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Os meios de comunicação de massa e a educação Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Identificar influências exercidas pelas inovações tecnológicas na área dos meios de comunicação de massa. � Reconhecer contribuições que as novas tecnologias de comunicação oferecem ao desempenho das ações pedagógicas em sala de aula. � Comparar aspectos negativos do mau uso das novas tecnologias em relação aos processos educativos. Introdução Neste capítulo, você vai estudar como as inovações tecnológicas vêm mudando as formas de comunicação. Aqui, o conceito de inovação tecnológica se restringe ao campo da interação dos grupos humanos e ao modo como eles são afetados pela evolução das técnicas de comu- nicação de massa. Como você sabe, a comunicação saiu de um contexto unilateral, em que só aquele que cria a mensagem é sujeito, para um estado bilateral. Agora, as novas tecnologias e a evolução humana permitem não apenas a avaliação da mensagem, mas também a produção de comunicação de massa e de nicho. Nesse contexto, as ferramentas tecnológicas auxiliam e aceleram as trocas entre as pessoas. Já no caso da educação, os meios de comunicação de massa devem ser revistos para que não se repitam os erros da educação tradicional. Nela, havia a premissa de que uma única forma de conhecimento era o necessário para produzir um bom processo educativo. Contudo, na área educacional, a era digital também chegou. Assim, é preciso reavaliar os conceitos educacionais, o que vai gerar novas tecnologias pedagógicas que serão esteio para uma renovada comunicação entre educadores e alunos. Por outro lado, as novas tecnologias também podem gerar ruídos na comunicação, assim como ser mal utilizadas no processo educativo, o que é capaz de causar problemas tão parecidos ou piores que os da educação tradicional. Por isso, é fundamental que você reflita sobre todas essas mudanças e aprenda mais sobre a relação humana com a tecnologia. Do influenciador ao influenciado: o novo local dos meios de comunicação e das massas Quando os primeiros seres humanos, milhões de anos atrás, cogitaram se comunicar por meio de gestos e desenharam os primeiros sinais de sua presença em cavernas, eles não o fizeram buscando um lugar na história, e sim pela necessidade de transmitir, informar e receber um conhecimento. Naquele momento, foram estabelecidas as primeiras bases do que viria a ser conceituado como Meios de Comunicação de Massa (MCM). Em termos simples, isso significa dizer que o ser humano desenvolveu a capacidade de produzir artefatos possibilitadores de uma comunicação não só em larga escala, mas retransmissível a partir do acúmulo de seus significados. Isso se deu tanto na forma de um código de sinais (por meio do qual é possível dizer “muito” ou “vá embora” com as mãos) quanto na forma de utensílios como papiros e livros, que registraram a história e a própria forma de expressar comunicação (DEFLEUR; BALL-ROKEACH, 1993). A linguagem, a escrita, a impressão e especialmente a transmissão de informações tem sido a base de toda a comunicação humana desde a Anti- guidade até a época atual. Se você pensar bem, vai perceber que os meios em si não mudaram significativamente, mas a forma como a comunicação é praticada se desenvolveu extensivamente. E especificamente essas melhorias é o que se chama de inovação tecnológica, que, apesar do nome pomposo, é bem simples e combina dois conceitos menores: inovação e tecnologia (RIGHETTI; PALLONE, 2007). Inovação é o ato de repensar um processo. Uma invenção só se torna inovação caso alcance o objetivo de sua existência. E, aqui, inovação tem a ver com o propósito de modernizar a forma como nos comunicamos com um grande número de pessoas. Já a tecnologia deve ser vista como o processo em si. Assim, uma ideia, uma execução e um resultado devem ser possibilitados pelo uso de conhecimentos, artefatos (ferramentas) específicos e procedimentos de uso (MCQUAIL, 2003). Os meios de comunicação de massa e a educação2 Pense no que hoje você chama de e-mail e paralelamente em sua estrutura anterior, a carta. A inovação está no fato de ambos permitirem a comunicação pública ou privada entre remetente e destinatário, o que significa levar uma mensagem de um ponto A qualquer a um ponto B qualquer. Agora, compreenda que a tecnologia está no uso de artefatos que são nada mais que as