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ELEMENTOS DE TEOLOGIA MORAL

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INTRODUÇÃO À TEOLOGIA II 
 
3º MÓDULO 
ELEMENTOS DE TEOLOGIA MORAL 
Pe. Adenilson S. Ferreira 
Apostila Ad usum scholarum 
1
o
. Semestre/2015 
ELEMENTOS DE TEOLOGIA MORAL 
 
 
1 DELINEAMENTO 
 
 
Etimologicamente, a palavra “moral” vem do latim mos-mores e designa os 
costumes, o comportamento ou as regras que organizam a vida. 
Quando se fala em Teologia, fala-se de Deus. Sob ponto de vista etimológico, o 
vocábulo grego Theologia (Qeologia) compõe-se de dois termos: Théos (o( Qeo//j) e lógos 
(o( lo¢goj). Significa “discurso” (o( lo¢goj) sobre “Deus” (o( Qeo//j). 
Porém, aqui será necessária a união dos dois termos: “Teologia” e “Moral”. Ao 
dizer “Teologia Moral” pretende-se abordar não toda a Teologia, mas uma parte dela1. 
A Teologia Moral, ou simplesmente Moral, “é a parte da Teologia que estuda os 
atos humanos considerando-os em ordem ao seu fim sobrenatural”2. Essa noção apresenta três 
aspectos essenciais da Teologia Moral
3
: 
 
1) é parte da Teologia: porque a moral, segundo S. Tomás de Aquino, se ocupa 
do movimento da criatura racional para Deus; 
2) que estuda os atos humanos: aqueles atos que o homem executa com 
conhecimento e de livre vontade
4
; 
3) em ordem ao fim sobrenatural: esses atos humanos não são considerados na 
sua mera essência ou constituição interna (o que é próprio da psicologia), nem 
em vista de moralidade puramente humana ou natural (o que corresponde à 
Ética ou Filosofia Moral), mas em ordem à moralidade sobrenatural (na 
medida em que aproximam ou afastam o homem de seu fim sobrenatural). 
 
Portanto, a Teologia Moral, à luz da fé, busca apontar o caminho prático do amor 
e da felicidade para o ser humano. Como ciência, busca desvelar, tem a pretensão de apontar 
os projetos que Deus tem em relação à humanidade. 
 
1
 Cf. AGOSTINI, Nilo. Teologia Moral: o que você precisa viver e saber. 10. ed. Petrópolis: Vozes, 2007, p. 
19. 
2
 SADA, Ricardo; MONROY, Alfonso. Curso de Teologia Moral. 3. ed. Lisboa: Rei dos Livros, 1998, p. 15. 
3
 Cf. IDEM. Ibidem, p. 15. 
4
 O homem domina seus atos graças à inteligência e a vontade; por isso se diz que a liberdade é um poder da 
inteligência e da vontade. Em consequência disso só se consideram especificamente humanas as ações que 
procedem de uma decisão deliberada; as demais é preferível chamá-las “atos do homem, pois não procedem 
do homem enquanto homem”. 
No caso, a moral cristã, entende que esse projeto é apresentado em Cristo Jesus 
que veio pregar a Boa-Nova do Reino de Deus
5
. 
 
Os cristãos sentem-se fundados numa “nova aliança”, não necessariamente 
oposta à do Antigo Testamento. Como a “antiga aliança”, esta também 
remete para uma ligação estreita entre religião e moral. Se no Antigo 
Testamento o fundamento é Deus que libertou o povo do Egito e o conduziu 
à Terra Prometida, no Novo Testamento o fundamento é Deus que redimiu a 
humanidade por meio de Jesus Cristo. Agora, o segredo está na sequela 
Christi, ou seja, o decisivo é o seguimento de Jesus Cristo
6
. 
 
