necessário que os valores adicionados sejam superiores a ela, ocorrendo uma 
redução de média quando se incorporam à mesma valores que lhe sejam 
inferiores. Considere as notas de avaliação durante um curso de OI, se a nota 
média encontra-se em elevação (redução), isto decorre do fato da obtenção de 
notas “marginais” maiores (menores) do que a nota média. 
Evidentemente, os valores encontrados para 2PMe e 2PMg estão condicionados 
à suposição de que as quantidades usadas dos demais insumos permaneçam 
constantes. No exemplo utilizado, se houvesse uma ampliação da planta, fazendo 
com que 01 1x x> , outros desenhos apareceriam nas Figuras 2.1 e 2.2, a 
dependerem das tecnologias efetivamente empregadas. 
Via de regra, a presença de fatores de produção fixos é um limitador das 
possibilidades de produção. Se fosse possível alterar simultaneamente as 
quantidades de todos os insumos utilizados, os problemas econômicos adquiririam 
Função de Produção, Produto Médio e Marginal de x 2
0
50
100
150
200250
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11
x 2
q
-20
-10
0
10
20
30
40
50
60
70
( )10 2,q f x x=
2x
PMe
2x
PMg
 10 
novas feições. Na prática, ambos os contextos merecem atenção, já que é 
necessário decidir quanto produzir diante das restrições existentes num 
determinado instante do tempo, com as máquinas e equipamentos hoje 
disponíveis, mas também é de se considerar a possibilidade de alteração dos 
fatores de produção com maior liberdade, por exemplo, avaliando a oportunidade 
de investir em novos equipamentos ou desativar parte dos existentes. 
Para lidar com estes diferentes horizontes de planejamento, é praxe em 
Economia distinguir entre o “curto-prazo” e o “longo-prazo”. Estas expressões 
também são usadas no linguajar comum e na prática dos negócios financeiros e 
comerciais, não sendo rara a convenção de entender por curto-prazo o período 
inferior a um ano, tendo-se por “longo” qualquer período superior a 12 meses. No 
seu uso técnico-econômico, entretanto, a interpretação desta terminologia é 
completamente diferente, estando o curto-prazo associado a situações em que 
existe pelo menos um fator de produção fixo, e o longo-prazo aos problemas 
em que todos os fatores de produção podem ser variados. Neste sentido, o 
número de dias, meses ou anos que separará o curto do longo prazo econômico 
dependerá do tipo de atividade produtiva considerado, podendo ser bastante 
exíguo quando se fala da expansão do número de barracas em uma feira livre, ou 
muito extenso, como seria o caso da duplicação da capacidade de geração de 
energia elétrica em uma bacia hidroelétrica. 
Na realidade a dicotomia entre curto e longo prazos é marcada por um 
simplismo que merece atenção. O que interessa saber é que na medida em que 
se amplia o intervalo de tempo disponível para viabilizar a readequação dos 
fatores de produção alteram-se as possibilidades a serem consideradas, o que 
sugere a existência de um continuum de horizontes de planejamento em que as 
limitações são paulatinamente eliminadas. 
Para concluir estes comentários sobre as tecnologias produtivas, é 
interessante apresentar uma classificação muito empregada nas análises de OI e 
que tem implicações relevantes na análise dos custos de produção. Trata-se da 
distinção das tecnologias em função da mudança na produção trazida por uma 
variação proporcional no uso de todos os fatores de produção. Usando a função 
 11
de produção simplificada, exposta na equação (2.2), imagine que a utilização de 
10 unidades do insumo 1 e 3 unidades do insumo 2 impliquem a produção de 120 
unidades do bem ou serviço por mês. Considere, agora, uma variação de igual 
proporção em todos os insumos, digamos, de 10%. Em conseqüência, três 
fatos poderiam ser observados com relação a mudança na quantidade produzida, 
e que motivam a classificação aqui discutida: (i) se a mudança percentual em q for 
igual a 10% - passando-se a produzir 132 unidades com 11 unidades do insumo 1 
e 3,3 unidades do insumo 2 -, diz-se que a tecnologia exibe retornos constantes 
de escala, se q aumentar em menos do que 10%, os retornos de escala serão 
decrescentes e, finalmente, se q aumentar em mais do que 10%, tal tecnologia 
será de retornos crescentes de escala. 
Vale a pena formalizar esta classificação tecnológica, especialmente para 
eliminar interpretações tecnicamente equivocadas que se faz dela em diversas 
aplicações práticas. A tipologia apresentada é aplicável a tecnologias e 
pressupõe que as alterações percentuais no uso dos insumos seja a mesma 
para todos os inputs. Seja 1λ > um fator que mede a proporção em que os 
insumos serão alterados, e considere um vetor de insumos ( )1 2, , , nx x x… 2. Então, a 
tecnologia que usa estes insumos para produzir um bem ou serviço será sujeita a: 
(i) retornos constantes de escala, se ( ) ( )1 2 1 2, , , , , ,n nf x x x f x x xλ λ λ λ=… … , 
(ii) retornos crescentes de escala, se ( ) ( )1 2 1 2, , , , , ,n nf x x x f x x xλ λ λ λ<… … , e, 
(iii) retornos decrescentes de escala, se ( ) ( )1 2 1 2, , , , , ,n nf x x x f x x xλ λ λ λ>… … . 
 
2.1.2 Custos de Produção 
 
Combinando as informações sobre as tecnologias produtivas às dos preços 
dos insumos usados pelas firmas, estrutura-se a análise neoclássica dos custos 
 
2 É possível que uma mesma tecnologia exiba retornos de escala de um tipo, por exemplo constantes, em 
determinada faixa de utilização de insumos, mas que seja classificada de forma diversa, com retornos 
crescentes ou decrescentes, quando a escala de produção varia. Isto não inutiliza a classificação sugerida, 
mas exige a cautela de especificar a faixa de produção em que cada modalidade é aplicável. 
 12 
de produção. Apesar de se permanecer do lado de forma firma, ainda uma caixa 
preta, conhecimentos preciosos são obtidos com este passo adicional. De fato, os 
custos de produção ajudam a explicar a dimensão da firma, a caracterizar 
algumas estruturas de mercado em função das barreiras à entrada/saída e a 
justificar determinadas políticas regulatórias específicas. A área hachurada na 
Figura 2 destaca os elementos sobre os quais se estrutura a teoria neoclássica 
dos custos. 
 