ferramentas que permitem o processo. Ou seja, um papel e uma caneta constituem a tecnologia que produz a carta, uma informação escrita e transportada de um lugar A para um lugar B. O mesmo processo hoje em dia é possível por meio de um serviço de mensagem (o papel) e um teclado (a caneta), o que vai constituir o e-mail (a carta), que utiliza a internet. A internet, por sua vez, é o modo transmissor, que precisa ser capaz de transportar uma mensagem de um lugar A para um lugar B. Comparando ambos os procedimentos, você pode notar que há não apenas uma inovação ou uma tecnologia, mas a combinação de ambas, uma inovação tecnológica (RIGHETTI; PALLONE, 2007). Todos os anos, um ranking global de inovação é publicado com base na capacidade de inovação tecnológica desenvolvida por cada país em vários campos: tecnologia, inovação, negócios, capital humano, instituições e outros. Isso levou ao surgimento do ranking do Índice Brasil de Inovação (IBI), baseado na Pintec (Pesquisa de Inovação Tecnológica feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). A ideia do projeto é aglomerar informações sobre empresas e suas práticas inovadoras e tecnológicas. De certa forma, a comunicação humana em larga escala pode ser lida como uma comunicação de massa inicialmente dispersa e confusa. E de fato era, pois, até o século XX, não existiam os grandes meios de comunicação que só surgiram por conta da revolução industrial e de suas inovações técnicas. Como você sabe, essas inovações possibilitaram a criação de instrumentos que vão do telégrafo, transferindo mensagens em código para serem rees- critas, até os smartphones, com aplicativos de comunicação instantânea, quase presencial. Mas muita coisa mudou desde a carta e os desenhos nas paredes. A ideia de comunicação de massa como algo unidirecional perdurou até o final do século XX como uma realidade. Os grandes meios de comunicação eram os únicos 3Os meios de comunicação de massa e a educação capazes de informar a população, o que lhes conferia também grande poder de influência sobre fatos e costumes, já que não existiam outros modos de se infor- mar sobre o que acontecia no mundo (DEFLEUR; BALL-ROKEACH, 1993). Os meios de comunicação de massa sempre tiveram como objetivo alcançar o maior número possível de pessoas. Eles se colocam como o ponto agregador de informações e como transmissores desses conteúdos para todos ao seu redor, sempre buscando se autoconferir um caráter distante. São capazes de aglomerar grandes acúmulos exatamente por manterem uma identidade amplamente impessoal e anônima. Porém, manter uma impessoalidade não é algo efetivamente negativo, pois, quando se fala em massa, se faz referência a muitas audiências, grupos de pessoas em todo lugar com suas características e até gírias de comunicação próprias. Assim, não ter uma estampa personalizada de um grupo ou outro ajudava na emissão das mensagens, vindas de muitos lugares, exatamente como ainda acontece nos dias de hoje. Atualmente, as mídias mantêm um espaço de informação generalizado, globalizado, com uma única forma de linguagem e expressão que será usada para transmitir todos aqueles fatos para além de um único espaço geográfico e de conhecimento. Você pode considerar, nesse contexto, três inovações tecnológicas que revolucionaram os meios de comunicação de massa: o rádio, a televisão e a internet (MCQUAIL, 2003). O rádio, em seu conceito original, é um equipa- mento que, por meio de ondas eletrônicas, revolucionou a forma de transmitir conteúdos pelaexpressão oral em meados de 1920. Ele atraiu um novo público, que antes era dependente da leitura e da escrita para consumir informações, conhecimentos e até produtos. A inserção da voz nesse meio possibilitou uma nunca antes vista aproxima- ção com os agora ouvintes dos meios radiofônicos. Isso provocou um grande boom de aproximação entre mensageiros e destinatários. Quem enviava a mensagem agora utilizava determinados elementos e entonações para trazer para mais perto de si grupos diversificados da massa. Havia vários programas e produtos disponibilizados, que iam além dos jornais, incluindo comerciais, novelas, apresentações e, o mais inovador, os programas de auditório ao vivo, que permitiam uma interação com a audiência e o surgimento de um novo tipo de público, o fã. Já a televisão foi outro grande salto na relação emissor-receptor. Ela pos- sibilitou, a partir