Sendo assim, Jesus Cristo, faz-se “espelho” no mais profundo da condição 
humana. Paulo entendeu isso ao apontar para a ética de Jesus, ao estabelecer: “Se vivemos do 
Espírito, andemos também segundo o Espírito” (Gl 5,25). 
Isso significa que a vida nova do cristão não é apenas uma possibilidade, mas uma 
realidade da qual é constitutiva a sua existência, capaz de fazer-se verdadeira obediência. A 
ética, para o apóstolo das gentes, é uma contínua retomada do evento Cristo, a busca da sua 
atualização, tornando-o vida concreta
7
. 
A Sagrada Escritura, por ser a própria Palavra de Deus, é a primeira e a principal 
fonte da Moral cristã. Para que o homem soubesse com segurança e sem erro as normas da 
sua conduta, Deus estabeleceu, quer no Antigo Testamento quer no Novo Testamento, 
prescrições de natureza moral. Porém, ao lado das Escrituras, a Moral católica tem ainda a 
Tradição cristã e o Magistério da Igreja
8
. 
Mas, subsidiariamente, pode-se falar ainda de outras fontes, entre as quais se 
encontra a razão natural, que pode e deve prestar grande serviço à Teologia Moral. A Igreja 
ensina que a Revelação e a razão nunca podem se contradizer. Ao contrário, a razão pode dar 
valiosa ajuda à inteligência dos mistérios da fé
9
. 
 
 
2 O ATO HUMANO E ATO MORAL 
 
 
O homem é um ser livre e manifesta sua liberdade na realização de atos que 
procedem da sua vontade iluminada pela inteligência. Essas são as condições para que seus 
 
5
 Cf. AGOSTINI, N. Teologia Moral, op. cit., p. 19. 
6
 AGOSTINI, Nilo. Introdução à Teologia Moral: o grande sim de Deus à vida. 3.ed. Petrópolis: Vozes, 2011, 
p. 60. 
7
 Cf. IDEM. Ibidem, p. 63. 
8
 Cf. SADA, R.; MONROY, A. Curso de Teologia Moral, op. cit., p. 17-18. 
9
 Cf. IDEM. Ibidem, p. 19. 
atos sejam considerados livres: quando há entendimento e vontade. Portanto, os atos humanos 
são aqueles que procedem da vontade deliberada do homem; isto é, aqueles que o homem 
pratica com conhecimento e com livre vontade
10
. 
 
A liberdade faz do homem um sujeito moral. Quando age de forma 
deliberada, o homem é, por assim dizer, o pai de seus atos. Os atos humanos, 
isto é, livremente escolhidos após um juízo da consciência, são qualificáveis 
moralmente. São bons ou maus
11
. 
 
Nem todos os atos que o homem realiza são propriamente humanos. O homem 
domina seus atos graças à inteligência e a vontade; por isso se diz que a liberdade é um poder 
da inteligência e da vontade. Em consequência disso, só serão consideradas especificamente 
humanas as ações que procedem de uma decisão deliberada. 
Certamente existem atos que procedem do homem, mas, que o mesmo não 
consegue controlar totalmente: pode faltar advertência da consciência (como no caso dos 
dementes ou das crianças pequenas) ou mesmo a vontade (por coação física ou moral). Nesse 
caso, não se trata de ato humano, mas de “ato do homem”12. 
Nos atos humanos primeiro intervém o entendimento, ou seja, o homem conhece 
o objeto e delibera se pode e deve tender para ele ou não. Uma vez conhecido o objeto, a 
vontade tende para ele porque o deseja ou se afasta dele porque o rejeita. Só nesse caso, 
quando o homem é plenamente senhor dos seus atos, cabe a valoração moral. Em síntese: 
somente o ato humano é um ato moral
13
. 
É claro que não se pode negar que existem obstáculos para o ato moral. Os 
impedimentos do ato moral são os elementos que reduzem o conhecimento ou a vontade do 
ato e, por conseguinte, diminuem ou anulam a liberdade. Esses obstáculos podem até mesmo 
fazer do “ato humano” um “ato do homem”14. São eles15: 
 
a) Ignorância: a falta de conhecimento de uma obrigação. A Teologia Moral 
distingue entre ignorância vencível e ignorância invencível. A primeira, é 
aquela que se a pessoa quisesse poderia ser superada por um esforço razoável 
(estudando, consultando, pensando etc.). Essa é sempre culpável. A segunda é 
aquela que não pode ser superada pelo sujeito da ação, quer por não haver 
 