 
Figura 2 
Preliminarmente é preciso lembrar que a Economia usa uma noção bastante 
peculiar de custos, diferente daquelas normalmente empregadas por contadores 
ou para satisfazer exigências fiscais. Os custos econômicos são calculados como 
custos de oportunidade na utilização dos recursos, vale dizer, como o valor que os 
recursos teriam caso estivessem alocados à melhor utilização possível fora da 
firma. 
Esta noção de custos remete a um rigoroso critério para a avaliação do 
desempenho dos negócios da firma, já que a decompõe num conjunto de recursos 
econômicos e exige que cada um destes recursos seja valorado conforme o 
retorno máximo que obteria caso não estivesse à disposição da produção pela 
firma. É compreensível, neste sentido, interpretar o lucro econômico zero como 
uma situação em que os recursos são alocados de forma eficiente, vale dizer, na 
qual não haveria ganhos produtivos com o deslocamento destes recursos para 
x1 
 
 
 
 Firma 
 
 
x2 
x3 
... 
xn 
Px1 
Px2 
Px3 
... 
Pxn 
q1 
q2 
... 
qm 
 13
outras atividades em que eles teriam sua remuneração máxima. Como se verá no 
próximo capítulo, um lucro econômico zero é o que se espera observar no longo 
prazo para firmas em concorrência perfeita, o “lucro normal”. 
Se o uso da noção de custo econômico traz grandes vantagens analíticas e 
uma percepção criteriosa do desempenho das firmas, a tentativa de aplicar uma 
contabilidade baseada em custos econômicos expõe diversas dificuldades 
práticas. Com efeito, como os custos de utilização de todo e cada recurso devem 
ser aferidos com base na melhor remuneração que ele receberia fora da firma, o 
que interessa não são os lançamentos das saídas de caixa atuais ou diferidas 
conforme a boa técnica da contabilidade tradicional, mas uma avaliação dos 
custos dos recursos conforme as rendas que eles poderiam gerar caso estivessem 
nas melhores utilizações fora da firma. Imagine, para fixar o conceito, a existência 
de duas firmas que seriam idênticas, exceto pelo fato de que apenas uma delas 
precisar pagar aluguel pelo uso das instalações físicas que ocupa. As despesas 
com aluguéis destas instalações aparecem como custos de produção no 
demonstrativo de resultados publicado por apenas uma delas, o que tende a fazer 
com que a firma que não precisa pagar aluguéis pareça ter um lucro maior. Para a 
análise econômica, entretanto, os lucros da firma proprietária aparecem 
superestimados secalculados desta forma, afinal, ela está deixando de receber 
aluguéis por decidir usar as instalações para produzir, existindo aí um verdadeiro 
custo econômico que precisaria ser considerado. 
Levando este raciocínio ao extremo, qual deveria ser o custo de um 
equipamento produzido sob encomenda e adquirido por $ 15 milhões, mas que 
após instalado tem valor de revenda igual a $1 milhão, dadas a dificuldades de 
adaptação para seu uso fora das instalações para as quais foi especificamente 
desenvolvido? Imaginando que com este $ 1 milhão se conseguiria no máximo 
$10 mil de retorno por mês, este seria o custo econômico mensal de manter a 
máquina operando3. Na situação considerada, é de se notar que assim que a 
desistência da aquisição do equipamento passou a ser impossível, o ativo perdeu 
 
3 Desconsiderando, é claro, os gastos com manutenção do equipamento, que costumam variar de acordo 
com a intensidade de seu uso. 
 14 
$14 milhões em valor, pelo que seus custos econômicos devem levar em 
consideração apenas o custo de oportunidade de manter $1 milhão no 
equipamento em vez de auferir as rendas que este montante, na melhor das 
hipóteses, geraria caso a máquina fosse vendida. A aquisição desta máquina 
gera um investimento de $14 milhões de natureza irreversível, o que se denomina 
também por custo irreversível ou irrecuperável (sunk cost). 
O custo de oportunidade de um investimento irreversível é igual a zero, já que 
uma vez realizado não pode ser recuperado. Estes custos irreversíveis acontecem 
com muita freqüência, por exemplo quando se realizam dispêndios promocionais 
com o lançamento de um determinado produto. Como não é factível, na maioria 
das vezes, recuperar estas despesas com propaganda, alocando-as a outras 
finalidades, uma campanha promocional frustrada representará uma perda de 
capital, mas não deverá ser contabilizada como custo econômico depois de 
realizada. Os sunk costs serão importantes fontes de barreiras à entrada e saída 
dos mercados, pois se em determinada indústria estes custos forem importantes, 
aqueles que resolverem nela ingressar devem considerar, antes de fazê-lo, as 
repercussões de suas decisões. Depois de se realizar investimentos irreversíveis, 
como bem lembra a sabedoria popular, “não adianta chorar sobre o leite 
derramado”. 
Numa classificação bastante utilizada, os custos totais de produção podem ser 
distinguidos entre variáveis e fixos, conforme dependam ou não da quantidade 
produzida. Os custos fixos serão iguais quer se produzam mais ou menos 
unidades do produto, enquanto o valor dos custos variáveis será dependente da 
quantidade produzida, como posto na equação (2.3) 
 
(2.3) ( )CT CF CV q= + 
 
Os custos fixos independem da quantidade produzida, como costuma ocorrer 
com o aluguel de uma planta fabril ou de um escritório em que se prestam 
serviços e com certos impostos sobre o patrimônio, por exemplo. Para algumas 
aplicações, entretanto, convém saber se estes custos podem ser reduzidos caso 
 15
haja necessidade. Considere a situação em que uma firma contrata serviços 
externos de segurança pelo prazo de dois anos, com pagamentos mensais pré-
estabelecidos. Se esta empresa decidir implementar um sistema de 
monitoramento próprio após assinatura do contrato com a firma de vigilância, 
eventualmente seja possível repactuar os valores acertados, reduzindo o 
montante destas despesas fixas. Quando os custos puderem ser reduzidos, 
mesmo sendo independentes das quantidades produzidas, eles merecerão a 
denominação de custos evitáveis. Todos os custos variáveis são evitáveis. Custos 
fixos que não podem der revistos são custos inevitáveis, caso se possa rever e 
diminuir os custos fixos, estes também serão custos evitáveis. 
Assim como ocorre com as tecnologias, existem medidas que facilitam a 
análise dos custos e suas funções algébricas, reaparecendo aqui a distinção entre 
valores médios e marginais. Os custos fixos médios (CFMe) são obtidos pela 
divisão dos custos fixos pelas quantidades produzidas, CFCFMe
q
= , da mesma 
forma se fazendo para obter os custos variáveis médios (CVMe), ( )CV qCVMe
q
= . 
Somando-se CFMe e CVMe, encontram-se os custos totais médios (CTMe), 
conforme se observa na equação a seguir: 
 
(2.4) ( ) ( )CV q CT qCFCTMe
q q q
= + = 
 
Dimensionar a variação nos custos totais trazida por uma alteração na 
quantidade produzida é conveniente em diversas aplicações na OI. Considerando 
variações infinitesimais em q, obtém-se a medida dos custos marginais (CMg), 
formalmente: 
 
(2.5) ( ) ( ) ( )dCT q dCV q dCV qdCFCMg
dq dq dq dq
= = + = 
 
 16 
Na Figura 3 ilustram-se curvas “bem comportadas” em que se pode observar 
uma ilustração didática dos conceitos de custos recém apresentados. Em primeiro, 
note-se que os CFMe mostram um comportamento assintótico ao eixo horizontal à 
medida que aumenta a escala de produção. Relativamente à curva de CMg, vale a 
pena atentar para o fato dela cruzar as curvas de CVMe e CTMe nos pontos em 
que estes são mínimos, reiterando o raciocínio da relação entre valores médios e 
marginais usado anteriormente. De fato, sempre que os Custos Médios, totais ou 
variáveis, estão caindo, seus valores são maiores do que os dos CMg, o oposto 
acontecendo quando estes valores médios crescem. 
 