da década de 1940, a soma da voz, um produto de sucesso já consumado como um elemento inovador, à imagem. Essa junção se tornou o ícone representativo e o mais forte influenciador da audiência até hoje. A au- diência, desde a televisão, não é só consumidora de produtos e conhecimentos, Os meios de comunicação de massa e a educação4 mas de modos de comportamento advindos dos mais variados programas: filmes, novelas, programa de auditório e outros. Essa caixa de efervescência cultural foi e ainda é um dos mais marcantes e massificantes formatos de exposição que são absorvidos de modo imediato e impactante. Ela, inclusive, é capaz de expor e multiplicar abundantemente ideias sociais tanto inclusivas quanto excludentes, conforme a linha de ação de quem a controla. Porém, a grande transformação que os meios de comunicação de massa sofreram veio por meio da internet. Como você sabe, ela se entranhou em todos os campos de produção (público, privado e também doméstico), trazendo novos conceitos, ideias de comunicação e exposição, além da proposta de causar impacto e atrair atenção com muitas imagens e poucos caracteres. Agora, a nova ordem na era digital é agregar valor socialmente, pois não há mais mistérios na confecção de produtos, ou seja, o que vai reger o interesse é a confiança e a qualidade. Isso leva o marketing a criar um novo conceito, o digital. A ideia, assim, é lidar com os interesses, as expectativas e a forma como os grupos sociais/públicos-alvo se comportam diante de cada nova tecnologia de aglomeração social (redes sociais) (GONÇALVES, 1994). Num curto espaço de tempo, os meios de comunicação de massa tiveram de aprender a dar espaço, também, aos que antes eram apenas receptores da mensagem. Nesse sentido, a internet redefiniu a noção de barreiras mercadoló- gicas, o que também proporcionou o surgimento de inúmeros novos mercados virtuais, alterando a relação e a identidade do vendedor e do consumidor, que agora não estão dissociados. Quem vende pode ser, por exemplo, um profis- sional da educação ou do varejo, ou uma pessoa querendo se desfazer de algo usado. Além disso, a própria relação comercial se tornou um mercado tangível de avaliações em todos os seus passos (loja virtual, processo de compra, envio, avaliação, compartilhamento, curtidas, comentários, etc.). As mudanças continuam e até os meios de comunicação que antes eram unilaterais e fixos precisaram se reavaliar diante da internet. Ela também renovou o conceito de rádio, de televisão e da própria comunicação estabe- lecida com o consumidor. Agora, quem consome emite opinião e quer ver mudanças num curto espaço de tempo, o que por desdobramento alterou a ideia de que só conglomerados de massa podem produzir conteúdo. Hoje, um indivíduo com celular, câmera e acesso à internet também pode expor suas ideias e se tornar um emissor de conteúdo para nichos ou maiores grupos de interesses. Como você deve imaginar, isso impacta diretamente os meios de comuni- cação não imediatistas, como o jornal impresso, que entra em crise, já que a notícia passa a se alterar constantemente e pode ser conhecida e debatida ao 5Os meios de comunicação de massa e a educação mesmo tempo em que acontece por aqueles que antes eram só espectadores. Os antigos leitores passivos agora também fazem ou complementam as notícias, expondo tanto as questões que os agradam quanto as que os incomodam. E isso de modo online, imediato. Essa dinâmica está relacionada ao surgimento de outro espaço muito importante e viralizador de notícias, as redes sociais, em que cada um é ao mesmo tempo emissor e receptor, instantaneamente (MCQUAIL, 2003). Quando considera o poder de influência das inovações tecnológicas sobre os meios de comunicação massivos, você não pode se esquecer do quanto o processo educativo foi afetado em matéria de estrutura organizacional, con- teúdos fluidos e ambiente presencial/virtual, por exemplo. A educação está se reinventando diante de uma geração que já nasceu conectada à era digital. Essa revolução mudou irremediavelmente o papel do corpo docente e técnico, que precisa rever sua forma de lidar com as tecnologias sem as excluir do espaço escolar. A ideia, portanto, é refazer o lugar e o tempo dessas tecnologias na sala de aula, utilizando-as como uma ponte entre o educador e o educando, que, sem prejuízo, podem inverter os seus papéis e aprender simultaneamente (SOUSA; MOITA; CARVALHO, 2011). Em 2014, entrou em vigor a Lei nº 12.965, que trata do marco civil da internet. O art. 1º diz: “Esta Lei estabelece princípios, garantias, direitos e deveres para o uso da internet no Brasil e determina as diretrizes para atuação da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios em relação à matéria” (BRASIL, 2014). Acesse o link: https://goo.gl/fj8a4q Como inserir as evoluções tecnológicas nas ações pedagógicas O uso das tecnologias no ambiente de ensino ainda é uma questão amplamente debatida no espaço educacional. Porém, há uma confusão entre o que significa utilizar uma ferramenta tecnológica, no caso de um tablet ou celular, e o uso de uma tecnologia na implantação de uma atividade pedagógica. Os meios de comunicação de massa e a educação6 A UNESCO disponibilizou, em 2009, o documento Padrões de Competências em Tec- nologia da Informação e da Comunicação para Professores, que, segundo a instituição, “apresenta diretrizes específicas para o planejamento de programas educacionais e treinamento de professores para o desempenho de seu papel na formação de alunos com habilidades em tecnologia”. Leia no link a seguir. https://goo.gl/F4QAu9 Ao falar em tecnologia pedagógica, se fala das inúmeras possibilidades de reorganizar a forma como a educação deve ser vista e aplicada diante de todas as inovações geradas pela era digital. Não cabe mais em sala o modo tradicional de aprendizado, o que significa dizer que o educador está livre do papel de recipiente de conteúdo. Em seu novo lugar, enquanto sujeito, ele tem a função de ponte entre um ensino que precisa ser dinâmico e um aluno que precisa aprender a interpretar um conhecimento realmente válido entre tantos disponibilizados. Você deve ter em mente que o processo de aprendizagem dos alunos trans- corre melhor quando eles são convidados a fazer parte do processo de ensino. Isso significa dizer que deve ser estabelecida uma linha de comunicação cons- tante entre professores e alunos em sala de aula ou fora dela. O professor deve revisitar o planejamento e a forma de apresentação do conteúdo para o aluno, ou seja, o educador atua como um mediador entre o conteúdo e a capacidade de entendimento do aluno quanto à tecnologia aplicada na metodologia de ensino (SOUSA; MOITA; CARVALHO, 2011). Independentemente de qualquer tecnologia que os educadores usem na sala de aula, a mediação pedagógica precisa ser a linha que costura todas as possibilidades expostas antes, durante e depois da interação com os alunos. Isso é importante para avaliar se o processo de inovação tecnológica está surtindo efeito e colaborando na educação e no usoconsciente da tecnologia pelo aluno. Em meio a tudo isso, você não pode se esquecer da maior revolução sofrida pela educação, a sua existência no modo não presencial, ou seja, parcial ou integralmente digital. A existência do ambiente virtual de aprendizado não é só uma exigência dos tempos modernos em relação ao deslocamento ou custo. Esse não é o fator principal, e sim a sua própria existência como espaço legítimo para uma geração que não se adequa a paredes e endereços e deseja lidar com a aprendizagem da forma mais livre e dinâmica possível. Isso se deve 7Os meios de comunicação de massa e a educação especialmente às suas múltiplas inteligências, que buscam o conhecimento apresentado de forma multifacetada e tecnologicamente interessante, acessível em qualquer tempo e lugar. Além disso, os novos alunos buscam exclusividade em meio ao ensino de massa (SOUSA; MOITA; CARVALHO, 2011). Mas, para que a relação educador-aluno dê certo, é preciso haver uma naturalidade na apropriação não apenas dos recursos digitais (LORENZONI, 2016a), mas dos novos métodos de ensino. Assim, é possível encontrar o seu lugar e a harmonia, o que vai se refletir na sua eficiência, presencial ou virtual, durante o processo educativo. Veja, no Quadro 1, alguns dos métodos que mais se destacam. Tecnologia de aprendizagem Como funciona? Ferramentas tecnológicas Ensino híbrido/ Sala de aula invertida Combina a prática online com a offline. Alia atividades individuais e em grupo em que o uso de ferramentas digitais é indispensável para a realização de atividades como pesquisa, leitura e debates com foco na aprendizagem de campo múltiplo (LORENZONI, 2016d). Ambientes Virtuais de Aprendizagem (AVA) Tutoria Teste de inteligência múltipla Chat compartilhado