10
 Cf. IDEM. Ibidem, p. 27. 
11
 Cf. Catecismo da Igreja Católica, op. cit., p. 476, n. 1749. 
12
 Cf. SADA, R.; MONROY, A. Curso de Teologia Moral, op. cit., p. 27. 
13
 Cf. IDEM. Ibidem, p. 27. 
14
 Cf. IDEM. Ibidem, p. 31. 
15
 Cf. IDEM. Ibidem, p. 31-35. 
nenhuma advertência, quer por ter tentado em vão sair dela. Essa retira 
qualquer responsabilidade da pessoa perante Deus. 
b) Medo: é um vacilar do ânimo perante um mal presente ou futuro que ameaça 
e influi na vontade de quematua. De modo geral, o medo – ainda que grande 
– não influi na vontade a não ser que a sua intensidade faça perder o uso da 
razão. 
c) Violência: é o impulso de um fator externo que leva a atuar contra a vontade. 
Esse fator pode ser físico ou moral. A violência física absoluta, quando a 
pessoa opôs toda a resistência possível sem a poder vencer, destrói a vontade. 
Se a pessoa interiormente resiste e não consente no mal não poderá ser 
responsabilizada diante de Deus. Quanto à violência moral, pode-se dizer que 
nunca destrói a vontade
16
, pois, a pessoa sempre permanece senhora da sua 
liberdade. 
d) Enfermidade mental: na medida em que um estado patológico debilita ou 
priva do uso de razão, a responsabilidade moral diminui ou desaparece. 
 
Quando se trata da moralidade do ato humano, não se fala de uma estrutura 
simples, mas composta de diversos elementos. Para considerar a moralidade de uma ação 
sempre será preciso considerar três aspectos: o objeto, as circunstâncias e a finalidade do 
sujeito que se propõe a esse ato. 
Por objeto entende-se a ação do sujeito, porém, olhada do ponto de vista moral (se 
o objeto é mau o ato será necessariamente mau; se o objeto é bom o ato será bom se as 
circunstâncias e a finalidade forem boas). As circunstâncias são os diversos fatores ou 
modificações que afetam o ato humano (há circunstancias que atenuam, agravam ou 
acrescentam outras conotações morais ao ato). A finalidade é a intenção que o homem tem ao 
praticar um ato. Essa última pode influir sobre a moralidade de diversos modos (por exemplo, 
o fim bom de quem atua nunca pode converter em boa uma ação má em si mesma)
17
. 
Para que uma ação seja boa é necessário que o sejam esses três elementos: objeto 
bom, circunstâncias boas e finalidade boa. Para que uma ação seja má, basta que seja mau 
 
16
 Uma pessoa que age sob influxo de uma “paixão” (medo, chantagem, raiva, pressão psicológica etc.) pode ter 
sua responsabilidade moral diminuída, mas, nunca eliminada totalmente, pois, a pessoa continua “senhora” 
de seus atos. Porém, se a pessoa ficar totalmente “fora de si”, não poderá ser responsabilizada pelos seus atos 
– o que na prática será muito difícil de acontecer. Por outro lado, uma pessoa que, no calor de uma discussão, 
estando muito nervosa, agride a outra fisicamente, tem menos responsabilidade moral do que outra que o faz 
fria, calculada e premeditadamente. 
17
 Cf. IDEM. Ibidem, p. 36-39. 
qualquer um desses elementos. A razão disso é muito simples: esses três elementos formam 
uma unidade indissolúvel no ato humano
18
. 
 
 
3 AS VIRTUDES 
 
 
O tema das virtudes ocupa um lugar de grande destaque na Teologia Moral. Por 
virtudes entendem-se as disposições habituais e firmes para fazer o bem
19
. São hábitos ou 
qualidades permanentes da alma que dão à pessoa inclinação, felicidade e prontidão para 
conhecer e praticar o bem e evitar o mal
20
. 
 