 
2.1.3 Economias de Escala 
 
O comportamento dos custos médios à medida que a escala de produção 
aumenta é central para a análise de diversos problemas na OI, sendo tópico 
obrigatório na compreensão dos monopólios naturais e teoria da regulação, no 
dimensionamento das barreiras à entrada nos mercados e na avaliação de 
operações de fusão e aquisição, para citar apenas algumas das aplicações mais 
importantes deste indicador. 
As economias de escala ocorrem quando os custos médios de produção 
diminuem com o aumento da escala de produção. Se o comportamento oposto é 
Figura 3 
 17
observado, com elevações nos custos médios em decorrência de uma elevação 
na quantidade produzida, fala-se em deseconomias de escala. Quando não há 
nem economias e nem deseconomias de escala, os custos médios são constantes 
em relação à escala de produção. 
O tema das economias de escala normalmente aparece na discussão 
microeconômica no contexto de longo-prazo, no qual se pode ampliar a 
capacidade produtiva sem limites na disponibilidade dos fatores produtivos. Na 
Economia Industrial a associação exclusiva ao horizonte de planejamento em que 
todos os fatores de produção podem ser variados costuma ser relaxada, 
permitindo-se falar em economias de escala mesmo quando há custos fixos e 
inevitáveis. Esta maior flexibilidade conceitual ocorre na OI já que são recorrentes 
situações práticas em que uma ou poucas empresas conseguem aproveitar 
reduções nos seus custos médios de produção e atender toda a demanda de 
determinado mercado com a capacidade produtiva já instalada, fazendo ser 
improvável ou desnecessário imaginar ampliações ainda maiores na escala de 
produção. 
Como a produção é um fluxo, sendo medida por período de tempo, a noção de 
economias de escala também pode ser aplicada a variações na freqüência de 
produção, vale dizer, quantificando a variação nos custos médios quando o 
número de turnos produtivos ou a velocidade de produção se altera. 
Uma medida simples para a quantificação das deseconomias ou economias de 
escala em uma atividade produtiva para firmas uniproduto, s, pode ser obtida a 
partir da comparação entre custos médios e custos marginais: 
 
(2.6) 
1 Economias de Escala 
1 Custos Médios Constantes
1 Deseconomiasde Escala 
CMes
CMg
> ⇔= = ⇔< ⇔
 
 
Como se percebe por (2.6), a existência de economias de escala exige que os 
custos marginais sejam menores que os custos médios (s > 1). Custos médios 
decrescentes com a escala de produção, a seu turno, podem estar associados a 
 18 
aspectos internos ou externos à firma. As economias de escala internas 
encontram sua origem em alguma vantagem tecnológica que permita a produção 
a um custo unitário menor à medida que a escala de produção aumente. Já as 
economias de escala externas são devidas a alguma redução nos preços dos 
inputs gerada pela elevação da escala produtiva, sendo também conhecidas, em 
função disto, por economias pecuniárias. 
No uso prático do conceito de economias de escala é conveniente tomar uma 
percepção bastante abrangente dos custos, incluindo os custos de administração, 
promocionais, de estocagem e transporte (distribuição) dos produtos. Isto porque 
boa parte destas despesas não varia proporcionalmente com as quantidades 
produzidas, vale dizer, em diversas situações aumentos na escala de produção 
costumam trazer reduções nos custos médios quando estes componentes são 
levados em conta. 
As principais fontes das economias de escala internas decorre de reduções de 
custos associadas (i) ao melhor aproveitamento de recursos indivisíveis, (ii) aos 
custos de setup, aos (iii) ganhos com a divisão e especialização do trabalho. As 
indivisibilidades são freqüentes na produção e, entendidas de forma ampla, 
incluem as duas outras origens mais comuns de economias de escala. Considere 
uma empresa de refino de petróleo, em que o uso de tubos para o escoamento de 
fluídos e de tanques de armazenamento representam uma parcela significativa 
dos custos de produção. Uma regra de bolso para estimar os custos de 
construção de refinarias e conhecida como “regra dos dois-terços” é dada por: 
 
(2.7) ( )23Custo de Construção = capacidade de escoamentok ∗ 
 
Nota-se em (2.7) que à medida que a capacidade de escoamento aumenta, os 
custos de construção da planta se elevam menos do que proporcionalmente, com 
k representando uma constante que depende da tecnologia utilizada. A regra dos 
dois-terços decorre de fatos geométricos básicos, pois enquanto a relação entre a 
superfície e o raio de recipientes cilíndricos é quadrática, seus volume e raio se 
relacionam cubicamente. Infelizmente, entretanto, não costuma ser possível dividir 
 19
o uso de um recipiente ou tubo cilíndrico, pelo que o aproveitamento destas 
importantes reduções de custos exige que a escala de produção (ou escoamento) 
aumente. 
Analogamente, há situações em que o início da produção exige um período de 
preparo (setup) para o treinamento da mão de obra ou para o ajuste das máquinas 
e equipamentos. Produzir em escalas maiores significará uma diluição destes 
custos de ajustamento, especialmente quando estes não puderem ser 
proporcionalmente “divididos” quando a quantidade produzida se reduz. 
Desde Adam Smith (ver Box. 1.1) as vantagens com a divisão do trabalho são 
percebidas como importantes fontes de redução nos custos de produção. Para 
que as vantagens da divisão das tarefas sejam aproveitadas ao máximo sem que 
recursos permaneçam ociosos, maiores escalas produtivas tendem a ser 
necessárias. Com efeito, adquirir uma máquina ou contratar operários 
exclusivamente para desentortar arames na fabricação de alfinetes pode ser 
ineficiente ou excessivamente caro quando a escala de produção for baixa. 
As economias (deseconomias) de escala externas, a seu turno, dependem de 
fatores externos à firma, normalmente estando associadas a reduções (aumentos) 
nos preços dos insumos ou fatores de produção à medida que a produção na 
indústria (não na firma!) aumenta. Exemplos típicos destas economias pecuniárias 
são as reduções nos custos de contratação de força de trabalho em decorrência 
da aglutinação de mão de obra especializada em determinados pólos industriais. 
Outra forma usual deste tipo de economias decorre da existência de economias de 
escala internas na produção dos insumos adquiridos pelas firmas. Evidentemente, 
a possibilidade de aproveitar estas economias depende da expansão da indústria 
como um todo, ficando condicionada ao efetivo repasse dos menores custos 
percebidos pelas fornecedoras de insumos aos elos subseqüentes da cadeia 
produtiva. Por fim, convém lembrar as economias externas associadas aos 
transbordamentos tecnológicos (technological spillovers) que consistem no acesso 
mais barato aos aperfeiçoamentos tecnológicos pelo aproveitamento dos esforços 
em pesquisa e desenvolvimento realizados por outras firmas. Neste último tópico 
se inclui a engenharia reversa, pela qual invenções eventualmente trazidas por 
 20 
vultosos investimentos de concorrentes tornam-se facilmente assimiladas e, nos 
limites permitidos pela proteção à propriedade intelectual vigente, empregados a 
custos mais baixos pelas demais firmas. 
Conforme se alertou anteriormente, no cálculo das economias e deseconomias 
de escala é importante considerar os custos de forma abrangente. Mesmo que 
uma firma perceba significativas economias de escala na planta de produção, há 
situações em que os custos de transporte e distribuição dos produtos fazem ser 
mais conveniente (barato) produzir em plantas menores e próximas aos 
consumidores. Em outras situações, os custos de transporte das matérias primas 
até o local de fabricação serão determinantes para o dimensionamento da escala 
de produção e localização espacial da firma. Quando os custos de transporte das 
matérias primas aumentam, as firmas tendem a se aproximar mais dos locais em 
que elas são produzidas, mesmo que isto implique um distanciamento maior em 
relação aos consumidores finais. 
 
