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Resumo do texto Homo Hierarchicus
Tudo que tem * é do caderno da Jade.
As castas nos ensinam um princípio social fundamental, a hierarquia, cujo oposto foi apropriado por nós, modernos, mas que é interessante para se compreender a natureza, os limites e as condições de realização do igualitarismo moral e político ao qual estamos vinculados. É impossível compreender uma, enquanto a outra- ideologia moderna- for tomada como verdade universal, não só enquanto moral e político – o que constitui uma profissão de fé indiscutível -, mas também como expressão adequada da vida social, o que é um julgamento ingênuo. 
A sociologia é parte integrante da sociedade moderna. As principais ideias dos modernos são a igualdade e liberdade, da qual supõe como princípio a ideia de indivíduo: a humanidade é constituída de homens, e cada um desses homens é concebido como apresentando, apesar de sua particularidade e fora dela, a essência da humanidade. 
*No sistema de castas não há mobilidade social, as oportunidades sociais estão ligadas ao sistema (castas ligadas ao trabalho, ofício), e, além disso, as castas são constitucionalmente ilegais na India. A casta é mais importante que o indivíduo, mas isso não quer dizer que não exista o conceito de indivíduo na India. A sociedade, principalmente a brasileira, é hierarquizada com a ideia do “você sabe com quem está falando”. Apesar de em tese falar que não existe hierarquia e ter o conceito de liberdade consagrado pela constituição, precisa-se legitimar tais valores na sociedade.*
Ora, a verdadeira função da sociologia é bem outra: ela deve precisamente preencher a lacuna que a mentalidade individualista introduz quando confunde o real e o ideal. Se a sociologia surge numa sociedade igualitária ela se exprime por meio da apercepção da natureza social do homem (*apercepção=percepção consciente*). Ao individuo auto-suficiente ela opõe o homem social; considera cada homem, não mais como uma encarnação social da humanidade abstrata, mas como um ponto de emergência mais ou menos autônomo de uma humanidade coletiva particular, de uma sociedade. (*o ser humano não consegue conviver sem estar em sociedade pois apropriamos valores, todos os indivíduos vão explicar determinado conceito de forma diferente, mas de uma forma ou de outra todos estão na mesma sociedade e se entendem*)
A apercepção não é fácil de ser comunicada a um individuo que não a conhece. A percepção de nós mesmos, como indivíduos não é inata, mas aprendida e é também imposta pela sociedade em que vivemos. A apercepção sociológica do homem pode produzir-se espontaneamente na sociedade moderna em certas experiências: no exército, no partido político e em toda a coletividade fortemente unida, e, sobretudo na viagem, que nos permite – um pouco como a pesquisa etnológica – aprender nos outros a modelagem pela sociedade de traços que não vemos, ou quando tomamos por “pessoais”, em nós. 
O homem age em função do que pensa, o modo de gerenciar seus pensamentos, ele faz isso a partir de categorias que são socialmente dadas e a sua ligação com a linguagem. O que nos afasta de reconhecer completamente essas evidências da apercepção é uma disposição psicológica idiossincrática. Todos temos necessidade de imaginar que tudo aquilo que nos acontece é único, que a nossa experiência individual é única, quando na verdade ela é feita de elementos comuns para grande parte. Se retirado o material social do indivíduo, ele não será nada mais que uma virtualidade de organização pessoal.* A importância da apercepção sociológica é a de perceber valores comuns do homem, que é uma construção social(atua contra a visão individualista do homem), prescreve a obrigação de sermos livres e até mesmo a ideia de indivíduo é construída socialmente*
Há uma comparação sociológica do indivíduo, no qual ele não pode ser reduzido a elementos comparativos ou de referência, o indivíduo é um valor, ele faz parte de uma configuração de valores. Há dois tipos de configurações, a da sociedade tradicional e a da sociedade moderna. Na sociedade tradicional o acento incide sobre a sociedade em seu conjunto, cada homem em particular deve contribuir em seu lugar para a ordem global, organização da sociedade tendo em vista os seus fins. Para as sociedades modernas o ser humano é o homem “elementar”, indivisível, sob a forma de ser biológico e ao mesmo tempo sujeito pensante. Cada homem particular encarna a humanidade inteira, ele é a medida de todas as coisas. A “sociedade” é o meio, a vida de cada um é o fim. O indivíduo do tipo moderno não se opõe à sociedade do tipo hierárquica como a parte ao todo, mas como seu igual ou seu homólogo, um e outro correspondendo à essência do homem.*Holismo: importância do todo é mais importante que as partes, o todo é mais que meramente a soma das partes*
Supõe-se que toda a humanidade está presente em cada homem, então cada homem deve ser livre e todos os homens são iguais. Rousseau distingue desigualdade natural, que é pouco coisa, e a desigualdade moral, que resulta da valorização com fins sociais da desigualdade natural. *Desigualdade natural no estado de natureza não significa muita coisa. Saímos do estado de natureza e igualamos as pessoas pelo contrato social. Porém, na pratica, combina-se construções sociais o que resulta em uma desigualdade moral. (pobre+mulher+negra)* Ele diz que a desigualdade é inevitável e a igualdade verdadeira consiste na proporção. No plano econômico, a desigualdade é inevitável. No plano político, a igualdade só pode ser definida independentemente da liberdade, não é uma virtude quando há um despotismo que limita essa igualdade. A igualdade só é boa quando combinada à liberdade e quando consiste de proporcionalidade, quando aplicada razoavelmente (talvez mais equidade que igualdade).