Elas são um tema antigo, porém constituem uma realidade sempre presente. 
São o alicerce de uma vida em comunhão com Deus e com os irmãos. 
Apontam para o ser humano em busca de plenitude. Elas – as virtudes – são 
o vigor de um vida no Espírito, vigor que sustenta e dá consistência à prática 
cristã. Elas apontam para aquilo que é o ser humano. Portanto, não se trata 
de ter virtudes, mas de ser virtuoso. Isto nos leva àquilo que é constitutivo do 
ser humano, espinha dorsal de um ser autêntico, transparente, coerente
21
. 
 
Genericamente, pode-se dizer que as virtudes são bons hábitos. Por sua vez, 
entende-se por hábitos certas qualidades estáveis que dispõem para agir fácil, pronta e 
deleitosamente
22
. As virtudes são o oposto dos “vícios”, tendências ao pecado adquiridas por 
repetição de atos maus
23
. 
Etimologicamente, a palavra “virtude” vem de vir (varão, em latim) e significa 
uma disposição forte e vigorosa. A virtude como um hábito permanente pode tornar-se uma 
segunda natureza, pois proporciona uma execução rápida, sem hesitação de seu ato. É vitória 
sobre a volubilidade e inconstância. 
Em relação às virtudes, existem algumas distinções. Em primeiro lugar, pode-se 
dizer que se distingue entre “virtudes adquiridas” e “virtudes infusas”. 
 
18
 Cf. IDEM. Ibidem, p. 39. 
19
 Cf. Catecismo da Igreja Católica, op. cit., p. 485, n. 1803. 
20
 Cf. TRESE, Leo John. A fé explicada. São Paulo: Quadrante, 1999, p. 110. 
21
 AGOSTINI, N. Teologia Moral, op. cit., p. 154. 
22
 Cf. ROYO MARÍN, Antonio. Teologia Moral para seglares I: Moral fundamental y especial. 7. ed. Madrid: 
BAC, 1996, p. 211. 
23
 Cf. IDEM. Ibidem, p. 213. 
As virtudes adquiridas são bons hábitos que o homem pode ser adquirir somente 
por suas forças naturais
24
. Essas virtudes também são chamadas naturais ou humanas. Por 
exemplo, 
Suponha que decidimos desenvolver a virtude da veracidade. Vigiaremos as 
nossas palavras, cuidando de nada dizer que altere a verdade. A princípio, 
talvez nos custe, especialmente quando dizer a verdade nos causa 
inconvenientes ou nos envergonha. Um hábito (seja bom ou mau) consolida-
se pela repetição de atos. Pouco a pouco se nos torna mais fácil dizer a 
verdade, mesmo que as suas consequências nos contrariem. Chega um 
momento em que dizer a verdade é para nós como que uma segunda 
natureza, e, para mentir, temos que fazer fora. Quando for assim, poderemos 
dizer sinceramente que adquirimos a virtude da veracidade. E porque a 
conseguimos com o nosso próprio esforço, essa virtude chama-se natural. 
 
Portanto, são virtudes que são adquiridas por esforço próprio: 
 
As virtudes humanas são atitudes firmes, disposições estáveis, perfeições 
habituais da inteligência e da vontade que regulam nossos atos, ordenando 
nossas paixões e guiando-nos segundo a razão e a fé. Propiciam, assim, 
facilidade, domínio e alegria pra levar uma vida moralmente boa. Pessoa 
virtuosa é aquela que livremente pratica o bem
25
. 
 