 
2.1.3 Economias de Escopo 
 
O conceito de economias de escala chamou a atenção para a mudança nos 
custos médios derivadas de alterações na escala de produção. Apontando para 
outra possibilidade, as economias e deseconomias de escopo se referem às 
relações entre os custos produtivos e a diversificação no mix de produção. 
De forma simples, as economias de escopo são reduções nos custos de 
produção trazidas pelo aumento na variedade de produtos ofertados. Firmas que 
ofertam dois ou mais produtos são denominadas “multiproduto”, e este tipo de 
economias costumam decorrer da existência de sinergias na produção, 
administração, distribuição ou marketing que se traduzem em reduções de custos. 
Não é necessário que os diferentes produtos sejam fabricados numa mesma 
planta fabril para que haja economias de escopo. De fato, observa-se com 
freqüência firmas que produzem cigarros e snacks ou confeitos em plantas fabris 
 21
diferentes, embora consigam reduções significativas nos custos conjuntos de 
distribuição e venda, já que há uma coincidência importante nos pontos de varejo 
atendidos e na logística de venda e transporte utilizada. Lojas de locação de vídeo 
como a Blockbuster, por exemplo, além do aluguel de fitas e discos de vídeo, 
oferecem aparelhos de DVD, sorvetes e pipocas a seus clientes, sem que para 
isto precise contratar mais funcionários ou arcar com despesas mais altas com o 
espaço de venda. 
Companhias de transporte aéreo de passageiros costumam ter serviços de 
entregas expressas de pacotes e encomendas, universidades tendem a oferecer 
serviços de consultoria para aproveitar o agrupamento de talentos de seu corpo 
docente, bancos comerciais modernos oferecem serviços bastante diversificados, 
desde a simples administração de contas correntes até a estruturação de 
sofisticadas operações de captação de recursos. Todos estes são exemplos 
cotidianos queilustram as sinergias associadas ao compartilhamento de recursos 
e implicam economias de escopo. 
Uma fórmula para se dimensionar as economias de escopo como uma 
porcentagem do custo da produção conjunta é apresentada na equação (2.8). 
 
(2.8)
( ) ( ) ( ) ( )
( )
1 2 1 2
1 2
,0, ,0 ( 0, ,0, ,0 ( 0,0,0, , ( , , ,
, , ,
m m
m
C q C q C q C q q q
SC
C q q q
+ + + −  = … … " … …… 
 A lógica nesta equação é de simples entendimento. No numerador 
encontra-se a soma dos custos de produção separada dos m produtos 
considerados, subtraída dos custos da produção conjunta. Se o valor do 
numerador for positivo, produzir os m produtos conjuntamente é mais barato do 
que produzi-los separadamente, ou seja, quando SC > 0, há economias de 
escopo. Quando a soma dos custos das produções separadas é menor do que o 
custo da produção conjunta, SC < 0 e há deseconomias de escopo. A divisão da 
diferença entre os custos da produção separada e conjunta dividida pelo custo da 
produção conjunta serve para dimensionar o grau das economias ou 
deseconomias de escopo. Resumindo: 
 
 22 
0 Economias de Escopo 
0 Indiferente produzir junto ou separado
0 Deseconomias de Escopo 
SC
> ⇔= ⇔< ⇔
 
 
2.1.4 Medidas de Custos em Firmas Multiproduto 
 
A existência de economias de escopo parece ser fenômeno abrangente nas 
mais diversas atividades produtivas, sendo raras as situações em que as firmas 
ofertam apenas um produto ou serviço. Este fato, entretanto, torna necessária a 
extensão das medidas de custos até agora apresentadas para o caso mais 
simples em que se consideravam firmas uniproduto. 
Um exemplo simples tende a ser suficiente para a reapresentação dos 
conceitos de Custo Médio, Custo Marginal e medida de Economias de Escala de 
forma a compatibilizá-los ao caso mais geral. Suponha que os custos de produção 
conjunta e separada de três produtos - isqueiros, canetas e barbeadores – sejam 
dados pelas funções abaixo: 
 
( )1 2 3 1 2 3, , 500 2 3 5CT q q q q q q= + + + 
( )1 1,0,0 500 2CT q q= + 
( )2 20, ,0 500 3CT q q= + 
( )3 30,0, 500 5CT q q= + 
 
Com estas informações, um passo preliminar seria verificar a existência de 
economias de escopo, de forma a certificar o interesse na produção conjunta. 
Substituindo os dados fornecidos em (2.8) e rearranjando os termos, obtém-se: 
 
( )1 2 3 1 2 3
1 2 3
1 2 3
500 2 500 3 500 5 500 2 3 5
500 2 3 5
1000 0
500 2 3 5
q q q q q q
SC
q q q
SC
q q q
+ + + + + − + + +  = + + +
= >+ + +
 