Chat exclusivo Fóruns Avaliação assistida Vídeo digital Agenda virtual Canais do YouTube Blogs Jogos online Design Thinking Ambientes 3D (museus, galerias de arte, ruas) Aplicativos (ensino, exercícios, registro de atividades) Webinar (palestra online interativa) Redes sociais (grupo, perfil de atividades da turma) Infográficos (do conteúdo condensado para o ampliado) Biblioteca virtual Gamificação (LORENZONI, 2016a). Ensino adaptativo Busca se adaptar ao máximo ao modo como cada aluno aprende um conteúdo, o que significa que é necessário apresentar os conteúdos nos mais variados formatos possíveis. Ou seja, a existência de ferramentas digitais está intrinsecamente ligada a esse modo de ensino que faz uso de plataformas que “pescam” o perfil e assim apresentam os assuntos baseadas no maior interesse apresentado (LORENZONI, 2016b). Quadro 1. Tecnologias de aprendizagem. (Continua) Os meios de comunicação de massa e a educação8 Fonte: (LORENZONI, 2016a, 2016b, 2016c, 2016d, documentos on-lines). Tecnologia de aprendizagem Como funciona? Ferramentas tecnológicas Aprendizado por meio de desafios Objetiva provocar no aluno o questionamento sobre conteúdos para desenvolver o interesse por buscar respostas, sempre incentivando uma ação prática para que desenvolva autonomia e confiança em suas capacidades. (LORENZONI, 2016c). Aprendizado autônomo Significa que a aprendizagem do aluno é totalmente construída a partir de estímulos e de um planejamento de atividades que foque no instigar, na busca por mais saber. Isso, contudo, não significa que o aluno está desconectado de outras pessoas, mas que desenvolve a sua própria linha de ensino no tempo em que se adapta. (LORENZONI, 2016c). Quadro 1. Tecnologias de aprendizagem. Irremediavelmente, você deve entender que as novas tecnologias pedagógi- cas são resultado do novo momento humano e tecnológico. Hoje, as ferramentas tecnológicas fazem parte do cotidiano não apenas dos alunos, mas dos pais, dos professores e da comunidade em geral. (Continuação) 9Os meios de comunicação de massa e a educação Aspectos negativos do uso das tecnologias no aprendizado As mudanças vividas nos últimos anos modificaram muito o processo educativo. Elas trouxeram não apenas soluções para o ensino, mas também problemas. As principais dificuldades, como você pode imaginar, ocorrem quando não se levam em conta a mediação e os limites do uso das tecnologias nas aulas, sejam elas presenciais ou não. Os problemas advindos do mau uso da tecnologia no espaço escolar têm muito mais a ver com o fator humano do que com a tecnologia em si. A falta de organização, experimentação do conteúdo, interesse num feedback sincero e o mau uso causam problemas que não deixam nada a dever àqueles do processo tradicional, como o desinteresse, a dispersão e até a evasão do ensino (GARCIA; BIZZO, 2013). Cabe citar também que a aplicação e a usabilidade de ferramentas tecnoló- gicas e as tecnologias pedagógicas devem ser implantadas com a participação de todos os envolvidos. Isso significa que não podem ser uma construção vinda de cima para baixo, sem uma avaliação do real potencial de cada técnica e sua eficiência, bem como um retorno avaliativo (ROSA, 2013). A UNESCO disponibilizou, em 2017, um documento técnico contendo estudos sobre o processo de implementação das tecnologias digitais nos currículos das escolas de educação básica dos países membros da OCDE. Nele, você pode ver como 35 países vêm lidando com as Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC). Acesse o link disponível a seguir. https://goo.gl/XBPNvU É importante você perceber que a formação docente ainda carece de me- lhores ambientes para a experimentação das tecnologias e até para estudos de caso. Quanto mais rápido essas ferramentas se inserem no contexto e sua importância é compreendida, melhor será o uso delas e de outras que vierem a tomar o seu lugar. Não são poucos os fatores que contribuem para esses problemas, mas com certeza há aqueles que maximizam, e muito, o desinteresse tanto dos educadores Os meios de comunicação de massa e a educação10 quanto dos alunos pelo processo educativo. Os pontos mais importantes são resumidos a seguir. � A falta de uma qualificação continuada em recursos digitais para o corpo pedagógico como um todo nos espaços educacionais. � A falta de um projeto pedagógico próprio para os professores apren- derem a lidar com