As virtudes adquiridas se dividem em duas principais categorias: as intelectuais e 
as morais. As primeiras são perfeições do intelecto e são cinco: entendimento, ciência, 
sabedoria, prudência e arte. As segundas residem no apetite (racional e sensitivo) e se 
ordenam aos bons costumes
26
. As virtudes morais recebem esse nome porque tem por objeto 
imediato e direito os atos humanos. São numerosas, mas se dividem em dois grupos 
principais: as cardeais e as derivadas. 
Mas, existem também as virtudes infusas: “hábitos operativos infundidos por 
Deus nas potências da alma para dispô-las a agir sobrenaturalmente segundo o ditame da 
razão iluminada pela fé”27. Portanto, essas virtudes são dons de Deus, a pessoa as adquire sem 
esforço próprio. Entre essas virtudes, as mais importantes são as chamadas virtudes teologais, 
a saber, fé, esperança e caridade. Recebem esse nome porque dizem respeito diretamente a 
Deus: crê-se em Deus, em Deus se espera e a Deus se ama
28
. 
 
 
 
 
24
 Cf. IDEM. Ibidem, p. 214. 
25
 Catecismo da Igreja Católica, op. cit., p. 465-486, n. 1804. 
26
 Cf. ROYO MARÍN, A. Teologia Moral para seglares I, op. cit., p. 215. 
27
 Cf. IDEM. Ibidem, p. 220. 
28
 Cf. TRESE, L. J. A fé explicada, op. cit., p. 111. 
3.1 As virtudes morais 
 
 
As virtudes morais não dizem respeito diretamente a Deus, mas às pessoas e 
coisas em relação a Deus
29
. Distinguem-se em cardeais e derivadas. 
As virtudes cardeais, como seu próprio nome indica, constituem os cardines 
(gonzos ou dobradiças das portas), os eixos em torno das quaisgira toda a vida moral. São 
adquiridas humanamente pela educação e pela perseverança
30
. São elas: prudência, justiça, 
fortaleza e temperança. 
A prudência é a virtude moral que dispõe a razão para discernir em todas as 
circunstâncias o verdadeiro bem e a escolher os justos meios para atingi-lo. Ela conduz as 
outras virtudes, indicando-lhes a regra e a medida
31
. 
 
Conforme a raiz original grega, crítica (de krinein) significa separar, como a 
mulher faz catando arroz na peneira; examinar para ver o que presta e o que 
não presta; distinguir o que é verdadeiro, digno, justo, honesto, virtuoso de 
tudo quanto há de mentiroso, falso, indigno, malicioso na complexa 
realidade humana, sempre mistura de luzes e sombras; discernir entre o bem 
e o mal e, em função deste discernimento, decidir e agir; julgar o que tem 
acontecido e o que há de se fazer; formar sua opinião, tomar posição na 
situação, como se apresenta
32
. 
 
A justiça é a virtude moral que consiste na constante e firme vontade de dar aos 
outros o que lhes é devido. A justiça para com Deus é chamada “virtude da religião”33. 
 
Ela (a justiça) exerce o papel típico das virtudes cardeais (de “dobradiça”), 
acima citado, assim explicitado na Sagrada Escritura: “Se alguém ama a 
justiça, saiba que as virtudes são fruto de seus esforços: ela ensina a 
temperança e a prudência, a justiça e a fortaleza” (Sb 8,7). Cresce, em nossos 
dias, a consciência da necessidade da justiça, muito além das produções 
teóricas muito abundantes. Ela desemboca no agir humano; estabelece a 
ligação entre direitos e deveres, supondo uma ação responsável; aponta para 
a reciprocidade entre pessoas e classes sociais, superando toda forma de 
discriminação de sexo, cor, raça ou classe, pois a dignidade humana é 
comum a todos; exige solidariedade, especialmente para com os 
empobrecidos, marginalizados e excluídos, cujos direitos são mais lesados
34
. 
 
 
29
 Cf. IDEM. Ibidem, p. 111. 
30
 Cf. ROYO MARÍN, A. Teologia Moral para seglares I, op. cit., p. 216. 
31
 Cf. Catecismo da Igreja Católica, op. cit., p. 486, n. 1806. 
32
 AGOSTINI, N. Teologia Moral, op. cit., p. 164. 
33
 Cf. Catecismo da Igreja Católica, op. cit., p. 486-487, n. 1807. 
34
 AGOSTINI, N. Teologia Moral, op. cit., p. 164-165. 
A fortaleza é a virtude moral que assegura a firmeza nas dificuldades e a 
constância na procura do bem
35
. 
 