 23
 
Como as quantidades produzidas dos três produtos, ( )1 2 3, ,q q q não pode ser 
negativa, SC será positivo, de forma que se atesta a existência de economias de 
escopo na produção destes três bens. Qual seria, entretanto, o custo médio de 
produção nesta firma? 
Para o caso das firmas uniproduto, os custos médios de produção eram 
encontrados pela divisão dos custos totais pela quantidade produzida, mas agora 
se dispõem de três quantidades de produtos distintos a serem consideradas. Uma 
alternativa simplista seria a de somar as quantidades de isqueiros (digamos 200 
mil isqueiros / mês), à de canetas (500 mil canetas / mês) e de barbeadores (180 
mil barbeadores / mês), dividindo os custos totais por esta “soma” (880 o quê? por 
mês). Nota-se imediatamente que esta estratégia conduz a um problema sério, o 
da impossibilidade de somar unidades de “coisas” diferentes. 
Não existe uma maneira única ou correta para solucionar esta dificuldade, mas 
um caminho frequentemente empregado é o do cálculo do Custo Médio de Raio 
(CMeR), que passa a ser apresentado. Inicialmente cria-se um índice para a 
alocação dos custos, iλ , com as seguintes características: 
 
(2.9) 
1
, 1, , e,
1
i
i
m
i
i
q i m
q
λ
λ
=
= =
=∑
…
 
 
Este índice representará a participação dos custos em relação aos custos 
totais que se considera adequada para cada um dos itens produzidos, inexistindo 
o problema da soma de unidades diferentes pois “q” será uma commodity 
composta pelos diferentes bens produzidos. No exemplo apresentado, a 
quantidade de bens 3m = , propõem-se 1 2 30, 4; 0,1; e, =0,5 λ λ λ= = . A justificativa 
para a escolha destas ponderações dependerá, na prática, de uma criteriosa 
avaliação do caso concretamente analisado, pretendendo-se obter o máximo de 
 24 
fidelidade no compartilhamento dos recursos comuns na produção dos diferentes 
bens. 
A partir dos índices de alocação de custos, lembrando que i iq qλ= , pode-se 
reescrever a função custos total da seguinte forma: 
 
(2.10) ( ) ( )1 2, , , nCT q CT q q qλ λ λ= … 
 
O que permite chegar à fórmula do Custo Médio de Raio: 
 
(2.11) 
( ) ( )1 2
1
, , ,
, 1, ,
1 
n
i
i
n
i
i
CT q q q
CTMeR q
q
q i n
q
λ λ λ
λ
λ
=
=
= =
=∑
…
… 
 
Usando os índices do exemplo em (2.11), obtém-se: 
 
( ) ( ) ( ) ( )500 2 0, 4 3 0,1 5 0,5 500 3,6 500 3,6q q q qCTMeR q
q q q
+ + + += = = + 
 
Para o cálculo dos Custos Marginais, a existência de produção múltipla não 
traz maiores dificuldades. De fato, lembrando que ( )dCT qCMg
dq
= para a firma 
uniproduto, a adequação consistirá apenas da percepção de que agora os custos 
totais podem variar com a mudança na quantidade fabricada de qualquer um dos 
m produtos, passando a existir, desta forma, m Custos Marginais a serem 
considerados: 
 
(2.12) ( )1 2, , , , 1, ,ni
i
CT q q q
CMg i m
q
∂= =∂
… … 
 
 25
Novamente, pode-se usar o exemplo aqui considerado como ilustração: 
 
( )1 2 3
1
1
500 2 3 5
 2
q q q
CMg
q
∂ + + += =∂ 
( )1 2 3
2
2
500 2 3 5
 3
q q q
CMg
q
∂ + + += =∂ 
( )1 2 3
3
3
500 2 3 5
 5
q q q
CMg
q
∂ + + += =∂ 
 
Por fim, falta ajustar a medida de economias de escala para a situação em que 
a firma produz mais de um produto. Aqui há duas situações a considerar, pois 
tanto se pode avaliar a existência de economias de escala específicas ao aumento 
na produção de apenas um dos produtos, como o impacto sobre os custos médios 
de uma ampliação na escala de produção de todo o mix produtivo. 
Uma medida adicional e útil ao cálculo das economias de escala específicas ao 
produto é a de Custo Incremental de produzir i, CIi: 
 
(2.13) ( ) ( )1 2 1 2, , , , , , , ,0, ,i i m mCI C q q q q C q q q= −… … … … 
 
Conforme mostra (2.13), o custo incremental mede o acréscimo nos custos 
conjuntos de produção quando se aumenta a quantidade produzida do produto i. A 
divisão do CIi pela quantidade de i produzida gera o seu Custo Incremental Médio 
(CIMei) : 
 
(2.14) ( ) ( )1 2 1 2, , , , , , , ,0, ,i m mi
i
C q q q q C q q q
CIMe
q
−= … … … … 
 
As economias de escala específicas ao produto i , is , são medidas pela razão 
entre seus Custo Incremental Médio e Custo Marginal, havendo redução nos 
custos incrementais médios de produção deste produto quando sua escala de 
produção aumenta se 1is > : 
 26 
 
(2.15) 
1 Economias de Escala Específicas 
1 Custos Incrementais Médios Constantes
1 Deseconomias de Escala Específicas 
i
i
i
CIMes
CMg
> ⇔= = ⇔ < ⇔
 
 
Com os dados do exemplo para isqueiros, i =1, em (2.15), observa-se que não 
há economias ou deseconomias de escala específicas para este produto. 
 
( )1 2 3 2 3
1
1
1
1
1
1
500 2 3 5 500 3 5
3
3
3 1
3
q q q q q
CIMe
q
CMg
CIMes
CMg
+ + + − + += =
=
= = =
 
 
Para a avaliação da existência de economias de escala não específicas, pode-
se usar regra expressana equação (2.16). Nota-se que quando m = 1, esta 
equação é a mesma encontrada em (2.6), que definia a medida de economias de 
escala para a firma uniproduto. 
 
(2.16) ( )1 2
1 1 2 2
, , , m
m m
CT q q q
s
q CMg q CMg q CMg
= + + +
…
" 
 
Usando (2.16) encontra-se valores para s que podem ser maiores, iguais ou 
menores do que a unidade, a serem interpretados da mesma maneira que se fez 
para (2.6): 
 
1 Economias de Escala 
1 Custos Médios Constantes
1 Deseconomias de Escala 
s
> ⇔= ⇔< ⇔
 
Com os dados do exemplo, pode-se observar que além de economias de 
escopo (SC > 0), esta firma aproveita-se de economias de escala (s > 1). 
 
 27
1 2 3
1 2 3 1 2 3
500 2 3 5 5001 1
2 3 5 2 3 5
q q qs
q q q q q q
+ + += = + >+ + + + 
 
Interessante atentar para o fato de haver economias de escala para aumentos 
na produção de todos os produtos, ainda que para cada um deles as economias 
de escala específicas não existam (acima se encontrou 1 1s = , verifique se esta 
última afirmação está correta achando 2s e 3s ). Da mesma forma, não há 
qualquer relação pré-determinada entre a existência (ou não) de economias de 
escala e escopo. Estas são medidas independentes e com interpretações 
econômicas distintas, ainda que, por vezes, possa-se entender que as economias 
de escopo decorrem do melhor aproveitamento de alguma indivisibilidade na 
produção, por compartilhamento. 
 