Tocqueville contrasta as democracias inglesa, americana e francesa. A Inglaterra é a liberdade sem quase nada de igualdade, a América herdou em grande medida a liberdade e desenvolveu a igualdade e a Revolução Francesa se fez sob o signo da igualdade. Definiu a democracia pela igualdade de condições. Abordou a questão da realização do ideal democrático. Enquanto na França houve o divórcio entre os homens religiosos e os homens apaixonados pela liberdade, nos Estados Unidos aconteceu uma aliança entre o espírito de religião e espírito de liberdade. 
Tocqueville põe um limite ao individualismo político e reintroduz para o homem vivo uma dependência. O primeiro aspecto dessa dependência é a separação necessária na democracia do domínio religioso e do domínio político, e isso num duplo sentido: por um lado, é preciso que a religião seja despojada do domínio político e o deixe existir por si mesmo; por outro lado, é mau que o domínio político se erija em religião, como é tendência frequente na França. A França conseguiu chegar no século XX a essa separação, mas essa não é a ideia integral, a separação não é suficiente, precisa-se da complementaridade dos dois domínios tal como é percebida nos Estados Unidos: “se ele é livre, que ele creia”.
No estudo da mentalidade igualitária em contraste com a mentalidade hierárquica na França de antigo regime o primeiro traço é que a concepção da igualdade dos homens acarreta a de sua similitude. Enquanto a igualdade for apenas uma exigência ideal exprime a passagem nos valores do homem coletivo ao homem individual, ela não acarretará a negação de diferenças inatas. Mas, se a igualdade for concebida como dada na natureza do homem e negada apenas por uma sociedade má, e como não há mais em direito diferentes condições ou estados, diferentes espécies de homens, então são todos semelhantes, e até mesmo idênticos ao mesmo tempo que iguais.
*França: igualdade à canetada (instituições antigas acabam), Inglaterra: estruturas hierarquizadas, liberdade forte apesar de não ter a ideia de igualdade em nenhum documento, instituições antigas continuam, EUA: momento único e novo de experiência democrática onde havia liberdade e igualdade (igualdade tida como verdade da existência porisso nada pode estar contra ela e a liberdade deve ser construída em função da igualdade), igualdade é sentida a cada interação e a liberdade só é sentida quando precisamos dela, por isso, é mais fácil gritar a igualdade pela perspectiva da liberdade.*
O individualismo é um sentimento refletido e pacífico que dispõe cada cidadão a se isolar da massa de seus semelhantes e a se retirar à parte com sua família e seus amigos; o individualismo é de origem democrática e ameaça se desenvolver à medida que as condições se igualem. / O homem pensa, age. Ele não tem só ideias, ele tem valores. Adotar um valor é hierarquizar, e um certo consenso sobre os valores, uma certa hierarquia de ideias, das coisas e das pessoas é indispensável a vida social. Na maioria dos casos ela se identificará de alguma maneira com o poder, porém é compreensível e natural que a hierarquia englobe os agentes sociais.
*Democracia é o resultado do individualismo e por isso tendemos a ver a hierarquia como fora da sociedade ocidental, mas ela nunca deixou de existir por que classificamos toda a nossa forma de pensamento e tudo que compõe o mundo hierarquicamente. A hierarquia é um fenômeno da sociedade, até naquelas em que ela é vista como algo ruim.*

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