Ela (a fortaleza) se traduz pela coragem de viver; resiste às tentações; supera 
os obstáculos; vence o medo; suporta as provações e perseguições; chega a 
renunciar até à própria vida por uma causa justa. A fortaleza traduz a energia 
vital que permeia o agir humano, seja dos homens, seja das mulheres; ela 
tempera e canaliza a agressividade; não esmorece diante das dificuldades; 
esquece o passado; cura feridas; enterra traumas
36
. 
 
A temperança é a virtude moral que modera a atração dos prazeres, assegura o 
domínio da vontade sobre os instintos e proporciona o equilíbrio no uso dos bens criados
37
 . 
 
Não se trata aqui de suprimir desejos e prazeres e de frear a espontaneidade. 
Trata-se, antes, da busca do justo equilíbrio que evita os excessos, qual uma 
cozinheira que tempera a comida para dar-lhe “aquele” gosto que desperta o 
nosso paladar. A temperança lembra, assim, o gosto da vida e a alegria de 
viver. Faz da energia vital que carregamos a possibilidade de um equilíbrio 
vital, sem os nauseantes destemperos dos contrastes gritantes que tendem a 
nos sufocar. Nós somos quais cavaleiros que, montados nos desejos, 
impulsos e propensões, fazemos uso do cabresto, do freio e das rédeas; neles 
sentados/montados, os mantemos sob nosso domínio, dando-lhes rumo para 
assim poder viajar sem tropeço ou queda. Cabe-nos “viver com autodomínio, 
justiça e piedade neste mundo” (1Ts 2,12)38. 
 
Por sua vez, as virtudes derivadas são aquelas que derivam das virtudes cardeais 
que “podem ser consideradas quatro estrelas ou sóis, ao redor dos quais gira todo um sistema 
planetário”39. Por exemplo, as virtudes morais anexas à Prudência são o bom conselho, o bom 
senso (sensatez) e o discernimento; as virtudes morais anexas à justiça são a virtude da 
religião (ato da vontade pelo qual o homem reconhece sua dependência a Deus), a piedade 
filial ou patriotismo, a gratidão e a veracidade; as virtudes morais anexas à fortaleza são a 
generosidade e a paciência; e, por fim, as virtudes morais anexas à temperança são a 
abstinência, a sobriedade e a castidade. 
 
As virtudes são dons que nos atravessam por inteiro. E, enquanto dom, 
transformam-se em tarefa para nós seres humanos. Isto remete para uma 
realidade a ser trabalhada continuamente em nós, enquanto pessoa e 
enquanto sociedade
40
. 
 
 
35
 Cf. Catecismo da Igreja Católica, op. cit., p. 487, n. 1808. 
36
 AGOSTINI, N. Teologia Moral, op. cit., p. 165. 
37
 Cf. Catecismo da Igreja Católica, op. cit., p. 487, n. 1809. 
38
 AGOSTINI, N. Teologia Moral, op. cit., p. 165. 
39
 ROYO MARÍN, A. Teologia Moral para seglares I, op. cit., p. 216. 
40
 AGOSTINI, N. Teologia Moral, op. cit., p. 154. 
As virtudes humanas forjam o caráter humano, facilitam a prática do bem, levam a 
um domínio de si e trazem a felicidade para quem as praticam. 
 