2.2 A Natureza e os Objetivos da Firma 
 
Num pequeno trabalho publicado em 1937, The Nature of the Firm, Ronald 
Coase propôs uma abordagem inovadora ao estudo das firmas e adiantou 
questões que até hoje definem a pauta das análises sobre o tema. A grande 
contribuição de Coase se encontra numa radical mudança de perspectiva, 
deslocando a firma, anteriormente tratada como uma mera tecnologia de 
transformação de insumos em produtos, ao centro da análise da alocação 
eficiente de recursos. De figurante a firma assume papel de protagonista neste 
enredo, em upgrade que não pode ser menosprezado, pois, antes de Coase, os 
mercados reinavam ali de forma absoluta. 
Coase deixou claro que as explicações típicas encontradas na teoria 
neoclássica não bastavam sequer para justificar logicamente a existência das 
firmas. Na verdade, no arcabouço dos mercados neoclássicos ideais supunha-se 
que a realização de todas as trocas mutuamente benéficas ocorresse 
automaticamente e sem custos significativos nos mercados. Ora, se o mundo 
fosse assim, qual seria a explicação para a existência de transações ocorrendo no 
interior das firmas ou “fora” dos mercados? 
 28 
Os motivos coasianos para a existência e os limites da firma são achados 
precisamente nos custos de utilização dos mercados, os hoje denominados 
“custos de transação”. Sem custos de transação o tamanho das firmas, e sua 
existência, restam indeterminados. Em sua roupagem moderna, a teoria dos 
custos de transação aparece indissociável do nome de Oliver Wiliamson, que 
durante as décadas de 1970 e 1980 aprofundou as idéias originais de Coase, 
fundindo-as com as de autores de linhagens diversas como Herbert Simon, 
Chester Barnard, Alfred Chandler, Hayek, Keneth Arrow e Frank Knight. 
Para Williamson, as firmas e os mercados são “estruturas de governança”, que 
define como “o arcabouço de contratos explícitos ou implícitos no qual as 
transações são realizadas (mercados, firmas e formas mistas – por exemplo, 
franchinsing – incluídos).” (1981: 1544). Os contratos a que se refere este autor 
consistem das relações travadas entre diferentes entidades econômicas, 
envolvendo os custos das negociações preliminares, da redação contratual, da 
execução, do monitoramento e da solução de disputas futuras que eventualmente 
venham a ocorrer entre os envolvidos. Como se percebe, tais relações contratuais 
podem ocorrer sob a governança do sistema de preços, nas firmas ou em 
organizações híbridas, a depender dos custos e benefícios associados a cada 
uma destas estruturas de governança. 
Na teoria dos custos de transação duas hipóteses comportamentais básicas 
são fundamentais: a racionalidade limitada e o comportamento oportunista. A 
expressão racionalidade limitada foi cunhada por Herbert Simon (1957) e procura 
representar a dificuldade dos agentes econômicos em processar informações e 
resolver problemas complexos. Não há intenção pejorativa ao se falar em 
limitações da racionalidade humana, mas apenas a constatação de que os 
indivíduos não são oniscientes ou capazes de entender e prever com exatidão 
tudo o que acontecerá no mundo. Analisando o outro lado da moeda, se há 
incerteza, algo desconhecido ou que não se entende como funciona, existe a 
racionalidade limitada. O comportamento oportunista, a seu turno, já era 
conhecido de há muito na teorização econômica, podendo ser entendido como 
uma corruptela da ação auto-interessada (self-interested) em que um agente tenta 
 29
se locupletar às custas de outro. O oportunismo aqui se aproxima à idéia de 
fraude, logro, de se levar vantagem em determinada situação. Quando há a 
possibilidade de comportamento oportunista em relações entre agentes 
econômicos limitados racionalmente, as transações entre eles tornam-se mais 
difíceis ou arriscadas, pois não se pode confiar na lisura no comportamento dos 
contratantes. 
A partir deste ponto, a expressão “custos de transação” se referirá 
exclusivamente aos custos para a utilização dos mercados, respeitando uma 
convenção praticamente consensual na literatura. É certo que as transações 
internas às firmas ou outras estruturas de governança também são onerosas, mas 
quando se quiser falar destes custos haverá qualificação expressa. Os principais 
custos de transação, desta forma, serão decorrentes da poderosa química 
existente entre a limitação de racionalidade e o comportamento oportunista. Três 
direções em que esta alquimia gera resultados interessantes têm sido foco de 
maior atenção: (i) a freqüência com que as transações são realizadas, (ii) o tipo e 
o grau de incerteza envolvida na relação e, (iii) a especificidade de ativos. 
O problema com a freqüência de ocorrência das trocas de mercado tanto está 
associado aos custos redundantes, como ao grau de dependência que esta pode 
trazer às partes envolvidas. Se para cada compra e venda existe um custo fixo 
com telefonemas, extração de notas e expedição dos produtos, por exemplo, o 
aumento na freqüência destas trocas tende a representar dispêndios 
proporcionalmente maiores e desnecessários. Por outro lado, um relacionamento 
freqüente e intenso entre duas firmas tende a gerar uma dependência mútua 
arriscada, especialmente quando uma destas partes puder agir de forma 
oportunista, tentando extrair rendas adicionais quando o parceiro se tornar 
eventualmente vulnerável. É bastante comum, neste sentido, encontrar produtores 
de bens de varejo que optam por reduzir tal dependência assumindo diretamente 
a distribuição de seus produtos para evitar ações oportunistas de distribuidores 
terceirizados. Numa alternativa menos agressiva, a elaboração de contratos de 
distribuição terceirizada bastante rígidos e a manutenção de uma estrutura de 
 30 
distribuição direta paralela são remédios interessantes para o disciplinamento dos 
distribuidores externos. 
Williamson propõe uma classificação útil para os tipos de incerteza que geram 
custos de transação. Percebida da forma mais ampla possível, pode-se falar na 
incerteza primária ou ambiental quando se trata da existência de contingências, 
fatores não antecipados pelas partes envolvidas, mas que interferem no seu 
relacionamento de mercado. Fala-se aqui, por exemplo, do impacto de uma secainesperada e que impede o produtor de soja de honrar os compromissos 
assumidos com uma empresa de refino de óleo comestível. É denominada 
incerteza secundária aquela associada aos problemas de comunicação entre as 
partes contratantes. Esta modalidade de incerteza inclui as dificuldades 
associadas ao processo de emissão, armazenamento, recuperação e transmissão 
de informações, dando conta de toda a sorte de ruídos e incompreensões 
concebíveis no processo comunicativo. Afinal, a seca inesperada é um motivo de 
força maior que desobriga o sojicultor da entrega dos grãos na data acertada ou 
ele deveria ter previsto a possibilidade da seca quando assinou o contrato? O que 
é força maior? Evidente que esta questão pode ser resolvida na justiça ou por um 
árbitro, mas não costuma ser óbvia ou previsível a interpretação que estes novos 
envolvidos farão a respeito desta situação concreta, permanecendo ou até 
aumentando a incerteza secundária. Finalmente, nunca se terá certeza a respeito 
dos atributos morais da outra parte contratante. Um agente aparentemente 
confiável e com boa reputação pode se revelar subitamente um ladino oportunista, 
aproveitando uma brecha contratual ou alguma situação não regulada 
contratualmente para tirar proveito da outra parte, gerando uma incerteza que 
Williamson tipifica por terciária. 
A última direção explorada pela teoria dos custos de transação diz respeito à 
existência de ativos específicos ao relacionamento, fato que costuma ampliar 
muito a dependência bilateral entre as partes contratantes, aumentado os custos 
das transações de mercado. Um ativo específico ao relacionamento é aquele que 
perde boa parte de seu valor fora dele, quer dizer, um ativo cujo valor depende 