as tecnologias educacionais e suas metodologias de aplicação, acompanhamento e avaliação, o que permitiria a todos que retornassem com suas experiências de adaptabilidade quando houvesse sucesso ou fracasso, pois nem todas as tecnologias podem ser aplicadas em qualquer conteúdo. � A falta de diálogo anterior ao processo de uso das tecnologias a fim de estabelecer os momentos e limites de sua aplicabilidade em sala de aula. � No ensino a distância, a falta de uma introdução prévia à base necessária a um curso e a sua indisponibilidade, o que pode ser um convite ao engessamento de toda uma linha de estudo. � A falta de um feedback programado durante e depois da aprendizagem, que também é um convite ao desinteresse e à evasão. � A disponibilidade de conteúdo excessivo sem um anterior “rotula- mento” para a compreensão do seu propósito, o que causa desgaste e desinteresse na aula. � A falta de abertura de um diálogo entre professores e alunos para esta- belecer um meio termo entre as suas gerações e o uso das tecnologias, o que causa problemas no ensino e no processo educativo. � O excesso de tecnologia, excluindo totalmente o contato humano (por mais que uma inteligência artificial reconheça interesses, o contato humano durante o processo de ensino, ou ao menos na avaliação, é importante para avaliar as nuances das respostas dos estudantes). Além das questões pedagógicas específicas, há também o problema do mau uso dos conteúdos pelos alunos, que precisam conhecer não apenas o lado bom, mas as responsabilidades decorrentes do uso de informações (GARCIA; BIZZO, 2013). Nesse sentido, ocorrem ações como o plágio, o copia-cola e a prática de cyberbullying. Você não pode excluir da equação aqueles quefazem uso consciente dessas práticas para burlar e se sobressair no processo educativo, o que leva novamente ao problema inicial: uma superficialidade social que deseja demonstrar conteúdo, apresentá-lo sem essencialmente o ter (SANTOS, 2014). 11Os meios de comunicação de massa e a educação Diante desses equívocos de valores éticos, vale lembrar que a escola é uma sociedade miniaturizada e também um meio de comunicação com as massas. Portanto, ela pode colaborar positivamente por meio de atividades coletivas de orientação que alcancem pais e estudantes. Exemplo disso é a construção de uma agenda que debata a ética individual, os direitos e os deveres sociais e civis, fazendo com que todos entendam o seu papel na teia social em que estão interligados. No link a seguir, assista a uma animação sobre os oito tipos de bullying que devem ser evitados na escola (Senado Federal): https://goo.gl/PlWI15 DEFLEUR, M. L.; BALL-ROKEACH, S. Teorias da comunicação de massa. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1993. GARCIA, P. S.; BIZZO, N. Formação contínua a distância: gestão da aprendizagem e dificuldades dos professores. Cadernos de Pesquisa, v. 43, n. 149, p. 662-681, 2013. Dis- ponível em: <http://www.scielo.br/pdf/cp/v43n149/14.pdf>. Acesso em: 11 maio 2018. GONÇALVES, J. E. L. Os impactos das novas tecnologias nas empresas prestadoras de serviços. Revista de Administração de Empresas, v. 34, n. 1, p. 63-81, 1994. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rae/v34n1/a08v34n1.pdf>. Acesso em: 11 maio 2018. LORENZONI, M. E-book: as ferramentas digitais mais populares em sala de aula. 2016a. Disponível em: <http://info.geekie.com.br/ferramentas-digitais-sala-aula/>. Acesso em: 11 maio 2018. LORENZONI, M. Ensino adaptativo: um guia prático para você começar: infográfico. 2016b. Disponível em: <http://info.geekie.com.br/ensino-adaptativo/>. Acesso em: 11 maio 2018. Os meios de comunicação de massa e a educação12 LORENZONI, M. Especial: 5 histórias de sucesso com tecnologia em sala de aula. 2016c. Disponível em: <http://info.geekie.com.br/tecnologia-em-sala-de-aula/>. Acesso em: 11 maio 2018. LORENZONI, M. Sala de aula invertida: o que muda no trabalho do professor? 2016d. Disponível em: <http://info.geekie.com.br/sala-de-aula-invertida/>. Acesso em: 11 maio 2018. MCQUAIL, D. Teorias da comunicação de massas. Lisboa: Fundação Calouste Gul- benkian, 2003. RIGHETTI, S.; PALLONE, S. Consolidando também o conceito de inovação tecnológica. Inovação Uniemp, v. 3, n. 4, 2007. 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Os meios de comunicação de massa e a educação14
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