 
3.2 As virtudes teologais 
 
 
Como foi tratado anteriormente, entre as virtudes infusas, as mais importantes são 
as virtudes teologais: a fé, a esperança e a caridade. São chamadas “teologais” porque são 
virtudes que têm como origem, motivo e objeto imediato o próprio Deus. São infundidas no 
homem com a graça santificante e o torna capaz de viver em relação com a Trindade
41
. 
A fé é a virtude teologal pela qual se crê em Deus e em tudo o que ele revelou. 
Pela fé, o homem livremente entrega-se a Deus. Por isso, o crente procura conhecer e fazer a 
vontade de Deus, porque “a fé opera pela caridade” (Gl 5,6)42. 
A esperança é a virtude teologal por meio da qual se deseja e se espera de Deus a 
vida eterna como felicidade. Por meio dela, o homem coloca a sua confiança nas promessas 
de Cristo e apoia-se na ajuda da graça do Espírito Santo para merecê-la e perseverar até ao 
fim da vida terrena
43
. 
A caridade é a virtude teologal pela qual o homem ama a Deus sobre todas as 
coisas e ao próximo como a si mesmo por amor de Deus. Jesus faz dela o mandamento novo, 
a plenitude da lei. A caridade é considerada “o vínculo da perfeição” (Cl 3,14) e o 
fundamento das outras virtudes que ela anima, inspira e ordena (1 Cor 13)
44
. 
Pode-se dizer que as virtudes teologais fundamentam e animam o agir moral do 
cristão, vivificando as virtudes humanas. Elas são o penhor da presença e da ação do Espírito 
Santo nas faculdades do ser humano
45
. 
 
 
4 SEGUIMENTO DE CRISTO: CAMINHO PARA A FELICIDADE 
 
 
Como foi enunciado anteriormente, a Teologia Moral, à luz da fé, busca apontar 
para o ser humano o caminho prático do amor e da felicidade em Cristo Jesus que veio pregar 
a Boa-Nova do Reino de Deus. 
 
41
 Cf. Catecismo da Igreja Católica, op. cit., p. 488, n. 1812. 
42
 Cf. Idem, n. 1814. 
43
 Cf. Idem, n. 1817. 
44
 Cf. Idem, n. 1822-1823. 
45
 Cf. Idem, n. 1813. 
Por um lado, sabe-se que o Senhor Jesus não forneceu aos seus ouvintes um 
catálogo de comportamentos éticos. Mas, por outro lado, nos Evangelhos, é possível encontrar 
o que pode ser considerado a fonte inspiradora de todos eles: o seguimento de sua pessoa. 
Dessa forma, o Senhor Jesus torna-se a fonte inspiradora da moralcristã, uma vez que nele se 
encontra a união entre o humano e o divino, a abertura de um caminho para a realização plena 
da pessoa
46
. Segundo o Papa João Paulo II, 
 
o próprio Jesus é o “cumprimento” vivo da Lei, visto que ele realiza o seu 
significado autêntico com o dom total de si: ele mesmo se torna Lei viva e 
pessoal que convida ao seu seguimento, dá, mediante o Espírito, a graça de 
partilhar a sua própria vida e amor, e oferece a força para o testemunhar nas 
opções e nas obras (cf. Jo 13, 34-35)
47
. 
 
Portanto, “o centro de tudo e o elemento decisivo está no seguimento de Jesus; ser 
seu discípulo, acolher a Boa-Nova, entrar e assumir o Reino de Deus”48. É precisamente esse 
seguimento que convida o homem a entrar numa vida nova, iniciativa amorosa e gratuita de 
Deus. Há um dinamismo divino que abraça o humano, ao alcance de todo ser humano, 
garantido pelo fato de que ele ressuscitou
49
. É exatamente esse dinamismo que introduz a 
pessoa na vida dos filhos de Deus, que convida à conversão permanente, com implicações 
éticas e repercussões morais fortes e profundas. 
 