intrinsecamente da relação de mercado. A especificidade de ativos aparece sob 
 31
variadas formas, destacando-se na literatura cinco situações típicas: (i) 
especificidade de localização, em que firmas se localizam bastante próximas umas 
das outras com a finalidade de reduzir custos com estoques e transporte, (ii) 
especificidade de ativos físicos, na qual máquinas ou equipamentos úteis apenas 
(ou majoritariamente) no relacionamento estão envolvidos, (iii) especificidade de 
capital humano, relacionada aos esforços de aprendizado específicos, que 
“amarram” o empregado à firma ou vice-versa, (iv) ativos dedicados, que são 
investimentos realizados exclusivamente para atender as necessidades de 
determinado cliente, e, (v) existência de capital de marca, que pode ter seu valor 
substancialmente reduzido por ações oportunistas por parte de um associado ou 
franqueado que não participou dos investimentos na marca. 
Apesar dos importantes insights trazidos pela teoria dos custos de transação 
na análise das firmas, a generalidade com a qual seus argumentos são 
apresentados dificulta a realização de testes empíricos que permitiriam um 
posicionamento mais objetivo a seu respeito. Pode-se dizer que esta abordagem é 
flexível e abrangente demais, o que pode ser uma fragilidade quando se pretende 
encontrar proposições científicas bem definidas e sujeitas ao crivo dos estudos 
econométricos. Sem questionar a importância deste pano de fundo convincente 
fornecido pela abordagem dos custos de transação, mas procurando detalhá-lo e 
aprofundar o conhecimento sobre as firmas, aparecem as contribuições dos 
modelos de Agência e dos Direitos de Propriedade. 
A Economia da Informação é campo de estudo relativamente novo, mas desde 
a década de 1970 encontrou na análise da firma um campo de aplicação fértil. 
Aqui se destaca o modelo Agente-Principal, uma estrutura lógica geral para o 
tratamento de problemas econômicos envolvendo assimetria informacional, 
situações em que os conjuntos de informações à disposição dos agentes 
econômicos são diferentes, embora importantes à tomada de decisões em seu 
relacionamento. O problema clássico se define na contraposição dos interesses de 
um agente denominado “principal”, proprietário de determinados recursos 
econômicos, que depende das escolhas de um “agente”, cuja função é administrar 
ou operar os recursos do principal. Enfocando a dimensão informacional desta 
 32 
delegação de poderes, as dificuldades aparecem no desenvolvimento de um 
esquema de incentivos que faça com que o agente escolha de acordo com os 
interesses do principal, tarefa nem sempre simples quando o agente dispõe de 
informações que não são acessíveis ou podem ser verificadas pelo principal. 
Três tipos básicos de problemas de agência têm uso imediato na teoria da 
firma, aqui sendo apresentados apenas com o intuito de ilustração, pois apesar de 
recente, a literatura a respeito é bastante volumosa e rica em detalhes. Fala-se em 
problemas de moral hazard (dano ou risco moral) quando a criação de um 
relacionamento contratual dá margem, ex post, a ações oportunistas em função do 
diferencial de informações entre agente e principal. Num interessante estudo, 
Bertand e Mullainathan (2003) avaliam o impacto de leis que dificultam a tomada 
de controle de uma firma por outra (takeover) sobre o comportamento dos 
diretores destas empresas. Eles constatam, com a análise de mais de 7500 
grandes empresas norte-americanas, que a redução dos riscos de demissão por 
takeover parece afetar as escolhas feitas pelos altos executivos, com aumento dos 
salários do staff mais graduado, redução dos investimentos em novas plantas 
fabris e diminuição dos lucros e rentabilidade. Tal comportamento sugere que os 
altos executivos (agentes) escolhem de forma mais agressiva e alinhada com os 
interesses dos acionistas (principais) quando temem que indicadores de 
desempenho modestos aumentem as chances da empresa que dirigem ser 
adquirida por outra corporação. Entende-se que a ameaça de perda do controle 
via takeover seja um mecanismo para reduzir os problemas de moral hazard. 
Os modelos de classificação são outra modalidade de aplicação da abordagem 
da Agência. Aqui a assimetria informacional aparece como um problema que pode 
ser mitigado através do envio (signaling) ou captação de sinais específicos 
(screening). Weiss (1995) e Garner (1985) vão usar o argumento de sinalização 
para associar salários a níveis educacionais dos empregados, servindo o histórico 
acadêmico tanto como sinal de competência quanto como critério de seleção por 
empregadores. À medida que o tamanho da empresa aumenta, também se 
ampliam os problemas de assimetria informacional, sendo interessante notar que 
na amostra analisada por Garner encontra-se tanto uma menor dispersão dos 
 33
salários por nível de formação dos empregados, como o pagamento de salários 
relativamente mais altos em firmas maiores do que nas empresas médias e 
pequenas. 
O terceiro tipo de modelo de Agência é o de seleção adversa, em que a 
assimetria de informação serve como justificativa para a realização de escolhas 
ineficientes ou socialmente indesejáveis. Landers et al. (1996) fazem uma 
avaliação interessante dos esquemas de remuneração em grandes escritórios de 
advocacia, em que é freqüente o uso do número de horas de trabalho dos 
associados como critério de promoção a sócio da firma. Como aqueles que 
trabalham mais horas têm uma chance maior a serem promovidos a sócios, há 
uma tendência para que, no decorrer do tempo, todos – associados e sócios - 
estejam trabalhando horas demais e com menor eficiência. Colateralmente, bons 
advogados que percebem a situação de trabalho excessivo evitarão trabalhar em 
escritórios com tal esquema de incentivos, que perde em qualidade ao selecionar 
os sócios pelo critério quantitativo. 
A Teoria dos Direitos de Propriedade seguirá um enfoque compatível com as 
linhas gerais para aanálise da firma proposta por Coase, sendo também 
consistente com as aplicações de Economia da Informação recém apresentadas. 
A novidade deste enfoque da propriedade decorre da peculiar definição de firma 
que utiliza. A firma, para a Teoria dos Direitos de Propriedade, será um conjunto 
de ativos que ela utiliza, sendo proprietário da firma aquele(s) que possuam 
direitos residuais de controle sobre estes ativos. 
A noção de direitos de propriedade empregada não difere muito da 
tradicionalmente usada pelos juristas, querendo significar o conjunto de 
prerrogativas de usar, fruir e dispor, com exclusividade e nos limites legais, de 
determinado recurso econômico. Nas transações de mercado, os agentes 
realizam contratos pelos quais dispõem, total ou parcialmente, de seus direitos de 
propriedade. Os problemas interessantes e que são enfatizados pelos principais 
autores desta corrente, como Sanford Grossman e Oliver Hart, aparecem quando 
há custos de transação que impedem a realização de contratos completos, que 
especificariam de forma compreensiva os direitos transacionados com previsão 
 34 
para toda e qualquer contingência possível. Nos contratos incompletos apenas 
direitos específicos são transacionados, restando com o proprietário todas as 
prerrogativas de que não abriu mão contratualmente, os denominados direitos 
residuais de controle. São estes direitos residuais de controle que determinam a 
propriedade da firma, quando eles são vendidos, a transferência de propriedade é 
total. 
A importância da propriedade ou dos direitos residuais de controle decorre da 
manutenção do controle em situações não previstas contratualmente. Através da 
comparação dos problemas econômicos envolvidos quando os direitos residuais 
de controle permanecem com as partes contratantes ou são adquiridos pela(s) 
outra(s), os modelos deste enfoque conseguem gerar explicações precisas e 
passíveis de verificação empírica, em aperfeiçoamento teórico de extrema 
relevância para a nova teoria da firma. 
 
 Palavras-chave 
Firma neoclássica 
Tecnologia de Produção 
Firma Uniproduto 
Firma Multiproduto 
Produto Médio 
Produto Marginal 
Retornos de Escala 
Custo de Oportunidade 
Custos Irreversíveis 
Custos Evitáveis e Inevitáveis 
Horizonte de Planejamento 
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Economias de Escala Internas e Externas 
Economias de Escopo 
Custos na Firma Multiproduto 
Novas Teorias da Firma 
Custos de Transação 
Racionalidade Limitada 
Comportamento Oportunista 
Modelo Agente Principal 
Teoria dos Direitos de Propriedade 
Modelo U 
Modelo M 
 
Exercícios Sugeridos 
 
1) Em que sentido a firma pode ser entendida como uma caixa preta? Por 
que uma percepção assim tão rudimentar não é simplesmente 
desconsiderada? 
2) Defina tecnologia de produção. Escolha uma firma de sua preferência, 
descrevendo a tecnologia produtiva por ela empregada. 
3) Um economista agrícola descreve a função de produção de um 
determinada cultura através de uma função Cobb-Douglas, cuja fórmula 
genérica é dada por 1 2q Ax x
α β= . Defina os conceitos de produto médio e 
produto marginal para esta monocultura. Usando a função apresentada, 
encontre os produtos médios e marginais de cada um dos inputs 
empregados. 
 36 
4) Diferencie curto e longo prazo para a produção em Economia. 
Intervalos de tempo inferiores a um mês sempre serão curto-prazo? 
Justifique. 
5) Como se classificam as tecnologias de produção em função de seus 
retornos de escala? Mostre as fórmulas. 
6) Qual a justificativa para se usar a noção de custos econômicos em vez 
dos custos contábeis, já que estes últimos são facilmente disponíveis? 
7) No curtíssimo prazo, praticamente todos os custos são fixos, isto 
significa que os custos marginais são nulos? (Carlton & Perloff, Cap. 2 
Ex. 5) 
8) Qual a diferença entre custos variáveis e custos evitáveis? Todos os 
custos fixos são inevitáveis? 
9) Uma firma percebe que seus custos médios estão aumentando 
enquanto paradoxalmente os custos marginais estão caindo. Está 
havendo um erro no cálculo destes custos? 
10) Os custos médios de uma firma mostram comportamento de queda ã 
medida que aumenta a escala de produção. O que poderia estar 
causando isto? 
11) Como se decide, com fundamento nos custos, se é conveniente ampliar 
o mix de produção? Que fatores costumam estimular a diversificação da 
oferta de uma firma? 
12) Por que a medida de economias de escopo não pode superar à unidade 
se os custos marginais forem sempre positivos? (Carlton & Perloff, Cap. 
2 Ex. 8) 
13) Uma firma considera a produção conjunta de dois produtos, 
conhecendo as seguintes funções custo: 
( )1 2 1 2, . 800 8 2CT q q q q= + + 
( )1 1,0 500 8CT q q= + 
( )2 20, 700 2CT q q= + 
Esta firma deve produzir os bens conjuntamente ou a produção separada é 
mais interessante? Encontre os custos médios de produção, qualquer que seja 
 37
a sua resposta para a questão anterior. Há economias de escala na produção 
conjunta dos dois bens? E economias de escala específicas? 
 
14) Quais as principais fontes dos custos de transação? Em que esta 
abordagem diverge da teoria da firma tradicional? 
15) O que é uma estrutura de governança? O mercado pode ser 
considerado uma destas estruturas? Justifique. 
16) De que formas a incerteza, a freqüência no relacionamento e a 
presença de ativos específicos pode afetar os custos de transação? 
17) O que é o modelo de Agente-Principal e que fenômenos da teoria da 
firma ele ajuda a entender? 
18) Explique qual a diferença entre a teoria dos direitos de propriedade e 
dos custos de transação na explicação da natureza e limites das firmas. 
Leituras Sugeridas 
Coase, R. H. (1988). The Firm, the Market and the Law. USA: Chicago Press. – 
livro que inclui os clássicos artigos “The Nature of the Firm” e “The Problem of 
Social Cost”. 
 
Hart, O. (1996). Firms, Contracts and Financial Structure. New York: Claredon 
Press - Oxford. – Para uma apresentação recente e acessível às abordagens 
disponíveis à análise da firma, com ênfase na teoria dos direitos de propriedade. 
 
Holmstrom, Bengt R., and Jean Tirole. "The Theory of the Firm." In Schmalansee, 
Richard, and Robert Willig. Handbook of Industrial Organization, Vol I. Amsterdam: 
North-Holland, 2001. P. 63-133. – Para uma survey mais detalhada sobre as 
novas abordagens à teoria da firma. 
 
Williamson, Oliver E. "The Modern Corporation: Origins, Evolution, Attributes." 
Journal of Economic Literature XIX (Dec. 1981): 1537-1568. – para uma discussão 
detalhada da abordagem dos custos de transação 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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