Tais implicações e repercussões têm seu fundamento primeiro no preceito do 
amor (Jo 13,34), que se desdobra no amor a Deus e ao próximo (Mt 22,34-
40; Mc 12,28-34; Lc 10,25-28); ele abre o caminho para o Reino de Deus e o 
da vida eterna (Mt 25,31-46). A isto se acrescenta o amor dos próprios 
inimigos e perseguidores (Mt 5,44-45), que é mais do que simplesmente 
perdoar. Com isto, a Sagrada Escritura nos diz que a fidelidade a Deus e à 
sua Aliança só é possível quando passar pela reconciliação com o próximo 
(Mt 5,23-24; 1Jo 2,9-11). Este preceito constitui-se no novo e maior 
mandamento (Jo 15,12); ele nos faz entrar na luz verdadeira do Verbo 
encarnado (1Jo 2,8); resume toda lei e os profetas (Mt 7,12). “Assim como eu 
vos amei, amai-vos também uns aos outros” (Jo 13,34). “Ninguém tem maior 
amor do que aquele que dá a vida por seus amigos” (Jo 15,13)50. 
 
Assim sendo, o seguimento de Cristo está além do cumprimento externo de uma 
lei, mas, trata-se de uma adesão real à sua pessoa e à sua proposta. 
 
 
46
 Cf. AGOSTINI, N. Teologia Moral, op. cit., p. 61. 
47
 JOÃO PAULO II. Carta Encíclia Veritatis Splendor, n. 15. In: Encíclicas de João Paulo II (1978 –). 
[Organização geral Lourenço Costa; tradução Tipografia Poliglota Vaticana].São Paulo: Paulus, 1997, p. 
761-763. 
48
 Cf. AGOSTINI, N. Teologia Moral, op. cit., p. 61. 
49
 Cf. IDEM. Ibidem, p. 62. 
50
 IDEM. Ibidem, loc. cit. 
Aqui não se trata apenas de dispor-se a ouvir um ensinamento e de acolher 
na obediência um mandamento. Trata-se, mais radicalmente, de aderir à 
própria pessoa de Cristo, de compartilhar a sua vida e o seu destino, de 
participar da sua obediência livre e amorosa à vontade do Pai. Seguindo, 
mediante a resposta da fé, aquele que é a Sabedoria encarnada, o discípulo 
de Jesus torna-se verdadeiramente discípulo de Deus (cf. Jo 6, 45)
51
. 
 
Como observa Fr. Nilo Agostini, “dos feitos de Jesus se depreendem verdadeiras 
‘forças’ éticas que se encarnam no cotidiano da existência”52. Nessa mesma linha de 
raciocínio, João Paulo II já havia afirmado que o comportamento, as ações, as palavras e os 
preceitos de Jesus constituem a regra da moral cristã: 
 
Jesus pede para o seguir e imitar pelo caminho do amor, de um amor que se 
dá totalmente aos irmãos por amor de Deus: “O meu mandamento é este: que 
vos ameis uns aos outros, como eu vos amei” (Jo 15, 12). Este “como” exige 
a imitação de Jesus, do seu amor, de que o lava-pés é sinal: “Se eu vos lavei 
os pés, sendo Senhor e Mestre, também vós deveis lavar os pés uns aos 
outros. Dei-vos o exemplo, para que, como eu vos fiz, façais vós também” 
(Jo 13, 14-15). O comportamento de Jesus e a sua palavra, as suas ações e os 
seus preceitos constituem a regra moral da vida cristã
53
. 
 
Dessa forma, o seguimento de Cristo ultrapassa os limites de uma imitação 
meramente exterior. O Redentor da humanidade atinge o homem na sua profunda 
interioridade, porque pela fé, o Senhor habita o coração do fiel. Trata-se de uma de presença 
em que o discípulo é assimilado ao seu Senhor e configurado com ele
54
. Há uma participação 
na sua vida, uma experiência de liberdade e de paz. Por todas essas razões, pode-se afirmar 
tranquilamente: “o seguimento de Cristo é caminho para a felicidade”. 
 
 
51
 JOÃO PAULO II. Carta Encíclia Veritatis Splendor, op. cit., n. 19, p. 766-767. 
52
 AGOSTINI, N. Introdução à Teologia Moral, op. cit., p. 63. 
53
 JOÃO PAULO II. Carta Encíclia Veritatis Splendor, op. cit., n. 20, p. 767. 
54
 Cf. IDEM. Ibidem, n. 21, p. 768.

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